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As convenções da OIT no ordenamento jurídico brasileiro
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As convenções da OIT no ordenamento jurídico brasileiro

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O presente livro aborda as Convenções da OIT no ordenamento jurídico brasileiro. Fundamentalmente, esta obra apresenta críticas e reflexões acerca das controvérsias que envolvem o tema da incorporação das Convenções da OIT no Direito Interno, demonstrando que estes instrumentos normativos internacionais, em sua maioria, versam sobre direitos humanos.
LanguagePortuguês
Release dateApr 15, 2016
ISBN9788546201051
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    As convenções da OIT no ordenamento jurídico brasileiro - Sandor Ramiro Darn Zapata

    Copyright © 2016 by Paco Editorial

    Direitos desta edição reservados à Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.

    Coordenação Editorial: Kátia Ayache

    Revisão: Taine Fernanda Barriviera

    Assistência Editorial: Augusto Pacheco Romano, Érica Cintra

    Capa: Renato Arantes Santana de Carvalho

    Assistência Digital: Wendel de Almeida

    Edição em Versão Impressa: 2016

    Edição em Versão Digital: 2016

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    Conselho Editorial

    Profa. Dra. Andrea Domingues (UNIVAS/MG) (Lattes)

    Prof. Dr. Antonio Carlos Giuliani (UNIMEP-Piracicaba-SP) (Lattes)

    Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi (FATEC-SP) (Lattes)

    Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna (UNESP/ASSIS/SP) (Lattes)

    Prof. Dr. Carlos Bauer (UNINOVE/SP) (Lattes)

    Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha (UFRGS/RS) (Lattes)

    Prof. Dr. Eraldo Leme Batista (UNIOESTE-PR) (Lattes)

    Prof. Dr. Fábio Régio Bento (UNIPAMPA/RS) (Lattes)

    Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa (FURG/RS) (Lattes)

    Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes (UNISO/SP) (Lattes)

    Profa. Dra. Magali Rosa Santa'Anna (UNINOVE/SP) (Lattes)

    Prof. Dr. Marco Morel (UERJ/RJ) (Lattes)

    Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira (UNICAMP/SP) (Lattes)

    Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins (UNICENTRO-PR) (Lattes)

    Prof. Dr. Romualdo Dias (UNESP/RIO CLARO/SP) (Lattes)

    Prof. Dr. Sérgio Nunes de Jesus(IFRO/RO) (Lattes)

    Profa. Dra. Thelma Lessa (UFSCAR/SP) (Lattes)

    Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt (UNIPAMPA/RS) (Lattes)

    Paco Editorial

    Av. Carlos Salles Block, 658

    Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21

    Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100

    Telefones: 55 11 4521.6315 | 2449-0740 (fax) | 3446-6516

    atendimento@editorialpaco.com.br

    www.pacoeditorial.com.br

    Dedico este trabalho à memória dos meus queridos avós, por toda a importância que tiveram na minha vida e na dos meus pais.

    Agradeço, primeiramente, aos meus pais, Telma Darn e Carlos Ramiro Zapata Guzman, por todo amor, atenção e carinho que me deram ao longo de toda minha vida.

    Agradeço imensamente a minha mulher Natasha Hernandez Almeida, por todo o seu amor, apoio (em todos os sentidos) e compreensão.

    Agradeço ao meu irmão Theo Allan Darn Zapata, por ser a minha maior referência intelectual e cultural.

    Agradeço a todos os meus familiares que sempre estiveram juntos comigo.

    Ao Programa de Pós-graduação em Direito da UNESP, como um todo, e a CAPES, por viabilizar a pesquisa.

    A todos os Professores que contribuíram para o meu enriquecimento intelectual. Aos docentes e colegas do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL, campus Americana/SP. Aos docentes da Escola Paulista de Direito – EPD. Aos docentes da UNESP, campus Franca/SP.

    Ao Professor Ericson Crivelli, por ter me dado valiosas contribuições para o desenvolvimento deste trabalho.

    Ao meu querido orientador de Mestrado, Professor Daniel Damásio Borges, por toda dedicação e atenção despendida, especialmente por ter me ajudado substancialmente a desenvolver e a aperfeiçoar este trabalho, em todos os sentidos.

    Aos colegas e amigos da graduação, da pós-graduação lato sensu, do mestrado e do escritório. Aos colegas e amigos de profissão, em especial ao Alexandre Icibaci Marrocos Almeida e ao Thiago Fernando Cardoso Nalesso. Aos amigos que, direta ou indiretamente, colaboram com o trabalho.

    Aos queridos alunos do UNISAL, que aumentam meu conhecimento científico e nutrem minhas expectativas na prática profissional do Direito.

