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“PARA TODOS OS DIAS E FESTAS4/DO ANNO TIRADAS DAS OBRA TICAS. - SANTO AFFONSO BISPO E DOUTOR DE LIGORIO ARTA IGREJA PELO P. THIAGO MARIA CRISTINI DA CONGREGAGKO DO SS. REDEMPTOR VERSAO PORTUGUEZA po P.JOAO DE JONG ‘ba noua concanasgio TOMO TERCEIRO DESDE A DUODECIMA SEMANA 1 DEPOIS DE PENTECOSTES ATE AO FIM DO ANNO ECCLESIASTICO FRIBURGO EM BRISGAU (ALLEMANHA) 1922 HERDER & Cia LIVREIROS-EDITORES PONTIFICIOS i BERLIM, CARLSRUHE, COLONIA, MUNICH, VIENNA, LONDRES, 8/LUIZ MO. Imprimatur, Friburgs Bringeviae, dio 16 Estfo reservados todos 0s direitos. ¥ Carolus, Archiegps. INDICE DO TOMO I. 1. DOMINGOS, FESTAS E TEMPOS DO ANNO ECCLESIASTICO. Duodecitan semana depois de Pentecostes: Domingo, 0 Outre meditagfo pare o mesmo dia: O surdo-mudo € a8 con- fisedes sacrilegas . Segunda, Nio we pera atodes igual numero de pecades ‘Tergaceira. O pensamento da morte faz perder © apego aos bens do mundo Quarefeira, Os bens do of slo incffveis, Quinafeirs. A sentissine Eucharist € uma foroalba de anor Sextafeira. Grandes penas de Jesus sobre a cruz Sabbado. Grandezas ineffaveis de Maria Santissima ‘Decima terceira semana depois de Pentecostes Domingo, © bom Samsritano © © divino Redemptor Segunds-feir, Necessidade da mansidxo e da humildade para o re Wgioso ‘Tespafcirs, Anguotas da alina descaidade ne bore de morte Quarte-feire. Bemaventurado daquelle que se conserva fel a Deus tna adversidde! Quiowfeir. Jesus no Sanlssino Sacramento nfo desea. senko ispensar graces. a Sextefeira, A fristo de Jens © as més occa Sabbado. Da devogto 4 divina Mae. ‘Decima quarta semana depois de Pentecostes: Domingo, Os dez leprosos © 0 peccado de ingratido. Segunde-feirs, A nossa perfeiglo consiste na conformidade com a vontade divine. ‘Terpeseir. Do grande mal que & o destfecto de Dews Quart-feira. A resizreigto dos corpos no dia do Juize 3. Affonso, Mesitagtes, It, 5 a 4 " 19 4 7 33 35 38 a 45 8 vw inter Bo tose, 1 uns Os sides de Jane itansnds Seca Cnt sie Jc pin mo ales * Sebbado, Maria Suitisima aleanga a persoveranga para seus de. woos. ae Decima quiots semana Yepois de Pentecoste Domingo. Os dous sfnbores © as alias tibias Segunde‘eira, Da mortifcagio interior Tergaeita. A cada momento nos sproximemos da morte Quarta-feirs, Da eteraidade do inferno oe 0 Quinta feira, Jesus no Santissimo Sacramento dé audicncis a todos © qualquer hora : ; Sextafeirs. Jesus tratado como o ultimo dos homens Sabbado, Manyrio de Marie Santissima ao’ pé da Cruz Decima sexta semana depois de Pentecostes: Domingo, © mogo de Naim a lembranga da morte . Segunda-feire. Do amor que Deus nos mostrou ‘Terga-eire. Deus € misericordioso, mas tambem justo Quarta-feira, Felicidade eteroa do céu Quinta-fein. Do sagrado Viatico Sexta-feira, Jesus, homem de déres Sabbado. Maria Santissima, modelo de mortificagio Decima setima semana depois de Pentecostes Domingo. © homem’ bydropico © 0 christio ambiciow —, Outre meditagfo para o mesmo dia: O homem e o vicio de impuresn. eee eer ena Scgundeteira, Do zelo da salvage das almas que devem ter os religiosos « ‘Tergaeira. Devemos receiar que o primeito novo. peccado seje talver 0 ukimo Lo : Quarte-feire. A casa da eteridade am Quinteeira. A santa Missa é um meio efficar para obtermos 1s gragas de Deis Sextefeira, Vide desclada de Jesus Christo - Sabbado. Maria Santissima € x esperanga de todos Decima oitava semana depois de Pentecost Domingo. © compendio da lei é 0 preceito de caridade Segundafeira, Desprezo do mundo com 0 pensamento da morte 3 53 56 8 6 63 66 69 7m ” 6 8 a ot 86 89 o 95 7 100 103 105 108 113 us np 2, aNpICR BO TOMO MI, ‘Perge-feira, Vantagens das tentagdes _Quartafeirs, Morte continua no inferno Quinte-feira, Tsiumpha © amor | Sextafeirs, O grande livro que & © Crucifixo SC Sebbedo. Maria Santtsime suaviza a morte dos seus devotos : Decima none semana depots de Fentecsts: Domingo. A cars do paralytico © cuusn des txiflages Segundefeirs, Do negocio da eterne selvagto ‘Tergeteira, De vida retired : Quurtnfeire, A morte do justo 6 x entrada na vide Quinta fei, Ds communthio expiriaal