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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir {1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que oulrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
5L vista cristáo a fim de que as dúvidas se
'_. • dissipem e a vivencia católica se fortalega
"i- no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
mmmW Q PEN5RMENTD CRISTRI
ND HUNDO DE MOJE

ANO XVIII — N? 214 OUTUBRO DE 1977


índice

IR ATÉ O FIM 413

O doloroso caso de cantestacdo:


DOM MARCEL LEFÉBVRE : ECOS E ECOS 415

Cütacao inédita:
CONSEQÜÉNCIAS CANÓNICAS DO DIVORCIO NO BRASIL 429

Após a promulgado do divorcio:


ATITUDES PASTURÁIS EM BRASIL DIVORCISTa 443

Q'.estáo Delicada:
VASECTOMIA E CASAMENTO 450

LIVROS EM ESTANTE 453

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

NO PRÓXIMO NÚMERO -.

«Os astronautas que voltaram místicos». — Igreja e cremacao


de cadáveres. — Aínda vale a Escola Católica ? — Valores e mu-
danqa rodal.

'(PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

Assinatura anual Cr$ 75,00

Número avulso de qualquer mes Cr$ 7 00

BEDAgAO DE PR ADMINISTBAgAO
£.ivraria Missionária. Editora
Caixa Postal 2.666 Búa México, 168-B (Casta'.o)
ZC-00 20 000 Rii A-i .Jnnolro (R.I)
20 009 Rio Ai Janeiro (RJ) Te!.: 224-0059
IR ATÉ O FIM
A vida de hoje leva os homens á criatividade: faz-se
mister atender aos novos desafios que os tempos suscitam. É
verdade. Todavia, ao lado desta constatagáo, outra se impóe:
é preciso nao esquecer a perseveranga nos bons alvitres...
Ora esta justamente parece estar em crise nos nossos dias.
O número de desistencias daqueles que com entusiasmo abra-
gam o bom caminho, nos impressiona e sugere algumas re-
flexóes.

Dizia famoso escritor ateu francés: «O que mais me


entristece, é ver que a maioria dos homens nao chega até o
fim do seu ideal». Sim, a maioria parece morrer ainda nao
plenamente desabrochada, tendo parado na procura da auto-
-realizagáo, a 40%, 60% ou talvez 80% da caminhada. O que
quer dizer ainda : as pessoas crescem em anos, mas nao cres-
cem na sua correspondente dimensáo interior, arriscando-se
a ser personalidades «anas».

Embora seja muito difícil penetrar no íntimo de outrem,


pode-se crer que as palavras do ateu correspondem á realidade
dos fatos. Talvez eu mesmo seja para mim a demonstragáo
viva de tal proposigáo !

E por que se dá a defasagem entre o aumento de anos e


o desabrochamento interior ?

Uns talvez nao cheguem ao termo do seu ideal por falta


de amigos ou de subsidios... Dum lado, ninguém se faz so-
zinho; doutro lado, a vida é inclemente. — É de crer, porém,
que muitos outros nao cheguem á plenitude, simplesmente por
covardia,... covardia talvez inconscientemente nutrida e vivida.
Sim; a natureza tende sempre ao que é mais cómodo, de modo
que, após os primeiros esforcos em demanda do ideal, tende
a se adptar e a fazer seu «leito gostoso»; toda a dinámica en
tusiasta do inicio arrefece entáo em meio á caminhada.

Ora precisamente essa acomodagáo constituí o perigo que


mais ameaga o cristáo «honesto», que nao dá escándalo. Nao
é raro dizer-se : «Nao tenho vocagáo para a santidade!» — o
que significa que a pessoa se julga dispensada de sair da me
diocre rotina de cada dia : nao rouba, nao mata, tem muitos
amigos ... e isto parece-lhe bastar.

Ora a vocagáo crista repudia tal filosofía de vida. É um


apelo a que o cristáo supere constantemente a si mesmo, pro-

— 413 —
curando caminhar sempre mais aceleradamente em demanda
do Infinito. As pequeñas falhas (distracóes, omissóes, levian-
dades...) que eu outrora, como crianga, cometía e que eram
condizentes com minha idade, já nao sao hoje táo «inocentes»,
embora nao causem escándalo; nao posso, como adulto, ter
a mentalidade e o comportamento de urna crianga despreo
cupada e rotineira. É necessário, pois, que todos os días de
manhá o cristáo renové em seu íntimo a consciéncia de que
é caminheiro que se apresta a nova jornada de sua peregri-
nagáo... É oportuno também que, domingo por domingo, mes
por mes, avive em si a consciéncia de que está 'á procura de...
Pode-se, alias, dizer que no relacionamento entre Deus e a
criatura a lei de Newton tem a sua aplicacáo análoga: «A
materia atrai a materia na razáo direta das massas e na razáo
inversa do quadrado das distancias» — o que se pode transpor
para a vida espiritual nos seguintes termos: Deus atrai a cria
tura sempre mais velozmente, Ele que é a Beleza Infinita,...
e atrai-a tanto mais fortemente quanto mais ela se vai apro
ximando do Criador. Quanto mais perto do termo, tanto mais
rápidamente devo ser atraído pela face da Beleza Infinita.
Esta exercerá sobre mim um tropismo crescente, desde que
eu nao me deixe entravar pela covardia.

Mais ainda: é conveniente que o cristáo nao aguarde o


fim da vida (que paradoxalmente pode ocorrer cada día) para
pensar na dinámica da sua caminhada. Geralmente, quando
as forgas físicas declinam, a pessoa precisa de viver das reser
vas acumuladas no passado. Tarde e difícilmente comeca quem
pretende dar a virada no fim da caminhada.

Chama-nos ainda a atengáo o fato de que Jesús no Evan-


gelho nos diz que aqueles nos quais a Palavra de Deus dá
fruto céntuplo, sao os perseverantes, os «teimosos», os que
tém longa paciencia (cf. Le 8, 15)... Assim o ideal da vida
crista se torna muito mais acessível aos homens : se a gran
deza dos santos consistisse em fundar urna escola ou escrever
um livro, dir-se-ia que muitos nao tém aptidáo para a santi-
dade (o que seria falso). Todavia a grandeza do cristáo está,
antes, em levar até o fim aquilo que Deus lhe pede: talvez
urna vida de luta cujo éxito ele nao entrevé,.. . urna vida de
achaques físicos que o abatem.. . Seremos julgados um dia
nao pelo número de Vitorias obtidas, mas, sim, pela nossa capa-
cidade de lutar generosamente até o fim, sem nos afastarmos
do nosso posto, para assim chegarmos á Casa do Pai!...

E. B.

— 414 —
PERQUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XVIII — N» 214 — Outubro de 1977

O doloroso caso de contestacáo:

dom marcel leíébvre: ecos e ecos...


Em síntese: O presente artigo apresenta algo do conteúdo dos llvros
de D. Marcel Lefébvre e de alguns dos seus apologistas, pondo em relevo
a maneira como defendem a sua posicSo de contestacSo ao Concilio do
Vaticano II e ao Papa Paulo VI. Geralmente a oposicio se fundamenta em
afirmares gratuitas, se nSo dlstorcldas, referentes ao Concillo e ao proce-
dimento de S. Santidade. Nao é difícil a um historiador apartidarlo conven-
cer-se de que 0. Lefébvre e seus seguidores entendem erróneamente o
Concilio e o desfiguram quando a ele se referem. Em favor de D. Lefébvre
existem também "revelagoes" a almas piedosas, que atribuem a Cristo a
distineSo entre "a minha Igreja" (a de Lefébvre) e a "a Igreja oficial";
tais escritos carecem de autorldade.

Em suma, o Movlmento lefebvriano é tido por alguns observadores


como eco tardío da "Actlon Francalse", que desde o comeco do secuto XX
até 1939 fol urna afirmaclo monarquista de extrema dlreita, em oposlpao
ao reglme republicano. — NSo há dúvida, porém, de que é urna reacio
Infeliz aos abusos ocorrldos após o Concillo em nome de falsa Interpretac&o
dos documentos conciliares. Paulo VI e a hlerarqula tém condenado tais
desatinos, de sorte que nao há necessidade de salr da Igreja para os
repudiar. Ademáis cindlr a Igreja equivale a romper a comunháo com
Aquele que é a Cabeca e que prolonga a sua vida em sua única Igreja.

Comentario: Está sempre em voga a figura do prelado


francés D. Marcel Lefébvre, que já é conhecido como «o
arcebispo rebelde». Sabe-se que Lefébvre nao aceita as nor
mas tragadas pelo Concilio do Vaticano II e paulatinamente
postas em prática pelo S. Padre Paulo VI. A respeito já foi
publicado um artigo em PR 203/1976, pp. 463-477. Neste
número tencionamos nao repetir, mas expor algo do con
teúdo da bibliografía, já assaz volumosa, que defende D. Le
fébvre e sua posigáo. Interessa-nos saber como o próprio
arcebispo contestador e seus seguidores pretendem funda
mentar a sua atitude. Estes dados permitirlo ao leitor jul-

— 415 —
4 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS»- 214/1977

gar melhor o assunto, que a imprensa nem sempre elucida


á luz da teología e dos próprios valores em pauta.

Nao é agradável entrar em argumentos de urna con-


tenda ou litigio, principalmente em se tratando da figura de
um arcebispo a contestar o Sumo Pontífice. Se, de um lado,
pode parecer melhor silenciar o caso, de outro lado é de
crer que urna informagáo objetiva e serena sobre o tema
pode prestar servigo ao leitor desejoso de se orientar sobre
bases sólidas. É a consciéncia desta vantagem que nos leva
a escrever as páginas seguintes.

1. Os escritos de D. Lefebvre

Embora nao seja urna personalidade especulativa, mas


homem de agáo, D. Lefebvre escreveu alguns livros a fim
de justificar a sua conduta recente.

1. O primeiro que vem ao caso, se intitula «Un évéque


parle» (Um bispo fala) 1. Condena o Concilio do Vaticano II,
servindo-se de ótica e interpretagáo pessoais. Sem que se
penetre na consciéncia alheia, pode-se dizer, em linguagem
muito moderada, que D. Lefebvre nao é bom historiador.
Vejamo-lo de perto:

D. Lefebvre refere-se ao fato de que as comissóes de


bispos e teólogos constituidas durante os preparativos do
Concilio para elaborar os ante-projetos3 de Constitucóes, De
cretos ou Declaragóes conciliares, foram reformadas durante
a primeira sessáo do Concilio... Julga o prelado que assim
foram deliberadamente excluidos os autores que haviam pre
parado étimos textos para dar lugar a bispos progressistas
e subversivos! — Na verdade, isto nao corresponde aos fatos
históricos: dos 160 bispos escolhidos pelos padres conciliares
para compor as Comissóes teológicas do Concilio, 92 haviam
pertencido as Comissóes preparatorias. Portanto, mais da
metade...! Nao obstante, D. Lefebvre afirma que «as Co
missóes foram constituidas por dois tergos de membros pro-

i Em traducao italiana: "Un vescovo parla". Milano, Rusconl 1975,


232 pp. Sao as páginas dessa ed¡;So que citaremos a seguir.

¡Em linguagem técnica latina, esses ante-projetos eram chamados


"schemata", esquemas, é o que explica o nosso vocabulario doravante.

— 416 —
D. LEFÉBVRE: ECOS E ECOS...

gressistas» (p. 103, da edicáo italiana) — o que nao é


verídico.

Afirma outrossim o prelado que, quinze dias após o


inicio do Concilio, nenhum vestigio ficava dos esquemas pre
parados anteriormente; tal haveria sido a furia de ¡novar que
os textos teriam sido enviados todos as Comissóes teológicas
para serem refundidos e novamente elaborados: «Tudo foi
rejeitado, tudo langado ao cesto; nao ficou urna só frase»
(p. 190). — Reconhegamos que a 21/XI/1962, sim, o esquema
«sobre a Revelagáo Divina» foi rejeitado pela assembléia con
ciliar com a solicitagáo de que urna Comissáo especialmente
constituida para esse fim o reelaborasse. Isto se deu um mes
e dez dias (quarenta días, e nao quinze dias!) após a aber
tura do Concilio. Quanto aos demais esquemas, basta con
sultar os textos apresentados aos padres conciliares e con-
frontá-los com os que foram aprovados definitivamente, para
verificar que muitos dos dados iniciáis passaram para a reda-
gáo final — D. Lefébvre prefere esquecer ou simplificar a
historia!

Á p. 171, D. Lefébvre escreve que a S. Congregagáo


para o Culto Divino estava para baixar um Decreto segundo
o qual, durante a celebragáo da Missa, «o sacerdote estaría
livre para dizer e fazer tudo o que quisesse, ficando obrigado
apenas as palavras da Consagragáo, as quais, alias, já foram
modificadas... Cada qual poderia compor a Oragáo Euca-
rística que bem quisesse, a Oragáo que se adaptasse, por
assim dizer, ao auditorio»! — Diante desta alegagáo, deve-se
registrar que

a) as palavras da Consagragáo nao foram substancial-


mente modificadas. Nenhum apostólo gravou ou taquigrafou
os dizeres de Cristo na última ceia. Apenas nos transmitiram,
cada autor sagrado do seu modo (cf. Mt 26,26-28; Me 14,22-25;
Le 22,19-21; ICor 11,23-26), o fato de que o pao se converte
no corpo e o vinho no sangue de Cristo. Exprimir isto hoje
na Liturgia é exprimir exatamente o que Cristo quis dizer.

b) A noticia de um tal decreto da S. Congregagáo para


o Culto Divino, que nunca foi editado nem alguém jamáis
viu, é algo que destoa da conduta dessa Congregagáo e dos
documentos emanados da mesma; na verdade, a S. Congre
gagáo sempre exigiu fidelidade aos textos devidamente apro-

— 417 —
6 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

vados, rejeitando criagóes arbitrarias, principalmente no to


cante as Oragóes Eucarísticas!

