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P rojeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESEISTTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
W_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
confront
Sumario
Pía.

A IGREJA E O ABORTO 177

Entre lensoes e distens6es:


A IGREJA NA HOLANDA ANTES DO SÍNODO DE 1980 179

Um belo teslemunho:
O SÍNODO DOS BISPOS HOLANDESES: CONCLUSOES 186

Mais urna palavra de Roma sobre


ABSOLVIQAO COLETIVA: ABUSOS 204

Mais urna vez...


"OS HOMOSSEXUAIS" por Marc Daniel e André Baudry 209

LIVROS EM ESTANTE 3? capa

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

NO PRÓXIMO NÚMERO:

«CATEOUESE HOJE» de Joño Paulo II. — O Papa e a Liturgia : um


passo atrás ? — «Jesús Cristo Libertador» de L. Boff. — «Os mila-
gres do Johreb.

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

Numero avulso de qualquer mes 32,00

Assinatura anual - . 320,00

Dlrecao e Reda$áo de Estéváo Bettencourt O.S.B.

ADMINISTRACAO REDA<?AO DE PR
Llvrarla Misionarla Editora
Búa México, 111-B (Castelo)
20.031 Rio de Janeiro (RJ) 20.000 Rio de Janeiro (RJ)
Tel.: 224-0059
A IGREJA E O ABORTO
No «Jornal do Brasil» de 17/04/80, cad. B, p. 12, um mé
dico de Salvador (BA) emitiu declaracóes que bem merecem
atengáo:

1) «Dois séculos atrás, a Igreja Católica permitía o


aborto». — Todo estudioso, diante de tal afirmacáo, sente-se
impelido a pedir a comprovagáo ou a documentacáo respectiva.
Quais as fontes donde se depreende que a Igreja permitía o
aborto há dois séculos? As afirmacóes gratuitas nao tém valor
científico. A Igreja é que pode provar, por documentos escri
tos, que há dois séculos (e sempre) ela repudiava o aborto
como hoje, pois este nada mais é do que um homicidio. Te-
nha-se em vista, por exemplo, a obra de Denzinger-Schonmet-
zer: «Enquiridio dos Símbolos, Definicóes e Declaracóes ati
nentes áféea Moral» n.<« 670. 2134-2135. 3258. 3298.
3337. 3719-21...

2) Há quem alegue o caso recente de Religiosas que,


violentadas no Congo, engravidaram e, por isto, teriam sido
autorizadas a abortar. Também isto é apresentado sem do
cumentacáo; por conseguinte, nao pode ser trazido ao plano
do debate serio e científico. Em perigo de estupro, a Igreja
permite, sim, o uso de anticoncepcionais, pois, no caso, se trata
de salvar os direitos e a integridade da pessoa humana (nao se
trata de procurar ter voluntariamente relagóes sexuais isentas
de fecundidade).

3) O cientista baiano procura justificar o aborto, ale


gando o morticinio cometido em guerras, como as Cruzadas,
que a Igreja autorizou ou mesmo incentivou. — Ora observe
mos que é lícito a um individuo ou a um povo matar em legí
tima defesa; com outras palavras: desde que nao haja outro
meio para preservar a pessoa inocente agredida ou salvaguar
dar a justica, é legitimo matar o injusto agressor, pois este
entáo perde o direito á própria vida. Em conseqüéncia, pode
haver guerras justas. Na verdade, é difícil dizer, em casos
concretos, se tal ou tal guerra é justa ou injusta, pois há fre-
qüentemente fatores heterogéneos na origem de urna guerra.
Como quer que seja, a inspiracáo inicial das Cruzadas era
santa, segundo o modo de pensar dos medievais; estes tencio-
navam recuperar o Santo Sepulcro de Cristo, que se achava
sob o poder muculmano desde 637 — o que sujeitava os cris-
táos peregrinos a ataques e perigo de vida. Para um medieval

— 177 —
dos séculos XI/XII, nao há dúvida de que o apelo as Cruza,
das vinha da parte de Deus; Deus lo volt, gritavam milhares
de voluntarios que respondiam a tal apelo. Tenhamos em vista
também o empenho com que Sao Bernardo, Pedro o Eremita
e outros se interessaram pela realizagáo das duas primeiras
Cruzadas. Posteriormente as Cruzadas se tornaram instru
mento da política de reis e príncipes, perdendo a sua motiva-
gao estritamente religiosa. É de notar, porém, que a Igreja
só se moveu em favor das Cruzadas por razóes da fé, de cuja
validade ninguém duvidava na Idade Media.

4) O aborto cometido numa jovem de quatorze anos que


tenha ficado grávida do namorado ou de um estranho, é sem-
pre um morticinio; a criancinha no seio materno conserva o
direito á vida que toca a todo ser humano, independentemente
do estado civil da sua genitora. A crianca inocente nao deve
ser condenada a pagar pela desventura de sua máe. Em vez
de pensar em legitimar o aborto (infanticidio) em tais casos,
pense a sociedade em dar assisténcia á máe solteira, a fim de
que nao seja coagida a abortar (o que é sempre profunda
mente traumatizante para a mulher). Especialmente os pais
de meninas que engravidam antes do casamento, sao respon-
sáveis pelo futuro dessas jovens; em vez de expulsá-las de
casa, como fazem varios, proporcionem-lhes todo o apoio para
que possam ter"seu filho em condigóes táo tranquilas quanto
possível. Caso nao o fagam, a jovem expulsa e sem lar arris-
ca-se a despencar-se pelo abismo da degradaqáo na promiscui-
dade das grandes cidades.

5) A utilizagáo de seres humanos — qualquer que seja


a sua condigáo social — como cobaias é ilícita aos olhos da cons-
ciéncia bem formada. O ser humano é anima nobilis, vivente
nobre, cuja vida há de ser respeitada pelos pesquisadores, nao
podendo ser nivelada com a de animáis irracionais.

6) É certo que a Igreja nao vai na onda das opinióes e


teorías correntes em cada época. Se ela nao tivesse urna men-
sagem definida a ser apregoada com absoluta fidelidade a
Cristo, Ela nao teria perdido o reino da Inglaterra em 1534.
Os fiéis católicos tém consciéncia de que, em materia de fé e
de costumes, o magisterio da Igreja goza da assisténcia do
Espirito Santo para propor, sem deturpagóes, a doutrina de
Cristo. Esta, por designio do Senhor Deus, nao fica á mercé
da falibilidade dos homens, pois é Palavra de vida eterna.
É com estas reflexóes no mes de maio, dedicado á Máe
Santíssima e a todas as máes, que desejamos honrar também
a Santa Máe Igreja!
E.B.
— 178 —
«PEROUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XXI — N* 245 — Mato de 1980

Entre tensóes e distensoes:

a igreja na holanda antes do sínodo


de 1980
Etn slnlese: Os católicos da Holanda até meados do século passado
constitulam urna minoría considerada de segunda categoría no plano dos
dlreitos clvls. Todavía em 1853 a restauracSo da hlerarqula episcopal
naquele país acarretou vigoroso surto da vida católica; os fiéis passaram
a se autoaflrmar e impor no contexto da vida nacional, criando suas esco
las e seus meios de comunicacSo social próprios. A Holanda em meados
do presente século dava ao mundo 10% dos missionários pregadores da
fé em térras estrangeiras.

Todavía os aconteclmentos que cercaran) o Concilio do Vaticano II


(1962-1965) passaram a agitar fortemente os católicos holandeses A apli-
cacáo das normas conciliares ocasionou abusos doutrinárlos e disciplinares.
O Sínodo Pastoral dos Pafses-Baixos (1966-1970), se de um lado acentuou
a conscldncla de partlcipacfio dos fiéis holandeses, de outro lado foi oca-
sISo de atltudes e prátlcas indevldas. Em 1971 e 1972 respectivamente,
duas nomeacdes de bispos conservadores provocaram serias divergencias
tanto no episcopado como entre os fiéis da Holanda. O ano de 1978 fol
um ano tenso, que levou a incidente Inesperado em Janeiro de 1979. Dlante
do desenrolar dos fatos, o S. Padre JoSo Paulo II, após ouvir cada bispo
holandés de per si, houve por bem convocar um Sínodo particular dos
bispos dos Pafses-Baixos para Roma em Janeiro (14 a 25) de 1980.
No próximo artigo serSo publicadas as conclusSes desse Sínodo.

Comentario: Os jomáis tém noticiado os acontecimentos


que vém interessando e agitando os católicos na Holanda a
partir do término do Concilio do Vaticano II. Em Janeiro de
1979 serias incidencias ocorreram, as quais levaram finalmente
o Papa Joáo Paulo n a convocar um Sínodo (assembléia) dos
bispos holandeses para Roma no mes de Janeiro de 1980.

Precisamente as ocorréncias que de perto ou de longe cer-


cam este importante Sínodo constituiráo o objeto da exposigáo

— 179 —
4 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 245/1980

subseqüente. Somente quem as conhece pode apreciar mteres-


sante aspecto da vida da Igreja contemporánea e perceber a
acáo do Espirito entre os homens, que constituem o corpo visí-
vel de Jesús Cristo.

No artigo seguinte a este abordaremos o documento con


clusivo no Sinodo.

1. O Catolicismo na Holanda : ressurgimento

Diz-sc que uin holandés ó um teólogo, dois holandeses


constituem urna Igreja e tres holandeses perfazem o germen
de um cisma. Este adagio popular bem mostra o interesse da
populagáo neerlandesa pelos assuntos religiosos,... interesse
expresso ñas colunas dos jomáis, ñas manifestacóes públicas
e também pela existencia de mais de sessenta denominacóes
cristas nos Paises-Baixos. Nesse contexto religioso, o Catoli
cismo ocupa, sem dúvida, posigáo própria e relevante.

Importa, pois, antes do mais, tomarmos consciéncia do


que tem sido a historia recente da Igreja Católica na Holanda.

Pode-se dizer que a historia do Catolicismo moderno na


Holanda comeca em 1853, ano em que foi restaurada a hierar-
quia episcopal. Durante tres séculos, ou seja, a partir do mo-
vimento reformista ou calvinista que marcou a Holanda do
sáculo XVI, os católicos ficaram em condiedes de excecáo ecle-
sial. O restabelecimento da hierarquia nos Paises-Baixos foi,
em parte, urna conseqüéncia da Revolugáo francesa de 1789;
esta, proclamando «Liberdade, Igualdade e Fraternidade», avi-
vou na populagáo holandesa a consciéncia de que os católicos
eram cidadáos de plenos direitos, e nao de segunda categoría,
como parecía até entáo.

A partir da referida data, as autoafirmacóes do Catoli


cismo na Holanda foram-se tornando cada vez mais significa
tivas: tiveram a conseqüéncia importante de corroborar a coe-
sáo da populagáo católica holandesa e a indissolúvel uniáo
desta com Roma. Isto se entende, em grande parte, pelo fato
de que a Reforma protestante excluirá os cidadáos católicos
da vida cultural, científica e política do país; a procura de
maior uniáo com Roma permitía aos católicos mais expres-
siva e eficiente autoafirmagáo.

— 180 —
IGREJA NA HOLANDA ANTES DE 1980

Até o fim da década de 1950, ou seja, até as vésperas do


Concilio do Vaticano H (1982-1965), duas notas caracteriza-
ram fortemente o Catolicismo na Holanda:
— solidariedade dos fiéis católicos entre si, perceptivel
através de estatísticas: 90% dos filhos de familias católicas
freqüentavam escolas primarias confessionais; os jomáis cató
licos eram lidos em tres quartos dos lares católicos; a Missa
dominical era freqüentada por 75% dos fiéis;
— uhiáo com a Igreja universal: os Paises-Baixos, cuja
populacho católica correspondía a 1% dos fiéis católicos do
mundo inteiro, forneciam 10% dos missionários esparsos pelo
orbe.
Eis, porém, que na década de 60, especialmente em con-
seqüéncia dos preparativos e dos debates do Concilio do Va
ticano II (1962-1965), os católicos holandeses comecaram a
levantar questóes que puseram em agitacáo a Igreja na Ho
landa: referiam-se á renovagáo litúrgica e <á criatividade ñas
celebragóes, ao movimento ecuménico e as novas relagóes de
colaboragáo entre católicos e protestantes, aos artigos da fé e
á sua reformulacáo (tenha-se em vista o Novo Catecismo Ho
landés). Verdade é que a agitagáo nao foi exclusiva da Ho
landa após o Concilio do Vaticano II, mas nao resta dúvida de
que foi mais acirrada entre os católicos holandeses.

Além das correntes suscitadas pelas tentativas de renova


gáo e inovacáo, surgiram na Holanda novos organismos ecle-
siais, nos quais os leigos eram majoritários: eram conselhos
paroquiais, conselhos diocesanos e o famoso «Sinodo Pastoral».
Este desenvolveu-se de 1966 a 1970, acarretando a participa-
cáo de quase todos os fiéis holandeses: foi preparado por mais
de doze mil grupos de discussáo e teve a presenga atuante de
representantes elfeitos pelos fiéis. O Concilio ou Sinodo Pas
toral tornou-se um acontecimento marcante na vida da Igreja
holandesa: corroborou a consciéncia de urna Igreja viva, a des-
coberta do diálogo dos fiéis com a hierarquia e da solidarie
dade muito estreita entre os membros do povo de Deus.

2. O inicio dos males mais recentes


Existem na Holanda sete dioceses, que contam 5.500.000
de fiéis, ou seja, 40% da populagáo neerlandesa. A menor das
dioceses é a de Groningen, ao Norte, que conta 140.000 cató
licos. A maior é a de 's-Hertogenbosch, ao Sul, que conta
1.368.000 fiéis.
— 181 —
6 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 245/1980

Durante os anos que se seguiram ao Concilio, os sete bis-


pos constituiam realmente um corpo episcopal coeso a gover-
nar a provincia eclesiástica da Holanda. Conjuntamente publi-
oavam as suas Cartas Quaresmais para todo o país; unánimes,
trabalharam no Concilio Pastoral neerlandés e na solugáo dos
problemas provocados pelo Novo Catecismo Holandés.

Em 1971, porém, essa unidade comegou a ser violada.

Com efeito. É de notar que, por ocasiáo da sede vacante


(ausencia de bispo), o cabido (ou os cónegos) da diocese res
pectiva goza do privilegio de apresentar á Santa Sé os seus
candidatos, dentre os quais o S. Padre nomeia um como bispo
diocesanol. Ora por duas vezes — em 1971 e 1972 — tal cos-
tume nao foi observado na provisáo de dioceses holandesas,
pois foram nomeados dois bispos, respectivamente, que nao
constavam da lista apresentada pelos cabidos.