    Sumário

    As Convenções da OIT no Ordenamento Jurídico

    Página de Créditos

    Dedicatória

    Lista de abreviaturas e siglas

    Apresentação

    PREFÁCIO

    INTRODUÇÃO

    Capítulo 1: As Convenções da OIT e a Relação com os Direitos Humanos

    1. O DIT

    1.1 Perspectiva histórica

    1.2 Conceito e finalidade

    1.3 Fundamentos

    2. A OIT

    2.1 Surgimento, consolidação e contemporaneidade

    2.1.1 Constituição (1919)

    2.1.2 Declaração de Filadélfia (1944)

    2.1.3 Declaração da OIT sobre Princípios e Direitos

    Fundamentais (1998)

    2.1.4 Declaração da OIT sobre a Justiça Social para uma Globalização Equitativa (2008)

    2.1.5 Pacto Mundial para o Emprego (2009)

    2.1.6 Perspectivas para a OIT no cenário atual

    2.2 Competência, finalidade e personalidade jurídica

    2.3 Estados-Membros

    2.4 Estrutura (tripartismo)

    2.5 Órgãos

    2.5.1 Conferência Internacional do Trabalho (CIT)

    2.5.2 Conselho de Administração (CA)

    2.5.3 Repartição Internacional do Trabalho (RIT)

    3. As Convenções da OIT

    3.1 Nomenclatura

    3.2 Características principais

    3.3 Natureza jurídica

    3.4 Conteúdo

    3.4.1 A classificação utilizada por Miron Tafuri Queiroz para identificar o caráter de direitos humanos da maioria das Convenções

    Gráfico 1. Os direitos trabalhistas no Direito Internacional em geral

    3.4.2 Jus cogens

    3.4.3 Características

    3.5 Modalidades de aplicação (tipos)

    3.6 Classificação

    3.6.1 Fundamentais

    3.6.2 Prioritárias

    3.6.3 Técnicas

    3.7 Forma

    3.8 Eficácia jurídica

    3.9 Processualística de formação

    3.9.1 Inscrição do tema na ordem do dia da Conferência

    3.9.2 Preparação

    3.9.3 Discussão

    3.9.4 Aprovação

    3.10 Vigência

    3.11 Revisão

    3.12 Denúncia

    3.13 O sistema de controle de normas

    3.13.1 O sistema de controle regular

    3.13.1.1 A Comissão de Peritos em Convenções e

    Recomendações

    3.13.1.2 A Comissão de aplicação de normas de

    Convenções e Recomendações

    3.13.2 O sistema de controle provocado

    3.13.2.1 As Reclamações

    3.13.2.2 As Queixas

    3.13.3 O sistema de controle especial

    3.14 Sanções

    Capítulo 2: As Convenções da OIT no Ordenamento Jurídico Interno

    1. As relações entre o DIP e o direito interno estatal

    1.1 Teoria dualista

    1.2 Teoria monista

    1.2.1 Monismo nacionalista

    1.2.2 Monismo internacionalista

    1.3 As correntes conciliatórias

    1.4 O posicionamento adotado pelo Brasil

    2. Os princípios que regem as relações exteriores na Cf/88, com ênfase para o principio da prevalência dos direitos humanos

    3. A Incorporação dos tratados internacionais

    3.1 O processo de formação e as fases de conclusão

    3.1.1 Negociação e assinatura (fase internacional)

    3.1.2 Referendo Parlamentar (fase interna)

    3.1.3 Ratificação (fase internacional)

    3.1.4 Promulgação e Publicação (fase interna)

    3.2 O posicionamento hierárquico

    3.2.1 A hierarquia dos tratados internacionais que não versam sobre direitos humanos

    3.2.2 A hierarquia dos tratados internacionais que versam sobre direitos humanos

    3.2.2.1 Status normativo legal

    3.2.2.2 Status normativo supralegal

    3.2.2.3 Status normativo constitucional

    3.2.2.4 Status normativo supraconstitucional

    3.2.2.5 Os reflexos do parágrafo 3º do artigo 5º da CF/88

    3.3 O conflito entre tratado internacional e a CF/88

    3.3.1 A inconstitucionalidade extrínseca e intrínseca dos tratados internacionais

    3.3.2 O controle dos tratados internacionais

    3.3.2.1 O controle de constitucionalidade

    3.3.2.2 O controle de convencionalidade

    3.4 A denúncia dos tratados internacionais e as cláusulas pétreas

    4. A incorporação das convenções da OIT

    4.1 A processualística de celebração das Convenções da OIT

    4.1.1 Os relatórios de aprovação final dos projetos que foram submetidos ao Senado Federal das Convenções de nº 151, 167, 176, 178 e 185

    4.2 O posicionamento hierárquico das Convenções da OIT

    4.2.1 A hierarquia das Convenções da OIT que não versam sobre direitos humanos

    4.2.2 A hierarquia das Convenções da OIT que versam sobre direitos humanos

    4.3 O conflito entre as Convenções da OIT e a CF/88

    4.3.1 Os direitos fundamentais trabalhistas e as

    liberdades sociais na CF/88: a eficácia dos direitos

    sociais sediados nas Convenções da OIT

    Quadro 1: Os direitos fundamentais sociais trabalhistas previstos na CF/88 que correspondem com as Convenções da OIT sobre direitos humanos, com ênfase para as liberdades sociais

