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Introdução

O objetivo primordial desse trabalho é apresentar uma análise concisa da


obra “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, escritor pré-modernista que morou no
Rio de Janeiro no século XIX.

Euclides da Cunha partia do pressuposto segundo qual para se entender de


forma científica a totalidade dos eventos de Canudos era necessário considerar os
cruzamentos dos fatores ambientais, geográficos; dos aspectos antropológicos,
que mostrassem os cruzamentos raciais e o surgimento do sertanejo; das
circunstâncias históricas, culturais, políticas, sociais que ensejam os
acontecimentos, no caso a Guerra de Canudos.

Intitulado como a “Bíblia da Nacionalidade”, a publicação de “Os Sertões”,


de Euclides da Cunha, consagrou o autor como um dos maiores escritores de
nossa língua.
Os Sertões

A estrutura da obra “Os Sertões” segue um esquema determinista, e seu


núcleo divide em três partes:
● A Terra
● O Homem
● A Luta

Euclides da Cunha partia do pressuposto segundo qual para se entender de


forma científica a totalidade dos eventos de Canudos era necessário considerar os
cruzamentos dos fatores ambientais, geográficos (“A Terra”); dos aspectos
antropológicos, que mostrassem os cruzamentos raciais e o surgimento do
sertanejo (“O Homem”); das circunstâncias históricas, culturais, políticas, sociais
que ensejam os acontecimentos, no caso a Guerra de Canudos (“A Luta”).
O esquema que conduz a obra é resultado da convivência do cientificismo
do final do século XIX, particularmente do Determinismo de Taine.
Vejamos de forma mais detalhada como Euclides da Cunha elaborou o
mundo sertanejo, Antônio Conselheiro, Canudos, a ação militar, os combates entre
outros elementos da narrativa e pensou na complexa dinâmica social, cultural e
política do Brasil no final do século XIX.

A Terra

A primeira parte da obra faz um minucioso estudo das condições geofísicas


do sertão da região. Os conhecimentos que Euclides possuía como engenheiro
aliados ao interesse pelas ciências naturais permitiram a elaboração sobre um
pequeno ensaio sobre o ambiente, a geologia nordestina, considerado, aliás, um
dos primeiros estudos realizados seriamente, no Brasil, sobre a questão. Euclides
formou-se em Engenharia Militar e Ciências Naturais na Escola Superior de
Guerra no Rio de Janeiro.
Ao descrever o meio sertanejo, Euclides acentua o aspecto de uma
paisagem torturada, obrigada a viver violentos contrastes: “A natureza compraz-se
em um jogo de antíteses entre os verões queimosos e os invernos torrenciais. É
uma paragem impressionadora. As condições estruturais da terra lá se vincularam
à violência máxima dos agentes exteriores para o desenho de relevos
estupendos. O regime torrencial dos climas excessivos, sobrevindo, de súbito,
depois das instalações demoradas, e embatendo naqueles pendores, expôs a
muito, arrebatando-lhes para longe todos os elementos degradados, as series
mais antigas daqueles últimos rebentos das montanhas: todas as variedades
cristalinas, e nos quartzitos ásperos, e nas filades e calcários, revezando-se,
repontando durante o cada passo, mal coberto por uma folha tolhiça dispondo-se
em cenários em que ressalta, predominantemente, o aspecto atormentado das
paisagens.”
Com isso pretende se configurar o sertanejo como uma pessoa forte,
alguém forjado nas adversidades, marcada por uma longa convivência com as
tragédias naturais, apto a resistir às oscilações do clima, da falta de água, da
paisagem agreste: “O martírio do homem, ali, é o reflexo de tortura maior, mais
ampla, abrangendo a economia geral da vida. Nasce do martírio secular da
terra...”
Ademais, ao estudar de forma tão detalhada a cena física aonde a guerra
irá se desenvolver, Euclides procura fazer uma vasta coleta de dados a fim de
realizar afirmações futuras calçado em bases “cientificas”.

