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1 E a espera, pensava Shep. Vocé espera para atravessar 0 portao, espera na ante-sala do figuréo, espera seu agente fechar o ne- gécio, espera que sua tarefa seja detorminada, espera por instrugées sobre como escrever 0 que eles querem que vocé escreva, ¢ entdo, quando vocé acaba ¢ entrega seu argumento, espera por aquela ini- gualavel contribuigao artistica: a reuniao do roteiro. Os escritores mais experientes de Hollywood sabiam como apro- veitar ao m4ximo essas trés ou quatro semanas em que ficavam em suspensao. Atualizavam sua correspondéncia ou faziam algum pro- selitismo para o sindicato ou escreviam um texto contra a temporada de chuvas ou freqiientavam matinés ou exorcizavam os fantasmas num jogo de tnis (deixando secretérias treinadas para localizé-los prontamente caso o telefonema viesse). Shep apenas esperava. A principio trouxera dois livros, Estrela vermelha sobre a China e A esperanga de Malraux, mas nao adian- tava. Nao com aquele telefone ao lado de seu cotovelo prestes a tocar a qualquer momento. Por mais de trés semanas, Shep havia chegado em seu cub{culo no ultimo andar do Edificio dos Escritores as nove meia e partira as seis: 105 horas. Passara com a desesperada pacién- cia de um prisioneiro numa solitéria — sem nada para fazer senaio esperar 0 veredito de Victor Milgrim, conhecido no esttidio como “O Rei da Moviola”. Seis meses antes, o jovem Shep viera a Hollywood safdo das mon- tanhas da Nova Inglaterra e dos muros cobertos de era de Webster, diplomado com louvor em inglés e convicto de que o cinema, sendo a grande e nova arte popular, precisava de jovens com a sua combina- Gao de talento e ideais. Mas ninguém foi enganado. Como seu agente explicou, de maneira um tanto petulante: “Olha, garoto, eles nem mesmo farao It Can't Hap- pen Here, que j4 compraram, ¢ esse tem um nome por trés. Por isso, se vocé estd a fim de se promover, escreva mais entretenimento puro”. Shep namorava uma garota com a qual tinha a intengao de casar, e seu pai era dono de uma locadora de automéveis que ele tinha a intengao de evitar. Entao, como tinha tempo, escreveu uma coisinha chamada Love on Ice. Nao era bem 0 que o professor Crofts previra a seu respeito quando 0 agraciou com 0 Prémio de Composigio Li- teréria, porém, na visio inexporionte o otimista de Shep, era a mais conveniente das desculpas: meios para um fim. Contratado como “escritor-jtinior” (a denominagao oficial de seu posto provocava em Shep um amargo prazor) para desonvolver sou argumento num curto prazo de experiéncia, a indecentes cem délares por semana, ele se sentira encorajado quando vazou o boato de que “o Chefe ficou louco pelo projeto” e queria saber em quanto tempo Shep poderia “bolar um primeiro tratamento”. Nos tiltimos dez dias, Shep havia recebido cinco telefonemas do escrit6rio central, pergun- tando quando o senhor Milgrim poderia receber o material. Ele che- gou cambaleando ao fim da maratona as dez e meia de uma noite de sdbado, pressionado por um mensageiro que chegara as sete para levar, de motocicleta e o quanto antes, seu roteiro ao senhor Milgrim em Palm Springs. Entéo esse ritmo febril diminufra abruptamonte, passando-se trés somanas em que no houve qualquer reagao, trés semanas de um siléncio enlouquecedor. Isso era 0 que os veteranos haviam aprendido a aceitar, como aceitavam os horérios excéntricos do Grande Lider 0 suas orriticas explosdes de bom gosto. Outro dia inutil ja se passara e Shep encaminhava-se ao pequeno elevador sem ascensorista quando ouviu seu telefone tocando. Um minuto para as sois. Justo na hora de encontrar sua namorada, engolir um lanche e ir ao com{cio da Brigada Lincoln. Maldito telefone. Seria © caso de voltar? Mas havia a possibilidade que fosse... Enfim. A senhorita Dillon em pessoa, a secretéria do Grande Lider. “Bem, meu jovem, parabéns. ELE acabou de mencionar o seu nome. Ele quer que voce...” “Deixe-me adivinhar — fique a postos.” “Garoto de sorte. Ele garante que quer se reunir com vocé hoje Anoite.” “Alguma idéia de que horas eu devo fazer minha entrada?” “Ah. Malandrinho.” Era sua imitagéo dé Joe Penner. A senhorita Dillon gostava que suas conversas raspassem aqui ¢ ali na cerca ele- trificada do sexo. Era uma forma de corrupgao, Shep reconhecia, es- sas pequenas liberdades verbais concedidas as inclinagées da secre- taria Dele. “Agora seja um cara bacana e fique pronto.” Entiio Shep deveria ficar dispontvel para uma reuniéo que poderia acontecer em dez minutos ou em dez horas. O melhor que Milgrim podia fazer era “encaixé-lo” em algum hordrio durante o expediente que sempre ia até a meia-noite e freqiientemente estendia-se até a madrugada. Shep sentiu uma pontada de desgosto pela sensacdo de panico que agitou seu estémago, a sensagao de crise iminente. Fingiu rir da tremedeira que quase sempre tomava conta dos escritores ao se enca- minharem para uma reunido com o chefe. Shep e sua namorada até tinham uma frase para isso: “A degradagao final