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P rojeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado VeritatJs Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanga a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).
Esta necessidade de darmos conta
da nossa esperanga e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenca católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
—— Responderemos propoe aos seus leitores:
-— . aborda questóes da atualidade
: controvertidas, elucidando-as do ponto de
~ ~~ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
i dissipem e a vivencia católica se fortalega no
Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar
----- — -—■" este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.


Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacao.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada
em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
Ano xxxix Marco 1998 430
Quem é o maior?

O Papa e as Imagens Sagradas


"Querido Papa" (Frei Betto)

"Cuidado com a Béncáo do Papa", por Marv


Schultze

"Católicas pelo Direito de Decidir" (CDD)


"Maconaria e Fé Crista", por J. Scott Horrell
"A Nova Era diante da Fé Crista", por Cario Maccari
MARC01998
PERGUNTE E RESPONDEREMOS
N°430
Publicagáo Mensíil

SUMARIO
Diretor Responsável
Estéváo Beltencourt OSB Quem é o maior? 97
Autor e Redator de toda a materia
Sempre em Voga:
publicada neste periódico
O Papa e as Imagens Sagradas 98
Diretor-Administrador:
Irreverente:
D. Hildebrando P. Martins OSB "Querido Papa" (Frei Betto) 101

Administrado e Distrlbuicáo: A "Folha Universal" adverte:


Edicoes "Lumen Christi"
"Cuidado com a Bén9áo do Papa", por
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5o andar-sala 501 Mary Schultze 111
Tel.: (021) 291-7122 ■ Ramal 283 Quem sao?
Fax (021) 253-5679 "Católicas pelo Direito
de Decidir" (CDD) 115
Endereco para Correspondencia:
Revelacdes:
Ed. "Lumen Christi"
"Maconaria e Fé Crista", por J. Scott
Caixa Postal 2666
Horrell 124
CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ
Previsóes e Propostas:
Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO "A Nova Era diante da Fé Crista",
e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" por Cario Maccari 136
na INTERNET: http://www.osb.org.br
e-mail: LUMEN.CHRISTI @ PEMAIL.NET

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Colaboracáo de Leigos e Clérigos (Instrucáo da S. Sé). - "O Sal da Térra" {Cardeal J.


Ratzinger). - Divorciados e Recasados: a Pastoral da Igreja. - Ainda o Aborto. - Calenda
rio das Festas Religiosas Cristas e Judaicas. - «Vocé tem medo da morte?»

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Obs • Correspondencia para: Edicóes "Lumen Christi"


Caixa Postal 2666
20001-970 Rio de Janeiro - RJ ,
QUEM É O MAIOR?

Em marco apresenta-se mais urna vez, aos olhos dos cristáos, o


misterio da Páscoa. Misterio, porque implica que Deus tenha salvado o
mundo pela Cruz, que é aparente fracasso. Alias, estendendo um pouco
mais o nosso olhar, verificamos que o nascimento do Crucificado tam-
bem foi isento de gloria e esplendor humanos. Belém, Nazaré e o Calvario
sao a expressáo típica da maneira como Deus se quis dar aos homens-
Ele escolheu a pequenez, a pobreza, a impotencia... Sim; Jesús foi desa
fiado, no Gólgota, para que se libertasse da cruz, ele que havia curado
tantos males,... e nao se libertou do patíbulo (Le 23,35).
Bem diferente é o conceito de grandeza dos senhores deste mun
do. Para eles, o criterio de valores é o poder... e o poder de destruicáo. O
ditador Stalin terá perguntado: "E quantos exércitos tem o Papa?" O po
der de destruicáo pode vencer, dominar, mas amedranta e afugenta.
Outra foi a grandeza escolhida por Deus: a grandeza do amor
S. Joáo nos diz que Deus é amor (1 Jo 4,8). O amor é poderoso... podero
so porque atrai, tocando urna das fibras mais sensíveis do coracio hu
mano. Todo ser humano experimenta em seu íntimo a necessidade de
ser amado, porque foi feito pelo Amor e para o Amor.

Verdade é que a palavra "amor" hoje está desgastada ou esvazia-


da de sentido, isto nao impede que o auténtico amor- o amor de benevo
lencia - seja o grande dínamo do ser humano. Tal é o amor-agape, do
qual fala a Escritura: procura o bem do ser amado, sem se preocupar
com retorno. E quem vive esse amor é poderoso,... poderoso de maneira
diferente do poder das armas; torna-se muito mais penetrante e transfor
mador do que a forca bruta. O genuino amor surpreende, pois é flor rela
tivamente rara; desarma... Foi o que se deu com Madre Teresa de Calcuttá,
por exemplo, despojada de tudo, mas rica de amor.

O Calvario, portanto, nos ensina que o maior nao é quem mais


pode destruir, mas quem mais ama como Deus ama, sem ostentacáo de
forca, e sim com o fascínio do querer bem desinteressado de si.
Ao cristáo importa crer na proposta do Senhor Crucificado. É apa
rente fracasso, mas no fundo é a Vitoria das Vitorias.
Possa a Páscoa de 1998 avivar nos fiéis a conviccáo de que o
paradoxo enunciado é verdadeiro! Tal conviccáo, de resto, só se torna
plena quando vivenciada com perseveranca e heroísmo.

E.B.

97
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXXIX - W 430 - Margo de 1998

Sempre em Voga:

O PAPA E AS IMAGENS SAGRADAS

Em síntese: É reproduzido, a seguir, o texto de urna catequese


proferida pelo S. Padre Joáo Paulo II na audiencia geral de quarta-feira
29 de outubro pp. sobre as imagens sagradas. O S. Padre recordaos
ensinamentos dos Concilios de Nicéia II (787) e do Vaticano II (1962-65),
que justificaran) o uso das imagens como sinais que elevam a mente dos
fiéis ao Invisível e se prestam a excitar a adoragáo do Verbo Encarnado
ou a veneragáo da Virgem María e dos demais Santos. Propiamente o
que se cultua, nao é a imagem, mas é o Senhor Deus ou a pessoa santa
que as imagens representan).

O uso de ¡magens na Igreja Católica e na Ortodoxa (onde os icones


sao famosos!) está sempre em foco, pois sujeito a mal-entendidos. Cons
ciente disto o S. Padre Joáo Paulo II, em sua Catequese semanal de 29
de outubro pp., referiu-se ao assunto e mais urna vez quis justificar o uso
das imagens sagradas na base de quanto ensinaram os Concilios de
Nicéia II (787) e do Vaticano II (1962-65). As imagens sao meros sinais
que contribuem para elevar a mente dos fiéis ao plano do Invisível - o
que convém muito bem á constituyo psicossomática do ser humano.
As imagens sao relativas ao Senhor Jesús e aos Santos que elas repre-
sentam e aos quais é dirigido o culto prestado pelos fiéis católicos.

DEVOQÁO MARIANA E CULTO DAS IMAGENS

1. Depois de ter justificado doutrinalmente o culto da Bem-aventu-


rada Virgem, o Concilio Vaticano II exorta todos os fiéis a tornarem-se os
seus promotores: «Muito de caso pensado ensina o sagrado Concilio
esta doutrina católica, e ao mesmo tempo recomenda a todos os filhos da
98
O PAPA E AS IMAGENS SAGRADAS

Igreja que fomentem generosamente o culto da Santissima Virgem, so-


bretudo o culto litúrgico, que tenham em grande estima aspráticas e ex'erci-
cios de piedade para com Ela, aprovados no decorrer dos séculos pelo
magisterio» (LG, 67).

Com esta última afirmagáo os Padres conciliares, sem chegar a


determinagóesparticulares, queriam reafirmara validade de algumas ora-
góes como o Rosario e o Ángelus, caras á tradigáo do povo cristáo e
freqüentemente encorajadas pelos Sumos Pontífices, como meios efica-
zes para alimentar a vida deféea devogáo á Virgem.

2. O texto conciliar prossegue pedindo aos crentes que «mante-


nham fielmente tudo aquiio que no passado foi decretado acerca do culto
das imagens de Cristo, da Virgem e dos Santos» (LG, 67).

Repropóe assim as decisóes do II Concilio de Nicéia, que se reali-


zou no ano 787 e confírmou a legitimidade do culto das imagens sagra
das, contra quantos queriam destrui-las, considerando-as inadequadas
para representar a divindade (cf. Redemptoris Mater, 33).

«Nos definimos - declararam os Padres daquela assembléia con


ciliar - com todo o rigor e cuidado que, á semelhanga da representagáo
da cruz preciosa e vivificante, assim as venerandas e sagradas imagens
pintadas quer em mosaico quer em qualquer outro material adaptado,
devem ser expostas ñas santas igrejas de Deus, ñas alfaias sagradas,
nos paramentos sagrados, ñas paredes e mesas, ñas casas e rúas; se-
jam elas a imagem do Senhor Deus e Salvador nosso Jesús Cristo, ou a
da Imaculada Senhora nossa, a Santa Máe de Deus, dos santos anjos,
de todos os santos justos» (DS, 600).

Evocando essa definigáo, a Lumen Gentium quis reafirmar a legiti


midade e a validade das imagens sagradas em relagáo a algumas ten
dencias que tém em vista eliminá-las das igrejas e dos santuarios, a fim
de concentrar toda a atengáo em Cristo.

3. OII Concilio de Nicéia nao se limita a afirmar a legitimidade das


imagens, mas procura ilustrara sua utilidade para a piedade crista: «Com
efeito, quanto mais freqüentemente estas imagens forem contempladas,
tanto mais os que as virem seráo levados á recordagáo e ao desejo dos
modelos originarios e a tríbutar-lhes, beijando-as, respeito e veneragáo»
(DS, 601).

Tratase de indicagóes que valem de modo particular para o culto


da Virgem. As imagens, os icones e as estatuas de Nossa Senhora, pre
sentes ñas casas, nos lugares públicos e em ¡numeras igrejas e cápelas,
ajudam os fiéis a invocara sua presenga constante e o seu misericordio-
99
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

so patrocinio ñas diferentes circunstancias da vida. Ao tornarem concre


ta e quase visível a ternura materna da Virgem, elas convidam a dirigirse
a Ela, a suplicar-lhe com confianga e a imitá-la, acolhendo com generosi-
dade a vontade divina.

Nenhuma das imagens conhecidas reproduz o rosto auténtico de


María, como já reconhecia Santo Agostinho (De Trinitate 8, 7); contudo,
ajudam-nos a e'stabelecer relagdes mais vivas com Ela. Deve ser encora
jado, portanto, o uso de expor as imagens de María nos lugares de culto
e noutros edificios, para sentir a sua ajuda ñas dificuldades e o apelo a
urna vida cada vez mais santa e fiel a Deus.

4. Para promover o correto uso das sagradas efigies, o Concilio de


Nicéia recorda que «a honra tributada á imagem, na realidade, pertence
áquele que nela é representado; e quem venera a imagem, venera a rea
lidade daquele que nela é reproduzido» (DS, 601).
Assim, adorando na imagem de Cristo a Pessoa do Verbo Encar
nado, os fiéis realizam um genuino ato de culto, que nada tem em comum
com a idolatría.

De maneira análoga, ao venerar as representagóes de María, o


crente realiza um ato destinado em definitivo a honrar a pessoa da Máe
de Jesús.

5. O Vaticano II exorta, porém, os teólogos e os pregadores a evita-


rem tanto exageros como atitudes de demasiada estreiteza na conside-
ragáo da dignidade singular da Máe de Deus. Eacrescenta: «Estudando,
sob a oríentagáo do magisterio, a Sagrada Escritura, os santos Padres e
Doutores, e as liturgias da Igreja, expliquem como convém as fungóes e
os privilegios da Santiss'tma Virgem, os quais dizem todos respeito a Cristo,
orígem de toda a verdade, santidade e piedade» (LG, 67).
A auténtica doutrina mariana é assegurada pela fidelidadeá Escri
tura e a Tradigáo, assim como aos textos litúrgicos e ao Magisterio. A sua
característica imprescindivel é a referencia a Cristo: tudo, de fato, em
María deriva de Cristo e para Eie está orientado.

6. O Concilio oferece, por fim, aos crentes alguns criterios para


viverem de maneira auténtica a sua relagáo filial com María: «E os fiéis
lembrem-se de que a verdadeira devogáo nao consiste numa emogáo
estéril e passageira, mas nasce da fé, que nos faz reconhecer a grande
za da Máe de Deus e nos incita a amar filialmente a nossa máe e a imitar
as suas virtudes» (LG, 67).

100
Irreverente:

"QUERIDO PAPA"
(Freí Betto)

Em síntese: Frei Betto faz amargas e irónicas críticas ao Papa,


falando a linguagem de jornalistas nao católicos. Pretende reduzira Igre
ja a urna sociedade feita sob medida para agradar ao mundo de hoje e
privada de sua índole transcendental; a fé, em tal caso, deixa de ser
loucura e escándalo para tornarse a confirmacáo daquilo que o mundo
pragmatista e hedonista de hoje deseja ser. A Igreja que professasse os
principios propostos por Frei Betto, perdería sua identidade e cairia no
ridículo,... no ridículo por mostrar que nao sabe propriamente o que pro-
fessa. Preferível é cair no ridículo por fidelidade e coeréncia com os prin
cipios do Evangelho.

O escritor Frei Betto publicou na Folha de Sao Paulo, ed¡9áo de 5/


10/97, um artigo intitulado "Querido Papa". É um conjunto de críticas fei-
tas ao Papa e á Igreja, como se estivesse falando um novo Papa, melhor
e mais atualizado do que o Papa interpelado por Frei Betto. O autor as-
sim faz eco a todas as objecóes que a ¡mprensa leiga tem levantado
contra a Igreja. Embora a data de publicacáo do artigo já esteja distante,
o conteúdo do mesmo é atual, pois os questionamentos formulados vol-
tam sempre nos meios de comunicacáo social e ñas conversas de cada
dia. Eis por que Ihe dedicaremos as páginas seguintes.

1. Consideracóes Gerais

Ao ler os arrazoados de Frei Betto, tem-se a impressao de estar


em presenca de um dos varios jornalistas que se opoem as posicoes da
Igreja: "está fora da realidade", "sao absurdas para o mundo de hoje,
contradizem aos principios de comportamento da sociedade contempo
ránea...". Frei Betto, afinal, faz do homem de hoje, como ele é e vive, o
criterio para julgar a conduta da Igreja e do Papa. É o antropocentrismo
ou, pior ainda, o subjetivismo relativista, que serve de ponto de partida
para as críticas de Frei Betto.

Refletindo a propósito, vem-nos a pergunta: nessa perspectiva, onde


fica a fé?... a fé, que, segundo S. Paulo, é loucura e escándalo {cf. 1Cor
1,23)?... Loucura para os gregos, que seguem a razio apenas e nao
podem compreender a salvacáo pela cruz,... escándalo para os judeus,
que julgaram ser blasfema a proposicáo de um Deus crucificado. A fé

101
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

desconcerta a razáo nao pelo prazer de a desconcertar, mas porque a


ultrapassa, e a ultrapassa muito sabiamente; com efeito, diz Pascal que
"o homem foi feito para ultrapassar infinitamente a si mesmo". Todo siste
ma que fecha o homem em si mesmo ou que faca do homem o referencial
e a medida de todas as coisas, é um sistema sufocador e amesquinhador;
em vez de engrandecer e satisfazer ao homem, apouca-o e achata-o.
Ora é o que propóe Frei Betto com as suas críticas, formuladas a partir
de urna filosofía antropocéntrica e subjetivista. O paradoxo "o homem foi
feito para ultrapassar infinitamente a si mesmo" é sabio porque, emanci
pando o homem do seu egoísmo, leva-o a procurar valores objetivos
maiores ou, em última análise, o Bem Infinito que é Deus.
Eis por que as observagóes de Frei Betto estáo sujeitas a réplicas,
que passamos a propor.

2. As Objecóes levantadas

Sao dez os pontos discutidos por Frei Betto.

2.1. O Celibato

"Vossa imagem desenha-se, a meus olhos, diferente daquela que os


Evangelhos retratam de Pedro. O chefe dos Apostólos era casado, pois Je
sús curou-lhe a sogra. Sois celibatário e nao permitís que o celibato volte a
ser, na Igreja Católica, um carísma distinto do carisma do sacerdocio".
A estes dizeres duas observagóes sejam propostas:
1) Frei Betto parece esquecer as palavras de Jesús que louvam
"aqueles que se fazem eunucos (celibatários) por amor do Reino dos céus"
(Mt 19,12). Também parece ignorar a exortacáo de Sao Paulo em 1 Cor 7,24-
38, na qual o Apostólo recomenda a vida una ou indivisa, chegando a dizer:
"Procede bem aquele que casa a sua virgem, e aquele que nao a
casa procede melhor aínda" (1Cor 7,38).

