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TESTE DE LITERATURA PORTUGUESA

Não sei quantas almas tenho.


Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,


Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo


Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

1. Salienta, nas duas primeiras estrofes, os versos que revelam: a fragmentação do sujeito
poético; o seu desconhecimento em relação a si próprio; o sentimento de despersonalização; o
seu papel de "espectador" de si; a sua constante inadaptação.

2. Relaciona, na primeira estrofe, a alternância temporal presente/passado com o valor


expressivo do advérbio "continuamente" [v.3]

3. Nos três últimos versos da primeira estrofe, o sujeito poético passa, abruptamente, da
primeira para a terceira pessoa.

3.1 Prova que com essa alteração o sujeito poético procede a uma generalização.

3.2 Explicita o sentido deste verso: «Quem tem alma não tem calma.»
3.3. Explicita o sentido dos versos 7 e 8 - «Quem vê é só o que vê,/Quem sente não é quem
é.», - tendo em conta a relação que o sujeito poético estabelece entre ver/sentir/ser.

4. Na segunda estrofe, o sujeito poético volta a centrar-se em si próprio.

4.1. Indica os adjectivos usados na sua autocaracterização.

4.2. Esclarece o sentido dessa tripla adjectivação.

5. A terceira estrofe, que podemos considerar um segundo momento do poema, encerra uma
espécie de explicação.

5.1 Explicita-a, considerando a comparação “páginas”/”ser” e a metáfora “livro”/”vida”.

5.2 Sinaliza os versos em que o sujeito poético se define como um ser sem passado, nem
futuro.

5.3 Explica por que razão os dois últimos versos são um desfecho lógico para o poema.

II

Comenta o quadro (150-200 palavras) que se segue à luz das afirmações de Fernando Pessoa:

"Sinto-me múltiplo. Sou como um


quarto com inúmeros espelhos
fantásticos que torcem para reflexões
falsas uma única anterior realidade
que não está em nenhuma e está em
todas."

Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação,


Fernando Pessoa

1Fernando Pessoa, por Júlio Pomar

A professora, Paula Cruz

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