    4.3.1.1 O controle de constitucionalidade

    4.3.1.2 O controle de convencionalidade

    4.4 A denúncia das Convenções da OIT

    5. A jurisprudência do STF e TST sobre as Convenções da OIT de nº 132, 158, 162 e 169

    5.1 A Convenção nº 132 sobre férias remuneradas

    5.2 A Convenção nº 158 sobre o término da relação de trabalho por iniciativa do empregador

    5.3 A Convenção nº 162 sobre asbesto/amianto

    5.4 A Convenção nº 169 sobre as populações indígenas e tribais

    Considerações Finais

    REFERÊNCIAS

    Apêndices  

    Relação de queixas em face do Estado brasileiro perante a OIT (até julho de 2015)

    Sobre o Autor

    Paco Editorial

    Lista de abreviaturas e siglas

    Apresentação

    A OIT, que completará um século de existência em 2019, era quase desconhecida entre nós. Esta percepção quase obscura dos brasileiros sobre a OIT é um dos paradoxos que cercam nossa vida política e o padrão de relações internacionais mantidos por quase todo o século XX. O Brasil esteve envolvido na criação da OIT, tornando-se membro do grupo de países com assento permanente no Conselho de Administração já na instalação deste órgão em 1921. Após poucos anos do início do seu funcionamento, em 1930, apesar de o país ter vivido um turning point que o afastou do modelo liberal de regulação que nos inspirou desde a fundação da República – o que poderia em tese tê-lo aproximado mais das proposições normativas da OIT –, optou por modelo de regulação do mundo do trabalho assentado sobre um projeto político autoritário.

    Os empresários, sempre arredios à universalização de regras de proteção do mundo do trabalho e à mediação dos sindicatos, foram adeptos de primeira hora do nosso modelo corporativo e suas facilidades econômicas e legais, ignoraram a OIT e sua vasta produção normativa. Os sindicatos de trabalhadores, acicatados por um misto de medidas punitivas e premiais, paulatinamente, também abraçaram o modelo do sindicato único. As instituições jurídico-laborais, gestadas na gênese da nossa modernização conservadora – marcada por um projeto nacional-desenvolvimentista que via com restrição e até resistência um engajamento em projetos multilaterais, comportamento, aliás, afinado com o momento que se vivia em todo o planeta –, nasceram voltadas exclusivamente à implantação e consolidação da nossa legislação positivista.

    Este ethos político-jurídico, conveniente a liberais, comunistas e por fim à própria direita militar-autoritária – todos muito adaptados ao modelo corporativo viram, por razões evidentemente diversas, vantagens na manutenção do mesmo –, manteve-nos distanciados da OIT, seja no que diz respeito a um maior protagonismo do país frente à organização e sua agenda internacional, como no necessário debate da aplicação das normas internacionais do trabalho e sua integração nas nossas instituições jurídicas. No último quarto de século rompeu-se o jejum do mundo acadêmico. Neste contexto inscrevem-se os trabalhos pioneiros de Arnaldo Süssekind e Cassio Mesquita Barros. Já no século XXI, sobretudo nos últimos anos, surgiram novos importantes estudos. Neste contexto, esta obra de Sandor Zapata é inovadora. Apresentando um alentado estudo sobre a integração das normas internacionais do trabalho no nosso ordenamento jurídico e sua repercussão nas decisões judiciais. Leitura indispensável àqueles que acreditam numa globalização com justiça social.

    Ericson Crivelli

    Prefácio

    Fundada em 1919 pelo Tratado de Versalhes, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi instituída para cumprir um propósito ambicioso: realizar a justiça social e assegurar aos indivíduos um regime de trabalho realmente humano. Desde então, a OIT adotou 189 convenções que versam sobre os mais diferentes aspectos relacionados ao trabalho, com a finalidade de assegurar, na sociedade internacional, o respeito a parâmetros mínimos de proteção aos trabalhadores.

    Tal notável atividade normativa continua, todavia, dependente do consentimento dos Estados em ratificarem essas convenções internacionais. A OIT não derrogou os postulados clássicos do direito internacional público, notadamente o princípio de que os Estados estão apenas vinculados aos tratados internacionais em relação aos quais eles manifestaram o seu explícito consentimento em se obrigarem. Mais do que isso, são as autoridades de cada Estado as principais responsáveis em zelar pelo cumprimento de tais convenções no âmbito de seu respectivo território.

    Portanto, é indispensável, para que esses nobres objetivos sejam alcançados, que os Estados membros dessa organização internacional ratifiquem e respeitem com esmero essas convenções. É por esse motivo que a aplicação e a interpretação das convenções da OIT pelas jurisdições nacionais são de grande importância.