Era.Rotterdam (diocese de 800.000 fiéis), por exemplo,


foi elevado á sede episcopal em 1971 o Pe. Adriano J. Simo-
nis, que era vigário em paróquia e capeláo de hospital, go
zando, alias, da estima de todos no desempenho dessas fun-
cóes. Participou do Concilio Pastoral a pedido dos bispos, e
nao como delegado eleito, sendo entáo o porta-voz do grupo
conservador. Urna vez nomeado bispo, D. Simonis teve de
enfrentar a resistencia da maioria do clero diocesano e de boa
parte dos fiéis. O prelado conservou sempre as suas concep-
góes, mas nao quis romper com a maneira de proceder do seu
antecessor e dos colegas. Sempre foi considerado como homem
reto e sincero, dotado de notável senso pastoral.
Quanto á diocese de Roermond, foi tomada de surpresa
pela nomeagáo do Pe. Joáo B.M. Gijsen em 1972. O prelado
tinha entáo trinta e seis anos de idade; exercia as fungóes de
capeláo de Religiosas retiradas no campo e tinha fama de con
servador. Logo que nomeado, comegou a experimentar a opo-
sicáo da opiniáo pública: os decanos da diocese manifesta-
ram-se, por vinte e tres votos a um, contra o novo bispo; o
cabido rogou a Roma que reeonsiderasse a sua decisáo; dez
mil intelectuais da diocese uniram-se a 83% do clero dioce
sano numa atitude de resistencia.
D. Joáo Gijsen, porém, nao se intimidou: substituiu os
vigários episcopais do seu antecessor e nomeou novas equipes

i Tal privilegio data da Idade Media; usufruem dele também afu


mas dioceses da Sulga.

— 182 —
IGREJA NA HOLANDA ANTES DE 1980

de trabalho e alguns novos decanos. Dentre as suas princi


páis realizagóes, destaca-se a fundaeáo de um grande Semina
rio, em réplica aos Institutos de Teología aos quais os bispos
e os Superiores Religiosos haviam confiado a formagáo dos
seus futuros sacerdotes. Tal Seminario obteve o vivo beneplá
cito de Paulo VI e de Joáo Paulo n. Esta uniáo com a Santa
Sé bem mostra que D. Gijsen nao se coloca na linha de Mons.
Lefébvre: á diferenga deste, o bispo de Roermond se refere
sempre ao Papa e ao Concilio do Vaticano II.

Em 1975, dentro do quadro do episcopado holandés algo de


novo aínda ocorreu: o Cardeal Alfrink, arcebispo de Utrecht,
tendo atingido os setenta e cinco anos de idade, pediu demis-
sáo do cargo. Foi entáo substituido pelo Cardeal Joáo Wil-
lebrands, que residía em Roma, onde presidia e ainda preside
ao Secretariado para a Uniáo dos Cristáos desde 1969. A
escolha do novo arcebispo de Utrecht fora dificílima para
Paulo VI; mas felizmente o novo titular soube assumir e tra
tar a provincia eclesiástica neerlandesa com grande habilidade
e desenvoltura.

3. A decisáo de convocar um Sínodo

Em novembro de 1977, os bispos holandeses foram a Roma


em visita ad limina (visita que, de cinco em cinco anos, os bis
pos fazem ao Papa para tratar dos assuntos de suas respectivas
dioceses). Diantc do quadro conturbado da Igreja (e do epis
copado) na Holanda, Paulo VI exortou enérgicamente os bis
pos holandeses á uniáo na fé e á unidade na caridade.

Os meses subseqüentes, porém, ainda alimentaram um


clima de tensóes. D. Gijsen resolveu tomar novas medidas
frente á situacáo da Igreja na Holanda: suspendeu a partici-
pagáo da sua diocese ñas diversas coletas feitas em prol das
missóes, assim como nos projetos nacionais de catequese e
ecumenismo; anunciou a publicagáo de um Catecismo («Paz
e Seguranga»), do qual ele seria o autor.

Ora, a fim de por termo ao novo mal-estar assim gerado,


os sete bispos holandeses reuniram-se a portas fechadas aos
13 de Janeiro de 1979. O diálogo entre os prelados parecía ter
chegado a resultados muito positivos, quando aos 16 de Janeiro
o hebdomadario Elseviers Magazine publicou urna entrevista
de D. Gijsen que reacendia vivamente o questionamento: entre

— 183 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 245/1980

outras coisas, o prelado afirmava que recusaría os sacramen


tos aos deputados católicos que votassem em favor de um
projeto de lei existente no Parlamento em prol da liberalizacáo
do aborto; o mesmo tratamento seria dado aos homossexuais
que praticassem ostensivamente o homossexualismo e as pes-
soas que usassem anticoncepcionais. Como se compreende, tal
entrevista provocou manifestacóes contrarias diante da resi
dencia do bispo; os parlamentares e, em especial, o primeiro
Ministro (que é católico), reagiram com indignagáo á palavra
de D. Gijsen; os outros bispos mostraram-se surpreendidos com
o fato, a ponto que o Cardeal J. Willebrands, em Roma, deu
urna entrevista á imprensa, pela qual procurava amainar o
mal-estar.

Entrementes, o Papa Joáo Paulo II acompanhava atenta


mente os acontecimentos. Resolveu receber cada qual dos bis
pos holandeses de per si nos primeiros meses de 1979, pro
curando assim obter informagóes exatas sobre a situagáo da
Igreja nos Países-Baixos. E, finalmente, aos 25/05/79 resol
veu convocar um Sínodo «particular» dos bispos holandeses a
se realizar no Vaticano em cometo de 1980 — decisáo esta
que correspondía exatamente ao que desejavam os referidos
prelados.

Vejamos, pois, o que seja um Sínodo.

4. Um Sínodo de bispos: que é ?

A palavra Sínodo vem do grego Synodos, palavra que sig


nifica «congresso, convergencia». Sínodo de Bispos é, pois, um
Encontró de Bispos, o que também pode ser chamado Concilio.

Desde os primordios da Igreja realizam-se Sínodos de bis


pos, geralmente destinados a examinar problemas suscitados
pela teología ou pela pastoral. O Papa Paulo VI houve por
bem legislar mais detidamente a respeito através do Motu
propino «Apostólica Sollicitudo» de 15 de setembro de 1965;
neste documento distingue o Pontífice:

1) Sínodos gerais, que reunem representantes do epis


copado do mundo inteiro e que, a partir daquela data, deve-
riam congregar-se de tres em tres anos para abordar deter
minados assuntos de atualidade;

— 184 —
IGREJA NA HOLANDA ANTES DE 1980 9

2) Sínodos extraordinarios, dos quais participam apenas


os presidentes das Conferencias Episcopais e que tralam de
assuntos urgentes;

3) Sínodos especiáis ou particulares, que estudam alguma


ou algumas questóes importantes para um país ou alguns
países.

A finalidade geral dos Sinodos é corroborar a colegiali-


dade dos bispos entre si e com o Papa e promover a unidade
de doutrina e de agáo da Igreja no mundo inteiro ou em deter
minado territorio. Ora o Sínodo especial dos bispos holande
ses visaría a este objetivo geral dentro da problemática vivida
pela Igreja nos Paises-Baixos.

Existe importante diferenga entre um Sínodo e urna As-


sembléia Geral de Conferencia Episcopal. Com efeito; esta
pode apenas indicar normas gerais, que cada bispo é livre para
aplicar ou nao em sua diocese (é o que se dá ñas Assembléias
da CNBB). Ao contrario, as decisóes de um Sínodo gozam de
valor jurídico: sao tomadas por maioria de votos e, urna vez
aprovadas pelo Papa, obrigam também aqueles que votaram
contra.

O Sínodo particular dos bispos holandeses em Janeiro pp.


teve a presidencia do próprio Sumo Pontífice, que nomeoú dois
presidentes delegados: o Cardeal J. Willebrands, arcebispo de
Utrecht, e D.G. Danneels, hoje cardeal-arcebispo de Bruxelas
(Bélgica). Além dos sete bispos holandeses, participaran! do
Sínodo dois representantes dos Religiosos da Holanda e alguns
Cardeais da Curia Romana responsáveis por Congregagóes a
cuja competencia pertenciam os assuntos abordados no Sínodo.

Os católicos holandeses participaram ativamente da pre-


paragáo do Sínodo, enviando cartas, recomendagóes e suges-
tóes aos respectivos bispos — o que é bem compreensivel,
mas nao deixava de criar certo clima de pressáo sobre os
prelados.

No artigo seguinte, publicaremos o documento conclusivo


do Sínodo dos bispos holandeses.

A propósito citamos:

iATUYT, JAN, L'Egltse des Pays-Bas á la vellle du Synode, ¡n "Cahiers


de I' actuante raligieuse et soclale" n? 196, 01/01/80, pp. 17-22.

— 185 —
Um belo testemunho:

o sínodo dos bispos holandeses


(ondusao

Em sinlese: O Documento conclusivo do Sínodo particular dos bis


pos holandeses tem importancia para a Igreja Universal, pols enfatiza ver
dades e principios que estavam sendo obliterados nao só nos Pafses-Bal-
xos, mas também em outras partes do mundo católico.

A tónica do Documento é a comunhSo ecleslal que deve unir os bis


pos da Holanda entre si, com o Papa e com os fiéis: comunhSo na mesma
fé ortodoxa, enslnada pelo magisterio universal da Igreja, e ñas mesmas
normas disciplinares (na medida em que se aplicam a toda a Igreja). SSo
incutidos de modo especial os seguintes pontos: necessidade de atender
á formacáo dos Seminaristas tanto no plano académico como no da vida
espiritual; o clero conservar-se-á celibatário (nao sao os Ideáis esvaziados
que atraem a juventude); a catequese há de seguir os enslnamentos da
Santa Sé, evitando-se manuais nSo devidamente aprovados pela hierar-
qula; a real presenca de Cristo na Eucaristía merece adoracáo mesmo
depois de terminada a Missa; esta é obrlgatória aos domingos e dias de
preceito; é preciso restaurar o uso da conflssSo individual sacramental; o
ecumenlsmo nao deve levar á intercomunhSo sacramental, pols esta supSa
a unidade da fé, que aínda nao fol obtlda...

Em suma, pode-se dlzer que os principáis pontos controvertidos na


Igreja universal em nome da "renovag3o" concillar foram considerados e
dirimidos de manelra unánime pelos bispos holandeses, que assim deram
lúcido testemunho de fé aos católicos do mundo Inteiro.

Comentario: O Sínodo dos Bispos holandeses reaüzou-se


no Vaticano de 14 a 25 de Janeiro pp., abordando os proble
mas de fé e de pastoral que últimamente agitaram a Igreja
nos Países-Baixos.

No dia 31 de Janeiro, o S. Padre Joáo Paulo II celebrou


com todos os padres sinodais na Cápela Sixtina a Missa de
encerramento da grande reuniáo. Sobre o altar foram coloca
dos seis exemplares do documento conclusivo, que o Papa assi-
nou entáo, entregando, logo a seguir, duas copias — urna em
holandés e outra em francés — ao Cardeal J. Willebrands.
A assinatura papal seguia-se, de imediato, a urna fórmula

— 186 —
SÍNODO DOS BISPOS HOLANDESES: CONCLUSAO 11

cuidadosamente estudada para o caso, que assim se pode tra-


duzir:

"As conclusóes ácima referidas receberam o placel da parte dos


padres do Sínodo particular dos bispos dos Palses-Balxos. Em vfrtude do
poder apostólico que vem de Cristo, aprovo-as e ordeno que, para a gloria
de Deus, o que (oi estabelecido sinodalmente seja promulgado.

Roma, na Cápela Sixtina junto a Sao Pedro, aos 31 de Janeiro de 1980".

O abraco ao Cardeal Willebrands que se seguiu á entrega


do documento, estendia-se aos demais bispos presentes e a
toda a nacáo católica holandesa, representada por numerosos
membros da colonia neerlandesa em Roma. Esse abraco sig-
nificava plena comunháo e fraterna convergencia de intencóes
em demanda de urna vida eclesial fiel ás germinas tradicóes
da Igreja na Holanda.

Para que os nossos leitores possam apreciar a caminhada


percorrida pelos bispos (e fiéis) holandeses durante o Sínodo,
publicamos, a seguir, em traducáo portuguesa, o texto do res
pectivo Documento conclusivo. Por último, proporemos breve
comentario a este texto procurando por em relevo os seus
pontos mais importantes.

I. DOCUMENTO CONCLUSIVO

DO SÍNODO PARTICULAR DOS BISPOS DOS PAlSES-BAlXOS

INTRODUCTO

Reconhecidos a Deus, queremos tornar público, no fim deste Sínodo


Particular, o que discutimos sob a presidencia estimulante do Sucessor de
SSo Pedro, o nosso Papa Joao Paulo II, e com a partidpagáo, segundo
as respectivas competencias, dos Prefeltos das Sagradas Congregares
romanas.

Apresentamos os resultados das nossas deliberares ao Santo Padre


para bem da Igreja nos Países-Baixos, na qual vive a Igreja de Cristo,
una, santa, católica e apostólica.

As nossas deliberacóes versaram sobre o que é desejável para o tra-


balho pastoral nos Paises-Baixos ñas circunstancias atuais. Tin hamos espe
cial consciencia de os graves problemas que se nos apresentam como
pastores, exlglrem urna unidade, um sentido profundo do que deve ser urna
comunháo afetiva e efetiva: é a condigSo mesma para urna Igreja poder
cumprlr a sua mlssSo.

Consideramos esta unidade na sua dlmensao dupla:

— unidade de todos os fiéis, cujo ideal é o da primeira comunidade


cristS descrita nos Atos dos Apostólos: "todos os crentes eram assiduos ao

— 187 —
12 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 245/1980

ensino dos Apostólos, á uniio fraterna, á IraccSo do pao e as oragfios"


(Ao 2.42);

— unldade dos pastores entre si, da qual se encontra um modelo


importante nos Apostólos reunidos á volta de Pedro, em Jerusalém, para
decidirem questdes cruciais num momento decisivo da vida da Igreja nas-
cente (cf. At 15,6).

Sendo a (Idelldade ao enslnamento dos Apostólos condlcao da comu


nhao, a doutrina e a disciplina da Igreja continuam, portanto, hoje a ser
a norma para a fidelidade á comunhao fraterna.

Aplicando este modelo á nossa situacáo, pensamos, antes de ludo,


na comunhao de todos os crentes católicos ñas sete dioceses dos Palses-
-Baixos. Com vistas nesta comunhao de todos, tratamos dos diversos mi
nisterios e de diversos servicos na Igreja.

A comunhao da Igreja tem caráter muito próprio, é, ao mesmo tempo,


local e universal. Em seguida, tem um aspecto, ao mesmo tempo, institu
cional e espiritual. Por fim, esta comunhao alimenta-se de urna tradicáo
histórica, fundada nos Apostólos, sendo ao mesmo tempo chamada a reali-
zar-se no mundo atual.

Concentrando a nossa atengáo nesta realidade complexa, comecamos


por urna reflexáo sobre a Igreja, comunidade esphituai. Por isso, usamos
freqüentemente a palavra bíblica communio. A palavra designa comunidade
especifica de fé, esperanca e caridade, que unifica os crentes com Cristo
e seu Pal, e, ao mesmo tempo, os une uns aos outros. E o único e indivi-
sivel Espirito Santo que, habitando nos coracóes, os unifica no mesmo
Corpo de Cristo. A palavra communio exprimo, por conseguinto, participar
cada fiel com os outros fiéis na mesma vocacSo, na mesma fe, no mesmo
batismo, na mesma Eucaristía, na mesma comunhao eclesial reunida á volta
dos pastores legítimos, e na mesma missao da Igreja no mundo.