Ou ainda:
"Quem nao tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de
agradar ao Senhor. Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e do
modo de agradar a esposa, e fica dividido" (1Cor 7,32-34).
O celibato é a resposta mais espontánea e cabal que o cristáo pos-
sa dar ao anuncio de que o Reino de Deus já chegou; nao Ihe resta mais
tempo para cuidar das coisas passageiras, desde que sabe que o Defini
tivo já se fez presente neste mundo. Sao Pedro se casou nao como cris
táo, mas como judeu, dependente da mentalidade do Antigo Testamento
segundo a qual o ideal era casar-se e ter filhos para preparar a vinda do
Messias, filho de Israel. Sao Paulo nao se casou {cf. 1Cor 7,1.7), consci
ente do valor do celibato. Os clérigos da Igreja foram abracando espon-

102
"QUERIDO PAPA"

taneamente tal modo de vida, antes que comecasse a ser leí da Igreja,
promulgada pela primeira vez pelo Concilio regional de Elvira em 304 (?).
2) Frei Betto é a melhor refutado daquilo que ele mesmo escreve.
Com efeito, é frade dominicano celibatário nao sacerdote, evidenciando
bem que "o carisma do celibato é, na Igreja, um carisma distinto do carisma
do sacerdocio" - Assim o próprio escritor anula suas críticas ao Papa
neste ponto.

3) O fato, alegado por Frei Betto, de que Jesús, ao pregar o Evan-


gelho, era acompanhado por muitas muiheres, nao significa que Jesús
fosse casado, mas sim que Ele quis a colaboracao das muiheres, como a
Igreja ainda hoje a deseja. Ver a propósito a Carta Apostólica de Joáo
Paulo II sobre a Dignidade da Mulher n9 27:

«A Igreja, defendendo a dignidade da mulher e a sua vocagáo, ex-


pressou honra e gratidáo poraquelas que - fiéis ao Evangelho - em todo
o tempo participaran) na missáo apostólica de todo o Povo de Deus. Tra
tase de santas mártires, de virgens, de máes de familia, que corajosa
mente deram testemunho da sua fé e, educando os próprios filhos no
espirito do Evangelho, transmitiram a mesma fé e a tradigáo da Igreja.
Em cada época e em cada país encontramos numerosas muiheres
perfeitas' (cf. Prov. 31,10), que - nao obstante perseguigóes, dificulda-
des e discriminagóes - participaram na missáo da Igreja. Basta mencio
nar aqui Mónica, máe deAgostinho, Macrina, Olga de Kiev, Matilde de Tos-
cana, Edviges da Silesia e Edviges de Cracovia, Elisabeth da Turfngia, Brígi
da da Suécia, Joana d'Arc, Rosa de Lima, Elisabeth Seaton e Mary Ward.

O testemunho e as obras de muiheres cristas tiveram um influxo


significativo na vida da Igreja, como também na da sociedade. Mesmo
diante de graves discriminagóes sociais, as muiheres santas agiram de
«modo livre», fortalecidas pela sua uniáo com Cristo. Semelhante uniáo
e liberdade enraizadas em Deus explicam, por exemplo, a grande obra
de Santa Catarina de Sena na vida da Igreja e de Santa Teresa de Jesús
na vida monástica.

Também em nossos días a Igreja nao cessa de enriquecerse com


o testemunho das numerosas muiheres que realizam a sua vocagáo á
santidade. As muiheres santas sao urna personificagáo do ideal femini-
no, mas sao também um modelo para todos os cristáos, um modelo de
«sequela Christi», um exemplo de como a Esposa deve responder com
amor ao amor do Esposo».

2.2. O Sacerdocio das Muiheres

"Onde estáo as muiheres do grupo do papa? Como se chamam?


Por que, tendo Deus criado homens e muiheres á sua imagem e seme-

103
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

Ihanga, sao elas impedidas de acesso ao sacerdocio, ao episcopado e


ao papado?" (Freí Betto).

-O Papa Joáo Paulo II declarou que a Igreja nao tem poderes para
conferir as ordens sacras as mulheres, já que Jesús nao o fez nem a
Tradicáo de vinte séculos ¡amáis o tentou. Nao se trata, pois, de urna
opcáo pessoal do Papa, como se fosse antifeminista, mas, sim, de urna
atitude de fidelidade ao Senhor Jesús e ao Cristianismo - o que é um ato
de coeréncia corajosa. A mulher é valorizada na Igreja em suas funcóes
específicas de mulher, que sao, por natureza, diversas das funcóes pró-
prias do homem.

Em última análise, o que valoriza a figura humana, nao é a funcáo


que exerce, mas a santidade ou o devotamento integral á vontade de
Deus. Neste ponto homem e mulher estáo igualmente habilitados; sao
ambos chamados á mesma grande meta ou á perfeicáo, cada qual, po-
rém, por seu caminho próprio - o da masculinidade e o da feminilidade.
O que faz a grandeza de alguém, nao é o projetar-se perante os homens,
mas o projetar-se perante Deus numa vida santa e plenamente realizada
em Cristo.

2.3. Teología da Libertacáo

"Sois um homem de coragáo á esquerda e cabega á direita. Nao


vos agradam a Teología da Libertagáo e as inovagóes suscitadas pelo
Concilio Vaticano 2g" (Frei Betto).

A propósito note-se:

-Joáo Paulo II insiste constantemente na fidelidade ao Concilio do


Vaticano II; é um dos grandes arautos do mesmo; por isto condenou a
atitude de Dom Lefébvre, contrario ao Concilio. Os abusos decorrentes
em nome de falsas interpretares dos textos conciliares vém a ser urna
deturpacáo do Concilio; por isto o Papa nao os pode aprovar.

Quanto á Teología da Libertacáo, foi rejeitada na medida em que


se valia do marxismo como ponto de partida de seus arrazoados. O mar
xismo é materialista e ateu, de modo que nao podia deixar de afetar a
elaboracáo teológica, deteriorando os conceitos de Jesús Cristo, Igreja,
Eucaristía, pecado, salvacao ... Os principáis arautos da Teología da L¡-
bertacáo se distanciaram profundamente do sentido das Escrituras e da
Tradicáo; em conseqüéncía, duas Cartas da Congregacáo para a Doutri-
na da Fé comentaram a temática e evidenciaram a incoeréncia da Teolo
gía da Libertacáo construida sobre a premissa da análise marxista da
sociedade. Um espécimen do pensamento de Frei Betto adepto da Teo
logía da Libertacáo consiste em dizer, após viagem feíta a Cuba, que o
Reino de Deus comegou em Cuba, porque lá se dá atencáo á educacáo

104
"QUERIDO PAPA"

e á saúde, embora a Igreja esteja reduzida ao silencio e a populacáo


careca de liberdade!

"Haverá no futuro um papa que reconhega como certos cardeais


romanos foram duros com Leonardo Boff e Ivone Gebara?", pergunta
Freí Betto.

O tratamento infligido pela Santa Sé a Leonardo Boff e Ivone Gebara


(defensora pública do aborto) foi de censura ao erro. O primeiro foi obri-
gado a onze meses de silencio após interrogatorio em Roma, ao passo
que a Irma Ivone foi enviada ao estrangeiro para estudar. Seria para de-
sejar que todas as penalidades infligidas a graves infratores fossem tao
"duras" quanto estas.

2.4. O Papa e os Sem-terra

"Porque nao vospermitiram receberno Rio familias de sem-terra?"


(Frei Betto).

- O Papa veio ao Brasil com a saúde debilitada; foi grande o esfor-


90 que fez para estar presente aos eventos característicos do Encontró
com as Familias no Riocentro, na Catedral, no Maracaná e no Aterro do
Flamengo. Sabe-se que em visitas pastorais anteriores o Papa se sentiu
incomodado pelo cansaco; em conseqüéncia, a visita de Joáo Paulo II ao
Rio de Janeiro foi programada de modo a evitar qualquer surpresa de
saúde do Pontífice. Nao obstante, teve um encontró com os enfermos no
Hospital do Cáncer e com os presidiarios da Frei Caneca; referiu-se aos
excluidos ou marginalizados logo que chegou ao Galeáo, dirigindo-se ao
Presidente da República. E levou consigo muitas cartas de grupos ou de
pessoas que Ihe expuseram seus problemas. O Papa está bem conscien
te dos males que a humanidade padece; tem levantado a voz em favor de
uns e outros; todavía sua autoridade é moral e nao jurídica (nao Ihe com
pete legislar em país algum a nao ser no territorio da Cidade do Vaticano).

2.5. O Modelo de Familia

"Sabéis que a familia monogámica, patriarcal, branca e europeizada


é um entre tantos modelos. Qual o modelo cristáo? Minha amiga Dora,
favelada do ABC, que era surrada toda semana pelo marido alcoólatra e
hoje refaz sua vida afetiva com Luiz merece ser considerada familia?"
(Frei Betto).

- A familia monogámica nao é necessariamente branca e


europeizada. É a familia do ser humano como tal, independentemente
de raca ou nacáo. Com efeito; a monogamia e, conseqüentemente, a
indissolubilidade do matrimonio sao propriedades do contrato matrimoni
al tal como a natureza o instituiu. Nao é preciso ter fé para reconhecer
esta verdade: a uniáo matrimonial é a mais íntima e completa que possa

105
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

existir entre um homem e uma mulher; daí nao poder ser compartilhada
senáo entre um e uma e sem cláusulas restritivas (pois estas contrariam
a índole de plenitude e totalidade da uniáo matrimonial).

Há certos casos de matrimonio válido cujo desempenho cotidiano


é doloroso ou martirizante para uma das partes ou para ambas. Admíte
se entáo a separacáo dos cónjuges, mas permanece o vínculo matrimo
nial indissolúvel. Qualquer nova uniáo, por mais feliz que seja, fere o
conceito de casamento. Nao compete ao cristáo julgar as consciéncias
de quem vive uma uniáo ilegal; mas nem por isto Ihe é lícito aprová-la.
Recomendé á misericordia de Deus as partes ¡nteressadas.

O sacramento da compaixáo ou do perdáo dos pecados de que fala


Frei Betto logo a seguir, nao é recusado a quem esteja sinceramente arre-
pendido das suas faltas. Acontece, porém, que quem vive em concubinato
sem o propósito de o abandonar, nao está arrependido como deve, para
receber a absolvicáo do pecado. Se assim é, também nao tem condicóes
para receber a Eucaristía. Nao se pode fazer da compaixáo divina uma
panacéia para legitimar qualquer tipo de comportamento humano. A mi
sericordia divina nao é a atitude mole e desfibrada de um papai bonacháo.
Ademáis a Moral católica difere da Moral existencialista porter leis objeti
vas e universais, que orientam as situacóes concretas da vida; a Moral
nao depende apenas das circunstancias em que se encontra o individuo.

2.6. O casamento de Claudio

" 'Deus é Amor', proclama o Novo Testamento. O amor é o maior


dos mandamentos. E porque meu amigo Claudio, tetraplégico, nao pode
merecerá béngáo matrimonial em suas nupcias com Teresa ?" (Frei Betto).

- O amor é certamente o maior dos mandamentos. Ele pode-se


exercer numa amizade profunda como também num casamento. O casa
mento significa a máxima doacáo mutua de homem e mulher, doacáo
que chega á uniáo carnal e pode frutificar na prole, que é a expressao do
amor de pai e máe. O casamento é, pois, a plena complementacáo, psí
quica e física, do homem e da mulher. Caso nao possa haver táo íntima
doacáo, haja amizade, ajuda e apoio mutuos, talvez até convivencia sob
o mesmo teto, mas nao se queira equiparar esta situacáo com o casa
mento, nem se pleiteie a béncáo conjugal para tal amizade. Por conse-
guinte, Claudio e Teresa podem viver juntos como irmáo e irmá - o que é
muito belo e meritorio perante Deus.

É o Código de Direito Canónico que, na base de longa jurispruden


cia, determina:

Canon 1084, § 1S: "A impotencia coeundi (ou de praticar o ato


sexual) antecedente e perpetua, absoluta ou relativa, por parte do ho
mem ou da mulher, dirime o matrimonio por sua própria natureza".

106
"QUERIDO PAPA" 11

Por "impotencia" entende-se nao a esterilidade, mas a incapacida-


de de realizar urna auténtica relacáo sexual. Ora a impotencia anterior ao
casamento e perpetua (incurável) torna nulo o casamento, mesmo que o
outro cónjuge conheca previamente e aceite a situacáo. Note-se bem: há
pessoas que nao sao impotentes (sao capazes de cópula sexual), mas
sao esteréis (jamáis o seu ato sexual poderá redundar em prole); tais
individuos podem casar-se validamente. - Impotencia relativa é a que
impede relacionamento sexual somente com alguma ou algumas pesso
as. Só é impedimento para o matrimonio com tais pessoas.

2.7. Sexo e Anticoncepcionais

"A liturgia que faz o erotismo ágape, é um pecado se nao há inten-


gáo de procriar?" (Frei Betto).

- A pergunta é formulada em termos ambiguos. O que importa, no


caso do relacionamento sexual, é que seja observada a lei da natureza.
Ora esta favorece nao somente a cópula ("liturgia que faz do erotismo
ágape"), mas, em certos dias do mes, propicia também a fecundidade e
a prole. Se o casal nao tem a intencáo de procriar, utilize os dias que sao
naturalmente esteréis e abstenha-se da cópula nos dias fecundos; estes
sao apontados com grande precisio pelo método Billings. O que a Moral
católica nao admite, porque fere a lei natural (que é a lei de Deus), é que
se impeca a fecundidade por meio de anticoncepcionais; estes truncam
a natureza. De resto, sao produtos farmacéuticos ou mecánicos coloca
dos dentro de um organismo que funciona bem, para que nao funcione
bem - o que só pode ser nocivo á saúde.

Refere-se Frei Betto, em especial, á AIDS:

"Sabéis que o Brasil é o terceiro país do mundo em casos de Aids?


Porém Roma nao admite que se usem preservativos. A disseminagáo da
morte nao é algo muito mais grave que o prazer do sexo estéril?"
- A respeito tres observares devem ser feitas:

a) O preservativo nao garante sexo seguro, como se diz. Está eviden


ciado que os seus poros sao mais ampios do que o virus HIV, de modo que
em 30% dos casos tem sido comprovado falho; cf. PR 409/1996, pp. 267-274.

b) O preservativo dá a entender que nada há contra o sexo livre; os


adolescentes estariam liberados para "transar", contanto que o fizessem
com preservativo. Ora esta premissa ou conclusáo é falsa. O uso da
genitalidade nao é mero passa-tempo ou divertimento; é algo de muito
serio que supoe compromisso entre os dois parceiros para formarem um
lar estável no qual a eventual prole possa nascer e ser educada.
c) O melhor preservativo contra a AIDS é a continencia, como já se
tem dito. E com razáo. A solucáo cabal para o problema da AIDS nao é o

107
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

engodo do preservativo, mas a educacáo dos adolescentes e jovens para


que compreendam o valor do sexo, do amor e do casamento, e nao fa-
cam da genitalidade urna experiencia ou urna aventura prazerosa, mas
arriscada. Em vez de apregoar o preservativo {o que supde que a juven-
tude é movida por instintos irracionais e irresistíveis), transmita-se aos
adolescentes e jovens urna escala de valores, que os leve a considerar a
genitalidade como um componente da personalidade a servigo de um
ideal de vida, e nao apenas a servico do prazer momentáneo. Essa edu
cacáo é difícil, mais difícil do que a distribuicáo de preservativos, mas é a
única forma de querer bem á juventude e prepará-la para urna vida reali
zada e feliz; haja harmonía entre os impulsos cegos e a razáo, de modo
que esta comande aqueles e os leve a servir á nobreza da pessoa huma
na, em vez de a aviltar e equiparar aos animáis irracionais.

2.8. Aborto e Pena de Morte

"Por que nao condenáis a fabricagáo e o comercio de armas bem


como a pena de morte com a mesma veeméncia com que abomináis o
aborto?" (Frei Betto).

- Esta interrogacáo traz um sofisma em seu bojo. Com efeito; o


aborto é o morticinio de um inocente indefeso, táo bárbaro quanto os
crimes cometidos contra os prisioneiros dos campos de concentracáo (ou
talvez mais bárbaro ainda). Daí nao haver possível hesitacáo sobre a hedi
ondez do aborto. Este em qualquer hipótese é um ato injusto e abominável,
que nao se justifica nem pelo estupro nem pelo perigo de vida da gestante.