    No contexto brasileiro, tal temática assume especial relevo em virtude dos graves problemas sociais nacionais. As convenções da OIT têm por finalidade justamente contribuir para que tais problemas sejam solucionados. E, no entanto, há poucos estudos de qualidade que se dediquem a essas convenções e ao modo pelo qual elas são incorporadas à ordem jurídica brasileira.

    Nesse sentido, este belo trabalho cumpre um importante papel na literatura jurídica nacional. De modo claro e com apuro técnico, Sandor expõe as principais questões colocadas pela interpretação e aplicação das convenções da OIT. O seu trabalho tem a rara qualidade de aliar um sólido embasamento teórico com o estudo crítico da jurisprudência brasileira.

    Foi, para mim, uma honra ter observado a construção deste trabalho de uma posição privilegiada – a de orientador de mestrado. Ao longo destes anos, pude presenciar o amadurecimento das ideias de Sandor e o desenvolvimento de suas habilidades de fino pesquisador. E é esta experiência que me permite dizer, com conhecimento de causa, que esta obra é apenas o começo de uma carreira que se anuncia como promissora.

    Franca, 31 de março de 2015.

    Daniel Damásio Borges

    Doutor em direito pela Universidade Paris I (Panthéon-Sorbonne)

    Professor doutor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UNESP – Campus de Franca

    Introdução

    As alterações no mundo promovidas pelo fenômeno da globalização, combinados com a crise do Estado do bem estar social, causaram expressivos impactos nas relações sociais e no sistema jurídico internacional e interno como um todo. O período contemporâneo é dominado por uma lógica de mercado, inerente ao regime capitalista, que não convive em perfeita harmonia com as ideias de universalização dos princípios da justiça social e da dignificação da pessoa humana.

    Por tratar do conjunto de normas e princípios destinados à melhoria das condições de vida do trabalhador e à harmonia entre o desenvolvimento técnico econômico e o progresso social, o Direito Internacional do Trabalho (DIT) é um ramo do Direito Internacional Público (DIP) que cada vez mais tem sido pesquisado pelos estudiosos da Ciência do Direito e dos demais campos do saber, visando a uma melhor compreensão acerca do funcionamento e das normas elaboradas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), na medida em que este organismo estabelece as principais normas internacionais trabalhistas de proteção de direitos humanos, através de uma característica estruturalmente essencial chamada de tripartismo (associação dos representantes do governo, trabalhadores e empregadores na produção das normas).

    A OIT é uma entidade internacionalmente consolidada, com mais de 90 anos de existência, composta, atualmente, por 186 Estados-membros, e possuindo, até julho de 2015, 189 Convenções e 203 Recomendações.¹ Referidas informações são muito valiosas para compreensão dos principais aspectos circunstanciais e normativos da OIT, pois, sob o prisma do Direito Internacional, constata-se a exata importância de sua atuação mundial, bem como a sua relevante atividade normativa desenvolvida ao longo de sua existência, sempre com a participação das principais entidades envolvidas.

    Indubitavelmente, as Convenções da OIT são os principais instrumentos internacionais de regulamentação das relações sociais trabalhistas, as quais resultam de uma atividade normativa de uma entidade que visa principalmente a assegurar a justiça social e promover um nivelamento dos custos das medidas sociais da proteção ao trabalho, com o propósito de se evitar a concorrência desleal no Comércio Internacional (CI). Há, portanto, uma nítida interseção jurídica entre o DIT, o Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) e o CI, no que diz respeito à regulamentação dos direitos sociais fundamentais trabalhistas.

    Releva destacar que, ancorada nos objetivos elencados pela Constituição, especialmente na preocupação em respeitar a dignidade humana do trabalhador, desde a sua instituição em 1919, a OIT editou várias Convenções internacionais que possuiam parâmetros mínimos a serem respeitados em relação à atribuição de direitos aos trabalhadores.

    Com efeito, as Convenções da OIT foram precursoras dos numerosos tratados de direitos humanos (nos níveis multilateral e regional) que seguiram e se multiplicaram após o término da Segunda Guerra Mundial, especialmente com a Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH) e com os Pactos das Nações Unidas de 1966. Destarte, a relação das Convenções da OIT com os direitos humanos pode ser claramente identificada, se for realizada uma operação hermenêutica de apreciação e relevância de seus conteúdos, com a DUDH, Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) e Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP).

    O Estado brasileiro, além de ser membro fundador da entidade, desde 28 de junho de 1919, e membro permanente do Conselho de Administração, desde 7 de novembro de 1978, já ratificou, até julho de 2015, 96 Convenções internacionais, sendo certo que 14 Convenções foram denunciadas e 80 Convenções estão em vigor, das quais 7 são fundamentais e 3 são prioritárias.² Assim sendo, sob a ótica do Direito Interno, é possível perceber a grande quantidade de compromissos adotados pela República Federativa do Brasil, bem como a inegável importância e influência das normas internacionais da OIT na busca do aperfeiçoamento e construção do ordenamento jurídico pátrio.