2. O segundo volume de D. Lefébvre que vem ao caso,


tem por título «J'accuse le Concile» (Acuso o Concilio), Mar-
tigny, Ed. Saint-Gabriel, 1976, 116 pp.1. — Na realidade,
D. Lefébvre, nesse livro, examina principalmente os textos de
base que foram discutidos durante o Concilio, assim como as
intervengóes dos padres conciliares que antecederam a apro-
vagáo final dos documentos conciliares. — Ao citar tais inter-
vencóes, o autor se engaña freqüentemente quanto as datas
respectivas. Ainda a propósito note-se bem: só se pode jul-
gar o Concilio a partir dos textos que este, como tal, pro-
mulgou; ora tais documentos sao irrepreensíveis. Se, para
chegar a redagáo final, houve debates, hesitagóes e confron-
tos, isto nao surpreende, visto que a mente humana progride
por raciocinio, e o Espirito Santo nao a isenta de desenvolver
os seus esforgos, embora lhe garanta a sua assisténcia para
que a elaboragáo final seja fiel a verdadeira fé.

No tocante á Declaragáo sobre a Liberdade Religiosa,


Lefébvre julga que esta concede os mesmos direitos á verdade
e ao erro — o que nao corresponde ao texto em pauta, desde
que lido objetivamente.

Em 1964, D. Lefébvre mesmo intervinha nos debates con


ciliares a respeito da Constituigáo «Sobre a Igreja no mundo
moderno», para dizer que haveria «verdadeiro escándalo» se
nao se levassem em conta «todos os luminosos ensinamentos
dos Sumos Pontífices publicados nos últimos cem anos...»
(pp. 84s). — Ora já na redagáo inicial dessa Constituigáo
eram citados o Concilio de Trento e o do Vaticano I (duas
vezes cada qual), Leáo XIII (urna vez), Pió XI (sete vezes),
Pió XII (quinze vezes), Joáo XXIII (vinte e tres vezes).
Na redagáo final, a Constituigáo cita Leáo XIII (quatro
vezes), Pió XI (dezesseis vezes), Pió XII (dezessete
vezes),
Joáo XXII (trinta e duas vezes). Ainda: no conjunto dos
documentos conciliares Leáo XÜI é citado trinta e sete ve
zes, Pió X dez vezes, Bento XV cinco vezes, Pío XI sessenta
e sete vezes, Pío XII cento e setenta vezes, Joáo XXIII oitenta
e sete vezes. Tais cifras nao sao mencionadas no livro de
D. Lefébvre, detal modo que quem o le tem a má impressáo

1 Em traducSo Italiana: "Accuso II Concilio". Roma, II Borghese 1977,


152 pp. Edlcfio donde sao tiradas as cltacSes a seguir.

— 418 —
D. LEFÉBVRE: ECOS E ECOS...

de que o Concilio nao levou em consideracjio o magisterio dos


Sumos Pontífices — o que é falso.

3. Mais recente é a publicagáo de Lefébvre que tem o


titulo significativo «Non. Mais oui á l'Eglise catholique et
romaine. Entretiens de José Hanu avec Monseigneur Marcel
Lefébvre» 1 (Nao. Mas sim a Igreja Católica e romana. Colo
quios de José Hanu com Mons. Marcel Lefébvre). No con-
teúdo do livro, o título é explicado no sentido de que Nao
é a resposta dada por Lefébvre a quantos lhe propóem, da
parte de Roma, alguma solugáo: «Ainda que eu entristeca
esses interlocutores, só lhes posso responder; Nao» (p. 229).

No coloquio entre o arcebispo e o jornalista José Hanu,


este nao faz objegóes áquele, mas táo somente confirma e
antecipa as idéias de Lefébvre. Embora este nada de novo
diga, parece ainda mais radicalizado do que nos livros ante
riores. Julga que o Concilio do Vaticano II foi, por inteiro,
devido á obra e á inspiragáo de Satanás (pp. 108-122); pos em
execugáo um plano preconcebido e bem elaborado, para des
truir progressivamente a Igreja, entregando-a ao protestan
tismo, ao modernismo, ao compromisso ilícito com o mundo,
etc. Afirma que devem ser imputados ao Concilio todos os
males da Igreja e da sociedade contemporánea,... mesmo a
difusáo do aborto, a esterilizagáo, a propagagáo das seitas,
etc. A quem diga que os documentos conciliares falam em
contrario a tais males, Lefébvre responde que a redagáo dos
mesmos foi concebida de modo tal que dissimulasse os erros.
A quem cite as numerosas advertencias do Papa e dos bis-
pos contra os abusos pós-conciliares, Lefébvre os acusa de
se arrependerem tarde demais dos erros que eles conscien
temente disseminaram a máos cheias segundo um plano bem
arquitetado. Por fim, o arcebispo censura a si mesmo por
ter votado a favor de doze dos dezesseis documentos do Con
cilio (p. 95).

A figura de D. Lefébvre é apresentada pelo jornalista


em estilo de panegírico. A sua missáo é descrita como obra
da Providencia Divina (pp. 78.187ss); o arcebispo contesta
tario seria «a consciéncia que sacode a Igreja inteira» (p. 52);
seria «o grao de areia... ñas engrenagens acionadas pelo
Vaticano II» (p. 229). Nao obstante as suas benemerencias,

iA edicao francesa apareceu em Paris com a data de 1977. Será


citada ñas ponderales subseqüentes.

— 419 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

o bispo é hoje condenado por um Papa que está sendo mal


informado (pp. 12.17.217); é atingido por sangóes ilegais,
arbitrarias e nulas em virtude de ter sicio tiei a Missa de
sempre e por ter formado com solidez novos recrutas para o
sacerdocio (pp. 199.221). — Esta apología nao leva em conta
outros motivos, mais profundos e graves, que explicam as
medidas adotadas por Paulo VI!-

O livro «Non» desee a pormenores ainda mais pungen


tes, que revelam paixáo e acirramento: com alirmacóes cate
góricas, interpretando as intengóes alheias, simplificando os
fatos ou mesmo alterando-os, o autor desmerece todos aque
les que nao pensam como ele e concluí ser vítima de urna
conspiragáo satánica; conseqüentemente reafirma estar inaba-
lavelmente decidido a.levar adiante a missáo de que se juiga
incumbido na Igreja.

4. Urna das últimas, se nao a última, das publicagóes de


D. Lefébvre contém o texto da Conferencia proferida em
Roma no comego de 1977: «La Chiesa dopo il Concilio». Al-
bano Laziale, Fraternita San Pió X, 8», 24 pp.

O livrinho repete as habituáis acusagdes destituidas de


seria reflexáo teológica; além do que, manifesta hábil desen
voltura na manipulacáo da historia do Concilio e capacidade
de tudo interpretar segundo preconceitos cegamente adota
dos. Eis alguns espécimens desta atitude:

Segundo Lefébvre, desde os tempos do Papa Joáo XXIII


(11963), os Cardeais fiéis á doutrina de Roma teráo sido
intimados a nao mais fazer intervengóes oráis ou escritas ñas
assembléias do Concilio: «Nao faléis mais, nao repliquéis
mais! Deixai falar as pessoas que vém de fora, do estran-
geiro, ou que vém de longe» (pp. 8s), terá sido a palavra de
ordem. — Ora lanca-sc um repto a D. Lefcbvre para que
prove a veracidade das suas alegagóes neste particular.

Os observadores da Igreja Ortodoxa russa, continua o


prelado francés, teráo comparecido ao Concilio do Vaticano II
tres anos depois da inauguragáo deste, em resposta á garan
tía que lhes fora dada, de que a proposta condenatoria do
comunismo fora retirada dos debates (p. 20).—Também isto
é falso. Os observadores russos estavam presentes ao Conci
lio (sempre na quaiidade de meros observadores ou ouvintes)
desde o primeiro día de estudo do Concilio (12/X/1962), sem

— 420 —
D. LEFÉBVRE: ECOS E ECOS...

que a Santa Sé lhes houvesse concedido qualquer tipo de


tutela ou garantía doutrinária.

D. Lefébvre informa que ñas novas preces litúrgicas da


Eucaristía e dos demais ritos da Igreja se nega a existencia
do pecado original, a do purgatorio, a necessidade de lutar
contra o pecado, a distingáo entre corpo e alma (p. 15).
— Pergunta-se: em que texto litúrgico terá o arcebispo lido
tais aberragóes?

Diz mais o prelado que hoje em dia se pretende subs


tituir o Decálogo pela Declaragáo dos Direitos do Homem
(p. 18). — Quem o pretende?... A Igreja Católica? Prove-o!

5. D. Lefébvre tem confirmado a sua irredutivel ati-


tude... Da parte da Santa Sé, foi convidado a um encontró
com os teólogos Pe. E. Dhanis S. J. e B. Duroux O. P. no
comeco de maio pp. o que em nada redundou. Aos 13/V/77,
numa entrevista á imprensa em Albano (Roma), o arcebispo
asseverava de novo que nao tencionava deter-se em sua
agáo: havia recusado assinar urna declaragáo de que acei-
tava o Concilio e as normas deste; tinha em mente ordenar
ainda outros sacerdotes (nao ordenaría bispos) e celebraría
ainda urna Missa na igreja de Saint-Nicolas-du-Chardonnet
em Paris, ocupada pelos seguidores do arcebispo.

Em julho de 1977, o prelado estava em viagem pela Amé


rica do Sul (Colombia, Chile, Argentina...), tentando obter
a adesáo de alguns bispos tradicionalistas. Mons. Lefébvre
nao quer sagrar novos bispos, pois sabe que, assim proce-
dendo, incorreria em excomunháo no próprio ato ou sem
necessidade de alguma sentenga judiciária; donde se vé que
ele preza ainda a pertenga á Igreja Universal. . . Todavia
nulo foi o resultado de tal viagem, pois o episcopado da
América Latina se manteve coeso diantc do prelado francés.

A tática de argumentar, partidaria e passional, adotada


por D. Lefébvre é também a que seus amigos adotam, como
se poderá depreender de alguns tópicos que abaixo apresen-
taremos.

2. Os apologistas de D. Lefébvre

Citaremos, entre varios, J. Madiran e H. Monteilhet.

— 421 —
JIO «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

2.1. Jeon Madiran : «Itinéraires»

É conhecida a revista integrista francesa «Itinéraires»,


porta-voz do famoso escritor Jean Madiran. Urna edigáo de
«Itinéraires» é especialmente dedicada ao caso Lefébvre: «La
condamnation sauvage» (n* 206 bis de «Itinéraires»), sep-
tembre 1976, 112 pp. Madiran ai publica documentos concer-
nentes a D. Lefébvre, fazendo-os acompanhar de introdugóes
e anotagóes. A linguagem usada é dura: «Condenagáo selva-
gem, abuso de poder, guerra de religiáo» (pp. 1. 74. 6)...
As acusagóes ai se sucedem sem rigor de argumentos ou pro-
vas, como se verá abaixo.

1) Serio motivo de contestagáo é a nova Liturgia Eu-


carística. Madiran afirma que, «sem ler ou lendo sem enten
der, Paulo VI subscreveu á mais formidável transformagáo da
Missa jamáis ocorrida em toda a historia da Igreja» (p. 35).
Mais: Paulo VI «depois disto nada fez, além de urna corregáo
dissimulada, para deter a difusáo» do erro; «nao explicou,
nao ensinou, ficou absolutamente silencioso» (p. 37).

E sobre que bases sao proferidas tais denuncias?

— O art. 7 da Promulgagáo (Institutio) do Novo Missal,


datada de 3 de abril de 1969, professava o seguinte:

"A ceia do Senhor, isto é, a Missa, é a sagrada assembléia ou a


reuniáo do povo de Oeus que se congrega para celebrar, sob a presidencia
do sacerdote, o memorial do Senhor".

Ora Madiran impugnava esta descricáo do que seja a


S. Missa, pelo fato de nao falar do «sacrificio da Cruz ou
do Calvario». A palavra «memorial» lhe parecía ter o signi
ficado meramente psicológico de «comemoracáo».

Ora a propósito deve-se dizer que as duas expressóes


«Ceia do Senhor» e «Memorial da Paixáo do Senhor» tém
sentido bem determinado na teología católica, significando o
sacrificio do Calvario. — Ademáis nao se deve interpretar
urna frase ou urna expressáo isolada do seu contexto; ora na
Apresentacáo do novo Missal falava-se, oito vezes, da Missa
como «sacrificio» (cf. n« 2. 48. 54. 56. 60. 62). — Por último,
a fim de eliminar qualquer dúvida, a edigáo de 1970 apre-
sentou sete retoques significativos, que afirmam com toda a
clareza ser a Missa a perpetuacáo do sacrificio da Cruz, cele-

— 422 —
D. LEFfiBVRE: ECOS E ECOS... 11

brada pelo povo de Deus hierarquicamente ordenado. — Ma-


diran julga que tais retoques foram introduzidos veladamente,
isto é, de forma que nao chamasse a atengáo do público — o
que nao é verdade, pois, além de sete retoques, foi elaborada
para a «Institutio» urna longa Introducto de quatorze pará
grafos.

Madiran nao se deu por satisfeito com tais medidas ado


tadas pela Santa Sé para evitar equívocos de doutrina. Diz
ele que desde 1970 Paulo VI nunca mais se referiu á S. Missa
como sacrificio de Cristo... Pois bem; num exame mais pre
ciso da questáo verifica-se que, de 3 de abril de 1969 (data
da primeira edigáo da «Institutio») até o fim de 1976, a
Santa Sé publicou vinte e seis documentos que falam trinta e
oito vezes da S. Missa como sacrificio de Cristo; no mesmo
período Paulo VI proferiu trinta e nove alocugóes que abor-
dam cinqüenta e duas vezes esse tema!

2) Outro título de acusagóes que Madiran e seus ami


gos levantam, em séquito a D. Lefébvre, é o seguinte:

Os dois visitadores (Mons. Descamps e Mons. Onclin)


enviados a Écóne teriam afirmado que nao existe verdade
imutável,... que pairam dúvidas sobre a maneira tradicional
de explicar a ressurreicáo de Cristo,... que julgavam normal
e fatal a ordenagáo sacerdotal de homens casados...