Quanto ao comercio de armas, tem duas faces. Sim; as armas po-


dem servir á agressáo injusta e, em tal caso, sao condenáveis, mas po-
dem também servir á defesa legítima de um individuo ou de urna nacáo.
Se nao fossem as armas defensivas, a criminalidade campearía na soci-
edade e os povos mais cobicosos devorariam as nacoes desarmadas.
Daí nao se poder condenar peremptoriamente a fabricacáo e o comercio
de armas. Ó que se deve rejeitar, é o mau uso délas.
No tocante á pena de morte, pode ser um mecanismo de legítima
defesa da sociedade contra seus assaltantes e seqü estrado res. Caso
urna nacáo julgue que tal pena é o único remedio para coibir os malfeito-
res, é-lhe lícito adotar a pena capital. Ocorre, porém, em nossos días que
há meios de refrear os crimes que nao chegam a matar os criminosos;
daí julgar-se que a pena de morte é inoportuna ou anacrónica, nao tendo
lugar na sociedade contemporánea, como bem observa o Santo Padre
na sua encíclica Evangelium Vitae:

«56. Nesta linha, colocase o problema da pena de morte, á volta


do qual se registra, tanto na Igreja como na sociedade, a tendencia cres-
cente para pedir urna apiicacáo muito limitada, ou melhor, a total aboligáo

108
"QUERIDO PAPA" 13

da mesma. O problema há de ser enquadrado na perspectiva de urna


justiga penal, que seja cada vez mais conforme com a dignidade do ho-
mem e portanto, em última análise, com o designio de Deus para o ho-
mem e a sociedade. Na verdade, a pena, que a sociedade inflige, tem
como primeiro efeito compensar a desordem introduzida pela falta. A au-
toridade pública deve fazer justiga pela violagáo dos direitos pessoais e
sociais, impondo ao réu urna adequada expiagáo do crime como condi-
gáo para ser readmitido no exercício da própria liberdade. Desse modo, a
autoridade há de procurar alcangar o objetivo de defender a ordem públi
ca e a seguranga das pessoas, nao deixando, contudo, de oferecer estí
mulo e ajuda ao próprio réu para se corrigir e redimir.

Claro está que, para bem conseguir todos esses fins, a medida e a
qualidade da pena háo de ser atentamente ponderadas e decididas, nao
se devendo chegar á medida extrema da execugáo do réu senáo em
casos de absoluta necessidade, ou seja, quando a defesa da sociedade
nao fosse possível de outro modo. Mas, hoje, gragas á organizagáo cada
vez mais adequada da instituigáo penal, esses casos sáojá muito raros,
se nao mesmo praticamente inexistentes».

2.9. Correntes Religiosas nao Católicas

«Pudesse, levar-vos-ia as igrejas evangélicas em que a palavra de


Deus povoa coragóes e a vossa figura é apreciada. Depois, aos terreiros
de candomblé, nos quais negros e brancos celebram urna liturgia mística
que torna as pessoas mais generosas e solidarias. Veríeis também os
ritos indígenas que varam a noite e, ao som de flautas e tambores, evo-
cam a sacralidade da natureza como expressáo do Criador» (Freí Betto).

- Podem-se reconhecer as expressóes religiosas de muitos gru


pos nao católicos. O que importa, é evitar o relativismo religioso, como se
todas as religióes fossem equivalentes entre si. Para entender o fenóme
no religioso, leve-se em conta o seguinte:

Existe, em todo ser humano, de qualquer raca e época, o senso


religioso ¡nato, que se traduz em formas corpóreas espontáneas, depen
dentes da cultura do povo respectivo. O Catolicismo adota essas mani-
festacóes espontáneas da religiosidade com muitos dos seus símbolos
(ajoelhar-se, prostrar-se, abrir os bracos, juntar as máos, incensó, flores,
véus...) - o que parece relativizar o valor do Catolicismo. É preciso, po-
rém, lembrar que o senso religioso se traduz também num Credo ou numa
cosmovisáo, que orienta a conduta litúrgica e ética da pessoa religiosa.
Ora os Credos nao sao os mesmos; as filosofías religiosas diferem, de
modo que se deve levar em conta também cada Credo e aquilatar a sua
veracidade: existem Credos de índole politeísta (haveria muitos deuses),
de índole panteísta (tudo seria Deus) e de índole monoteísta (há um só

109
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

Deus). A primeira e a segunda modalidades nao resistem ao crivo da


razáo e da lógica, pois Deus nao se pode multiplicar nem pode ser iden
tificado com todas as coisas, passageiras e contingentes como sao.

Quanto ao culto protestante, pode falar a quem o presencie, mas


está desligado das origens do Cristianismo, já que comecou a partir do
século XVI.

2.10. Influencias pagas e judaicas na Igreja


"Nao é verdade que o modelo de igreja romano traz marcas visíveis
de influencias pagas e judaicas?" (Frei Betto).
- A presenca de resquicios de judaismo no Cristianismo é obvia e
necessária, pois o Cristianismo é a consumacao das promessas feitas
pelo Senhor Deus ao judaismo: assim o ritual da Eucaristía católica tem
suas raízes no ritual da ceia de Páscoa dos judeus; o Antigo Testamento
é lido e venerado na Igreja como Palavra de Deus. Nao se poderia conceber
um Cristianismo que nao fosse radicado no judaismo; nao seria cristáo.

No que concerne ao paganismo, sabe-se que os cristáos morreram


mártires até 313 ou depois, para nao pactuar com crencas e práticas pa
gas. Os apologetas cristáos (Atenágoras, Sao Justino, Tertuliano, a epís
tola a Diogneto...) se esmeraram por mostrar a incompatibilidade radical
entre Cristianismo e paganismo. Por conseguinte, nao é de crer que te-
nham adotado crencas ou práticas pagas. Mesmo após Constantino Impe
rador (t 337), o Cristianismo guardou consciéncia de sua identidade, como
indicam as homilías e os escritos de S. Agostinho (t430), S. Cesário de
Arles (t 543), Sao Leáo Magno (t 461), ao enfatizarem a singularidade do
pensamento cristáo em meio aos resquicios da civilizacáo paga decadente.

Eis algumas ponderacóes que o artigo de Freí Betto sugere, ende-


recando-se ao Papa como "o mestre do papa". Quem o lé, tem a ímpres-
sáo, como dito, de estar diante de um jomalista nao católico a criticar a
Igreja, sem muito conhecímento de causa ou preconcebidamente; sao
pessoas que se mostram totalmente alheias aos parámetros da fé. O au
tor pretende reduzir a Igreja a urna sociedade meramente humana, adap
tada á filosofía de vida da sociedade pragmática, dada ao hedonismo e
bem-estar meramente temporal dos homens. As teses do autor se des-
mascaram por si mesmas. Se a Igreja se conformasse aos principios de
comportamento sugeridos por Frei Betto, ela se desmoralizaría e
autodestruiría, em vez de ganhar mais audiencia. O sal da térra teria per
dido o seu valor; ter-se-ia tornado inútil, podendo ser pisoteado pelos ho
mens, e o mundo teria sido privado do elemento que Ihe pode dar sabor e
razáo de ser. É melhor sofrer críticas por manter fidelidade aos genuínos
principios do que sofrer a zombaria e o desprezo que tocam a quem nao
sabe o que professa e se adapta cómodamente as correntes da época.

110
A "FOLHA UNIVERSAL" adverte:

'CUIDADO COM A BÉN£ÁO DO PAPA"


por Mary Schultze

Em sfntese: A "Folha Universal", da Igreja Universal do Reino de


Deus, retoma um artigo do jornal protestante "Voz Quadrangular", que
associa béngao papal e desgraga. Tal conjugacáo merece consideragóes:
1) seria preciso averiguar exatamente o que houve nos episodios conta
dos; terá havido alguma distorgáo no relato respectivo? 2) o que vem
"depois de..." nao vem necessariamente "por causa de..."; assim, se o
dono de casa entra no lar logo depois que o telefone tocou, nao se pode
dizer que o "depois de..." foi também "por causa de...": 3) o texto de
Malaquias 2,2 citado pela articulista está mal aplicado aos casos citados;
4) é fato notorio que as multidóes procuram a béngao do Papa como
penhor de gragas.
* * *

A "Folha Universal", ed¡9áo de 19/10/1997, p. 2A traz um artigo


assinado por Mary Schultze, escritora, com o título "Cuidado com a Bén-
cáo do Papa". É um escrito tendencioso, pois afirma que a béncáo do
Papa só acarreta desgrasas. Alias, em 1988 o jornal "Voz Quadrangular"
trazia artigo semelhante, já comentado em PR 312/1988, pp. 232-236.
Os adversarios da Igreja repetem chavóes, mesmo quando mal concebi
dos ou redigidos. A seguir, veremos o conteúdo do artigo de Mary Schultze
e Ihe teceremos alguns comentarios.

1. Os Dizeres do Artigo

Comeca a articulista afirmando:

"Diz o doutor Russel Shed, teólogo americano radicado no Brasil


há mais de trinta anos, em seu comentario de Efésios, que toda a béngao
espiritual que nao provém de Jesús Cristo se torna em maldigáo. Como a
Biblia - no segundo mandamento - condena terminantemente qualquer
tipo de idolatría, mesmo que seja um culto a imagem do próprio Jesús,
fica claro que se urna béngao for dada através de um ídolo ela se trans
forma em maldigáo".

A seguir, cita um texto do Antigo Testamento:

"Se o nao ouvirdes e se nao propuserdes em vosso coragáo dar


honra ao meu nome... enviareisobre vos maldigáo e amaldigoarei as vos-
sas béngáos..." (Malaquias 2:2)

111
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

Dito isto, a autora cita doze casos em que se diz que o Papa deu a
béncáo a pessoas que pouco depois sofreram alguma desgrana, a co-
megar pelo ano de 1980:

"Em 1980, quando aqui esteve pela primeira vez, o papa abengoou
o Brasil através de um ídolo chamado Senhora da Aparecida. Como con-
seqüéncia, o país entrou numa onda de maldigáo incontrolável. Serios
problemas políticos. Inflagáo galopante. Tremendas secas no Nordeste.
O nascimento do cruzado. O enxerto do cruzado novo. O presidente Collor.
Aumento da violencia. Seqüestros generalizados. Terremotos no Cea-
rá... E por ai afora".
Seja permitido observar quáo superficial e leviana é a associagáo
de fatos. Com efeito, a crise do Brasil é muito anterior a 1980; a inflagáo
já era espantalho da populacáo naquele ano; além do qué, o presidente
Collor governou o Brasil anos após a visita do Papa.
A articulista encerra suas ponderacoes dizendo:

"Nao é de béngao papal que o Brasil está precisando. É da renova-


gao das mentes através da aceitagáo do puro Evangelho do Senhor Je
sús Cristo. Porque: Feliz a nagáo cujo Deus é o Senhor (Salmo 33:12)".

2. Que dizer?

Impóem-se quatro ponderacoes a respeito do artigo:

1) Em MI 2,2 lé-se: "Se nao escutardes, se nao levardes a serio dar


gloria ao meu Nome - disse o Senhor dos exércitos -, mandarei contra
vos a maldigáo e amaldigoarei a vossa béngáo. Sim, eu amaldigoarei
porque nao leváis isto a serio".

Este texto é dirigido aos levitas negligentes após o exilio, ou seja,


no século V a.C. O Senhor Ihes anuncia punigáo; as béngáos a eles con
cedidas (isto é, os beneficios temporais que tocam aos levitas, conforme
Dt 33,11)' tornar-se-áo maldicoes, isto é, desgrasas, segundo a adver
tencia já feita em Dt 28,29:" O Senhor Deus desencadeará contra ti a
confusáo e a ameaca em toda obra em que te ocupares, até que sejas
destruido e peregas rápidamente por causa da maldade de tuas agóes
pelas quais me abandonaste".

Como se vé, o texto nao quer dizer que "béncáos concedidas por
pessoas ímpias se transformam em maldigóes" para as pessoas "aben-
goadas"; isto seria iníquo da parte do Senhor Deus, pois quem recebe de
boa fé urna béngáo, nao deve pagar pelas culpas de quem "abengoa". O

' "Abengoai, Senhor, os seus esforgos e aceitai a obra de suas máos. Feri os ríns dos
seus adversarios e dos que odeiam Lev/, para que nao se levanten)" (Dt 33,11).

112
"CUIDADO COM A BÉNQÁO DO PAPA" 17

que o texto bíblico quer dizer, é que os favores prometidos pela Lei de
Moisés aos levitas se transformaráo em desgracas ou maldicóes para
esses mesmos levitas por causa do indigno comportamento destes: em
vez de gozarem de prosperidade material, seráo entregues aos seus ad
versarios.

Por conseguinte, a observacáo do jornal "Folha Universal" comeca


com um sofisma ou uma distorcáo do texto bíblico. Ela nao tem o mínimo
fundamento na S. Escritura, ao invés do que pensa a respectiva articulista.
2) Abstracáo feita deste tópico, vamos ao conteúdo da nota:
As afirmacoes de ruina ou desgraca de Carlota de Bourbon, de
Maximiliano do México, do exército francés... sao vagas e destituidas de
documentado. - Ora, em materia histórica, é absolutamente necessário
que as assercóes sejam documentadas... e documentadas de maneira
fidedigna ou idónea, pois se sabe que há freqüentes afirmacóes gratuitas
(resultantes de equívocos), como também há preconceitos e interpreta-
cóes unilaterais no estudo da historia.

Quanto as desgracas que nossa patria tem experimentado, elas


nao sao datadas da década de 1980, mas tém raízes e expressoes bem
anteriores. Seria simplório dizer que a atual infelicidade da nacáo suce-
deu a um período de prosperidade; os males que afligem nosso povo,
tém causas em acontecimentos remotos, que váo dando maus frutos.
3) Um sadio principio de Filosofía diz-nos que é preciso nao con
fundir "depois de..." com "por causa de...". O fato de um evento se seguir
a outro nao quer dizer que haja causalidade do primeiro em relacáo ao
segundo; por exemplo, se o telefone toca numa casa e, logo a seguir, o
pai de familia volta do trabalho, pode-se dizer que houve um "depois
de...", nao, porém, um "por causa de...". Conseqüentemente o fato de
aiguém ter recebido a béncáo papal e, pouco depois, haver sofrido uma
desgraca física nao quer dizer que a béncáo tenha sido a causa da infe
licidade; seria falso silogismo aquele que assim concluísse (a conclusáo
excedería as premissas). - Ademáis, como dito, seria injusto da parte de
Deus fazer que a pessoa "abencoada" sofresse o castigo devido a quem
abencoa; nem o Profeta Malaquias quer insinuar isto, como vimos atrás.
4) Numa perspectiva crista, nao se pode dizer que todas as des
gracas físicas sao castigo. O Novo Testamento dissocia os termos que o
Antigo Testamento combinava entre si: pecado - desgraca material (cf.
Dt 28-30). Assim, por exemplo, diz o Senhor no Apocalipse: "Repreendo
e educo todos aqueles que amo" (3,19); ver também Hb 12,4-11; 1Cor
11,32. A provacáo no plano temporal pode ser comparada ao cadinho,
que purifica o ouro, separando-o das escorias; assim a tribulacáo é per
mitida pelo Senhor Deus para dar aos seus fiéis a ocasiáo de se liberta-
113
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

rem do velho homem egoísta e concupiscente; é neste intuito que o Se-


nhor consente na provacáo dos seus amigos; nunca há, da parte de Deus,
urna pena meramente vingativa; todo sofrimento é medicinal.
5) Ademáis a presenca e a béncáo do Papa tém sido estimadas no
mundo de hoje a tal ponto que a imprensa internacional reconhece que
Joáo Paulo II é a figura mais popular e benquista da nossa época.
Isto se evidenciou claramente por ocasiáo do jubileu de ouro sa
cerdotal do Papa. Com efeito; a 19 de novembro de 1996, o S. Padre
Joáo Paulo II completou cinqüenta anos de ordenacáo sacerdotal. Esta
data foi comemorada por varias ¡nstituicóes e personalidades, que se
associaram ao Papa em sua acáo de gracas e Ihe prestaram justa home-
nagem. Urna das mais significativas expressóes dessa admiracáo foi a
da revista italiana ÉPOCA, urna das mais tradicionais e mais lidas da
Italia; consagrou a Joáo Paulo II urna edicáo especial destinada a coleci-
onad'ores, em que chamava o Papa L'Uomo del Secólo (o Homem do
Século). Sem dúvida, é este um dos mais brilhantes títulos que se pos-
sam atribuir a alguém.

A revista apresenta 400 fotografías, tidas como raras ou nunca vis


tas e inesquecíveis. Varios autores, de diversas concepcoes filosóficas,
escreveram a respeito de S. Santidade: o pensador católico Rocco
Butiglione, o intelectual socialista Sergio Zavoli, o leigo liberal e ex-em-
baixador Sergio Romano, e o ex-miliciano fascista e jornalista Giano
Accame.

Até a data de seu Jubileu de ouro sacerdotal, desde o dia de sua


eieieáo (16/10/1978), Joáo Paulo II pronunciou mais de 13.000 discursos
em idiomas muito diversos; foi infatigável globe-trotter, fazendo 74 via-
gens a 166 países (52 dos quais visitados mais de urna vez); dentro da
Italia fez 127 visitas pastorais. Tudo somado, Joáo Paulo II percorreu
1.049.500 km, equivalentes a 273 vezes a distancia entre a Térra e a Lúa
e a 26 voltas em redor do mundo. Passou longe de Roma cerca de um
décimo do tempo de seu pontificado.