Sextefeira, Primera pala de Jesus Christ on erat Subbado, Marin Sensis, modelo da vide soliara © recothide ‘Vigesima semana depois de Pentecostes Domingo. A ptrsbola do banguete nupcial € a Igreja catholien. Segunda-feira. Do amor & solidto “Tergefeire. A vida presente 6 uma ‘Quarte-foira, Eatrada da alms no cfu Quintafeira, Jesus no Santissimo Sacremento, modelo de tude oe, a 5 i i) aaa meee Jesus na cruz - iagem para a eternidade Sabbedo, Teroeira palavre de Jesus Christo oa crus « Domingo, © fiho do regulo © a utilidade des doengas Segunda-feire. Da solidto do coracto ‘Tergs-feira. Da misercordia de Deus Quartafeire, A perda da salvagto € um mal sem remedio Quinta-feira, Jesus’ no Santissimo Sacramento, nosso bom Pastor . Sexta-feira. Quurta palavra-de Jesus Christo na cruz . © Sabbado, Grandoza da misericordia de Maria Sontissime Vigesima segunda semana depois de Pentecostes: Domingo. O servo deshumano e o perdio das injuras Segundafeira, peecador deshonra a Deus 5 ‘Tergeceira. Firs dx oragto mental Quartafeire, © grande Segredo da morte : Quintafeira, Felicidade dot religioror em morarem junto com Jesus ne Santissimo Sacramento vin Pep. 133 136 129 130 134 136 139 mn 48 146 49 152 154 157 159 162 165 168 170 173 176 178 wr 183 186 188 19t 194 196 199 var INDICE DO ToMo m1, Sextafeie. Quinta palawa de Jesus Chris na cron Sebbado, Necessdede que temos da intents te Maris Sam. ‘tissima para nossa salvagto °° Vigesima teresa semans depois de Pentecost: Domingo. O tedto de Cesar © a obrigugto de amar a Deus Segande-ei, Remorse do condemado por enue do tens que perdes Tergateira, Em que consiste © felicidade des beanie no eft _ Quartafeira. Para a salvacto € necessario 0 sacrifcio da veniadg fo € necesatio 0 sucrficio de vontade en Quintafere. © que tobe de fazer a sect Sutin Steraments 4 extefeira, Sexts pula de Jesus Christo Christo na cruz Sabtudo, Maria Santssine, modelo de orsgto ston na prog de om spviiae gus tens cis de Rents ongs. A She de Jo «Bema ev a emors, + lan pecan Segunda-feira, Das penas do inferno. | m Tefen, Necmiiede deol || juarta-feira, Obrigagto que temos de ras al o par i = eno ee sn bp Qs Aner de Sas oe ine do Sanne een ese) wnte de fe monte sn Sev Seton pals de Jers Chto na cot) Ssbbudo. Deege «Sto Jong » Sanus Avon pcs do Matis Santis, ‘Terecira semana que sobrou depois da Epiphania: ‘Domingo. Virtdes praticadas pelo leproso e pelo centurifo Segundaceir, Misericordia de Deus em acolher os peccadores arrependides Homa Terge-eira. A gloria © © poder no leito da morte Quarta-eira. $6 en Deus se acha a verdadeira feli Quinta-feirs. Excellencia de santissima Bucharistia Sexe. Suspires de amor 40 pé do Crucifixo abbado. Pratica de devogto 8 Maria Santissima Quarta semana que sobrou depois da Epiphania: Domingo. A bares na tampernde © o grande melo pars nto’ Segunde-eire, Loueura dos peceadores Pa. 207 209 ats au7 223 235 28 230 233, 235 238 40 43 45 248 ast 253 256 259 261 264 -Tergaeira, HE preciso estarmos sempre promptos pare marer Querefeie, O que fas 0 reprobo no inferno. {Quintateire. Jesus, no Senttsino Sueramento, esperezos com extrema misericordia 7 Sextafeirs. Fructor que produr « meditagto de Jesus crac fado. a a Sabbado. Da confanga no patrocinio de Marie Santssima, Quinta semana que sobrou' depois da Epiphania: ‘Domingo. A parabola do joio © a Tgreja eatholica . Sogundafeira, A noticia da more... ‘Tergaceira. Das seccuras espirituaes. Quarta‘eira, Desespero dos reprobos no inferno... Quinta-feira. A Santissima Bucharstia, nossa forge contra os 0s- 08 inimigos . bo 10 Sexta-eira. Das ignominins que Jesus Christo soffreu na sus Frito... ao ; Suhbado. Maria Santisima livra os seus devotos do inferno Sexta semana que sobrou depois da Rpiphanis Domingo, O gro de mostarda e « Tgrija catholic . Sogunda-feira. Da perfeita resignagto com vontade Tergafeire, A salvagto € 0 nosso unico negoci6 : Quertafeira, Para nos prepararmos para s morle nfo devemos esperar pelo vltimo momento. =. ss Quintafeira, Jess no Santissimo Sacramento, nosso Consslador Sextafeire. Amor excessive de Jesus Christo para com