Referindo-se a esta unldade dos crentes, a prlmelra carta de SSo


JoSo diz-nos que ela é, ao mesmo tempo, comunhao entre nos e também
comunhao com o Pai e com seu Filho Jesús Cristo (1 Jo 1,3). Estas
palavras levam-nos á verdadelra fonte da nossa comunhao eclesial. O Se-
nhor mesmo falou desta fonte na sua oracSo sacerdotal: "Para que todos
sejam um só: como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, que também
eles estejam em Nos, para que o mundo creia que Tu Me enviaste"
(Jo 17,21).

Estas palavras do Senhor lembram-nos também que a unidade con


creta e vislvel é frágil, mas por Isso nao fica sendo menos preciosa e
Indispensável. Cortamente, é Cristo que nos reúne pelo único Espirito; mas
esta comunhao é também comunhao de seres humanos.

Este aspecto humano ajuda-nos a compreender e a nao nos escan


dalizamos dlante das fraquezas, das tensSes, das IrrltacSes e dos mal-enten
didos. Estas tensfies podem manlfestar-se nos diferentes niveis da vida da
Igreja. Correm o risco de tornar-se verdadeiras ameagas para a unidade
e de provocar rupturas. Constituem a sorte de urna igreja que desejou
Cristo fosse comunidade espiritual, mas também organismo humano e
histórico.

— 188 —
SÍNODO DOS BISPOS HOLANDESES: CONCLUSAO 13

Estes choques podem contudo ser vencidos. Por Isso, a Igreja, con
tando pecadores no seu próprlo selo, simultáneamente santa e sempre
necessltada de purificacSo, exercita continuamente a penitencia e a reno-
vacfio (L.G., 8). O Concillo Vaticano II ensinou-nos multo claramente
que a vida da Igreja é peregrlnacSo e que, por consegulnte, a Igreja é
chamada por Cristo a essa reforma perene. Como ¡nstitulcao humana e
terrena, a Igreja necessita perpetuamente desta reforma (U.R., 6).
A nossa dlscussSo sobre o que precisa ser corrigldo, foi dlscussSo
multo fraterna. Nao é sem razáo que o Santo Padre se dirige aos BIspos
como irmaos. E porque é tSo rica no plano da fé, a palavra conununio
inclui também relacdes cordiais e fraternas. Assim, cada dia rezamos jun
tos e partilhamos a Eucaristía. Foi nesta fraternidade que discutimos diver
sas questóos que se nos apresentavam, dlscussáo cujos resultados comu
nicamos ñas páginas seguintes.

Esperamos de todo o coracSo que a aplicacáo prátlca destas reso-


lucdes venha a ser grande beneficio e que a Igreja de Sao Willlbrord, por
Isso mesmo, se manifesté communlo mais profunda.

OS BISPOS

1. Os Bispos dos Palses-Baixos exprimem a vontade unánime de


aprofundar entre si relacfies cordiais e fraternas. Procedendo assim, nao
pretendem somente testemunhar espirito de fraternidade como valor hu
mano: deste modo — apesar das dificuldades de natureza diversa que se
Ihes deparam para reduzir a. prátlca o seu espirito colegial —, estáo con
vencidos de que reallzam profunda comunhSo de amor, que é fruto do
Espirito Santo.

2. Os BIspos dfio-se conta de esta perfeita execucao depender de


certas condlcfies objetivas, quer dizer, da fé católica e da manelra como
deve exercer-se a funcSo episcopal.

a) A fé, ou o Bispo como «doctor fidei»

3. Os BIspos professam concordancia sobre o conteúdo da lé cató


lica segundo o ensinamento da Igreja católica romana. Expressam a sua
plena e Inteira comunháo com o Papa, Bispo de Roma e Pastor supremo
da Igreja universal, assim como a sua fé na constltuicSo jerárquica da
Igreja: nem os BIspos nem os Sacerdotes sSo delegados dos fiéis, mas, sim,
ministros de Jesús Cristo ao servlco da comunldade ecleslal.
4. Os Bispos professam que o ponto de partida e a fonte objetiva
da fé estao na Revelacao divina, poraue a Deus que se revela deve o
homem a obediencia da fé (Rom 1,5; 16,26; D.V., 5).

5. Os BIspos pretendem anunciar a plenltude do conteúdo da Re-


velacSo, Interpretada pelo magisterio, Isto tendo em conta as exigencias
dos homens do nosso tempo. Os BIspos reconhecem que existem sensi
bilidades diferentes a respeito da pedagogía do anuncio da fé crista aoa
homens de hoje.

— 189 —
14 «PERGUNTE E RESPqNDEREMOS»_2«/1980

6. No que respelta á harmonía entre a RevelacSo interpretada pelo


magisterio e as aspiracóes do nosso tempo, os Bispos indicam a próprla
vomade de que se tenda para uma apresentacáo clara e equiliorada da té.

7. Os Bispos manifestam a própria concordancia sobre a existencia,


nos erantes fiéis de todos os lempos, de um sensus fldei, a que os teólo
gos deveriam prestar sempre atencáo, do qual é preciso tirar partido como
elemento interpretativo da Tradigáo. Segundo Del Verbum n. 8, especial
mente pela contemplacao e pelo estudo dos crentes, e pela com preensáo
íntima que estes tem das realidades espirituais que experimentan), é que
aumenta a percepgao da Tradigao. Todavia este sensus tidei nao é cons
titutivo da Revelagáo, e nao tem a mesma torga que a interpretado ñor-
mativa que dele dá o magisterio da Igreja, na submissáo a esta mesma
Revelagao.

8. Ao lado deste sensus fidei, próprlo dos crentes fiéis, existem


experiencias religiosas comuns a todos os homens. Estas podem consti
tuir ponto de partida na educagáo para a fé e na catequese. Devem con-
tudo ser valorizadas á luz do progresso necessário para a inteligencia
plena da fé. É preciso, portanto, afastarmo-nos de certos métodos de cate
quese que se mantém únicamente ao nivel da experiencia religiosa.

9. Sabendo embora que há certa diversidade (unidade nao é, alias,


o mesmo que uniforrnidade) ñas expressóes da fó e da doutrina, difun
didas quer pelos mass-media, quer pelas publicagóes impressas, os Bispos
vigiaráo para que esta diversidade nao crie confusao nos crentes. Os Bis
pos tém em vista os meios concretos para assegurar suficiente difusao dos
ensinamentos do Vaticano II e dos documentos da Santa Sé.

10. A maneira como os pastores apresentam a fé, requer prudencia,


especialmente no campo da moral crista. Sabem que nao devem sacri
ficar a norma em si mesma. Deveráo, por outro lado, discernir os remé'
dios apropriados para a falta de disponibilidade ou para a dificuldade de
certos fiéis aceítarem ou aplicarem as normas que derivam dos valores
cristaos. Quando esta disponibilidade é nula ou limitada, ou quando esta
dificuldade é grande, devem elas constituir objeto da solicitude dos
pastores.

b) O governo episcopal, ou o Bispo como pastor

11. Os Bispos dos Palses-Baixos professam fidelidade á disciplina


da Igreja o vontade de se dedlcarem, segundo os documentos oficiáis da
Igreja. Recordam-se, em particular, da importancia de Chrislus Dóminos,
de Ecclesiae Sanclae e do Diretório para o ministerio pastoral dos Bispos.

12. Os Prefeitos das Sagradas Congregares e os Bispos reconhe-


ceram que existem entre uns e outros certas dificuldades. Concordaram
em que poderiam aumentar a colaboragáo e a confianca mutua com trocas
de InformagSes, completas e periódicas, com visitas dos Bispos aos Dicas-
térios, mesmo com diligencias regulares de uma delegacáo da Conferencia,
com visitas aos Palses-Baixos de representantes da Curia, com o cuidado
dedicado a Relatto quinquennalis e aos protocolos das reunióes da Con
ferencia. Resultaría de tudo isto comunhao mais estrella entre a comuni-
dade católica dos Paises-Baixos e a Igreja Universal. Os Bispos rogam
que as informacóes ou acusagóes enviadas, sem eles saberem, aos Dicas-

— 190 —
SÍNODO DOS BISPOS HOLANDESES: CONCLUSAO 15

térios romanos sejam verificadas pela consulta ou do Bispo interessado


ou da Conferencia.

13. Os Bispos estáo preocupados com a necessidade de travar con


tatos pessoais constantes com Sacerdotes, Religiosos e Religiosas, e leigos
comprometidos; sabem também que os fiéis desejam, hoje mais que antl-
gamente, a presenca pessoal do Bispo entre eles. Neste contexto, e em
conformidade com Chiistus Dominus 22-24, os Bispos insistlram no próprio
acordó para que seja realizado, dentro da Conferencia dos Paises-Baixos,
o estudo da nova delimltacáo das dioceses no país, a qual nüo deve ser
levada a efeito necessar¡amenté em bloco e de urna vez so.
14. Os Bispos tém consciéncia de se verem diante de um problema
especialmente difícil: a conciliacao entre o exercfcio da sua funcüo pró-
piia de cada um no interior da diocese, e a adesao ás diretrizes da Con
ferencia ou da maioria dos seus membros.

Do ponto de vista doutrinal, a Conferencia episcopal é urna assem-


bléia em que os Bispos de urna nacáo exercem juntos o seu múnus pas
toral (munus suum pastorale conlunclim exercent) (C.D., 38,1).
Do ponto de vista prático, as Conferencias epíscopais podem hoje
contribuir de muitos modos para que o sentímento colegial leve a aplica
res concretas (L.G., 23). Vale isto de maneira especial nos Países-
-Baixos, regiáo de populagSo densa, e hoje unificada com malos novos,
como a urbanizacao, a migracao e os mass-jmedia. A Conferencia epis
copal será, portanto, instrumento precioso para lá realizar "santa harmonía
(sánela conspirado) das forcas, em vista do bem comum das Igrejas"
(C.D., 37). A natureza da obrigacSo que pesa sobre o Bispo é expressa,
no Di retó rio dos Bispos, com estes termos:

a) Aceitará com respeito e espirito de fé, como tendo torga de


leis em virtude da suprema autorldade da Igreja, as decisdes legítima
mente adotadas pela Conferencia e ratificadas pela Sé Apostólica (cf. C.D.,
38,4) e ordenará a execugáo délas, embora ele tenha sido, antes, de serv-
timento contrario ou isto haja de trazer-lhe alguns inconvenientes; por llm,
lera cuidado a que a esses pontos se obedega na sua diocese.
b) Quanto as outras decisdes e normas da Conferencia que nao
tém forca de leis, tomará como regra fazé-las suas num espirito de uni-
dade e caridade para com seus irmaos, a nao ser que haja graves moti
vos que ele próprio apreciará diante do Senhor. Promulgará, em seu nome
e com a sua próprla autoridade na Diocese, estas decisdes e normas, urna
vez que a Conferencia episcopal nao pode limitar nisto o poder que tem
pessoalmente cada Bispo em nome de Cristo (cf. L.G., 27) (Dtrectorlum
pro ministerio pastorali eplscoporum, 212, a e b).

Os Bispos farSo tudo para a comunhSo efetlva entre eles se apro-


fundar cada vez mais e para se evitar que sejam julgados divididos. Em
vista disto comprometem-se:
a) a procurar ocasldes de oragíio e de liturgia comuns;
b) a ajudarem-se mutuamente a por em prática as decisdes do
Sínodo;

c) a proceder regularmente a trocas, para aprenderem a conhecer


idéias, iniciativas de pessoas, para todos poderem tirar proveito de tais
trocas no próprio ministerio pastoral e se poderem tomar disposicOes comuns
com melhor conhecimento de causa;

— 191 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 245/1980

d) a abster-se de declarares que possam prejudlcar um Irmáo no


episcopado;

e) no que diz respelto a assuntos mals delicados e de interesse


nacional ou universal, os Bispos respeltaráo com cuidado o procedimiento
resultante do Diretório do Ministerio Pastoral dos Bispos ácima descrito
(212, a e b).

15. Os membros do Sinodo tomaram em consideragao certa com-


plexidade dos organismos da Conferencia e dos Conselhos que auxiliam a
Conferencia. Os Bispos consagram já tempo considerável aos trabalhos da
Conferencia. Há todavia urna partilha das responsabilidades, que nem sem-
pre garante suficientemente a relagáo com o Bispo; há de este continuar
a ser quem vai á frente do rebanho, sem nunca dele se separar. Sao os
Bispos os verdadeiros responsáveis das decisóes tomadas pela Confe
rencia.

16. Os Bispos esperam que a reestruturagáo da Conferencia que


está atualmente em estudo, poderá resolver o problema assim posto; o
aumento do número dos Bispos membros contribuiría para facilitar a solu-
fáo do problema, permitindo que as Comissóes fossem presididas ou assis-
tidas por um Bispo.

II

OS SACERDOTES

17. Os membros do Sínodo sSo unánimes em professar a distingSo


essencial entre o sacerdocio ministerial ou sacramental e o sacerdocio
comum dos batizados, e em querer velar pelas conseqüéncias práticas que
daf resultam.

16. Os membros do Sínodo professam com a mesma unanlmldade


o caráter permanente do sacerdocio ministerial.

19. Os Bispos neerlandeses desejam exprimir reconheclmento pro


fundo aos seus sacerdotes, tanto diocesanos como religiosos, esclarecidos
cooperadores da ordem episcopal (L.G., 28), pela dedlcacSo que mostram
no trabalho pastoral da Igreja, muitas vezes táo dificil no nosso tempo.

A propósito da espiritualidade, os Bispos verificam nos sacerdotes


evolugSo positiva: os sacerdotes falam, mals freqüente e fácilmente, da
sua vida espiritual. Varios dentre eles esforgam-se por adquirir formacSo
profissional para tarefa especifica, a fim de poderem servir melhor os fiéis
e manifestar assim a sua fé crista com grande disponibilidade. Procuran)
atingir o essencial dos problemas da vida no contato que tém com os
homens. A espiritualidade bíblica ocupa lugar primordial. Mas a vida espi
ritual dos sacerdotes está ameagada pela secularizado da sociedade, pelo
excesso de trabalho e ¿s vezes por urna concepcSo demasiado funcional
das suas obrígacSes.

20. Os membros do Sínodo estfio convencidos da importancia da


vida espiritual, da oragSo das horas, da celebracáo cotidiana, da penitencia
e do coloquio espiritual. EstSo dlspostos a ajudar os sacerdotes a apro-
fundar a sua vida espiritual, por exemplo, favorecendo iniciativas ad hoc,

— 192 —
SÍNODO DOS BISPOS HOLANDESES: CONCLUSÁO 17

tomadas quer pelo BIspo local quer pela Conferencia Episcopal, em coope-
racfio, dando-se o caso, com os Superlores-Malores dos Religiosos-Sacer
dotes, em especial a propósito da direcSo espiritual.

21. Os membros do Sínodo todos estáo persuadidos de que o celi


bato em vista do reino dos céus constituí grande bem para a Igreja. S3o
unánimes na vontade de seguir fielmente as decisóes dos Papas relativas
¿ conservagSo da regra do celibato. Os Bispos esperan) encontrar número
suficiente de sacerdotes. Mesmo quando faltam os candidatos, os mem
bros do Sínodo professam a própria confianga n'Aquele que é o Senhor
da Messe e nSo deixará de enviar operarios para a sua Messe (cf. Carta
do Papa Joio Paulo II a todos os Sacerdotes da Igreja na quinta-feira
santa de 1979).