O Homem

Essa é a seção mais paradoxal do livro e marcada por contradições. Ao


tentar o que seria um estudo das bases antropológicas do homem brasileiro, o
autor, orientado pelas teorias raciais do século XIX, acaba compondo um quadro
de fundo preconceituoso acerca do sertanejo.
O princípio orientador de tais concepções é o de que a história da
humanidade se faz pelo domínio dos mais fortes sobre os mais fracos. E isso é
quer dizer que existe superioridade de raça branca sobre as resultantes dos
processos de miscigenação, de cruzamentos, de mestiçagem: “A mestiçagem
extremada é o retrocesso.”
A mistura de negros, portugueses, índios, caso particular de nossa
formação étnica, seria a causa do fato de estarmos condenados a não ter unidade
racial e não “... a teremos, talvez, nunca.”
O sertanejo como uma sub-raça, produto de múltiplos cruzamentos,
representaria a involução biológica, a negação do progresso, portanto da
capacidade de absorção das grandes transformações civilizatórias. E o drama
segundo Euclides, é que “Estamos condenados à civilização. Ou progredimos, ou
desaparecermos.”
Há uma transposição dos modelos da biologia e das chamadas ciências
naturais para os estudos da sociedade e da cultura. Assim, se existe indefinição
étnica é preciso que a nação se responsabilize por superá-la introduzindo padrões
de cultura e civilização que foram impedidos de se afirmarem em virtude dos
cruzamentos raciais. Entende-se porque muitos contemporâneos de Euclides da
Cunha advogavam a política da destruição total de Canudos: o que se combatia lá
era o próprio obstáculo ao progresso.
Mas a certa altura de “Os Sertões” lemos: “O sertanejo é, antes de tudo,
um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.”
Isto é o autor parece tropeçar diante de um conjunto de teorias que
absorvera sem grande profundidade e que tratara de aplicar para a feitura de seu
livro. O resultado é um ecletismo muitas vezes confuso e contraditório. Para
explicar aquela celebre frase, estabelece um engenhoso conjunto de argumentos
cuja consistência, no entanto, pode ser questionada.
Ele considera existir diferença entre os mestiços do sertão e do litoral. O
primeiro ficou livre da carga civilizatória da cultura “superior”. Isolado, perdido nas
caatingas, longe das cidades e de seu medos de vida, recebeu impactos menores
daquela cultura, por isso não decaiu.
É apenas um retrogrado. O segundo, vivendo nas grandes cidades, em
contatos com formas de vida e cultura que não consegue absorver por não possuir
uma estrutura mental suficiente ágil e desenvolvida, sofreu o preço desse
processo e acaba degenerando-se. Quer dizer, o sertanejo é um sobrevivente: é
forte porque conseguiu, de um lado, adaptar-se um meio difícil, inóspito, e, por
outro, não recebeu os impactos da civilização que levaram à decadência física e
moral do mestiço costeiro.
Como se percebe nesta seção referente “ao homem”, Euclides da Cunha
está marcado por uma contradição. De um lado seguindo a esquemática
orientação das equivocadas teorias raciais discriminatórias do século XIX,
condena as “sub-raças” que impedem o avanço da civilização. De outro,
verificando a capacidade sertaneja de resistir às adversidades colocadas por um
meio difícil, pelo abandono, pela violência exercida, pelos donos de terras, revela
admiração. Este último sentimento irá afirmar-se mais para o final de “Os Sertões”
quando a condenação inicial da “sub-raças” se transforma em denuncia da
violência exercida pela “pureza” civilizada do mundo costeiro contra o sertanejo.