os. ho. Sabbado, Maria Santisima soccorre os seus devotos no purge torio 7 oe Vigesima quints e ultima semana depois de Pentecoses Domingo, © fim do mundo’ e © procedimento dos bons eatho- Ticos em tempo de perseguigto Segunda-feire, Bm que couses nos devemos conformar com a von- tade diving rer Tergeeira, Na morte tudo acaba. Quartafeira. A pena da perda de Deus 0 que faz 0 inferno . Quintafeira, Da assistencia 4 santa Missa... Sexta-feir, A Paixto de Jesus Christo, nossa consolagto Sabbado. Maria Sentissima conduz os seus servos ao pantiso po 267 269 an 74 217 282 285 290 293, 295 298 303 306 308 sit 34 316 39 37 34 326 329 ast x Imptce po Tomo 1, Pas. Ul. DIVERSAS FESTAS DE NOSSO SENHOR, DE MARIA SANTISSIMA, DOS SANTOS’ APOSTOLOS E DE OUTROS SANTOS. XXY de Jelbo. Festa de Sto Thiago Maior, Apostolo . xxvt de Julho, Festa de Santa Anna, Mite de Maria Santissima . raat de Julho. Festa do Sunto Ignacio de Loyola. H de Agosto, Festa de Santo Affonso Maria de Ligcrio Vit de Agosto, Festa de Sio Caetano a4 a XY de Agosto, Festa da Assumpgto de Meria Santissima | XVI de Agosto, Festa de Sto Joaquim, pre de Maria Santissima xxv de Agosto, Festa de Sto Burtholomes, Apostolo ‘Wt de Setembro, Festa da Natividade de Maria Santissima xu do Seiembro, Festa do Santissimo Nome de Maria. XIV de Setembro, Festa da Exaltagfo da Cruz de Nosso Seahor Jesus Christo, . : a Xv de Sotembro. Festa das Dares de Maria Sau xxr de Setembro, Festa de Sto Mattheus, Apostolo . xxix de Setembro. Festa do Archanjo Sto Miguel 1 de Outubro. Festa dos santos Anjos da Guarda 3V de Outubro. Festa de Sto Francisco de Assis vit de Outubro. Solemnidade do Santissimo Rosario XV de Outubro, Festa dé Santa Theresa de Jesus 020 ror de Outubro, Festa dos Apostolos So Simo © Sto Tha. deus, oa 1 de Novembro. Festa de todos os Santos ar Outre meditagso para a tarde do mesmo dia: Suspicos peli patra celestial 018 rer H de Novembro, Commemoragto de todos os Fieis Defuntos Xr de Novembro. Festa de Santo Estanisleu Kosta xxt de Novembro, Festa da Apresenjago de Maria Santissima . Xxx de Novembro. Festa do santo Apostolo André. APPENDICE, 1. MEDITAGOES PARA AS PRIMEIRAS SEXTAS.FETRAS Do Maz, Mer do Agusto. © Coragto de Jems, modelo de mansidio Mes de Seteobro, © Coragio de Jens, amigo das almas castas Mes de Ouubro, O Coragto de Jesus, centro dot coragdes 335 337 30. 343 345 307 359 382 355 387 360 363 365 368 370 37 374 377 380 382 385 387 390 393, 395 398 400 403, impice po Tomo ut, xr ‘com a vootade de Dew. : ne 495 ae Detembro. 0 Corscfo de Jesus, modelo de fidelidade . 407 AR 1B CADA MEZ I, MEDITAGOES PARA O DIA XXV Di SOBRE 0 MYSTERIO DA ENCARNAGAO DO VEREO. de Agosto, Sublimidade do mysterio da Enearnagto . ft fg Setembro. O Menino Jesus, sobre as palhas, ensina.nos + mortiengo rn “3 de Quuubro, Solio de Jers na Gruta de Belem | a6 7 te Nevnbro, Das ecpas Meio Fm Gate ‘cle rir Aili, DEVOGAO A SANTO AFFONSO. MEDITAGOES, NAS QUAES 0 SANTO DOUTOR & PROPOSTO COMO ‘MODELO DAS DOZE VIRTUDES FUNDAMENTAES. Met de Agosto. Santo Affonso, modelo de mansidfo e de bumil- dade see an ‘e Setembro, Santo Afonso, modelo de moricagto . 44 fez de Outubro. Santo Affonso, modelo da vida interior ¢ re- colhida A ra de Novembro. Santo Afonso, modelo de orsgto 430 IV, MEDITAGOES DE RESERVA, de que cada um poderg servirse em mibsiiggo & mediagies ‘que talver convenbam menos so seu estado on disposigho. Prima Medigto, Magoas tard da alma neligente ne. hora Tae morte : te aR “Segunda Meditagto, Quem ama a Deus, nfo deve temer a morle 435 Teresi Meditgfo, O justo morre numa pez dulisina 438 arta Meditgto. Melos pare se prepares pera a morte ue Quint Mediugto, Protestegto para a bon morte.) 4t3 Senta Mediagdo, Mein para conerrar 2 grage de Devs . 