Ora Mons. Onclin, Secretario da Pontificia Comissáo para


a Revisáo do Código de Direito Canónico, interpelado a res-
peito de tal noticia, escreveu ao Pe. Giovanni Caprile, cola
borador da revista «La Civilta Cattolica»:

"Bem conhecemos as acusacdes formuladas contra nos ou, as vezes.


contra um de nos dois. A tríplice acusacáo constituí urna calúnia pura e
simples, urna mentira. Nunca, durante os nossos encontros, fol abordada a
questáo do casamento dos sacerdotes (que reprovamos) ou a da Imutabili-
dade da verdade ou ainda a da ressurreicáo do Senhor. Esses problemas
nao foram considerados, nem mesmo levantados I Mons. Descamps está
de acordó com estas aflrmacoes" (Carta de 6/1/77; ver "La Civiltá Catto
lica" n? 3050, 16/VII/77, p. 155).

Tem-se realmente a impressáo de que a paixáo obceca


certos partidarios do conservadurismo... A linguagem de
Madiran o manifesta claramente. Entre outras coisas, asse-
gura este apologista: o comunismo é o «braco temporal» do
qual se serve a Curia Romana para empreender essa nova

— 423 —
12 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

«guerra de religiáo»; sao os membros da Curia que «em nome


do Papa... favorecem ou impóem a autodemolicjio da Igreja,
a apostasia imánente» (pp. 6. 13. 35. 84)...

Embora o assunto nao seja de edificacáo, proporemos, a


seguir, algo dos dizeres de outro apologista de D. Lefébvre,
visando com isto táo somente a possibilitar ao leitor mais
fundamentada avaliac.áo do caso.

2.2. H. Monteilhet: «Roma nao em Roma»

Na verdade, H. Monteilhet já nem merecería ser levado


a serio, de tal modo exorbita da sadia critica em seu livro
«Rome n'est plus dans Rome; elle est toute oü je suis» *
(Roma já nao está em Roma; ela está toda onde eu estou).
Como quer que seja, parece útil mostrar a,que ponto pode
levar a obsessáo, salientando alguns tópicos do livro.

O Papa e os bispos «fizeram o máximo para corromper a


moral e os costumes da Igreja tradicional» (p. 53). O Papa
é «hereje» (p. 93), «cismático e escandaloso» (p. 124), «adu
lador viláo» (p. 162), «heresiarca dos heresiarcas» (p. 163),
«sujo, imbécil, incorrigivel» (p. 220); nao resta outra atitude
senáo a de esperar a sua morte (p. 235).

O autor cai, por vezes, em certa contradigáo:

Ataca os pretensos abusos conciliares, mas se declara


favorável ao casamento dos presbíteros (p. 186). Diz que
Pió V se limitou a «propor o seu Missal sem pretender im-
pó-lo» (p. 123) e, depois, ataca Paulo VI recusando-lhe o
direito de reformar o Missal. Louva Paulo VI por suas ati-
tudes frente aos judeus, mas logo insinúa que sejam urna
tática para dissimular sinistras intengóes em relagáo a Israel
(p. 197). Acusa muitos eclesiásticos de serem membros da
Maconaria, mas logo, na falta de provas, afirma que a pre
tensa adesáo a Maconaria pode ser mera tática estratégica
(p. 96)...

Desta maneira, o próprio autor se desprestigia aos olhos


de um leitor atento e apartidado.

Paris, Ed. J.-J. Pauvert, 1977, 258 pp.

— 424 _
D. LEFÉBVRE: ECOS E ECOS... 13

Nao nos deteremos na catalogagáo das numerosas im-


precisóes ou mesmo inverdades que impregnam muitos dos
escritos apologistas de D. Lefébvre. Apenas importa informar
em termos gerais o leitor interessado pela questáo.

Ainda há outro tipo de escritos pró-Lefébvre que convém


mencionar sob o título :

2.3. Mensagens celestes

Urna coletanea de «revelagóes» particulares foi publicada


com o titulo «Nouveaux messages pour le monde transmis
á une ame par Notre Seigneur Jesús Christ áepuis le 23
juillet 1973 jusqu'au ler octobre 1975 á Fribourg (Suisse)».*
Novas mensagens para o mundo transmitidas a urna alma
por Nosso Senhor Jesús Cristo desde 23 de juiho de 1973 até
1« de outubro de 1975 em Friburgo (Suíga).

Este livro repete quanto outros escritos conservadores já


tém afirmado:

O Senhor Jesús teria declarado que o Concilio «foi o


inicio de espantosa degradagáo» (p. 14). O Sínodo dos Bis-
pos de 1974, que tratou da estruüira visivel da Igreja, haverá
sido «urna catástrofe» (p. 20). Pedindo penitencia, oragáo,
amor, confianga, o Senhor Jesús e sua Máe SS. teráo dito:
«Exijo que se conserve a Missa tridentina» (p. 12; cf. pp. 8.
20. 22. 32. 36). Por isto «deveis defendé-la com todas as
vossas forgas e estar prontos a tudo para salvar o santo
sacrificio da Missa» (p. 22).

Constantemente, nessas mensagens Jesús distingue entre


«a minha Igreja» e «a Igreja oficial». A primeira é aquela
que conserva toda a Tradigáo e a Missa tridentina (cf. pp.
10. 24) o que segué «o meu suave arcebispo Marcelo» (p. 35).
Ao contrario, a Igreja oficial é aquela que, afastando-se da
Tradigáo (pp. 16. 48), é constituida «por toda a hierarquia
sujcita ao meu Vigário» (p. 35). Permanecer na verdadeira
Igreja de Cristo implica «total recusa da Igreja oficial...
Estai bem conscientes de que, se aceitáis ficar comigo, com

1A guisa de manuscrito particular, 1? edigáo em outubro de 1975.


Martigny. Ed. Saint Joseph, 56 pp.

— 425 —
14 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 214/1977

a minha SS. Máe, absolutamente nada mais tereis que ver


com a Igreja oficial» (p. 35).

Feita essa distincáo, Jesús prorrompe em ampios elogios


a Paulo VI: é um mártir, digno de ser venerado desde já
como santo. É preciso orar e agir no sentido de libertá-lo
daqueles que o impedem de agir como quisera. Deverá, sem
dúvida, reparar os erros em que caiu por excesso de libera
lismo; todavía o seu coracáo já voltou a Tradicáo (pp. 9. 17.
18. 19. 20. 53). Jesús chega a dizer: «Se vos vos separáis
do meu doce Vigário na térra, Paulo VI, já nao sois da mi
nha Igreja» (p. 41). — Pergunta-se, pois: como conciliar
esta advertencia com os dizeres anteriores e com a recusa
sistemáticamente sustentada por Lefébvre de obedecer ao que
o Papa ordena?

Referindo-se a D. Lefébvre, a mensagem tem outrossim


palavras elogiosas: «Mon doux Archevéque Marcel» (pp. 35.
41. 44. 47). «É preciso também considerá-lo como santo...
Ninguém no mundo inteiro tem a coragem de lutar como
ele, com docura quase angélica! E isto, porque no fundo do
seu coracáo ele conhece muito bem o que vim ensinar há
dois mil anos» (pp. 47s). Os que o rejeitam «nao tém cons-
ciéncia de que de novo me condenaram á cruz! Foi a mim
que lancaram fora» (p. 35). O Senhor venceu o mundo e
debelou Satanás em luta na qual se empenharam a Vir-
gem SS. e todos os anjos «chefiados por S. Miguel»; «este
exército é invisível, mas combate! Vos sois a parte visivel
deste exército, que trava a mesma luta, no mesmo sentido»
(p. 30).

Como se vé, a ingenuidade e a imaginagáo férvida de


pessoas piedosas, mas mal orientadas, forjaram essas «reve-
lagóes». A propósito já foram apresentadas certas observa-
góes em PR 206/1977, pp. 77-90, onde analisamos o livro
«Jesús responde a um padre».

Resta agora acrescentar

3. Reflexoes fináis

O caso de D. Lefébvre e seus seguidores apresenta varias


facetas, das quais talvez urna de inspiracáo política; há, sim,
quem o analise á luz do Movimento «Action Francaise», como

— 426 —
D. LEFÉBVRE: ECOS E ECOS... 15

se fosse um eco tardío do mesmo. Com efeito, no inicio do


século XX surgiu na Franca urna faccáo de extrema direita
que tinha em mira combater o regime republicano e restau
rar a monarquía, seguindo orientagáo ultranacionalista. Os
mentores da Liga eram o positivista Charles Maurras e o
literato Léon Daudet. Numerosos intelectuais e eclesiásticos
simpatizaram com o Movimento. Todavía este foi condenado
por Pió XI em setembro de 1926, dado o seu nacionalismo
acristáo. Alguns bispos e teólogos submeteram-se com difi-
culdade. Somente em 1939, pouco após a eleigáo do Papa
Pío XII os responsáveis pela «Action Frangaise» prestaram a
declaracáo de obediencia á Igreja, que lhes obteve a suspen-
sáo das censuras infligidas anteriormente (julho 1939).

Sem aprofundar o possivel aspecto político do caso «Le-


fébvre», interessa-nos aqui realgar a atitude de D. Marcel e
seus seguidores como posigáo de desapontamento diante de
abusos ocorridos na Igreja Católica em virtude de falsas inter-
pretagóes da mente e dos textos do Concilio do Vaticano II.

Reconhecemos que a rejeigáo dos abusos é necessária.


Mas observamos que, para exercé-la, nao é preciso separar-se
da Igreja oficial; ao contrario, basta estar unido a Paulo VI
e a todos os que adotam, de maneira objetiva e fiel, as dire-
trizes do Concilio. Paulo VI tem sido o intrépido pastor e
mostré que vem condenando toda leviandade e aberragáo,
ocorrente na aplicagáo das normas conciliares,... normas que
sao todas acentuadamente condizentes com a mais pura tra-
digáo da Igreja.

Alguns diráo: mas por que houve Concilio? Nao foi um


mal, dado que tanta desordem se desencadeou em nome do
mesmo?

— Em resposta, notamos que o Concilio veio correspon


der a urna exigencia da vida da Igreja. Era necessário que
esta como tal (em sua amplitude universal) tomasse cons-
ciéncia da realidade dos tempos em que vivemos,... tempos
que langam questóes ou desafios que as antigás normas da
disciplina eclesiástica nao podiam levar em conta. Era pre
ciso que a Igreja encontrasse os meios de dizer e comunicar
valores eternos em linguagem e formas novas, sem trair o
patrimonio da fé, mas também sem deixar de se fazer ouvir.
por qualquer homem ou grupo humano que seja. Ora foi
justamente esta tarefa que o Concilio, em seus tres anos pre-

— 427 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

paratórios e em seus quatro anos de sessóes, procurou con


siderar e esquematizar; o trabalho conciliar foi desempenhado
com todo o zelo e com atencáo constante ao que sempre se
ensinou na Igreja. Os dezesseis textos conciliares, se devida-
mente examinados, o testemunham claramente.

Se após o Concilio houve fatos lamentáveis, estes se


devem nao a urna pretensa inspiragáo haurida dos documen
tos conciliares, mas á fragilidade humana. É compreensível
que esta se tenha externado de tal maneara; a psicologia hu
mana o explica... Em nossos dias, porém, doze anos após
o encerramento do Concilio já se registra um retorno ao bom
senso e ao equilibrio; as pessoas mais avancadas verificam
que os abusos nenhum resultado positivo ocasionaram.

Por conseguinte, nao vale a pena condenar o Concilio, a


Igreja Universal ou o Papa Paulo VI por causa dos fatos
contingentes de que as autoridades oficiáis nao sao culpa
das. A ruptura da unidade é grave pecado contra Deus e os
irmáos; se é empreendida conscientemente, significa orgulho,
autopromogáo, falso zelo... Ademáis observe-se o seguinte:
quando na sociedade dos homens um grupo se separa de
outro em nome de certos valores, poderá talvez viver melhor
tais valores, pois no caso nao entram em jogo senáo elemen
tos humanos. O mesmo nao se dá na Igreja: quem se separa
do tronco ou da Cabega ou do Chefe visivel instituido por
Cristo, nao julgue que vivera bem ou melhor o seu Cristia
nismo. Nao; a Igreja nao é mera soma de valores humanos,
mas é presenga viva de Cristo a prolongar o misterio da En-
carnacáo. Ora, como Cristo só pode ter um corpo, Ele só
pode ter urna Igreja; e quem se afasta dessa única Igreja,
se afasta da vida, da seiva, da verdade e do caminho! Nin-
guém, pois, se iluda, julgando que, separando-se da Igreja
oficial, será mais fiel a Cristo ou mais cristáo. O que o
Senhor pede de todos os cristáos, é que aceitem o misterio
da Encarnacáo até as últimas conseqüéncias e procurem, na
medida em que depende de cada um, abrilhantar a face hu
mana de Cristo e da Igreja!

Os dados apresentados neste artigo se devem ao estudo de Glovanni


Caprlle S. J., publicado na revista "La Clvlltá Cattolica" :

"Mons. Lefébvre tra storla e apología", n? 3048,18/VI/1977, pp. 569-578;

"Gil apologeti di Mons. Lefébvre", rr? 3050, 16/VII/1977, pp. 150-163.

428 —
Situa?áo Inédita:

conseqüéncias canónicas do divorcio


no

Em sinlese: A introducao da Iei do divorcio no Brasil gera situac5es


inéditas em nossa historia. Muitas pessoas perguntam: qual será a situacao
dos católicos divorciados perante o Direito Canónico e a Igreja ?

A resposta, neste artigo, é desenvolvida em termos precipuamente


jurídicos:

Distingamos logo os que praticarem o divorcio táo somente, e os


que, após o divorcio, contrairem novas nupcias civis. Somente estes últimos
vém ao caso.