Escreveu doze Encíclicas, cinco Exortacóes Apostólicas, promul-


gou o Código de Direito Canónico para a Igreja dita latina e outro para a
Igreja dita oriental; patrocinou e editou o Catecismo da Igreja Católica e
empreendeu a reforma da Curia Romana. Doutro lado, é de notar que
nenhum outro Papa sofreu tantos acidentes e doencas, passando 135
dias internado da Policlínica Gemelli, de Roma.

Canonizou (incluiu no catálogo dos Santos) mais de 275 fiéis de


ambos os sexos, e realizou mais de 630 Beatificacóes (passo preliminar
para a Canonizacáo).

114
Quem sao?

"CATÓLICAS PELO DIREITO DE DECIDIR"


(CDD)

Em súrtese: O movimento "Católicas pelo Direito de Decidir" (CDD)


e suas ramificagoes, propugnando o aborto e certa permissividade sexu
al, trabalha para o falso bem da mulher e da sociedade. O Congresso
Teológico-Pastoral no Riocentro de 1g a 3 de outubro pp. deixou suas
conclusóes, que refutam eloqüentemente os dizeres das CDD. Todavía,
como se compreende, a posigáo de tal movimento é sedutora, porque
¡novadora; sabe-se que as novidades sempre despertam atengáo e até
simpatía (talvez precipitada); o bom senso, porém, e a experiencia de-
vem falar mais alto e mostrar que a grande sabedoria para o homem e a
mulher consiste em respeitar a natureza humana e suas leis espontáne
as. Quando o ser humano viola a natureza, arriscase a sentir a réplica
da própria natureza desrespeitada.

O Movimento das "Católicas pelo Direito de Decidir" (CDD) tem


tomado vulto na América inteira, inclusive no Brasil, onde se vem empe-
nhando pela legalizacáo do aborto. Vém sendo divulgados alguns escri
tos desse Movimento, principalmente em castelhano. Em portugués, tem-
se a brochura "Urna Historia mal Contada", que em dois capítulos propugna
o aborto, acusando injustamente a Igreja Católica.

O CDD tem sua historia e suas teses, que poucas pessoas conhe-
cem. Daí a conveniencia de apresentar este Movimento. Para tanto, as
páginas subseqüentes se valeráo de um boletim publicado por Human
Life International, 4345 S. W. 72 Avenue Suite "E", Miami, Florida 33155,
U.S.A. Tem por título "La Verdad sobre las Católicas por el Derecho a
Decidir", e data de junho 1995. Desse boletim seráo traduzidas ou, ao
menos, condensadas, as noticias deste artigo.

1. Origem do Movimento

O Movimento "Catholics for a Free Choice" (CFFC) ou "Católicas


pelo Direito de Decidir" (CDD) foi fundado em 1970 nos Estados Unidos
para protestar contra a oposicáo da Igreja Católica á legislacáo de Nova
York, que permitía o aborto. Tal Movimento filiou-se á Coalisáo Religiosa
pelo Direito ao Aborto (Religious Coalition for Abortion Rights), criada
pouco depois que o Supremo Tribunal norte-americano legalizou o abor
to. O CFFC apresentava-se como "urna organizacáo docente que apóia

115
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

o direito ao legítimo tratamento da saúde da reproducáo (ou seja, á


anticoncepgáo e á esterilizacáo) e ao aborto".
O primeiro presidente do CFFC foi um sacerdote jesuíta, o Pe.
Joseph O'Rourke, expulso da Companhia de Jesús em 1974; govemou o
Movimento até 1979. Em 1980 a Sra. Francés Kissling assumiu a presi
dencia da CFFC, tendo ela mesma fundado a Federacáo Nacional do
Aborto (National Abortion Federation).

A principio, a sede principal da CFFC era o edificio da Paternidade


Planificada (Planned Parenthood) em Nova lorque. Na verdade, estas
duas organizacóes se associaram entre si no combate á Igreja, á familia
e aos nascituros. Tenham-se em vista as palavras da Sra. Pamela J. Ma-
raldo, atual presidente da Planned Parenthood Federation of América:

"Nao sou menos católica porque me afastei da Igreja em questoes


relativas á privacidade da familia e a autonomía na reprodugáo".
Como se vé, a Sra. Maraldo se considera "boa católica", embora
dirija a mais poderosa organizacáo dedicada a promover o aborto. É este,
alias, o tipo de mentalidade que o CFFC tenta incutir aos católicos.
O CFFC, embora traga o título de católico, nao é urna sociedade
católica. A Conferencia Nacional dos Bispos Católicos dos Estados Uni
dos declarou em 4/11/1993, que o CFFC nao é urna sociedade católica:
"Muitas pessoas podem ser induzidas a crer que tal organizacáo é autén
ticamente católica, mas ela nao o é. Nao está filiada, nem formalmente
nem de outra maneira, á Igreja Católica".

2. A Sra. Francés Kissling e os Fundos da CFFC

A atual presidente da CFFC, a Sra. Francés Kissling, abandonou a


Igreja Católica quando jovem; diz, porém, que regressou á Igreja; isto, po-
rém, nao significa, diz ela, "que tenha voltado a freqüentar a Missa aos do
mingos, a confissáo sacramental e todas essas coisas da minha infancia de
que me recordó"; ela voltou á Igreja "como agente de mudanca social".
Urna de suas tarefas tem sido organizar grandes campanhas em
favor do aborto. Foi consultora dos Servaos de Assisténcia e Projetos
Internacionais (International Projects Assistance Services), organiza
cáo dedicada a abrir clínicas abortivas e a habilitar os que praticam o
aborto nos países onde ele é ilegal. Como dito, fundou a Federacáo Na
cional do Aborto, organizacáo destinada a profissionais que fomentam o
aborto. Foi Diretora de urna das primeiras clínicas para aborto legal em
Nova lorque, como também dirigiu clínicas ¡legáis de aborto no México e
em Roma. Reconhece ter introduzido ¡legalmente a aparelhagem para
aborto por succáo no México. E, ao visitar a Italia, disse: "Nada de mau
vejo em ajudar as mulheres desejosas de fazer abortos ¡legáis".

116
"CATÓLICAS PELO DIREITO DE DECIDIR"

De 1980 a 1994, 35 Fundares norte-americanas enviaram vulto-


sos donativos a CFFC, subindo a um total de US $ 8.138.797,00.

Dos US$ 1.530.636 que recebeu em 1993, US$ 1.501.412,00 {ou


seja, 98%) vieram de tais Fundacóes; somente US$ 29.224,00 procede-
ram de outras fontes. As cinco principáis Fundacóes que sustentam CFFC,
sao: Ford, Sunnen, J.D. Mac Arthur, Gund e a Fundacao Pedagógica da
América (The Educational Foundation of América).

A partir de 1986, o CFFC recebeu US$ 1.500.000,00 especifica-


mente para promover a anticoncepcáo e o anticátolicismo na América
Latina através do ramo latino-americano "Católicas pelo Direito de Deci
dir" (CDD). De tal quantia, US$ 900.000,00 foram doados pela Fundacao
MacArthur.

A destinacáo antivida e anticatólica desses donativos consta dos


boletins que os acompanham:

"Refrear os esforgos da Igreja Católica Romana para evitar que


legalmente se tenha acesso ao tratamento da saúde da fungió
reprodutora" (Fundagáo General Sen/ice 1988).

"Apoiar os dissidentes católicos na questáo do aborto" (Fundagáo


Gund 1987).

"Proporcionaraos cidadáos católicos urna alternativa razoável frente


á doutrina da Igreja" (Fundagáo Clark 1985).

"Guia para os católicos em favor da livre escolha" (Fundagáo


Packard 1991).

3. As Concepcóes do CFFC

O CFFC opóe-se veementemente á Moral católica relativa nao so-


mente ao aborto, mas também á sexualidade. O aborto pode ser urna
opcáo lícita, visto que as mulheres devem ser capazes de tomar deci-
sóes que "melhorem sua integridade e sua saúde"; mesmo que um cató
lico julgue ser o aborto imoral, pode ser a favor da liceidade do mesmo. A
Sra. Kissling declarou que, "mesmo que o feto seja urna peca integrante
da especie humana, o valor do feto nunca poderá ser colocado ácima do
valor do bem-estar da mulher".

O CFFC chegou a referir-se ao aborto como sendo "um ato sagra


do". Afirma outrossim que "a uniáo entre heterossexuais ou homossexu-
ais para viverem como casáis, baseada na justica e no compromisso
mais do que no contrato conjugal tradicional, é moralmente válida".

A respeito da autoridade da Igreja o CFFC declara erróneamente


que o Direito Canónico "afirma o direito e a responsabilidade, dos católi-

117
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

eos, de seguir a sua própria consciéncia, mesmo quando esta diverge


dos ensinamentos da Igreja". - De passagem, note-se que o Direito
Canónico nao propóe esse pretenso direito, pois a consciéncia humana
nao é autónoma, mas é teónoma, isto é, recebe de Deus as suas normas
através da instancias escolhidas pelo próprio Deus.

O CFFC também propugna a ordenacáo sacerdotal das mulheres.

4. CFFC e Movimentos Feministas

O CFFC está vinculado a Movimentos Feministas avancados, en


tre os quais o de Women Church Convergence (Convergencia de Mu
lheres na Igreja). A Convergencia resulta da coalisáo de varios grupos
feministas, tendo como urna de suas fundadoras a Sra. Rosemary Radford
Ruether, dita "teóloga católica", que também é da cúpula dirigente do
CFFC; a Convergence "acolhe todas as crencas religiosas de mulheres
identificadas consigo mesmas e de homens que se identificam com as
mulheres"; a sua finalidade é reinterpretar o Evangelho a partir do enfoque
da libertagáo da muiher. A Sra. Ruether declarou que "Mulheres-lgreja" é
um movimento de Cristianismo radical, que tende a ver a religiáo tradici
onal como falsa ou em decadencia e apregoa a Nova Era, esperando
que em breve comece na Térra essa nova fase da historia pautada pelos
principios de urna nova ordem social.

A Sra. Ruether também reconhece que "Mulheres-lgreja" está fun


damentada no que se chama "a espiritualidade da criacáo ou o culto á
Máe-Terra".

Com efeito. Sob a direcáo de Rosemary Ruether foram criados ritu-


ais que acompanham os principáis momentos da vida humana feminina:
assim o ritual que marca o comeco da menopausa, o que celebra a uniáo
de duas lésbicas, o que lamenta o nascimento de urna enanca natimorta,
o que acolhe a muiher que se recupera de um aborto, o que acompanha
a muiher no ato mesmo de cometer o aborto. Este último se dirige em
oracáo a Deus Máe e Pai, enquanto a muiher que aborta é ungida com
óleo, abencoada e convidada a lancar ao ar pétalas de flores... Tais rituais
celebram também a decisáo, da muiher, de matar o filho nascituro.

Urna das autoras de tais cerimoniais é a Sra. Dianne Neu, ex-mon-


ja feminista, que apóia o aborto e é liturgista da libertacáo da muiher;
Neu afirma ser "católica, apostólica, romana". É autora de um ritual dito
"de duelo", que merece especial atencáo: as mulheres que tenham co
metido um aborto, devem pedir ao aborteiro os restos da enanca extraí
da; a máe entáo reúne-se com seu companheiro e seus amigos, e juntos
rezam oracóes como esta:

"Bendito és Tu, ó Santo, Máe e Pai, que nos deste a possibilidade


de decidir. Sentimo-nos tristes porque as circunstancias da vida de N. N.

118
"CATÓLICAS PELO DIREITO DE DECIDIR" 23

(a mulher) e N. N. (o parceiro) foram tais que a decisáo de levar urna


gravidez a termo nao foi vivificante para todos os que tomaram parte nes-
te ato. Urna decisáo tal nunca é fácil; está cheia de dores e ferídas, de ira
e dúvidas. Nossa dileta irmá tomou urna decisáo muito difícil. Promete
mos continuar a apoiá-la durante a sua vida. Nos Te louvamos, ó Santo,
por Tua presenga nela".

A mulher que abortou, explica por que tomou essa decisáo; abre
entáo urna cova no jardim com a ajuda do seu companheiro e os dois
proferem a seguinte oracáo, enquanto enterram o bebé abortado:

"Ó Máe Térra, depositamos este espirito para que descanse em teu
seio".

Neu sugere que este rito e similares sejam aplicados para "sanar"
e afirma que servem para celebrar a espiritualidade da mulher.

Algumas oracóes chegam a louvar o demonio. Assim, por exem-


plo, Thomas Marrón redigiu poesías intituladas "Cancóes aos Anjos", que
tecem as glorias de Lucifer e outros anjos. O inferno é tido como "táo
ardente e belo quanto o céu"; todos os anjos estariam bailando para
Lucifer, cujo suave nome é lírico e santo.

5. A Conferencia sobre a Reimaginacáo

Em Minneapolis (Minnesota) realizou-se de 4 a 7 de novembro de


1993 a Reimagining Conference (Conferencia sobre a Reimaginacáo).
Organizada por "Mulheres-lgreja", destinava-se a promover o feminismo
radical, as concepcóes de Nova Era e o lesbianismo dentro das próprias
comunidades cristas. Foi entáo que Mary Hunt, membro da Junta Diri
gente da CFFC, propós substituir o conceito de familia pelo de amizade,
exprimindo-se nos seguintes termos:

"Imaginem as relagóes sexuais como sendo normas entre amigos;


ensinemos os jovens a fazer amigos mais do que a realizar encontros.
Imaginem que o valor atribuido á interacáo genital seja o fomento da
amizade, do prazer e do sucesso entre amigos... O prazer é um direito
congénito que nos foi roubado pelo patriarcado religioso. É hora de o
recuperar com nossos amigos... Imagino amigos, nao familias, gozando
dos prazeres que merecemos porque nossos corpos sao santos e nossa
sexualidade é parte das riquezas que a criagáo nos oferece".

Dianne Neu e Mary Hunt moram juntas num relacionamento que


pode ser tido como lésbico. Mary Hunt declarou recentemente:

"Há muito nossos vizinhos notaram que nos duas, minha compa-
nheira e eu, somos mulheres... Em cada casa deveria haver tanto amor
como o que existe no lar de Mary e Dianne... O amor e o lesbianismo
caminham juntos, como o amor e a justiga, com os coragóes e as flores".

119
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

Note-se que Hunt diz ser "urna teóloga católica".

Nessa mesma Conferencia sobre a Reimaginacáo as feministas


extremadas criaram urna deusa Sabedoria, inspirada pela personifica-
pao poética da Sabedoria em Proverbios 8, 22s:

"O Senhor me criou, primicias de sua obra, de seus feitos mais


antigos. Desde a eternidade fui estabelecida, desde o principio, antes da
origem da térra".

Abusando do texto bíblico, que nao apregoa o culto de adoracao á


Sabedoria, as feministas extremadas pretendem adorar a deusa Sofia
(= Sabedoria, em grego), dirigindo-lhe, entre outras, a seguinte oracáo:

"Sofia, nossa Criadora, somos mulheres criadas a tua imagem...


Sofia, Deus Criador... Máe nossa, Sofia, celebramos a vida sensual que
nos das... Celebramos nossa corporeidade, nossa natureza física, as
sensagóes do prazer, nossa unidade com a térra e a agua".

A nova deusa é concebida segundo o panteísmo, como se depre-


ende de declarares das participantes da Conferencia:

"Sofia é a energía divina dentro da mulher, que vai sendo debelada


pelos rituais da deusa".

"Sofia é a Sabedoria dentro de mim".

"Sofia é o lugar onde reside em nos o universo inteiro" (dizeres que


encabegaram o programa da Conferencia).

Comenta um observador da Conferencia:

"Essas feministas extremadas fizeram para si um ídolo e o chamam


Deus. Se/7? se dar conta disto, adoram a si mesmas".

O culto da deusa Sabedoria é compartí I hado também pelos mem-


bros e colaboradores de CFFC. Rosemary Ruether se refere, em suas
alocucóes, á Sabedoria como Deusa-Máe; menciona "urna voz interior
da Máe Sabedoria", assim como "a fonte de vida e urna nova vida que
chamamos Máe Sabedoria".

Neu compós urna liturgia para a procriacáo responsável, na qual a


mulher grávida reza a Sofia em busca de Sabedoria para que a ajude a
decidir se deve eliminar ou nao o filho que ela traz em suas entranhas.