46 Setina Meditgto, Dee enfermicades, : 8 + ieee “DOMINGOS, FESTAS E TEMPOS DO ANNO ECCLESIASTICO. st Semana depois de Pentecostes até a0 fim do anno ecclesiastico.) - j ‘ + @asde * UNDECIMO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES. lagre do surdo-mudo e os espiritualmente mudos. WAaducont ef surdumm et mutum, et deprecebanter eum, ut ia» fonat, ili manam—Trazemibe um surdomudo, ¢ Ihe rogerem fe puveste a mao sobre elle» (Mire. 7, 32). . senmari, Os espiritualmente mudos nfo sfo sémente aquelleschrstfos que eclum 08 peceados na confssfo, mas tambem ot que nfo se recom inewdain x Dets, nflo ,leseobrem todo seu interior 40 Director, deixam de cortight seus, subditos, on descuidam de communicar eo Superior as ‘desordend oceultas da communidade. Examinemos « nossa conscenci fe, & descobrirmos em n6s algume destas miidezes, roguemos a0 Senhor (Quete renovar em nosso espirito © milagre feito a favor do mado do Evangelio. 1. Refere 0 Evangelho que «trouxeram para Jesus um sutdp-mudo e Ihe rogaram puzesse a mao sobre elle. Jesus tirou-o do meio da multidao, tomou-o 4 parte, pozlhe ‘es dedos nos ouvidos e tocando com sua saliva a lingua do surdo-mudo, levantando os olhos ao eéu, suspirou e disse: Ephphetha, isto é, abtivos. Logo os ouvidos deste homem se abriram, sua lingua desatowse e elle falava distinctamente. Jesus thes ordenou que nada dissessem a ninguem, Mas, quanto mais recommendava, mais © publi- cavam; ¢ cheios da mais viva admiragdo diziam: «Elle fez ben tudo, fes ouvir os surdos, e falar os mudos» — Surdos fecit audive et mutos loqui. 5. Afonso, MeditagSen. UI. 1 A PUOPECIMA SEMANA DErOIS DE EENTECOSTES, Seria para desejar que o Senhor renovasse 0 milagre Gee fez a favor do infeliz mudo corporalmente, a favor Ge tantos outros infelizes que ctio mucus copitieuaimente. Semelhantes espiritualmente mudos sio em primeira logar 08 que calam peccados na confissfo, ou accusam s6 pela metade os peccados mais vergonhosos, que nao tiveram Pejo de commetter, de sorte que o ministro de Deus os Bo pode entender. —Sto em segundo logar aquelles que deixam de descobrir ao Director espiritual todo o seu in. terior ¢ especialmente as tentac6es, que talver tivessem de cessar, se elles falassem,—Sgo em ame se descuidam de admoestar ou reprehender os seus subditos, ou descuram de informar os superiores acerca das desordens occultas de uma commutidade, afm de que & Possam remediar.— Finalmente, so mudos espiritual- Mente todos os que nas necessidades da alma ou do corpo deixam de recorrer a Deus pela oragio, Examina-te aqui, meu irmio, afim de vér se em ti se acha uma destas mudezes espirituaes, © se for este 0 caso, appresenta-te a Jesus Christo, e rogalhe que te solte a lingua, UL Para cura dos espititualmente mudos & necessario, como fez Jesus Christo com o surdomude, tiral-os & parte, do meio de tantas distracc6es mundanas, e antes de Zier desatar a lingua, abrir-lkes os owvides, para que compre. hendam os graves males-que attrahem sobre si, Quem soffre a tentago de occultar os peceados na con- fissdo, pondere que deste modo muda em veneno o sangue de Jesus Christo, e aggrava a sua alma de sacrlegios hor. rorosos.—Quem nao abre interior ao Director, vird em breve a cahir em peceado; porque o Senhor retirard sua luz © tentacdo ird ganhando forcas.— Quem com seu silencio coopera para, as desordens do proximo, as quaes poderia remediar falando, lembre-se de que taes desordens Ihe serio impatadas © que um dia seré punide com todo rigor. terceiro logar aquelles ai = ostnao, 3 a ae “LS. Emfim, os que descuidam de pedir auxilio a Deus pela “/Egracdo, estejam persuadidos de que desta forma se expdem eS igo certo de cabirem no inferno, pois o que nAo igh mais tarde todos aquelles mudos espiritualmente terdo bs dizer com o propheta: «Ai de mim, porgue fiquei ca- ido» —Vae mihi, quia tacui', ; 6 meu amabilisine Jesus, Vés que restituistes 0 ouvido ‘gos surdos ea fala aos mudos, dignae Vos abrir 0s nossos widos ¢ desatar a nossa lingua, afim de que, compre- dendo os embustes com que 0 demonio nos quer impor ncio, comecemos, 4 imitagto do mudo do Evangelho, “falar bem e digamos com a multidio cheia de admira- gio pelo vosso poder: Elle tudo tem feito bem: fes os iiurdos ouvir e os mudos falar.