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DO NEGÓCIO JURÍDICO

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8.1 – CONCEITO

“Negócios jurídicos”- na palavra de Caio Mário de Silva


Pereira - são declarações de vontade destinadas à produção de
efeitos jurídicos queridos pelo agente10. Continua: “O fundamento
e os efeitos do negócio jurídico assentam, então, na vontade, não
uma vontade qualquer, mas aquela que atua em conformidade com
os preceitos ditados pela ordem legal”.

8.2 – REQUISITOS PARA A VALIDADE DO


NEGÓCIO JURÍDICO

O negócio jurídico é uma emissão volitiva dirigida a um


determinado fim. Para que produza todos os efeitos, é necessário
que se revista de certos requisitos referentes à pessoa do agente, ao
objeto da relação e à forma da emissão da vontade. “A validade do
negócio jurídico requer: I – agente capaz; II – objeto lícito,
possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita ou
não defesa em lei” (CC, art. 104).

8.2.1 – Agente capaz

Para que o negócio jurídico ganhe plena eficácia


10
Instituições de Direito Civil, vol. I, 19ª ed., Forense, Rio, p. 303

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produzindo todos os seus efeitos, exige a lei que ele seja praticado
por agente capaz. Por agente capaz há que se entender a pessoa
capaz ou emancipada para os atos da vida civil.

8.2.2 – A licitude

A licitude está inserida no conceito. É mister que o alcance


visado pelo ato não seja ofensivo à ordem jurídica. A sua liceidade
é condição essencial à eficácia do negócio jurídico, que sempre
tem por finalidade produzir efeitos jurídicos através da
manifestação de vontade. Esta tem que ser sempre voltada para
fins legítimos, possíveis, determinados ou determináveis. Quando
o efeito não for legítimo ou possível, apesar de existir a vontade,
caracteriza-se um ato ilegítimo, ilícito.

8.2.3 – Forma prescrita ou não defesa em lei

Todo negócio jurídico tem uma forma. A vontade,


manifestada pelas pessoas, pode ser verbal, por escrito, ou através
de gestos.
Em numerosos casos a lei exige das partes uma forma
especial. A regra geral é a forma livre. “A validade da declaração
de vontade – diz o art. 107 do CC - não dependerá de forma
especial, senão quando a lei expressamente a exigir”.
Isto significa que todas as exceções devem ser respeitadas,
ou seja, se a lei impuser forma especial, esta deverá ser atendida.
Por exemplo, a compra de uma casa à vista, deve ser através da
escritura pública. Se realizada por instrumento particular, não tem
validade, porque a lei impõe uma forma (CC, artigo 108).

8.3 – INTERPRETAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Dispõe o art. 112 do CC: “Nas declarações de vontade se


atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao
sentido literal da linguagem”. Estabelece, pois, uma regra de

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interpretação destacando o elemento intenção sobre a literalidade
da linguagem. Cabe ao intérprete investigar qual foi a real intenção
dos contratantes na elaboração da cláusula contratual duvidosa ou
obscura. “Os negócios jurídicos devem ser interpretados
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”, finaliza
o art. 113 do CC.

8.4 – DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

O negócio jurídico, para ter eficácia, depende da


manifestação da vontade do agente. A manifestação deve revelar
exatamente a vontade do sujeito.

8.4.1 – Ausência total da vontade

A manifestação da vontade se dá pelo consentimento do


agente. É pela palavra escrita ou falada que essa exteriorização se
concretiza. Não havendo esse consentimento, embora o ato seja
praticado, em verdade inexistiu, por falta de elemento essencial. É
o caso, por exemplo, de uma senhora que concorda com a venda de
um imóvel sob efeito de hipnose.

