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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanza a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
'.■" visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
¡L vista cristáo a fim de que as dúvidas se
. i dissipem e a vivencia católica se fortalega
iu- no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.


Pe. EstevSo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
irS|HHI<l<T<1IU»S
< SUMARIO
t-

< ...AtéoFim
LO

q Teología Feminista

w "O Advogado do Diabo"


UJ

a O Camelo e o fundo da aguí ha

" "Istoóomeucorpo" (Mt26^6)

uj Escandinávia: O bem-estar que nfib satisfaz


_i

q "Tornei-me rica mediante o aborto"


ce
o- Música "Rock": Que é?

ANO XXXIII JUNHO 1991 349


PERGUNTE E RESPONDEREMOS
JUNHO - 1991
Publicac£o mensal
N9 349

Dmtor-Responsáwlr SUMARIO
EsteVao BettencouVt OSB
AOlor é RedStor de toda a materia ... Até o Fim 241
publicada neste periódico
Feminismo contemporáneo:
Teologia Feminista 242
Dirator-Administrador:
D. Hildebrando P. Martins OSB Declarares de um crítico superficial:
"O Advogado do Oiabo" 254
Admintttracao e distribuicao:
"É mais fácil um camelo...":
Edicoes Lumen Christi
O Camelo e o fundo da agulha 261
Dom Gerardo. 40 - 59 andar. S/S01
Tel.: (021) 291-7122 Qual o sentido de
Caixa Postal 2666 "Isto é o meu corpo"? (Mt 26,26) .... 266
20001 - Rio de Janeiro - RJ
Paraíso?
Escandinávia: O bem-estar que
Impiessáo o Encadewacáo nao satisfaz 271

Caro I Everett confessa:


"Tornei-me rica mediante o aborto" . . .277

"MARQUES-SARAA'A' "Rock in Rio II":


GRÁFICOS £ EDITORES SA. Música "Rock": Que é? 284
TelS.: ¡02IK73-94S8-273-9447

NO PRÓXIMO NÚMERO

"A-Missáo do Redentor" de Joao Paulo II. — O Sacramento da Reconcilia-


cao. - Síndrome Pos-aborto. - "Ética Biomédica" de Sandro Spinsanti. -
Cristas suecas e beneditinas.

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA.

ASSINATURA ANUAL (12 números): Cr$ 3.000,00 - Número avulso ou atrasado: Cr$ 300,00

Pagamento (á escolha).
1. VALE POSTAL á agencia central dos Correios do Rio de Janeiro em nome de Edi
coes "Lumen Christi" Caixa Postal 2666 - 20001 - Rio de Janeiro - RJ.
2. CHEQUE NOMINAL CRUZADO, a favor de Edicoes "Lumen Christi" (endereco
ácima).
3. OROEM DE PAGAMENTO, no Banco do Brasil, conta N° 31.304-1 em nome do
Mosteiro de Sao Bento, pagavel na agencia Praca Mauá/RJ N° 0435-9. (Nao enviar
através de DOC ou deposito instantáneo - A identificacao é difícil).
...Até o Fim
"Nao; nao pares.
É grapa divina comepar bem.
Grapa maior persistir na caminhada certa,
Manter o ritmo. . .
Mas a grapa das grapas é nao desistir.
Podendo ou nao podendo, caindo embora aos pedacos
CHEGAR ATÉ O FIM. . . ! "

Estas palavras de D. Hélder Cámara vém a ser precioso programa de


v.da. Ir até o fim dos bons propósitos, sem ceder ao desánimo ou á tentacao
da volubihdade, apesar da monotonia da caminhada tal é o segredo das
grandes facanhas Há uma santa teimosia, penhor de vitória ou de entrada no
Reino dos Céus. É o Senhor quem o diz: "O Reino dos Céus sofre violencia
e violentos se apoderam dele" (Mt 11.12). Está claro que nao se trata aquí
da violencia armada, mas da fortaleza daqueles que sabem superar todos os
obstáculos para nao perder a verdadeira meta.

Em outra passagem, diz Jesús que a sementé boa (a Palavra de Deus)


dá fruto múltiplo em clima de perseveranca ou paciencia tenaz (cf Le 8 15)
Pouco adiantam a fé e o amor que nao váo até o fim. Quem percorre á Es
critura, encontrará muito freqüentemente a reoomendacáo da perseveran
ca heroica: "Sé fiel até a morte, e eu te darei a coroa da vida" (Ad 2 10-
cf. Mt 10,22; 24,13).

Compreende-se bem tal énfase. Já um famoso ateu de nossos tempos


Albert Camus (ti960), dizia que o que mais o contristava era ver que á
maiona dos homens nao chega ao termo do seu ideal. Param no meio do
caminho, pois tudo o que é grande e belo, também é arduo e cansativo.

E a que haveria de se comparar uma criatura que nao chega ao seu


fim? - Poderia dizer-se que ficou ana no plano espiritual ou na linha da sua
estatura definitiva. Uma estatura física ana nao implica culpa da parte do
respectivo sujeito, mas o ser anáb(a) no tocante aos valores definitivos é
muito grave, se se deve á covardia ou á pusilanimidade.

O medo e a mesquinhez de ánimo sao males que ameacam todo ho-


mem. O cristib, chamado a tudo o que há de mais nobre, tem consciencia
disto e pede ao Senhor a graca das gracas: "a de nao desistir; podendo ou
nao podendo, caindo embora aos pedacos, CHEGAR ATÉ O FIM!"
E.B.

241
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
ANO XXXII - N<? 349 - Junho de 1991

Feminismo contemporáneo:

Teología Feminista

Em síntese: A Teología Feminista, cultivada na Europa e nos Estados


Unidos, chega a reivindicar a extincao das diferencas de trato para mulheres
e homens na sociedade, tecendo teorías sobre o andrógino primitivo para
justificar suas teses. Algumas de suas protagonistas dese/am aínda ficar
dentro do Cristianismo, propugnando, porém, total revisao das conceptees
"machistas" da mensagem crista e da estrutura ecfesíal. Outras querem
emanciparse totalmente do Cristianismo como sendo sistema de pensa-
mentó e vivencia irrecuperável; aproximam-se das correntes de defesa da
natureza ou ecológicas; constituem assim o que se chama "o Eco-Feminis
mo", com tendencias pan teístas.

É preciso observar, porém, que as diferencas entre masculino e femini


no sao indeléveis tanto no plano físico como no psicológico; Deus fez o no-
mem e a mulher distintos um do outro, nSo para se digladiarem, mas para
que se complementem mutuamente; cada género deve conservar sua identi-
dade para o bem dos individuos e da sociedade, superando deformacoes de
comportamento verificadas no passado ou aínda em nossos días.

* * *

Na Europa e nos Estados Unidos tem-se difundido urna bibliografía


que propugna urna Teología Feminista (TF) ou, em alemao, Feministische
Theologie. Procura, com argumentos filosóficos e psicológicos, remover o
caráter "machista" e dominador das clássicas concepcoes do Cristianismo
para poder atribuir á mulher um lugar condigno ou mesmo... extinguir as
diferencas entre o homem e a mulher existentes na civilizacfo de todos os
tempos. 0 moví mentó assim oriundo tem-se espalhado, afirmando teorías
totalmente inéditas, que revolucionam nao somente a religíao, mas também
toda a cultura humana.

242
teología feminista

Eis por que apresentaremos, a seguir, o breve histórico dessa tendencia


e as suas principáis conceptees, ás quais se acrescentará um comentario.

1. Teología Feminista: conceito e ortgem

Como diz a própria expressao, a TF tem ligacao com os Movimentos


Feministas leigos de nossos dias. Estes apregoam nao somente a igualdade de
homem e mulher, mas até mesmp urna nova estruturacáo da sociedade. Se
gundo Catharina Halkes, as mulheres "emancipadas" até agora queriam ser a
metade do bolo da sociedade, sendo os homens a outra metade;o Feminis
mo avancado, porém, afirma que se deve fazer um bolo totalmente novo. 0
adjetivo "Feminista" exprimiría o protesto contra a atual estrutura patriar
cal da sociedade ou contra o dominio dos homens, que deverá ser removido
por novo modelo de organizado social.

Ora a Teología Feminista transfere estas ¡déias para o setor religioso.


Como fundamento e sinal do predominio dos homens, aponta-se a própria
imagem de Deus, que unilateralmente vem representado pelos símbolos
masculinos do "Pai", do "Senhor", do "Reí". . . t preciso comecar por
libertar o conceito de Deus da sua masculinidade; somente entáo desaparece
rá a "Igreja dos homens".

O feminismo leigo e a Teología Feminista tém seu berco principal nos


Estados Unidos. Foi ai decisivo o surto do marxismo radical sob a forma de
"Movimentó de Libertacao da Mulher" ou Women's Lib em 1968. Segundo
a mais conhecida píoneira desse Movimento, Kate Mi lien, a estrutura opres-
sora da sociedade nao provém do capitalismo, mas do papel de lideranca do
homem; o capitalismo seria apenas urna conseqüéncia do regí me patriarcal,
e nao vi ce-versa; por conseguinte, para se obter a pleno desabrochamento da
mulher, Káte Millett, seguindo Friedrich Engels, apregoa a extincao da fami
lia, pois esta é considerada o sustentáculo da sociedade patriarcal.

Ora as mais importantes teólogas feministas confessam ter sido forte-


mente influenciadas pelo pensamento marxista e procuram apoio político
no socialismo. Vao, porém, mais longe do que o marxismo, que elas chegam
a criticar, valendo-se sempre do esquema "opressores-oprimidas".

As idéias das feministas foram-se concatenando, de tal modo que se


pode dizer que a data de nascimento da Teología Feminina foi o ano de
1973, em que apareceu o livro Beyond Godthe Father.Towardsa Philosophy
of Women's Liberation1 (Bostón 1973) de Mary Daly. Tal obra foi conside-

1 Para alóm de Deus o Pai. Em direfSo de urna Filosofía de Libertado da


Mulher.

243
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

rada clássica e sua autora tida como "a ama de lehe" da Teologia Feminis
ta. - Esta, entre outras coisas, tomou a si a bandeira da ordenacao presbite
ral de muiheres, principalmente nos Estados Unidos; nao poucas Religiosas
professas de Congregacóes diversas assumiram posicáo de destaque emtoda
essa movimentacao.

Na década de 1970 a TF tomou pé na Europa. Muito significativo


para tanto, foi o Conselho Mundial das Igrejas,1 como seu "Departamento
para a Cooperacao de Homens e Muiheres", que se reuniu em Berlim no ano
de 1974 para dias de estudos sobre Sexismo; foi entáo que a Sra. Pauline
Webb, membro do Comité Central, propós a seguinte definicao de Sexismo:

"Por Sexismo entendemos todo tipo de subordinado ou menosprezo


de urna pessoa ou de um grupo em virtude do sexo".

O Pastor Philip Potter, Secretário-Geral do Conselho Mundial das Igre


jas, qualificou como demoníaca qualquer forma de prevaléncia do homem.
Alias, estas declaracoes do Conselho Mundial das Igrejas haviam sido prepa
radas peto posicionamento do Conselho favorável á Teologia da Libertacao
desde 1968; esta e a Teologia Feminista tém pontos comuns: ambas se fixam
em aspectos parciais; sim, a Teologia da Libertacao se coloca no lugar dos
pobres, geraimente identificados com o proletariado de Marx, ao passo que a
Teologia Feminista adota a experiencia feminista como diretriz da sua sin-
tese teológica. '

Em conseqüincia, acontece que, na Teologia Feminista, a palavra


"Teologia" tem significado particular e improprio; já nao é urna reflexáo
lógica e coerente sobre Deus, como na clássica Teologia, mas "um agir inven
tivo e improvisado, menos substancioso e mais ambiguo" (Dra. Catharina
Halkes, Gott hat nicht nur starke SShne. Deus nao tem apenas filhos fortes,
pp. 36.73). Por isto algumas representantes da TF preferem falar de Teo-fan-
tasia a professar Teo-logia (discurso lógico a respeito de Deus).

Os círculos protestantes foram os primeiros a adotar a TF; transmi-


tiram-na aos católicos especialmente através de xJuas muiheres convertidas
do protestantismo ao Catolicismo: Christa Meves e Horst Bürkle. Em 1977 a
Sra. Catharina Halkes conseguiu urna cátedra na Universidade Católica de
Nimega (Holanda) para lecionar "Feminismo e Cristianismo". O Movimento
se expandiu rápidamente, langando livros, artigos e realizando Jornadas de
Estudos periódicamente: apresenta atualmente matizes diversos, pois há
teólogas feministas que querem permanecer dentro dos moldes do Cristia-

1 Organizado protestante e ortodoxa, nao católica.

244
TEOLOGÍA FEMINISTA

nismo, como há algumas que abandonaram a fé crista como sendo um dado


patriarcal, do qual nada se salva; a demarcacao entre urna e outra córreme
é um tanto indistinta, como reconhece a teóloga Úrsula Krattiger: "Quem
se tornou feminista, so pode viver na fronteira do mundo atual, onde já nao
é importante saber 'se aínda estou dentro' ou 'se já estou fora'". Mary Daly
já nao calcula o tempo a partir do nascimento de Cristo como sendo "anos
do Senhor", mas adota nova contagem: a dos "anos das mulheres". Essas
teólogas se comprazem em afirmar que estao a caminho e nao pretendem
apresentar algum sistema teológico fechado; "aonde o caminho leva, elas
mesmas nao o sabem", conforme Úrsula Krattiger.

2. O Andrógino:1 dado fundamental do Feminismo

Nao se pode entender a TF se nao se conhecem um pouco as idéias


fundamentáis do Feminismo contemporáneo. Procuremos, pois, esbocá-las.

O Feminismo tem afinidade com a córreme marxtsta, na qual Friedrich


Engels propunha a tese de que na pré-história o regime era matriarcal; a
mae predominava. Só posteriormente as posicoes se inverteram em favor do
regime patriarcal; no futuro deveria ocorrer plena equivalencia do homem e
da muiher, de modo que qualquer tipo de predominio estaría abolido. A fim
de consegui-lo, Engels apregoava a extincao da familia, a mesma insercáo do
homem e da muiher no processo de trabalho, e a educacao dos filños por
parte do Estado. Nao haveria oposicao a este projeto da parte da natureza
humana, pois, segundo Marx, o homem é apenas o produto de relacoes so-
ciáis; é a educacao, é o ambiente que forma o homem de maneiras muito
variáveis.

Este modo de pensar foi ulteriormente elaborado peto psicólogo Ernest


Bornemann, que se pos a servico da fundamentacao do Feminismo, como
Karl Marx se pusera a servico do proletariado. Julga que é preciso restaurar o
pretenso regime matriarcal das origens, abolir a monogamia e a propriedade
particular. A gravidez deverá ser assumida pela tecnología, e as diferencas
corporais entre o masculino e o feminino hao de ser reduzidasao mfnimo. Á
sociedade sem classes de Marx correspondería a sociedade sem a bissexuali-
dade: "Urna nao pode ser atinginda sema outra", escreve Bornemann.

O apagamento das características masculinas e feminínas e a permuta


dos papéis do homem e da muiher na sociedade vém sendo mais e mais acen-

1 Andrógino vem do grego: anér, andrós = homem; gyné, gynaftas, mu


iher. Traduz¡r-se-¡a por "homem-mulher".

245
6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

tüados, de acordó com a proposicao de Simone de Beauvoir: "Ninguám vem


ao mundo jomo muiher, mas as pessoas tornanvse mulheres".

A extincao das diferencas entre homem e muiher deve realizar-se na


educacao dos filhos, no trabalho doméstico e ñas áreas proflssionais. Todo
individuo deve realizar em si igualmente os predicados que até agora eram
tidos como típicamente masculinos e típicamente femininos; o ideal é o
andrógino!