Ficarao excluidos dos sacramentos da Eucaristía, da Penitencia, da


Crisma e da Ungáo dos Enfermos a menos que déem sinais de arrependi-
mento e de desejo de por termo a sua vida de uniSo Ilegitima (na medida
em que isto Ihes seja possfvel).

NSo poderáo ser padrinhos (madrlnhas) de Batismo ou de Crisma;


todavía nada impede que sejam testemunhas de casamento religioso.

Nao teráo dlrello á sepultura eclesiástica.

Os cursos de preparacSo para o casamento esclarecerá^, com mais


lucidez do que nunca, a dlferenca de efeitos existente entre o casamento
religioso e o civil. Isto, porém, nao quer dizer que já nao se deva aplicar
a Iei 1.110 de 1950, a qual permite a celebracSo do casamento religioso
com efeitos civis; esta Iei valoriza o matrimonio sacramental, o qual nao
sofre detrimento se é celebrado com efeitos civis.

Haverá casos em que o divorcio civil poderá servir para o bem de


fiéis católicos. Tais sao aqueles em que um casamento civil nao é reco-
nhecido pelo Direito Canónico...; é entáo oportuno, se nao necessárlo,
que os interessados dissolvam seu matrimonio civil, para poder contrair
casamento religioso válido dotado de efeitos civis.

Outro artigo de PR proporá reflexSes de Índole mals estritamente pas


toral sobre o assunto.

Comentario: Tém-se colocado com freqüéncia as pergun-


tas: Quais as conseqüéncias religiosas que um católico acar-
retará sobre si desde que se valha da lei do divorcio?...
Conseqüéncias moráis e conseqüéncias canónicas... Quais as

— 429 —
_18 tPERGUNTE E RESPONDEREMOS? 214/1977

medidas pastarais que a Igreja tomará frente á lei do


divorcio?

A situacáo é nova no Brasil... Por isto os• estudiosos


tém procurado analisá-la tanto do ponto de vista ético como
sob o ángulo jurídico e o pastoral. Os nossos bispos promul-
garáo decisóes a respeito. Entrementes, consultado o Direito
Canónico e vista a praxe pastoral da Igreja, podem-se afir
mar com seguranga alguns pontos, que abaixo proporemos,
distinguindo entre 1) conseqüéncias moráis e canónicas decor-
rentes, para um católico, do recurso ao divorcio e 2) medidas
que a Igreja oportunamente poderá tomar ou já está tomando
para ir ao encontró dos fiéis em país divorcista. Antes do
mais, porém, deveremos apresentar algumas distingóes impor
tantes.

1. Tres distingóes preliminares

1.1. Católicos e nao católicos frente ao divorcio

Para toda e qualquer criatura humana, o divorcio ou a


dissolucáo de casamento válido e consumado * é algo de ilí
cito, porque contraria á lei da natureza, independentemente
do sistema filosófico ou do Credo religioso que tal pessoa pro-
fesse. Por conseguinte, o recurso ao divorcio (dissolugáo do
vinculo validamente contraído e consumado) é ilegítimo.

Dito isto, deter-nos-emos neste artigo principalmente so


bre o caso dos católicos que recorrem ao divorcio, procurando
examinar a sua situacáo perante a vida da Igreja. Ocasio
nalmente tocaremos também na situagáo de nao católicos.

1.2. Divordar-se apenas e atentar novo casamento após o


divorcio

Divorciar-se c obter do magistrado civil a sentenga de


dissolugáo do vínculo conjugal, mediante a qual os cónjuges
civilmente deixam de ser marido e mulher; muda-se assim o
seu estado civil e tornam-se aptos a contrair novo matrimo
nio civil.

O desquite permite a separado física e topográfica dos


cónjuges (os quais nao sao obrigados a viver juntos desde

1 Chama-se "consumado" o casamento que se realiza nSo só pelo


contrato jurídico, mas também pela cópula carnal.

— 430 —
CONSEQÜENCIAS CANÓNICAS DO DIVORCIO 19

que haja incompatibilidade mutua), mas ainda respeita o


vinculo conjugal, visto que nao dá direito a novas nupcias
enquanto vive um dos cónjuges desquitados. — Ora a pre-
tensáo de dissolver por completo o vínculo conjugal é con
traria á lei de Deus,... lei que o Direito Canónico reafirma
nos cañones 1.013 § 2, 1.069, 1.110 e 1.118.

Note-se, porém, que urna pessoa divorciada pode levar


vida una, sem nova uniáo marital. Neste caso, nao há de
ser considerada bígama nem concubina. Nao está excluida
dos sacramentos ou da vida da Igreja, desde que se arre-
penda sinceramente da culpa que possa ter no tocante ao
matrimonio fracassado e ao divorcio.

Distingamos ainda entre

1.3. Diversos comportamentos dos cónjuges que se dworciam

As atitudes moráis das pessoas que estáo envolvidas em


processo de divorcio, sao variegadas:

Há quem tome a iniciativa do seu divorcio e o promova


decididamente. Há também quem nao tome a iniciativa, mas
colabore para o divorcio. Há quem permita o seu divorcio
sem tomar iniciativa própria para obté-lo. E há quem se opo-
nha ao seu divorcio.

Quem nao toma iniciativa nem colabora, mas se com-


cónjuges ou ambos), comete pecado grave.

Quem nao toma iniciativa nem. colabora, mas se com


porta passivamente, ou mesmo se opóe ao seu divorcio, nao
comete pecado, pois nao está atentando deliberadamente con
tra a lei de Deus. — Mais: quem se opóe ao seu divorcio
enquanto pode, nao se divorcia, embora resulte divorciado
segundo a lei civil.

Na maioria dos casos, reconhecemo-lo, o divorcio resulta


de acordó entre os consortes, geralmente mediante os respec
tivos advogados; caso urna das duas partes relute ou discorde
do fato, é induzida por advogado a concordar na realizagáo
do divorcio. Pois bem; é precisamente em tais situagóes
que o cónjuge católico tcm a ocasiáo de manifestar a coerén-
cia da sua fé.

— 431 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

Há também casos de adulterio ou prevaricacáo por parte


de um dos cónjuges. O outro, entáo, julgando-se lesado ino
centemente, passa a pleitear o divorcio (o que é raro), mesmo
á revelia do cónjuge prevaricador. — Pois bem; a prevari
cacáo pode ser justo título para desquite (também previsto
pelo Direito Canónico; cf. can. 1128s); todavía nunca é razáo
canónica para o divorcio.

Urna vez propostas estas distingóes, passamos a exami


nar a questáo:

2. Os divorciados e o Direito Canónico

1. Em primeiro lugar, notemos que a legislagáo comum


da Igreja nao atribuí alguma pena ou censura aos católicos
que se divorciem.

Aquí faz-se mister lembrar o seguinte:

É preciso distinguir bem entre o foro jurídico ou legis


lativo e o foro moral ou de consciéncia. O foro jurídico é
externo; considera a conduta visível da pessoa humana e,
quando ré, lhe inflige penas visiveis ou extrínsecas, como a
excomunháo, a suspensáo, o interdito. O foro jurídico, mui-
tas vezes, coincide com a consciéncia moral. Mas nem sem-
pre isto acontece... Pode haver culpas moráis que o Direito
nao pune (o que bem se compreende), como pode haver puni-
góes do Direito que nem sempre corresponden! a culpa moral
do sujeito.

Ora dizemos que o Direito Canónico nao enquadra o


divorcio na categoría dos delitos que estáo sujeitos a pena
de foro extemo ou jurídico. Isto, porém, nao quer dizer que
o divorcio nao seja pecaminoso.

Pode-se mesmo registrar o seguinte: o 3' Concilio Na


cional do Episcopado norte-americano reunido em Baltimore
(U.S.A.) em 1884 promulgou a pena de excomunháo para
todo católico que contraisse novas nupcias. Esta legislagáo
ficou em vigor nos Estados Unidos até os últimos meses ;
acontece, porém, que, de 3 a 5 de maio de 1977, os bispos
norte-americanos, reunidos em assembléia geral em Chicago,
houveram por bem pedir á Santa Sé a extingio dessa sangáo,
que nao tem paralelo na legislagáo eclesiástica própria de

— 432 —
CONSEQÜÉNCIAS CANÓNICAS DO DIVORCIO 21

outros países. É de crer que a Santa Sé concorde com o teor


de tal peticáo. Com efeito, a excomunháo dificulta a agáo
pastoral junto aos divorciados, ocasionando nao raro total
apostasia da fé por parte dos mesmos e graves danos para
os filhos da nova uniáo; estes se criam entáo em clima de
agnosticismo ou de indiferentismo religioso.

2. Consideremos agora o caso estrito do divorciado que


contrai novo casamento civil ou também do cónjuge que, em-
bora contrariado, resultou divorciado e contrai novas nupcias
civis.

Tal pessoa incorre, perante a consciéncia moral e o Di-


reito Canónico, em bigamia e em concubinato adulterino.1

E quais as conseqüéncias jurídicas desta situagáo?

— Nao exporemos todas as que o Direito Canónico prevé,


dado que algumas sao de exigua ou rara aplicacáo concreta
em nossos tempos. Contudo apontaremos as seguintes, decor-
rentes dos principios da Teología Moral e de diversos cánones
do Direito Eclesiástico.

1) O divorciado que viva nova uniáo marital, fica pri


vado da Comunháo Eucarística (cf. canon 855 § 1), enquanto
perdura essa uniáo. — É evidente que, por motivos moráis
ou por viver em situagáo pecaminosa, a mesma pessoa é
excluida também do sacramento da Penitencia, a menos que
se disponha a cessar a vida marital ilegítima. Isto é viável
se o casal nao tem filhos; torna-se difícil, porém, se ao
casal toca a obrigagáo de educar filhos aínda carentes da
assisténcia dos genitores. Em tal caso, tem-se proposto aos
cónjuges ilegítimos continuem, sim, a viver sob o mesmo teto,
mas abstenham-se de uniáo de corpos ou vivam como irmáo
e irmá — o que na realidade nao é fácil. — Em nosso pró
ximo artigo, voltaremos a falar da atitude pastoral da Igreja
para com os cónjuges excluidos dos sacramentos.

1 Verdade é que tais aflrmacñes sao chocantes na sociedade contem


poránea, onde a prática do divorcio ou das unióes ilegitimas é cada vez
mais freqüente. Atenua-se em multos a consciéncia da aberracáo que estas
representan!. Isto, porém, nao impede que a realidade divorcista seja classi-
ficada como deve, sempre que se trate de estudo dos fatos e valores em
causa. Está claro, porém, que é oportuno evitar ofender as pessoas que,
por um motivo qualquer, estejam vlvendo uniáo ¡legitima.

— 433 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS? 214/1977

2) Está claro que aos cónjuges ilegítimos também é


vedado o sacramento da Crisma, pois este supóe o estado de
graca.

Quanto á Ungáo dos Enfermos, também lhes é denegada,


a menos que o enfermo se mostré sinceramente arrependido
de suas faltas e disposto á emenda na medida do seu possível.
Isto..., porque também a Ungáo dos Enfermos é sacramento
que supóe estado de graga, o qual se obtém, sempre que neces-
sário, ou pela penitencia sacramental ou, se nao é possível
confessar-se, pela manifestagáo tácita e suficientemente signi
ficativa de sincero arrependimento.

3) O divorciado que vive novas nupcias, também nao


pode exercer o encargo de padrinho (ou madrinha) nos sacra
mentos do Batismo e da Crisma (cf. can. 765, w> 2; 795,
n» 2). — Nao lhe é vedada, porém, a fungáo de testemunha
de casamento,... testemunha que é impropriamente chamada
«padrinho» ou «madrinha». Excetuados os católicos que estáo
sob excomunháo ou interdito, nenhuma pessoa é excluida da
fungáo de testemunha de casamento, nem mesmo um pagáo.

4) Ao divorciado civilmente casado também nao é lícito


exercer algum ministerio eclesial, como o de diácono (casado),
leitor, acólito, ministro extraordinario da Eucaristía ou da
Palavra, sacristáo, organista. Também nao se lhe permite o
exercicio esporádico de qualquer fungáo na Liturgia sagrada.

5) Note-se ainda:

O divorciado civilmente unido nao pode exercer cargo


algum em Irmandade ou associagáo canónicamente erigida.

Nao pode votar nem ser votado em eleigóes eclesiásticas,


como as de Irmandades, por exemplo.

Nao lhe é permitido exercer a fungáo de administrador


de bens eclesiásticos, como seriam os de urna paróquia ou de
urna escola diocesana.

Caso nao pertenga a alguma associagáo canónica, nao


pode ser admitido em qualquer das mesmas.

6) Tal pessoa nao tem direito a sepultura eclesiástica


(can. 1.240, n* 6), que implica (conforme o can. 1.204): veló-

— 434 —
CONSEQÜfiNCIAS CANÓNICAS DO DIVORCIO 23

rio em igreja, ritos exequiais como encomendacáo do corpo e


acompanhamento do mesmo pelo ministro eclesiástico, tumu-
lagáo em cemitério de igreja, Missa exequial pública, de corpo
presente ou de 3», 7* e 30* dia, de aniversario de óbito...

7) O divorciado que vive em novo casamento civil, ao


ficar viúvo do cónjuge legitimo, está impedido, sob pena de
nulidade, de contrair novas nupcias com a pessoa com quem
passou a viver maritalmente em casamento civil. É o que se
chama impedimento dirimente de crime, estipulado pelo Có
digo de Direito Canónico, can. 1.075, n* 1. Esse impedimento
pode ser dispensado; é necessário, porém, que os cónjuges
desejosos de contrair matrimonio em tais condigóes, pegam
autorizagáo a Curia diocesana.

Mais: o divorciado que, após a morte do cónjuge legí


timo, queira contrair casamento religioso com pessoa com
quem nunca yiveu maritalmente, deve primeiramente pro
curar a Penitencia sacramental e receber a absolvigáo. Caso
o recurso ao sacramento da Reconciliagáo nao seja possível
por grave mptivo, o pároco deve consultar o bispo antes de
proceder á béngáo matrimonial (cf. can. 1.066).