8.4.2 – Existência de uma vontade livremente manifestada

A exteriorização da vontade deve revelar exatamente o


desejo íntimo do agente; se essa manifestação não revela fielmente
a vontade, ou seja, não se deu como o agente realmente gostaria de
se expressar, essa exteriorização encontra-se viciada, deturpada,
contaminada, tornando-se anulável o ato então praticado (CC, art.
171, II).
É o caso, por exemplo, do marido que mantinha relações
sexuais com sua própria genitora antes do casamento, e que
continua a mantê-las após a sua celebração. A esposa, ao tomar
conhecimento disso após o matrimônio, constata que houve erro
sobre a pessoa do cônjuge, o que a coloca ao abrigo da lei, que

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anulará o casamento (in RT 390/371). É o caso, também, da
mulher que contrai casamento com um homossexual. O fato
ignorado por ela antes do matrimônio, constitui erro essencial
quanto à pessoa do marido. Isso afeta a honra e boa fama da
mulher tornando-lhe insuportável a vida em comum. Se ela tivesse
conhecimento desse fato anteriormente ao casamento, não teria
consentido em se casar, razão pela qual o Tribunal anula o ato em
virtude da existência de vício da vontade (in RT 397/318).

8.5 – VÍCIOS DA VONTADE

As causas que podem desvirtuar o processo de formação


da vontade são previstas e reguladas por lei, sob a denominação de
vícios da vontade. São eles: o erro, o dolo, a coação e da lesão.
A lei também prevê outros tipos que, embora não atinjam
diretamente a vontade na sua formação, conduzem a idênticos
resultados, anulando o negócio jurídico. É o caso da fraude contra
credores, denominado vício social, porque afeta diretamente o
negócio jurídico, com a intenção de violar direito de terceiro.

8.5.1 – Do erro ou ignorância

Os exemplos citados anteriormente servem para fornecer


uma exata noção de “erro”, um dos vícios mais freqüentes. Se a
mulher conhecesse a realidade antes do enlace matrimonial, jamais
teria consentido em se casar. Houve uma noção falsa sobe a pessoa
do seu cônjuge; ela acreditou numa realidade que não era a
verdadeira.
Portanto, erro é uma falsa idéia da verdade entre aquilo
que o agente pretendia e aquilo que realizou, ou seja, importa em
uma divergência entre a vontade declarada e aquela que
manifestaria se, porventura, tivesse conhecimento do fato.
“Demonstrado que somente após o casamento veio o marido a
conhecer a vida desregrada da mulher no ambiente de trabalho e
que tal fato tornou insuportável a vida em comum, impõe-se a

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anulação do casamento” (in RT 632/89). Portanto, a eficácia do ato
depende da coincidência do querer íntimo do sujeito com a
vontade manifestada. Havendo tal desavença e desde que esta não
tenha sofrido qualquer influência externa, - repita-se – configurado
está o erro. É que o erro deve ser espontâneo, sem a provocação
interesseira de terceiro, pois se houver alguma influência
malévola, surge a figura do dolo, como veremos mais adiante.
Não somente o erro sobre a identidade ou a qualidade
essencial da pessoa pode causar a anulação do ato, como também o
erro quanto às coisas pode anulá-lo. Uma pessoa, por exemplo,
pensa estar adquirindo uma coisa, quando na verdade está havendo
uma locação (atinge a natureza do ato); ou uma pessoa adquire um
terreno na convicção de estar o mesmo próximo ao centro da
cidade, quando na verdade está situado longe (atinge o objeto
principal da declaração de vontade); ou ainda, compra-se um
automóvel adulterado na montagem de peças e com chassi trocado
(atinge uma das qualidades essenciais do negócio).
O erro pode acarretar a nulidade do ato: “São anuláveis os
negócios jurídicos, - diz o art. 138 do CC – quando as
declarações de vontade emanarem de erro substancial que
poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face
das circunstâncias do negócio”.

8.5.2 – Do dolo civil

Para perfeito entendimento do conceito de dolo civil,


vejamos uma ilustração publicada pela Revista dos Tribunais,
volume 394, página 150: Vendedor e comprador, mediante
instrumento particular, avençaram-se para a venda e a compra de
um sítio. Por ocasião da lavratura da escritura pública, o
comprador, com a participação de um delegado, convenceram o
vendedor (sitiante) de que deveria receber o preço em jóias;
particularmente o delegado insistia nas vantagens do pagamento
em forma de jóias, pois se tratava de um emprego de capital mais
seguro.