Verdade é que a expressao "andrógino" é evitada por varias feminis


tas. Por exemplo, Rosemary Ruether julga que tal palavra ainda admite indi-
retamente a existencia do típicamente masculino e do típicamente feminí-
no, melhor seria, segundo esta escritora, falar de "umtodo psíquico" ou de
"totalidade" (wholeneu). - Outras feministas rejeitam o modelo do andró
gino, porque dao nítida preferencia ás características femininas; estas seriam
muito mais valiosas do que as masculinas. Herbert Marcuse, que as feminis
tas muito citam, opoe o principio feminino do sentimento ao principio
masculino do fazer ou produzir; os sentimentos femininos assim privilegia
dos seriam a receptividade, a sensibilidade, a nao violencia, a delicadeza.

Todas estas posicoes convergem entre si por rejeitarem a tese de que o


homem e a muiher se devem complementar mutuamente. Cada tentativa de
complementar ou de distinguir os dois polos — o masculino e o feminino —
redundarla inevitavelmente em fomentar o patriarcado. A aversao ás notas
sexuais que a natureza apresenta, traduz-se em luta contra a ¡nstituicao da
familia e em favor do aborto.

O pensamento feminista progrediu ulteriormente, reivindicando para


si urna cultura própria muito variegada, com suas revistas, livrarias, el ("nicas,
pensoes, etc.

Mais: entre as feministas tém tomado vulto as lésbicas, a quem é atri


buido papel importante no processo encetado, ocupando ás vezes a frente
dos movimentos feministas; um slogan norte-americano afirma que "o femi
nismo ó a teoría e o lesbianismo é a prática". Embora a maioria das feminis
tas nao compartilhe esse modo de viver, consideram-no com certa com
placencia.

Também se deve registrar a afinidade do Feminismo com o Partido


Verde. Está também muito próximo do movimento dito "Nova Era" (New
Age), que tem sua mística e seu "profetismo"; urna das mensageiras de"
New Age - Frftjof Capra - louva o Feminismo como sendo a expressao
mais autentica da Nova Era.

246
teología feminista

Em suma, o Feminismo extremado vem a ser uma contracultura, com


tendencia a reestruturar toda a sociedade. Principalmente a rejeicáo do que
existe, o caracteriza, sem que possa oferecer um substitutivo muito concre
to. Assim é certo que repele como Sexismo qualquer diferenciacao entre os
sexos. Todo dominio de pessoa sobre pessoa deve desaparecer,... mas nao
se sabe bem em favor de qué...

3. Mary Daly, a mentora da TF

A mais conhecida e comentada teóloga feminista é a ex-freira Mary


Daly, tida como luminar da nova corrente.

Comecou a expor seu pensamento pouco depois do Concilio do Vati


cano II no livro The Church and the Second Sex (A Igreja e o Segundo Se
xo), New York 1968. Segué a orientacao de Simone de Beauvoir e do exie
tencialismo francés. Como sua mestra, ela também afirma que ninguém é
mulher por nascenca, mas as pessoas tornanvse mulheres. Será preciso, pois,
renunciar ao conceito estático de natureza humana em prol de uma visao
evolucionista do ser humano no mundo, visao apregoada por Teilhard de
Chardin; nao haveria uma imagem de homem ou de mulher oriunda do
próprio Criador; por isto a realidade está sempre em evolucáo sem que se
saiba por que etapas ainda há de passar; a própria biología está sujeita á
mudanca dos tempos; é a sociedade "machista" que traca a imagem típica
e definida da mulher; o que se pode afirmar, é apenas que a mulher quer ser
independente e procurar de modo criativo a sua própria realizacao. A "mu
lher eterna" de Gertrud von Le Fort é um demonio, que tem de ser expulso
ou exorcizado.

A visao evolutiva é aplicada também á Igreja, sujeita a constantes


mudancas. Daly estima a encíclica "Pacem in Terris" e os documentos do
Concilio do Vaticano II, dos quais ela deduz a extincao de todas as diferen-
cas entre o homem e a mulher, sem levar em conta as passagens conciliares
que mencionam as respectivas peculiaridades. Segundo Daly, o Concilio
terá colocado o ponteiro da Igreja a zero hora para corhecar nova fase; mas
Paulo VI atrasou o relógio.

A exegese bíblica da Sta. Daly ó passional; joga Sao Paulo contra Jesús
e Sao Paulo contra Sao Paulo; a devocao a María merece a sua condenacao,
pois propoe á mulher um ideal inatingível, que humilha a mulher.

Uma crítica pesada é por Daly dirigida á habitual concepcao de Deus:


a autora nao aceita o conceito de um Deus todo-poderoso e imutável, cria
dor de imutável ordem de coisas.

247
f "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

Anos mais tarde ou após 1973, Mary Daly publicou duas outras obras
em que rompe definitivamente com o Cristianismo; este Ihe parece irrefor-
mável ou irremediavelmente erróneo; assim como nao se pode tracar um
triangulo quadrado, assim nao se pode corrigir a linguagem do Cristianismo:
"Se Deus é um Pai no seu céu e reina sobre o seu povo, é natural que a socie-
dade seja dominada pelos homens". O sexismo do Cristianismo revela-se
também na imagem de Cristo, imagem masculina que excluí a mulher. A
"Cristologia" repercute na devocao a María, a mulher sujeita a Cristo; o
Cristianismo assim acorrentou a antiga deusa-mae das mitologías.

O caráter machista do Cristianismo é ameacador para o mundo, pois


favorece o recurso á violencia. Em conseqüéncia, Daly conclama todas as
mulheres para realizaren* a castracao da linguagem e das imagens que expri-
mem a submissao da mulher; essa castracao é um exorcismo e também urna
forma de matar a Deus.

Daly nao acredita mais num Deus pessoal, isto é, dotado de inteligen
cia e amor; professa o panteísmo. A palavra "Deus" nao seja tída como subs
tantivo, mas como verbo, o verbo ser, no qual nos tomamos parte. Em con
seqüéncia, aos seres humanos podem-se atribuir predicados divinos.

Mais: rejeitando a idéia de que homem e mulher se complementam


mutuamente nos planos físico e psíquico, Daly é passional defensora do les-
bianísmo. As feministas unidas entre si em irmandade formam urna anti-lgreja.

Em 1978 Mary Daly deu mais um passo no seu itinerario filosófico


publicando o livro Gyn-Ecology.1 Nesta obra ela manifesta odio a tudoo qué
é masculino; todos os nomes e pronomes masculinos sao substituidos por
femininos; escarnece a Cruz de Cristo como instrumento de tortura e con-
trapoe-lhe a feminina "Arvore da Vida". Adota o símbolo da aranha; como a
aranha, as feministas tém o dever de cobrir o mundo inteiro com a sua teia
e tender para o centro dessa teia, que tudo governa, e a partir do qual elas
podem dizer: "Eu sou". Em lugar de oracao, Daly fala da Teología da Ara
nha ou da Caminhada da Aranha para o centro da sua teia ou para o centro
do mundo.

Em 1984 Daly publicou mais um livro - Pura Lust (Puro Prazer) -,


em que exalta o prazer como plenitude do ser e consumado poder!

4. Teología Feminista: os principáis pontos


As teólogas feministas confessam estar ainda elaborando o seu sistema
teológico. Todavía alguns principios sobressaem de suas obras. A seguir,
apresentá-los-emos tais como se depreendem de tres autoras que, á diferenca'
1 Nesta título gyn lambn gyné, muffwr, em grego.

248
teología feminista g

de Mary Oaly, tencionam ficar dentro dos quadros do Cristianismo: Catharl-


na Halkes, Elisabeth Moltmann-Wendel e Rosemary R. Ruether.

4.1. Antropología

Como se percebe, a TF é, mais do que outra coisa, urna antropología


relacionada com o Transcendental. A concepcao básica é a do andrógino,
que é tido como subjacente a todo individuo humano e que reúne em si o
masculino e o feminino. A palavra androginia é evitada pelas teólogas femi
nistas, que preferem falar de "totalidade" ou "conjunto." Halkes entende,
por este vocábulo; a integracao das polaridades (homem-mulher, espfri-
to-corpo) numa unidade pessoal. Por conseguinte, rejeitam a fórmula: "O
homem e a mulher tém o mesmo valor, mas de maneiras diferentes e com
plementares"; em vez de complementacao mutua do homem e da mulher,
pleiteiam a autonomía de cada individuo; a complementaridade, como quer
que seja concebida, leva á subordinacao da mulher. Qualquer hierarquizacfo,
qualquer relacao de submissao é o próprio Mal. A diferenca sexual (em que
o masculino acaba predominando) é responsável por outras formas de subor
dinado ou hierarquizacao: homem superior á natureza, Deus mais perfeito
do que as criaturas, dirigentes da sociedade e simples cidadaos... Subordi-
nacfo significa depreciado. Por isto também as teólogas feministas rejei
tam a distincáb entre corpo material e alma espiritual, devendo aqueie obe
decer ás aspiracoes desta. Espirito e materia seriam apenas o interior e o
exterior da realidade corpórea. Em conseqüéncia, nao existe alma ¡mortal ou
imortalidade da alma. O controle do corpo e dos seus impulsos por parte da
inteligencia e da vontade é urna forma de violencia.

Como dito, também é típico das teólogas feministas rejeitar o prima


do do raciocinio, que formula verdades perenes. Mais importante, para elas,
é a experiencia; esta gera a "Teo-fantasia", em lugar da 'Teo-logia". A vida
tem que ser reconhecida como ela é vivida, sem que se estabeleca urna
dicotomía entre o espirito e seus ditames, de um lado, e os anseios das pai-
xoes e dos sentidos, de outro lado. Todo tipo de controle é vestigio de
masculinidade ou de estrutura patriarcal; por isto tem que desaparecer.

42. Relacionamento com a "Natureza"

A Teología Feminista interessa-se também pelo relacionamento com


a natureza, cultivando o Eco-Feminismo. A depredacao da natureza boje
verificada tem suas raízes em Gn 1,28, onde o Senhor entrega ao homem o
dominio da térra; esta entrega ao dominador implica depredacáo da térra.
Por conseguinte, ponha-se de lado a idáia de que o homem é a coroa da
criacfo; as criaturas ¡racionáis que nos cercam, nao sao objetos, nías sao
sujeitos conosco; ó preciso que nos sintamos solidarios com nossa mae, a

249
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

Térra. Quem sabe que ó parte do todo que é a natureza, já nao aspira á ¡mor-
talidade pessoal; o todo, o conjunto, e nlo o individuo, é que nao tem fim;
dele procede o horneen e para ele volta.

Passemos agora a

5. Reflexoes críticas

5.1. A Antropología da TF

1. A tese de que todo ser humano encerra em si aspectos masculinos e


aspectos femininos pode valer-se da psicología das profundidades de Cari
Gustav Jung; este mestre ensina que todo individuo deve integrar em si valo
res do outro sexo: a mulher integra o animus e o homem a anima.

Todavia é certo que todo individuo, ateas mínimas células do seu or


ganismo, é marcado pela masculinidade ou pela feminilidade. As diferencas
entre homem e mulher nao sao apenas evidentes no momento da propagacao
da especie, mas vao muito mais a fundo; toda a realidade psicossomática de
cada individuo é caracterizada por essa diferenca fundamental. - O próprio
Cari Gustav Jung (cujas idéias sao discutidas por outros psicólogos) reconhe-
ce as diferencas sexuais do homem e da mulher e nao pretende extinguir a
identidade singular tJe cada sexo.

De resto, os psicólogos se comprazem em estudar as peculiaridades


sexuais e mostram minucias muito interesantes. Assim, segundo Philipp
Lersch, o homem é caracterizado pela "ex-centricidade", simbolizada por
urna linha que parte do intimo do sujeito e se lanca no mundo; ao contrario,
a mulher é definida pela centralidade, simbolizada por urna linha circular
que se vai recolhendo num ponto central. Esta centralidade faz que a mulher
tenha mais facilidade para a apreensao dos conjuntos ou do todo e tente
expandir seus talentos ao redor de si no mesmo plano, sem criar a pirámide
do poder.

Segundo o Cristianismo, o homem e a mulher nao sao apenas produtos


transitorios da evolucao cósmica, mas criaturas de Deus sabio, que quis o
masculino e o feminino como tais: "Deus criou o homem á sua imagem; á
imagem de Deus Ele o criou; homem e mulher Ele os criou... Deus viu tudo
o que ttnha feito; era muito bom" (Gn 1,27.31). O homem e a mulher sao
imagem de Deus, desfrutando do mesmo valor, mas na"o da mesma maneira.
Quem quer extinguir as diferencas do masculino e do feminino, extingue a
própria natureza humana, que ná*o ó um neutro assexuado.

2. Um sinal da fragilidade dos principios das teólogas feministas ó a

250
TEOLOGÍA FEMINISTA 11

sua complacencia para com o lesbianismo. Este significa a extincSo da espa


cie humana; sem complementaridade sexual, nao há futuro para a humani-
dade. A familia, na qual o masculino e o feminino se encontram como tais
num convivio enriquecedor para ambas as partes, nao pode ser alijada sem
prejufzo para a especie humana. O homem precisa da muiher, e vice-versa;
sao as diferencas sexuais que provocam a atracao mutua do homem e da
muiher e ocasionam urna comunháo de interesses e valores, á diferenca da
autonomía andrógina, que se opoe á colaboracSo harmoniosa.

É na familia que se exprimem por excelencia a excentrícidade do


homem e a centralidade da muiher; esta, como máe, é naturalmente vol-
tada para os filhos e o lar, enquanto o homem procura fora de casa o sus
tento dos seus; o homem tende a ser a cabeca da familia e a muiher o
coracao, embora estes papéis possam, na vida moderna, ser atenuados em
favor de urna certa equiparacao de tarefas. A propósito veja-se a Constituí-
cao Gaudium et Spes do Concilio do Vaticano II, §§ 48-51, onde é freqüen-
temente citada a encíclica Casti Connubii de Pió XI (1930).

3. A subordinacao que Sao Paulo atribuí á esposa frente ao marido


(cf. Ef 5,21-33), corresponde urna subordinacao do homem á muiher, pois
é esta que educa e forma o homem, quando o tem nos seus bracos e ao seü
lado nos primeiros anos de vida. É o que lembra o Papa Joao Paulo II na sua
Exortacáo Apostólica sobre a Dignidade da Muiher n° 18:

"O ser genitores — ainda que se/a comum aos dois — realiza-so muito
mais na muiher, especialmente no período pré-natal. É sobre a muiher que
recaí diretamente o peso deste comum gerar, que absorve literalmente as
energías do seu corpo e da sua alma, ¿preciso, portento, que o homemseja
consciente de que contrai, neste seu comum ser genitores, um débito espe
cial para com a muiher. Nenhum programa de pandado de diraitosdas mu-
Iheres e dos homens é válido, se nao se tem presente isto de modo todo
ossgnciat...

A educacSo do filho, globalmente entendida, devería contar em si a


duplico contribuícSo dos pais: a contribuido materna e a paterna. Todavía
a materna é decisiva para as bases de urna nova pemonalídade humana".

4. De resto, subordinacao nao significa depreciacao. Sem hierarquia,


nao pode haver sodedade; é o bom andamento mesmo da vida social que
pede naja direcao e governo promulgando leis justas; esta estrutura nada tem
que ver com as diferencas entre masculino e feminino.

A afirmacfio paulina de que em Cristo nao há homem nem muiher


(cf. Gl 3,28), há de ser entendida no respectivo contexto: o Apostólo fala

251
12 "PERGUNTEE RESPONDEREMOS" 349/1991

do Batísmo e dos seus efeitos, que enriquecem oom a grapa de Deus o no-
mem e a mulher indiferentemente. Alias, o próprio Apostólo incute a dife-
renca de funoSes na sociedade e na Igreja, quando propoe a imagem de um
corpo, cujos membros precisam uns dos outros, sem que possa haver menos-
prezo de algum (cf. ICor 12,12-27).

De resto, o poder da mulher na sociedade tem sido mais e mais exal


tado na bibliografía dos últimos tempos. Com razao a mulher assume papéis
sempre mais salientes na vida pública. Ás vezestem-se a impressáb de que as
feministas querem simplesmente copiar o modelo negativo do homem ma-
chista e dominador, como se inconscientemente estivessem sofrendo de um
complexo de inferioridade.