Sao estas as determinagóes que atingem os fiéis católicos


que, urna vez validamente casados na Igreja, dissolvem civil
mente o seu casamento e contraem novas nupcias no foro
civil.

Perguntamo-nos agora:

3. Quais as providencias a tomar?

Enumeraremos as quatro seguintes:

1) Os cursos paroquiais de preparacáo para o casa


mento deveráo merecer ainda maior atengáo, a fim de que
esclaregam devidamente os noivos a respeito do compromisso
que assumiráo entre si e com Deus e que nao coincide exa-
tamente com os termos do compromisso civil. Saibam que a
sua alianga matrimonial será irrevogável, quaisquer que se-
jam as disposigóes legáis do país que favoregam a sua rup
tura. Diante de Deus e da Igreja, enquanto viverem, serio,
um para o outro, marido e mulher.

— 435 —
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

2) No processo de habilitacáo para o casamento, será


necessário que o pároco (ou o sacerdote designado) inter
rogue solícitamente os noivos a respeito das suas disposigóes;
faca-lhes ver a necessidade de se comprometerem a urna
uniáo indissolúvel, vivida na plena fídelidade conjugal. Ver-
dade é que o sacerdote interroga os nubentes a tal propósito
no ato mesmo do casamento; acontece, porém, que naquele
momento o Sim pode tornar-se mera formalidade, que nada
representaría se nao houvesse previa e lúcida instrugáo sobre
o seu sentido e valor.

3) Nao se vé por que renunciar a celebrar casamento


religioso com efeito civil, instituido pela Lei n* 1.110 de 1950.
A razáo alegada por alguns pastores para nao se realizar tal
tipo de celebragáo é a.seguinte: enquanto o casamento reli
gioso é indissolúvel, o civil permite o divorcio. — Ora nao se
deve dar voga a tal sentenga pelos motivos abaixo:

A validade civil do casamento religioso nao afeta a essén-


cia do casamento na Igreja. Paralelamente a anulagáo do
casamento no foro civil nao extingue a realidade do matri
monio religioso. Este será sempre profanado pelo divorcio
seguido de nova uniáo, quer se tenham os cónjuges casado
por ato civil próprio, quer tenham celebrado táo somente o
casamento religioso com efeitos civis.

Ora a celebragáo do casamento religioso com efeitos civis


é, para os fiéis católicos, preferível a celebragáo separada do
ato religioso e do ato civil, pois realga o fato de que na reali
dade só há um matrimonio válido e propriamente dito para
os fiéis batizados: o matrimonio sacramental.

A lei brasileira n« 1.110, de 1950, resulta do teor de duas


Constituigóes do Brasil (a de 1934, art. 143 e a de 1946,
art. 163). Continua em vigor na Constituigáo de 1967 (art.
167 § 2). Nao resulta de Concordata do Brasil com a Santa
Sé, mas brotou da consciéncia religiosa dos legisladores brasi-
leiros; difundiu-se a sua aplicagáo por todo o territorio patrio,
acarretando vantagens para todos os interessados (Igreja, Es
tado, cónjuges, sociedade), pois é precisa e de fácil aplicagáo.
Seria lamentável retrocesso desativá-la ou reduzi-la a letra
morta. — Vale a pena observar, á propósito, que varios paí
ses que tém ou nao tém Concordata com a Santa Sé, reco-
nhecem a celebragáo do casamento religioso com efeitos civis,
embora em quase todos exista o instituto do divorcio. Te-

— 436 —
CONSEQÜfiNCIAS CANÓNICAS DO DIVORCIO 25

nham-se em vista, por exemplo, os casos da Austria (que tem


Concordata com a Santa Sé desde 1934) e da República Do
minicana (Concordata de 1955).

Note-se também que é indispensável fazer que todo e


qualquer casamento válido perante a Igreja seja reconhecido
também como válido pelo foro civil. A Igreja reconhece, sim,
a legítima competencia do Estado sobre os efeitos civis do
matrimonio; cf. cánones 1.016 e 1.961, assim como a Cons-
tituigáo «Gaudium et Spes» ns. 44. 52. 75. Ademáis: o casa
mento religioso nao reconhecido pelas autoridades civis passa
a ser tido como concubinato no foro secular e, por isto, pode
ceder a casamento civil dos cónjuges com terceiros ou de um
dos cónjuges com terceiro. Dai a exigencia, sempre mantida
pela Igreja, de que os cónjuges oficializem no foro civil o
enlace religioso.

É por estas razóes que se torna de todo recomendável


aos Srs. Bispos e sacerdotes continuarem a fazer uso da facul-
dade concedida pela Lei n* 1.110 de 1950. Esta nao só asse-
gura o reconhecimento do casamento religioso no foro civil,
mas fá-lo de maneira que salienta o casamento religioso como
sendo suficiente para os fiéis católicos. — O fato de que o
foro civil permite o divorcio nao diminuí nem altera, em abso
luto, o valor de tal lei.

4) Doravante deixará de existir um caso que era sem


pre embaragoso antes da introdugáo do divorcio no Brasil.
Com efeito, havia entáo católicos que se casavam táo somente
no foro civil e, depois, iam pleitear novo casamento no foro
religioso, dizendo-se sinceramente dispostos a ser fiéis á sua
nova uniáo conjugal. — Ora, nao estando casados perante
Deus e a Igreja, nao havia obstáculo canónico a que rece-
bessem o sacramento do matrimonio como desejavam; toda
vía os Bispos e sacerdotes hesitavam em atendé-los, visto que
isto poderia parecer infringir a lei da indissolubilidade e cau
sar dificuldades frente as autoridades governamentais. Hoje
em dia tal embarago já nao se póe, visto que a dissolugáo do
matrimonio civil, legalmente concedida, habilitará os interes-
sados para novo casamento, desta vez religioso, ao qual se
poderlo atribuir legítimos efeitos civis. Todavia será opor
tuno que nenhum sacerdote aceite abengoar o casamento reli
gioso em tais condigóes sem consultar previamente o Ordina
rio (pastor diocesano) do lugar. Sim; na República Domi
nicana, por exemplo, está em vigor a seguinte norma esta-

— 437 —
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

belecida pela Instrucáo de 2/03/1955 da S. Congregagáo para


os Sacramentos:

"Caso alguém tenha contraído unláo meramente civil, embora obrigado


á forma canónica do casamento, e, depois disso, peca a celebracáo de
casamento canónico com outro(a) consorte, estando ainda vivo(a) o(a)
consorte anterior, o sacerdote nao deverá agir sem recorrer ao Ordinario.
Este, em principio, insistirá em que o casamento seja celebrado entre as
duas partes unidas civilmente. Se isto nao for posslvel ou conveniente, o
Ordinario poderá permitir o casamento com outro(a) consorte, desde que
previamente seja proferida a sentenca de divorcio sobre a uniáo civil exis
tente" ("Acta Apostolicae Sedls" 1955, p. 137).

Faz-se mister considerar ainda outros casos em que o


divorcio poderá ser Oá primeira vista, paradoxalmente) me
dida necessária ao saneamento de certas situagóes sociais.

4. Ovando o mal serve ao bem. . .

Há, sim, casos em que o divorcio civil poderá ser etapa


válida... Sao os quatro seguintes :

4.1. Privilegio paulino

Na sua 1» carta aos Corintios 7,12-16, Sao Paulo consi


dera o caso de dois pagaos unidos matrimonialmente, dos
quais um se converte a fé crista e recebe o Batismo; diz
entáo o Apostólo que, se a comparte paga dai por diante já
nao aceitar viver pacificamente no lar, o fiel batizado tem o
direito de considerar dissolvido o seu matrimonio, valendo-se
assim do que posteriormente se chamou «o privilegio paulino».

Eis os dizeres do Apostólo:

"Se algum irmfio (= cristáo) tem urna esposa que nSo possui a fé
(esposa paga1) e esta consinta em habitar com ele, nao a repudie. E, se
urna esposa tem marido que nio possui a fé, e este consinta em habitar
com ela, nao abandone o seu marido... Se, porém, o que nfio tem fé
se afasta, afaste-se: o IrmSo ou a Irmfi (cristfios) nfio estarSo sujeitos á
servidSo em tal caso; Deus nos chamou para a paz" (1Cor 7,12s.15).

Segundo a interpretacáo que se tornou clássica, estes


dizeres permitem a ruptura do vínculo com a conseqüente
possibilidade de se contrair novo matrimonio, como se deduz
do contexto: nos versículos precedentes (10-11), o Apostólo,
falando da separagáo de esposos cristáos, manda que a mu-

— 438 —
CONSEQÜSNCIAS CANÓNICAS DO DIVORCIO 27

lher separada nao se case de novo K Nos versículos 12-15,


porém, Sao Paulo, admitindo a separacáo, nao acrescenta
restricáo alguma; nao entende, pois, proibir novo casamento,
como o proibiu no caso anterior. Esta interpretagáo parece
confirmada pelas palavras seguintes: «Em tal caso, o irmáo
ou irmá nao estaráo sujeitos á servidáo»; o que, segundo cer-
tos comentadores, quer dizer: Nao estaráo sujeitos ao vín
culo matrimonial que os prendía a um consorte pagáo dis-
seminador de discordia e perigo para a fé no lar.

Como se vé, a aplicagáo do privilegio paulino implicará


em dissolucáo da uniáo contraída pelos dois nubentes quando
aínda nao batizados. Se tal uniáo foi civilmente contraída,
haverá de ser civilmente desfeita pelo divorcio civil.

4.2. Privilegio petrino

O privilegio petrino ou de Pedro é o direito que assiste


ao Sumo Pontífice, sucessor de Pedro, de dispensar os cón-
juges de um matrimonio sacramental validamente contraído,
mas aínda nao consumado.

Segundo o canon 1.118 do Código de Direito Canónico,


que exprime o ensinamento das fontes da Tradigáo crista, o
matrimonio, para gozar de absoluta indissolubilidade, deve
preencher as condigóes de sacramento valido e consumado.
Na falta de urna ou outra destas características, nao há indis
solubilidade absoluta. Donde se segué a possibilidade de que
o Vigário de Cristo dissolva o vínculo de um casamento nao
consumado, desde que urna das compartes, ou ambas, este-
jam sujeitas á jurisdicáo da Igreja.

E em que consiste propriamente a náo-consumagáo?

O matrimonio é dito «náo-consumado» quando nao se


efetuou entre os cónjuges o ato marital. A casuística explí
cita esta proposigáo nos seguintes termos:

Atos conjugáis incompletos nao consumam o matrimonio.


Nem o consumam os atos realizados contrariamente as leis

1 "Aqueles que estáo unidos pelo matrimonio ordeno nao eu, mas o
Senhor, que a mulher nao se separe do seu marido. Se estiver separada,
que permaneca sem casar, ou entio se reconcilie com o marido. Igual
mente, o marido nSo repudie a sua esposa" (1Cor 7,10s).

_ 439 —
28 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

da natureza, como sejam o de onanismo ou o de fecundagáo


artificial. Donde se segué que, ño foro externo e judicial, a
concepgáo de prole nao é sempre argumento peremptório e
decisivo em favor da consumacáo. A cópula praticada sob o
efeito de meios anticoncepcionais basta para a consumagáo
do matrimonio.

Para que o casamento seja tido como consumado, re-


quer-se que a cópula ocorra depois, e nao antes da celebragáo
do casamento.

No Direito eclesiástico, presume-se consumado o matri


monio de cónjuges que, após a celebracáo do casamento, ha-
jam coabitado, a menos que se prove o contrario (cf. canon
n* 1.015 § 2»).

Quanto ao ámbito a que se estende a faculdade ponti


ficia de dissolver o casamento náo-consumado, o canon 1.119
reza o seguinte:

"O matrimonio nao consumado entre cdnjuges batizados ou entre um


cónjuge batizado e outro nao batizado dissolve-se..."

Donde se concluí que é solúvel o matrimonio nao consu


mado:

— entre dois consortes batizados na Igreja Católica;

— entre um consorte batizado no Catolicismo e outro no


protestantismo ou em rito oriental separado de Roma;

— entre dois cónjuges nao batizados que tenham consu


mado seu matrimonio e depois hajam (ambos) recebido o
Batismo. Entáo o matrimonio legítimo (nao sacramental) se
torna sacramental. Caso nao seja consumado após o sacra
mento, torna-se solúvel;

— entre um cónjuge católico e outro nao cristáo;

— entre um cónjuge protestante ou oriental cismático e


um cónjuge nao cristáo, em determinadas circunstancias, a
saber: caso esse protestante ou oriental cismático queira ca-
sar-se com um fiel católico (com a dispensa de «mista reli-
giáo»), poderá e deverá obter a dispensa de seu matrimonio
anterior nao consumado (pois o novo matrimonio se reali
zará com um fiel católico).

— 440 —
CONSEQUSNCIAS CANÓNICAS DO DIVORCIO 29

Como se vé tambétn agui, o divorcio civil será a via


necessária para dissolver civilmente o matrimonio nao con
sumado e, por conseguinte, ainda nao marcado pela nota da
indissolubilidade canónica.

4.3. Matrimonio nao consumado e proftssóo solerte

Na historia da Igreja conta-se que pessoas piedosas e


santas, depois de terem celebrado as suas nupcias e antes de
as consumar, deixaram a respectiva comparte para entrar
num mosteiro ou num convento e lá consagrar-se a Deus.
Tal terá sido o caso de Santa Odita e de Edildrida, rainhas
da Inglaterra. Nao se pode garantir a veracidade das nar
rativas respectivas, nem se sabe se nesses casos se tratava
de nupcias ou de mero noivado contraídos antes da entrada
no convento.

Como quer que seja, o Código de Direito Canónico reco-


nhece, noje em dia, o seguinte: quem, após matrimonio nao
consumado, entre na vida claustral e ai emita profissáo solene
(isto é, determinada forma de profissáo perpetua de vida
consagrada a Deus na virgindade), está pelo Direito mesmo
dispensado do seu casamento, nao tendo que recorrer á Santa
Sé para dispensa do matrimonio.