6. As Ramificacóes de CFFC

Em agosto de 1991, o CFFC lancou o Projeto Hispánico (Hispanic


Project), destinado a educar as organizacóes latinas dos Estados Uni
dos para "cuidarem da saúde da funcáo reprodutiva" (ou seja, aborto e
contracepcáo). Entre estas organizacóes, estao a Liga de Cidadaos Lati-

120
"CATÓLICAS PELO D1REITO DE DECIDIR" 25

no-americanos Unidos ou LULAC ({League of United Latin American


Citizens), a Associacáo Nacional México-americana ou MANA (Mexican
American National Association), a Conferencia Nacional de Mulheres
Portorriqueñas ou NACOPRW (National Conference of Puerto Rico
Women), o Conselho de Mulheres Hispano-americanas, o Conselho
Hispano-americano para a Saúde (Hispanic Health Council), a Coalisáo
de Organizares Hispánicas de Servicos Humanos e Sanitarios (National
Coalition of Hispanic Health and Human Services Organizations), e Mu
lheres Latinas em Acáo.

Em 1992 o CFFC criou a "Iniciativa Latina" para facilitar informa-


cóes sobre o cuidado da saúde da reproducáo. A Iniciativa Latina conse-
guiu que varias das grandes organizacóes nacionais latinas dos Estados
Unidos se unissem entre si na promocáo de seus interesses comuns
anticonceptivos.

O CFFC estendeu sua influencia á América Latina. A presidente,


Sra. Francés Kissling, viaja por diversos países e obtém presenca muito
atuante nos meios de comunicacáo social. O principal ramo tem por nome
Católicas por el Derecho de Decidir (CDD), cuja coordenadora é a Dra.
Cristiana Grela. A sede principal da CDD está no Uruguai; tem filiáis no
México, na Argentina, no Brasil, no Chile e em Nicaragua.

A Dra. Grela, ginecologista, teve o seu momento decisivo em 1986


durante um Encontró Ecuménico de Mulheres Cristas na Argentina, que
tratava de "novas formas de espiritualidade para a mulher". Em tal En
contró urna das participantes Ihe deu um dos boletins do CFFC. "Esta
experiencia foi para mim urna revelacáo, disse ela. Eu tinha um grande
confuto de fé porque pensava que as minhas concepcóes feministas eram
¡ncompatíveis com os ensinamentos da Igreja Católica, á qual pertenco.
Eu estava para abandonar a Igreja a fim de poder continuar meu trabalho
como feminista; mas no nosso Encontró percebi que outras mulheres em
confuto também procuravam um lugar na Igreja".

Com outras palavras, a Dra. Grela havia "descoberto" que "alguém


pode ser partidario do aborto e estar bem centrado na Igreja". Posterior
mente, em artigo publicado na Argentina a Dra. Grela escreveu:

"Dizemos que toda mulher que continua sendo católica, vai á igreja
e utiliza métodos para planejar a sua familia, é Católica pelo Direito de
Decidir. Tal mulher optou por essa posigáo em tranqüilidade de conscién-
cia, desobedecendo á orientagáo da hierarquia".

Entre as publicacoes que CDD distribuem na América Latina há o


escrito satírico "E María foi consultada par ser Máe de Deus"; na capa é
apresentada urna jovem que pergunta á Virgem Maria o que é que a
jovem pode fazer para aliviar Maria de sua gravidez indesejada. Tal livro

121
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

ensina que o aborto nem sempre é pecado; a pecaminosidade depende


ría de cada caso; afirma que muitos Bispos teriam declarado que o re
curso a contraceptivos é de decisáo docasal; dado que o Papa nao emi-
tiu urna declaracáo infalível sobre o aborto, este é assunto de livre delibe-
racao de cada um(a); diz ainda que há incerteza quanto ao momento em
que comeca a vida humana e que, havendo incerteza, a Igreja deixa li-
berdade para que cada interessado(a) faca sua opcáo; finalmente asse-
vera que, se Deus deixou a María a liberdade para decidir se ela quería
ou nao conceber Jesús, Deus deixa a todas as mulheres a mesma liber
dade de decidir a fim de que a maternidade seja voluntaria. - Como se
vé, há ai um conjunto de sofismas e falsas alegacóes que nao resistem a
urna crítica sadia.

No Brasil a CDD publicou e distribuiu a brochura intitulada "Urna


Historia mal Contada", que compreende dois artigos: o primeiro, de Jane
Hurst, trata da historia das idéias sobre o aborto na Igreja Católica; o
segundo é da autoría de Rose-Marie Muraro, e versa sobre "o aborto e a
fé religiosa na América Latina". Sao dois artigos tendenciosos e unilate-
rais; o assunto já foi abordado em PR 324/1989, pp. 231-239, onde se
mostra que a Igreja sempre condenou o aborto, mesmo quando se julga-
va que a hominizacao ou a infusáo da alma humana se dava 40 días
(para os meninos) e 80 dias (para as meninas) após a conceicáo.

O primeiro livro de CDD escrito por autoras latino-americanas tem


por título "Mujeres y Iglesia: sexualidad y aborto en la América Latina"
(México, DF, Distribuicóes Fontamara, 1989). Seguindo o passo das fe
ministas norte-americanas, propugna os costumes dos indios anteriores
a Cristóváo Colombo, o direito ao lesbianismo, ao aborto, á anticoncepcáo
e o feminismo antivida inspirados pelo movimento "Mulheres-lgreja".

Urna das suas autoras, Sylvia Marcos, exalta "a primitiva espiri-
tualidade sexual americana" das sacerdotisas aztecas, "celebrantes pri
vilegiadas". Alega que os ritos pagaos pré-colombianos constituem "urna
fonte de inspiracáo para nos, que questionamos a Moral recebida e con
sideramos que a experiencia do prazer nos une com a Divindade". Outra
autora, Ana María Portugal, fala da "heterossexualidade imposta" como
"opressáo para todas as mulheres". A Dra. Cristina Grela, outra autora do
livro, aborda "o mito da boneca" e o "mito do casal constituido de homem
e mulher" e lamenta que a mulher tenha que "se enamorar do tipo 'bom
mogo' semelhante ao príncipe dos contos para enancas"; e por fim per-
gunta: "Qual a tua liberdade para te enamorares de urna mulher e de te
permitires sentir amor?" Maria Ladi Londoño E., co-autora do livro, reco-
nhece que a Igreja condena o aborto, mas julga falsamente que o faz
"nao como resultado de urna doutrina referente ao amor, mas como con-
seqüéncia de sua acentuada misoginia (aversáo á mulher) e discrimina-

122
"CATÓLICAS PELO DIREITO DE DECIDIR" 27

cao da muiher, que a Igreja nao aceita e á qual recusava alma humana
até o Concilio de Trento. - A propósito desta falsa alegacáo relativa á
alma das mulheres ver PR 330/1989, pp. 516-518; 337/1990, pp. 275s.
Em suma, no livro "Mujeres y Iglesia: sexualidad y aborto en América
Latina" as autoras apresentam urna "nova Ética", além do "direito" de
abortar e usar contraceptivos, para "dar-nos a autorizacáo de viver, sem
complexo de culpa, o desejo, o prazer e o gozo do corpo... sem deveres
nem compromissos". Francés Kissling, que escreveu o epílogo, o con-
cluiu dizendo:

"Em 'Mujeres-Iglesia' unimo-nospara celebrar nossa vida, para es-


tudar e trabalhar em pro! de urna mudanga da Igreja institucional".

O CFFC está unido em colaboracao com outras instituicóes antivida


e antifamília, como a Coalisáo Internacional para a Saúde da Muiher ou
INHC (International Women's Health Coalition), a Rede Mundial de Mu
lheres pelos Direitos de Reproducio (Women's Global Network for
Reproductive Rights), a Convergencia Mulheres-lgreja (Women-Church
Convergence), a Associacáo Unitaria Universalista (Unitarian Universalist
Association), a Paternidade Planejada (Planned Parenthood), a Organi-
zacáo Nacional para a Muiher ou NOW (Nationai Organization for Women)
dos Estados Unidos, a Coalisáo Religiosa pelos Direitos ao Aborto ou
RNCAR (Religious Nationai Coalition for Abortion Rights) dos Estados
Unidos, a Federacáo Nacional do Aborto ou NAP (Nationai Abortion Fe-
deration) dos Estados Unidos, a Liga Nacional de Agio pelo Direito ao
Aborto ou NARAL (Nationai Abortion Rights Action League) radicada tam-
bém nos Estados Unidos.

Refletindo...

O Movimento CFFC e suas ramificacóes, propugnando o aborto e


a permissividade sexual, trabalha para o falso bem da muiher e da soci-
edade, como se pode depreender dos artigos de Mary Ann Glendon e
Janne Haaland Matlary; cf. PR 428/1998, pp. 2-20 e 429/1998, pp. 56-69.
O Congresso Teológico-Pastoral do Riocentro de 19 a 3 de outubro de
1997 deixou também suas conclusoes que refutam eloqüentemente os
dizeres do CFFC; cf. PR 429/1998, pp. 50-55.

Como se compreende, a posicáo do CFFC é sedutora á primeira


vista, porque ¡novadora; sabe-se que as novidades sempre despertam
atencáo, curiosidade e até simpatía (talvez inexperiente e precipitada); o
bom senso, porém, e a experiencia devem falar mais alto e mostrar que a
grande sabedoria para o homem e a muiher consistem em respeitar a
natureza humana e suas leis espontáneas. Sempre que o ser humano
viola tais leis, arrisca-se a sentir a réplica da natureza ferida.

123
Revelagóes:

"MAQONARIA E FÉ CRISTA"
por J. Scott Horrell

Em síntese: J. Scott Horrell apresenta interessante livro sobre a


Magonaria, descrevendo aspectos de sua filosofía que sáopouco conhe-
cidos e mostram a complexidade do pensamento magónico. As revela
góes e ponderagóes feitas por Scott Horrell explicam por que a Magona
ria foi desde os seus primeiros tempos condenada pela Igreja Católica e
vem sendo mais e mais rejeitada pelos demais cristáos (ortodoxos e pro
testantes).
* * *

O Prof. John Scott Horrell, Th. M. e Th. D., é protestante residente


no Brasil, onde leciona na Faculdade Teológica Batista de Sao Paulo.
Publicou o livro "Magonaria e Fé Crista"1, que analisa a Magonaria na
base de sólida documentagáo e mostra a incompatibilidade de Magona-
ria e Cristianismo. As suas conclusóes convergem com as da Igreja Ca
tólica, embora o autor escreva em estilo protestante.

Visto que as explanacóes de J. Scott Horrell contribuem para ilus


trar a atitude da Igreja perante a Magonaria, parece oportuno apresentar,
ñas páginas subseqüentes, as grandes linhas da sua obra. Compreende
onze capítulos, dos quais nos interessaráo os mais atinentes ao ámago
do pensamento e da atividade da Magonaria.

1. Podemos conhecer o Pensamento Magónico?

Tal é o título do capítulo 3 da obra. Leva em conta o fato de que a


Magonaria costuma dizer que os náo-magons nada conhecem, ou nao
conhecem adequadamente a Magonaria, pois se trata de urna sociedade
secreta; embora exista ampia e variegada bibliografía sobre a Magonaria
á venda ñas livrarias tais obras sao tidas como pouco fidedignas ou inep
tos cañáis de informagáo.

A propósito, porém, pode-se notar que 90% da Magonaria mundial


pertencem ao Rito Escocés Antigo e Aceito, com seu Supremo Conselho
do 339 Grau - o que mostra haver certa homogeneidade na Magonaria.

1 Editora Mundo Cristáo, Caixa Postal 21.257, 04698-970 Sao Paulo (58), 140 x205
mm, 180 pp.

124
"MAgONARIA E FÉ CRISTA" 29

Além disto, deve-se observar que certas obras secretas da Maconaria


foram publicadas pelas próprias Editoras Macónicas e por outras Edito
ras (Aurora, Pensamento...). - Mais: existem dezenas de livros escritos
por autoridades macónicas brasileiras, como Jorge Adoum, Nicola Asían
(33S), Joaquim Gervasio de Figueiredo (339), Manoel Gomes (33a),
Rizzardo da Camino (339) e Zilmar de Paula Barros (339). Embora os
macons neguem a autoridade absoluta de qualquer desses escritores,
nao se pode deixar de admitir que representam a doutrina e a prática da
Maconaria brasileira.

Além disto, estáo publicados documentos importantes das Lojas,


como os Landmarks (ou 25 itens absolutos), Constituicoes e Regula-
mentos Gerais, Rituais, Dicionários..., que dissipam, em grande escala,
o aspecto secreto da Maconaria.

Verdade é que algumas obras sobre a Maconaria sao sensaciona-


listas; escritas por náo-macons, exageram ou distorcem a realidade. "Mas
diante da enorme quantidade de escritos oficiáis e nao oficiáis da Maco
naria, o argumento de que somente macons possuem acesso á sua filo
sofía torna-se totalmente falso" (p. 51).

2. Maconaria e Religiáo

A posicáo da Maconaria diante da Religiáo é assaz liberal. A Maco


naria dita Regular, que é a dos países do Norte da Europa (Rússia, Ingla
terra, Escandinávia, Islándia), admite a crenca no Grande Arquiteto do
Universo e pode chegar a professar principios religiosos cristáos. Ao con
trario, a Maconaria Irregular da Franca, da Espanha, da Italia e da Amé
rica Latina é avessa á religiáo, e tem causado problemas á Igreja nesses
países. Escreve Nicola Asían (339) no seu Grande Dicionário Enciclo
pédico de Maconaria e Símbologia:

"A respeito da religiáo da Magonaria, as opinioes sao muito dividi


das entre os Magons e elas dependen), em grande parte, das tendencias
religiosas e filosóficas que norteiam as obediencias e os ritos magónicos.

Assim a Magonaria anglo-saxónica, em grande parte protestante, é


considerada profundamente religiosa e teísta, como o Rito de York....
Julga-se geralmente a Magonaria francesa como racionalista, porque,
através do Rito Moderno, permite a iniciagáo a pessoas sem crenga defi
nida, considerando que as opinioes religiosas sao questóes de foro ínti
mo, enquanto o Rito Escocés Antigo e Aceito, exigindo do candidato a
crenga em Deus, é denominado deísta" (citado por Horrell, pp. 55s).

Na Maconaria Regular, a crenca religiosa se concretiza de manei-


ras diversas: pode externar-se em panteísmo (tudo é Deus), ocultismo,

125
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

Cristianismo tenue (este principalmente quando os componentes das


Lojas sao protestantes). Considerando esse aspecto regular da Magona-
ria, varios autores masónicos a tém na conta de religiao, ... religiao libe
ral', que nao se fixa num Credo definido. É o que nota Roberto Macoy em
seu Dicionário Masónico:

"A idéia magónica é que a religiao é absoluta, eterna e imutável.


Nao é um dogma ou colegio de dogmas, mas urna reverencia e humilda-
de diante das idéias de Infinitude e Eternidade... As idéias de Deus, retri-
buigáo, vida vindoura - esses grandes elementos da religiao - nao per-
tencem a urna só seita ou partido; constituem o fundamento de todos os
credos. Religiao... é o mesmo ontem, hojee para sempre. O sectarismo é
apenas a estrutura material, mutável e falível" (citado á p. 57).

Albert Mackey, considerado o maior arquiteto da Maconaria mo


derna, vai mais longe ao escrever:

"A Magonaría pode corretamente designarse urna instituigáo reli


giosa... Veja seus antigos landmarks, suas cerimónias sublimes, seus
profundos símbolos e alegorías - todos inculcando doutrina religiosa, or
denando observancia religiosa e a verdade religiosa. Quem pode negar
que ela é eminentemente urna instituigáo religiosa?... Abrimos e fecha
mos nossas Lojas com oragáo; invocamos a béngáo do Altíssimo sobre
todos os nossos trabalhos; exigimos de nossos neófitos urna profissáo
de fé e confianga na existencia e no cuidado providencial de Deus" (cita
do á p. 58).

Estes dados explicam que possa haver na Maconaria cristáos


professos e homens agnósticos ou indiferentes a um Credo definido. O
combate á Religiao nao é genuino na Maconaria; vem a ser elemento
que a torna irregular ou dissidente, como dizem os próprios macons,
embora seja algo muito presente e marcante da Maconaria nos países
latinos.