5. Além do mais, a TF caí em contradicho quando, de um lado, apre-


goa a mansidao e os afetos da mulher como valores principáis e, de outro
lado, propugna o aborto: o seio materno torna-se assim campo de bata I ha
e morte. Nao se poderia conceber mais brutal dominacáo de um indivi'duo
sobre outro, dominacáo que precisamente a TF diz rejeitar. A mulher com
pete justamente segurar o braco do homem, cuja cabeca fría e calculista
pode muitas vezes cometer desatinos, desatinos que só o coracao da mulher
auténticamente feminina consegue impedir.

6. A ortentacao do corpo e de seus afetos por parte da alma nao pode


ser tida como atitude de violencia. Caso nao exista, o ser humano se torna
escravo de suas paixoes e caprichos irracionais. É a alma humana espiritual
e ¡mortal que configura a personalidade, imprimindo seus traeos á respecti
va corporeidade.

52. Relacionamento com a "Natureza"

A estima da natureza irracional nao ó bandeira específica dos ecologis


tas contemporáneos, mas é amigo patrimonio cristao. Sao Francisco de
Assis (t 1227) é, por exempto, o grande cantor da beleza das criaturas que
cercam o homem: "Irmáo Sol, Irma* Lúa, Máe Térra..." sao expressoes suas.

O preceito, do Criador, de dominar a térra nao implica deterioracao


ou destruicáo da natureza.

O mundo nao é divino nem se identifica com a Divindade, como pre


tende o panteísmo. O culto da "Máe-Terra" significaría o retorno á mitolo
gía paga*.

A exaltacáo da natureza na TF acarreta urna degradacao do ser huma-

252
TEOLOGÍA FEMINISTA 13

no, que Mary Daly coloca no mesmo plano que caes, gatos, vacas e tarta
rugas.

Em suma, o amor da TF peta natureza vem a ser a negacáo da identi-


dade de cada criatura e a rejeicao do plano do Criador. O homem — e cada
individuo em particular - tem a vocacáb para comungar com a felicidade
do próprio Deus Uno e Trino na vida futura; esta sua dignidade pessoal nao
pode ser reduzida a normas ecológicas.

As ponderapoes até aqui propostas evidenciam quao distante está


a TF da doutrina crista; o diálogo com as suas representantes é muito di
fícil porque há divergencias básicas. A restauracao do mito do andrógino
(que as mais radicáis representantes nem sequer aceitam) Iembra a gnose dos
sáculos ll/lII.

Este artigo se apóia no trabalho do Prof. Manfred Hauke (Augsburgo),


publicado em Forum Katholische Theologie 1989 1/1, pp. 1-24, com o
título: Zielbild: "Androgyn". Anliegen und Hintergründe feministischer
Theologie.

* • •

(continuado da p. 266)

PAL.: "Em resumo, o panorama nao parece ser muito alvissareiro".

BJVI.: "Depende de como se considera. Por certo, as coisas nao vao


bem; mas, como disse no comeco, o muro do materialismo prático nao se
pode manter de pé; e para mim nío é temerario crer que está perto da sua
ruina. O que causa dó, é que, enquanto nessas sociedades muitos tentam
procurar luz para sair do marasmo, os dirigentes nos encaminham alegremen
te' para o precipicio e ainda se aborrecem porque os Bispos dáb o grito de
alarme. Como quer que seja, há muita gente que está reagindo de maneira
responsável e se senté feliz por ser chamada a obra de tanta envergadura
como é a regeneracao moral da sociedade".

* * *

O texto é um testemunho de que qualquer organizacao da sociedade


que se confine aos bens temporais, é insatisfatória para o homem. Este foi
feito para o Absoluto ou para Deus, e nao descansa enquanto nao se volta
para Ele. A sociedade moderna transmite assim eloqüente licao aos cristaos,
exortando-os a que nao se deixem iludir pelo secularismo que os arneaca.
"Vos sois o sal da térra. .. Se o sal perder o seu sabor, com que se há de
salgar?" (Mt 5,13).

253
Declaracdes de um crítico superficial:

"O Advogado do Diabo"

Em sfntese: O bispo anglicano John Shelby Spong pub/icou o livro


Resgatando a Biblia do Fundamentalismo, em que critica o texto sagrado
por ensinar pretensas "monstruosidados científicas"; além do qué, o Apos
tólo Sio Paulo á tido como homossexual pelo autor. — Na verdade, Spong 6
que comete graves erros de exegese bíblica, que desabonan) por completo
suas obfecóes; verificase que nSo tem autoridade para fa/arde tais assuntos,
como se poderá depreender da exposicao abaixo.

* * •

A revista VEJA de 20/02/1991, pp. 44s, publicou declarares do bis


po anglicano John Shelby Spong, dos Estados Unidos, referentes á Biblia
e á vida, crista em nossos dias. Trata-se de afirmacoes céticas em relacab ao
texto sagrado, tido como irrisorio em varias de suas passagens. O Apostólo
Sao Paulo é considerado homossexual - o que nao impressiona mal o pro-
prio John Spong, que é defensor dos homossexuais e já ordenou um homos
sexual. Além disto, o autor é partidario da ordenacao de mulheres. Estas e
outras idéias sao professadas pelo prelado anglicano em seu livro "Resgatan
do a Biblia do Fundamentalismo", lampado há poucos meses nos Estados
Unidos.

Spong é casado, pai de tres filhas; preside á diocese anglicana de


Newark, com 125 ¡grojas, em Nova York. Segundo ele, "o que a Biblia nos
coma, é a maneíra como nossos ancestrais interpretaran! o mundo em que
viveram, deram sentido á sua vida e refletiram sobre Deus". Após as suas
ponderacoes exegéticas, concluí: "Amo a Biblia. Ela é o meio através do
qual eu ouco, comparo e me relaciono com a Palavra de Deus; mas para mim
as palavras da Biblia nao sao as palavras do Senhor".

Consideremos as "monstruosidades científicas e culturáis" que Spong


diz existirem na Biblia.

AS "MONSTRUOSIDADES CIENTl'FICAS"

1) Se Abraao viveu em tomo do ano 4000 a.C. e o homo sapiens apa-


recau há 500.000 anos, por que Deus esperou 496.000 anos para revelar-se?"

254
"O ADVOGADO DO DlABO" 15

- Esta interrogacáb parte de premissas erróneas e, por isto. nada sig


nifica. Com efeito; a data que os estudiosos atribuem ao Patriarca Ábralo é
o secuto XIX a.C, e nao o ano de 4.000 a.C! Além disto, Deus nunca
deixou de se manifestar aos homens; antes de Ihes falar pela revelacáo
judeo-cristá, falou-lhes pela voz da consciéncia e pelas criaturas grandes e
pequeñas que cercam o homem e atestam a sabedoria do Criador. Sao Paulo
o afirma, dirigindo-se á multidáo na Licaónia:

"Deus fez o céu, a torra, o mar e tudo o que neles existe. . . Nao
deixou de dar testemunho de si mesmo. fazendo o bem, do céu enviando-vos
chuvas e estafóos fruíIteras, saciando de alimento e alegría os vossos cora-
p3es"(At 14,15.17).

Aos atenienses dizia o mesmo Apostólo:

"De um só, Deus fez toda a raga humana para habitar sobre a face
da térra, fixando os tempos determinados e os limites do seu habitat. Tudo
isto para que procurassem a Divindade, e. mesmo se ás apalpadelas. se es-
forcassem por encontrá-la, embora nao este/a longe de cada um de nos" (At
17¿6s)

Mesmo depois de Cristo Deus se faz presente a todo homem que nao
tenha a oportunidade de conhecer o Evangelho, pois a todos fala pela revela-
cao cósmica (a natureza exprime a grandeza do Criador, como o relógio ex
prime a sabedoria do relojoeíro) e pela voz íntima da consciéncia, que pro
clama: "Pratica o bem, evita o mal" e tudo o que daí decorre. Ver Constituí-
cao Lumen Gentium n° 16, do Concilio do Vaticano II:

"Aqueles que, sem culpa, ignoram o Evangelho de Cristo e sua fgrefa,


mas buscam a Deus com coracio sincero e tantam. sob o influxo da grapa,
cumprir por obras a sua vontade conhedda atravás do difame da conscién
cia, podem conseguir a salvacSo eterna. A Divina Providencia nSo nega os
auxilios necessários á salvacao aqueles que, sem culpa, aínda nao chegaram
ao conhedmento expresso de Deus e se esforqam, nSo sem a divina graqa,
por levar urna vida reta. Tudo o que de bom e verdadeiro se encontré entré
ejes, é Igre/a Julga-o como urna preparacao evangélica, dada porAquele que
ilumina todo homem, para que enfim tenham a vida".

Nao podemos impor a Deus datas e encontros marcados, mas temos


certeza absoluta de que em tudo Ele é sabio, santo e providente para com
os homens.

Vé-se, pois, que a pergunta de Spong carece de fundamento.

255
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

2) "O diluvio é físicamente inviável. A Biblia diz que a agua ficou qua-
tro metros ácima dos picos mais artos da Térra. Se eta fosso plana (como diz
o Velho Testamento), a agua transbordaría. Como ela é redonda, teria que
ser absorvida, o que é impossível".

— De fato, um diluvio universal, recobrindo de agua toda a face da


térra, é impossível; desequilibraría o universo inteiro. - Mas a Biblia nao o
professa. Quando o Génesis diz que "morreu toda carne (Gn 6,13; 7,4.22...)
" e "a térra toda ficou recoberta" (Gn 7,18-20), tem em vista apenas o am
biente que era o cenário da historia da salva gao. Alias, o Génesis, a partir
de 4,1, só narra os feitos dos setitas e cainitas; embora refira que Adáo ge-
rou filhos e filhas (Gn 5,4), o autor sagrado nao descreve a descendencia
e a historia desses outros seres humanos; é, pois, no quadro da historia dos
cainitas e setitas que o autor coloca o diluvio, sem querer envolver os de-
mais homens na catástrofe. A Escritura Sagrada tenciona relatar nao sinv
plesmente historia, mas historia religiosa; por isto o género humano, pa
ra o hagiógrafo, reduzia-se aos individuos portadores dos valores religio
sos da humanidade. De resto, os semitas usavam freqüentemente as lo-
cucoes "todos os homens" e "a térra inteira" em sentido hiperbólico;
ver Gn 41,54.57; Dt 2,25; 2Cr 20,29; 1 Rs 10,23; At 2,5.

Ulteriores explicacfes se encontram em nosso Curso Bíblico por Cor


respondencia, Módulo 45.

3) "Na batalha de Jericó o exércrto judeu nao podia fazer que o Sol
parasse, pois ele já está parado em relacao á Térra. Seria necessário que a
Térra parasse, e, se isso acontecesse, a freada destruiría o planeta".

Mais urna vez, Spong dá testemunho de ler a Biblia de mane ira super
ficial, sem recorrer aos criterios literarios e exegéticos que todo bom estu
dioso deve aplicar. Vejamos:

É no texto de Js 10,7-15 que se encontra a famosa passagem relativa


ao "estacionamentó do Sol". Ora urna leitura mais atenta dessa secao veri
fica que o texto está redigido parte em prosa (10,7-11), parte em poesia
(7,12-13a) e prosa (7,13b-15). A primeira parte (10,7-11) narra urna bata
lha de Josué contra osamorreus, batalha que Josué venceu mediante a espa
da e urna tempestado de granizo; a pos o versículo 11, poder-se-ia passar diré-
tamente para o v.15, como se vé a seguir: "v.11 Foram mais os que morre-
ram pelo granizo do que pela espada dos filhos de Israel. . . v.15 Voltou
Josué e, com ele, todo Israel, ao acampamento de Guilgal".

256
"O AOVOGADO DO DIABO" 17

Os vv.12-14 sao, portante, um enxerto. Este cita o Livro do Justo


(coletánea poética de facanhas dos heróis de Israel; cf. 2Sm 1,18); esta obra
refere em poesia a prece de Josué:

"5o/, detém-te em Gabaon,


E tu, Lúa, no vale de Ajafonl"
Entendamos esta linguagem poética como os antigos a entendiam:
supunha a Térra como mesa plana, sobre a qual haveria o firmamento ou
urna abobada; na superficie desta o Sol desusaría durante o dia (como pare
ce aos olhos do observador desprevenido); quando, porém, há mau tempo, o
Sol parecía aos antigos deter-se numa guarida colocada sobre o firmanento;
0 Sol parava. . . ; havia luz, mas nao se via o Sol, porque a luz era tida como
independente do Sol, tendo sua fonte própria. Por conseguinte, quando
Josué pede que o Sol pare, nao pede senao a tempestade de granizo que o
ajudou a desbaratar o inimigo. A referencia ao estacionamiento da Lúa é
mera modalidade do estilo poético semita, que pede o paralelismo dos versos
("Sol, para! Lúa, detém-te!"). O interpolador cita a fonte donde tirou o tre
cho poético (v.13) e acrescenta seu comentario pessoal: "Nunca houve dia
semelhante, nem antes nem depois, quando Javé obedeceu á voz de um no-
mem. É que Javé combatía por Israel" (v.14). Assim termina o enxerto, e
passa-se á conclusao: "Voltou Josué... ao acampamento de Guilgal".

Vé-se, pois, que o texto de Js 10,7-15 de modo nenhum sugere o esta-


cionamento real do Sol ou da Lúa, mas apenas menciona urna tempestade de
granizo, que, em linguagem poética, implica a parada do Sol. Assim o estudo
dos géneros literarios da Biblia (prosa, poesia) permite dissipar um problema
que fez correr rios de tinta e que o pastor Spong levanta mais urna vez sem
razáo ou desconhecendo a atual exegese do texto bíblico.

Verdade é que durante sáculos os versículos 12-14 foram entendidos


ao pé da letra, como se fossem prosa. Os estudiosos tentavam explicar o
"fenómeno", procurando assinalar um portento que I he correspondesse
(chuva de meteoros, refracao dos raios do Sol, estacionamiento da Térra...),
mas em vao. Antes de se pensar em qualquer explicacfo de texto bíblico, é
necessário investigar o respectivo género literario, pois a prosa e a poesia tém
suas leis de redacao e interpretacao própr¡as:a prosa é cha, lisa, literal, ao
passo que a poesia é figurada, alegórica, reticente...'

4) "No Velho Testamento Moisés fala duas linguagens diferentes.


Numa é um universalista, noutra um nacionalista. Pode-se suspeitar que o
peraonagem bíblico seja resultado da fusáo de duas pessoas: um líder egipcio
(Moisés 4 urna palavra egipcia) e um guerreiro judeu".

1 Ver "Aínda o Milagro do Sol" i p. 283 deste fascículo.

257
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

De novo a atencao ás conclusoes dos biblistas modernos desfaz o pro


blema levantado. Com efeito; sabe-se ho¡e que a Lei (Torah) atribuida a
Moisés tem seu núcleo fundamental em Moisés (século XIII a.C), mas foi
sendo desenvolvida e esmiucada por maos diversas no decorrer' de oito
séculos (até o século V a.C. sob Esdras);a Lei tem que acompanhar a histo
ria e atender a situacóes novas que um povo vai conhecendo através dos tem-
pos. Por isto nao é de estranhar que nos cinco livros (Génesis. Éxodo, Levfti-
co. Números, Deuterondmio) da Torah "de Moisés" naja enfoques diversos,
ora mais universalistas, ora mais nacionalistas. O nome Moisés é realmente
de origem egfpcia; a raiz M S entra também nos nomes dos faraós RaMSés
e TutMoSes. Isto se compreende bem, pois Moisés foi educado na cor
te do Egito; cf. Ex 2,5-10. Moisés tinha, pois, o sangue e a religiao de
Israel, e traeos culturáis do Egito - o que nao invalida a sua obra nem a
Torah que Ihe é atribuida. O povo de Israel, em certas fases de sua historia,
viu-se mais obrigado a afirmar sua identidade ou seus caracteres nacionais,
ao passo que em outras se sentiu incitado a propor o seu universalismo ou a
sua missao destinada á salvacao de todos os homens.

5) "Na historia de Sodoma e Gomorra, Deus mandou mensageiros á


cidade para ver o que eitava acontecendo. Ele nao ó oniciente?"