    No âmbito do ordenamento jurídico interno, o Estado brasileiro é signatário da Convenção nº 144 da OIT, a qual estabelece mecanismos tripartites para promover a aplicação das normas internacionais do trabalho no plano nacional dos Estados que a ratificarem. Desde a ratificação deste diploma internacional, houve um expressivo aumento da produção normativa brasileira no que diz respeito à implementação da composição tripartite nos vários níveis do processo decisório, permitindo, com isso, que os trabalhadores e os empregadores compartilhem interesses em uma base política/social interna.

    Por serem todas essas questões de grande importância para o conhecimento científico, este livro aborda as Convenções da OIT no ordenamento jurídico brasileiro. Com efeito, a presente obra procura essencialmente enfrentar o seguinte problema: de que forma ocorre a integração, hierarquia, controle e denúncia das Convenções da OIT no ordenamento jurídico pátrio?

    O interesse de estudar os tratados internacionais de direitos humanos no Direito Interno já vem de alguns anos, na realidade, desde os primeiros contatos com os problemas jurídicos relativos ao conflito entre o artigo 7º (7) do Pacto de São José da Costa Rica e as disposições da Constituição (artigo 5º, LXVII da CF/88) e infraconstitucionais que versam sobre a autorização da prisão civil por dívida. A partir daí, com um estudo mais aprofundado acerca do DIT, foi possível delimitar um tema que englobasse as Convenções da OIT e a incorporação dos tratados internacionais.

    Esta obra é fruto da dissertação de Mestrado apresentada no Programa de Pós-Graduação em Direito da Faculdade de História, Direito e Serviço Social da UNESP – campus de Franca/SP, que foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, no período de 2012 a 2014. Trata-se de uma obra que inclui dados atualizados sobre as Convenções da OIT e a jurisprudência dos tribunais brasileiros, dirigida aos profissionais, estudantes e demais interessados na área.

    Por ser destinado ao estudo das Convenções da OIT no ordenamento jurídico interno, o presente estudo foi desenvolvido pelo ramo das Ciências Sociais aplicadas, mais precisamente no campo das Ciências Jurídicas do DIP, do DIT, do Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) e do Direito Constitucional. Consequentemente, o levantamento bibliográfico localizou vários trabalhos acadêmicos que tratam dos principais assuntos enfrentados neste trabalho, tais como: OIT (principais documentos, órgãos, tripartismo etc.), Convenções (natureza jurídica, conteúdo, classificação etc.), incorporação dos tratados internacionais no ordenamento jurídico interno (teorias sobre o conflito entre o Direito Internacional e o Direito Interno, processualística constitucional de celebração de tratados no Brasil, hierarquia etc.), incorporação das Convenções da OIT no ordenamento jurídico pátrio (hierarquia, direitos sociais, liberdades sociais, denúncia etc.).

    As técnicas metodológicas do livro são compostas pela linha do sentido jurisprudencial, pois o presente estudo propõe um modo de assumir metodicamente a dialética entre o sistema e problema, enquanto coordenados complementares e irredutíveis do juízo jurídico; também pela vertente jurídico-teórica, pois são acentuados os aspectos das Convenções da OIT, relacionando-os com as áreas teóricas dos campos jurídicos, mormente com os direitos humanos; e, por fim, pelo raciocínio jurídico dialético, pois seu fundamento encontra-se no pressuposto de que a contradição está na realidade, formulando o pensamento por meio da lógica do conflito.³

    Justifica-se a leitura desta obra, pois, além de estarem em plena vigência, no ordenamento jurídico nacional, 80 Convenções da OIT, estas normas internacionais possuem grande importância e influência na busca do aperfeiçoamento e construção dos direitos sociais trabalhistas no Direito Interno. Além disso, até onde se tem conhecimento, não há um estudo acadêmico jurídico que trate dos problemas relacionados à incorporação das Convenções da OIT no Direito Interno, especificamente com ênfase para a jurisprudência do STF e TST sobre as Convenções da OIT de nº 132, 158, 162 e 169; tampouco, que coloque em xeque um dos argumentos de ordem prático-consequencialista utilizado pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, para que não seja atribuído o status constitucional aos tratados internacionais sobre direitos humanos provenientes da OIT. Finalmente, considerando que a teoria científica deve permitir que o cientista consiga enxergar a realidade que cerca o ser humano, o presente estudo apresenta uma perspectiva de investigação de caráter atual, na medida em que busca resultados que tragam maiores elementos de análise, e, por conseguinte, proporcionem novas críticas e reflexões acerca das controvérsias que envolvem o tema da incorporação das Convenções da OIT no Direito Interno.