A Religião

Nas circunstâncias deste ambiente e deste homem que vive a quilômetros


da costa e é desconhecido do resto do país, “[...] em luta aberta com o meio, que
lhe parece haver estampado na organização e no temperamento e sua rudeza
extraordinária, nômade ou mal fixo a terra, o sertanejo não tem, por bem dizer,
ainda capacidade orgânica para se afeiçoar à situação mais alta [...] Está na fase
religiosa de um monoteísmo incompreendido, eivado de misticismo extravagante,
em que se rebate o fetichismo do índio e do africano. É o homem primitivo,
audacioso e forte, mas ao mesmo tem pó crédulo, deixando facilmente se
arrebatar pelas superstições mais absurdas. Uma análise destas revelaria a fusão
de estádios emocionais distintos. A sua religião é, como ele – mestiça.”
Ao constatar a existência em Canudos de um modo de vida fortemente
marcado pelo elemento religioso, Euclides procura explicá-lo como resultados de
isolamentos daquelas populações. As praticas místicas seriam então, produtos do
abandono social, da indefinição étnica e da presença dos elementos do
catolicismo mal compreendido. Ou seja, é o homem de formação positiva tentando
explicar as razões pelas quais as superstições e o sentimento religioso teria se
difundido entre os sertanejos.
Esta posição produz dois resultados ao longo de “Os Sertões”. Um
abrangente e que permite visualizar de modo amplo o drama ocorrido às margens
do rio Vaza-Barris, visto que para lá teriam convergidos os temas da nacionalidade
dividida, das diversas ligações históricas, políticas e culturais que sustentam o
atraso e as conseqüentes anomalias místicas daí derivadas. Outro, restritivo e que
uniria a partir dos mesmos interesses religiosos de construírem um mundo
diferente e sem os vícios e aspectos conhecidos.
Ao longo da narrativa de “Os Sertões”, a figura do sertanejo é resgatada da
condição de entrave por o progresso. Ao mesmo tempo, projetada como tipo
heróico, vítima das elites litorâneas. Considera-se, contudo, o fato de permanecer,
no livro, praticamente inalterada a idéia de que o aspecto religioso de Canudos
decorre das condições favoráveis apresentadas na religião para o crescimento do
fanatismo.

O Profeta

Neste quadro surge Antônio Conselheiro, o bufão arrebatado do apocalipse.


O que está escrito em “Os Sertões” acerca do Conselheiro pode ser resumido a
uma sentença: era um louco que só virou personagem histórico porque não lhe
internaram no hospício.
“[...] Espécie de grande homem pelo avesso, Antônio Conselheiro reunia no
misticismo doentio todos os erros e superstições que formam o coeficiente de
redução de nossa nacionalidade. [...]”
Assim o homem Antônio Conselheiro só pode ser entendido como
expressão de uma sociedade e de um meio marcado pelo atraso secular. Ele
sistematizaria as tendências de todos os erros que caracterizam a mestiçagem
indefinida; integrando os caracteres vagos, indecisos, dispersos, que nele se
faziam visíveis.
Reunia, pois todas as “crenças ingênuas, do fetichismo bárbaro as
aberrações católicas, todas as tendências impulsivas das raças inferiores,
livremente exercitadas na indisciplina da vida sertaneja, se condensaram no seu
misticismo feroz e extravagante.”
O agnóstico Euclides da Cunha, escudado numa psicologia positiva de
circunstancia, expõe sua recusa à questão da religiosidade popular, ao mesmo
tempo em que busca explicar o fenômeno Antônio Conselheiro como movido pelo
desequilíbrio. Ao desequilíbrio racial provocado pela mestiçagem e pelo atraso
civilizatório só poderia corresponder um líder mentalmente degenerado:
“Paranóico indiferente, este dizer, talvez, mesmo não lhe possa ser ajustado,
inteiro. A regressão ideativa que patenteou, caracterizando-lhe o temperamento
vesânico, é certo um caso notável de degenerescência intelectual [...].”