- A Biblia, em Gn 18,20-22, usa um antropomorfismo, assemelhando


Deus a um chefé guerreiro. . . Nao sao raros os antropomorfismos bíblicos,
que aprésenlam Deus com máos, boca, bracos, pés, rosto... Nao devem ser
tomados ao pé da letra. O leitor, por pouco iniciado que seja, deve saber dar
sentido figurado a esses antropomorfismos. A Biblia mesma professa que
Deus nao é como o homem:

"Deus nao 6 homem, para que minta,


nem fílho de Adió, para que se retrate.
Por acaso Ele diz e nao faz,
fata e nao realiza?"

(Nm 23,19)

"O egipcio é homem, e nSo Deus,


os seus cávalos sao carne e nSo espirito".
(Is 31,3)

6) "Em aramaico as palavras camelo e corda sao muito pareadas. É


bem provável que Jesús tenha dito que 'ó mais fácil urna corda passar pelo
buraco de urna agulha que um rico entrar no reino dos céus'".

- A proposito veja-se o artigo deste fascículo ás pp. 261-265.

258
"O AOVOGADO DO DIABO" 19

7) "Sao Lucas diz que o romano Pdncio Pilatos quería salvar Jesús. Se
gundo ele, foram os soldados de Heredes, e nao os romanos, que maltrata-
ram Cristo. Lucas 6 o único a falar em 'Dai a Casar o que é de César'. É esse
apostólo que diz que o reino de Cristo nao é coisa deste mundo. Ele estava
buscando o raconhecimento do cristianismo pelos romanos".

— Nestas afirmativas há tres erros, que supoem urna pessoa pouco fa


miliarizada com os Evangelhos, mas ousa da mente crítica. Com efeito.

a) Lucas nao é o único a transmitir-nos a máxima: "Dai a César o que


é de César". Vejam-se Me 12,17; Mt 22,21.

b) Lucas nao diz que "o reino de Cristo nao é coisa deste mundo". É
Joao - e somente Joao - quem póe nos labios de Jesús estas palavras: "Meu
reino nao é deste mundo" {Jo 19.36).

c) Lucas nao foi apostólo, um dos doze, mas foi evangelista, chamado
ao Evangelho na Siria (Antioquia) depois da Ascensao do Senhor.

De resto, Lucas nao é o único Evangelista que nos diz que Pilatos que
ría salvar Jesús. .. O mesmo se nota também no texto de Mateus; este evan
gelista refere os seguintes dizeres de Pilatos aos judeus: "Estoit inocente
desse sangue. A responsabilidade é vossa" (Mt 26,24); também narra que a
esposa de Pilatos mandou dizer ao marido: "Nao te envolvas com esse justo,
pois muito sofri hoje em sonho por causa dele" {Mt 26,19).

Donde se vé que a conclusáo de Spong carece de valor, porque funda


mentada em premissas falsas ou improcedentes.

8) Jesús ascendeu ao céu e sentou-se á mao direita de Deus. Se ele ti-


vesse ascendido com a velocidade da luz, aínda nao teria chegado á fronteira
da nossa galaxia. Na era espacial, quem fizer isso, entrará em órbita, nao
no céu".

Estas frases sugerem a pergunta: Spong as escreveu convictamente ou


por brincadeira? Parece incrfvel que um "bispo" anglicano acredite que o
céu "está lá em cima". Quando a Escritura diz que Jesús se elevou ou foi
elevado aos céus (cf. At 1,2; Le 24,51), usa linguagem figurada, que os cris-
taos entendem como tal e nao ao pé da letra; o texto sagrado quer apenas
dizer que Jesús desapareceu aos olhos dos Apostólos em linha vertical. . .
e mais nada; nao há como montar urna "topografía doalém";as referencias
bíblicas á vida futura tém um expressionismo geográfico rudimental-, que
nao pretende definir espacos postumos. A fé ensina que« santfssima huma-
nidade de Cristo foi exaltada e glorificada após o término da sua missáo na

259
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

térra; Jesús, como nosso Sumo Sacerdote, continua a exercer a sua obra re
dentora através dos sacramentos, qué o tornam presente entre nos. Mas nao
se pode definir um habitat espada I para Cristo e os justos glorificados no
além.

9) Quanto ao pretenso homossexualismo de Sao Paulo, nao é difícil


refutar a hipótese. Em Rm 1,26s, o Apostólo apresentao homossexualismo
como vicio dos pagaos, assim punidos por terem caído na idolatría. Em
1 Cor 6,9s Sao Paulo diz que os impúdicos, os efeminados e os sodomitas nao
herdarao o Reino de Deus. Em 1Tm 1,10 menciona os impúdicos e pederas
tas como transgressores da Lei. Tais palavras nao se entenderiam se o pró-
prio Apostólo fosse vítima de tais aberracoes. Sao Paulo foi, sim, celibatá-
rio, abracou a vida una ou indivisa por amor ao Reino dos céus e nao porque
nao se pudesse casar. Em 1Cor 7,25-35 expoe as razoes que recomendam o
celibato e a virgindade, mostrando que a ¡rrupcao do Eterno no tempo soli
cita do cristao a máxima disponibilidade para atender aos interesses do Rei
no. Fica, pois, obvio que a argumentacao de Spong carece de todo valor
exegético e científico, nao merecendo, por isto, ser levada a serio. Diante de
um caso como este, o cristao mais urna vez toma consciéncia de que há de
ler o noticiario religioso ñas nossas revistas profanas com olhar crítico, a fim
de nao ser levado pela onda do sensacionalismo, que sacrifica a verdade a
interesses espurios.-

* * *

(continuado da p. 265)

a pobreza, ao contrario, significaría maldicao divina. Tal era o modo de


pensar predominante entre os antigos judeus, cuja mentalidade ainda se
ressentia de rudez ou infantilidade. É essa falha de pensamento que o Se-
nhor, entre outras coisas, deseja remover no Evangelho: "ser abencoado e
amigo de Deus" nao quer necessariamente dizer "vir a ser dotado de bem-es-
tar e de consolo terrestres"; verifica-se mesmo que Deus "repreende e casti
ga os que Ele ama" (Ap 3,19); é aásim que Ele os purifica e dilata, emaná-
pando-os dos grilhoes do egoísmo.

Eis, pois, em síntese, a mensagem decorrente das palavras do Senhor


em Mt 19,24: as posses temperáis sao urna dádiva, e dádiva boa do Bom
Deus. É preciso, porém, que o homem nao se deixe avassalar nemabsorver
pelos seus háveres, mas, antes, os domine e administre de modo a dar gloria
ao Criador, beneficiar o próximo e enobrecer a sua própria alma.

260
"É mais fácil um camelo..."

O Camelo e o Fundo da Aguiha

Em síntese: As palavras de Jesús que afirman» ser mais fácil um came


lo passar pelo fundo de uma aguiha do que um rico entrar no Reino dos
céus, recorrem a uma hipérbole surpreendente. Com efeito; sao muito dis
tantes um do outro o fundo de uma aguiha e um camelo. Por isto alguns au
tores querem atenuar a dispar¡dade, alegando que o texto grego do Evange-
Iho nao se refere a um buraco de aguiha, mas a uma corda ou a uma porta
de pouca altura em Jerusalém. Tais interpretacSes sao despropositadas, por
que se pode provar, por dtacoes varias, que, para ilustrar o impossfvei, os
semitas se valiam do contraste entre um grande animal e um minúsculo
receptáculo.

* * *

Tem causado problemas de interpretado o texto que se segué:

Mt 19,23: "Em verdade eu vos digo que difícilmente um rico entrará


no Reino dos cáus. 24 Digo-vos aínda: á mais fácil passar um camelo pelo
fundo de uma aguiha do que um rico entrar no Reino dos céus".

Para entender estas dif icéis palavras de Jesús, será preciso, antes do
mais, lerñbrar o episodio que Ihesdeu ocasiao (cf. Mt 19 16-221 Me 10 17-22
Le 18,18-23).

Um jovem rico, cheio de ardor, foi certa vez perguntar ao Divino Mes-
tre o que devia fazer para conseguir a vida eterna. Jesús Ihe indicou os man-
damentos da Lei de Deus. Tendo o jovem respondido que já os observava
desde a juventude, o Senhor aconselhou-lhe vendesse as suas posses, distri-
buisse o preco entre os pobres e, voluntariamente pobre, seguisse o Mestre.
Contudo, "ao ouvir estas palavras, o jovem afastou-se entristecido, porque
era proprietário de grandes bens" {Mt 19,22).

Foi esta atitude do jovem entravado pelo amor aos seus haveres que
ocasionou as observacoes ácima transcritas.

261
22 ' "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991
Essas afirmaoSes devem agora ser analisadas. Examinaremos, em pri-
meiro lugar, o sentido da comparacao contida no v.24; depois deduziremos a
mensagem geral expressa pelo Senhor ñas frases transcritas.

1. AcomparacSo

Jesús, querendo inculcar a dificuldade com que alguém se salva, cita o


caso de um camelo, animal de grandes proporcoes, que quisesse entrar pelo
orificio de urna agulha, buraco de mínimas dimensoes; certamente ná"o o
conseguiría. Tal seria a sorte dos ricos perante a salvacao eterna!

Veremos em breve o sentido doutrinário desta afirmativa; no momen


to interessa apenas explicar o seu aspecto literario, ou seja. a mencá~o do ca
melo e da agulha como termos de comparacao.

Deveremos dizer que tal linguagem enfática ou hiperbólica, longe de


ser estranha aos semitas, era bem familiar a um círculo de judeus: deviam
entender um camelo tal qual e o pequeño furo da agulha como ele se a pre
senta na sua realidade natural; a disproporcao, o contraste quase absurdo,
nao os espantava. Com efeito, lé-se em outros textos judaicos semelhante
comparacao: para dizer que algo era impossfvel, os rabinos lembravam o
caso de um elefante (em lugar de camelo) que tentasse penetrar o fundo
de urna agulha. .

Tenham-se em vista as seguintes palavras do Talmud (coletánea de


sentencas dos rabinos ou dos mestres judaicos):

"Raba (352) afírmou: 'Ninguóm imagina, nem mesmo em sonho, urna


palmeira de ouro ou um elefante que passe pelo buraco de urna agulha'".

Tambóm se li no Talmud, á guisa de proverbio: "O elefante nao danta


em umgab ( = medida de exigua capacidade)".

Cf. Talmud da Babilonia: Berach. 55 b e Baba Metía 38 b.

Muito antes de Jesús, o elefante tornara-se famoso na cultura oriental,


visto o papel que desempenhara ñas guerras da Macedonia e da Siria; nos
tempos de Cristo, poróm, era mais cpnhecido e vulgar o camelo. Daf prova-
velmente a mencao que o Senhor faz de camelo, e nao de elefante, no
Evangelho.

O livro bíblico dos Proverbios (17,12), recorrendo a análogo modo de


falar, assevera que "é melhor encontrar urna ursa a quem tenham sido arre-

262
CAMELO E FUNDO DE AGULHA 23

bata dos os filhotes do que defrontar um insensato em delirio". 0 profeta


Jeremías (13,23), também numa comparacáb enfática, pergunta:

"Pode um etiope mudar a própria pele?

Ou um leopardo apagaras malhas do pilo de que se reveste?

E vos como podareis praticar o bem se estáis impregnados de mal-


dader

Jesús mesmo no Novo Testamento, dirigindo-se aos fariseus, diz que


f¡Itram um mosquito, mas engolem um camelo (cf. Mt 23,24).

Quanto ao buraco de agulha, servia freqüentemente de comparacfo


ñas escolas judaicas.

Assim falava um mestre em Israel: "Se em um odre houver um orificio


do tamanho do fundo de urna agulha, bastará para que todo o líquido escor
ra por ele". Outro atribuía ao Senhor Deus a exortacao seguinte: "Fazendo
penitencia, abris para mim urna passagem do tamanho do buraco de urna
agulha, e eu vos abrirei urna porta por onde os ve fcu los e os carros poderao
passar".

Contudo alguns antigos leitores do Evangelho julgaram estranha de-


mais a compara cao ocorrente em Mt 19,24. Por isto S. Cirilo de Alexandria
(t444) quería abrandá-la, diminuindo o tamanho do camelo, isto é, enten-
dendo o camelo (kámelos, em grego) nao no sentido de um animal, mas
como se fosse a corda grossa ou o cabo (kámilos, em grego) ao qual os nave
gantes prendem a áncora de bordo; assim, por exemplo, se lé na traducao la
tina da obra desse apologeta dirigida contra o Imperador Juliano o Apóstata:

"Acrípit ergo demonstrationem: foramen acus et camelus; non animal,


ut opinatur Ju/ianus impius et omnino insipienset idiota, sed potíus rudens
crassus qui in omni navi. Ita enim mos est nominandi iis qui docti sunt res
nautarum" fluliani imperatoris librorum contra Christianot quae supersunt.
Teubner 1880, pág. 56).

"O Senhor recorre a urna comparacao, lembrando o buraco de urna


agulha e um camelo:nao camelo animal, comojulga o impío Juliano... mas
antes um cabo grosso tal como se encontré em todo nave. Tal é o expressio-
nismo próprio dos peritos em navegafio".

Alguns outros poucos autores antigos interpretavam "camelo" do


mesmo modo. Eis o que diz o "Tractatus de divitiis" (XVIII 1 e 2), atri-

263
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

buido ao bispo Fastidio (410-450) ou ao escritor pelagiano Agrícola (cerca


de 429):

"Sed non de camello dictum est, inquies, cuiper foramen acus transiré
penitus impossibile est, sed de camelo, ¡d est, de náutico quodam fuñe.

Nao se trata de um camelo propriamente dito, pois a este animal tí de


todo impossfvel passar pelo buraco de urna agulha, mas tratarse de um cabo
usual em navegacao".

Outros comentadores de Mt 19,24, também desejosos de suavizar a


hipérbole, julgam que Jesús tinha em vista pequeña porta da cidade de Jeru-
salém chamada "Buraco da Agulha", pequeña porta pela qual os animáis de
carga só poderiam passar se fossem despojados da bagagem e dobrassem os
joelhos; os homens só transitariam por ai se se encurvassem. Assim pensam
alguns amigos e modernos intérpretes. Contudo a existencia dessa porta é
controvertida por arqueólogos competentes. Vao seria fundar a explicacao
dos dizeres de Jesús sobre tal hipótese. Nao há dúvida, a acepcao literal do
"camelo" e da "agulha" está bem na linha do pensamentó semita; Jesús terá
usado realmente- essa comparacao forte. Resta-nos entao analisar o que o
Divino Mestre quería dizer mediante tal forca de expressáo.

2. A mensagom das palavras de Cristo

O Senhor nao condena o dinheiro ou as posses materiais como tais.


Sao instrumento para o bem, quando se a cha m ñas máos dos bons; instru
mento para o mal, quando se acham ñas maos dos maus. O dinheiro bem
pode servir de meio para que o homem cultive o amor a Deus e ao próximo,
praticando boas obras, e assim, mediante esse bom uso, mereca entrar na
vida eterna (as boas obras seriam "amigos que nos receberiam ñas man-
soes eternas", conforme Le 16,9). Tal homem é dito "rico para Deus"
(cf. Le 12,21), em vez de ser rico para si, isto é, rico de mane ira egoística e
prazenteira. Jesús reconhece a existencia de pessoas ricas e boas, como era,
por exemplo, Zaqueu, o qual restituía quatro vezes mais, quando ver¡f¡cava
ter lesadoalguém (cf. Le 19,8-10).

Tenha-se, pois. por certo que o Evangelho de modo nenhum condena


a propriedade particular. Esta é baseada no direito natural; constituí a ex-
pressao da personalidade humana e, por assim dizer, urna das condicoes nor
máis de desenvolvimento da personalidade. É preciso que todo homem pos-
sua seu aconchego próprio e indevassável, como ele tem oseu próprio "eu"
inconfundível (uns possuirSo menos, outros possuiráo mais, de acordó com
as qualidades ea capacidade de cada um).