3. Jesús Cristo na Maconaria

A religiosidade genérica da Maconaria nao nutre grande apreso


por Jesús Cristo. Ao contrario, os Dicionários e Enciclopedias masónicos
quase nao falam do Senhor Jesús. Quando as reunióes masónicas inclu-
em um momento de orasáo, esta nao deve referir-se a Jesús Cristo. Eis
o que se lé no livro de Scott Horrell, p. 79, nota 2:

"Eis o testemunho de um magom cristáo no Brasil:

O Vigilante chamou-me em particular e repreendeu-me claramen


te. Ele disse que eu tinha usado o nome de Jesús no encerramento da

126
"MAgONARIA E FÉ CRISTA" 31

oragáo. Porisso, ele disse, eu poderla ser repreendido... Fui chamado á


Secretaria do Rito Escocés para ouvir sobre a minha maneira impropria
de orar. Ele foi delicado, mas me proibiu de encerrar qualquer oragáo na
Loja no nome de Jesús ou no nome de Cristo. Ele disse- 'Faga urna ora-
gao universal'. Citado por Natanael Rinaldo, 'Quem disse que um Cristáo
pode sermagom?". Instituto Cristáo de Pesquisa, Sao Paulo, s. d. p. 11".
Para evitar qualquer referencia a Jesús Cristo, a partir de cujo nas-
cimento se contam os anos e os séculos no mundo inteiro, os Macons
tem sua contagem de anos e seu calendario próprios. Diz Mickey "Os
macons, ao fixar datas nos seus documentos oficiáis, nunca fazem uso
da época comum ou da era vulgar, mas tém urna que Ihes é peculiar"
(citado á p. 80 de Scott Horrell).
Nota aínda Scott Horrell:

"Paradoxalmente em alguns casos, os mesmos Dicionários que


omitem Jesús Cristo, contém longos artigos sobre dezenas de outras
pessoas religiosas, antigás e modernas: Orfeu, Xerxes, Pitágoras
Zoroastro, Filáo, Maomé, Santo Albano, C. Rosenkreutz, N. Tschoudy, E.
Swedenborg, Annie Besant, Helena Blavatsky, etc. fsto sugere, no míni
mo, a irreleváncia de Jesús Cristo na filosofía magónica" (p. 80).
O silencio em torno de Jesús Cristo foi experimentado de maneira
pungente pelo Venerável Mestre James Schaw (339), a respeito do qual
se narra o seguinte episodio:

"James Schaw costumava ser orador da cerimónia do Cavaleiro


Rosa-Cruz (18° grau do Rito Escocés), praticada toda quinta-feira da
Semana Santa. Como havia feito muitas vezes, mas entáo como um cris
táo recém-convertido - estando todos vestidos com mantos pretos e
encapugados - ele comegou a conduzir o ritual oficial: 'Encontramo-nos
neste día para comemorar a morte de nosso Sapientíssimo e Períeito
Mestre, nao como inspirado ou divino, pois isto nao compete a nos deci
dir, mas como pelo menos o maior dos apostólos da humanidade' A mesa
em forma de cruz, sobre a qual há rosas vermelhas, é o lugar onde o
mestre dirige a ceia magónica, com vinho e pao. 'Comeie dai de comerá
quem tem fome... Bebei e dar de beber a quem tem sede'. Depois de
apagar todas as velas do candelabro com excegáo de urna, o venerável
mestre anuncia a morte do Sapientíssimo e Períeito Mestre: 'Ele está
morto! Lamentai, pranteai e chorai, pois ele se foi' - e apaga a última
vela, tudo terminando em escuridáo.

Embora Schaw tivesse conduzido este mesmo ritualpormuitos anos


nessa ocasiáo ele estava tremendo e com náuseas, reconhecendo o sig
nificado cristológico do que fazia: Tínhamos dramatizado e comemorado
127
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998
32

a extincáo da vida de Jesús, sem mencionar sequer urna vez o seu nome...
Eu havia acabado de chamar Jesús de um apostólo da humanidade que
nao era inspirado nem divino1. Logo depois, Schaw renunciou a loja. Sua
conclusáo foi de que o sentido anticristáo nao representaba apenas urna
faccáo macónica declaradamente ocultista, mas também que ceños ntu-
aise ensinos básicos da magonaria sao deliberadamente antagónicos a
fé crista" (pp. 81-83).

4. A Salvacáo segundo a Magonaria

Quando o iniciático (também chamado "profano") participa do pri-


meiro grau de Aprendiz-Macom, confessa de olhos vendados que ele
vivia ñas trevas e estava cegó, mas déseja entrar para a verdadeira luz
da Maconaria. Nao há excecáo para o cristáo. Isto quer dizer que a Ma
gonaria tenciona oferecer um certo tipo de salvacáo. - Como se configu
ra essa salvacáo?

A Maconaria ignora os conceitos de pecado e arrependimento (nao


possui tais palavras em seus Vocabularios). Nao fala, pois, do homem
pecador mas do homem imperfeito e nao iluminado. Este estado e sim
bolizado pela pedra bruta (cubo polígono) que o iniciante recebe no pri-
meiro grau (o de Aprendiz) e que nos graus seguintes é burilada e polida.
A iluminacáo do principiante é-lhe assegurada pela Maconaria, que nao
precisa da obra redentora de Jesús Cristo.
O macom vai-se aperfeicoando aos poucos; procura "levantar Tem
plos á Virtude e cavar masmorras ao vicio" (Paula Barros, Livro Sagra
do p. 106). Ele geralmente eré na imortalidade da alma e numa vida
postuma Por isto os macons, tendo obtido o consentimento da familia,
exigem o controle exclusivo sobre os ritos a executar sobre o irmáo fale-
cido - cristáo ou nao. Embora os rituais macónicos variem, todos decla-
ram que o macom, por sua pureza de conduta e sua vida de sen/190,
receberá a aceitacáo na Loja Celestial, onde o Grande Arquiteto do Uni
verso preside. Os livros macónicos nao fazem referencia alguma ao pe
cado, ao juízo final, á eventual condenacao postuma.

5. A Ética macónica

É inegável que as Lojas Macónicas ajudam milhares de pessoas


carentes mediante obras de beneficencia. Todavía nem tudo é aceitável
na Ética masónica, pois esta pode ser desvirtuada por abuso da autori-
dade, como se verá a seguir.
Tres sao os pontos nevrálgicos da Ética macónica: 1) a organiza-
cáo social; 2) os juramentos; 3) a ilusáo dos próprios membros macons.
128
"MACONARIA E FÉ CRISTA" 33

5.1. Organizacáo Social

? pregu^.a fratern¡dade universal, a Maconaria pratica um


racista, machista e classista. Assim o Landmark n9 18 reza:

Frat "^d T'her> um ale'Jado ou um escravo nao podem ingressar na


Verdade é que tal norma tem sido últimamente contestada dentro
da propna Maconaria. A Loja de Prince Hall é, em parte, constituida por
negros - o que faz que outras Lojas nao a reconhecam. Existem também
associacoes macónicas paralelas ás dos homens, abertas a mulheres e
deficientes físicos, sempre, porém, enfrentando a rejeicao por parte das
Lojas classicas. Justamente para milhares de seus membros, a Ordem
Masónica é atraente pelo seu exclusivismo social. Sabe-se, alias que a
Maconaria procura recrutar-se entre os homens bem sucedidos da soci-
edade, entre os dirigentes ricos e poderosos, excluindo deliberadamente
os menos abastados.

Como em outras sociedades, também na Maconaria é questiona-


da a honestidade de alguns dirigentes, que, na qualidade de homens
bons, estanam utilizando o poder e a autoridade de que gozam para aten
der aos seus próprios interesses. De resto, muitos historiadores julgam
que o carater secreto de muitas organizares e sociedades favorece a
manipulacao do bem comum em favor de ¡nteresses particulares Por
esta razáo, dizem, o terceiro Presidente dos Estados Unidos da América,
o deísta Thomas Jefferson, recusou ser macom.

Os propósitos classistas, muito fortes entre os macons levam nao


raro á prática da injustica e da desonestidade: "Nao é encorajador saber
que muitos Ministros, juízes e deputados estáo juramentados (com votos
de sangue) para proteger os colegas da Irmandade a qualquer custo"
(Scott Horrell, p. 107).

"Um advogado renomado em Sao Paulo contou que na corporacáo


estadual em que ele trabalhava, um escocés, totalmente inepto perma-
neceu intocável no alto da empresa por varios anos. Finalmente tendo
perguntado por que ele continuava ali, foi-lhe dito: 'Ah! Ele é o Ve'nerável
da Loja magónica'. Esse tipo de elo fraternal ajuda alguns e preiudica a
muitos" (citado á p. 107).

5.2. Os Juramentos

Todo macom jura ser leal á Loja mais do que a qualquer outro gru
po (inclusive a Igreja) mediante compromissos extremamente empenha-
tivos.

129
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998
34

O primeiro juramento do iniciante, como Aprendiz-Macom, é jeito


sobre o Livro da Lei (a Biblia, o Alcoráo, os Vedas) e tem o teor seguirte:
"Eu ( ) ¡uro e prometo, de minha Hvre vontade, pela minha honra e
pela minha fé, em presenga do Supremo Arquiteto do Universo>que e
Deus e perante esta assembléia de magons, solene e sinceramente
nunca revelar qualquer dos misterios da magonaria que me vao ser confi
ados (..). Se violar este juramento, seja-me arrancada almgua, opesco-
co cortado e meu corpo enterrado ñas aguas do mar, onde o fluxo e reflu-
xo me mergulhem em perpetuo esquecimento, sendo declarado sacnle
go para com Deus e desonrado para com os homens. Assim seja (citado
por Scott Horrell a p. 108).
Os juramentos sao teitos vez por vez, antes da revelacáo de novos
segredos. O iniciante mantera silencio absoluto a respeito de algo que
ele ainda ignora. Além dos juramentos associados aos diversos segre
dos o macom presta outros juramentos de fidelidade incondicional a
Ordem nao raro comprometendo o seu próprio sangue. O juramento do
qrau 33 no Templo em Washington, D. C. por exemplo, é prestado ao
beber-se vinho em um cránio humano, enquanto um individuo revestido
como se fosse um esqueleto abraca cada participante na fase final da
cerimónia. O macom Shaw relata como ele participou dessa in.c.acao ao
lado do Rei da Suécia, dos ex-Presidentes e outros altos políticos dos
Estados Unidos; cf. Shaw e Mikenney, Deadly Deception, p. 104.
5.3. A llusáo dos próprios membros da Maconaria
Os escritores mais eminentes da Maconaria admitem que a élite
macónica ilude os irmáos dos graus inferiores, deixando que eles creiam
no que desejam crer, sem preocupacáo de revelar o que é t.do como
verdade objetiva. Escreve Albert Pike em Moráis and Dogma: O inicia
do é deliberadamente engañado por interpretacóes falsas. A mtenpao
nao é que ele as entenda, mas, sim, que pense que ele as entende (p.
819).
As proposigoes mais sublimes permanecem veladas aos neófitos,
enquanto "os mais avancados" mantém as chaves do conhecimento real.
Observa Martín Wagner:

"A magonaria esconde tenazmente seus segredos, e intencional-


mente desorienta os intérpretes presungosos. Parte dos símbolos e ex
posta ao iniciado, mas ele é deliberadamente engañado por mterpreta-
góes falsas (...) Os segredos reais permanecem ocultos e (...) esses se
encontram táo profundamente encobertos para o magom quanto para
qualquer outra pessoa, a menos que tenha estudado a ciencia do simbo
lismo em geral e do simbolismo magónico em particular (...). A venda real
130
"MAQONARIA E FÉ CRISTA" 35

nunca é completamente removida dos olhos de urna ¡mensa maioría dos


membros da contraría. Bes nunca sao levados á verdadeira luz da maco-
naría (,..). Eles enxergam as vestimentas, mas nao aquilo que os trajes
ocultam" (citado por Scott Horrell as pp. 110s).

Se as autoridades masónicas admitem engañar o iniciante ou ou-


tros irmáos, pode-se questionar, de modo geral, a sinceridade e a lealda-
de dos mentores da Maconaria. Que significa passar das trevas para a
luz da Maconaria, como é prometido aos iniciantes? Se a alta hierarquia
ilude seus próprios membros, todo o edificio da Maconaria pode cair em
descrédito.

Á guisa de ilustracáo, vai aqui proposta a escala de graus do Rito


Escocés Antigo e Aceito (do Brasil):

Graus Simbólicos (Loja Azul)

19 Aprendiz-Macom
2- Companheiro-Macom
3e Mestre-Macom

Graus Filosóficos (Rito Escocés)

1a Serie: GRAUS DE PERFEICÁO OU INEFÁVEIS


49 Mestre Secreto
59 Mestre Perfeito
69 Secretario íntimo
79 Preboste ou Juiz
8B Intendente dos Edificios
99 Cavaleiro Eleito dos Nove
109 Cavaleiro Eleito dos Quinze
11S Sublime Cavaleiro Eleito dos Doze, ou Eleito Chefe da Tribo
129 Gráo-Mestre Arquiteto
13g Cavaleiro do Real-Arco
14Q Grande Eleito ou Perfeito e Sublime Macom

2S Serie: GRAUS HISTÓRICOS E RELIGIOSOS


159 Cavaleiro do Oriente
169 Príncipe de Jerusalém
179 Cavaleiro do Oriente e do Ocidente
189 Cavaleiro Rosa-Cruz ou Soberano

3a Serie: GRAUS FILOSÓFICOS


199 Grande Pontífice ou Sublime Escocés
209 Soberano Príncipe da Maconaria, ou Mestre ad Vitam, ou Gráo-Mes-

131
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

tre das Lojas Simbólicas


219 Noaquita, ou Cavaleiro Prussiano, ou Grande Patriarca Noaquita
22S Cavaleiro do Real Machado, ou Príncipe do Líbano
23S Chefe do Tabernáculo
249 Príncipe do Tabernáculo
259 Cavaleiro da Serpente de Bronze
26S Príncipe da Mercé, ou Escocés Trinitario
27Q Grande Comendador do Templo
289 Cavaleiro do Sol, ou Príncipe Adepto
299 Grande Cavaleiro Escocés de St9 André, ou Patriarca das Cruzadas
309 Cavaleiro Kadosch, ou Cavaleiro da Águia Branca e Negra
4a Serie: GRAUS ADMINISTRATIVOS
31s Grande Juiz Comendador
329 Sublime Príncipe do Real Segredo
33Q Grande Inspetor-Geral

6. Prelecáo do Grau 32

Merecem especial atencáo as páginas 120-122 do livro de Scott


Horrell:

James Shaw (33S), um dos mais premiados líderes da Jurisdicáo


Sul nos E.U.A., sentiu-se engañado pelas promessas da Ordem macóni-
ca. Desde a iniciacáo até o último grau do Rito Escocés, promete-se ao
macom, em cada grau, que vai chegar á verdadeira luz. A cada grau é
dito a ele que dé mais um passo. O texto oficial do último grau na escala
macónica (32Q; o 339 grau é honorífico) é reproduzido na íntegra a seguir.
É o ápice da maconaria, mas ainda sem a luz.

PRELECÁO DO 322 GRAU

«Voces estáo aquipara aprender, se puderem aprender, e para se


lembrarem do que Ihes foi ensinado... Nossos ancestrais que conheciam
todos os Misterios deixaram suficientes indicios para que nos, hoje, com
operosidade e ensinos suficientes, possamos renová-ios e trazé-los á luz
para o seu esclarecimento... No Egito e na Babilonia foram inventados
alguns dos nossos símbolos, representando as mais profundas verdades
que nos foram legadas por nossos ancestrais brancos. Muitas foram per
didas, assim como perdida foi a verdadeira palavra quando da morte do
nosso Gráo-Mestre Hiram Abiff... o resultado da divindade... Ahura-Mazda,
espirito de luz. Eles conceberam a idéia de que Abura tem sete potencias
e emanagóes, quatro das quais eles consideravam Masculinas e tres Fe-
mininas...

132
"MAgONARIA E FE CRISTA" 37

Olhem para o Oriente, meus irmáos... e considerem a estrela de


sete ponías, o grande símbolo deste grau, com as sete cores do arco-
iris... A luz no ápice do Delta representa Ahura-Mazda, fonte de toda luz...

...O significado real da cruz éode Ahura e suas quatro emanagóes


masculinas, que dele emanam...

Todo triángulo equilátero é um símbolo de trindade, assim como


todos os grupos de tres na Loja, como o Sol, a Lúa e o Venerável-Mestre,
no símbolo sacro e místico AUM dos hindus... a grande trindade dos ari-
anos foi simbolizada pelos Adeptos. Entre os hindus, ela simbolizava o
supremo deus dos deuses. Os brámanes, devido ao seu significado tre
mendo e sacro, hesitavam em pronunciá-lo em voz alta, e, quando o fazi-
am, colocavam a máo na frente da boca para abafar o som... A primeira
letra A representa o criador (Brahma); a segunda letra U (Vishnu) o
presen/ador; a terceira letra M representa (Siva) o destruidor. AUM é isso,
inefável, nao por nao poder ser pronunciada, mas por ser pronunciada A-
A-A-U-U-U-M-M-M...

Voces atingiram o cume da instrugáo magónica, cume esse recoberto


por urna neblina, a qual VOCÉ, em busca de mais luz, pode penetrar
apenas por seus próprios esforgos... trespassar a luz pura e branca da
sabedoria magónica. E antes que Ihes permitamos sair, deixem-me for-
necer-lhes urna pista, e isso é tudo que os grandes místicos jamáis forne-
cem. A pista se encontra no Real Segredo, é nele que vocé pode apren
der a encontrar essa luz. Sim, irmáos, a pista se encontra no Real Segre
do. O verdadeiro Homem-verbo, nascido de urna natureza dupla... en
contra o propósito do seu ser SOMENTE QUANDO ESSAS DUAS NA-
TUREZAS ESTÁO EM PERFEITA HARMONÍA.
Harmonía, meus irmáos, Harmonía, é o verdadeiro verbo e o Real
Segredo que tornam possível o imperio da verdadeira Fraternidade
Magónica!»