A Cidade

Neste contexto, Canudos nada mais poderia ser do que o lugar onde se
reuniram um bando de bárbaros, valentões fugidos da justiça, místicos a espera
da chegada do salvador para a redenção final, dirigidos por um profeta paranóico
com força para hipnotizar as massas. Euclides utilizava então uma série de
expressões negativas para designar Belo Monte: urbs monstruosa de barro,
civitas sinistras de erro, imunda ante-sala do paraíso, pobre peristilo dos céus:
“Canudos era o homizio de famigerados facínoras. Ali chegavam, de permeio com
os matutos crédulos e vaqueiros iludidos, sinistros heróis da faca e da garrucha. E
estes foram os mais quistos daquele homem singular, os seus ajudantes-de-
ordens prediletos, garantindo-lhe a autoridade inviolável. Eram por um contraste
natural, os seus melhores discípulos. A seita esdrúxula – caso de simbiose moral
em que o belo ideal cristão surgia monstruoso dentre aberrações fetichistas –
tinha os seus naturais representantes nos batistas truculentos, capazes de
carregar os bacamartes homicidas com as contas dos rosários...”
À medida que a obra vai sendo escrita, Euclides realizava sua crítica, e o
julgamento preconceituoso vai sendo abandonado. Canudos, progressivamente,
torna-se símbolo de uma raça forte, de lutadores incansáveis que mereciam ser
tratados de formas diferente: “Requeriam outra reação. Obrigavam-nos a outra
luta. Entretanto enviamo-lhes o legislador Comblaim; e esse argumento único,
incisivo, supremo e moralizador – a bala.”
Por isso: “Decididamente era indispensável que a campanha de Canudos
tivesse um objetivo superior á função estúpida e bem pouca gloriosa de destruir
um povoado dos sertões. Havia um inimigo mais serio a combater, em guerra
mais demorada e digna. Toda aquela campanha seria um crime inútil e bárbaro,
se não se aproveitassem os caminhos abertos à artilharia para uma propaganda
tenaz, contínua a persistente, visando trazer para o nosso tempo e incorporar a
nossa existência aqueles rudes compatriotas retardatários.”
Canudos deixa de ser, portanto, o lugar de reunião de místicos e bandidos
para se tornar um ponto de encontro dos rudes compatriotas, cujo o único pecado
era o de viverem socialmente marginalizados.
É necessário, como foi afirmado em outros momentos, ler “Os Sertões”
como obra dinâmica, em que conceitos são rapidamente superados e a escrita se
faz maior do que o estreito projeto determinista que marca o livro.
Caso a obra se esgotasse em acusações preconceituosas, teria,
seguramente, desaparecido, como tantos os livros escritos no período sobre o
assunto e marcados pelo mesmo arsenal teórico positivista e evolucionista.
Ficasse apenas na visão segundo a qual a luta das raças é força motora da
história, o Conselheiro, um louco e Canudos um homizio de bandidos, o livro
estaria condenado ao esquecimento.
Ao chegar às últimas paginas de “Os Sertões” afirmando que o sertanejo é
“rocha viva da nacionalidade” e que a dinâmica do genocídio promovida contra
Canudos fora expressão do movimento anticivilizatório revelador dos crimes que
as nações são capazes de praticar contra si mesmas, Euclides tinha atravessado
o longo caminho que vai da superficialidade do esquema para a grandeza nascida
de uma sensibilidade que honestamente procurou aprender a extensão e a
profundidade dos acontecimentos passados às margens do rio Vaza-Barris.
A Luta