264
CAMELO E FUNDO DE AGULHA 25

Contudo Cristo em Mt 19,24 quer lembrar que a posse de dinheiroé


algo de perigoso, pois tende a absorver e avassalar o homem ou, no míni
mo, a embotar-lhe a consciéncia. "Onde está o teu tesouro, a( está também
o teu coracáo", dizia o Senhor em Mt 6,21. É com vistas aos que voluntaria
mente cedem á absorcao e materia I iza pao que o Senhor assevera a impossi-
bilidade de se salvarem; e, para incutir enfáticamente tal ímpossibilidade.
recorre á comparacfo do cameloe da agulha.

As riquezas acariciadas em sentido materialista, isto é, comofonte de


toda esperanca e como limite ao qual se confinamasaspiracoesdo homem,
exercem verdadeira tiranía, diria S. Joao Crisóstomo (t407). Fomentam di
versos vfcios (a ambipáo, a luxúria, a gula, o egoísmo, etc.) e desvirtuam até
mesmo o que possa haver de bom no individuo. Por isto Sao Paulo conside
ra a avareza como raíz de todos os males:

"Aqueles que querem tornarse ricos, caem na tentagao, no lapo, em


numerosos dese/os insensatos e perniciosos, que mergulham os homens na
ruina e na perdicao. Porque o amor ao dinheiro ó a raíz de todos os males.
Levados pelo desojo de possui-lo, alguns se desviaran» para longe da fé e
atormentan) a si mesmos com muitas afligues" (1 Tm 6,9s).

Em conseqüéncia, exortava o Apostólo:

"Aos ricos deste mundo prescreve que nao sejam orgulhosos, nempo-
nham sua esperanca na instabifídade das riquezas, mas sim em Deus, que nos
concede tudo em grande abundancia para nosso uso; pratiquem o bem, tor-
nem-se ricos de boas obras, dSem com liberalidade, repartam do seu e, des-
te modo, acumulem para si um tesouro, que será sólido cabedal para o futu
ro, a fim de alcancarem a verdadeira vida" (1Tm 6,17-19).

O espirito de pobreza ou a superioridade do homem frente aos bens


materia¡s difícilmente se pode conservar sem um ambiente de sobriedade e
parcimónia; a tendencia a evitar posses supérfluas é necessário esteio do do
minio do homem sobre a materia. Quem vive continuamente no gozo,
acariciado pelos favores desta vida temporal, arrisca-se a perder o controle
sobre a materia e a amesquinhar-se ou mesmo escravizar-se.

A inda urna observacao: o evangelista S. Marcos (10,24.26) refere


que as palavras de Jesús concernentes ás riquezas muito surpreendiam os
Apostólos. Isto se explica, pois, como genuínos filhos de Israel, os primei-
ros seguidores de Jesús deviam ser inclinados a crer que os haveres temporais
sao sinal de béncao de Deus e quase prenuncio ou penhor de salvacao eterna;

(continua na p. 260)

265
Qual o sentido de

"istoéoMeuCoipo"?
(Mt 26,26)

Em sfntese: As Testemunhas de Jeová negam a real presenca de Cristo


na Eucaristía, alegando que na proposito "Isto é meu corpo", ó verbo "é"
significa "simboliza". — Ora a propósito parece evidente Que Jesús nSo usou
de expressio ambigua na sua última ceta, guando deixava as últimas instru
idos aos seus apostólos; ademáis o estudo do contexto de Mt 26¿6 prova
que o vertió "ser", no caso, deve ser tomado no sentido próprio. Mais: a
Tradipao oral, a partir dos primeiros decenios do Cristianismo, abona a ínter-
pntacSo literal das palavras de Cristo. Querer ignorar esta TradicSo, para
ler a Biblia como se nao estivesse essendaimente ligada é Palavra de Deus
oral (que Ihe á anterior e que a acompanha), é sujeitar-se a arbitrariedades
subjetivas e falsas.

* * *

As Testemunhas de Jeová tém espalhado um número da revista


A SENTINELA (15/01/1991), portador de artigo que contesta a traducao
"Isto á o meu corpo" em Mt 26,26, e propoe a ver sao: "Isto significa o meu
corpo", como, alias, se IS na traducáo das Testemunhas {Traducáo do Novo
Mundo das Escrituras Sagradas). Visto que este panfleto tem perturbado as
mentes de muitos católicos, examinaremos o caso ñas páginas subseqüentes.

1. O problema

As Testemunhas alegam que a forma verbal grega "esti" pode ser tra-
duzida tanto por "ó" como por "significa". Como exemplos desta segunda
alternativa, citam tres textos do Antigo Testamento (Gn 41,26; Ez 5,5;
Dn 7,17), que foram escritos em hebraico e nao em grego (exemplos portan-
to inadequados), e textos do Novo Testamento como Le 8,11; Mt 13,38;
16,18; Gl 4,24; Ap 1,20.

Ora qual das duas versoes mais convém ao texto de Mt 26,26? - Res-
pondem as Testemunhas: a traducáo "significa", pois "Jesús esta va vivo num
corpo perfeito, quando proferiu as palavras daquele texto"; por conseguinte,
"o pao que Ele ofereceu aos seus seguidores, nao podía ser sua carne literal".

266
'ISTO É O MEU CORPO" 27

Que dizer a proposito?

2. Aresposta

2.1. Metáfora ou sentido literal?

Jesús na última ceia, ao deixar as derradeiras ¡nstrucóes aos discípu


los, terá evitado qualquer termo de sentido ambiguo (ñas horas supremas e
decisivas os homens costumam recorrer a linguagem precisa). Cristo, assen-
tado á mesa com os Apostólos, tinha diante dos olhos todas as geracoes cris
tas a través da historia; sabia previamente que de mane ira gera I, durante séculos
e séculos, os seus discípulos haviam de interpretar os seus dizeres em sentido
realista, prestando adoracao ao SSmo. Sacramento. Nao obstante, segundo
as hipóteses racionalistas. Cristo, "que nao quería ensinara real presenca na
Eucaristía", teria usado termos ambiguos, induzindo em erro seus primeiros
discípulos, homens simples e rudes, e, depois deles, urna multidáo de fiéis
cristaos! Oiga-se mais: Cristo teria usado termos aparentemente claros para
ocultar um simbolismo assaz difícil de se apreender; com efeito, é arduo de
finir qual o significado metafórico que Jesús possa ter tido em mira ao pro
ferir as suas palavras simples sobre o pao e o vinho.em 1577, sessenta anos
após o surto do luteranismo, Sao Roberto Belarmino dizia ter aparecido,
havia pouco, um livrinho que apresentava duzentas interpretacóes dos pro
testantes para as palavras "Isto é meu corpo"!

Contra a perspectiva de um Jesús a induzir em erro os seus discípulos,


insurgia-se em 1529 o humanista, crítico irónico, Erasmode Rotterdam, que
escrevia a Bero a propósito das diversas sentencas "eucarísticas" dos Refor
madores (Lutero e Zwingli):

"Jamáis me pude persuadir de que Jesús, a Verdade e a Bondade mes-


mas, tenfta permitido que por tantos séculos a sua Esposa, a Igre/a, haja
prestado adorapao a um pedazo de pao em lugar de adorar a Jesús mesmo."

Contudo há quem levante objecoes ao sentido literal das palavras de


Jesús.

22. Objetóos

1) Os textos metafóricos

Varios sao os textos da Sagrada Escritura em que Cristo ou os Apos


tólos empregam o verbo "ser" ao sentido de "significar, simbolizar". Sirvam
de exemplo

267
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

Jo 14,6: "Bu sou o caminho, a verdade e a vida";

Jo 15,1: "Eu sou a verdadeira videira, e meu Pai o vinhateiro";

1Cor 10,4. "A pedra era o Cristo" (texto particularmente utilizado


pela exegese protestante).

Le 8,11: "Eis o que significa esta parábola: A sementé é a Palavra de


Deus".

Mt 13,38: "O campo é o mundo. A boa sementé sao os filhos do Rei


no. Ojoto sao os filhos do Maligno".

Mt 16.18: "Eu te digo que tu ás Pedro, e sobre esta Pedra edificare! a


minha Igre/a".

Gl 4.24: "fsto foi dito em alegoría. As duas mulheres sao as duas


alianzas... "

Ap 1,20: "As sete estrofas sao os anjos das sete ¡grojas, e os sete can
delabros sao as sote igrejas".

— Em resposta, far'-se-á observar que o contexto de tais versículos


indica suficientemente tratar-se de alegoria ou locucáb figurada, donde na
tural e evidentemente decorre o sentido simbolista do verbo ser nessas pas-
sagens. No contexto, porém, da última ceia, falta todo indicio de simbo
lismo; arbitrario, portanto, e avesso aos principios básicos da interpreta gao
de qualquer trecho literario seria, na exegese de tais episodios, fugir ao sen
tido obvio e literal do verbo ser.

Álém disto, verifica-se que ñas frases citadas o sujeito é um pronome


pessoal ou um substantivo, sujeito bem determinado e por si mesmo diverso
do respectivo predicado; a aproximado entre sujeito e predicado em tais
sentencas $6 pode ser figurada ou metafórica. Ao contrario, ñas frases da
oonsagracao eucarfttica o sujeito é um pronome demonstrativo, pronome
que por si mesmo é indeterminado e vai receber sua determinacao do
substantivo com o qual ele é relacionado, podendo mesmo ¡dentificar-se
com o significado deste substantivo. Na frase de Cristo, portanto, o prono
me demonstrativo touto (em grego), irto ou este, relacionado com corpo.
nao somente nao se opoe á identificacao com corpo, mas exige-a, de tal
modo é simples e clara a cópula é. Em outros termos: na afirmacáo do Se-
nhor, o pronome "isto" (touto) designa urna substancia existente sob as
apartadas externas do pao, substancia cuja natureza ó enunciada pelo pre
dicado "meu corpo". De resto, nota-se que "isto (ou este) ó meu corpo"

268
'ISTOÉOMEUCORPO" 29

equivale a "E¡s aquí meu corpo", como incute a compara pao de Ex 24,8
com Hb 9,20 (a fórmula "Este ó o sangue" de Ex reaparece em Hb como
"Eisosangue").

No tocante a 1Cor 10,4, onde Sao Paulo aplica a metáfora do Roche-


do a Cristo, note-se que este texto nao pode servir para ilustrar a fórmula
da consagracao eucarística, pois o Apostólo em ICor 10 exprime formal
mente sua intengao de recorrer a urna metáfora: "Nossos pais todos bebe
rá m do mesmo alimento espiritual; bebíam, com efeito, de um Rochedo
espiritual que os acompanhava; e o Rochedo era o Cristo". O adjetivo
"espiritual", duas vezes ocorrente nestes dizeres e diretamente associado
a "Rochedo", indica bem que o hagiógrafo quer empregar urna figura de
linguagem. Sao Paulo mesmo, sem negar a realidade da historia do éxodo,
declarou explícitamente que ele a considerava em ICor 10 como figura do
que se dá com os cristaos do Novo Testamento (cf. v.10). — Na fórmula de
consagracao eucarística, ao contrario, falta todo e qualquer indicio de uso
metafórico das palavras.

2) A fórmula de Lucas e Paulo

Conforme Paulo e Lucas, Jesús disse: "Este cálice é a nova Al ¡anca em


meu sangue. que será derramado" (Le 22,20; cf. ICor 11,25). Ora, assim
como o cálice continuou a ser cálice após estas palavras, dir-se-á que também
pao e vinho nao deixaram de ser pao e vinho após os dizeres que, conforme
Mt e Me, Jesús proferiu sobre eles. Que replicar a isso?

— Na realidade a fórmula de ICor e Le coincide com a de Mt e Me


quanto «o sentido doutrinário, incutindo ambas a real presenca; apenas se
diferenciam no plano filológico ou estilístico. Ao passo que Mt e Mcempre-
gam urna construcao de frase muito lisa e clara, a tradicao de Paulo e Lucas
recorre a doisartif icios de redacao, mencionando sucessi va mente o recipiente
em lugar do respectivo conteúdo (o cálice em lugar da substancia do vinho
que ele continha) no sujeito da frase, e o efeito em lugar da causa (a Nova
Alianca em lugar do sangue que a tornou possfvel e a selou) no predicado da
mesma frase; por conseguinte, se quiséssemos fazer abstracáb dos artificios
de estilo, terfamos em 1Cor e Lea construcao: "Isto (ou esta substancia que
se acha comida no cálice) é o meu sangue. o sangue que acarreta e sanciona
a Nova Alianza entre Deus e os homens". A construcao artificiosa de Sao
Paulo e Sao Lucas serve para exaltar a realidade da Alianca selada pelo corpo
e o sangue de Cristo ¡motados, enquanto a formulacao simples de Sao Ma-
teus e Sao Marcos realga principalmente a realidade da presenca do corpo e
do sangue do Senhor que selara essa Alianca.

269
30 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

3) "Jesús estava vivo..."

"Jesús estava vivo e presente na última ceia; por isto o pao so podia
ser símbolo do seu corpo". - Quem assim fala, usa de um raciocinio mera
mente humano a priori. Deus pode fazer tudo que nao seja absurdo, ainda
que surpreenda as expectativas humanas. Ora os textos bíblicos sao assaz
eloqüentes e claros no sentido de incutir a conversao do pao em corpo e a
do vinho em sangue do Senhor Jesús. A teologia, por sua vez, mostra nao
haver aberracao lógica neste processo.

2.3. A Tradicao

Para entender os textos do Novo Testamento, estavam as antigás


geracoes cristas mais habilitadas do que os leitores do século XX, como sao
as Testemunhas de Jeová. Conheciam muito melhor a língua e os hábitos
do helenismo assim como as ¡ntencoes dos Apostólos e Evangelistas, que
transmitiam a mensagem de Cristo. Ora as antigás geracoes cristas emende-
ram as palavras da consagracao eucarística em sentido literal,1 iniciando
assim a Tradicao da Igreja que o protestantismo no século XVI contestou.2

É ousado e estranho pretender, nos tempos modernos, compreender


melhor o Novo Testamento do que o fizeram os cristaos durante quinze
sáculos. Alias, o Cristianismo tem sua fonte de doutrina nao somente na
Palavra de Deus esaita. mas também na Palavra de Deus oral, que é anterior
áquela e que continua a ressoar na Igreja através da Tradicao, da qual o
Magisterio da Igreja é o órgao credentiado pelo Senhor Jesús <cf. Mt 16,19;
Le 22,31 s; Jo 21,15-17). Separar a Palavra bíblica do seu berco oral e lela
como se nao houvesse um modo de entendé-la tao antigo quanto o Cristia
nismo é entregarse a arbitrariedade e intuicoes subjetivas. Ñas dúvidas rela
tivas ao modo de entender urna palavra bíblica de duplo sentido, nao há
melhor a Ivitre do que o recurso á Trad ¡cao ora I.

Vé-se, pois, que as objecóes das Testemunhas de Jeová ao entendí-


mentó clássico de Mt 26,26 nao procedem. É de concluir, de acordó com os
testemunhos do Novo Testamento escrito e da Tradicao oral, que o Senhor
Jesús quis afirmar a sua real presenca no pao e no vlnho consagrados.

1 Tenha-se am vista a praxa litúrgica com saus textos que, escritos em gn


go, sirio, copta. armenio. . . nos primeiros sáculos, atestam a fé na nal
presenca eucaristía da Jesús.

2 Nos sáculos VIH a IX houve duas controversias eucarfstlcas respectiva


mente, sendo entSo impugnada a real presenca de Cristo na Eucaristía. NSo
diseutíam o smtído do texto gngo do Novo Testamento refennta é euca
ristía, mas apenas o modo como Jbsus está presenta no Sacramento do altar.

270
Paraíso?

Escandinávia: O Bem-Estar Que


Nao Satisfaz

Em símese: Nestaspáginas vaipublicada a entrevista dada pelo Pe. Bar


tolomé Minchen, estudioso da sociedade escandinava, sobre o "bem-estar"
dos quatro países nórdicos da Europa: Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlan
dia. Aponta o suicidio de criancas, o aborto em alta escala, casáis que se
divorciara oficialmente, mas continuam a viver con/ugalmente, porque o
Estado dá urna pensSo aos divorciados que fiquem com os filhos; alunos mal
comportados na escola, que recebem pensSo do Estado para que assístam ás
aulas e se comportem toleravelmente; a tgreja luterana esvaziada de muitos
valores de fá; e machismo, no sentido de que a emancipacSo da mulher signi
fica deixar de atender ao lare aos filhos para ir trabaihar quase compulsoria
mente fora de casa, como faz o homem.