Shaw descreve esta prelecio, que ele mesmo fez varias vezes,
como "urna mistura absurda e desarticulada de contradicóes tolas, blas
femia paga e promessas nao realizadas". A tragedia, ele continua, é que
esses iniciados agora sao "Sublimes Príncipes do Real Segredo" e nem
tém certeza do que seja o tal segredo! O texto está totalmente saturado
com símbolos e conceitos de quase todas as religióes antigás.

7. Conclusáo

As realidades assim descritas explicam que a Maconaria tenha sido


desde os seus primeiros tempos condenada pela Igreja Católica. Medi
ante a Bula In Eminenti (1738) o Papa Clemente XII proibiu aos católi
cos a filiacao á Maconaria. Esta norma foi repetida por varios outros Pa-

133
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

pas. Atualmente o católico filiado a alguma Loja fica excluido dos sacra
mentos. Ver a propósito PR 275/1984, pp. 303-314.

As comunidades cristas orientáis ortodoxas também rejeitam cate


góricamente a Maconaria. A Igreja Ortodoxa Grega condenou-a em 1933
declarando:

"A magonaria nao é simplesmente urna uniáo filantrópica ou urna


escola filosófica, mas constituí um sistema mistagógico que nos lembra
as antigás seitas e religióes de misterio, das quais procede e é a própria
continuagao e regeneragáo nos nossos dias"1.

A Igreja Ortodoxa Russa decidiu: "Todo cristáo católico ortodoxo


[russo que adere á maconaria] (...) perde todos os direitos, honras e pri
vilegios de sua membresia e de seu oficio na igreja"2. Em varias partes
do mundo, a confissao luterana tem seguido a mesma linha.

Mais recentemente, varias denominacóes protestantes estáo


reavaliando o envolvimento dos seus membros na sociedade macónica.
Desde 1940, a Igreja Reformada Holandesa na África do Sul tem exigido
que todos os seus membros saiam da maconaria3. As igrejas que
pesquisaram sobre a loja macónica estáo chegando, quase que unáni
memente, as mesmas conclusoes:

"Em nosso ponto de vista, a obediencia total a Cristo impede a


adesáo a qualquer organizagáo tal como o movimento magónico, que
parece exigir urna fidelidade de todo o coragáo (...) Exige-se do iniciado
que ele se entregue á magonaria de maneira tal que o cristáo só deve
entregarse a Cristo. [A Igreja da Escocia, 1965.]"4.

"[Este] relatório aponta varias razóes fundamentáis para se questi-


onar a compatibilidade da magonaria com o cristianismo. [A Igreja da

1 Documento da Comissáo do Sagrado Sínodo, assinado pelo Arcebispo Crisóstomo


de Atenas, em Walton Hannah, Darkness Visible: A Christian Appraisai of Freemasonry
(Devon: Augustine, 1984), 70-71.
2 Citado em J. W. Acker, Strange Alters: A Scríptural Appraisai of the Lodge (St.
Louis: Concordia, 1959), 60; cf. p. 31. Politicamente, a sociedade foi proibida na
Uniáo Soviética, Polonia, Hungría, Espanha, Portugal, China, Indonesia e República
Árabe Unida, cf. Rissler, "Freemasonry ", 341. Hoje, o único lugar do mundo onde a
magonaria é banida é o Irá, segundo O Grande Comendador do Brasil, Venancio
Igrejas: 'Magonaria nao casa com ditadura". Ano Zero, outubro de 1992, 43. Ao mes-
mo tempo, a magonaria é também geralmente condenada nos países mugulmanos -
veja Muhammad Safwat al-Saqqa e Sa'di abu Habib, Freemasonry (Nova lorque:
Muslim Woríd League, 1982).
3 Cf. Hannah, Darkness Visible, 67-78.
4 Citado em The Baptist Unión ofScotland, Baptists and Freemasonry (Baptist Church
House, 1987; reprod. Issaquah, WA: Free the Masons, s.d.), 10. A Igreja Presbiteriana
da Escocia está estudando o assunto, cf. Rissler, "Freemasonry", 341; e as Igrejas

134
"MAQONARIA E FÉ CRISTA" 39

Inglaterra, 1985]'".

"Mesmo na interpretagáo mais generosa das evidencias, permane


cen) serias questdespara os cristáos acerca da magonaria (...) Existe um
grande perigo de o cristáo que se torna magom acabar comprometendo
sua fé crista ou sua fidelidade a Cristo, talvez sem perceber o que está
fazendo. Conseqüentemente, nossa orientagáo ao povo metodista é que
os metodistas nao devem se tornar magons. [A Igreja Metodista Británi
ca, 1985]"2.

"Sentimos que existe grande perigo de que o cristáo magom acabe


comprometendo sua fidelidade a Jesús, talvez sem perceber o que está
fazendo (...)a clara conclusáo a que chegamos em nossa pesquisa é que
há urna incompatibilidade inerente entre a magonaria e a fé crista. [As
Unides Batistas da Escocia, Grá-Bretanha e Irlanda, 1987]"3.

Varias outras denominares também já renunciaram á maconaria.

Eis os tópicos mais importantes que o livro de Scott Horrell apre-


senta á consideracáo dos estudiosos. Descortinam horizontes que mui-
tos desconhecem, mas nao podem ser ignorados.

CURSOS POR CORRESPONDENCIA

A ESCOLA "MATER ECCLESIAE" OFERECE AO PÚBLICO O


SEU 15S CURSO POR CORRESPONDENCIA, QUE VERSA SOBRE AN
TROPOLOGÍA TEOLÓGICA (CRIACÁO E PECADO) E OS ANJOS.
TRATA-SE DE TEMAS ATUAIS, CONTROVERTIDOS, QUE O TEXTO
DO CURSO ABORDA COM FIDELIDADE Á IGREJA. É PARA DESE-
JAR QUE OS FIÉIS CATÓLICOS SAIBAM ORIENTAR-SE NO CRUZA
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C. P. 1362, 20001-970 RIO (RJ). TELEFAX: (021) 242-4552.

Presbiteriana Reformada da Irlanda e Presbiteriana Ortodoxa Livre da Escocia (1927)


insistem na abstencáo da magonaria para seus membros - Hannah, Darkness Visible,
75-76.
1 The Working Group Established by the Standing Committee of the General Synod
ofthe Church ofEngland, Freemasonry and Christianity: Are They Compatible? (Lon
dres: Church House, 1987), 40.
2 Report of the Faith and Order Committee of the British Methodist Church,
"Freemasonry and Methodism" apresentado e adotado pela Assembléia Geral da
Igreja Metodista Británica no dia 3 dejuiho de 1985, 21-22, citado por Ankerberg e
Weldon, The Secret Teachings of the Masonic Lodge, 270.
3 Baptist and Freemasonry, 7-8.

135
Previsdes e Propostas:

"A NOVA ERA DIANTE DA FÉ CRISTA"


por Cario Maccari

Em síntese: Nova Era é um leque de correntes de pensamento


justapostas e mal integradas entre si. A nota dominante é a do holismo,
que redunda em panteísmo ou apagamento das distingóes naturais e
essenciais, como as distingóes entre a Divindade e o homem, entre o
masculino e o feminino. Nova Era tem assim urna nota fortemente
orientalista (professa a reencarnagáo) como também esotérica.
Dizemos que o adjetivo Nova (Era) fascina, pois o mundo de hoje
está cansado do velho ou das concepgóes filosóficas que ocasionaram
um século XX marcado por duas guerras mundiais. Todavía a novidade
alme\ada nao pode consistir em doutrinas que ferem a Lógica, como o
panteísmo, que identifica entre si o finito e o Infinito, nem em doutrinas
esotéricas, ocultas, reservadas a poucos privilegiados, mas há de con
sistir na renovagáo das torgas daqueles (cristáos) que professam a Boa
Nova de Jesús Cristo; essa Boa-Nova transformou o mundo greco-roma
no apesarde perseguida até 313, e transformará o mundo contemporá
neo se os respectivos arautos nao recusarem ter a tempera heroica dos
primeiros cristáos.

O Pe. Garlo Maccari é um estudioso das correntes filosófico-religi-


osas que interpelam o mundo de hoje sob o título de "Nova Era". - Escre-
veu um livro a respeito,1 rico em informacóes, como também apto a mos
trar a incompatibilidade entre as idéias veiculadas por Nova Era e os
principios da fé católica. Visto que o assunto está sempre em foco, pro-
poremos as grandes linhas de Nova Era como as apresenta C. Maccari
em sua obra.

1. As Origens de Nova Era

Nova Era tem em suas origens varias correntes de pensamento,


que em Nova Era encontraram o seu revival ou o seu reavivamento;
especialmente o hinduísmo e o ocultismo forneceram importante contin
gente ao pensamento aquariano.

Destaca-se em primeiro lugar, como fonte de Nova Era, a Teosofía.

' Cario Maccari. A Nova Era diante da Fé Crista. Ed. Santuario, Aparecida (SP), 135 x
210 mm, 135 pp.

136
"A NOVA ERA PIANTE DA FÉ CRISTA" 41

Esta foi fundada por Madame Helena Blavatsky (1831-1891), que teve
por sucessoras Annie Besant (1847-1933) e Alice Bailey (1880-1949).
Esta última é tida como dissidente da Sociedade Teosófica; criou a asso-
ciacáo "Boa Vontade Mundial". A teosofía é herdeira do pensamento
hinduísta, que tem por grandes notas o panteísmo e a reencarnacáo.
Desta maneira urna forte carga de hinduísmo entrou na síntese de Nova
Era, com as duas características mencionadas.

A nocáo de Nova Era ou Era de Aquário (Aguadeiro) se deve ao


esotérico francés Paúl Le Cour (1871-1954); no livro L'ére du Verseau
(A Era do Aquário) refere ele o seguinte: a evolucáo das grandes civiliza-
cóes sempre esteve ligada á passagem do Sol para um novo signo do
Zodíaco, fato que ocorre mais ou menos a cada 21609 ano. A civilizacáo
(israelita) estava sob o signo de Aries (Touro); cedeu á civilizacáo crista,
sob o signo de Peixes. Em breve esta era cederá á de Aquário, que deve-
rá comecar em 2160 aproximadamente e terminar em 4320. Aquário é
representado por um jovem portador de um cántaro de agua, que ele
derramará copiosamente sobre a Térra, significando abundancia e bem-
estar, que andaráo juntos com urna total transformacáo da consciéncia
humana. Nova Era comecará com a chegada de um Grande Rei, tam-
bém chamado Maitreya ou Jesús Cristo (versao oriental de Avatar) ou
Saint Germain.

A fusáo de diversas correntes com a da Teosofía de Alice Bailey


deu-se na década de 1960, quando comecaram as primeiras manifesta-
cóes públicas de Nova Era. Ver mais pormenores em PR 354/1991, pp.
518-526.

Nova Era nao dispóe de urna estrutura centralizada, com sede, en-
derecos, fichas de adeptos, rigorosos vínculos de doutrina ou de compor-
tamento, sob urna chefia a quem os adeptos devam obediencia. Pode-se,
antes, caracterizar Nova Era como um grande Network, estrutura em rede
ou como urna rede, á qual se referem muitos grupos autónomos ou indivi
duos simpatizantes, ligados por interesses, iniciativas ou atividades co-
muns. Sao grupos ecológicos, feministas, pacificistas, de defesa dos di-
reitos humanos ou de luta contra a fome. Eles se auto-organizam, for-
mam coalisóes e se sustentam reciprocamente, sem criar urna estrutura
central e um governo único. Assim em Nova Era há urna pluralidade de
correntes e concepcoes (hinduísmo, espiritismo, channeling, ocultismo,
gnosticismo, ufologia, Cristianismo deteriorado, música, medicina alter
nativa, ginástica, dancas especiáis...), pluralidade dentro de urna unidade
genérica de pensamento, que constituí o que se chama "um novo para
digma" ou um novo modo de encarar o homem, o mundo, e a historia...

A escritora norte-americana Marilyn Ferguson lancou nos anos de


80 o best-seller The Aquarian Conspiracy (A Conspiracáo do Aquário),

137
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 430/1998

destinado a provocar urna transformacáo pessoal e social de nossa épo


ca. Eis como ela expóe o seu programa:

"Está em agáo um Network sem guias, mas de grande potencia,


para introduzir neste mundo urna mudanga radical. Seus membros aban-
donaram determinadas concepgóes fundamentáis do pensamento oci-
dental, e talvez tenham até interrompido a continuidade da historia. Este
Network é a 'Doce Conspiragáo' sob o signo do Aquário" (citado áp. 17
de C. Macean).

Parece que um total de 18.000 títulos de impressos difundem esse


novo paradigma, vendidos em bancas de jomáis e grandes mercados;
quarenta ou cinqüenta mil escritorios de consulta estariam atendendo
aos curiosos de Nova Era.

Vejamos agora os grandes tragos do pensamento comum de Nova


Era.

2. O Holismo

É de importancia capital a teoría holística. Esta palavra vem do


grego hólon = todo, inteiro, de modo que a visáo holística do mundo
afirma que tudo está em conexáo com o todo. O mundo seria urna ener
gía universal, impessoal, quase manifesta na natureza, no homem e até
em Deus; por conseguínte, "o todo é uno e nos somos todos um; o todo é
Deus e nos somos Deus". Existe "a unidade do todo", nao estática, mas
dinámica, um todo em evolucáo.

A concepeáo holística supera toda distincao entre espirito e corpo,


entre o mundo e Deus, entre o humano e o Divino, de modo que as no-
cóes religiosas se transformam. Escreve Ferguson na sua "Conspiracao
de Aquário":

"O mito do Salvador 7á fora' foi substituido pelo mito do herói 'aqui
dentro'. Sua expressáo última é a descoberta da divindade dentro de
nos" (p. 22).

O individuo que se torna consciente disto, possui um "potencial


infinito". Basta despertá-lo e colocá-lo em movimento através de
psicotécnicas ou práticas orientáis de meditacáo para sentir vibrar a ¡men
sa felicidade de ser vivos, livres de qualquer norma opressiva. "A queda
do ser humano nao foi o pecado, mas o fato de ter cedido ao engaño de
crer num Criador distinto do mundo e numa natureza humana de capaci
dades limitadas. Hoje, gracas á revolucáo das técnicas de informacáo e
particularmente gracas as numerosas técnicas administradas pela Nova
Era - capazes de mudar a consciéncia do "si mesmo" (self) e das suas
potencialidades sem limites - toda pessoa está em grau de fazer reviver
a natureza divina adormecida, lancando a uniáo com o Uno. O slogan da

138
" "^v> ^nn uiminie UA hb CRISTA" 43

Cientologia 'Faca explodir o vulcáo que está em vocé!" bem se oode aoli
car também aos filhos do Aquário" (p. 23). P
d°S meJ°S Psicotecn°lógicos, mas freqüentemente tam-
ilZ 9 ?f espiritas, devem'se acrescentar músicas capazes de al
terar os estados de ánimo, drogas que dilatam a mente, hipnoseaHmen-
tagao vegetariana, artes marciais, seminarios de estado que seProp7em
SLTS^ enm° VMd btÍtÍd A ^Z
"Ea distingáo entre o bem e o mal?... entre o verdadeiro e o falso1?
fo atesta, Sementé a consciéncia nos permite alcanzavlrdade
ea realidade, urna vez que a natureza muda nao em simesma, mas
segundo a mente que a pensa. Baseando-se, pois, no principio de
<»ffrm,na?ao do físico Werner Heisenberg, afirmam com^umdTseus
ideólogos: Todo o universo físico nao é outra coisa senáo um modelo de
físico"IUnm'UTÍ0' qU- PanecriadGn°SSasmentes-
físico la fora. A consciéncia tudo'. Náo existe um
m°nismo Prati™mente ateu chega-se ao subjetivismo e ao
o que exalta o ser humano" (p. 24).

3. Ecología

As idéias de Nova Era tém incidencia sobre a ecología.