A última seção é dedicada a mostrar as varias expedições do exército


contra Canudos e a conseqüente resistência sertaneja. É o momento em que as
ações humanas ganham papel central, sendo quebrada a arbitrariedade dos
esquemas deterministas.
O texto ganha intensidade dramática e se transforma numa sucessão de
eventos nos quais se misturam a coragem, a violência e a barbárie da guerra e a
escrita euclidiana ganha força épica.
Após historiar os antecedentes da luta, Euclides fixa-se, particularmente, na
quarta expedição, comandada por Artur Oscar. Faz-se um balanço dos erros
táticos cometidos pelos oficiais do exercito: problemas de abastecimento, falta de
mobilidade e adaptabilidade às condições do terreno, utilização de formas
clássicas e convencionais de guerra contra um inimigo que agia segundo
estratégias guerrilheiras, etc. Ao mesmo tempo destaca a determinação e a
coragem dos sertanejos. Conhecedores do terreno, defendendo a “justa causa”,
os conselheiristas impuseram à luta um ritmo que lhes era mais favorável.
Mas o texto alcança, talvez, suas paginas mais memoráveis quando se
dedica a mostrar os últimos dias de Canudos, a resistência final dos
conselheiristas. Cercados, dinamitados, bombardeados, doentes, famintos,
alquebrados pela longa jornada guerreira, os sertanejos, a cada vez que pareciam
batidos, ressurgiam como “mortos-vivos”. É, sobretudo neste momento que os
juízos preconceituosos e condenatórios das partes iniciais de “Os Sertões”
transformam-se em admiração e respeito pelos sertanejos: “Sucedeu então um
fato extraordinário de todo em todo imprevisto. O inimigo desairado revivesceu
com vigor incrível. Os combatentes, que o enfrentavam desde o começo,
desconheceram-no. Haviam-no visto, até aquele dia, astucioso negaceando na
maranha das tocaias, indomável na repulsa às mais valente cargas, sem par na
fugacidade com que se subtraia aos mais improvisos ataques. Começaram a vê-lo
heróico.”
A resistência fabulosa dos “rudes patrícios indomáveis” leva Euclides a
ironizar o poderio do Exercício: “[...] os triunfadores, aqueles triunfadores, os mais
originais entre todos os triunfadores memorados pela história, compreenderam
que naquele andar acabaria por devorá-los, um a um, o último reduto combatido.
Não lhes bastavam seis mil Mannlichers e seis mil sabres; e o golpear de doze mil
braços, e o acalcanhar de doze mil coturnos; e seis mil revolveres; e vinte
canhões; e milhares de granadas, e milhares de Shrapnels; e os degolamentos, e
os incêndios, e a fome, e a sede; e dez meses de combates, e cem dias de
canhoneiro continuo; e o esmagamento das ruínas; e o quadro indefinível dos
templos derrocados; e, por fim , na ciscalhagem das imagens rotas, dos altares
abatidos, dos santos em pedaços – sob a impassibilidade dos céus tranqüilos e
claros – a queda de um líder ideal ardente, a extinção absoluta de uma crença
consoladora e forte...”
O olhar indignado de Euclides da Cunha reconhece na ação modernizadora
da civilização que marchou contra Canudos a marca da destruição: “[...] Apesar de
três séculos de atraso os sertanejos não lhes levavam a palma no estadear
idênticas barbaridades.”
Neste sentido, existe a inversão da fórmula inicial do livro, pois os
civilizadores de ontem se tornam os bárbaros de hoje, mas agora abençoados
pelas leis do país: “Chegando à primeira canhada encoberta, realizava-se uma
cena vulgar. Os soldados impunham invariavelmente à vitima um viva à
República, que era poucas vezes satisfeito. Era o prólogo invariável de uma cena
cruel. Agarravam-na pelos cabelos, dobrando-lhe a cabeça, esgargalando-lhe o
pescoço; e, francamente exposta a garganta, degolavam-na. Não raro a
sofreguidão do assassino repulsava esses preparativos lúgubres. O processo era,
então, mais expedito: varavam-na, prestes, a facão. Um golpe único, entretanto
pelo baixo ventre. Um destripamento rápido... Tínhamos volantes que ansiavam
por essas cobardias repugnantes, tácita e explicitamente sancionadas pelos
chefes militares. [...] A degolação era, por isto, infinitamente mais praticada, dizia-
se nuamente. Aquilo não era uma campanha, era uma charqueada. Não era a
ação severa das leis, era a vingança. [...]”
O que resta como condenação final é a idéia que os sertanejos, sob as
bombas de dinamite e a fumaça saída do fogo que consumia os casebres,
forjaram o “cerne de uma nacionalidade”. O que se tentou destruir em Canudos foi
“a rocha viva de nossa raça”.
Como se percebe, o livro de Euclides da Cunha termina de uma forma
muito diferente do que havia começado. Como obra antilinear, deve ser lida
respeitando-se o fogo vivo de suas próprias contradições.
Conclusão

Do até aqui apresentado, percebe-se um Euclides da Cunha continuamente


envolvido com temas relacionados às ciências naturais, e, mais que isto, decidido
e empenhado em atualizar-se e aprofundar-se no conhecimento científico de sua
época, considerado por ele a pedra angular para o entendimento da sua tese
sobre a nacionalidade brasileira.
Ao contextualizar o autor e sua obra no ambiente dominado pelo
cientificismo, é possível entender que, na época tratada, as barreiras entre as
especialidades científicas não eram tão distintas quanto hoje.
Dessa forma, a compreensão de que o conteúdo cientifico e, mais
especificamente, geológico, de “Os Sertões” é fruto de um árduo processo de
construção, e o seu estudo, feito tomando-se por base uma perspectiva histórica,
contextualizada no tempo e espaço, podem ajudar no entendimento de como o
conhecimento geológico produzido no final do século XIX se tornava acessível a
setores que não os membros da própria comunidade geológica de então.

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