Isto tudo decorre do materialismo subjacente ao "bem-estar" dos po-


vos escandinavos. É claro que, ao lado das deficiencias, o entrevistado neo-
nhece os valores da sociedade escandinava; todavía o que Ihe intenssa, é
dissipar a idéia de que a alternativa para o "paraíso" soviético é o "paraí
so" escandinavo.

* * *

A queda dos regimes marxistes do Leste Europeu dissipou as esperan-


pas postas no paraíso comunista. Isto, porém, nao significa que outros "pa
raísos" na térra possam satisfazer realmente ao homem, se baseados única
mente no gozo dos bens materiais. Na verdade todos os paraísos materia
listas, sejam os de esquerda, sejam os do consumismo egoísta, sao insufi
cientes para responder ás aspiracoes humanas.

Ao modelo marxista tem sido apresentado como réplica o modelo


escandinavo, onde a sociedade parece estruturada de modo a garantir aos
seus concidadaos toda seguranca e bem-estar. - Ora a revista espanhola
PALABRA, em seu número 310, fevereiro 1991, pp. 41-46, publica a en
trevista concedida a esse periódico pelo Pe. Bartolomé Menchén, que se tem
dedicado ao estudo dos países nórdicos e exerceu suas funcoes sacerdotal

271
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

na Escandinávia durante os últimos anos. Transcreveremos abaixo, em tra-


ducáo brasileira, o texto desse depoimento, muito revelador da situacao
daqueles povos nórdicos.

A ENTREVISTA

Dois exemplos

PALABRA: "É certo que, junto ao elevado nivel de vida, existente


nos países nórdicos, grande quantidade há de problemas humanos?"

BARTOLOMÉ MENCHÉN: "É certo. A ponto mesmo de se poder


dizer que, assim como, antes da queda do comunismo, era evidente que o
sistema nao tinha salda, assim há muitos indicios de que determinado mode
lo de sociedade ocidental está levando o homem a um beco sem sa ida e ter
minará por desmoronar.

Vou contar-lhe dois casos para exemplif¡car o que quero dizer.

Há anos, em Estocolmo verificou-se urna revolta que causou impacto


á opiniáo pública. Num maravilhoso pdr-do-sol de veráo, foise reunindo
gente jovem numa Praca central, junto ao Palacio Real;essa éa zona comer
cial mais cara e elegante. Sem que alguém os provocasse, os jovens comeca-
ram a destruir ve fcu los e vitrinas de casas comerciáis, até que apareceram os
policiais. Nos dias seguintes repetiramse as concentracoes e os quebra-que-
bras. A Polfcia fez algumas detencóes; os detidos declararan) que nao tinham
motivo para protestar; simplesmente estavam fartos. Tentando a profundar a
questao, ficou claro aos investigadores que nao se sabia de que estavam far
tos; é certo, porém, que estavam fartos. O funcionario responsável do Gover-
no declarou que, a seu modo de ver, o que se devia fazer era promover para
esses jovens mais concertos de 'Rock'.

Algo de serio estava ocorrendo. É claro que tais manifestacoes coleti-


vas sao a soma de muitas crises pessoais.

Lembro-me tambémde que, numa ocasiáo, recebi em Helsinque o


chamado telefónico de um desconhecido. Era um jovem que quería falar
com um sacerdote. Tinha longa historia em seu passado. Estivera em diver
sos países e fora encarcerado como chefe de movimemos juvenis comunis
tas. Depois de certo tempo em Moscou, solicltava asilo político na Finlan
dia. Dlzla: 'Há pouco abandone! totalmente o comunismo. Foram anos em
que viví na mentira e na violencia. Esperava encontrar outra coisa ao chegar
aquf, mas, há dias, ao aproximar-me de um bfibado prostrado por térra, a
fim de o ajudar, dei-me conta de que estava morto. As pessoas passavam ao

272
ESCANDINÁVIA:O BEM-ESTAR... 33

seu lado com ¡ndiferenca. Nao sei o que fazer, nem o que pensar... Creio
que saf de um inferno para cair em outro!'

Parece-me, retornando á idéia que eu queria exprimir, que somos pou-


co conscientes da situacao em que nos encontramos, porque temos perdido
a sensi buida de.

Proibido enamorarse

PAL.: "Do ponto de vista da Moral, que há na origem dessa perda de


sensibilidade?"

B.M.: "O egoísmo, sem dúvida. O pensar apenas em si mesmo e medir


tudo segundo os criterios da conveniencia própria.

Chamou-me fortemente a atencao o fato de que a professora do grupo


de estudo da língua sueca, de que eu participava, explicou que há pares de
pessoas que vivem juntas (a convivencia sem casamento é muito freqüente
na Suécia), com a condicáb de nao se enamorarem. Pode-se julgar que isto é
desumano, e certamente o é. Mas faz-se mister reconhecer que também é
lógico, dentro da lógica do egoísmo. Todo namoro é um lago e, quando a
liberdade é tida como independencia, os la eos sao vistos como armaduras
mor tais, ñas quais é preciso a todo custo evitar cair. Chega-se assim a urna
¡ndiferenca angustiante em relacao aos outros. Nao é estranhopor isto que,
quando Joao Paulo II fala de recri'stianizar a sociedade, fale também de
re-humanizar a sociedade."

PAL.: "E, do ponto de vista social, que ambientes manifestam mais


claramente essa situacao?"

B.M.: "Creio que todos os pontos nevrálgicos estáo afetados: a vida,a


familia, a educacao e a própria Igraja luterana. O socialismo nórdico empur-
rou decididamente as coisas nessa direcáo".

"Vocé tem o aborto garantido"

PAL.: "Vamos por partes. Que nos pode dizer V. R. sobre o respeito á
vida?"

B Al.: "O Movimento Pro-Vida praticamente nao existe nos países nór
dicos. Na Finlandia alguns se apresentam para a batalha. Da Suécía lembro
urna historia muito significativa. Urna ¡migrante sul-americana, católica, es-
perava seu terceiro filho. Numa das entrevistas com a assistente social, que
acompanhava a situacao, esta Ihe comunicou que já havia disposto todas as

273
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

coisas para que fosse para o hospital. Com surpresa, já que estava passando
muito bem, perguntou para que devia ir para o hospital. A resposta deixou-a
emocionada: como já tivera dois filhos, supunha-se que queria abortar o
terceiro e. por isto, já estava tudo preparado".

PAL.: "E a familia?"

B.M.: "Lógicamente sofre em cheio a crise que afeta o individuo. A fa


milia é constituida por pessoas e, se estas receberam educa cao individualis
ta, transmitem as graves carencias de que sofrem".

Assisti na TV sueca a cinco diálogos entre pais e filhos realmente la-


mentáveis. Na Suécia (trata-se de dados colhidos há poucos anos) urna entre
quatro enancas precisa de atencao psiquiátrica antes dos quinze anos, e o
número de suicidios infantis (127 por ano) é proporcionaImente o mais ele
vado do planeta.

Na Finlandia ouvi no ano passado urna serie de programas de radio


que tratavam da conveniencia de 'descansar' do cónjuge. Propunham que o
marido e a mulher se separassem periódicamente um do outro e vivessem
sem contatos durante um periodo mais ou menos longo, para evitar que
chegassem a se entediar um do outro.

O número de divorcios, nesses países, triplicou-se nos últimos vinte


anos. Na Suécia representa mais da metade dos casamentos. O sistema de
subvencoes encarrega-se de aumentá-lo, pois o Estado se obriga a pagar urna
quantia conveniente á parte que fica com os filhos; mas, como os filhos
podem viver alternativamente com o pai e com a mae, ambos podem receber
a subvencao.

A familia separada encontra-se, portante, em situacáb económica mais


favorável do que a unida. Há casos de pessoas divorciadas no papel, mas que
continuam a viver juntas. Desta forma o orea mentó é menos apertado. Pois
a vida é muito cara e sustentar urna familia numerosa supoe um desafio ao
sistema e urna prova de valor.

Mas, mesmo quando nao há urna familia grande, a pressao social é táo
forte que se torna muito dif ícil á mulher dedicar-se ao cuidado dos filhos e
de sua casa. Na Suócia (em outros paises nórdicos os Índices sao superiores)
90% das mulheres trabaIham fora do lar. Nao é estranho que Olof Palme
tenha podido dizer: "A dona de casa morreu!" O que há de terrivel, neste
caso, é que nao o tenha dito com preocupacao, mas como quem proclama
urna vitória.

274
ESCANDINÁVIArO BEM-ESTAR... 35

Por conseguinte, a familia está-se desintegrando há anos; e, dentro da


familia, especialmente a muiher, porque se trata de sociedades muito ma-
chistas".

Sociedade "machista"

PAL.: "Sociedades muito machiita»? . .. Isto soa de modo um tanto


surpreendente em países que se consideram vanguardeiros da emancipacao
feminina. Poderia explicar-nos o que quer dizer?"

B.M.: "Certamente pode parecer estranho acusar de machismo os regi-


mes políticos da Europa Setentrional; mas creio que, se alguém nao se deixa
levar pelos estereotipos, isto é bastante claro. O dogma básico para as socio-
democracias nórdicas é a igualdade, ou melhor, o igualitarismo. Mas é a
muiher que tem de se igualar ao homem e é pressionada de muitos modos
para que o faca. Ocorrem ás vezes situacoes pitorescas. Faz alguns anos, num
Instituto do Sul da Suécia nao se matriculara nenhuma aluna para um curso,
se nao me engaño, de mecánica de motores. Mas sem a presenca de um nú
mero mínimo de mocas, prescrito por lei, o curso nao podia comecar. Entao
os alunos puseram-se a fazer campanha entre suas amigas, tentando conven-
cé-las para que se inscrevessem, mas nada conseguiram; por isto as aulas nao
tiveram inicio.

Segundo pesquisas recentes, na Suécia, de 86% das mulheres que tra-


balham fora do lar, 70% desejariam ficar em casa e ocupar-se com os filhos;
tal desejo, porém, é ¡nexeqüível.

Além do mais, é preciso nao esquecer que os movimentos feministas -


talvez inconscientemente - ajudam e reforcam o planejamento machista.
Entram no jogo da I uta pelo poder, jogo que é da lógica típica masculina.
Mas tal vez seja este um assunto a explicar com mais vagar em outra ocasiao".

Os maus estudantes recebem um subsidio

PAL.: "Passemos ao tema do ensino".

B.M.: "Toda a responsabilidade educacional foi transferida para o


Estado ou, melhor, o Estado se apropriou déla. Praticamente nao existe
escola nao estatal. Desde que nasce, o menino 'goza' dos desvelos do pa
pal-Estado. Irá para urna instituicao maternal a partir dos seis meses até
comecar a etapa escolar. A escola que ele freqüentar, Ihe dará o mesmo tipo
de ensinamento uniformizado e pragmático, ao qual nao é necessário que
preste muita atencao.

275
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

( Recentemente na Suécía fo¡ apresentado um plano-piloto original de


subsidio escolar' para tentar superar os problemas causados pelos alunos
rebeldes. A Delegada Escolar de Perstorp paga urna quantia mensa! aos
maus alunos para que asslstam ás aulas e se comportem bem ou, ao menos
nao se comportem agressiva mente mal. O presidente do Conselho Superior
de Ensino anunciou que, se o -método der resultado, será introduzco em
todas as escolas suecas.

Nao deixa de ser significativo que haja recurso ao dinheiro para tentar
superar profundos problemas humanos; talvez já se tenha perdido a confian-
ca nos recursos éticos da sociedade".

Urna Igreja secularizada

PAL.: "E a Igreja Luterana nao op&s um contrapeso a esse processo de


desagregacao moral?"

BJvi.: "A Igreja Luterana sofre de profunda secularizacáo. A sua situa-


cao varia nos diversos países, mas, em geral, nao está em condicoes de ajudar
muito no quadro comum da Escandínávía.

Lembro-me de que, há alguns anos, ao visitar urna paróquia luterana,


tomei um folheto explicativo da Confirmacao. Embora nao a consideren)
sacramento, é urna cerimSnía de que muito cuídam, e tem importante signi
ficado na pastoral paróquia I. Aquele folheto animava os jovens á Confirma-
cao e expunha as condicoes estabelecidas: perguntava se era necessário per-
tencer a alguma paróquia, á Igreja Luterana ou ser batizado. A tudo se dava
a resposta negativa. Chegando á questao fundamental, perguntava se era
necessário crer em Deus:a resposta também era negativa, porque 'cada um
tem o seu conceito de Deus'. O único necessário, em concluso, era unir-se
ao grupo.

Lógicamente há propostas mais inspiradas pela fé; nao poucos dos


mais inquietos sentem-se atraídos pela Igreja Católica. Em certa ocasiao,
passeando por Turku (a antiga capital da Finlandia) com um amigo, pastor
luterano, falávamos da situacao da Teología. Dizia em tom convicto: 'Aínda
resta bom número de pessoas antiquadas, mas, grapas a Deus, há multos pro-
gresslstas'. Visto que eu tinha dificuldade para me situar adequada mente
frente a esses progressistas, indaguei um pouco mais. Referia-se aqueles que
procuravam o progresso numa visao interior e mantinham urna postura aber-
ta e positiva diante da Igreja Católica".

(continua na p. 253)

276
Carol Everett confessa:

"Tornei-me Rica Mediante o


Aborto"

Em sfntese: A Sra. Carol Everett foi propríetária de duas Clínicas de


Aborto nos Estados Unidos e Diretora de duas outras desde 1977 até 1983.
Deixou este ramo de trabalho, porque se converteu ao Cristianismo. Entre
vistada por Marta Scheiber, descreve os procedimentos dos oficiáis das Clí
nicas de Aborto, voitados principalmente para o lucro financeiro, a ponto de
iludir e manipular as suas dientes. Menríona os bárbaros métodos aplicados
para eliminar as crianzas, e os artiffríos dirigidos és respectivas mies para
que sufoquem a dor e o trauma de ter matado uma crianpa. Mais de uma vez
Carol Everett fala da "industria do aborto", expressio que e/a justifica ao
referir as estrategias utilizadas pelos profissionais para aliciar mulheres e
délas extrair dinheiro.

* * *

A Sra. Carol Everett esteve comprometida com a prática do aborto


desde 1977 até 1983. Como Diretora de quatro Clínicas e proprietária de
duas délas, era responsável pela atividade diaria desses estabelecimentos e
pelo programa de instrucá*o de todos os seus empregados. Comecou suas ati-
vjdades em 1973, a pos ter ela mesma sofrido um aborto voluntario, logo
depois que se legalizou tal prática nos Estados Unidos.

A repórter Marta Scheiber foi entrevistá-la a respeito de suas experien


cias. O texto resultante dessa entrevista foi publicado na revista espanhola
PALABRA n?309,1 (1991), pp. 46s.

Eis o texto das declarares de Carol Everett em traducao brasileira:

A ENTREVISTA

REPÓRTER: "Qual foi o motivo que a envolveu na industria do


aborto?"

CAROL EVERETT: "Eu estava procurando uma razió para justificar


meu próprio aborto. Finalmente encontrei-mea trabaIhar com um homemque

277
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

se tornou proprietário de quatro Clínicas de Aborto. Rápidamente, mediante


habilidade de mercado, os seus negocios se duplicaran). Cada vez que eu.
vendia a idéia do aborto, eu justifica va o meu próprio aborto.

Notei que os rendimentos de meu patrio aumentaram de 25.000


para 125.000 dólares por ano em duas Clínicas. Eu desejava parte desse
dinheiro, pois sabía que era resultado de meus esforcos. Por isto entrei no
escritorio do patrao e Ihe disse: 'Eu dupliquei seus lucros, quero os juros dos
negocios'. Ele, porém, muito delicadamente me respondeu: 'Nao!' Pus um
anuncio ñas páginas amarelas do catálogo telefónico oferecendo a minha
própria Clínica de Abortos, que conseguiría abrir seis meses após a publi-
cacao desse anuncio."