    Convém advertir que o presente livro não trata minuciosamente sobre algumas questões correlatas à pesquisa como os problemas relativos à interpretação, classificação, efetividade e executoriedade das Convenções da OIT, mas visa a elaborar um estudo geral, de modo a trazer um arcabouço teórico e elementos técnicos que permitam o desenvolvimento dos seus objetivos geral e específicos. Da mesma forma, e tendo em vista a complexidade e diversidade das teorias que envolvem o tema deste livro, mormente no que diz respeito à incorporação dos tratados no ordenamento jurídico interno, este estudo fica delimitado a tratar dos principais aspectos relativos às Convenções da OIT no ordenamento jurídico nacional, bem como abordar somente as decisões dos tribunais (STF e TST) que dizem respeito à aplicação das Convenções da OIT de nº 132, 158, 162 e 169.

    A estrutura deste livro, além desta introdução, é composta por dois capítulos, divididos em subseções; considerações finais; referências e apêndices.

    A primeira parte desta obra aborda as Convenções da OIT e a relação com os direitos humanos. No que diz respeito à OIT, é demonstrada a sua importância para o DIT, bem como seus principais aspectos políticos e jurídicos. No tocante às Convenções da OIT, são apresentados seus principais aspectos técnicos normativos, de modo que seja verificada a relação existente entre esses diplomas internacionais com os direitos humanos, através de uma classificação que equipara seus conteúdos com a DUDH, com os Pactos das Nações Unidas de 1966, e também com os grandes princípios dos direitos humanos (dignidade humana, liberdade, igualdade e solidariedade).

    Já a segunda parte deste livro trata propriamente das Convenções da OIT no ordenamento jurídico interno. Nesta etapa, a presente pesquisa apresenta detalhadamente o processo de integração, hierarquia, controle e denúncia dos tratados internacionais e das Convenções da OIT no ordenamento jurídico pátrio; expõe os motivos pelos quais as Convenções da OIT de nº 151, 167, 176, 178 e 185, que apesar de terem sido devidamente ratificadas pelo Brasil após a vigência da EC nº 45/04, não foram aprovadas de acordo com o quórum qualificado previsto no artigo 5º, § 3º da CF/88; identifica os direitos fundamentais sociais trabalhistas previstos na CF/88 que correspondem às Convenções da OIT sobre direitos humanos, enfatizando o caráter de liberdades sociais de alguns deles; e ainda, verifica a forma como a Justiça brasileira vem aplicando os direitos previstos nas Convenções da OIT de nº 132, 158, 162 e 169 nas lides judiciais.

    Por derradeiro, em sede de conclusão, o livro realiza uma síntese analítica das principais questões e hipóteses apresentadas. Mesmo que as conclusões formuladas sejam alvo de críticas, mormente no que diz respeito às questões sobre a incorporação das Convenções da OIT no ordenamento jurídico interno, o simples fato da pesquisa gerar o debate e a reflexão acadêmica já representa a satisfação de grande parte dos seus propósitos.

    Notas

    1. Organização Internacional do Trabalho. Official Relations Branch: Alphabetical list of ILO member countries (186 countries). Disponível em: . Acesso em: 17 jul. 2015; Organização Internacional do Trabalho. NORMLEX: Convenios. Disponível em: . Acesso em: 17 jul. 2015; Organização Internacional do Trabalho. NORMLEX: Recomendaciones. Disponível em: . Acesso em: 17 jul. 2015.

    2. Organização Internacional do Trabalho. NORMLEX: Ratificaciones de Brasil. Disponível em: . Acesso em: 17 jul. 2015. Essas informações sobre as Convenções também podem ser identificadas na tabela constante no link: .

    3. Gustin, Miracy Barbosa de Sousa; Dias, Maria Teresa Fonseca. (Re)pensando a pesquisa jurídica: teoria e prática. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 40-45; Lakatos, Eva Maria; Marconi, Marina de Andrade. Metodologia científica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1991, p. 72-78.

    Capítulo 1: As Convenções da OIT e a Relação com os Direitos Humanos

    Antes de ser iniciada a explanação desta primeira parte do livro, convém realizar uma advertência sobre o seu desenvolvimento.

    Por possuir a grande maioria das Convenções da OIT conteúdo de direitos humanos, como será devidamente demonstrado nesta obra, o objetivo desta primeira etapa se restringe a apresentar os principais aspectos técnicos normativos sobre as Convenções da OIT, relacionando o conteúdo desses diplomas internacionais com os direitos humanos.

    Em virtude disso, o presente estudo não se destina a apresentar detalhadamente todos os aspectos históricos, jurídicos e políticos sobre o DIT e a OIT, muito menos mencionar e analisar todos os documentos elaborados pela OIT ao longo de sua existência, já que o objetivo geral da presente pesquisa consiste em abordar as Convenções da OIT no ordenamento jurídico brasileiro.