do artista”. Filhos da depressao, guiados por conhecimentos indiretos de Marx e Freud, cles estavam sempre julgando as coisas e rotulando-as cuidadosa- mente, para guardé-las em escaninhos apertados. Agora que a palavra viera afinal, Shep tentava sufocar sua hfper- ansiedade. Ele queria que a senhorita Dillon ouvisse o sutil descaso em sua voz. “Est4 bem, vocé me acha no bar do outro lado da rua.” Ao chegar & calgada defronte ao estiidio, Shep deu uma olhada nas manchetes: ATOR DE WESTERNS VIRA LOUCO PERIGOSO COMUNISTAS ESMAGADOS EM BARCELONA Outra reptiblica se afogava em sangue; toda a precéria estrutura da vida pacifica encontrava-se agora ameagada. Shep questionou a si proprio por insistir em Love on Ice, essa canoa frdgil que boiaria ow afundaria em dguas bastante rasas, dependendo da palavra de um grande homem. Inquieto, ele entrou no “Palco Um”, ponto de encontzo para a ver sdo hollywoodiana dos quebradores-de-pedra e paus-para-toda-obra, as vitais porém anénimas engrenagens que nunca conseguem uma mengao nas colunas sociais, cujos romances e indiscrigdes nunca vém seguidos de reticéncias insinuantes. Esses eram os assistentes de diregio, editores, figurantes, assistentes de cémera, técnicos de som, mao-de-obra da produgao, técnicos do ofeitos ospeciais, o prolo- tariado exclusivo de Hollywood, ganhando de trés a dez mil délares por ano, cujas maos literalmente fazem filmes. Shep pediu seu habitual ufsque com um dedo de soda e ouviu ao acaso 0 burburinho ao longo do balcao. Eram todas conversas de tra- balho entre técnicos que nunca podiam relaxar totalmente da pressio de seus empregos, impropérios contra superiores de quem nunca ti- nham coragem de discordar abertamente. Mas ali, na privacidade de seu proprio bar, com dois drinques de confianga, era s6: “Aquele puto sortudo, se aquilo 6 diretor, en sou a Shirley Templo!” “Afeu disse, olha, sua piranha, eu disse, estou pouco me lixando se vocé 6 a Campea de Bilheteria de 1938 — para mim vocé vai ser a Campea do men pan se nfio mover o rabo desse camarim e pegar seu Jugar na préxima cena.” “Tentei avisar trés vezes da sombra do microfone, mas 0 cabega-de- bagre do Lymie simplesmente filmou assim mesmo.” Shop levantou o olhar acima do baledo até a tipica decoragio de todos os bistrés do estidio, a colegado de fotos publicitarias au- tografadas por estrelas do passado e do presente. Juntos na fila do alto estavam Phyllis Haver, Sue Carol e Sally O'Neill. Inclinando-se para frente, apertou os olhos para ler o nome de uma quarta beldade com 0 corte de cabelo eo pega-rapaz que faziam o glamour dos anos vinte. Marie Astaire, Os velhos nomes, os velhos estilos da sedugio fominina nunca perdiam seu encanto para Shep. Ainda no colégio, em 1929, ele agarrara momentaneamente a cauda de uma era. Como 08 garotos da universidade, alguns dos quais ja haviam abandonado 10 essos entusiasmos de juventude, ele esperava impaciente por cada numero da revista College Humour e sentia o impulso de inscrever aquelas espirituosas frases da época em seu casaco, n gas jeans ¢ em seu Chevrolet usado. Sen primeiro rubor de desejo ado- lescente foi provocado por Jacquoline Logan’em The Bachelor Girl e Midnight Madness. Ah, esse era um filme para esquentar o sangue de um jovem estudante ginasial. Num canto, discretamente mapeando o animo de Shep, certo ho- $ suas mem pequeno e reservado tocava um érgio portatil, cuja existéncia era percebida pelos fregueses apenas na medida em que levantavam a voz para fazé-lo desaparecer. Esse instrumento, bem como 0 mu- sico, Lew Luria, fora resgatado dos tempos do cinema mudo, quando © 6rgao, acompanhado de um violino suave, era indispensével para arrancar dos atores as emogoes exigidas pelo roteiro e pelo diretor. Se vocé pagasse um drinque a Lew ele contaria como costumava preparar Clara Bow para as cenas em que deveria chorar, tocando Rockabye Baby. Mas assim como a verdadeira profissio de Lew morrera com 0s filmes mudos, 0 mesmo ocorreu com seu repertério. ‘Seus sucessos eram Mary Lou e Avalon Town. Quando queria tocar algo mais atual, era normalmente The Wedding of the Painted Doll ou Broadway Melody. Shep tomou outro drinque e foi telefonar para a namorada, que fazia serao em outro estudio, no final da avenida. “Maldigéo, Shep” (nunca querido ou meu bem ou amorzinho, pois ela dizia que 0 ci- noma tirara o brilho das palavras doces), “vou me atrasar um pouco, as trés horas, um odioso romance de folhetim para ler e resumir ~ 6 claro que precisavam disso para hoje 4 noite, vocé nao sabia? — Faith Baldwin — Four Daughters tudo de novo, sem 0 didlogo de Epstein — Deus, eu odeio mulheres escritoras — Parker e Hellman, é claro, elas nao contam, elas sfio apenas escritoras — nao vai ser terrivel quando meus netos me perguntarem o que eu estava fazendo no dia em que Barcelona caiu e eu disser que estava fazendo uma sinopse de Faith Baldwin?!” Tudo isso levou menos tempo para ser dito do que a maioria das n

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