Tal caso é mais teórico do que prático. Com efeito, para


que alguém emita profissáo solene, deve fazer ao menos um
ano de noviciado previo. Ora ninguém pode entrar num novi
ciado de Ordem ou Congregagáo Religiosa se está ligado por
vínculo matrimonial; ao contrario, para que o faga, deve
obter dispensa da Santa Sé. Esta dispensa deverá levar em
conta o matrimonio nao consumado e, muito provavelmente,
dispensá-Io na maioria dos casos.

A próxima reforma do Direito Canónico reconsiderará


este dispositivo da legislacáo presente, que outrora talvez
tivesse aplicagáo, mas hoje em dia nao mais parece ter signi
ficado.

Como se depreende, também no caso teórico ácima foca


lizado é viável o recurso ao divorcio civil.

— 441 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

4.4. Matrimonio religioso inválido

Existem impedimentos dirimentes para o matrimonio


sacramental, impedimentos em virtude dos quais nao há casa
mento religioso mesmo que a cerimónia se realize com todo
o rigor da Liturgia prescrita.

Há também casamentos livres de qualquer impedimento,


mas contraídos por fiéis católicos sem a devida forma canó
nica (isto é, sem observarem algum ponto essencial do res
pectivo procedimento). Tais casamentos sao inválidos por si
mesmos.

Ora, desde que se descubra, na vida de utn casal, a exis


tencia de algum impedimento dirimente já anterior ao sacra
mento ou também a falta de forma canónica no ato de con-
trair o casamento, duas opcóes sao possíveis:

a) ou os consortes procuraráo ¡mediatamente pedir k


autoridade eclesiástica a remogáo do respectivo óbice (caso
seja possivel), a fim de que possam renovar seu consenti-
mento matrimonial e viver legítimamente a sua uniáo já ini
ciada e feliz;

b) ou, caso nao desejem renovar seu consentimento con


jugal, déem-se por nao casados, como de fato nao estáo. Para
validar este fato no foro externo eclesiástico, pecam a decla-
ragáo de nulidade por parte da Igreja. Será oportuno entáo
que pegam ao magistrado civil a dissolugáo do seu contrato
civil. Bem pode acontecer que o mesmo casamento, invá
lido no foro religioso, tenha sido inválido também no foro
civil. Neste caso, nao haverá divorcio, mas apenas declara-
gáo de nulidade do casamento.

As páginas deste artigo tém caráter predominantemente


jurídico. Nao poderíamos deixar de completá-las mediante
reflexóes de índole mais pastoral e formativa. É o que fare-
mos ñas páginas seguintes.

Na confecgSo deste trabalho valemo-nos do estudo do Pe. Edgar


Franca, presidente do Tribunal Eclesiástico do Rio de Janeiro e eminente
canonista, que escreveu, á guisa de manuscrito, urna anállse do problema
Intitulada "As repercussoes da emenda sobre o divorcio".

— 442 —
Após a promulgado do divorcio:

atitudes pastarais em brasil divorcista

Em símese: Este artigo continua o anterior, apresentando algumas


orlentacoes pastorals a serem assumidas pelos fiéis católicos após a ¡ntro-
ducfio do divorcio no Brasil.

Sao de suma importancia:

1) o estímulo aos divorciados para que nao se afastem totalmente de


Deus, da oracáo e das cerimónias religiosas, embora nao possam receber
os sacramentos. Quem ora sinceramente, pode estar certo de que se
apresta assim a resolver os mals graves problemas ;

2) o apoio e o amparo aos casáis, principalmente aos que estilo


em crlse. Muitos desastres se consumaram por falta de quem Intervlesse
com amlzade sincera no processo de crlse;

3) a educacáo dos adolescentes e jovens para o amor. Distíngam-se,


um do outro, amor e egoísmo; o que por vezes se entende por "amor",
nio passa de egoísmo. A educacáo sexual, que também é importante, pode
vlr a ser deletérfa, caso seja ministrada sem formacáo ética adequada;

4) a preparacio para o casamento em cursos apropriados para noi-


vos, sob a inspíracSo da genuína doutrina católica;

5) o combate á polulcáo moral da socledade, que nao raro é pro


vocada e alimentada pelos melos de comunlcacSo social A presenca de
técnicos católicos nestes melos e o protesto do público contra a porno
grafía crescente tém sido e serao sempre altamente salutares.

Comentario: O divorcio nao é apenas a separagáo de


um casal ou a dissolucáo de um lar, mas é também motivo
de dor para toda a sociedade, seja civil, seja crista. O fato
de que número crescente de casáis é levado á ruptura, tor-
na-se o sinal de que algo nao vai bem na sociedade; há ai
algo de deficiente ou insuficiente, que seria preciso procurar
sanar, a fim de fortalecer as unióes conjugáis e evitar táo
freqüentes dissolugóes.

Se os fiéis católicos condenam o divorcio, háo também


de procurar lutar contra as causas ou ocasióes do mesmo,
de modo a tornar possível a fidelidade dos cónjuges. Esse

— 443 —
32 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

esforgo dos cristáos exige urna agáo coletiva, dado que a agáo
individual nao pode ser eficaz nem duradoura.

Proporemos, pois, abaixo algumas das medidas que pode-


nam ser adotadas com éxito pelo clero e pelos fiéis católicos
leigos como resposta aos desafios da nova situagáo.

1. Após o divorcio : minorar. . .

Embora o divorcio e as novas nupcias após este sejam


sempre um mal, que deve ser apontado quando seja opor
tuno apontá-lo, os fiéis católicos háo de alimentar interesse
pastoral também para com aqueles que se deixaram envolver
por essa situacáo. Nem todos os que se divorciam e con-
traem novas nupcias, sao pessoas insensíveis aos valores reli
giosos, 'á fe e aos sacramentos. Antes, muitos sofrem por
estarem privados da Eucaristía e dos demais cañáis da graga
sacramental. Procuram os sacerdotes e seus outros irmáos
na fé para pedir-lhes um alivio ou urna orientagáo.

Frente a tais pessoas e, de modo geral, em relacáo aos


católicos que, divorciados, vivem em uniáo ilegítima, sao de
bom alvitre as seguintes normas pastorais:

1) Procurem os fiéis católicos evitar que os divorciados


se afastem por completo da fé da Igreja. Tudo fagam para
evitar que se julguem irremediaveimente condenados ou aban
donados .por Deus e, por isto, desistam de orar, de freqüentar
a Missa e os atos do culto (embora lhes fique sempre vedado
o acesso dos sacramentos, se vivem maritalmente). Ao con
trario, exortem os divorciados a que rezem,... rezem indivi
dualmente ou em comum no seu lar e na igreja. Nao deixem
de ir á Missa todos os domingos (sem comungar), certos de
que o Senhor Deus pode resolver as situagóes mais dificéis;
precisamente em vista disto Ele quer servir-se da oragáo dos
homens. Quem ora (por si ou em favor do próximo), já se
coloca na vida da solugáo do seu problema. Daí a impor-
téncia da oragáo na vida dos divorciados.

2) Outro passo a dar: as vezes os divorciados que de


novo se uniram, conseguem abster-se da vida conjugal ou
por motivo de idade ou por frustragáo e decepgáo. Nestes
casos convém mostrar-lhes que há toda vantagem em deixa-
rem de ter relagóes matrimoniáis para que possam satisfazer
á sua sede de Deus; sejam, pois, exortados a que se separem,

— 444 —
ATITUDES PASTORAIS FRENTE AO DIVORCIO 33

dissolvendo a sua convivencia sob o mesmo teto, caso isto


seja possivel. Desde que isto nao seja viável por ainda terem
obrigagóes para com filhos menores, firmem entre si o pacto
de viverem como irmáo e irmá, com separagáo de corpos.
Confiaráo na graga de Deus, que os ajudará a cumprirem tal
programa, que, se nao é sempre fácil, nao deixa de ser pos
sivel e recomendável.

Caso consigam por termo as suas relagóes matrimoniáis


(por separacáo de teto ou de corpos), é-lhes facultado de
novo o acesso aos sacramentos da Penitencia e da Eucaristía.
Estes dons de Deus contribuiráo para fortalecé-los em seus
propósitos, de modo que se poderáo sentir cada vez mais
isentos da tentagáo e dos males da vida passada.

Em nossos tempos, ouvem-se sentengas segundo as quais é


permitido aos católicos que, legitimamente casados na Igreja,
se divorciaram e contraíram nova uniáo, a freqüentagáo da
Comunháo Eucarística. Ora tal opiniáo e a praxe que déla
decorre, sao totalmente ilegitimas; supóem, em última aná-
lise, a dissolubilidade do vínculo legitimamente contraído e
consumado — o que é totalmente contrario ao conceito cató
lico de casamento contido ñas Escrituras do Novo Testamento
e professado pela constante fé da Igreja.

A propósito, a S. Congregacáo para a Doutrina da Fé


enviou aos Srs. Bispos do mundo inteiro a carta que vai
abaixo transcrita:

00193 Roma, 11 de abril de 1973

Piazza del S. Uffizio 11


Prot. rfí 1284-66 e 139-66

Excelentíssimo Senhor,

Esta Sagrada Congregacáo, a cuja responsabilid?de está


confiada a defesa da doutrina da fé e dos costumes em todo
o mundo católico, com vigilante cuidado observa, a difusáo
de novas opinióes que negam ou se empenham para por em
dúvida a doutrina concernente á indissolubilidade do matri
monio constantemente proposta pelo Magisterio da Igreja.

Teís opinióes sao difundidas nao só por escrito em livros


e revistas católicos como também nos Seminarios e Escolas
Católicas, como ainda comecam a se insinuar na mesma praxe
de alguns Tribunais Eclesiásticos em urna ou outra Diocese.

— 445 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

Além disso, tais opinióes sao apresentadas com argumen


tos, juntamente com outras razóes doutrinais ou pastorais,
para justificar os abusos ocorrentes contra a disciplina vigente
na admissáo aos Sacramentos, dos que vivem em uniao
irregular.

Diante disso, este Sagrado Dicastério, na Congregagáo


Plenária de 1972, submeteu tal questáo a exame e determinou,
com a aprovagáo do Sumo Pontífice, exortar insistentemente
V. Excelencia a uma vigilancia diligente para que todos aque
les aos quais está confiada a tarefa do ensino da religiáo
ñas Escolas de qualquer grau como em outras instituicoes,
ou o encargo de Oficial no Tribunal Eclesiástico, permane-
gam fiéis á doutrina da Igreja relativa á indissolubilidade do
matrimonio e a respe i tem na praxe dos Tribunais Eclesiásticos.
No que diz respeito á admissáo aos Sacramentos, queiram
igualmente os Ordinarios do lugar1, de uma parte, urgir a
observancia da disciplina vigente da Igreja, e, de outra, empe-
nhar-se para que os pastores de almas se interessem de modo
especial por aquelas pessoas que vivem em uniao irregular,
usando, na solugáo de tais casos, além dos meios de direito,
a praxe da Igreja relativa ao foro interno.

Comunicando-lhe tais coisas, sou-lhe com toda a reveren


cia o afelgoadíssimo

Francisco, Card. Seper, Prefeito

Jerónimo Hamer, Secretario.

A respeito observe-se que a praxe da Igreja relativa ao


foro interno, ácima mencionada, no caso é a seguinte: po-
dem-se admitir aos sacramentos os fiéis divorciados que, em-
bora vivam sob o mesmo teto (por causa da educagáo dos
filhos), praticam a separagáo de corpos. Visto que este par
ticular de foro interno ou intimo escapa ao conhecimento do
grande público, a Igreja pede a tais pessoas váo receber os
sacramentos em lugar onde nao sejam conhecidas, a fim de
evitar o escándalo ou aparente mau exemplo.

Passemos agora a outro tipo de medidas pastorais:

Blspos ou prelados com |ur¡sdicáo de Bispo.

— 446 —
ATITUDES PASTORAIS FRENTE AO DIVORCIO 35

2. Prevenir.. .

Enumeraremos quatro atitudes:

1) Apoio e amparo aos casáis

Quando se examinam as causas que levaram determi


nado casal á ruptura, pode-se geralmente reconhecer que
houve de inicio o desejo sincero de acertar e de construir um
lar feliz. Todavía sobrevieram dificuldades e os compreensí-
veis problemas da vida conjugal, diante dos quais os esposos
se sentiram desamparados e surpresos; nao contavam com
isso, de modo que nao souberam ou nao puderam reagir de
maneira adequada. Se tivesse podido contar com o apoio de
amigos, o casal haveria superado a provagáo, saindo-se da
mesma mais forte e enriquecido interiormente. Pode-se dizer
que a contínuidade e a felicidade de um casal depende, mui-
tas vezes, do círculo de parentes e amigos; em nao poucos
casos de naufragio, pouco teria faltado para evitar o desas
tre. Nao basta recolher os que jazem feridos na estrada; é
preciso também procurar estabelecer as condigóes que tor-
nam os acidentes contornáveis ou evitáveis.

É, pois, benemérito o esforco das pessoas que se dedieam


aos casáis em crise, procurando ajudá-los ñas dificuldades;
este auxilio consiste em diálogo com os cónjuges aflitos,
visando a fazé-los olhar com distancia para o problema e a
despertar-lhes a consciéncia de que o desastre nao é inevi-
tável, mas, ao contrario, é possível um novo recomego, talvez
ainda mais maduro e promissor do que o primeiro.

2) Edúcamelo para o amor

Desde a infancia vai-se formando o adulto com seus pre


dicados e aptidóes; é desde entáo que se prepara a felicidade
de um homem, de urna mulher, de um casal... Isto se faz
se o educador sabe suscitar em seus pupilos o amor aos bons
costumes, de modo que estes sejam cultivados nao como dever,
nem como simples conveniencia social ou pragmática, mas
como valores que merecem estima incondicional. Incuta-se
nos adolescentes e nos jovens o genuino concertó de amor,
que se distingue de egoísmo ou de procura do prazer e que
na realidade é «querer construir o outro», e nao «querer o

— 447 —
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

outro construido». Assim o (a) jovem se disporá a considerar


o casamento nao como um romance ou urna aventura, mas
como o cumprimento de urna missáo, que é gratificante pre
cisamente pelo fato de ser exigente e desinstaladora.