    Portanto, esta primeira parte apresenta um panorama que propicia uma síntese e reunião dos pontos mais importantes abordados pelos teóricos do Direito que estudam os assuntos relacionados com o objeto deste trabalho, mas que é suficiente para o desenvolvimento de seus objetivos geral e específicos.

    1. O DIT

    1.1 Perspectiva histórica

    A Revolução Industrial iniciou-se na Inglaterra, em meados do século XVIII, e expandiu-se pelo mundo, a partir do século XIX. Este período histórico caracteriza-se, principalmente, pelo fato dos trabalhadores terem aceitado as mais vis condições de trabalho, por conta de uma evidente e cruel imposição, realizada pelos empregadores, com base no discurso jurídico da liberdade contratual e na conjuntura econômica da época.¹

    O surgimento da ideia de se criar uma legislação internacional do trabalho que defendesse amplas reformas sociais, bem como aplicasse inovadoras medidas nas empresas, e ainda, que fortalecesse o movimento sindical, está intimamente ligada às propostas do empresário liberal inglês Robert Owen² e do industrial francês Daniel Legrand³.⁴

    Em 1818, Owen fez uma proposta aos soberanos dos Estados da Santa Aliança, reunidos em Aix la-Chapelle, a estabelecer, entre outras medidas, as que melhorassem as condições de vida do trabalhador, por meio de um limite legal de jornada de trabalho. Segundo Ericson Crivelli, esta primeira manifestação,

    [...] não objetivava ainda evitar uma competição desigual entre industriais de diferentes Estados europeus. Além do que, estava longe do que veio a se constituir futuramente o DIT,

    evidenciando, portanto, que a referida proposta não passava de uma sugestão para que os demais países europeus também adotassem medidas parecidas com as que ele utilizava em suas empresas.

    Já em 1824, o sindicalismo britânico passou a ser tolerado, embora sem reconhecimento de personalidade jurídica, sendo certo que somente em 1833, inspirado em Owen, foi fundada a União Nacional Consolidada (confederação sindical que reuniu meio milhão de associados), que fez eclodir uma série de greves, denominada cartismo, porque objetivava conquistar a Carta Constitucional do Trabalho⁶.

    No ano de 1837, René Villermé fez um estudo sobre as condições de higiene e saúde dos trabalhadores nas industrias têxteis francesas, tendo proposto um acordo entre os fabricantes dos diversos países, para garantir os padrões trabalhistas mínimos para os trabalhadores, e não um acordo entre os Estados. Ao comentar sobre isso E. Crivelli explica que

    "[...] a proposta apresentada por Villermé adiantava, avant La lettre, o que viriam a ser os códigos de conduta [contrato privado em que as empresas ajustam um padrão de regulação trabalhista comum] que passaram a ser adotados na década de 90 do século XX"⁷.

    Posteriormente, em 1844, D. Le Grand submete o seu primeiro projeto de lei, estabelecendo propostas que visavam evitar uma competição comercial entre os países industrializados, por conta das vantagens competitivas relativas baseadas nas diversas condições existentes entre os países industrializados.

    Poucos anos depois, em 1847, o sindicalismo, iniciado na Inglaterra, expandiu-se para outros países da Europa, e, em 1856, ocorreu em Bruxelas, o Congresso Internacional de Beneficência, que recomendou uma regulamentação internacional de uma série de questões trabalhistas. No ano seguinte, em Frankfurt, o Congresso aprovou uma proposta de adoção de acordos internacionais que tratassem da proteção dos direitos dos trabalhadores de modo ordenado, especialmente no que diz respeito ao trabalho de mulheres e crianças, jornada de trabalho etc. Consoante aos ensinamentos de Nicolas Valticos, essa proposta marca o começo de uma ação coletiva a favor de uma legislação internacional do trabalho⁹.

    A Primeira Internacional Socialista de 1864, merece destaque, pois foi por intermédio dela que Karl Marx e Friedrich Engels asseveraram a necessidade de serem internacionalizadas medidas de proteção do trabalho humano, no entanto, somente nos anos seguintes, com o progresso reformista dos movimentos dos trabalhadores ao nível das organizações internacionais de trabalhadores, foi quando o movimento em favor de uma legislação internacional do trabalho realmente ganhou força.¹⁰

    Em 1871, o governo inglês regulamentou o direito sindical, e, em 1881, o Congresso Nacional suíço adotou uma proposta para iniciar negociações com os principais Estados industrializados, a fim de provocar a criação de uma legislação internacional nas fábricas.¹¹

    Nos anos seguintes, houve um aumento de manifestações no Parlamento francês favoráveis à adoção de uma legislação internacional do trabalho, todavia, após vários debates, em 1895, Bismark não aceitou uma moção parlamentar para adoção de uma legislação internacional, sob o argumento de que seria difícil convencer os países vizinhos a Alemanha a adotarem a legislação, e que os outros países não fiscalizariam o cumprimento da legislação, como a Alemanha faria.¹²