R.: "Por que vocé se refere ao aborto como industria?"

CE.: "Porque é a maior industria nao controlada do nosso país. A


maioria das Clínicas trabalham em cadeia por causa do seu grande ren
dí mentó.

Diga-me: em que outro lugar pode alguóm como eu ganhar no mínimo


150.000 dólares por ano?

Eu lucrava 25 dólares por cada aborto, de tal modo que eu sabia exa-
tamente quanto dinheiro produzíamos. No último mes em que trabaIhei
nessa industria, reaJizaram-se 545 abortos, que trouxeram para o meu bolso
a quantia de 13.625 dólares.

Vi tres médicos repartirem entre si 4.500 dólares por tres horas de


trabaIho. Imagino que o lucro é muito maior atualmente, mas tal quantia
nao ficava mal para tres horas de traba Iho num sábado de manha".

R.: "Vocé abría a Clínica nos dias de semana?"

CE.: "Sim. Os domingos eram os dias mais rendosos. A maioria das


mulheres deseja ser despachada e sair rápidamente. Sabem que o aborto é
algo de mau, principalmente quando praticado num domingo, de tal modo
que nao fazem perguntas nos domingos. Pode-se trabalhar com urna ¡nfra-es-
futura mínima, porque a mulher que vem para abortar num domingo, está
decidida. Nos fazfamos de 15 a 20 abortos nos domingos em duas ou tres
horas! Enquanto todos estavam participando do culto na ig-eja, nos está-
vamos fazendo abortos".

R.: "Quanto custava um aborto?"

CE.: "Naquela época custava de 185 a 1.250 dólares o aborto no se


gundo ou no tercelro trimestre da gesta cío. O preco era calculado segundo
o número de semanas da gestacfo. Quando menos de doze semanas, saía

278
RICA MEDIANTE O ABORTO 39

por 185 dólares; quando de treze a quatorze semanas, 250 dólares; e, de


quatorze a quinze semanas, ficava por 375 dólares. Os abortos mais espe
cializados, que exigiam anestesia geral, saiam por 1.250 dólares. Tais abor
tos eram realizados no segundo ou no terceiro trimestre de gesta cío. Os
abortos podem ser provocados por medicamentos oráis ou, se a pessoa tem
dinheiro,jao efetuados com anestesia geral. Nunca se fazem gratuitamente!"

R.: "Ñas Clínicas negava-se o aborto ¿s mulheres que nao pudessem


pagar o preco completo?"

CE.: "Quando eu trabalhava na industria do aborto, urna jovem de


18 anos queria submeter-se a um aborto, mas só possuía 50 dólares; tinha
18 ou 19 semanas de gestacao, o que exigía 450 dólares para cobrir as des
pesas todas do aborto. Recorreu a varias Clínicas de Aborto em Dallas, mas
nenhuma délas quis fazer o aborto gratuitamente, de modo que ela caiu ñas
maos de um aborteiro ilegal, que todos supunham estar aposentado. Ele Ihe
praticou o aborto e ela morreu".

R.: "Como vocé anunciava suas Clínicas?"

CE.: "Investíamos 350.000 dólares por ano em anuncios de propagan


da: 250.000 dólares ñas páginas amarólas, 50.000 em publtcidade de perió
dicos e o restante em propaganda direta pelo Córrelo, quando mandávamos
cupons de descontó. Nosso lema era: 'Sonda o teu mercado, e faze tua pro
paganda onde o público a possa perceber'.

Usávamos o método de cupons para comprovar os efeitos da publi-


cidade... "

R.: "Que estrategia de mercado útil iza vam?"

CE.: "A mulher procura va a Clínica de Aborto para ser informada


sobre as alternativas que estavam á disposicao. Pagávamos a urna conselhei-
ra, para que vendesse o produto (a recomendacao de aborto); era um proces-
so simples, seguro e legal de 'manipular o problema'. Que a mulher simples-
mente trouxesse o seu dinheiro e viesse! Aos conselheiros de aborto paga-se
melhor do que a outros tipos de conselheiro, e eles créem no produto que
transmitem".

R.: "Que tipo de conselhos se oferacia ñas Clínicas?"

CE.: "Ñas Clínicas em que trabalhei, nao dávamos conselhos. Apenas


respondíamos ¿s perguntas que as mulheres nos faziam, e tratávamos de
'nao revolver a térra'. Nao discutíamos as alternativas do aborto senao quan-

279
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

do as clientes o exiglam. Todas as mulheres perguntavam a mesma coisa: 'O


que trago, é um bebé?' Respondíamos-lhes: 'Nao; á apenas um produto da
concepcao (um coágulo sanguíneo ou uma formacao de teddos)'. — 'Vai
doer?' - 'Nao; vocé sentirá apenas uma sensacao leve de contracoes ou
cáimbras'. A maioria das mulheres sofreram dores e as sobrepujaram, de
modo que julgam que tal procedimento nao ó demasiado doloroso. Nao
obstante, o aborto é extremamente doloroso!

Na entrevista a conselheira tratava de determinar a causa pela qual a


mulher quería abortar, nao tanto para ajudá-la, mas para justificar a decisao
de abortar".

R.: "Era proporcionada ajuda psicológica após o aborto?"

CE.: "Dizfamos ás clientes que tal ajuda estava á sua disposicao, caso
déla necessitassem; mas na sala de recuperado usávamos técnicas para desa
lentar todo contato futuro a menos que fosse para outro aborto. Dizíamos
ás clientes: 'Dentro de sete a dez dias, vocé se sentirá deprimida; isto durará
alguns dias. Mas nao se preocupe com isso. Quando a mulher dá á luz uma
enanca, ela também passa por um período de depressao posterior ao parto'.
Em conseqüéncia, quando a mulher comeca a tomar dolorosamente cons-
ciéncia de que 'matou seu bebé', pensa que esse sentimento é normal em vir-
tude da atividade dos horm&nios. Ela é induzida a reprimir esses sentimentos
na turáis.

Nao obstante, uma menina de treze anos, certa vez, veio á Clínica para
fazer o exame rotineiro de verificacao duas semanas após ter abortado. Tal
exame é feito nao tanto para se chegar á certeza de que ela está passando
bem, mas para averiguar se já nao existe gravidez. Ora a menina nao saía do
quarto da consulta após muito tempo decorrido. Quando lá entramos, des-
cobrimos que estava cortando as suas veías!"

R.: "Que métodos abortivos eram aplicados na sua Clínica?"

CE.: "A maioria de nos que praticávamos a industria do aborto, de¡-


xamos de usar os processos do sal e da prostaglandina, pois deixavam esca
par multas criancinhas aínda vivas. Uma críantinha eliminada ainda com
vida implica que esperemos que morra, ou exige que nos desembaracemos
déla de maneira multo grosseira.

A maioria dos que reaiizam abortos no segundo ou terceiro trimestre


de gestacao, utilizam o método de dilatacao e evacuacffo. O aborteiro se
serve de píricas grandes para despedazar o bebé dentro do útero e retirá-lo
em fragmentos. Evita-se de todo modo o efeito secundario do nascimento

280
RICA MEDIANTE O ABORTO 41

da crianca viva. . . Todavía tal processo é horrível, porque o bebé tem que
ser reconstruido fora do seio materno para se ter certeza de que todos os
seus peda pos foram extraídos".

R.: "Como é que vocé eliminava o bebé abortado?"

CE.: "Em nossas Clínicas nos o colocávamos num triturador de de-


jectos. Usávamos os modelos mais potentes. Algumas das estruturas do bebé
no segundo e no terceiro trimestres sao tafo fortes que nao se destruiam no
triturador, de modo que tínhamos de jogá-las fora em bolsas de lixo".

R.: "Conhece mulheres a quem o abortamento tenha sido aplicado


sem que estivessem grávidas?"

CE.: "Sim; acontecía que mulheres que nao estavam grávidas, cónsul-
tavam o médico antes de se praticar o aborto. Eram submetidas a urna sonó-
grafia, e se fixava o ponteiro do sonógrafo num ponto-chave do útero. Dízia
entao o médico: 'Veja, vocé está grávida'. A mulher, que geralmente nao
sabe ler um sonograma, aceitava a opiniao do perito e pedia o aborto de que
ela nao necessitava".

R.: "Qual foi a menina mais jovem que vocé viu entrar na Clínica para
abortar?"

CE.: "A mais jovem que vi, foi urna menina de onze anos. A mais jo
vem de que tive noticia, tinha nove anos. Paralelamente, num Centro Clíni
co para atender a casos de gravidez, trataram de urna menina de dez anos,
que depois deu á luz um bebé saudável".

R.: "Qual é a última etapa da gestacao na qual aínda se pode praticar


o aborto?"

CE.: "O bebé maior que vi abortado, tinha 32 semanas.

R.: "Diz-se que praticar um aborto é experiencia sem riscos. Conté al-
guns dos problemas que vocé presenciou em mulheres que procuraram a sua
Clínica".

CE.: "Estávamos praticando a dilatacao traumática de um dia, que


tem elevado índice de complicacao. Fazíamos 500 abortos por mes, mata*
vamos ou mutilavamos urna mulher sobre quinhentas.

As complicacoes mais oomuns eram as deformacoes ou os deslocamen-


tos do útero. Murtas terminavam em ablacto do útero. As vezes o médico
cortava o canal urinario, que requería remodelacao cirúrgica. Urna complica-

281
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

cío que raramente se menciona, mas que ocorre, é a perfuracao do intesti


no por parte da vagina — o que exige finalmente urna colostomia. Em alguns
casos, a colostomia é reversi'vel, mas algumas mulheres t¿m que viver com
ela para o resto da vida".

R.: "Como at Clínicas de Aborto encobrem os óbitos que ocorrem


durante um aborto?"

CE.: "As Clínicas de Aborto nunca aceitam a responsabilidade pelas


complicacoes ocorrentes. Limitam-se a dizer que nao foram de sua culpa.
A preocupacao dos profissionais, no caso, nao é a paciente; é, sim, proteger
a reputacao do médico e manter limpo o nome da Clínica.

Para se proteger, eles podem utilizar a familia do paciente. Sentem-se


culpados e sofrem as ¿mocoes decorrentes da situacao criada; nao querem
passar pelo momento amargo de expor a verdade aos meios de comunicarlo
social".

R.: "Que motivo afastou vocé da industria do aborto?"

CE.: "Foi minha conversad religiosa. Viajo e converso com mulheres


que cometeram aborto; nunca encontrei alguma que se tenha curado do
aborto sem'ter tido um encontró pessoal com Nos» Senhor Jesús Cristo.

Entrei numa crise muito dolorosa. Mas Deus me enviou urna serie de
pessoas incrivelmente boas, que me ajudaram e instruiram durante todos
estes anos".

R.: "Que fez vocé com as Clínicas?"

CÍE.: "Vendi-as, mas os compradores nao me pagaram dentro dos pra-


zos previstos. Denunciei-os á Justica e entramos em acordó fora do Tribu
nal. Tudo o que recebi, doei-o ao Fundo Pro-Vida, a fim de ajudar as mulhe
res grávidas que tém problemas".

R.: "Que conselhos daría vocé a unía mulher que pense em submeter-se
a um aborto?"

CE.: "Primeiramente eu a ajudaria a tomar consciencia das mudancas


que estáb ocorrendo em seu corpo durante a gravidez. Ajudá-la-ia a compre-
ender que o seu bebé é realmente urna pessoa.

Numa situacao tal, é preciso tratar de equacionar o problema. Geral-


mente há urna so razáo que impede de continuar a gesta cao no caso mais

282
RICA MEDIANTE O ABORTO 43

comum: é o medo de que se descubra o seu tipo de atividade sexual. Deve-


mos apoiar e ajudar tal mulher, qualquer que seja sua necessidade. Temos
que ser bons vendedores, como sao os abortistas, com a única diferenca de
que temos a verdade em nosso favor. Estude com tal mulher todas as alter
nativas para evitar o aborto".

* * *

A entrevista é assaz realista e crua. Manifesta percalcos da industria do


aborto, á primeira vista, inacreditáveis. Na verdade, o dinheiro e"a perspecti
va de o ganhar superam os demais valores, até o da vida humana, nao so men
te na escala dos bandidos reconhecidos como tais, mas também na escala de
profissionais liberáis. O dinheiro obceca. Para muitos, mais vale o ter do que
o ser. E mister, pois, que na sociedade contemporánea se avive a consciéncia
dos valores éticos e se esclarecam mulheres e casáis a respeito da exploracao
de que muitas vezes sao vítimas inconscientes.

* * *

AÍNDA O "MILAGRE DO SOL" ...

Já estava redigido o texto das pp. 256s, n<?3, deste fascículo, quando
um leitor nos enviou a seguinte noticia extraída do jornal O DÍA (Rio de
Janeiro) de 19/9/1970:

"Alguns dentistas estavam tentando determinar a posícSo do So/ da


Lúa a de planetas a 100 e 1.000 anos de hoje. Para fazé-lo. tiveram'que
computar as órbitas através dos sécalos passados. Súbitamente o computa
dor parou sinalizando que algo estava errado na informado com que tora
alimentado ou nos resultados comparados com os padróes. Após revisSo
feita 'pelos técnicos, observou-sa que os computadores estavam cortos.
Eis a terrfvel verdade: 'Um día estava faltando no Universo'. Ninguém
podía explicar o fenómeno. Até que um dentista Iembrou uma referencia
da Biblia é parada do Sol. Examinando-a, encontraram no livro de Josué
10.13 o seguinte: 'O Sol se deteve no meio do céu e nSo se apressou a pór-se
quase um día inteiro'. Eis ai o dia que estava faltando. Por esta referencia,
computado o tempo dos dias de Josué, chegaram ao resultado de que o tem
po parara durante 23 horas e 20 minutos. Onde estariam os 40 minutos que
faltavam? Novamente a Palavra de Deus respondeu em 2Reis 20,8-11: 'O
Senhor fez retroceder dez graus a sombra lanzada pelo Sol declinante no
relógio de Acaz'. A( estavam os 40 minutos restantes para completar o
período de 24 horas do dia que faltou".

(continua na p. 288)

283
'Rock in Rio IIV

Música "Rock": Que é?

Em sfntese: 0 "Rock" nao é apenas um ritmo musical, mas implica


urna filosofía de vida e todo um mundo de paixSes, que podem estar revo
lucionando a sociedade, com grande detrimento para a cultura, a ciencia e a
educacSo. Em conseqüincia do cultivo do "rock". tSm-se verificado suici
dios, instigados pela letra de certas cancoes. e a dificuldade do Jovem para
estudar e se formar num determinado ramo do saber e da profissionalizacSo.
Também se tem registrado a invocacSo de Satanás em certas pecas de
"Rock"; Juntamente com incitacSo ao erotismo, ao homossexualismo e ao
incesto. .. é para desojar que país e mestres procunjm o diálogo com ado
lescentes e ¡ovens, a fím de Inés mostrar que o seu descontentamente e
remita contra a sociedade nao se resolvempelo desencadeamento de impulsos
passionais, mas pelo equacionamento racional dos problemas e a tentativa
lógica de os solucionar.

* * *

Dois Festivais de "Rock" no Rio de Janeiro deram ocasiáo a que o


público brasileiro presenciasse os espetáculos de luz e som e a afluencia de
dezenas de milhares de jovens provocados pela música "Rock". Por que tan
to atrai a juventude um ritmo tao frenético? Por que toma caráter táo ruido
so e teatral a exibicáo do "Rock"? - Há urna filosofía subjacente a tal
ritmo, que vale a pena perscrutar para se entender melhor o fenómeno. É o
que passamos a fazer ñas páginas subseqüentes.

1. "Rock": quando comecou?