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Verificou-se, posteriormente, que as jóias valiam somente
1/3 do valor do preço pactuado em dinheiro. O vendedor era
pessoa simples, residente em um sítio, e o comprador lhe havia
sido apresentado pelo delegado.
Pelo exposto, tiramos a seguinte conclusão:
1. houve erro por parte do vendedor;
2. esse erro foi provocado por intermédio de um processo
imoral, posto em prática pela outra parte e um terceiro.
Houve o emprego de artifício malicioso e
premeditado, de modo a enganar o vendedor e
persuadi-lo a efetuar o negócio;
3. esse ardil beneficiou o comprador.

Esses elementos juntos servem para fornecer o conceito de


dolo civil, que é o emprego de um artifício ou ardil malicioso,
destinado a induzir alguém à prática de um erro que o prejudique,
em benefício do autor do dolo ou de terceiro.
Simplificando, podemos concluir que o dolo civil nada
mais é do que um erro provocado por intermédio de malícia ou
ardil, visando ao benefício de alguém. Esse alguém, ou é o autor
do dolo, ou terceiro. O dolo civil afeta a validade dos atos entre
vivos, já que se caracteriza pelo emprego de artifícios ou
artimanhas que incidem sobre a vontade de alguém, a fim de se
obter a realização de um negócio jurídico.
Assim aconteceu no fato acima narrado. O recebimento do
preço em jóias foi resultante do erro criado no espírito do sitiante,
pessoa simples e que confiava na palavra de um delegado.
Ludibriado, teve um procedimento diverso daquele que realmente
teria se conhecesse a realidade da situação.
O nosso Código Civil, considerando os aspectos variados e
imprevisíveis da malícia humana, não definiu o dolo civil,
deixando à doutrina a missão de conceituá-lo. “O dolo induz o
declaratório a erro, mas um erro que é provocado pela conduta do
declarante. O erro participa do conceito do dolo, mas é por ele

60
absorvido”, ensina Sílvio de Salvo Venosa11.
De fato, o emprego de artifício malicioso, de modo a
enganar alguém ou manter esse alguém em engano para prejudicá-
lo, dando proveito ao enganador, pode assumir as mais variadas
formas. Medite no caso de contrato de seguro de vida, onde o
proponente omite a existência de um tumor maligno e poucos
meses após vem a falecer; trata-se de emprego premeditado de
artifício malicioso por omissão, em que houve a intenção de
prejudicar a seguradora e beneficiar os sucessores. Omitiu a
informação a fim de incutir à outra parte uma falsa idéia. “Nos
negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das
partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja
ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o
negócio não se teria celebrado” (CC, art. 147).

8.5.2.1 – Dolus bonus e dolus malus

Dolo civil é qualquer artifício empregado para prejudicar


alguém. O artifício sem a finalidade de prejudicar, os romanos
denominavam dolus bonus. É o dolo menos intenso, tolerado.
Exemplo clássico de dolus bonus fornecido pelos
doutrinadores é o caso do empresário que, por intermédio da
publicidade ou propaganda, exagera as qualidades de seus
produtos. Esse artifício é muito utilizado no comércio em geral e
não constitui dolus malus, aquele destinado a prejudicar alguém.
Contudo, a malícia encontrada tanto no dolus bonus como no dolus
malus é elástica cabendo ao juiz apurar a gravidade em cada caso
concreto, pois o dolo, bem como todos os atos de má-fé
(simulação, fraude), poderão ser provados por indícios e
circunstâncias (in RT 439/229).
“Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma
pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização”
(CC. Art. 150).

