LYdereZ: O exercício da liderança para conectar gerações
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O que os jovens das gerações Y e Z representam para o futuro e o sucesso das empresas?
Com base na experiência que adquiriu comandando sua empresa, a Rádio Ibiza, cercado por jovens, Pedro Salomão desfaz o mito de que as novas gerações são alienadas, desfocadas ou desinteressadas. O sucesso da Rádio e o legado que pretende deixar para seus sucessores confirma: o grande desafio para lidar com os jovens no ambiente de trabalho é compreendê-los; exercitar a empatia com sinceridade, descobrindo como aproveitar o potencial de quem é recém-chegado ao mercado. Pedro aposta na confiança e na humanização das relações profissionais para capacitar um líder. Nem todo chefe é um bom líder, aquele que está preparado para iluminar, empoderar e se conectar com a juventude que compõe as equipes nas empresas. Reconhecer os jovens como formadores de opinião e apostar na troca de experiências como enriquecedora para ambos os lados é o caminho para a formação de líderes comprometidos, responsáveis e felizes
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LYdereZ - Pedro Salomão
Pedrinho.
1.
SER
LÍDER
É...
...ser chefe. Bem, pelo menos é isso o que pensa a maioria das pessoas quando ouve falar em liderança. Líder, no senso comum, hoje em dia, é o cara que manda, que tem vários subordinados em uma empresa. É como se fosse um sinônimo de gestor. Isso diz muito sobre o mundo em que vivemos, não é? A gente só quer saber de trabalho e, quando escuta falar em líder, pensa logo no mundo corporativo. Mas essa palavra quer dizer muito mais que chefe, patrão, CEO ou qualquer outro sinônimo para o cara a quem você obedece, mesmo que ele seja um idiota, só porque está cheio de boletos para pagar no fim do mês
.
Líder pode ser uma mãe ou um pai que educa e conduz com sabedoria os seus filhos, até que eles se tornem autossuficientes, ou pode ser um filho que lidera os pais. Quantas vezes os pais planejam um cronograma para o dia perfeito (chegar do trabalho às sete, jantar às sete e meia, pôr as crianças para dormir às oito e meia) e, quando percebem, nada do que previram aconteceu e estão todos sentados, sem tomar banho e sem jantar, assistindo a um desenho na TV, simplesmente porque os filhos tomaram as rédeas e fizeram o dia acontecer conforme eles queriam?
Líder também pode ser aquele amigo que sempre consegue juntar a galera para tomar uma cerveja e trocar uma ideia, mesmo que esteja todo mundo ocupado (e todo mundo sempre está!), ou pode ser um cabeludo que se mistura com todo tipo de gente e influencia gerações e gerações com um papo estranho de amar ao próximo como a si mesmo — esse aí eu conheço bem! Não faltam exemplos de pessoas que são líderes sem nunca terem ocupado um cargo de chefia, e até mesmo sem nunca terem trabalhado em uma empresa. E o contrário também existe. Aliás, aos montes. Vai dizer que você não conhece pelo menos um chefe que tem qualidades incríveis — é brilhante, inovador, dedicado, competentíssimo —, mas não sabe liderar uma equipe? Esse sorrisinho aí é porque você lembrou de alguém, certo?
Agora vamos fazer um exercício. Pense nesta palavra: líder. Qual é a primeira imagem que vem à sua cabeça? É um homem ou uma mulher? É branco ou negro? E quantos anos tem? Olha, eu não te conheço, mas posso apostar que você imaginou um cara branco e de cabelos grisalhos, vestindo um terno. Não tenho nada contra homens brancos de cabelos grisalhos (até tenho amigos que são assim!), mas essa visão clichê do líder que está totalmente enraizada no imaginário das pessoas, no senso comum, explica por que vemos tantos problemas de liderança nas empresas e, principalmente, por que tantos jovens hoje em dia abandonam os empregos tradicionais, com os quais seus pais tanto sonharam, para viver outras experiências, viver o mundo real
.
O problema é que as empresas que insistem nos velhos padrões de gestão e liderança simplesmente não conseguem se conectar com as gerações chamadas de Y e Z. Aliás, não só as empresas, mas também as escolas, as universidades e até as famílias. Quando o assunto são essas duas gerações, o que mais escuto é que esses jovens são distraídos demais, superficiais demais e até egoístas demais. Ou seja, jamais poderiam ser bons líderes. Mas é justamente o contrário: são eles — e não o cara de terno e gravata que você imaginou no parágrafo anterior, quando propus aquele exercício — que estão prontos para mudar o mundo.