    Em 1889, foi proposto pelo Conselho Federal suíço a diversos países europeus que fosse realizada, no ano seguinte, uma conferência de caráter diplomático, cujo propósito consistia em elaborar, de modo eficaz e detalhado, um plano de uma legislação internacional do trabalho.¹³

    Em 1890, foi convocada a Conferência de Berlim, que teve como principal missão tratar sobre a impossibilidade de melhoria das condições dos operários sem celebrar acordos internacionais que permitissem aos produtores industrializados competir no mercado mundial.¹⁴

    A encíclica "De Rerum Novarum" foi escrita em 1891, pelo Papa Leão XIII, e sugeria a adoção, pelos povos, dos princípios da justiça social, para propiciar um melhor nível moral, intelectual e físico dos trabalhadores, bem como a união fraterna entre empregadores e empregados. Além disso, este documento preconizava a ideia de propriedade privada (como direito natural) conquistada pelo trabalhador, criticando os postulados de propriedade coletiva defendida pelo pensamento socialista.¹⁵

    Nos anos de 1891 até 1899, fora estudada pelos países europeus a possibilidade de criação de uma oficina internacional de proteção dos trabalhadores, que seria responsável tanto pelas tarefas estatísticas como por constituir um centro de informações sobre questões laborais. Destaca-se, em 1987, a realização de dois importantes congressos nas cidades de Zurique e Bruxelas, que serviram principalmente para determinar os planos e os estatutos de uma Associação Internacional para a Proteção Legal dos Trabalhadores.¹⁶

    A Associação Internacional para a Proteção Legal dos Trabalhadores somente foi instalada na Basileia em 1º de maio de 1901, e incumbiu-se de realizar estudos científicos detalhados referentes à base em que se estabeleceriam as propostas de normas internacionais a serem indicadas para os Estados.¹⁷

    No ano de 1905, foi solicitado pela comissão da Associação, designada para cuidar dos temas da proibição do trabalho noturno das mulheres na indústria e sobre o emprego do fósforo branco na indústria de ceras e fósforos, uma Conferência, em Berna, para que fossem discutidos esses assuntos. Em que pese esta Conferência ter estabelecido as bases para a criação de duas Convenções, somente em 1906, por uma conferência diplomática muito debatida¹⁸, é que foram adotados os projetos dessas Convenções.¹⁹

    A terceira Conferência de Berna realizou-se, em 1913, sendo que nela também foram aprovadas duas Convenções internacionais sobre proibição do trabalho dos menores na indústria, e fixação da jornada de jornada máxima de dez horas para o trabalho das mulheres e dos menores.²⁰ Uma quarta conferência técnica, também de caráter diplomática, foi marcada para setembro de 1914, contudo, um mês antes da data, surgia a Primeira Guerra Mundial (1914-1918)²¹.²²

    Em 1914, o Congresso da Federação Americana de Trabalho (AFL), realizado em Filadélfia, adotou uma resolução, que entre outras medidas, visava contribuir para uma paz mais duradoura²³. Já em 1916, em Leeds (Inglaterra), foi celebrada uma conferência de dirigentes sindicais que declarava, em suas considerações finais, que o Tratado de Versailles deveria assegurar aos trabalhadores dos países um mínimo de garantias de ordem moral e material, relativas ao direito ao trabalho, sindicalização, higiene, seguridade etc.²⁴

    Por iniciativa da Federação Sindical Internacional (FSI), em setembro de 1917, os delegados operários da Europa central e da Escandinávia adotaram o mesmo conteúdo do plano da Conferência de Leeds, qual seja, inclusão de normas sociais no futuro Tratado de Paz.²⁵

    Duas outras importantes reuniões, convocadas pelo Partido Trabalhista e pela Central Sindical Inglesa (TUC), ocorreram no ano de 1918, em Londres. As resoluções das Conferências possuem em comum a preocupação com uma regulamentação da paz a ser negociada pelos Estados. Em 18 de janeiro de 1919, a Conferência Preliminar foi instalada e, no dia 25, decidiu nomear uma comissão de quinze membros para realizar o estudo da legislação internacional do trabalho.²⁶

    Em fevereiro de 1919, realizou-se em Berna, a Conferência Sindical Internacional, na qual foram inseridos alguns princípios do Tratado de Paz, tais como: jornada de 8 horas diárias; proibição do trabalho noturno das mulheres e dos menores; repouso semanal; seguro-maternidade, com proibição do trabalho à gestante durante dez semanas; entre outras medidas.²⁷

    Por fim, em 6 de maio de 1919, a Conferência da Paz, realizada na cidade de Paris, adotou o texto do Tratado de Paz (Parte XIII do Tratado de Versalhes), que visava

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