Tem-se falado muito de educagáo sexual nos últimos


anos... Esta é necessária, pois a relagáo sexual também é
urna linguagem que permite ao casal exprimir o seu amor e
comunicar-se. Todavía é preciso evitar as ilus5es e deturpa-
cóes. Urna informagáo sobre a realidade sexual dissociada
de formacáo ou de transmissáo de principios corre o risco
de preparar apenas «consumidores do sexo». Tal informagáo
nao bastaría para facilitar aos esposos a abertura do cora-
cáo e um relacionamento auténticamente humano. A arte de
amar é mais ampia do que o uso do sexo: supóe educagáo
do coragáo, maturidade afetiva, abertura ao outro tal como
ele é, capacidade de ouvir e de dialogar. Ora tais valores
sao aprendidos ou conqistados paulatinamente. É preciso,
pois, que desde a adolescencia (se nao desde a infancia) as
pessoas sejam despertadas para os mesmos. Dizia muito sabia
mente Saint-Exupéry: «Amar nao consiste em olhar um para
o outro, mas em olharem juntos na mesma direcao. Nao exis-
tem verdadeiros colegas senáo a partir do momento em que
se unem pela mesma corda em direcáo ao mesmo cume, onde
se encontram».

Esse «olhar na mesma diregáo» ou «em demanda do


mesmo cume» insinúa que todo auténtico amor, em última
análise, se dirige para Deus; nenhuma criatura é suficiente
para outra criatura; só Deus é a resposta cabal para o cora
gáo humano, de modo que através do amor conjugal os espo
sos se auxiliam mutuamente a chegar ao Bem Infinito ou a
Deus; esta trajetória nao pode deixar de ser inerente á pró-
pria vida conjugal.

3) Preparacóo próxima para o casamento

É estranho que todos se preocupem com a aprendizagem


necessária ao exercicio das tarefas técnicas ou profissionais e
que poucos cuidem de se preparar para a mais humana das
tarefas, que é a de ser cónjuge e pai (ou máe).

Para atender a tal carencia, existem cursos de prepara-


gáo para o casamento, principalmente ñas paróquias. Sao

— 448 —
ATITUDES PASTORAIS FRENTE AO DIVORCIO 37

oportunos e altamente recomendáveis, desde que bem orien


tados. Esclarecem os noivos no tocante á biología, á psico
logía, ao direito, á Religiáo... a fim de que entrem na vida
conjugal táo conscientes das suas tarefas quanto possivel.
Todavía nao consütuem seguro absoluto contra os desafios
que a vida de cada día acarreta aos esposos; o seu objetivo
é suscitar nos jovens o desejo e as condigóes necessárias ao
exercício de auténtico diálogo entre eles. Como quer que seja,
é para desejar que se multipliquen! tais cursos e sejam minis
trados por mestres idóneos, imbuidos dos principios da autén
tica moral conjugal.

4) Os meios de comunicajáo social

Se há grande número de casáis desajustados, isto se deve,


em grande parte, também ao ambiente em que vivem e ás
sugestóes que este propóe. Ora na formacáo do ambiente
social tem enorme influencia os meios de comunicagáo social:
a imprensa escrita (jomáis, revistas...), a televisáo, o radio,
o cinema... apresentam diariamente ao público nao somente
informagóes, mas também julgamentos de valor referentes ao
casamento, ao amor, á familia, á sexualidade, á limitacáo da
prole, ao aborto, ao divorcio... Os anuncios publicitarios de
sabonetes, roupas, cigarros... exploram figuras obscenas de
maneira sempre mais insinuante...

Ora diante dessa «escola» popular e subliminar, que sao


os meios de comunicagáo social, os fiéis católicos tém obri-
gagáo de tomar posigáo na medida do seu possivel. Déem a
saber aos responsáveis por tais meios que ao menos urna
parte respeitável do público nao aceita a exploragáo do sen
sualismo e da obscenidade; o envió de cartas de protesto aos
respectivos programadores e produtores tem surtido efeito, e
continuará a surti-lo, se for numéricamente expressivo. É,
pois, também desta forma que aos cidadáos cristáos compete
atuar frente á onda de permissividade que a introdujo do
divorcio está para acarretar ao Brasil.

Apresentando estas ponderacóes, nao tencionamos esgo-


tar o assunto, mas dar margem 'á reflexáo dos leitores sobre
os problemas pastorais suscitados pela prática do divorcio no
Brasil e despertar o zelo dos fiéis católicos pelo atendimento
á nova situagáo. Os Srs. Bispos já se pronunciaram e conti-
nuaráo a se manifestar sobre táo grave questáo.

— 449 —
Questáo delicada:

vasectomia e casamento

O público foi surpreendido em agosto pp., quando os jor-


nais divulgaram a noticia segundo a qual «a Igreja aceita os
homens que escolheram a esterilidade», permitindo-lhe o
casamento até mesmo após operaclo de vasectomia. Cf.
«Jornal do Brasil» de 9/08/1977, Cad. B, p. 10.

Eis o teor da noticia publicada em «O Globo» aos 3/08/77:

"Cidade do Vaticano (O Globo) — O Vaticano anunciou


ontem que os homens que se submeteram a operacóes de
vasectomia para se tornarem esteréis, poderáo casar-se na
Igreja, introduzindo assim urna importante mudanca na legis-
lagáo relativa ao matrimonio. A decisáo foi tomada pela Con-
gregacáo para a Doutrina da Fé no último dia 13 de maio,
mas só foi divulgada ontem.

Fontes da Santa Sé ¡nformaram que a nova posigáo da


Igreja Católica contraria decisóes tomadas anteriormente pelo
Tribunal Pontificio, que anulou casamentes quando o homem
era estéril. O novo decreto, no entanto, está de acordó com
a filosofia da Igreja sobre a impotencia masculina, razáo con
siderada suficiente para a anulacao -de um casamento.

As mesmas fontes destacaram, por outro lado, que, apesar


de permitir o casamento, a Igreja continua contraria a esteri-
lizagáo deliberada, de acordó com um decreto emitido há
oito meses pela Congregacáo para a Doutrina da Fé".

Apesar da observacáo final da noticia, nao poucos Ieitores


julgaram que doravante a própria vasectomia e as interven-
Cóes cirúrgicas esterilizadoras seráo reconhecidas como legí
timas, ao contrario do que proclamavam' a clássica praxe da
Igreja e os ditames da Moral católica.

É o que torna oportuno esclarecer o assunto mediante as


seguintes ponderacóes :

— 450 —
VASECTOMIA E CASAMENTO 39

1) Antes do mais, é certo que a Igreja nao reconhece a


legitímidade da vasectomia ou de qualquer intervengáo cirúr-
gica que tencione diretamente esterilizar urna pessoa. Isto
ficou bem claro quando o Governo de Indira Gandhi adotou
essa tática; entáo os bispos da India levantaram a voz em
protesto contra tal prática. Aínda recentemente a Santa Sé
publicou urna Declaragáo contra as intervengóes esterilizantes
que vém sendo praticadas com freqüéncia crescente em hos-
pitais dos Estados Unidos. Cf. PR 211/1977, pp. 292-302.

2) Acontece, porém, que aos homens tornados esteréis


por vasectomia ou por alguma molestia1 era, até pouco tempo
atrás, denegada a possibilidade de casamento religioso. Caso
viessem a se casar, o matrimonio era declarado nulo. Todavía
á mulher da qual fora extraído o útero (por motivo de doenga
ou outro), o Direito Canónico nao proibia o matrimonio reli
gioso. Havia, pois, disparidade de condigóes entre o homem
e a mulher nesse particular, sendo o homem privado de um
direito que nao era recusado á mulher.

3) Em vista disto, a Santa Sé resolveu extinguir a proi-


bigáo de casamento religioso dos homens tornados esteréis,
baseando-se no principio (já defendido por canonistas antigos)
de que a potencia necessária para contrair matrimonio é a
potencia da cópula (potentia cocundi). Ora esta fica tanto no
homem como na mulher que sejam esteréis. Eis por que a
Igreja houve por bem declarar legítimo o casamento de homens
tornados esteréis.

É oportuno frisar bem que esterilidade nao é a mesma


coisa que impotencia. Esta consiste na incapacidade de praticar
o ato sexual e constituí impedimento dirimente do matrimonio
religioso, ao passo que a esterilidade diz respeito apenas aos
resultados ou aos efeitos da cópula praticada. Pode haver
potencia de cópula normal (potentia ooeundi) sem que haja
fecundidade generativa (potentia generandi) ou sem que haja
capacidade de emitir verum semen, verdadeira sementé vital
humana.

iA cachumba, por exemplo, pode produzir InflamacSoo dos vasos


deferentes do semen vital masculino; as paredes dos cañáis inflamados ade-
rem entáo urnas as outras de manelra Irreverstvel, tornando o sujelto estéril.
Algo de semelhante acontece em pessoas acometidas de gonorréia ou ble
norragia. Todos os homens asslm atetados flcavam até época recente Ina-
bilitados para o casamento religioso por todo o resto da sua vida.

— 451 —
40 ■tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

4) Quanto as causas que tornam o homem estéril, caso


sejam condenadas pela ética crista, ficam sendo ilícitas (a
vasectomia praticada no intuito de esterilizar é sempre imo
ral). A nova legislacáo da Igreja abstrai das causas da este-
rilidade, sobre as quais nao há alteragáo de juízo, e consi
dera apenas a pessoa estéril, procurando assim dar o mesmo
tratamento ao homem e á mulher neste particular.

5) A guisa de complemento e a fim de possibilitar ao


leitor ainda melhor compreensáo da questáo, publicamos
abaixo a traducáo brasileira do Decreto da S. Congregacáo
para a Doutrina da Fé, sobre o qual se baseia a noticia dos
nossos jomáis:

SAGRADA CONGREGADO PARA A DOUTRINA DA FÉ

DECRETO

A RESPEITO DA IMPOTENCIA QUE TORNA NULO O MATRIMONIO

"A Sagrada Congregacáo para a Doutrina da Fé sempre sustentou que


nSo se devem Impedir de casar-se os homens que tenham sofrldo a vasecto
mia assim como outros homens postos em semelhantes condlcSes, visto
que em tais casos n§o consta, com certeza, sejam Impotentes.

Ora, tendo em vista tal praxe e após prolongados estudos realizados


por esta S. CongregacSo assim como pela Comlssao de Reforma do Dlrelto
Canónico, os Emlnentísslmos e Reverendísimos Padres desta Congregacao,
na sessao ptenárla de quarta-felra 11 de malo de 1977, houveram por bem
responder ás segulntes dúvfdas que Ihes foram propostas:

1) A impotencia que torna nula o matrimonio, consiste na Incapaci-


dade (absoluta ou relativa) de realizar a cópula con]ugal, incapacldade
anterior ao casamento e perpetua ?
2) Em caso afirmativo, pergunta-se: para que naja cópula conjugal
requer-se necessarlamente a ejaculacüo de sfimen elaborado nos testículos?
A prlmelra dúvida, a resposta é afirmativa. A segunda, é negativa.

E na audiencia de sexta-feira 13 dos mesmos mes e ano o Sumo


Pontífice por Divina Providencia, Paulo VI, tendo recebldo o Prefelto desta
S. Congregagio abalxo-assinado, aprovou o presente decreto e mandou
publlcá-lo.
Dado em Roma, na sede da S. Congregaclo para a Doutrina da Fé,
aos 13 de malo de 1977.
Francisco Cardeal Seper, Prefeito
Jerónimo Hamer O.P., Secretario"

Como se vé, o texto do Decreto de Roma é muito mais


simples e sobrio do que as noticias da nossa imprensa.
Estéváo Bettencourt O.S.B.

— 452 —
livros em estante
A criado n§o é iim mito, por Domenico Ravallco. Traducao de Hono
rio Dalbosco; revisao de Darci Helena Pires. — Ed. Paulinas, Sao Paulo
1977, 125 x 185 mm, 230 pp.

Na capa de frente do livro ácima, o titulo respectivo é inserido na


seguinte frase-: "Importantes descobertas da ciencia no mundo dos seres
vivos nos demonstram hoje, como jamáis no passado, que A criacao nao
é um mito".

O autor percorre a estrutura somática dos seres vivos, anallsando-a


do ponto de vista físico, químico e biológico, a fim de evidenciar ao leitor
a grandeza vertiginosa dos seres vivos microscópicos. Sem dúvida, o
exame dos tecidos vitáis atesta a realidade de urna Inteligencia Suprema
que concebeu t§o estupendos artefatos e, por seu poder, Ihes deu a exis
tencia. Daí dizer-se, com razao, que a nocao de criacao nao é um mito,
mas é a expressáo da verdade documentada pela própria natureza. Assim
mais urna vez se verifica que, se a ciencia moderna é para certos estudiosos
o pretexto para abandonarem a Deus, para outros é, ao contrario, a con-
firmagSo das verdades da fé. Só se afastam da rellgiáo os que nao pro-
curam a sintese entre fé e ciencia ou que levianamente tém por ultrapas-
sada a possibllldade do Transcendental; é, sim, a pouca ciencia que afasta
de Deus, ao passo que a multa ciencia (ou simplesmente a ciencia genul-
namente cultivada) leva a Deus.

Eis um espécimen do teor do livro em foco:

"Dfz-nos a ciencia que o corpo humano adulto se compóe de um


conjunto ordenado de 60 trilhSes de células vivas... Que é urna dessas
células, urna só ?

... é Inteiramente semelhante a urna prodigiosa fábrica ultramoderna,


Imaginável, nao, porém, projetável, Intetramente automatizada, portante em
condicSes de funcionar sem nenhuma Intervencao exterior e, além disso,
capaz de controlar toda a própria atlvldade, ou se]a, dirigir-se. Seu diá
metro ó de apenas um centesimo de milímetro em media, e nao obstante
possui numerosas máquinas, mullos dispositivos, seccdes de producáo, ca-
deias de montagem e centráis energéticas.