Mesmo que aquele cara grisalho quisesse ser o líder das gerações atuais, ele dificilmente conseguiria, porque lhe falta a velocidade que elas exigem. E eu falo por mim mesmo: meus primeiros cabelos brancos estão nascendo, e já sinto que não consigo acompanhar as demandas desse pessoal, com quem convivo intensamente, todos os dias, na minha empresa. Eles mudaram a nossa forma de ver o tempo: é como se o relógio estivesse correndo mais rápido. Agora, eles ditam consumo, moda, comportamento e até mesmo as formas de se comunicar e de dar nome às coisas. Eles já estão liderando e você nem percebeu. Duvida? Basta entrar em uma empresa de entretenimento, plataformas digitais, redes sociais ou de qualquer segmento de inovação do mercado e contar quantos funcionários com mais de 35 anos estão ali. Abra o olho. O mundo já está nas mãos deles. E é por isso, em homenagem a essas pessoas tão complexas e interessantes, que este livro se chama LYdereZ — fala a verdade, você achou que era por causa da numerologia!
Para entender como as gerações Y e Z estão mudando o mundo, primeiro é preciso entender quem são esses caras. A geração Y é formada por aqueles que nasceram entre o início da década de 1980 e meados da década de 1990. Seus pais são os chamados baby boomers, nascidos na década de 1950, criados com a ideia de que era fundamental ter estabilidade financeira, construir uma carreira sólida em uma empresa e trabalhar duro. Os baby boomers — ou seja, os pais da geração Y — em geral são pessoas com grande senso de responsabilidade e que valorizam muito uma visão mais tradicional do trabalho: escritório, chefe, hierarquia e, principalmente, estabilidade e segurança. São pessoas que trabalharam muito para proporcionar conforto às suas famílias e que, quando chegaram lá, decidiram que seus filhos não precisariam enfrentar os mesmos perrengues pelos quais passaram — o que parece ótimo, mas pode ser um pouco problemático.
O problema está naquilo que os pais baby boomers mostraram e disseram, na melhor das intenções, aos seus filhos, aos jovens de classe média da geração Y. Depois de passar a vida toda ralando para dar o melhor que podiam às crianças, muitos desses pais viram a prosperidade econômica e a ascensão social chegarem. Afinal, deram a volta por cima, e conseguiram o sucesso que tanto desejavam. Criaram seus filhos em um ambiente muito confortável, permeado por um otimismo que se baseia principalmente no seguinte pensamento: Se eu, que nasci ferrado, tive que me virar, tive que correr atrás de tudo, consegui conquistar essa vida, imagino o que não vai conseguir o meu filho, que já nasceu com a geladeira cheia de iogurte, a estante abarrotada de brinquedos e a van esperando na porta de casa para levá-lo à escola particular!
É aí que nasce um dos principais causadores de ansiedade no mundo de hoje: a expectativa.
As crianças de classe média da geração Y se tornaram jovens adultos com expectativas altíssimas nas costas, que podem ser resumidas numa única frase, que lhes foi repetida à exaustão ao longo da vida: Você pode ser o que quiser.
Parece ótimo, né? Mas poder ser o que quiser
, poder ser qualquer coisa, é muita coisa. E, afinal, o que a gente quer ser mesmo? Quando existiam, no máximo, dez profissões para escolher, era mais fácil. Mas e hoje, em que a cada hora surge uma profissão diferente, com um nome que ninguém entende bem o que quer dizer? Hoje, em que ninguém te obriga mais a ser médico ou advogado? Hoje, em que seu pai diz: Vai viver seu sonho, meu filho!
E aí, qual é o seu sonho? Por onde começar?
Sem conhecer as dificuldades que seus pais enfrentaram pelo caminho, essa galera que recebeu tudo de mão beijada foi criada com a ideia de que as possibilidades são infinitas e resolveu que ter um emprego que garantisse apenas
casa, carro, estabilidade financeira e conforto não era suficiente. Aliás, talvez não seja nem necessário. O que eles querem é brilhar, ser especiais, fazer algo genial, viver um sonho. Eles querem felicidade. Mas isso — quando se nasce numa família de classe média, com todos os recursos à disposição — é muito mais difícil do que simplesmente ganhar dinheiro. Sem falar que, hoje, todo mundo acompanha remotamente, pelas redes sociais, a vida dos ex-colegas de escola, do antigo vizinho que era companheiro de brincadeiras no prédio, daquelas pessoas que, se não fosse pela internet, hoje já seriam completas desconhecidas. O problema é que, nas redes, ninguém — ou melhor, quase ninguém! — publica fotos dos seus momentos de tédio, tristeza, desilusão ou aborrecimento. Ninguém posta suas derrotas; só felicidade, sucesso, conquistas, dias maravilhosos. Essa geração cresce olhando para isso e se comparando às outras pessoas da sua idade, dominada por um sentimento: Algo deu errado; todo mundo está melhor que eu.