11
Direito Civil, vol. 1, 1984, Atlas, S. Paulo, p. 320.

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8.5.3 – A coação

Casos como os que seguem são freqüentes perante os


nossos Tribunais. Suponhamos que um indivíduo seja intimado a
comparecer ao Posto Policial acusado de ter provocado incêndio
nos campos circunvizinhos, por causa da queimada que realizou
em sua fazenda e sob ameaça de processo criminal, assina três
notas promissórias; ou, é o caso da mãe que ao saber da acusação
que pesa sobre seu filho – de ter dado desfalque como caixa do
banco em que trabalha – assina uma nota promissória em branco
na presença do gerente, do advogado do banco e dos policiais que
acompanham seu filho.
Em ambas as hipóteses, verificamos a existência de uma
ameaça, de uma intimidação que colocou as pessoas numa situação
tal, que levadas pelo temor, emitiram uma declaração de vontade
que não correspondia à sua vontade real.
Essa pressão, exercida sobre alguém através de uma
operação psicológica é a coação civil, moral. A vítima vendo-se
diante de uma ameaça e tentando salvar a si mesma ou uma pessoa
da família, ou mesmo seus bens, é obrigada a concordar com os
que a coagem. “Se disser respeito a pessoa não pertencente à
família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá
se houve coação” (par. ún. do art. 151 do CC).
Clóvis Beviláqua definiu a coação civil como “um estado
de espírito em que o agente, perdendo a energia moral e a
espontaneidade do querer, realiza o ato, que lhe é exigido”.12
Observamos, ainda, pelas hipóteses citadas, que não houve
o emprego de força física ou material, pois, se isso ocorresse,
teríamos então a chamada coação física, que impossibilitaria
completamente a expressão da vontade e tornaria o ato nulo.
Notamos, isto sim, que o agente, para não perder a sua própria
liberdade ou para evitar que um de seus familiares sofresse um
dano grave, escolheu livremente a prática do ato que era imposto.
Vê-se, pois, que a coação civil ou moral se faz para extorquir uma
12
Ob. cit., p. 278.

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declaração, viciando a vontade pelo temor, anulando na vítima a
sua energia moral.

8.5.3.1 – As excludentes da coação

O art. 153 do CC declara como excluído da coação a


ameaça do exercício normal de um direito e o simples temor
reverencial.

8.5.3.1.1 – Exercício normal de um direito

Primeiramente, meditemos sobre a seguinte ilustração: um


empresário, em nome individual, deixa de pagar determinada
dívida líquida e certa no vencimento. Não constitui coação moral
se, no caso, o credor, por intermédio de seu advogado, ameaçá-lo
de protestar o título e de requerer sua falência, porque a ameaça se
prende ao exercício normal de um direito. “Não constitui coação a
notificação de que serão tomadas medidas administrativas ou
judiciais contra aquele que deve repor dinheiro nos cofres
públicos”, decidiu certa vez o Tribunal (in RT 530/80).
Outro exemplo muito comum: um rapaz, após iniciar o
namoro ou o noivado, passa a manter relações sexuais com a
companheira menor de 18 anos. Se o delegado o intimar e o
colocar diante do dilema: casar com a vítima ou responder a
processo criminal por sedução, a jurisprudência tem entendido,
com inegável acerto, que aquele que se casa para extinguir a ação
penal cuja ameaça pesa sobre ele, não pode alegar coação (in RT
413/371, 390/211).
O mero exercício de um direito não significa, portanto,
ameaça ou agressão ao paciente. Trata-se de uma coação justa,
porque oriunda do exercício regular de direito, embora
contrariando a vontade de quem pratica o ato. Há excesso por parte
do profissional “na hipótese em que um menor preso e sem
qualquer assistência se vê acusado de prática criminosa, consente
em se casar e se casa ainda sob prisão; tal procedimento

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caracteriza, perfeitamente, a coação viciadora do ato jurídico
justificando a anulação do casamento” (in RT 413/369).

8.5.3.1.2 – Temor reverencial

Temor reverencial é aquele que temos para com as pessoas


às quais devemos obediência, em especial aos pais. Exemplo típico
é o caso da filha, que para não cair na ira do pai, permite casar-se
com pessoa de seu desagrado.
Se o pai diz à filha: “gostaria de seu casamento com
fulano”, não houve coação. Só constitui coação se o pedido vier
acompanhado de ameaça grave, como, por exemplo: “ou casa-se
com fulano, ou será internada num manicômio”.

8.5.4 – Do estado de perigo

O estado de perigo ocorrerá “quando alguém, premido da


necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano
conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente
onerosa” (CC, art. 156). Na hipótese de a necessidade de salvar
seja relativa a pessoa que não seja de sua família, caberá ao juiz
decidir segundo as circunstâncias (par. ún. do art. 156 do CC).