—Pego-Vos tambem, 6 Aijpeu Senhor, 1— Doce Com i es Coracao de Maria, séde minha SEGUNDA-FERA, N 20 se perdoa a todos igual numero de peccados, Omnia in mensurn et numero et Pureste todas as cousas com medida e See gi Ro tomes igual de peer“ wm prs ee S80, ome ele oto, prin sok endear sc ie cad, quanion nfo hen ques Decca Info dezls do prac pesado? Quano, pom denents net "eccar mais uma vez, digamos: Quem sabe, se dey a © confessar bem?... Quem sabe st eases Scream. Qu se se eno preadn ta a rdcaado por Deon © erie ers oan 1. A misericordia de Deus ¢ infinita; mas apezar desta mi 38 nfo pode perdoar a vontade de peccar. A medidy "Or. Dom, cure “gos peccados que Deus quer perdor SHCUNDALPEIRA. 7 ado é igual para todos. A um perdéa Deus cem peccados, a outro mil; aquelle outro, porém, seré condemnado ao inferno depois ‘do segundo peccado. Q * Quantos no ha que o Senhor condemnou logo de- -pois da primeira queda! Refere Sio Gregorio que. um menino de cinco annos foi Jangado no inferno quando ‘diia uma blasphemia. A Santissima Virgem revelou 4 serva de Deus Benedicta de Florenga, que o primeiro pec- cado foi a condemnacZo de uma menina de doze anos. 'A mesma desgraca aconteceu a um menino de oito annos, que morreu e foi condemnado logo depois do primeiro i. ‘peceado, Lemos no Evangelho de Sao Matheus, que 0 jy Senhor, achando esteril uma figueira, cujos fructos pro- Y curava colher pela primeira vez, a amaldigoou immediata- °\ mente, € que a arvore seccou, Por acaso algum temerario se atreva a perguntar a Deus, ‘porque quer perdoar tres peccados e nao quatro? Neste ‘ponto € preciso adorar os juizos divinos e dizer com o Apostolo: Quam incomprehensibilia sunt iudicia ius, et investigabiles viae eius!\— ¢Qudo incomprehensiveis sao os seus juisos, e imperscrutaveis os seus caminhos!»— “Replica talvez o peccador obstinado: Tantas vezes offendi “a Deus, ¢ cada vez Deus me perdoou; por isso confio em que me perdoard mais este peccado, Respottdothe todavia: Porque no te castigou Deus até agora, seguese que serd sempre assim? Encher-se-4 a medida e ento vird 0 castigo. Ne dicas, peccavt, et quid accidit miki trite?—«Nao digas», avisa 0 Senhor, «tenho commettido tantos peccados ¢ Deus nunca me castigon..— Altissimus enim est patiens redditor™— <«O Altissimo é um juis pacientes. Quer dizer que vird um dia em que pagards tudo, e quanto maior tiver sido a misericordia, tanto maior ser4 o castigo. "Rom. 11, 33 * Beelus. 5, 4. 8 DUODECIIEA SEMANA DEPOIt oR PxNTKCOSTES, Affirma Sto Chrysostomo que ha mais pata receiar, quando Deus atura um peccador obstinado, do que quando © castiga sem detenga. Com effeito, observa Sio Gre- Boric, aquelles que Deus espera com mais paciencia, sao castigados depois com tanto mais rigor, se permanecem na sua ingratidao. Muitas vezes acontece, accrescenta o Santo, que os que fram tolerados por mai longo tempo, morrem de improviso, sem terem tempo de se converter Quanto mais Deus te houver favorecido com suas luzes, tanto maior serd a tua obcecagao e a tua obstinagfo no peccado, IL. E bem terrivel a ameaga que o Senhor dirige aos que so surdos acs seus convites: «Recissastes obedecer d inka vox; pois tem, eu tambem me rived quando mor- verdes»— Quia vocavi, et renuistis ... ego guoque in interity vestro ridebo’. Notemse bem estas duas palavras: go gueque— ex tambem; significam que, assim como o pec- cador zombou de Deus, confessando-se, promettendo e trahindo-o sempre, assim o Senhor zombaré delle na hora da morte.—Além disso diz 0 Sabio: €O imprudente que vecae na sua loucura, & como o cdo que torna outra vet 40 que tinka vomitado>®. O que Deniz 0 Cartucho ex- plica dizendo: «Assim como se sente nausea ¢ horror em Presenca de um cdo que devora o que tinha vomitado, assim Deus detesta a0 que volta a seus peccados, que na con- fissto tinha abominado.» ‘Meu Deus, eis-me aqui a vossos pés: eu sou esse animal mojento que de novo se péz a comer os fructos que pri: meiro detestéra, Nao merego misericordia, Redemptor meu; mas © sangue que derramastes por mim, me anima ¢ obriga @ esperar. Quantas vezes Vos offendi, e quantas veves me perdoastes! Promettera no Vos offender mais, © depois voltei ao que tinha vomitado, e Vés tornastes a * Prov, 1, 24 et 26. 