A música é canal de comunicacao poderosa, capaz de influir profunda


mente ñas atitudes, no estado de ánimo, ñas emocoes e no comportamento
das pessoas e das massas. Tem também enorme forca de atracao, de modo a
congregar individuos e formar grupos. Ora nos últimos decenios comecou a
propagar-se um tipo de música especialmente fascinante por seu caráter
estridente, seus sons muito fortes, suas letras agressivas, seus cénanos colo
ridos e luminosos, seus cantores pouco ou exóticamente vestidos... Tal é o

284
MÚSICA "ROCK": QUE É?" 45

que se chama "a música Rock". Parece ter seu ponto de partida mais per-
ceptfvel no ano de 1954, quando Sam Phillips descobriu o cantor Elvis
Presley e o induziu a gravar o seu primeiro disco profissional: That's All
(Mamá). No mesmo ano Bill Halley e o grupo The Comets gravaram a can-
cao Rock Around the Clock, que se torhou em 1955 o fio central da película
"Sementé de Maldade", premiada pela grande aceitacao do público.

Antes de 1954 houve, sim, lancamentos musicais que prepararam o


surto do "Rock"; mas constavam apenas de som, tinham seu ámbito tao
somente nos grupos urbanos de cor e nao se propagavam para tange. A mú
sica "Rock", a partir de 1954, se dirige especialmente aos jovens, sugerin-
do-lhes ou confirmando-lhes um estado de ánimo contestatario e rebelde;
precisamente as primeiras expressoes do "Rock" tinham as características
da música negra, opondo-se assim aos cánones da música mais comum nos
Estados Unidos. Desta maneira o "Rock" tornou-se o símbolo de urna ju-
ventude inquieta; na década de 60, o fenómeno Beatle intensificou o poder
de influencia e fascinacáo do "Rock".

Vé-se, pois, que "Rock" nao é apenas um ritmo musical; é algo de


muito mais complexo: a muitos jovens sugere um modelo de vida, que
afeta seu comporta mentó na familia e na sociedade, influi sobre o seu ren-
dimento escolar, sobre as suas concepcoes estéticas, sobre a sua concepcao
de sexualidade...

Algumas estatísticas referem que, entre os 12 e 17 anos de ida de, os


adolescentes norte-americanos ouvem tal música durante 10.500 horas,
tempo pouco menos longo do que o que passam no colegio. Mediante apa-
reinos de radio, gravadores e discos ouvem as cancoes que querem, em qual-
quer momento e lugar, fugindo ao acompanhamento de pais e mestres.

Nota-se que, quanto mais o adolescente se quer tornar auto-suficien


te, mais procura e encontra na música modelos alternativos referentes ao
uso da sexualidade, do dinheiro, da roupa. . . Os cantores mais em eviden
cia vém a ser auténticos mestres de filosofia de vida e de escala de valores.
Particularmente influente é a música heavy metal (metal pesado), oom seu
ritmo fragoroso e as contorcoes grotescas e agressivas de seus intérpretes.

O "Rock" tornou-se tema habitual e quase obrigatório das conversas


entre adolescentes nos Estados Unidos; nenhum quer passar pela "vergo-
nha" de estar por fora; e, ao contrario, quanto mais alguém entende do
assunto, tanto mais prestigio adquire. O prazer de compartilhar tais con
versas e executar as mesmas cancoes torna-se a base de amizade e agrupa-
mentos solidarios, caracterizados por seus distintivos culturáis, como sao
camisetas, trajes, posten, vocabulario e linguajar...

285
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

2. Som, letra e gestos

Os cenártos de "Rock" pretendem ser ¡mpressionantes, apresentando


figuras um tanto extravagantes, que contribuem para se gravar melhor a
música na memoria do público. Foi fe'rta a análise de duzentos videos musi-
cais dos Estados Unidos, verificando-se que 57% recorríam a imagens de
violencia, e 75% ao erotismo. Principalmente os jovens sao suscet freís de
Influflndas, que sao particularmente fortes quando se trata do heavy metal
(metal pesado); um inquérito realizado entre toxicdmanos revelou que 60%
davam preferencia ao heavy metal.

Nota-se também que, para evitar que os ouvintes se acostumem ao


impressionismo, este tem que ser sempre renovado e intensificado, de modo
que o "Rock" tende a ser cada vez mais violento e erotizante. Para ser sinal
de descontentamento e rebeliao, a música "Rock" é cada vez mais agressiva
em relacao aos costumes da sociedade clássica: incesto e homossexualismo
sao explícitamente transmitidos através de tais espetáculos. O texto de
Ozzy Osborne Suicide Solution é clara ¡nstigacáb ao suicidio.

A música "Rock" é utilizada na propaganda comercial; assim Eric


Clapton, Phil Collins e Steve Winwood fazem publiddade de determinada
marca de cerveja; a cancao Revolution dos Beatles serve para se venderem
sapatos de tenis; Michael Jackson aparece dando a máo ao presidente
Reagan.

Entre os temas do "Rock" cada vez mais agressivo, está também o


Satanismo, a partir de 1970, com alusoes explícitas a Sata, ao demonio, ao
inferno, como se depreende dos exemplos seguintes:

Grupo IRON MAIDEN: disco "O número da Berta" ('Tochas acesas


e cantos sagrados... O ritual comecou, a obra de Sata está feita").

Grupo BLACK SABATH: disco "Nascido de novo" ("Olha este Prín


cipe do Mal combatendo por tua alma..."). Disco "Céu e Inferno".

Grupo HC-DC: Cancoes "O Inferno nao é Lugar Ruim para ai estar-
mos", "Autopista para o Inferno".

Grupo OZZI OSBORNE: "Ladrando para a Lúa" ("Agora ressurgi.


Fazem falta Milagres para salvar aqueles que a Besta procura. . . Encen
tra m o seu céu vomitando a partir da boca do inferno"). Discos "Falando
do Diabo", "Diario de um Homem Mau".

Grupo TWISTED SISTER: Cancoes "Arder no Inferno", "A Besta".

286
MÚSICA "ROCK": QUE É7" 47

Grupo VENON: disco "Benvindo, Inferno" e caneóos como "Mil Oias


em Sodoma", "Em A Nanea com Sata", "Filhos de Sata". "Vive como um
Anjo, Morre como um Demonio".

Grupo KISS: disco "Criaturas da Noite", e canedes como "Tock and


Roll. inferno".

As vezes, a mensagem satánica $6 se percebe quando se gira ao inverso


o disco. Assim. por exemplo, em Congratulations de Pink Floyd, se ouve:
"Precisamente acabas de descobrir a mensagem secreta do Diabo, comuni
ca-te com o Velho". Em Fira on Hfgh de ELO se ouve: "Votta, Sata*, volta,
volta, volta!" Em Snow-Blind de Stix: "Mostra-te, Sata", manifesta-te em
nossas vozes". Em Stairway to Heaven de Led Zeppelin: "Quero ir ao Reino,
quero ir ao Inferno, ao Oeste da Térra plana, canto porque vivo com Sata"!

Julgam os peritos no assunto que os roqueiros dao muito mais impor


tancia ao ritmo e ao aparato sonoro e colorido do "Rock" do que á letra
das respectivas cancoes; a veeméncia das letras, mesmo daquelas que invo
ca m Sata, nao tém valor para os roqueiros senao na medida em que consti-
tuem protesto contra a ordem estabelecida, e ruptura com as geracoes ante
riores, tidas como fracassadas. Urna pesquisa feita entre estudantes da Cali
fornia deu a ver que pouoos davam atencao ao significado da letra de suas
cancoes; 37% eram incapazes de identificar o tema (sexo, violencia, droga.
Sata...) de suas cancoes preferidas.

3. Efeitos Negativos

É certo que a música "Rock" exprime e alimenta forte contestacao


de adolescentes e jovens contra pais e mestres.

Os casos de suicidio tém-se repetido. Em 1990 nos Estados Unidos,


no Tribunal de Nevada, foi realizado um julgamento que moveu a opiniao
pública norte-americana: os pais dos jovens Raymond Belknap e James
Vanee acusavam o conjunto británico Judas Priest e a firma discográfica
CBS Records de ser responsáveis pelo suicidio de seus filhos mediante a
mensagem subliminar Do it. Do it... (Faze-o, faze-o. . .) comida ñas can
coes "Melhor éstu, melhor que eu"e "Maisalém do Reino da Morte".

O Cardeal John O'Connor, Arcebispo de Nova lorque, chamava a


ateneas, também em 1990, para "a violencia instigada diabólicamente" por
alguns autores de "Rock". Assinalava que a música heavy metal pode levar
alguns jovens a práticas satánicas. E criticava, em particular, a cancao
Suicide Solution de Ozzi Osborne, cuja letra diz entre outras coisas: "O
suicidio é o único caminho. Sabes tu de que é que se trata realmente?"

287
J8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 349/1991

O "Rock" tem repercussfo sobre a educacao e a aprendizagem escolar


dos jovens. De um lado, verifica-se que dificulta o raciocinio e acostuma o
adolescente a usar dos sentidos da visáb e da audicáo. que excitam a fanta
sía; provoca as paixoes ou a excitacao sexual, a anarquía, os impulsos sub
conscientes e inconscientes do individuo. Quando o ¡ovem se desintoxica da
sua paixáb pelo "Rock", tem geralmente seu gosto e suas tendencias preju-
dicadas ou viciadas; estao surdos e cegos para os valores da cultura humanís
tica, propensos á futilidade e superficialidade.

De outro lado, verifica-se que a escolha de "Rock" por parte de um jo-


vem está relacionada com seu rendimento escolar. Um estudo realizado en
tre adolescentes suecos de 11 a 15 anos deu a ver o seguinte: os alunos que
conseguem boas notas na escola, mesmo os de classes menos aquinhoadas.'
preferem um tipo de música mais tradicional e se interessam menos pela
música punk e o "Rock"; tendem a identificar-se com os valores que eles
aprendem na escola. Ao contrario, os estudantes de escasso rendimento es
colar tendem a revoltar-se contra as instituicoes da sociedade; freqüente-
mente entao recorrem á música "Rock" como antídoto contra os fracassos
escolares!

É, sem dúvida, importante para os pais e educadores, no Brasil, tomar


consciéncia de que o "Rock" nao é apenas uma melodía musical, mas impli
ca toda uma filosofía de vida e todo um mundo de paixoes, que podem estar
revolucionando a sociedade, com grave detrimento para a cultura, a ciencia
e a civilizacao. É, pois, para desejar que pais e mestrés procurem o diálogo
com adolescentes e jovens, a fim de Ihes mostrar que seu deseontentamentó
e revolta contra a sociedade nao se resolvem pelo desencadeamento de impul
sos passionais, mas pelo equacionamentó racional dos problemas e a tentati
va lógica de os solucionar. __. - _ _ _ _ „
Estévao Bettencourt O.S.B.
* • ♦
(continuado da p. 283)
Diante desta noticia, é preciso distinguir:

A falta de um dia no computo da historia do universo é um assunto a


ser discutido pelos dentistas segundo criterios estritamente astronómicos.
Outro assunto é a exegese dos livros de Josué e 29 Reis. É certo que nenhum
dos dois fala de um fenómeno atmosférico portentoso. O texto de Josué
foi explanado neste fascículo de modo a se ver que se trata de uma questao
de géneros literarios e nao de calendario universal. Quanto ao texto de
2Rs 20,8-11, já foi comentado em PR 159/1973, pp. 129-131 e em breve
voltará ás páginas de PR; é evidente também que nao refere algum "recuo
do Sol".

ERRATA: Em PR 347/91, p. 167, Mase: "a Sibéria se estende por


12.76S.000 kmJ".

288
- A Regra de Sao Bento, 3?edicao em latim/portugués, com
anotacoes por D. Joáo Evangelista Enout, OSB. 1990.21 Op. Cr$ 790.00
- Estudos sobre a Regra de Sao Bento, sob a orientacáo da
Ir. Aquí nata Bockmann, OSB.:
- Fascfculo I - I ntroducao ao Método. 29p. 1977 ... Cr$ 395,00
- Fascículo II - Comentario dos Capítulos 66-67.50p. . Cr$ 695,00
- Fascículo III - Comentario dos Capítulos 27-28.72p. . Cr$ 695£0
- Fascículo IV - Comentario dos Capítulos 33-34.52p. . Cr$ 695,00
- Fascículo V - Comentario do Capítulo 35. 56p. ... Cr$ 695^00
- Fascículo VI - Comentario do Capítulo 48. 58p. . . . Cr$ 695^00
- Fascículo Vil - Comentario do Capítulo 19. (A sair} . Cr$
- Perspectivas da Regra de Sao Bento, Ir. Aquinata
Bockmann, OSB., comentario sobre o prólogo e os
Capítulos 53, 58, 72, 73 da RB. 364p. 1990 Cr$ 2.250,00
- Lectio Divina, ontem e hoje. (II). Cimbra 1990. 285p. ... Cr$ 4.000^00
- Jesús Cristo ideal do Monge, Dom Columba Marmion,
OSB. Ed. Ora & Labora Cr$ 4.000,00
- Bento de Núrsia - Pai do Manaquismo Ocidental por
Walter Nigg. Editorial A.O. de Braga e Ed. Loyola.
Com ilustracoes. 120p CrSI.748,00
- Sao Bento e a profissáo de Monge, por D. Joáo Evangelista
Enout, OSB. 190p. 1990 • Cr$ 990,00
- Conferencias de Joáo Cassiano, 1fe2?. 60p. 1984 Cr$ 520,00
- Conferencias de Joáo Cassiano, XXI e XXII. 79p. 1988 .. Cr$ 520,00
- Conferencias de Joáo Cassiano, XXIII e XXIV. 91 p. 1988. Cr$ 520£0
- Vida de Santo Honorato (Sermáo de Santo Hilario) e vida
dos Padres do Jura - Cimbra 1987. 125p Cr$ 600.00
- Vida de Sao Paco mío — segundo a tradicao copta. Td. por
Aida Batista do Val. Impresso Mosteiro da Sta. Cruz.
410p. 1989 Cr$ 1.590,00
- Sao Bernardo e o Espirito Cisterciense - Dom Jean
Leclercq. 82p. 1989 Cr$ 700,00
- Salterio meu minha alegría — (ilustrado em tradipao)
pelas Monjas beneditinas Abadía de Sta. Marta Cr$ 500,00
- Salterio - Salmos & Cánticos. Td. pela CNBB e por
Dom Marcos Barbosa. 500p. 1989 Cr$ 1.300,00
- Grego Bíblico - A chave para quem desejar ler o NT na
língua original, o Grego. 220p. Escrita manual, impressa
em off-set Cr$ 1.500,00
- Primeiro ano de Canto Gregoriano e Semiología
Gregoriana - Dom Eugéne Cardine. Td. Me. María do
Redentor, CSA. 350p. 1989 Cr$ 4.000,00
- A Palavra do Papa - Joáo Paulo Neo espirito
beneditino. Carta Apostólica, Homilías e alocucoes.
111 1980 Cr$ 420,00
ACABA DE SAI R:

VIVER A FÉ
em um mundo a construir
(Orientagoes Pastorais)

Vol. IX
(1987-1988)

pelo Cardeal D. Eugenio de Araujo Sales

Pronunciamentos semanais pela ¡mprensa, radio e televisao du


rante os anos de 1987 e 1988. Edicao coordenada por D. Karl
. Josef ROMER, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, em homenagem
a Dom Eugenio, por ocasiao dos seus 70 anos de idade e 20 como
Pastor da Arquidiocese.

1 volume de 450 págs., enriquecido com um valioso índice


temático-analftico elaborado pelas monjas beneditinas do Mostei-
ro de N. Sra. das Grapas de Belo Horizonte - Cr$ 4.500,00.

Manual prático para consulta (em ordem alfabética) sobre


assuntos da atualidade na área pastoral. Orientacao objetiva e
universal segundo a linha do Concilio Vaticano II e os documen
tos mais recentes da Santa Sé.

"Em si imutável, a doutrina crista formula-se de modo


sempre novo, para responder ás ¡nterrogacoes, aos desafios, aos
fracassos e ás novas esperancas do homem" (Do Prefacio de D.
Romer).

Pedidos a

Edi58es "Lumen Christl" "Marques-Saraiva"


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C.P. 2666-{021» 291-7122 °U {021)273-9498
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