Atribuem multo valor ao apoio que pode trazer a vida em comunl-


dade ou pelo menos a ajuda mutua fraterna entre sacerdotes. Juigam que
o celibato nao atingirá plenamente os seus efeitos, no plano pessoal e
pastoral, se nao for vivido como verdadeiro conselho evangélico, que nao
deixa de ter analogía com os outros conselhos, que sao a pobreza e a
obediencia.

22. Os membros do Sínodo estao decididos a promover urna pas


toral ativa das vocagdes sacerdotais e religiosas, continuando mesmo a
busca sobre as diversas formas que pode tomar o apostolado dos leigos.

23. A fim de promover esta pastoral, os Bispos concordaram em


erigir em cada diocese um Conselho ad hoc ou entSo encarregar desta
pastoral urna ou varias pessoas. Deslgnaráo em cada diocese um delegado
que se mantera em contato com as escolas teológicas, os Konvlklei e 03
estudantes de teología que se encaminhem para o sacerdocio, a nSo ser,
está claro, que o Bispo tome pessoalmente esta tarefa.

Neste campo pastoral das vocagdes sacerdotais e religiosas, os Bis


pos mantém-se em contato intimo com os Superiores Malores dos Reli
giosos.

24. A propósito de posslvels associacdes de sacerdotes, é neces-


sário recordar a mensagem do Vaticano II sobre a ligacSo entre o sacerdote
e o Bispo:

a) Os sacerdotes diocesanos ou religiosos partlcipam com o Bispo no


sacerdocio único de Cristo. Em vlrtude da própria ordenac&o todos os sacer
dotes estáo em comunhao jerárquica com a Ordem dos Bispos (P-O., 7).
Além disso, estando incardinados numa Igreja particular, os sacerdotes dio
cesanos constituem um presbyterlum e urna familia de que o Bispo % o pal
(C.D., 28).

b) o presbylerlum é representado pelo Conselho Presbiteral, que é


orgáo consultivo (E.S., 15).

c) Possiveis associagóes de sacerdotes nao podem por conseguirte


ser tais que obscuregam a comunh&o jerárquica dos seus membros com o
Bispo... Se estas associacñes tomarem caráter sindical, seráo incompa-
tiveis com as estruturas e o espirito da Igreja.

1 Konvlkt vem a ser a residencia de estudantes de Teología candi


datos ao sacerdocio.

— 193 —
18 PKRGUNTgJi:^ UESPONDEltEMOS^ 245/1930

25. Os Bispos exprimem unánimemente a próprla solicitude e a pró-


prla vontade de serem secundados por um clero celibatário, de recrutarem
aspirantes a tal vocacáo, e de tudo porem em prática sem detengas para
se obterem resultados neste campo.

A formacáo destes candidatos deve corresponder as prescricóes do


Vaticano II (em especial Optalam tolius) ou as que délas derivorn, como
a Rallo fundamenlalis, querida pelo primeiro Sínodo dos Bispos.
26. Segue-se que esta formagSo so pode ser garantida por verda-
deiros seminarios: ou seminarios que oferec.am integralmente a forma-
cao — como acontece em Rolduc — ou Konvikte com todos os atribuios
de seminario, exceto em que a maior parle do ensino é fornecida por urna
Faculdade ou Escola superior de Teologia reconhecida pela Santa Sé.
27. Estas Faculdades ou Escolas de Teologia devem, se querem
manter-se acessíveis aos candidatos ao sacerdocio, responder a varias
condicoes.

Quanto ao pormenor destas condicdes, o Sínodo remete para os


documentos oficiaia da Igreja sobre o assunto. A titulo de exemplo, recorda
aqui algumas dessas condigdes: direitos reconhecidos aos Bispos — sobre-
tudo ao Bispo do lugar — de exercerem perante tais Escolas o seu papel
de doctores fidei e de guardas da ortodoxia; direitos reconhecidos aos Bis
pos de exercerem a própria autorldade na nomeacao e no licenciamento
dos professores, nos programas e no que diz respeito a conservado da
atmosfera eclesial, em paiiicular sobre o ponto do celibato; e, por fim,
possibilidades concedidas aos Bispos de regularem a situado dos sacer
dotes casados que ensinam nessas Escolas.
28. Para verificar se estas condeces se realizam ou estáo em vias
disso no terreno — quer dizer, ñas Escolas de Teología, — e também
para ficarem cerlos do bom funcionamento dos Konvikte e de Rolduc, os
Bispos váo instituir urna Comissáo de Bispos que terminará os trabalhos
antes do 1? de Janeiro de 1981. Esta Comissao consultará a Assembiéia
dos Superiores Maiorcs das Cong¡egacóes clericais, e recolherá o parecer
do Ordinario do lugar. Os resultados obtidos pela Comissáo nao de ser
submeüdos á Conferencia, que os transmitirá com o seu parecer á Con-
gregacáo para a Educacáo Católica, tendo em con'.a o prazo académico
de Setembro de 1981.

I I I

OS RELIGIOSOS

29. Os Bispos neerlandeses apreciam multo a Vida Religiosa como


dom que a Igreja recebe do seu Senhor (L.G., 43). Tém consciéncia da
própria responsabilidade quanto ao desenvolvimento e sobretudo quanto ao
afervoramento mesmo da vida consagrada. Desejam exercer esta respon
sabilidade em colaborado Intima com os Superiores Malores religiosos.
30. Os membros do Sínodo exprimem a sua preocupacSo quanto a
(alta de novicos. Tudo se propSem fazer para a Igreja e as comunidades
cristas favorecerem que se oucam os chamamentos de Oeus á vida con
sagrada e se responda generosamente a tais chamamentos.
31. Os Bispos neerlandeses apreciam mais que nunca a ajuda direta
que Ihes trazem os Religiosos na pastoral, assim como a irradiacáo espi
ritual das abadías e dos conventos de vida contemplativa. Felicüam-se das
SÍNODO DOS BISPOS HOLANDESES: CONCLUSAO 19

relajees que existem entre a Conferencia e as quatro Assembléias de Su


periores Matares.
32. A propósito do que se chama as vezes integragáo afetiva, os
membros do Sfnodo veril¡cam que a expressáo é objeto de interpretares
ambiguas. Reconhecem a importancia da sá afetlvidade, compreendida no
sentido de cordialidade e fraternidade ñas relagoes entre pessoas. Refe-
rem-se a Sao Paulo e a Sao Joao para sublinhar que, bem compreendido,
o amor a Deus e a Ciisto. no Espiíito, muito pode contribuir para ¿atis-
lazer á necessidade de afeicáo no amor fraterno. Quanto a urna especie
de terceira via, vivida como estado ambiguo entre celibato e casamento,
os membros do Sinodo sao unánimes em rejeitá-la.

IV
a) Os Leigos
33. Os membros do Sfnodo tém consciéncia da notável parte que
os Leigos tomam no trabalho pastoral da Igieja. Prestam homenagem reco-
nhecioa aos milhares de Leigos que, sem remunetacao, participam com
regulaiidade e de multas maneiras em diversas atividades em materia de
lituigia, acáo social, catequese de enancas e adultos, trocas e ajuda mutua
e promocáo da justica e da paz. Estes Leigos esforcam-se por tornar a
Igreja presente num mundo secularizado, isto multas vezes em circunstan
cias difíceis. O Sfnodo exprime também viva gratidio aos numerosos cris-
tSos — especialmente doentes e pessoas idosas — que sustentan» as ati
vidades da Igreja com oracSo e sacrificios.
As diretrizes Indicadas abaixo, que se referem aos trabalhadores pas-
torais, apenas serSo fecundas se os numerosos Leigos, atualmente atlvos
na pastoral, continuaren! a oferecer esta colaboracáo.
34. Quanto aoos grupos críticos, os membros do Sínodo — sem Igno
rar que tais grupos compreendem também Sacerdotes e Religiosos —
verificam que estes grupos exercem pressáo por vezes demasiada sobre a
vida da Igreja. O mesmo se diga de varios periódicos e doutras formas
de publicidade. Esta critica provém de melos opostos entre si, por um lado,
de grupos progressistas, por outro, de grupos conservadores.
Os Bispos reconhecem que as críticas feitas sao em parte fundadas
e vém as vezes acompanhadas de votos razoáveis e de estimulantes útels
para a pastoral.
A influencia destas criticas é negativa quando há generalizado, fana
tismo, agressividade, pressao, recusa de diálogo e ataques injustos contra
pessoas e instüuigóes da Igreja. Provocam entao polarizacáo e prejudicam
o exercicio da func§o episcopal e a comunháo entre os fiéis; minam a
atmosfera de amor fraterno e de alegria que deve caracterizar a vida crista.
Os Bispos querem conservar contatos com estes grupos na espe
ranza de poderem desempenhar papel moderador e para se manterem infor
mados de maneira direta. Mas propóem-se igualmente denunciar os
desvios no que diz respeito á fé e á disciplina da Igreja, para que se
manifesté a verdadelra cemunháo.

b) Os trabalhadores pastoráis
35. O Sinodo propñe-se instituir urna ComissSo episcopal com o
flm de estudar as diversas formas concretas que pode tomar a atividade
dos Leigos ñas tarefas pastorais da Igreja. Esta Comissáo analisará as

— 195 _
20 fKHGUNTfc: K HES1JONDERKMOS> 245/1980

atividades desenvolvidas pelos Leigos neste campo, em particular o exer-


cicio profesional destas atividades.

36. No seu trabalho, a Comissao terá de por em realce:

a) a distincáo entre as tarefas pastorais respectivas do Sacerdote,


do Diácono e do Leigo;

b) a oportunidade de um compromisso no camlnho do díaconado,


dadas a tarefa especifica e a importancia deste ministerio permanente, tal
como foi restaurado pelo Vaticano II (L.G., 29);

c) as tarefas especificas que sao confiadas ao Leigo na Igreja


(em especia! quando o sao a tempo completo e de maneira permanente),
especificando que nao se trata de um novo oficio ou ministerio — como
o leltorado e o acolitado —, nem de urna funcáo permanente de alcance
global, para evitar a enaguo de um clero paralelo, que se apresentasse
como alternativa ao sacerdocio e ao diaconado. Ter-se-á cuidado de que
urna possfvel apresentacio á comunidade nao revista o caráter de instala-
$áo no ministerio.

Em tudo isto, basear-se-á a Comissao nos documentos conciliares


(em especial L.G., 33, e A.A., 24), asslm como nos documentos da Sa
grada Congregado para os Sacramentos e o Culto Divino (particularmente
Immensae Carilalis de 29.1.73 e a carta aos Bispos su feos de 17.7.79)
e da Sagrada Congregado para a Doutrina da Fé (carta de 5.3.79).

Os Bispos neerlandeses, por outro lado, tém já aiguma experiencia


de que estes Leigos podem ser colaboradores apreclavéis.
37. No que respeita aos Sacerdotes dispensados da obrigacSo do
celibato, alguns exercem cargos no ensino ou na pastoral.
O Sínodo dos Bispos de 1971 diz: "O sacerdote que abandonou o
exerefeio do seu ministerio, deve ser tratado com justiga e fraternalmente;
aínda que possa prestar auxilio no servlgo da Igreja, nao deve contudo
ser admitido a exrecer fuuncóes sacerdotais" (2? parte, 4, R, no fim). De
acordó com estas indícacSes dadas pela Santa Sé, o presente Sinodo
decide o que segué:

1. a situacio deles será regularizada á luz das instrucSes da Sa


grada Congregagáo para a Doutrina da Fé (em especial, as de 1971 e 1972);

2. todavía tal regularizado nem sempre se poderá fazer de um dia


para o outro, pois deverá ter conta das pessoas e das circunstancias;
- -^xj
3. esta regularizado será portante confiada á prudencia pastoral do
Bispo do lugar (ajudado pelos Conselhos da Comissao episcopal encarre-
gada da questáo dos "trabalhadores pastorais" e pelos Conselhos da Con
ferencia episcopal).

ALGUNS SETORES DA VIDA ECIESIAL

Estes seto res foram percorrldos no fim do Sínodo a tftulo de exem-


plos e de maneira necessariamente mais sumaria.

— 196 —
SÍNODO DOS BISPOS HOLANDESES: CONCLUSAO 21

38. Estar unido a Cristo, viver n'Ele, é primeiro que tudo crer na
Sua Palavra, mas ó também participar nos sacramentos da fé. Pela graca
sacramental, Cristo faz-nos dom de SI mesmo, para nos darmos frutos
(cf. Jo 15,5).

39. Isto é verdade, a titulo único, da Eucaristía. Recebando o


Corpo e o Sangue de Cristo, entramos em comunháo com Ele, e, por Ele,
com o Pal, e também com os nossos Irmáos e nossas irmás. Por isso,
durante a celebracao eucarlstica, veneramos com respeito os dons consa
grados. Adoramos também Cristo na Santa Reserva. Para podermos viver
com Cristo, a Igreja pede aos fiéis que tomem parte na celebracáo euca
rlstica — o Sacrificio perfeito de louvor — pelo menos cada domingo e
ñas testas de obrigacSo.

40. A maneira da Palavra de Deus, sao confiados os sacromeltos


á Igreja. A regulamentacao da liturgia depende únicamente da autoiidade
da Igreja. Esta regulamentacao pertence á Sé Apostólica, e na medida em
que o autorlzam as normas canónicas, ao Bispo, tendo em conta certas
competencias atribuidas pelo Direlto á Conferencia Episcopal (cf S.C.,
22, 1 e 2).

A liturgia é bem comum da igreja inteira; exprime a perfeita adora-


cao ofereclda em Cristo ao Pal, e une-nos no Espirito Santo. É por flde-
lidade a Cristo e á Igreja que ó preciso celebrar a liturgia em plena con-
formldade com os livros oficiáis, renovados segundo a linha do Vaticano II
(cf. S.C.), usando as largas possibilldades de adaptacfio previstas por
estes livros mesmos.

41. Para termos parte na salvarlo que nos foi trazida por Jesús
Cristo, precisamos de ser libertados do pecado e reestabelecldos numa
plena comunhSo de amor com o Pai e com os nossos irmáos e Irmas, é
já um dos efeitos do batismo, e este efeito renova-se e aprofunda-se, em
seguida, no sacramento da reconclllagao.
42. Esta reconciliacSo com o Pai e com a Igreja pressupfie a con-
flssño das nossas faltas pessoais e urna vontade sincera de conversáo.
Apesar do atual desafeto pela confissáo individual, es Bispos pedem aos
Sacerdotes que tenham a bondade, na pregacao e na catequese, de res
taurar a estima dos fiéis pelo sacramento da reconciliacáo. Pedem-lhes,
em especial, que se mostrem disponiveis a todos para a confissáo, sobre
tudo em forma de coloquio pessoal e a horas determinadas, e aínda que
aos jovens queiram ensinar como se h§o de confessar. Manifestara a
esperanca de restituir também o seu lugar, na vida dos fiéis, á confissáo
Individual, que é o meló único ordinario de os reconciliar com Deus e
com os seus irmáos e Irmas na fé. A absolvicao coletlva é meio extraor
dinario, que o Bispo nao pode permitir senáo ñas condijóes prescritas pelo
novo rito do sacramento da reconcilía;9o.
43. Os membros do Sínodo exprlmem a sua gratldáo ao grande
número de catequistas que exercem fielmente o seu apostolado e encon-
tram enormes dificuldades num mundo secularizado.
44. Pelo que se refere ao conteúdo da catequese, os Bispos subli-
nham que a fé vivida da Igreja universal deve ser expressa. Cuanto ao
método pedagógico, eta deve adaptar-se ao caráter, ás aptldaes, á ioade
e ás condicSes de vida dos ouvintes (cf. C.D., 14). Nisto sao legitimas
certa busca e urna prudente experlmentacao, como é também necessário
um diálogo paciente e confiante com os especialistas.