Com efeito; o monismo, que deve levar a urna comunháo de vida
cósmica e, ao mesmo tempo, ecológica, leva a procurar restaurar o paraí
so terrestre. Para sair da crise hodierna de um mundo árido e sem alma náo
navena outro caminho senáo um gradual, mas irrefreável retorno á natureza
tanto de cada individuo homem/mulher como de toda a humanidade.
Caso típico é o do jardim de Findhorn. Eileen Caddy em 1953 tinha
tnnta e um anos e era esposa de um piloto da Royal Air Forcé Um dia
escutou urna voz que Ihe dizia: "Seja forte e saiba que eu sou Deus" Seus
amigos, Peter e Sheena Caddy levaram as coisas muito a serio Ocorre
que Peter e Eileen se divorciaram dos próprios cónjuges e casaram-se de
novo; guiados entáo pela "voz", fundaram urna especie de comunidade-
jardim numa regiáo áspera da Escocia do Norte, ou seja, em Findhorn
bsse jardim tornou-se um lugar encantador para encontros e convivencia'
embora Peter Caddy e sua esposa nunca tivessem plantado urna sementé'
nos campos; produzia flores e verdura exuberantes. Como explicar isto?
"Eis a resposta. A mulher de Caddy tem contatos cotidianos com a
mais alta esfera espiritual, da quai recebe conselhos e adestramentos
diretos. Tambem Dorothy MacLean, co-fundadora da comunidade é urna
sensiUva que vive a sua vida mental em contato com o misterioso mundo
dos devas, os espfritos da natureza'. Basta pór-se em contato meditativo
139
com estes 'mesfres construtores do mundo vegetal' f^JSSX
nos e tempestivos conselhos da parte dos devas de cada plantmna tío
™! feTesec); para os problemas agrícolas de caráterma.s geralao
Sl&Va* do campo' em nome de todos os devas" (p. 32).
4. Urna "Subestrutura Científica"

O sucesso de Nova Era ó. em boa parte, devido ásua Presuncáo


de estar apoiada em bases científicas. O ser humano ™^™£¡£
muito. poder conciliar entre si religiáo e cienc.a. E o que Nova Era preten
de fazer, tendo como um de seus principáis ™^-™<%j?¿ U*™1
filósofo vienense Fritjof Capra, com seu estudo O Tao da Fis.ca . Escre
ve este pensador:
"Os novos conceitos introduzidos na Física causaram, nasprimei-
ras tres décadas deste sáculo, urna mutagáo profunda navisao do mun
do determinando a passagem do mundo mecamcsta de Descártese
Newton para urna visáo holística e ecológica, urna concepgao na qual
encontraram semelhangas com as concepgoes místicas de todos os lem
pos" (citado á p. 18).
O universo, nesta concepcáo, deixa de ser urna fría máquina, para
tomar-se um grande e único corpo vivo, em que as relacoes diversas se
combinam, citando a harmónica estrutura do Todo. O mundo nao e mais
considerado como um amontoado de objetos separados, divididos pelos
homens, mas antes como um processo concatenado do qual tambem o
ser humano participa; tal é a nova visáo. que supera quanto ate nossos
dias se pensou.

Movida por estas mesmas idéias, Nova Era apregoa "a descoberta
de si mesmo" (ou do self). Esta vem a ser urna "viagem" custosa, mas
entusiasmante, que se assemelha ao acordar de um sonho. Tal viagem
faz chegar ao "si mesmo" (self), que é mais profundo do que o eu. O si
mesmo nao é fechado, mas aberto para o além, em direcao ao Si mes
mo transcendente e planetario (o Divino, o Ser Supremo, o Atma-Brahma).
Esta é a mística do Si mesmo que, na identificacáo com o universo físico
inteiro se torna mística cósmica. Tem-se assim urna espintualidade que
reconhece Deus como o Divino existente no ser humano e dispensa qual-
quer mediacáo para encontrar Deus.
Alias pode-se notar que a funcáo do "si mesmo", o sonho de urna
unidade primordial e de urna fusáo com o Divino, a realidade inteira como
único organismo vibrante, a interacáo de Yang masculino com o Yin fe-
minino (Taoísmo), o valor dado á experiencia mais do que a razao e a
utilidade, algumas técnicas como a Yoga, a danca de Shiva ou o Tai-Chi,
a vida vegetariana, o Cristo cósmico como Avatar (manifestacao-
encamacáo) vém a ser crencas e práticas orientáis, que se tornaram

140
"A NOVA ERA PIANTE DA FÉ CRISTA" 45

patrimonio do Credo e da vida de Nova Era.

5. Outros componentes de Nova Era


5.1. Religiáo

Em Nova Era cada qual é livre para escolherou mesmo construirá


sua propna religiáo. Escreve J. Vernette:

"A cada qual a possibilidade de construir a própria religiáo: um pe-


dago de reencarnagáo, urna pitada de espiritismo ou de channelina al-
gumas paginas da Biblia ou dos Vedas, tudo isto misturado com as'feli-
zes lembrangas do Catecismo infantil. Cada qual fabrica para si a própria
espmtuaiidade afim de viverbem na sua pele, enquantoaguarda agran
de Religiáo mundial de amanhá" (citado a p. 57).
Jem-se, pois, o relativismo religioso, á espera de urna única e nova
de^ cñas°iani'semaoera ^ ^"^ ^ ¡nStaurar> com a «P^Soada extincáo
5.2. Astrologia

A humanidade sempre julgou que existem fontes de saber ocultas


que conservam verdades reservadas aos iniciados e desvendadas medi
ante caminhos de salvacáo. Entre estas, achar-se-ia a leitura da lingua-
gem das estrelas. Ora Nova Era aprecia especialmente tal canal de co-
nhecimento, pois julga que está relacionado com a passagem ¡mínente para
a Era de Aquano, a qual desencadeará acontecimentos excepcionais.
A propósito comenta Maccari:

"Quanto á presenga dos cultos ufológicos no acolhedor sincretismo


da Nova Era, temos um testemunho insuspeito em David Spangler um
dos arautos do Network e, particularmente, da experiencia de Findhorn
Ele narra que junto com os pais, em Phoenix (Arizona), aderiu a um gru
po ufologico e foi de tal forma transformado por ele que pode dizer: 'Em
Phoenix encontré! urna nova visáo da vida', descobrindo além disso que
aqueles grupos ufológicos 'criam no alvorecer ¡mínente de urna nova ida-
de .Ea Nova Era creu e eré também nos... discos voadores!" (p. 59).
"O menos que se pode dizer sobre este fenómeno é que nos acha-
mos diante de algo multo estranho e-eu acrescentaria - quase incn'vel
para o ser humano moderno autodefinido como 'adulto'. O que nos leva a
pensar que este ser humano, mesmo se justamente orgulhoso das suas
conquistas científicas e técnicas, seja aínda infantil, do ponto de vista
religioso. Em todo caso, experimentem entabular urna conversa com al-
guem que voces nao conhecem e, depois de urna vaga aproximagáo -

' D. Spangler, Emergence. La renaissance du sacre, Barret-le-Bas 1986. pp. 22-23.


141
TW —

auicá um pouco tímida - ouviráo a pergunta: 'O senhoré de qual signo?\


Veo jornal ou revista, emissora de radio ou ^^u%na°^e
nha a sua sessáo de horóscopo, publicada ou explicada vía microfone.
Eis outra fonte do fascínio da Nova Era" (p. 58).
5.3. Os Discos Voadores

Ligada á astrologia está a crenca nos discos voadores, que Nova


Era professa. Os extraterrestres comecaram a se comunicar aos huma
nos na década de 1950. O primeiro "contactado" foi Georges Adamski,
Sue em 1952 declarava ter recebido sua filosofía dos extra-terrestres no
deserto da California; hoje sao inumeráveis os contactados, quenarram
maravilhas em conseqüéncia de seus contatos com extraterrestres.
5.4. Channeling (Cañáis de Comunicacáo)
Nova Era tem raízes no espiritismo ou na tentativa de comunicar
se com os mortos. Todavía vai mais longe do que o esp.nt.smo. Com
efeito; em Nova Era a comunicado com o além assume carácter.sbcas
ampias, admite fenómenos que, por meio de ent.dades mv.sive.s, co o-
cam o homem em comunicado com almas desencarnadas, seres extra-
terrestres, anjos, duendes, gnomos, devas das arvores, Cristo...
No espiritismo os seres que se manifestam sao almas de pessoas
falecidas. Em Nova Era sao todos os seres que possam ex.st.r fora da
Térra ou fora do alcance dos nossos sentidos.
No espiritismo a alma do falecido evocada pelo médium conserva
a identidade pessoal (como dizem), ao passo que em Nova Era; o
channeling poe o homem em contato com o "espirito universal, o Si
mesmo cósmico", o Grande Todo ou o Inconsciente coletivo.
"Com outras palavras: o channeling é a capacidade consciente efe
cada individuo, fragmento do único Ser universal^ aceder ac>"j*?™™
no interior do 'Grande Todo1 e voltar assim a 'verdade das verdades pela
qual 'nos somos fragmentos do mesmo Ser universal ou, como dizem
alguns, nos somos Deus" (p. 180).
6. Nova Era, Lucifer e o Nacional-socialismo

No ano de 1983 foi publicado nos Estados Unidos, com a imagem


de um arco-iris na capa, o livro de Constance D. Cumbley: The H.dden
Dangers of the Rainbow. The New Age Movement and our coming
Aae of Barbarism (Os Perigos Ocultos do Arco-iris. O Movimento da
Nova Era e a nossa era de barbarismo que está vindo)". O livro vem a ser
um ataque á Nova Era; por meio de um símbolo muito atraente engaña o
observador Por qué? - Porque o arco-iris, representando a totalidade e
a beleza das cores do espectro solar, é perfeita expressáo de luz e har-
142
"A NOVA ERA PIANTE DA FÉ CRISTA" 47

monta; essa luz e harmonía nao seriam, no caso de Nova Era a verdade
que salva, mas Lucifer, o anjo que traz a luz.

Mais precisamente: segundo os intérpretes da simbologia esse


Lucifer que va. assim expresso, nao é senáo Cristo-Maitreya que os
aquananos esperam para breve; o Cristo-Maitreya será a encarnacáo de
Lucifer, a Berta que sobe da Térra (Ap 13,11-17) e impoe a sua autorida-
de e o culto a Satanás no mundo inteiro, substituindo o Cristianismo É o
Ant.-Deus e o outro Cristo, fundador de urna nova religiáo (religiáo as
avessas); e o Impío, provocador da grande apostasia da qual fala Sao
Paulo em 2Ts 2, 3s. Será a tentativa de por fim ao Cristianismo.
6.2. Nova Era e Nazismo

Segundo Constance Cumbley, por tras de fascinante máscara de


paz e amor universal, Nova Era esconde um objetivo mais ¡mediato- a
instauracao de urna nova ordem mundial de tipo totalitario e nazista em
contra-posicao ao Cristianismo. Esta perspectiva dá a compreender por
que Nova Era apóia o aborto, a eutanasia, os programas de inseminacao
artificial e de eugenética.

Cumbley insiste: pode-se afirmar que nazismo e Nova Era estáo


fundamentados teóricamente numa doutrina secreta de natureza
esotérica, que foi apresentada como a doutrina luciferiana por excelen
cia e como a perfeita antítese do judeo-cristianismo. Acredita na existen
cia de urna hierarquia de mestres, em cujo topo estaría assentado o Ins-
trutor Mundial, o Cristo da Nova Era, o Messias que Hitler estava conven
cido de encarnar; ver pp. 189s do livro de Maccari.
É de notar que o próprio Adolf Hitler dizia:
"Quem concebe o nacional-socialismo como um simples movimen-
to político, nao o compreendeu a fundo. O nacional-socialismo é mais do
que urna religiáo; é a vontade de criar o Super-Homem" (citado a p 194
de Maccari). ^'

Nao se deve exagerar o parentesco entre nazismo e Nova Era


Como quer que seja, há autores que o defendem, apontando linhas de
contato entre aquele e esta. O caráter esotérico de Nova Era e da própria
mística nacional-socialista faz que nao se possam penetrar com sequ-
ranca os bastidores de um e de outro.

Vejamos agora o que pensar a respeito de quanto acaba de ser


exposto.

7. Que dizer?
7.1. Holismo

Pode-se dizer que urna das notas dominantes do sistema de Nova


143
48

Era é o holismo, que redunda em panteísmo; nao haveria d.st.ncao entre


Deus e o homem entre o finito e o Infinito. Ora tal fusao peca naogómen
te contra a fé católica, mas também contra a razao e a lógica: finito. sgnn
fica a afirmacáo de limites, ao passo que infinito e a negacao de Imites,
quem fdeS entre si a afirmacáo e a negacáo, identifica entre, s, c> S.m
e o Nao, ou seja, destrói o principio básico do raciocinio e do dialogo
eribe os homens, o principio de identidade e de contrad.cao: o S.m nao e
igual ao Nao.
O Cristianismo aceita a integracáo das partes no todo, monhece a
mutua dependencia existente entre as partes e o todo. Mas nao identifica
uns e outros entre si.

7.2. Novidade
O mundo de nossos dias parece cansado de quanto viveu no sécu-
lo XX marcado por duas guerras mundiais (1914-18 e 1939-45). A fHoso-
L e o'ensame'nto ocidentais parecem ter fracassadc,, de, modo que se
procura algo de novo. Daí o fascínio que o aditivo Nova (Era) exerce
sobre os homens de hoje; tudo parece velho e ultrapasando, de mane.ra
que se quer a Novidade de pensamento, de perspectivas, de realizares...
Todavía nao há de ser pelo abandono da lógica que se encontrará
a solucáo para os problemas contemporáneos. O homem tem sua gran
deza no intelecto que raciocina. O que importa em nossos días, e depu
rar o intelecto do influxo das paixóes que o obnub.lam, e crer no valor da
inteligencia, em contraposicáo a teorías esotéricas, reservadas aos privi
legiados, e a mensagens ufológicas, nebulosas e fantasistas.
Especialmente o Evangelho conserva sua plena vitalidade seu
poder transformador dos homens e do mundo; no inicio da era crista os
discípulos de Cristo, perseguidos até 313, consegu.ram transmitir ao
mundo pagáo as grandes verdades da fé, porque sao a resposta mais
cTbal aos anseios de todo homem; bem disse Tertuliano (t 220) que a
alma humana é naturalmente crista.
O que importa, é reacender nos católicos a conviccáo profunda do
que professam, a alegría de serem arautos da Boa Nova e o interesse
por transmití-la ao mundo de hoje. Este se encontra lánguido e desespe-
raneado porque abandonou os ditames da Boa-Nova de Cristo. Tal e a
conclusáo que urna reflexáo serena deduz do fenómeno Nova Era; vem
a ser um apelo aos católicos para que restaurem a fibra hero.ca dos an-
tiaos mártires e testemunhem coerentemente a fé católica por suas pala-
vras e seu teor de vida. Possa tal apelo do mundo de hoje encontrar
audiencia e respostas concretas!
Estéváo Bettencourt O.S.B.

144
PARA O ANO LETIVO:

1998

Que livros adotar para os Cursos de Teoiogia e Liturgia?

A "Lumen Christi" oferece as seguintes obras:

1. RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA (29 ed.), por Dom Cirilo Folch Gomes
O.S.B. (falecido a 2/12/83). Teólogo conceituado, autor de um tratado completo
de Teoiogia Dogmática, comentando o Credo do Povo de Deus, promulgado
pelo Papa Paulo VI. Um alentado volume de 700 págs., best seller de nossas
Edicóes R$ 34,80.

2. O MISTERIO DO DEUS VIVO, P. Patfoort O. P. O Autor foi examinador de D.


Cirilo para a conquista da láurea de Doutor em Teoiogia no Instituto Pontificio
Santo Tomás de Aquino em Roma. Para Professores e Alunos de Teoiogia, é
um Tratado de "Deus Uno e Trino", de orientacáo tomista e de índole didática.
230 págs R$ 16,80.

3. LITURGIA PARA O POVO DE DEUS (4a ed., 1984), pelo Salesiano Don Cario
Fiore, traducáo de D. Hildebrando P. Martins OSB. Edicáo ampliada e atualiza-
da, apresenta em linguagem simples toda a doutrina da Constituicáo Litúrgica
do Vat. II. É um breve manual para uso de Seminario, Noviciados, Colegios,
Grupos de reflexao, Retiros, etc., 216 págs R$7,20.

4. DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos. 3a Edicáo.


Seu Autor, D. Estéváo Bettencourt, considera os principáis pontos da clássica
controversia, entre Católicos e Protestantes, procurando mostrar que a discus-
sáo no plano teológico perdeu muito de sua razáo de ser, pois, nao raro, versa
mais sobre palavras do que sobre conceitos ou proposigóes -380 páginas.

SUMARIO: 1.0 catálogo bíblico: livros canónicos e livros apócrifos - 2. Somen-


te a Escritura? - 3. Somente a fé? Nao as obras? - 4. A SS. Trindade, Fórmula
paga? - 5. O primado de Pedro - 6. Eucaristía: Sacrificio e Sacramento - 7. A
Confissao dos pecados - 8. O Purgatorio - 9. As indulgencias - 10. Maria,
Virgem e Máe - 11. Jesús teve irmáos? - 12. O Culto aos Santos - 13. E as
imagens sagradas? - 14. Alterado o Decálogo? -15. Sábado ou Domingo? -
16.666 (Ap. 13,18) - 17. Vocé sabe quando? - 18. Seita e Espirito Sectario-
19. Apéndice geral: Aera Constantina RS 16,80.

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