O plano de trabalhar para se sentir realizado e relevante no mundo gera uma expectativa enorme, e essa expectativa, quase sempre, é substituída por frustração e ansiedade.
Então, a geração Y é formada por frustrados ansiosos que não sabem o que querem da vida? Não, calma. A notícia boa é que eles, aos poucos, estão conseguindo lidar com isso, descobrindo novas formas e possibilidades de trabalho. Por exemplo, para que serve um carro novo quando se pode andar de ônibus, metrô, bicicleta ou pegar uma carona e, com o dinheiro economizado, fazer um mochilão? Qual é o sentido de passar o dia todo enclausurado num escritório, sem ver o sol, usando uma roupa que não tem nada a ver com você, quando se pode ser freelancer e trabalhar a cada dia num lugar diferente da cidade, usando sua camiseta preferida — estampada com aquela frase que faria o chefe do seu pai ter calafrios?
Com esses questionamentos, vão surgindo novas maneiras de encarar o trabalho, o tempo e até mesmo as relações entre as pessoas. Por que um chefe vai se comportar como se fosse uma entidade sagrada que deve ser adorada a distância, se em casa ele é só um pai ou marido; se no time de pelada ele é só um goleiro (até meio frangueiro!); se no grupo da antiga faculdade ele é só o cara que, quando fica bêbado, diz que considera todo mundo à beça? Os cargos e a hierarquia podem servir muito bem para organizar o trabalho — até porque, convenhamos, se todo mundo tiver poder de decisão sobre todos os assuntos da empresa, vai demorar muito até que qualquer assunto seja resolvido —, mas, fora as questões específicas do trabalho, só servem para distanciar as pessoas, criar barreiras desnecessárias. Bobagem. Sinto que as relações de trabalho estão mudando para melhor, e quem capitaneia essas mudanças é a geração Y, com sua visão inovadora, sua inquietação, seu gosto por uma vida mais dinâmica. Eles são os inimigos da rotina.
Depois deles, veio a geração Z: são aqueles nascidos entre 1990 e 2010 e que têm padrões de comportamento muito semelhantes aos da geração anterior, com a diferença de que já nasceram de frente para uma tela. Ou melhor, para várias telas, ao mesmo tempo. Eles têm ídolos que seus pais não conhecem. Eles talvez não liguem se o protagonista da principal novela da TV passar bem pertinho deles, mas podem fazer qualquer coisa para chegar perto dos seus youtubers preferidos.
Os youtubers, aliás, são um excelente exemplo de como a geração Z influencia o mundo. Dez anos atrás, essa profissão nem existia. O YouTube surgiu em 2005 como uma plataforma para publicação de vídeos. Aos poucos, moleques que não tinham nada além de uma câmera bem amadora (alguns usam até mesmo a câmera do celular) e um computador muito básico descobriram que era legal gravar vídeos dizendo umas graças, falando do dia a dia, desabafando, expondo o que desse vontade. Sem nenhum recurso de captação, edição, tratamento de imagem e cor, começaram a publicar seus vídeos só por diversão e descobriram que tinha gente querendo assistir e se divertir com eles. Mas a grande virada foi quando descobriram que dava para ganhar dinheiro com isso — e um dinheiro bom! Dava pra ficar rico!
Foi assim com Whindersson Nunes, o youtuber mais famoso do Brasil em 2018, que faz vídeos bem-humorados sobre fatos do cotidiano, sempre sem camisa, falando para a câmera em seu quarto. (Hoje em dia, quase sempre num quarto de hotel, já que ele viaja muito fazendo shows.) Whindersson morava com os pais no interior do Piauí e chegou a mudar de cidade, por falta de dinheiro, quase vinte vezes. Em seu perfil no Instagram, contou que seus dois irmãos cursavam a mesma série na escola, mas precisavam estudar em turnos alternados, para revezar a mochila, o par de tênis e o material escolar. Quando um chegava do colégio, passava tudo para o outro ir estudar. Em 2013, aos 18 anos, Whindersson estourou no YouTube com uma paródia da música Vó, tô estourado
, um forró de Israel Novaes. Foram milhões de acessos, que mudaram a vida do garoto. Hoje ele é milionário, tem um jatinho de nove lugares (avaliado em cerca de R$5 milhões), uma casa de R$1 milhão em Fortaleza e é considerado um dos maiores influenciadores do país, com mais de 20 milhões de inscritos em seu canal no YouTube. Já participou de quatro filmes e roda o país com um espetáculo teatral que esgota os ingressos por onde passa — chegou a fazer inclusive 37 sessões em um único