— 197 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 245/1980

45. Na qualidade de prlmeíros responsáveis pela catequese, os Bls-


pos tém em vista a preparacio de bons textos para a catequese e de
ligóos baseadas no Diretório catequético geral, em documentos do Sínodo
de 1977 e na Exortacao Apostólica Calechesi tradendae. Apelando embora
para a colaboracáo de peiitos e de organismos especializados, os Bispos
desejam, nesta materia como noutras, exercer pessoalmente o seu papel
de doctores fldei.

46. Os Bispos promovem vivamente a acao ecuménica como grave


dever derivante, em especial, do Vaticano II. Insistem na importancia da
oracáo e na esséncia profundamente espiritual da acáo ecuménica. É
eclesial de pleno direito: na origem, na natureza e na linalidade. O seu
objetivo é chegar nao apenas a um menor denominador comum, mas pelo
contráiio á plenitude da fé. Por isso, esta agao ecuménica seía mamida
pelos Bispos, que velaráo por que ela tenha em conta as exigencias da
fé, que nos recorda em particular que a Intercomunháo entie ¡rmaos sepa
rados nao é a resposta ao apelo de Cristo para a unidade perteKa. tsta
unidade perfeita permanece objeto dos nossos esiorcos e de urna espe
ranza fundada na oracáo do própiio Cristo: "Para que todos sejam um só"
(Jo 17,21) (cf. Discurso de Joao Paulo II aos Bispos amei¡canos, 5 de
outubro de 1979).

EPILOGO
£ claro que nio tratamos todos os problemas que se apresentam na
Igreja de hoje nos Países-Baixos. A escolha dos assuntos foi indicada por
aquilo que foi o nosso ponto de vista principal, quer dizer, a comunháo, e
atendeu-se ás possibilidades que um Sínodo nos podia apresentar.

Falando de comunhSo, nSo talamos únicamente de urna graca já dada,


mas lambém de um dever que é preciso cumprir. Sobre o fundamento da
comunháo já existente, temos de realizar juntos o mandamento novo do
amor mutuo (cf. Jo 13,34).

lAssim a Igreja, pondo ao servico de todo o género humano o Evan-


gelho da paz (cf. Ef 2,17-18; Me 16,15), completa na esperanca a sua
peregrinado para o termo que é a patria celeste (cf. 1 Ped 1,3-9)
(U.R., 2).

II. COMENTARIO
Poremos, a seguir, em relevo os pontos que mais impor
tantes parecem no Documento conclusivo do Sínodo dos Bis
pos holandeses. Tais pontos respondem a questóes c proble
mas que eram levantados nao só na Holanda, mas sao formu
lados, com maior ou menor intensidade, na Igreja inteira.

Como se vé, o Documento consta de urna Introducto, de


cinco partes (em 46 parágrafos) e de um Epílogo.

1) Na Introdugáo importa realcar a énfase posta sobre


a comunháo, sem a qual nao há Igreja. Precisamente para que
tal comunháo nao se rompa definitivamente em conseqüéncia

— 198 —
S1NOIX) DOS BISPOS HOLANDESES: CONCLUSAO 23

de violagóes aparentemente secundarias e paulatinas, os Bis-


pos sentem-se obligados a intervir na vida dos fiéis dos Paí-
ses-Baixos, lembrando-lhes alguns tópicos nos quais a fé exige
unanimidade da parte dos clérigos e dos leigos.

2) A primeira parte do Documento refere-se aos Bis-


pos, pondo em relevo a necessidade de unidade entre os mes-
mos no tocante a todos os. pontos de fé e de moral que o ma
gisterio da Igreja imponha. Em particular, merece a atengáo
do leitor o parágrafo 14, no qual sao enumerados alguns meios
concretos de fomentar a unidade.

3) No locante á fé, os bispos holandeses fazem urna pro-


fissáo global de todos os artigos da mensagem evangélica tal
como é ensinada pelo Papa e pela Igreja .universal. Dado o
peso desta profissáo, transcrevemo-la literalmente:
"Os bispos professam concordancia sobre o conteúdo da fé católica
segundo o ensinamenlo da Igreja Católica Romana. Expressam a sua plena
e inteira comunhao com o Papa, Bispo de Roma e Pastor supremo da
Igreja universal, assim como a sua fé na constltuiclo hierárquica da Igreja.
Nem os bispos nem os sacerdotes sao delegados dos fiéis, mas, slm, minis
tros de Jesús Cristo ao servigo da comunidade ecleslal" (n<? 3).

4) «O ponto de partida e a fonte objetiva da fé estáo na


Revelacáo Divina» (n« 4). Isto é dito a fim de dissipar a tese
dos que exaltam a experiencia da fé (mesmo quando contraria
aos ensinamentos objetivos da Igreja). Daí as palavras dos
padres sinodais nos incisos 5-10.

5) Sobre a catequesc os bispos tornam a falar nos pará


grafos 43-45, acentuando que «a fé vivida da Igreja universal
deve ser expressa» (n? 44) e preconizando a redagáo de ma-
nuais de instrugáo religiosa adequados, a fim de remover cate
cismos nao aprovados, dos quais alguns sao portadores de
erros doutrinários (n' 45).

G) A segunda parte do Documento trata dos sacerdotes


(parágrafos 17-28).

Este foi um dos setores mais abalados pela crise pós-con-


ciliar. Sao notorias as muitas defeegóes ocorridas nos últimos
anos, a baixa espantosa do número de vocacóes, a insistencia
em favor do casamento dos sacerdotes, o aproveitamento de
sacerdotes dispensados de seu ministerio em funcóes nao per
mitidas pela Santa Sé, o fechamento dos Seminarios e Estu-
dantados Religiosos em vista de urna formacáo menos siste
mática, mas, na verdade, insuficiente; a tendencia a urna espé-

— 199 —
24 ¿PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 245/1980

cíe de sacerdocio temporario por designagáo e delegagáo das


comunidades a aiguns de seus membros; o apagamento do papel
do sacerdote pela insergáo do leigo em fungóes que nao lhes
tocam de maneira ordinaria (administragáo do batismo, da
comunháo eucarística, e, por vezes, da ungáo dos enfermos)
ou em fungóes que sao tipicamente sacerdotais (pregagáo du
rante a Missa, participagáo ativa e habitual em parte da Missa
reservada exclusivamente ao sacerdote...).

A raiz de tais inconvenientes foi identificada: consiste na


falta de clareza sobre a genuína índole do sacerdocio ministe
rial. Por isto, os padres sinodais foram «unánimes em pro-
fessar a distingáo essencial entre o sacerdocio ministerial ou
sacramental e o sacerdocio comum dos fiéis batizados e em
querer velar pelas conseqüéncias práticas que daí resultam»
(tí> 17).

Por isto também «os membros do Sínodo professam com


a mesma unanimidade o caráter permanente do sacerdocio
ministerial» (n* 18).

7) Quanto ao celibato sacerdotal — contra o qual se


pronunciara o Sínodo pastoral holandés em 1970, na sua 5» As-
sembléia Plenária, provocando intervengóes de Paulo VI —,
os padres sinodais se declararam «todos persuadidos de que o
celibato em vista do Reino dos ccus constitui grande bem para
a Igreja. Sao unánimes na vontade de seguir fielmente as
decisóes dos Papas relativas á conservagáo da regra do celi
bato. Os Bispos esperam encontrar número suficiente de
sacerdotes» (n"> 21).

Este parágrafo professa nao somente a confianga dos


Bispos nos valores sobrenaturais, mas também a conviegáo de
que as genuínas vocagóes nao se obtém oferecendo-se aos jo-
vens meias-medidas ou ideal esvaziado de seu conteúdo mais
exigente.

8) O Sínodo alude também as associacoes de sacerdotes


constituidas á semelhanga de sindicatos destinados a propug
nar interesses classistas, reivindicagóes, campanhas, etc., frente
aos bispos ou á Santa Sé. — Outras deveráo ser as vias que
o clero trilhará para tutelar seus legítimos pontos de vista
(cf. n« 24).

9) A propósito da formacao dos sacerdotes, os bispos


voltaram sua atencáo para os Institutos de Teología da Ho-

__ 200 —
SÍNODO DOS BISPOS HOLANDESES: CONCLUSAO 25

landa, fundados para substituir os seminarios. Tais Institutos


apenas atendem á formagáo intelectual dos seus alunos, que
em grande parte sao pessoas do sexo feminino; muitos dos
rapazes que ai estudam, nao se decidem a abragar o sacerdo
cio celibatário. Em contra-parte, o Seminario de Rolduc, fun
dado pelo Bispo D. Gijsen, segué linhas mais clássicas de for
magáo, atendendo outrossim ao preparo espiritual e á vida
interior dos estudantes: conta com cerca de oitenta alunos de
Filosofía e Teología (número relativamente elevado), aos quaís
é ministrada urna formacáo integral, de acordó com as nor
mas do II Concilio do Vaticano. Cf. n.os 25-28.

10) No tocante aos Religiosos, os Bispos exprimem-lhes


o seu apreco na terceira parte do documento (n.08 29-32). De
modo especial, voltam sua atengáo para o problema da «ter
ceira vía», ou seja, para um tipo de relacionamento entre Re
ligiosos e Religiosas que permitiría livre expansáo de afetos
com exclusáo táo somente das relagóes sexuais. Cf. n. 32.

11) A quarta parte do Documento trata dos leigos


(n.°s 33-37).

A propósito vem o caso dos chamados «grupos críticos» e


dos que, como católicos, trabalham na imprensa, no radio e na
televisáo. Exercem, por vezes, pressáo moral sobre os bispos
e as instituigócs da Igreja, agredindo-os ora em nome do pro-
gressismo, ora em nome do conservadorismo. Tais procedi-
mentos, quando generalizadores e fanáticos, sao nocivos á vida
da Igreja, embora muitas tías criticas assim feitas sejam fun
dadas e tenham fungáo estimulante; cf. n" 34.

12) Os agentes de pastoral (leigos que, por vezes, dáo


seu tempo integral ao servigo da Igreja) merecem calorosos
elogios da parte dos padres sinodais. Todavía estes desejam
delimitar com precisáo as tarefas dos leigos e as dos clérigos
(diáconos e presbíteros) a fim de que nao haja invasáo de
áreas. Isto acontece quando se véem leigos que exercem ordi
nariamente funcóes próprias dos clérigos ou habitualmente
reservadas a estes; constituem assim quase um «clero para
lelo», que contribui para atenuar a distingáo existente entre o
sacerdocio ministerial e o sacerdocio comum dos fiéis — o que
redunda em desestímulo para as vocagóes diaconais e presbi-
teriais; cf. n.os 35s.

13) No que concerne a sacerdotes dispensados das obri-


gacóes presbitcrais, mas colocados em fungóes do magisterio

— 201 —
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 245/19S0

teológico ou da pastoral, o Sínodo tem em mira ater-se fiel


mente as instituicóes da Santa Sé, que sao contrarias a tal
procedimento. Todavía os Bispos, ao desligarem de tais fun-
cóes os referidos sacerdotes, levaráo em conta cada pessoa e
as respectivas circunstancias para evitar tratamento desumano
ou descaridoso; cf. n11 37.

14J A quinta parte aborda alguns setores da vida ecle-


sial (n.os 38-46).

Em primeiro lugar, vem o culto da S. Eucaristía, O culto


ao SS. Sacramento tora da Missa se enfraqueceu na Holanda,
notando-se mesmo pouco respeito para com as hostias consa
gradas, após a distribuigáo da S. Comunháo. Diante disto, os
padres sinodais afirmam:

"Recebendo o Corpo e o Sangue de Cristo, entramos em comunháo


com Ele, e, por Ele, com o Pai, e tamDém com os nossos irmáos e nossas
irmás. Por isso, durante a celebracáo eucarística, veneramos com respeito
os dons consagrados. Adoramos também Cristo na Santa Reserva. Para
podermos viver com Cristo, a Igreja pede aos fiéis que tomem parte na
celebracio eucartslica — o Saciilicio perfeito de louvor — pelo menos
cada domingo e ñas festas de obrigacáo" (n° 33).

Merece relevo a reafirmac.áo do preceito referente á par


ticipado da S. Missa nos domingos o ñas festas de obrigagáo.

No setor litúrgico, a criaüvidade suscitou serios abusos,


alimentados por programas do televisáo, livros litúrgicos nao
aprovados, arbitrariedades subjetivas dos celebrantes e dos
fiéis... Foi o que inspirou aos padres sinodais as observagóes
do inciso n' 40.

15) A respeito da Confíssáo Sacramental, nota-se que na


Holanda deixou, quase por completo, de ser praticada. Mui-
tos jovens parecem ignorá-la totalmente; os catecismos nao a
mencionam, os sacerdotes nao a querem ministrar, muitas igre-
jas já nao tém confessionários. Somente nos conventos e ñas
Casas Religiosas parece ainda ser praticada. Em conseqüén-
cia, o próprio sentido de pecado se vai obnubilando na mente
dos fiéis. Donde as palavras dos bispos holandeses:

"Apesar do atual desafeto pela conflssao individual, os Bispos pedem


aos Sacerdotes que tenham a bondade, na pregacüo e na catequese, de
restaurar a estima dos deis pelo sacramento da reconciliagáo. Pedem-lhes,
em especial, que se mostrem disponiveis a todos para a conlissSo, sobre-
ludo em forma de coloquio pessoal e a horas determinadas, e ainda que aos
|ovens queiram ensinar como so hSo de confessar. Manifestam a espe
rarla de restituir também o seu lugar, na vida dos fiéis, á cor.fissao indi-

— 202 --
SIN01 >OJT)OS BISPOS HOLANDESES: CONCLUSÁO - 27

vidual, que é o meio único ordinario de os reconciliar com Deus e com


os seus irm3os na fé. A absolvicSo coletiva é meló extraordinario, que o
Bispo nao pode permitir senáo ñas condicdes prescritas pelo novo rito do
sacramento da reconciliacSo" (n? 42).

1(>) Com referencia ao ecunienismo (movimento de re-


-uniáo dos cristáos separados), há problemas na Holanda
(como, alias, em outros países). Os matrimonios mistos (en
tre católicos e protestantes) váo-se multiplicando — o que
muiías vezes redunda em detrimento da fé dos esposos e da
prole. Registram-se «celebrares alternativas»: em algumas
cápelas universitarias, o mesmo rito eucarístico num domingo
é celebrado por um sacerdote católico e no outro por um pas
tor protestante, frente a urna asscmbléia mista de católicos e
protestantes. Pratica-se a «intercomunháo sacramental», jsto
é, a Eucaristía, que é o sinal visível da unidade da fé, é dis
tribuida indistintamente a católicos e protestantes antes que
estes tenham chagado a tal unidade... Em conseqüéncia, os
padres sinodais prodamaram:

"Os Bispos promovem vivamente a acáo ecuménica. O seu objetivo é


chegar nao apenas a um menor denominador comum, mas, pelo contrario,
á plenitude da fé. Por isso, esta acáo ecuménica será mantida oelos Bis
pos, que velaiüo por que ela tenha fcm conta as exigencias da fé, que nos
rccotda em particular que a intercomunhao entre irmaos separados nao é
a resposta ao apelo de Cristo para a unidade perfeita" (n? 46).