8 Prov. 26, 11, rangarama, 9 jerdoar-me, Esperarei porventura até que me mandeis ao inferno? ou que me entregueis a0 poder de meu Pee do, desgraga maior ainda do que o proprio inferno ‘Nao, meu Deus, quero emendar-me,»e para Vos ser fiel, quero depositar em Vés toda a minha confianga; nas ten- 'tag6es quero sempre e immediatamente recotrer a Vés. "No passado ficime em minhas promessas e resoluc6es, minha esperanga e a minha forca, e assim poderei tudo: E Omnia possum in co qui me confortat!— «Tudo posso naquelle que me fortalecer. Concede-me, pois, 6 meu fJesus, pelos vossos metecimentos, a graga de me recom- igno de ser amado sobre todos os bens. S6 a Vos quero amar, mas para isso deveis me ajudar.— Vés tambem de- {vais aoxiliarme com a vossa intercessio, 6 minha Mae ) Maria. Guardaeme debaixo de vosso manto, e fazei que F-chame por vés em todas as tentagées. O' vosso. nome “seré a minha defeza. (II 82.) TERCA-FEIRA, O pensamento da morte faz perder o apego aos bens do mundo. Dives cum dormirt, nil secum aufer; apeietootlos suo, ct nibil inveniet—«O rico, quando dormir, nada leverd comsigo; brid os olhos, © nada achard» (lob 27, 19)- ss os sete, rin Ob guto bem apreca as cous © ign : ogee us ape ig ene om nas mote! Lasbre, poy misery meu indo de que toda a formes dete mundo sesben om tm li mpi, com um cose faehe: Ba bere tere de coder one a» tis dgodads ¢gure, O tml tr norde + Phil 4, 13, 10 UODECIMA SEMANA DzPOIS DE PENTECOSTES. do teu corpo até 20 da do jeizo, e tun tla eserd ou no oft, ou 20 in- ferno, para alli car eternamente, Endo nada acharés senfo o bem ou © mal que fires; tudo o mus teré acabado, LE certa a morte. © céus! sabem-no os christéos, accreditam-no, veem-no; como é, pois, que ha tantos que vivem no esquecimento da morte, como se nunca tivessem de morrer? Se depois desta vida nfo houvesse nem in- ferno nem céu, poderiam pensar menos na morte do que actualmente pensam? E porque é que vivem to mal como estdo vivendo? Meu irmao, se queres viver bem, procura viver 0 resto de teus dias sem perder a morte de vista. O mors, bo- num est indicum taum\—«O morte, quao boa é a tua sentenca!» Quio bem aprecia as cousas e dirige as suas acgGes, 0 que as aprecia e dirige tendo em vista a morte! — A lembranga da morte faz perder o amor 4s cousas deste mundo, diz Sao Lourengo Justiniani: Consideretur vitae terminus, et nom erit in hoc mundo quod ametur. Com effeito; todos os bens do mundo se reduzem, na palavra de Sao Jotio%, aos prazeres dos sentidos, ds riquezas ¢ as honras. Ora, tudo isto é bem desprezivel aos olhos do que reflecte em que dentro em breve se tomar pé ¢ serd sepultado para servir de pasto aos vermes. Foi effectiva- mente 4 vista da morte, que os santos desprezaram todos os bens da vida presente, Que louco nao seria o viajante que sé pensasse em fazer figura no paiz que atfavessa, e no se importasse gue assim se reduz a viver depois vida miseravel no paiz onde tem de ficar a vida toda? E nfo serd igualmente insensato o que s6 procura ser feliz neste mundo, onde se fica apenas uns poucos dias, e se arrisca a ser des- gragado no outro, onde deverd viver eternamente?—Quem Possue alguma cousa apenas por emprestimo, pouca affei¢ao * Beclus. 41, 3. ‘ro. a, 16, TERGAYERRA. n bens da terra nos so dados todos de emprestimo; seria, ‘pois, loucura ligar-sethes affeigdo, j4 que em breve os SShavemos de abandonar. A morte nos privard de tudo. “co I, Meu irmfo, todas as posses, todas as fortunas deste ‘mundo terminario com um ultimo suspiro, um prestito funebre, um baixar 4 cova. Em breve terds de ceder a outrem a casa que construiste; 0 tumulo ser a morada de teu corpo até ao dia do juizo, e depois iré ou ao "céa ou ao inferno, para onde a alma jé 0 terd precedido. E ento nada acharemos senJo 0 pouco que tivermos feito por amor de Deus; tudo o mais estaré acabado. Porque, pois, esperar, 6 meu Senhor? Esperarei até que venha a morte ¢ me encontre to miseravel ¢ enlameado de peccados, como estou actualmente? Se tivesse de morrer agora, morreria bem inquieto e mal satisfeito com a vida “que levei. Nao, meu Jesus, néo quero morrer to des ccontente. Agradeco-Vos por me haverdes dado o tempo de