8.5.5 – Da lesão

A lesão é também uma das modalidades de vício do


negócio jurídico. Dispõe o art. 157 do CC: Ocorre a lesão quando
uma pessoa, sob premente necessidade ou por inexperiência, se
obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da
prestação oposta”. Portanto, um dos contratantes é colocado em
situação de inferioridade, perdendo ele a noção do justo e do real,
e sua vontade é conduzida a praticar atos que constituem
verdadeiro absurdo. O negócio jurídico é anulável, pois cuida de
rescindir ou de ajustar o contrato a seus devidos termos.
Entretanto, dispõe o § 2º do artigo supra de que não se decretará a

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anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se
a parte favorecida concordar com a redução do proveito.

8.5.6 – Fraude contra credores

Quando uma pessoa pretende comprar um imóvel deve,


antes de efetuar a transação, inteirar-se da segurança do negócio.
Primeiramente, deverá verificar se o vendedor é capaz,
porque, como já vimos, o negócio jurídico será nulo se for
praticado por pessoa absolutamente incapaz; deve, ainda, constatar
se o vendedor é o verdadeiro dono do imóvel, exigindo certidão do
Cartório de Registro de Imóveis. Além dessas cautelas, o
comprador deve averiguar se o vendedor não se encontra em
insolvência, porque o insolvente não pode vender seus bens, já que
o seu patrimônio é a garantia comum a todos seus credores. Essa é
a razão do preceito do art. 159 do CC, que assim dispõe, in verbis:

“Serão igualmente anuláveis os contratos


onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for
notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro
contratante”.

Insolvência ocorre quando a soma do patrimônio ativo do


devedor é inferior à do passivo. “Dá-se a insolvência toda vez que
as dívidas excederem à importância dos bens do devedor” (CPC,
art. 748).
Para evitar prejuízo aos credores, a lei fornece meios
quando há o comprometimento do patrimônio do devedor. Se
houver alienação de bens por devedor já insolvente, qualquer
credor ao tempo do ato lesivo pode recorrer à ação pauliana ou
revocatória, cujo objetivo é revogar, anular os fatos
fraudulentamente praticados. “Só os credores que já o eram ao
tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles” (§ 2º do
art. 158).
Um simples perpassar de olhos, no artigo acima transcrito,
revela-nos duas espécies de insolvência: a notória e a presumida.

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1. A notória é aquela que já é do conhecimento do público.
Por exemplo, a existência de uma dívida não será do conhecimento
público, enquanto não chega o dia do vencimento para o
pagamento; só fica no âmbito entre o devedor e o credor. Porém,
se não for paga no vencimento, o credor poderá levá-la ao Cartório
de Protesto e, se protestada, todos ficarão sabendo do não
pagamento da dívida. A partir de então, a dívida será notória,
caracterizando-se a pretensão de insolvência.
Assim, ao adquirirmos um bem, principalmente um
imóvel, devemos exigir do vendedor as certidões negativas do
Cartório de Protesto, para verificar se o vendedor está em uma
possível insolvência.

2. A presumida é aquela que só é conhecida dos parentes


próximos ou de um amigo de freqüência diária. A lei presume
“haver motivo para ser conhecida do outro contraente” (parte
final do art. 159) quando este for um irmão, por exemplo. O
Tribunal decidiu certa vez que “cabe ação pauliana para anular a
cessão e transferência de direito à compra de imóvel, feita 7 dias
antes do vencimento da dívida, por devedor insolvente a seu irmão,
que, em virtude de parentesco próximo, presume-se conhecer a
péssima situação financeira do cedente e a impossibilidade em que
ficaria de solver suas obrigações” (in R. For., 247/201). Se o
cedente tivesse cedido (vendido) a um estranho, a cessão não seria
anulada, porque o estranho não tem obrigação de conhecer as
dificuldades financeiras da outra parte e, assim, presume-se não ter
havido conivência com o fraudador.
“Os negócios de transmissão gratuita de bens ou
remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por
eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser
anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus
direitos” (CC, art. 158).

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