Kíii conclusivo, verifica-so que o Sínodo dos Bispos Holan


deses cm Roma atingiu, ao menos teóricamente, todos os obje
tivos propostos. Os pontos nevrálgicos e controvertidos foram
encarados com sinceridade e espirito de fé, resultando daí una-
nimidade entre os Bispos que nem sempre concordavam entre
si. O Espirito de Dous agiu assim mais urna vez na sua Igreja,
realizando obra que, á primeira vista, era muito ardua, por
que fácilmente sujeita a pressóes e correntes passionais ou
fanáticas. O episcopado holandés deu um testemunho de fé
que há de ser válido modelo para todas as demais Conferen
cias Episcopais afetadas pelos problemas e as tensóes da hora
presente.

Compete agora a todos os fiéis contribuir pela oracáo


para que a obra concebida e redigida no Documento Conclu
sivo do Sínodo seja fielmente traduzida em atos e realizagóes
na Igreja dos Países-Baixos.

E que assim a sabedoria e a gloria do Senhor mais se


manifestem no mundo!

— 203 —
Mals urna palavra de Roma sobre

absolvicáo coletiva: abusos

Era sintese: Val aqui transcrita urna Carta da S. Congregagéo para os


Sacramentos e o Culto Divino enviada aos Srs. Bispos do Brasil a fim de
recomendar a fiel observancia das normas da Santa Sé relativas á conces-
sSo de absolvlc&o coletiva. Esta nio pode ser outorgada senBo em días
previamente estipulados pelo Sr. Blspo diocesano (que pode fambém |ul-
gá-la desnecessária em sua dlocese) dentro de determinadas condicñes e
com a obrlgacSo, para os fiéis, de confessarem oportunamente (no má
ximo, dentro do prazo de um ano) os pecados Já absolvidos. Cabe aos
sacerdotes ter exato conheclmento de tais normas e Instruir a respeito os
fiéis na parte que Ihes diz respeito.

Comentario: A Santa Sé, mediante a S. Congregacáo para


os Sacramentos e o Culto Divino, tem acompanhado a praxe
concernente á absolvigáo coletiva em varias partes do Brasil,
onde se tém verificado abusos ou o recurso indiscriminado a
tal faculdade. Eis por que a mesma S. Congregagáo houve por
bem enviar a respeito urna carta ao Presidente da Conferencia
Nacional dos Bispos do Brasil solicitando sejam as normas da
Igreja devidamente postas em prática onde vém sendo prete
ridas. O documento, em sua simplicidade, é de alto signifi
cado, pois supóe graves abusos em materia importante, que
toca de perto a fé mesma do povo de Deus. Este, nao sendo
devidamente instruido pelos seus ministros, pode ir conce-
bendo nogóes heterodoxas referentes á remissáo dos pecados.
Visto que os Bispos sao os «doctores fidei» ou os mestres da
fé instituidos por Cristo, a estes toca zelar para que ñas paró-
quias e cápelas de suas dioceses nao se cometam os males
apontados.

O teor da carta interessa nao só ao clero, mas a todo o


povo de Deus, pois este precisa de conhecer com exatidáo o
pensamento oficial da Igreja, para que possa exercer a sua
corresponsabilidade na guarda intata da reta fé e da praxe
sacramentaría.

A carta em foco foi publicada em italiano na revista


«Comunicado Mensal» da Conferencia Nacional dos Bispos do

— 204 —
ABSOLVICAO COLETIVA: ABUSOS 29

Brasil, dezembro de 1979, n» 327, pp. 1186-1190. Traduzido


para o portugués, esse documento foi divulgado por mais de
um periódico de circulacáo diocesana, por ordem do respectivo
Bispo.

Tais observagóes justificam a reproducáo do importante


documento neste número de PR.

Romo, 22 de novembro de 1979

Prot. n« 1796/79

A Sua Excelencia Revma,

Dom Ivo José Lorscheíter

Presidente da CNBB

Excelencia Reverendíssima

Novamente, tivemos noticia de certos abusos que se estariam


difundindo nalgumas regíóes do Brasil, concernentes a materias que
interessam a esta Congregacao, entre as quais ressalta a obsolvicao
coletiva, que se daría sem ter em conta as devidas condicóes.

Em primeiro lugar, se deve recordar que «a íntegra confissáo


individual e a absolvicao continuam sendo a única forma ordinaria
de reconciliacáo dos fiéis com Deus e a lgre¡a, a nao ser que urna
impossibilidade física ou moral dispense desta confíssáo» (cf. «Nor-
mae pastorales eirea absolutionem sacramentalem general! modo
Impertiendam» de 16 de ¡unho de 1972, da Sagrada Congregacao
para a Doutrina da Fé, N.I.).

No que respeita a absolvicáo coletiva, no mesmo documento


supra citado, nos respectivos NN. II e III se diz textualmente :

N. II. «Pode suceder, eom efelto, que circunstancias particula


res tornem lícito, e alé necessério, conceder a absolvicáo geral a
varios penitentes sem previa confissáo individual.

Isto pode acontecer principalmente quando existe perigo de


morte iminente e nao ha tempo para que o sacerdote ou os sacer-

— 205 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 245/1980

dotes, mesmo presentes, ouc.am a eonfissáo de cada um dos fiéis.


Neste caso, qvalauer sacerdote tetn a faculdade de absolver colelfi-
vamente. denois de brevíssimo exortac.áo, caso o tempo o permita,
para que cada um fac.a o ato de contr¡(6o.

M. III. Foro os caros de pcrigo de morte, é lícito dar coleti-


vamente a absolv¡;5o sacramental aos fiéis que se confessaram
somente de modo geral, mas foram convenientemente exorlados ao
arrependhnento, desde que hala grave neeessidade, a saber:
quando, por cauro do grande número de penitentes, nao ha con-
fessores suficientes para ouvir as confissóes de cada um dentro de
espado de tempo razoável, de tal modo que os penitentes, sem
culpa própria, fica-iam forcados a ficar sem a gra$a sacramental
ou sem a Sagrada ComunhSo por muito tempo. Isto pode acontecer
principalmente «m torras de m'ssóes, mas também em outros tugares
c por ocasiáo de grandes assembléias sujeitas as condicoes atrás
descritas.

Todavía a absolvicáo coletiva nao é líoita, desde que possa


haver confessores disponíveis, somente pelo fato de haver grande
concurso de penitentes, como acontece, por exemplo, ñas grandes
festividades ou ñas peregrinasSes».

A absolvicáo coletiva, portanto, nao é lícita se nao se verificam


simultáneamente as tres condicoes: 1) grande afluencia de peni
tentes; 2) número insuficiente de sacerdotes confessores presentes;
3) os penitentes deveríam, sem culpa própria, permanecer privados,
por longo tempo, Óa graca sacramental ou da Santo Comunhfio.

Também se deve recordar que, quando se administra licita


mente a absolvicáo coletiva, é necessárío advertir os fiéis sobre a
obrigacao de confessar privadamente os pecados graves absolvidos,
antes de receber urna segunda absolvicáo geral.

Merece ser recordado ainda o N' IV das supramencionadas


«Normas Pastoraís» :

«Os Ordinarios e, na parte que Ihes toca, os sacerdotes devem


acautelarse a fim de que nao diminua o número de confessores por
motivo de alguns sacerdotes se omltirem neste insigne ministerio,
seja porque se entregam aos afazeres temporais, seja porque se
dáo a outros ministerios menos necessários, que possam ser desem-
penhados por diáconos ou leigos idóneos».

Vejam, pois, os Bispos dessa NacSo o modo de suscitar pru


dentemente o zelo pastoral nos seus sacerdotes para que, de urna

— 206 —
ABSOLVICAO COLETIVA: ABUSOS 31

parte, a absolvícáo coletiva se¡a dada nos casos previstos pela


Santa Sé através de suas disposicSes oficiáis, e só naqueles, e de
outra parte a confissao sacramental inidivíduai, que tanto bem
continua a fazer aos fiéis, recupere a posicao tradicional.

Chegou-nos, ademáis, ao conhecimento que sao muitos os que


comungam e poucos os que procuram o Sacramento da Penitencia,
e que recebem a Eucaristía também pessoas conhecídas como casa
das (só) civilmente, concubinos ou outras especies de pecadores
públicos.

Portanto, este Dicastério, ao qual incumbe o dever de vigiar


pela reta administracao dos Sacramentos, pede aos Exmos. Bispos
do Brasil procurem que sejam eliminados os escándalos também
neste setor e que esclarecam os fiéis para que se aproximem do Ban
quete Eucarístico com as devidas disposfcóes, recordando-lhes os
ensinamentos da Igreja a respeito.

Bem sabe Vossa Excelencia que a Instrucáo «Eucharisticum


Mysterium», emanada da Sagrada CongregacSo dos Ritos a 25
de maio de 1967, em seu n' 35 comenta a conhecida expressao de
Sao Paulo ¡ «Examine-se o homem a si mesmo» (ICor 11,28), refe-
rindo a palavra do Concilio de Trento, sessáo XIII, capitulo 7:

«A Tradicáo da lgre¡a declara que aquele exame é necessarto


para que ninguém, consciente do seu pecado mortal, ainda que se
julgue arrependido, ouse aproxtmar-se da Sagrada Eucaristía, sem
antes se ter confessado».

Com a esperanca de haver ajudado fraternalmente os Bispos


do Brasil a restaurar muito em breve a vida sacramental conforme
as disposicóes oficiáis da Santa Sé, aguardamos também saber
quanto antes os frutos obtidos.

Valho-me da circunstancia para confirmar-me com sentimentos


de distinta estima

de V. Excia. Revma.

devotissimo

James Card. Knox, [ «¿^

Prefeito

— 207 —
32 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 245/1980

Dada a clareza do documento ácima, nao lhe acrescenta-


mos comentario. Apenas parece oportuno ainda observar que
os casos previstos pelo n» III de «Normae pastorales...» atrás
transcrito sao casos que cada Bispo diocesano deve identificar
e definir dentro das circunstancias próprias de sua diocese;
nao cabe, pois, aos sacerdotes dar absolvicáo sacramental cole-
tiva era algum domingo ou solenidade por julgarem que em
tal dia ha grande afluencia de fiéis sem possibilidade de aten-
dimento pessoal e com o perigo de ficarem muito tempo pri
vados dos sacramentos. Quem deve de antemáo prever tais
ocasióes, é o Bispo diocesano, precisamente a fim de evitar
abusos e improvisacóes. Note-se também que em algumas dio-
ceses pode nao haver necessidade de conceder absolvicáo cole-
tiva por penuria de sacerdotes confessores. Em outras, tal
indigencia verificar-se-á talvez na Semana Santa, talvez no
Natal e/ou em outras ocasióes que a configuragáo local aponte.

Nao se pode deixar ainda de sublinhar que, ao conceder


a absolvigño coletiva, o sacerdote deve instruir os fiéis a res-
peito da necessidade de confessarem pessoalmente os pecados
graves assim remetidos dentro do prazo máximo de um ano
(o porqué desta exigencia é exposto no primeiro artigo abaixo
citado).

Veja-se a propósito:

PR 242/1980, pp. 56-70 I

PR 154/1972, pp. 435-442 ;

PR 175/1974, pp. 289-303.

— 208
Mals urna vez...

"os homossexuais"

por Marc Daniel e André Baudry

£m sfnlese: O llvro "Os homossexuais" de Marc Daniel e Andró


Baudry aprésenla o homossexuallsmo como fato aceitável, que deveria me
recer estatuto oficial da parte da socledade, sem o qué as pessoas homos
sexuais serSo sempre infetlzes. Para postular este reconheclmento, os
autores recorrem a escala de Klnsey, segundo a qual a translcfio da hete-
rossexualidade para a homossexualldade se (az por seis degraus; há, pols,
Individuos quo normalmente sSo bivalentes e existe contlnuidade entre 09
dols extremos da oseólo.

A esta tese respondemos que, no plano biológico, o feto é inicial-


mente Indlferenclado. Mas após o prlmeiro mes corneja a formar os seus
caracteres sexuals, a tal ponto que assume sexo bem definido. Ora a con-
ílguracfio biológica é decisiva para a Identlflcacáo sexual do individuo.
O psiqulsmo deste corresponde normalmente & estrutura biológica res
pectiva; toca mesmo a cada pessoa o Imperativo ético de se autoeducar
segundo a tipología do seu sexo. Se alguém nao o consegue, mas, ao
contrario, aprésenla inclinacñés homossexuais, tal pessoa é vitlma de urna
anomalía ou aberracáo da natureza (como existem a ceguelra de nascenca,
a hemofilia ou doenca do sangue e outras). O caso de tal pessoa, embora
nio seja normal, nao é necessariamente pecaminoso; na verdade, pode
um individuo homossexual fazer sincero esforco para nao ceder as Incli-
naedes aberrantes e tentar levar vida reía, entregue ao trabalho, á arte,
ao esporte...

Donde se ve que os homossexuais merecem ser tratados com cari-


dade e benevolencia, a flm de que possam mals fácilmente evitar prátlca9
anómalas. Essa benevolencia, porém, nSo significa legltlmacSo de com-
portamentos antinatural.

Comentario: Em PR já foi, mais de urna vez, abordado o


tema «homossexualismo». Este ocorre de novo em nossas pági
nas a propósito de um livro escrito por autores professada-
mente homossexuais, dispostos a pleitear, da parte da socie-
dade, o reconhecimento oficial do fenómeno como algo nor
mal; cf. Os homossexuais, por Marc Daniel e André Baudry.
Tradugáo de J. Dart. Ed. Artenova, Rio de Janeiro, 1971,
173 pp., 137 X 210 rara,

— 209 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 245/1980

É, sem dúvida, interessante conhecer a argumentagáo de


tais autores. Em vista disto, resumi-la-emos ñas páginas sub-
seqüentes, acrescentando-lhe alguns comentarios.

1. O conteúdo do livro

A obra comega registrando o fato de que o homossexua-


lismo é assunto tabú, do qual a sociedade nao costuma falar,
por julgar que se trata de algo de anormal e contrario á
natureza.

Os autores, porém, tencionam remover este «preconceito»


da parte da sociedade contemporánea, fazendo valer o seguinte
arrazoado:

Em 1948 o relatório Kinsey (devido ao Dr. Alfredo Kin-


sey e a seus colaboradores) pos á luz do dia o «continuum
hétero-homossexual». Na verdade, existiriam em quase todos
os seres humanos tendencias homo e heterossexuais, cujas pro-
porgóes variariam desde a inclinagáo heterossexual exclusiva
(o que Kinsey chama o grau 0 de sua escala de gradagóes)
até a inclinagáo homossexual exclusiva (grau 6 da escala).
Segundo Kinsey, cada grau intermediario entre 0 e 6 corres
ponde a urna proporgáo ora mais forte, ora menos forte, da
inclinagáo homo ou heterossexual; o grau 3, a meio-caminho
do grau 0 ao grau 6, representa o equilibrio absoluto entre as
duas tendencias, ou seja, a «bissexualidade» no vocábulo tra
dicional.