chorar os-meus peccados e de Vos amar, Quero co- megar, a partir de agora. Pezame sobre todos os males de Vos ter offendido, 6 bondade suprema, ¢ amo-Vos mais que todas as cousas, mais que minha vida, Dou-me todo inteiro a Vés; 6 meu Jesus, desde jé Vos abraco, ‘Vos aperto ao coragdo, ¢ Vos entrego toda a minha alma: In-manus tuas commendo spiritem meum', Para vola dar, ndo quero esperar até 0 momento em que o Proficiscere Ihe intimard a ordem de partir deste mundo, Nao quero esperar até entéo para Vos rogar que me salveis Tesus, sis miki Tesus—«O Fesus, sde meu Salvador». Salvaeme agora, perdoando-me e concedendo-me a graca de vosso santo amor. Quem sabe se a consideragio que estou Jendo agora, ndo serd o ultimo appello, a ultima misericordia que me fazeis? Extendei-me a vossa mao, 1 Ps. 30, 6. 6 meu amor, ¢ fazei-me sahir do lodacal da tibieza. Dae-me fervor, fazei que Vos obedega com grande amor em tudo gue pedis de mim.—© Pae Eterno, pelo amor de Jesus isto, daeme a santa perseveranga e a graga de Vos amar, mas de Vos'amar muito durante o resto de meus dias.—© Maria, Mae de misericordia, pelo amor que tendes a vosso Filho Jesus,’ obtende-me estas duas gragas: @ perseveranga e 0 amor. QUARTA-FEIRA. Os bens do céu sido ineffaveis. Et audivit arcana verbs, quae non let homini loqui— «Ouviu pales myseins, qe’ fe € pemiido ms nea soe (2 Cor. 13, 4). Sumario. bs aelicias do parsiso. Mio de tal ontem, bores pa dalas fuer slgune iden, But conics a eae reside um Deus omnipotente, que se empenbe em fazsr fel gee ma. ll nfo he nade que denprasey ea ide surge, tt Serer, Feliz de nds, termon n vent de nile entur men contrario, qual nfo seria x nossa affego, se por desgmaga nos viessemos * perder, so pensermos que por um nada perdemos uma felicdade eterne, I. Fagamos hoje algumas consideragses a respeito do Paraiso. Mas que diremos nés, se os santos mais illumi. nados nfo nos souberam dar uma idea das delicias que Deus reserva aos seus servos fieis? David nio soube dizer outra cousa sendo que o céu é um bem infinitamente desejavel: Quam dilecta tabernacula tua, Domine vir. futum!'—« Quo amaveis sto os teus tabernaculos, 6 Se- Bee das virtudes!»—Mas vés a0 menos, 6 Sdo Paulo, és que, num rapto sublime, podestes contemplar 0 céu, dizei-nos alguma cousa do que vistes. Nao, responde o Apostolo, 0 que vi ndo se pode exprimir. As delicias do Paraisa sio mysterios taes que nito é licito referilos; sto to grandes que € preciso gozal-as para as comprehender, + Pe 83, 2, QUARTA-PEIRA, 3 Tisdo que vos posso dizer é que nunca nenhum homem J terra viu, ouviu, nem concebeu as bellezas, as harmo- os gozos que Deus preparou para os que o amam', 1fo somos agora capazes de comprehender os bens Bio'céa, porque ndo conhecemos sendo os bens desta terra, ge 05 cavallos fossem dotados de razo e soubessem que bens do céu. # bello, numa. noite de verdo, vér o céu semeado de fstrellas; é agradavel, na primavera, estar junto de um lago anquillo e descobrir no fundo os bancos é’areia recamados ide hervas, e os peixes que brincam; € delicioso estar num Hardim cheio de flores e fructos, onde derivam alguns re- gatos, e esvoagam e cantam os passatinhos, Entdo excla- mos: Ob, que paraiso! Comol Isso seté 0 céu? Os Fprazeres do céu so totalmente differentes.—Para delles ‘azermos uma leve idea, basta considerarmos que no céu ‘-teside um Deus omnipotente, todo occupado em encher de delicias as almas daquelles a quem ama; € por isso, como ‘diz So Bernardo, alli ndo ha nada que desagrade, ¢ ha tudo quanto agrade: WVihil est quod nolis, totum est quod velis Tl. Conta-se que Lysimacho, quando certa vez. tinka grande séde, vendeu a propria pessoa, o' exercito e 0 feino, por um copo de agua para matar a séde. Quando ‘acabou de beber ¢ viu 0 copo jd vasio, exclamou, do yt fando da alma: «© Deus, que loucura foi a minha! Por uma breve satisfacgo vendi a felicidade de todo o resto de minha vida.» E falando assim, desatou a chorar tio copiosamente que as lagrimas podiam encher 0 copo es- vasiado.