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MULHERES NA REPÚBLICA

--- MATEMÁTICA ---

DOMITILA HORMIZINDA MIRANDA DE CARVALHO (1871-1966)


Um percurso singular

Domitila de Carvalho notabilizou-se pelos três cursos que frequentou


na Universidade de Coimbra, pela acção a favor da educação das
mulheres na defesa da criação do primeiro Liceu feminino, pela
participação em iniciativas feministas e pacifistas, sendo Monárquica e
católica, e por um percurso político que a levou a pertencer ao grupo
das três primeiras deputadas do Estado Novo.

Face aos excelentes resultados nos exames finais do curso dos liceus
e a instâncias dos professores e da mãe, candidata-se, em 1891, ao
ensino superior, sendo a primeira mulher a assistir regularmente às
aulas. Este acontecimento mereceu inúmeras referências elogiosas na imprensa da época, pelo facto pouco
vulgar mas tão promissor para as outras mulheres que lhe quisessem seguir os passos.
Depois das licenciaturas em Matemática (1894) e Filosofia (1895), concorre ao lugar de astrónoma no
Observatório D. Luís I. O lugar não lhe é atribuído por ser mulher apesar de ter ficado em primeiro lugar.
Decide então seguir Medicina (1904) aproveitando as cadeiras comuns dos primeiros anos dos outros cursos.

A convite da rainha D. Amélia vem, em 1904, trabalhar para Lisboa, na recém-criada Associação Nacional da
Tuberculose. Presta serviço no Centro Materno-Infantil que abre as portas na que foi depois a Maternidade
Magalhães Coutinho e exerce, por pouco tempo, clínica privada com consultório no Rossio. Os problemas de
saúde resultantes dos deficientes ou nulos cuidados das mães, leva-a a proferir algumas conferências
alertando para a necessidade de se educarem as mulheres na perspectiva de que elas são as primeiras
educadoras e as melhores agentes de mudança. Mais tarde, quando deputada, será da sua autoria a
integração no currículo escolar liceal da disciplina de Higiene e Puericultura.

Numa época em que a instrução e educação das mulheres raras vezes ultrapassavam a esfera doméstica e
quando muito o ensino primário superior, defende a igualdade oportunidades entre homens e mulheres
empenhando-se na transformação da Escola Feminina Maria Pia, no primeiro Liceu feminino em Portugal, o
Liceu Maria Pia (1906). As palavras de boas vindas às novas alunas, como primeira Directora (Reitora),
reflectem o seu pensamento e independência de acção, regozijando-se com a oportunidade de, pelo estudo,
as jovens virem a ser respeitadas e livres de opção de vida. Até à aposentação, a leccionar a disciplina de
Matemática nesse Liceu, foi constante a sua preocupação em favorecer a educação e instrução das alunas,
porque acreditava que deste modo as mulheres, como primeiras educadoras, poderiam transformar a
sociedade e esbater as diferenças sociais que as separavam dos homens.

Sob a perspectiva, de que é na família que as mulheres têm um lugar privilegiado para educar para a paz e
entendimento entre os homens, se insere a militância pacifista que a levou a integrar a Secção feminista da
Liga Portuguesa da Paz, tendo secretariado a sessão pública da sua constituição (1906). Foi igualmente
Vogal do Comité Português da agremiação francesa La Paix et le Désarmement par les Femmes.

Em 1909 assina a lista dos defensores do divórcio, publicada no Jornal O Mundo e promovida pela Liga
Republicana das Mulheres Portuguesas. Contrariamente, em 1912 é duramente criticada pelas feministas
porque recusa apoiar o sufrágio feminino. As duas atitudes são determinadas pela independência que
norteou o seu pensamento. O divórcio permitirá às mulheres adquirirem a liberdade face a um casamento
que não resultou mas só depois de instruídas e educadas elas poderão fazer uma opção livre e consciente,
sem serem coagidas afectivamente a uma escolha. Se as preocupações eram, nesse momento, a educação
e instrução das mulheres, anos mais tarde a actuação revester-se-ia de outras formas e viria a pertencer ao
grupo das três primeiras deputadas do Estado Novo.

Estreou-se na imprensa escrita, ainda muito jovem, com a publicação de sonetos. Alguns desses poemas,
reuniu-os depois em livros, como marcos de três momentos de sensibilidade poética, numa vida que foi
longa: Versos (1909), que foi escrevendo na juventude, com prefácio de Afonso Lopes Vieira, seu
condiscípulo em Coimbra e dedicado à rainha D. Amélia; Terra de Amores (1924) ou saudades de Coimbra e
do tempo em que lá viveu e estudou, Para o Alto!, (1957) o livro que João Ameal considerava de um lirismo
dramático e piedoso com "uma fé segura dos rumos definitivos".

A colaboração literária na imprensa de todo o país, estendeu-se também à imprensa feminista e pacifista. A
participação nas revistas Sociedade Futura e Alma feminina, ainda que se tenha remetido à publicação de
poemas e um artigo de carácter científico, reflectem a identificação com os ideais que vinham sendo
defendidas – a igualdade de direitos cívicos, políticos e sociais entre os sexos.

Sempre fiel aos seus princípios e profundamente cristã, devotou uma enorme gratidão a Rainha D. Amélia
que custeou os estudos na Universidade de Coimbra. Apoiou Sidónio Pais na obra social "5 de Dezembro" e
aplaudiu o restabelecimento das relações entre o Estado e a Igreja. A Salazar, grata pela acção em prol da
reconstrução do País, aceitou "como um dever" representar as mulheres, pela primeira vez, como deputada
na Assembleia Nacional em 1934. Fê-lo, sempre consciente dos princípios ideológicos do Estado Novo, mas
consciente do privilégio que lhe foi dado de poder dar voz às muitas mulheres que a não tinham. Sempre
atenta às desigualdades sociais e fiel à independência de acção com que orientou a sua vida, não hesitou, no
entanto, em defender publicamente o que considerava adequado aos tempos e às necessidades das
mulheres. Já aposentada escreveu a Salazar a mostrar a sua concordância sobre o casamento das
enfermeiras ou das telefonistas. Não consta que Salazar tenha discordado dos seus argumentos.

Margarida Carvalho

Margarida Carvalho é Técnica Superior no Gabinete de Relações Externas da Universidade do Algarve. Mestre em Estudos sobre as
Mulheres pela Universidade Aberta. Investigadora no Projecto "Biografias de Mulheres. Século XX" do CEMRI, Universidade Aberta,
participa actualmente como Investigadora do Projecto "As Mulheres e os Mídia" da Escola Superior de Educação da Universidade do
Algarve, ambos financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Carvalho, Margarida. Domitila Hormizinda Miranda de Carvalho (1871-1966) Um percurso singular.


[Em linha]. Disponível em http://www.aph.pt/uf/uf_0506.html. [Consultado em 09/03/10].

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