Em conseqüéncia desta escala, M. Daniel e A. Baudry


recusam a divisáo do género humano em homossexuals e hete
rossexuais, «sobre a qual repousa o maniqueísmo condenador
de muitos moralistas tradicionais». As pessoas que, na escala
de Kinsey, se situam entre os graus 4 e 6 («quase inteira-
mente homossexuais... e exclusivamente homossexuais»), nao
tém consciéncia de ser, e nao sao, profundamente diferentes
dos outros homens pelo fato de terem um comportamento
minoritario. É neste fato que, conforme M. Daniel e A. Bau
dry, reside o problema da homossexualidade (cf. p. 51).

Disto se segué que, conforme os autores em pauta, a


homossexualidade nao é algo de anormal ou antinatural (cf.
pp. 68-70). Nao é doenga, a qual se deva aplicar algum tipo

— 210 —
«OS HOMOSSEXUA]^ 35.

de tratamento (cf. p. 70). Ao contrario, pretender alterar a


personalidade profunda de um homossexual é falta moral injus-
tificável (cf. p. 73). O que a sociedade tem a fazer, é sim-
plesmente confirmar o homossexual na sua realidade própria
(cf. p. 95), reconhecendo-lhe a legitimidade da prática homos
sexual ou mesmo oficializando unides de pares homossexuais
(cf. p. 135).

Em suma, a obra em foco vem a ser um apelo veemente


a que a sociedade contemporánea deixe de condenar os homos
sexuais como criminosos ou cesse de compadecer-se deles como
se fossem doentes...; ao contrario, contribua para fazé-los
felizes removendo qualquer restrigáo ao seu teor de vida pró-
prio. Justamente o que impede os homossexuais de gozar de
felicidade, é a repulsa, explícita ou implícita, que os homens
lhes devotam.

Alias, o número de individuos homossexuais é tído como


grande, embora seja difícil avaliá-lo com precisáo. «Há possi-
bilidades, estatisticamente falando, para que, sobre quinze pes-
soas que cada um dos nossos leitores freqüenta, se encontré
pelo menos um homossexual. É urna constatagáo que vale a
pena que se reflita nela» (p. 57). Os autores julgam que até.
mesmo entre os personagens bíblicos mais famosos havia
homossexuais; assim teriam sido Davi e Jónatas, por exemplo
(cf. p. 25)...

Quanto ao lesbismo (homossexualidade feminina), Daniel


e Baudry julgam que «o número de mulheres abertamente
marcadas como lésbicas é bem menor do que aquele dos ho
mens ostentados como invertidos» (p. 157). Todavía entre as
mulheres sao encontradas as mesmas gradagóes de sexuali-
dade que entre os homens: a heterossexual, a bissexual e «a
amazona violentamente antimacho» (p. 158). A diferenga entre
o homossexualismo feminino e o masculino está em que «a
sexualidade feminina é mais difusa, menos exclusivamente fí
sica que a do homem... O ato sexual é, entre elas, freqüen-
temente o resultado de urna intimidade de coragáo já tonga,
ao passo que no homem tem lugar muitas vezes desde o pri-
meiro contato» (p. 159). Por isto as manifestagóes homosse
xuais na mulher sao menos veementes.

Os autores concluem seu livro com a seguinte observagáo:


"A homossexualidade sempre exlstiu, existe por toda parte, e conti
nuará verosslmllmente a existir em toda parte e sempre. Nfio se conhece

— 211 —
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 245/1980

meio de Impedl-la nem de 'curá-la'. Forzoso torna-se, portento, tomá-la tal


qual é e, posto que nfio se podem modificar os homossexuals — os quais
nSo sSo perlgosos para ninguém —, a única colsa que Importa é a]udá-
•los a vlver. É lá que reside o verdadelro problema da homossexualldade"
(p. 167).

Após esta breve exposicáo da tese de Daniel e Baudry,


passamos a algumas

2. Reflexoes sobre o livro

A propósito proporemos quatro consideracóes:

2.1. Natural e antinatural

Em geral, os defensores do homossexualismo aíirmam que,


ao contrario do que se diz comumente, a homossexualidade nao
é antinatural. E por qué?

a) Segundo a definicáo de Larousse, natureza é o con


junto de tudo o que existe (seres e coisas). Ora um fenó
meno táo corrente na natureza como o homossexualismo nao
pode ser qualificado de contranatureza.

— A este argumento respondemos que, apesar do avulta-


mento do fenómeno homossexual, os individuos homossexuais
ainda constituem minoría na sociedade. De resto, a verdade e o
bem moral nao podem ser aferidos pelo número de seus adep
tos. — Voltaremos á nocáo de «natural» pouco adiante.

b) «A natureza oferece ¡números exemplos de atividades


sexuais nao ligadas á procriagáo, em particular a homossexua
lidade tanto no homem... como entre os animáis (Ford e
Beach déla citam numerosos casos entre os simios, os cetá
ceos, os ratos, sem contar os pombos, táo caros a André Gide,
as pombas, os galos, as girafas, os peixes e muitas outras
especies» (p. 44).

Respondemos:

O argumento nada prova, pois, dentre os «inúmeros exem


plos», Daniel e Baudry citam apenas a homossexualidade, que
está sendo discutida — o que redunda num circulo vicioso.

— 212 —
«OS HOMOSSEXUAIS» 37

Quanto ao argumento a, ponderemos o seguinte: por


«natureza» se entende nao simplesmente o conjunto de tudo o
que existe (seres e coisas), pois isto é vago e indefinido. «Na-
tureza>, antes, vem a ser aquilo que é nat-ivo..., aquilo que o
homem nao faz, mas já encontra feito, em oposigáo á arte,
que q produto do engenho humano. Natureza, portante, sao
os mares, as montanhas, as florestas virgens, os animáis e
também... o organismo humano. Este nao é feito pelo ho
mem, mas é dado ao homem para que o administre. Ora o
organismo humano tem uma constituigáo psicossomática se
xuada; o psiquismo da pessoa como também o seu físico sao
determinados pelo sexo. Se as tendencias psíquicas, em deter
minado individuo, sao ambiguas ou indefinidas, os órgáos se-
xuais sao geralmente definidos (como reconhecem Daniel e
Baudry as pp. 53s)1; estes órgáos sexuais so podem funcionar
de maneira significativa em relagáo ao outro sexo; sao este
réis quando aplicados ao mesmo sexo; os seres humanos só
podem reproduzir-se de acordó com o aparelho genital (ou
masculino ou feminino) que os caracteriza. Eis por que se
pode e deve dizer que a homossexualidade é contraria á natu
reza. Se a natureza deu ao ser humano órgáos genitais (mas
culinos ou femininos) feitos para se unir ao sexo oposto, vé-se
que qualquer uniáo sexual com o mesmo sexo é antinatural; é
frustrada ou carece de razáo de ser.

Dirá alguém: se assim é, deveremos condenar também as


relagóes heterossexuais que nao sejam fecundas (e que nao
raro sao praticadas em dias reconhecidamente infecundos para
a mulher)...

Em resposta, observamos: em tais casos existe a heteros-


sexualidade, que é natural. Marido e mulher a respeitam.
Acontece, porém, que nao há fecundidade, porque a própria
natureza (e nao a liberdade humana) a exclui. E a excluí por
que a natureza precisa de pausas ou de períodos de repouso,
sem os quais a sua fecundidade prejudicaria a mulher. A natu
reza é sabia, alternando fases fecundas e fases esteréis; a pró
pria esterilidade, no caso, é natural ou está dentro dos moldes

i Transcrevemos palavras dos autores em conta:


"A grande maiorla dos homossexuals — mesmo dos graus S e 6 da
escala de Klnsey — nSo apresentam nenhum trago de Intersexualldade, e
n3o se dlstinguem absolutamente, por sua aparéncla física, da maioria dos
seres do mesmo sexo" (p. 53).

— 213 —
38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 245/1980

da heterossexualidade natural. Donde se vé que nao há íazáo


para equiparar, do ponto de vista ético, atos homossexuais e
atos heterossexuais naturalmente esteréis.

2.2. E o bissexualidado do ser humano?

Os autores M. Daniel e A. Baudry apoiam-se no fato da


bissexualidade fundamental de cada ser humano para tentar
legitimar o homossexualismo...

A propósito convém observar:

Sabemos que o genotipo de todo individuo recém-concebido


no seio materno se forma a partir de 23 pares de cromos-
somos ou 46 cromossomos. Destes, 22 pares sao de cromos-
somos somáticos e um par é de cromossomos sexuais (gonos-
somos). A fórmula cromossómica difere segundo o sexo: para
o homem, ela consta de 44 A + XY; para a mulher, ela consta
de 44 A + XX.

A fórmula cromossomática do ovo — assim como outros


fatores — determina diretamente o tipo da glándula genital
ou gónada (ovario ou testículos) do respectivo organismo.

Forma-se a pregonada ou o inicio da glándula genital até


o trigésimo sétimo dia de vida embrionaria. A diferenciagáo
dessa glándula vai-se acentuando a partir do quadragésimo
quinto dia. Em conseqüéncia, os condutos genitais ou gonó-
foros também se váo diferenciando: no homem o canal de
Müller se atrofia, enquanto o de Wolff forma o epidídimo, o
canal deferente, a vesícula seminal e o canal ejaculador. Na
mulher, atrofia-se o canal de Wolff, e o de Müller forma as
trompas e o útero. A isto, segue-se a diferenciagáo dos órgáos
sexuais externos, que ocorre entre o terceiro e o quinto mes.

Assim vé-se que o sexo, a principio biológicamente indi-


ferenciado, vai-se tornando anatómica e fisiológicamente carac
terizado e inconfundivel nos casos normáis. A configuragáo
biológica determina decisivamente o sexo do individuo a ponto
que o psiquismo da pessoa normalmente toma as característi
cas masculinas ou femininas que a estrutura biológica do
sujeito respectivo exige.

— 214 —
«OS HOMOSSEXUAIS» 39

Eis a propósito a sabia observagáo de Marciano Vidal:

"A instancia biológica é o apolo de todo o edificio da soxualldade


humana; empregando a terminología de Lersch, poderlamos dlzer que ó o
seu fundo vital: o comportamento sexual humano e gerado das torgas vitáis
das pulsacOes biológicas e em sua realizacSo ganha decisiva Importancia
o fundo biológico, tem sido urna falha reduzlr a sexualldade á genltall-
dade, mas eremos ser necessárlo advertir que nSo se pode calr no extremo
oposto: compreender a sexualidade humana sem referencia á sua Instancia
biológica" (Moral de atitudes, vol. 2, p. 321).

No feto existe urna bipotencialidade sexual, que vai desa-


parecéndo á medida que ele evolui. Poderiamos representar
tal processo do seguinte modo:

Os dois círculos indicam a indiferenciacáo existente nos


fetos do sexo masculino (XY) ou feminino (XX). O deri-
A.
vado —— significa o individuo de sexo feminino resultante
b
do desenvolvimento fetal: A_ significa a feminilidade preva-
lente; b a masculinidade regressiva. Dá-se o contrario nos

individuos . Esta realidade permite afirmar que todo ho-


a

mem, ou a imensa maioria dos homens, traz em si um «fan


tasma de mulher», nao na imaginacáo, mas ñas profundidades
da sua constituicáo física, e, vice-versa, cada mulher traz um
esbogo, mais ou menos apagado, de homem.

Essa existencia latente de um projeto do sexo oposto den


tro de cada individuo explica que, em certas fases da vida
(fases consideradas pálidas para a especificagáo sexual), a

— 215 —
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 245/1980

pessoa possa assumir comportamento bivalente ou ambiguo: é


o que se dá, por vezes, na puberdade ou na pré-puberdade,
quando ocorre certa intersexualidade puberal ou pré-pube-
ral;... na menopausa da mulher, que nao raro assume atitu-
des acentuadamente viris;... na velhice, quando se pode veri
ficar a indiferenciacáo de traeos secundarios do físico ou do
psíquico.

Pergunta-se: nao se poderia entáo legitimar o homosse-


xualismo a partir da bipotencialidade sexual, ora mais nítida,
ora mais latente, da pessoa humana?

— Respondemos em termos negativos. Cada individuo há


de procurar realizar, pela educacáo dos seus afetos e pelo seu
comportamento moral, a diferenciaeáo sexual que o seu físico
realiza desde o seio materno. Procurar viver a masculinidade
ou a feminilidade incutida pela estrutura biológica de cada
pessoa vem a ser um imperativo ético.

Se alguém nao o consegue independentemente de sua von-


tade, nao comete falta moral, como se dirá adiante. Mas nem
por isto será licito dizer que a sua inclinagáo para o mesmo
sexo é normal.

Precisamente tais ponderagóes seráo desenvolvidas sob o


subtitulo abaixo.

2.3. Anormolidade pecaminosa ?

O pensador que considera a homossexualidade como algo


de anormal ou anómalo, nao a define necessariamente como
pecaminosa. Trata-se de urna deficiencia congénita ou nao,
comparável a outras deficiencias físicas que afetam a natu-
reza humana... Esta tem suas falhas e suas taras, ... falhas
e taras que sao naturais, mas nem por isto sao padráo ou refe-
rencial para se definir o ser humano; tenham-se em vista a
cegueira de nascen<ja,... o bebé que nasga sem bragos;... as
pessoas de temperamento tímido, inibido ou exageradamente
agressivo... Assim também 6 o homossexualismo; vem a ser
urna aberragáo da natureza, que nao pode ser equiparada ao
heterossexualismo.

A existencia desta aberragáo nao constituí, por si, um


pecado ... Este só eomega a existir desde que a pessoa cons
ciente e voluntariamente se entregue a algum ato homosse-

— 216 —
tOS HOMOSSEXUAIS» 41

xual... Dizemos: ... consciente e voluntariamente, porque o


pecado só ocorre na proporcáo em que seja um ato humano.
É difícil, porém, julgar as consciéncias; pode haver atos de
homossexualismo cuja culpabilidade seja muito atenuada.

2.4. A atalude crista diante do homossexualismo

Daniel e Baudry apregoam a necessidade de que a socie-


dade ajude os homossexuais a viver em paz e felicidade. — Nao
há quem nao esteja de acordó com tal diretriz. Todavía nao
se pode dizer que a felicidade do individuo homossexual con
sista em viver homossexualmente, constituindo até pares ofi
cializados pela legislacáo civil e pelo Direito religioso (esses
pares sao, por sua própria natureza, instáveis, como reconhe-
cem os autores as pp. 135s). Seria falso dizer-se que, no dia
em que a sociedade reconhecer os homossexuais como repre
sentantes de um «terceiro sexo», seráo felizes e realizados.

A felicidade nao pode ser avaliada pela fruigáo de praze-


res eróticos ou sensuais. Ela, as vezes, supóe a renuncia a
determinados prazeres da carne, para que a pessoa possa usu-
fruir de valores superiores ou espirituais, encontrando nestes
a sua verdadeira felicidade.