N5o é tudo. Essa fábrica tao fabulosamente complicada nao poderla


funcionar nem existir, nao seria sequer tmaglnávet sem um centro dlretor,
capaz de coordenar toda a alivtdade e de fornecer todas as Indlcacoes
necessárias. A célula possuf, portante, o próprio centro diretor no seu
núcleo. Esse centro está chelo de computadores adequadamente programa
dos. A programacáo ó gravada em fitas apropriadas. É o que também se
verifica em nossas fábricas, nossos bancos, nossos laboratorios científicos.
Os computadores alcan$aram hoje a fase adulta, podem guiar urna sonda
espacial ou dirigir urna siderúrgica.

é um "mllagre", urna vlsáo na qual o olho se perde atónito e a alma


experimenta o tremor da comocáo. É a Criacáo que surge em toda a sua
majestade no horizonte da consciSncia humana" (pp. 7-9).

— 453 —
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

A leitura da obra aprésenla novas e novas reflexóes do teor desta,


contríbuindo repetidamente para mostrar ao leitor a sabia grandeza da
obra do Criador e corroborar-lhe a fé no Senhor Deus. Eis por que se
recomenda vivamente o livro em foco, máxime a estudiosos de exigencias
¡nfe/ectuals e científicas.

O terceiro mundo e a terceira Igreja, por Walbert Bühlmann. Traducáo


de Luiz JoSo Gaio. — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1976, 145 x 220 mm, 421 pp.

O livro comeca por urna análise da situagáo sócio-económlco-política,


assim como do quadro reliigoso, dos paises que constituem o chamado
"Terceiro Mundo" : parte da Asia, a África, a América Latina; é o mundo
em desenvolvimento. Grande parte dos povos que o Integram, emancipa-
ram-se do colonialismo, mas nao conseguiram equilibrio interno, sendo
mesmo vitlmas das conseqüéncias da próprla emancipagáo. Bühlmann firma
suas observacóes com dados numéricos e estatisticas de grande importancia;
conhece multo bem a historia civil e religiosa dos povos que menciona,
referlndo panoramas que muito ajudam a compreender a situacáo descrita.
A seguir, o autor mostra que a Igreja Católica ou, ao menos, o Cristia
nismo (cristáos em ecumenlsmo) seria a resposta para as asplragóes dos
jovens povos. Há muito, vém sendo evangelizados e oferecem cada vez
mais á Igreja um ampio e receptivo campo de ag§o.

Postas estas afirmagSes, Bühlmann prop5e urna nova visSo de velhos


problemas. Julga que, para conseguir realizar a sua missSo entre os povos
do Terceiro Mundo, a Igreja ainda tem que se adaptar amplamente fts
condigoes do mesmo; as formas de cultura de cada regiáo deveriam ser
levadas em fiel considerado; Roma deverla abrir mSo de grande parte da
sua funcáo centralizadora, delxando mals autonomía á Conferencia Episcopal
de cada continente, de mais a mais que Roma já nao é o centro do mundo
como o fol até época recente; em nossos días, o centro da civilizagio e
a hegemonía do mundo tendem a se deslocar para as térras do Océano
Pacifico, ficando ao Japáo, á China, á Indonesia, ás Filipinas, á Australia
e ao Ocidente da América do Norte a responsabilidade pelas sortes futuras
da humanidade (cf. pp. 99s). Bühlmann considera aínda as escolas, os
meios de comunlcagáo social, os problemas predlais e financelros... que
a Igreja deve enfrentar nos países do Terceiro Mundo, preconizando revisSo
de atitudes e disciplina por parte das Instltuicóes eclesiásticas, a fim de
que a Igreja possa realmente corresponder as expectativas humanas e
religiosas de tais povos.

Que dizer a propósito ?

Por todo o teor do livro, transparece amor do autor á Igreja; ó, a


quanto parece, um católico de convicgSo e erudlsSo. Aprésente perspecti
vas de conjunto e dados históricos que nao se encontram fácilmente na
bibliografía congénere brasllelra. Atém-se ao campo teológico e pastoral,
sem se delxar mover por Ideologías políticas. Apregoa medidas concretas
que devem fomentar a evangelizacSo e a catequese dos povos do Tereelro
Mundo... Estes tragos tornam a leitura multo interessante e Instrutiva.
Todavía o estilo do escritor é, por vezes, demasiado pungente; as criticas,
um tanto exageradas (pouco adequadas, por exemplo, sño as observagóes
referentes á absolvIgSo geral, p. 195). O problema da aculturagSo e da
unldade da Igreja, como se sabe, já foi abordado, pelo Sínodo Mundial dos

— 454 —
LIVROS EM ESTANTE 43

Bispos em 1974, evidenclando-se entSo a necessldade de cautela para evitar


distanciamento entre os povos católicos.

Em suma, Bühlmann propóe rellexdes que, sem dúvida, merecem


toda a atencáo dos estudiosos; contudo nao sejam tomadas como a última
palavra no género, mas, sim, como estimulo a serla reflexSo sobre os
desafíos que a Igreja enfrenta no Terceiro Mundo, dentro do qual Ihe
pode tocar grandiosa missáo.

Llbertacáo-Páscoa. Roteiro Catequéllco, pela Equipe Diocesana de


Catequese de Santo Angelo (RS). — Ed. Vozes, Petrópolis 1977, nove fas
cículos de 200 x 280 mm, 110/135' pp. cada qual.

Trata-se de um Roteiro Catequético para as escolas do 19 grau, da


1? á 8? serie, sendo que a 3? serie tem, além do livro do aluno, o fivro
do professor.

Por certo, nao é fácil elaborar urna obra de tal género, pois requer
nao somonte conhecimentos de teologia, mas também os da psicopedagogia
e da didática moderna. A leitura atenta de "Llbertacáo-Páscoa" sugere as
seguintes ponderacSes:

1. Nao há dúvida, o Roteiro foi objeto de cuidado e carinho por


parte dos autores. A apresentacao gráfica, o método didático, a variedade
de textos citados e de cancdes apostas tornam a obra agradável aos usua
rios e apta a facilitar a transmissáo do conteúdo.

2. Sobre o conteúdo, porém, ocorre dizer:

2.1. É relativamente tenue do ponto de vista teológico. Os temas


mais freqüentemente abordados sao amor e sacramentos. Sobre Deus em
si e sua vida trinitaria, pouca coisa se encontra. A pessoa e a doutrina de
Jesús Cristo, como se acham nos Evangelhos, poderiam ser considerados
mais detida e minuciosamente. Quase nada af se lé sobre os capítulos ini
ciáis do Génesis e, em especial, sobre o pecado dos primeiros pais e a
sua transmissáo (cf. fascículo n? 4, p. 42). Nada sobre os novíssimos (céu,
inferno, purgatorio, jufzo final...) ...Nada sobre os anjos bons e maus...
No comentario sobre o terceiro mandamento da Leí de Deus, nao há mencáo
direta do preceito da Missa dominical {cf. fascículo n<? 4, pp. 59-62). A
expllcacio do sexto mandamento é demasiado genérica, nSo tocando em
pontos concretos indispensávels á formacSo dos jovens (cf. ib. pp. 73-75).
Na falta dos fascículos 1 e 2 (esgotados), nlo se pode dizer se o plano
geral da obra ó proposto no fascículo n? 1; contudo tal plano nao aparece
a quem examina o conteúdo dos fascículos subseqüentes : qual seria a
ordem de concatenacao dos temas sucessivos? Há repeticdes e hipertrofia
de certos temas, com detrimento de outros, que serlam importantes.

2.2. A preocupacSo com a Insercao das verdades religiosas na


realidade de hoje é válida. Todavía leva por vezes os autores a dar relevo
excesslvo a tópicos laterais, como Radio, TV, cinema, música, divertimen-
tos, esportes (cf. fascículo n? 5).

2.3. A questao social (injusticas, fome, guerras...) volta constante


mente á baila. Entende-se que, com isto, os autores intencionaran) despertar

— 455 —
44 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 214/1977

a consciencia dos alunos, preparando-os a ser construtores de urna socie-


dade conforme ás normas do Evangelho. Todavía esta IntengSo é dema
siado enfatlzada, e nem sempre expressa em terminología adequada ou
isenta de ambigüldades. Por exemplo, no fascículo n"? 8 tenham-se em vista
os formularlos do Credo ás pp. 36 e 1113. o diálogo com Cristo á p. 82...
Ora é certo que a acSo do crisISo na política só poderá ser genulnamente
evangélica se este receber sólida formacfio religiosa.

Em suma, os fascículos "Libertacáo-Páscoa" sSo menos unilaterais do


que outros publicados na década de 1960. Contudo, parecem-nos insuficien
tes como manual de formacao crista, visto que nao realcam adequadamente
algumas das grandes verdades da fé crista. Sem dúvida, cada mestre, ao
aplicar o Roteiro Catequétlco em sala de aula, pode dar á sua llcáo o
conteúdo complementar que ¡ulgue oportuno. NSo se vé, porém, por que
essa complementacáo nSo figura no próprio texto que o aluno tem em
maos para sua leitura e seu estudo.

A alegría pelo Evangelho, por Marcelle Auclalr. — Ed. Agir, Rio de


Janeiro 1977, 138 x 210 mm, 154 pp.

Marcelle Auctair é escritora francesa que sabe exprimir com encanto


as verdades da fé. Foi o que o público pdde apreciar em tres de suas obras
já traduzldas para o portugués: urna biografía de S. Teresa de Ávila e
dois escritos para a Juventude. O presente livro pretende despertar no leitor
um conhecimento mais profundo e vivido do Evangelho: "Se os cristaos
tomassem o Evangelho ao pé da letra como oitocentos mlinóes de chineses
tomam o livrinho vermelho de Mao-Tse-tung, acontecerlam coisas multo
interessantes neste planeta..." (p. 11).

M. Auclair nao se preocupa com minucias da InterpretagSo científica


do texto bíblico, mas procura em capítulos seletos do Evangelho o alimento
para a vida espiritual de crlstSos e... nao cristaos (como a própria aurora
o diz). Os seus comentarios servirao vantajosamente á meditagio tanto
Individual como comunitaria.

A Rellgláo do Povo, por diversos autores. Cadernos do "Studium


Theologicum" de Curítiba agregado á Universldade Católica do Paraná.
Caderno rfí 5, 1976, 138 x 210 mm, 150 pp.

Este livro contém os trabalhos elaborados para a reflexSo da I Semana


de Teología do Estudantado Teológico dos Padres Claretianos de Curltlba.
Versa sobre tema que tem sido ricamente estudado nos últimos tempos,
pols os agentes de Pastoral procuram mais e mals conhecer a alma reli
giosa do povo brasilelro, ao qual Cristo! Ihes Incumbiu a tarefa de comunicar
a Boa-Nova: candura, exuberancia, credulidade fácil, preconceitos, fol-
clore... sao elementos marcantes dessa religiosldade... A presente cole-
tánea conta com a colaboracio de renomados mestres, como o sociólogo
Pedro A Rlbeiro de Oilvelra, da PUC-RJ, o tólogo Pe. Alberto Antonlazzl,
de Belo Horizonte, o blblista Pe. Joaqulm Salvador, de Sao Paulo... O
livro nBo tenclona propor conclusSes, mas, slm, as teses dos diversos con
ferencistas, que se mostram ricas em dados de valor para o estudo ulterior
e a prática pastoral. — Pedidos ao "Studium Theologicum" de Curltlba,
Av. Pres. Getúlio Vargas, 1193, Calxa postal 153 — 80000 Curitiba (PR).

E. B.

— 456 —
CONDUZE-ME, Ó SUAVE LUZ !

CONDUZE-ME, O SUAVE IUZ


ATRAVÉS DAS TREVAS QUE ME CERCAM,
CONDUZE-ME TU SEMPRE MAIS ADIANTE !
A NOITE É RETINTA
E ESTOU LONGE DA CASA.
CONDUZE-ME TU SEMPRE MAIS ADIANTE :
GUARDA MEUS PASSOS; NAO ROGO VER DESDE JA
O QUE DIZEM QUE LA SE VÉ ;
UM PASSO DE CADA VEZ JA É SUFICIENTE PARA MIM.

NAO FUI SEMPRE ASSIM.


NEM SEMPRE PEDÍ
QUE ME GUIASSES SEMPRE MAIS ADIANTE.
EU GOSTAVA DE ESCOIHER E DE OBSERVAR A MINHA TRILHA.
AGORA, POREM : CONDUZE-ME TU SEMPRE MAIS ADIANTE.
EU GOSTAVA DOS DÍAS DE GLORIA, E, APESAR DOS RECEIOS,
O ORGULHO REGIA A MINHA VONTADE.
O ! NAO MAIS TE RÉCORDES DOS ANOS QUE SE FORAM !

POR MUITO TEMPO O TEU PODER ME ABENCOOU.


POR CERTO ELE SABERA AÍNDA LEVAR-ME SEMPRE MAIS ADIANTE
ATRAVES DA LAMA E DO PANTANO,
POR SOBRE A ROCHA ESCARPADA E O FLUXO DA TORRENTE,
ATÉ QUE A NOITE PASSE
E DE MANHÁ SORRIAM AS FACES DOS ANJOS
DE QUE EU GOSTAVA OUTRORA
E QUE PERDÍ DE VISTA POR ALGUM TEMPO.

CONDUZE-ME, O SUAVE LUZ,

CONDUZE-ME TU SEMPRE MAIS ADIANTE

John Cardeal Newnan

POR FAVOR, AMIGO LEITOR, NAO ESQUECA : O ENDERECO DA


ADMINISTRACAO DE PR JÁ NAO É O DA ED. LAUDES, MAS O DA
UVRARIA MISSIONÁRIA ED., RÚA MÉXICO, 168-B, CASTELO,
20000 RIO DE JANEIRO (RJ).

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