Por isto a genuina ajuda que se possa prestar a urna pes


soa homossexual, consistirá em procurar demové-la das prá-
ticas anormais e oferecer-lhe a ocasiáo de sublimar suas ten
dencias no trabalho, no esporte, na música, na poesia, na pin
tura, etc. O amigo do individuo homossexual que, com toda a
brandura e paciencia, tentar ajudá-lo a realizar tal sublima-
cáo, comunicando-lhe coragem para recomegar constante
mente, sem desanimar, prestará o melhor servigo ao seu irmáo.

Há pessoas que julgam impossível urna vida sem recurso


as relagóes sexuais (qualquer que seja o seu tipo)... A tais
interlocutores responderemos que a prática sexual nao é de
absoluta necessidade ao ser humano. A continencia sexual
pode ser exercida, até mesmo com beneficios fisiológicos e psi
cológicos para a pessoa continente. As dificuldades que ocor-
rem ás pessoas celibatárias, nao se devem a pretensas exigen
cias do organismo humano, mas, sim, a fatores psicológicos e
emocionáis.

Com outras palavras: há quem atribua á fungáo sexual a


necessidade que toca aos processos fisiológicos de micgáo ou

— 217 —
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 245/1980

defecagáo. Julgam que se dá um acumulo de líquido seminal


na respectiva bolsa do organismo, de tal modo que, ao atingir
certo grau de tensáo, esse líquido exige eliminagáo. Sendo
assim, todo homem sentiría a necessidade imperiosa de satis-
fazer periódicamente aos seus impulsos sexuais.

Ora tal concepgáo é errónea. O aparelho genital masculino


nao funciona como bexiga, mas pode ser comparado ás glán
dulas salivares. As diversas glándulas que o constituem, fun-
cionam «em cámara lenta», de tal modo que o líquido seminal
é eliminado no momento oportuno pelas vias naturais, sem
que a pessoa se dé conta disto. Acontece, porém, que, quando
no individuo ocorre alguma exdtacáo psicológica ou emocional
(consciente ou inconsciente), entra em agáo um conjunto de
reagóes e de reflexos que ativa notoriamente o funcionamento
dessas diversas glándulas. Ora urna pessoa que se deixe im-
pressionar por questóes sexuais ou que pense freqüentemente
ñas mesmas, nao pode deixar de experimentar fortes necessi-
dades sexuais. Tal é o caso, em geral, do cidadáo contempo
ráneo, que se vé constantemente «bombardeado» por teorías
e imagens provocadoras do sexo ou erotizantes; julgará que a
Vida sexual (dentro ou fora do casamento, em termos heteros-
sexuais ou homossexuais) é inevitável ou obrigatória para a
conservagáo da saúde do individuo. Tal concepgáo, como dito,
é errónea; o désejo sexual nao é provocado pela formagáo ou
pelo acumulo de espermatozoides, mas é, sim, .um processo
preponderantemente psicogénito, isto é, derivado de fatores
emocionáis.

De resto, é inconcebível um teor de vida digna e reta sem


determinada cota de abnegacáo. Todo ser humano c chamado
a praticar determinado tipo de renuncia a fim de realizar o seu
ideal. Para o cristáo, a mortificagáo nao é fator meramente
negativo, mas vem a ser participagáo da cruz gloriosa de Cristo,
penhor de comunháo com o Senhor ressuscitado. O individuo
homossexual aceitará a modalidade da cruz de Cristo que lhe
é imposta pelas suas inclinagóes afetivas, como um individuo
colérico ou sanguíneo aceita a necessidade de ascese para se
autodominar; cada qual, em suma, tem o seu setor de morti
ficagáo pessoal,... mortificagáo que o Senhor Deus nunca exi
gida se Ele nao desse a todos as gragas necessárias para a
realizarem. É certo que o Senhor nunca dispóe para alguém
circunstancias de vida tais que o condenem á mediocridade ou
ao pecado. O Pai celeste chama todos á perfeigáo ou á san-
tidade.

— 218 —
«OS HOMOSSEXUAIS» 43

M. Daniel e A. Baudry, em seu livro, mencionam o caso


de ministros protestantes que abengoam unióes homossexuais
(cf. p. 111), e preconizam, da parte da Igreja Católica, atitude
compreensiva para com as pessoas homófilas...

A Igreja Católica pronunciou-se em 1975 a respeito do


homossexualismo, apresentando-o como aberrac.áo. Por conse-
guinte, nao se pode esperar que algum de seus ministros aben-
coe, em nome de Deus e da Igreja, unióes homossexuais. Esta
recusa de béncáo, porém, nao significa, da parte da Igreja, um
juizo condenatorio sobre todos os individuos homossexuais. Só
Deus vé as consciéncias, e conhece os esforgos e os anseios sin
ceros de cada criatura que no foro externo cometa aberragóes.
É mesmo norma da Igreja Católica tratar com o máximo de
caridade e solicitude as pessoas que. sofrem; os homossexuais,
por conseguinte, podem estar certos de que a Igreja lhes dedioa
compreensáo e benevolencia sem que por isto aprove a prá-
tica do homossexualismo.

Eis as palavras textuais da Declarará© sobre algara pon


tos de Ética sexual da S. Congregagáo para a Doutrina da Fé,
datada de 29/12/75:

"8. Nos nossos dias, em contradigo com o enslno constante do


Magisterio e com o sentir moral do povo crlstáo, há alguns que, fundan-
do-se em observares de ordem psicológica, chegam a Julgar com Indul
gencia, e até mesmo a desculpar completamente, as relacóes homossexuais
em determinadas pessoas. Eles lazem urna distlncáo — ao que parece nao
sem fundamento — entre os homossexuais cuja tendencia provém de urna
educacfio falseada, de urna falta de evoluc.no sexual normal, de um hábito
contraído, de maus exemplos ou de outras causas análogas (tratar-se-la
de urna tendencia transitoria, ou pelo menos nSo Incurável) e aqueles outras
homossexuais que sSo tais dellntivamente, por torga de urna especie de
Instinto inato ou de urna constltulcSo patológica considerada Incurável.

Ora, quanto a esta segunda categoría de sujeltos, alguns concluem


que a sua tendénca é de tal manelra natural que deve ser considerada
como justificante, para eles, das relagOes homossexuais numa sincera
comunhao de vida e de amor análoga ao matrimonio, na medida em que
eles se slntam Incapazes de suportar urna vida solitaria.

Certamente, na atividade pastoral estes homossexuais asslm háo de


ser acolhidos com compreensSo e apoiados na esperanza de suportar as
próprlas dlficuldades pessoais e a sua InadaptacSo social. A sua culpabl-
lidade há de ser julgada com prudencia. No entanto, nenhum método
pastoral pode ser empregado que, pelo fato de esses atos serem julgados
conformes com a condicio de tais pessoas, lhes venha a conceder urna
justlficacSo moral. Segundo a ordem moral objetiva, as relacOes homosse
xuais sfio atos destituidos da sua regra essenciaf e Indlspensável. Elas sSo

— 219 —
44 tPERGUNTE E RESP0NDEREMOS> 245/1980

condenadas na Sagrada Escritura como graves deprevacfies e apresentadas


ai também como urna conseqüéncla triste de urna rejeicáo de Deus. Este
julzo exarado na Escritura Sagrada nao permite, porém, concluir que todos
aqueles que sofrem de tal anomalía sao por Isso pessoatmente responsá-
veis; mas atesta que os atos de homossexualldade sao intrínsecamente
desordenados e que eles n&o podem, em hlpótese nenhuma, recebar qual-
quer aprovagáo".

Estas palavras nao deixam dúvida sobre a posigáo da


Igreja a respeito do doloroso problema do homossexualismo:
haja respeito e solicitude para com as pessoas homossexuais;
todavía nao é possivel aprovar o exercício do homossexualismo
como se fosse forma normal e legitima de comportamento.

Bibliografía:

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WEST, D. J., L'homosexualilé. Dessart 1972.

— 220
livros em estante
Itinerario da Encarneció, por OI (vio Cesca. Edicáo da Equipe Re
gional de Catequese, CNBB Sul 3. Porto Alegre 1980,155 x 215 mm, 215 pp.

O livro se apresenta como manual de iniciacSo á historia da Igreja


destinado á catequese. A Idéia de publicar urna obra deste género é cer-
tamente louvável. Faz-se necessárlo que os nossos adolescentes e jovens
conhecam a historia da Igreja (que é a historia do plano de Deus desdo-
brado após Cristo) e concebam, em conseqüéncia, um maior amor á Igreja,
que é inseparável do amor a Cristo. O amor á Igreja há de ser um amor
realista, maduro, que saiba reconhecer as fraquezas humanas dos membros
da Igreja, mas as compreenda á luz da fé e do designio salvltlco de Deus.

Ora o presente livro nao parece corresponder a esta finalidade por


varios motivos :

1) O autor nem sempre distingue o essencial e o acidental na


descricáo da historia, de modo que se detém, por vezes tongamente, em
narrar episodios secundarios, porque pitorescos ou sarcásticos; cf., por
exempto, pp. 31. 62-72.

2) O. Cesca parece considerar o passado como algo de negativo,


cujas manchas ele pSe em relevo (as vezes, sem usar de senso critico
nem citar fontes), ao passo que a época contemporánea a partir do Con
cilio do Vaticano II (1962-1965) é narrada elogiosamente — o que nSo
pode deixar de ser artificial (alguns diriam : triunfalista).

Asslm a Idade Media é vista como "a tonga noite medieval" (cf.
p. 104), da qual a Igreja so terá saldo definitivamente por ocasiSo do
Concilio do Vaticano II (p. 175). Ora está comprovado que a Idade
Media foi rica em valores humanos, culturáis e cristfios e que os historia
dores tendenciosos dos sáculos XVI/XVII a desfiguraran^; cf. PR 240/1979,
pp. 520-534.

Pouco diz o autor sobre a obra missionária dos séc. VI-XI em favor
dos germanos, eslavos, escandinavos, russos, mas mullos tópicos som
bríos se léem no livro a respelto dos pastores da Igreja nos séc. Vlll-X;
cf. pp. 73-80. Os cistercienses sao caracterizados como "um ejército de
capinadores" (p. 80).

Os pedidos de reforma na Igreja formulados no séc. XVI so te rao


sido atendidos no Concillo do Vaticano II (p. 109) ! Todavía o próprlo
autor se contradiz reconhecendo que os Papas dos séc. XVII-XVIII foram
austeros e corajosos promotores da boa ordem e da acáo evangélica na
Igreja ; cf. pp. 126-128.

3) Olivo Cesca se preocupa mais com os aspectos sociais e poli-


ticos da historia da Igreja do que com a doutrina e a teología da historia
ou a apresentacáo da historia como desenrolar do plano de Deus. Te-
nham-se em vista, por exemplo, os comentarios feitos ao modernismo
(p. 155), aos padres operarlos (p. 170), á atuacáo do Papa Pió IX
(pp. 150-153)... Ora tal perspectiva é unilateral e nao atinge o ámago
da historia da Igreja.

4) Quando se refere á Teologia da Libertacáo, o autor elogia as


expressóes mais avancadas da mesma (cf. p. 191), quando na verdade
estas merecem serias restricóes. Seria erróneo, por exemplo, abonar a
seguinte frase de Gutiérrez que Cesca apoia: "A acáo pastoral da Igreja
nao se deduz como conclusáo de premissas teológicas. A teología nao
gera a pastoral, ó antes reflexáo sobre ela" (p. 192). Alias, é notorio que
os próprios bispos reunidos em Puebla recusaram tecer elogios á Teologia
da UbertacSo por causa da ambigüidade desta expressBo.
5) Algumas imprecisóes: á p. 180, as excomunhaes datam do
sáculo XI (1054) e nao do séc. X. A p. 37 : antes da traducSo latina da
Biblia chamada "Vulgata", já havia traducóes latinas das Escrituras (cf.
"Vetus ítala, Vetus Latina"). A p. 106: S. Catarina de Sena (t 1380) é
citada em contexto do séc. XV. — Alias, a cronología nem sempre é
observada na obra, como também é talha a cita$áo de fontes e o exame
critico das mesmas. O autor parece dar grande importancia aos episodios
anedóticos, pitorescos ou sarcásticos, sem se preocupar com a tidelidade
histórica de tais episodios.

Estas ponderacóes, ás quais outras se poderiam acrescentar, nos


levam a crer que o livro em foco nao se presta para a catequese. A
historia é terreno delicado, que as ideologías e filosofías nao raro mani-
pulam ; dai a necessidade de estudo critico das fontes e de discernimento
entre pontos essenciais e pontos acidentais.

A lé explicada aos Jovens e adultos, por Rey-Mermet. Vol. I: A F6.


Traduzido do francés por Joáo Pedro Mendes. — Ed. Paulinas, SSo Paulo
1980, 185 x 265 mm, 312 pp.

Muitos tém sido os livros de catequese editados nos últimos anos.


Todavía parece que a obra ácima tem, nesse conjunto, o seu lugar e o
seu valor próprios: comenta sucessívamente os artigos do Credo, pro
pondo assim urna visao completa da doutrina católica. O volume II abor
dará explícita e diretamente os Sacramentos. — Embora o livro seja de
origem francesa (perceptfvel através das citacees que faz), ó de leitura
fácil e agradável; o autor, que é sacerdote redentorlsta, recorre freqüen-
temente á S. Escritura como também a escritores e a latos da vida mo
derna Percebe-se que Rey-Mermet quis falar ao homem de hoje, aludindo
aos problemas deste. O que impresslona o leitor, é a solidez das proposl-
cóes da obra, que vem a ser auténtica expressáo da doutrina da Igreja,
com tudo o que ela tem de perene e tudo o que a possa ilustrar em
nossos dias. O livro será útil a quem já tenha recebido a iniciacSo crista,
servlndo ao aprofundamento das verdades da fé, como bem observa D.
Paulo Pontes, bispo de Itaplpoca (CE), na honrosa lApresentacSo que laz
da obra (pp. 9-10).

O povo de Deus na sua historia, literatura, mensagem religiosa, por


Waldomiro O. Piazza. — Ed. Loyola, Sao Paulo 1980, 140x210mm, 203 pp.

Este livro aprésenla compendiosamente urna Introducio á leitura dos


livros do Antigo Testamento. O autor, já conhecldo por outras valiosas
publicacSes, aborda os grandes temas e os principáis problemas que os
livros bíblicos de Israel trazem ao leitor, ambientando cada ponto no
seu contexto histórico e cultural; assím de maneira suave e breve o Pe.
Piazza diz muíta coísa importante e útil. O Vocabulario Especializado e
as Notas Explicativas colocadas no fim da obra ((pp. 161-200) vém a ser
um instrumental de grande valor pela riqueza de informacSes que em
poucas palavras oferecem ao estudioso. Apenas nos quer paracer que as
páginas relativas á origem do mal (pp. 72-82) poderiam ser mais sucintas
e claras, o que nao Ihes tira o apreco merecido. Congratulamo-nos, pols,
com o Pe Piazza por mais esta producáo exegétíca, que se pode reco
mendar a quantos desejem reler a S. Escritura do Antigo Testamento com
mais penetracSo.
E.B.

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