—Meu irmao, igualmente triste, ou antes, incom- "1 Cor, 2, 9 14 DUODECIMA SEMANA DEPOIS Dx PENTECOSTRS. Paravelmente peior seria a tua sorte, se tivesses a des- Braca de morrer em peccado e de te perder, Ferante 0 tribunal de Deus, essa satisfaegtio da paixao Pela qual 0 offendeste, mesmo a vida toda passada em delicias, se tal fosse possivel, havia de se te alfigurar me. nos que um copo de agua. Entio tu tambem, elevando os ellos ao céu, exclamarias em desespero: 00 brevem voluplatem summam felicitatem amisil — Ai de mim, por uma satisfacgdo passageira perdi o céu, que & o conjuncto Ge todos os bens, e perdi-o para sempre!—Lembrave que ‘uma das Penas que mais atormentam os reprobos no fernc, € exactamente o terem perdido o céu pela propria culpa e por um bem insignificante, Meu amabilissimo Jesus, vejo que eu tambem deveria + porém, sempre louvada e bemdita que me supportou, e em vez de me castigat, multiplicastes as gracas, as luzes © os convites Velo que me quereis salvo, que me quereis junto « Vos, todas as minhas forcas, com toda a minha alma; e Pro- imetto, para sempre disso me lembrar, fazer continuamente Actos de amor para comvosco ¢ assim desaggravar.-Vos de alguma maneira de todas as offensas que Vee fe Vos, Porém, que conheceis a minha fraquéza, fortaleceime com & Vossa graca e daeme a santa perseveranca, — Fasc elo amor da vossa e minba querida Me, Maria Sect sima, ("IE 131.) QUINTA-FEIRA. A santissima Eucharistia é uma fornalhade amor. Jntrodusit me rex in cellum vinariam, ordinavit in ie cariatem qa? Tei me introdurit na sun adegn, ordenou em min a ea ducer (Cant. 2, 4) quivravema, 15 com razto que os santot sempre considersram os san ‘como outros tantos thrones de ator, onde Jesus Christo inflamme ém santo amor as suas almat predilectas. Como serd entio pos- com as devidas disposigSes para receber ‘alms, que se prepara de si esta forrathe de amor, nko fique toda abrasada e ardente? jamos amar « Devs Ainda que a santissima Eucharistia seja a fonte de sas virtudes, tem todavia efficacia particular para abrasar_no amor de Deus, que € 0 apice da santi- isjum a pao ¢ agua, E Santa Maria Magdalena de i accrescenta que uma s6 communhao bem feita basta tdeet um santo : Dy red ia intradisrls es adega, ordenou em mim ¢aridade, Segundo Sao Gregorio de Nyssa, € a com nbo aquella adega mysteriosa onde a alma de tal }odo se embriaga do amor divino, que esquece a terra todas as cousas creadas; é esta propriamente a languidez produzida pelo santo amor. O Padre Francisco Olympio } dizia que nenhuma cousa é capaz de nos inflammar no amor divino como o santa communhao. Nem pode ser de outra forma; pois que © Verbo Eterno, que é © proprio amor, assegura que, vindo 4 ferra, nfo teve outro intuito sengo 0 de accender o fogo do. amor: Lgnem veni mittere in terram’. Como seré, Bolg, possivel que a alma que se prepara com as devidas disposicdes para receber dentro de si este fogo de amor, ndo fique toda abrasada e consumida?—Eis porque os santos sempre consideraram os altares sagrados como ou- tros tantos thronos de amor, onde Jesus Christo abrasa e inflamma as suas almas dilectas. "Lue. 12. 49. 16 DUOBECIMA SEMANA DEVOIS DE PENTECOSTES, Santa Catharina de Senia viu certo dia na mo do sacer- dote a Hostia consagrada semelhante a uma fornalha de amor, e admiravase a Santa de que os coragdes de todos 0s homens ndo ardessem todos e se consumissem em to grande incendie, Santa Rosa de Lima dizia que, quando commungava, parecialhe que recebia o sol, de modo que © seu rosto ficava to radiante, que chegava a offuscar a vida, e sabialhe da bocca tal calor, que a pessoa que Ihe dava de beber depois da communhio, sentia a mao quente como se a tivesse junto de um forno,— Finalmente © santo rei Wenceslau, quando ia visitar o Santissimo Sacramento, sentia‘se mesmo exteriormente inflammado em tamanho ardor, que 0 criado que o acompanhava Punha os pés nas pisadas do Santo para nfo sentir mais frio, I, Grande € 0 engano daquelles que deixam de com- mungar frequentemente, porque se sentém frios no amor divino. Diz Gerson que elles so como um homem que se no quer aproximar do fogo porque no tem bastante calor.—Dizia igualmente Sao Francisco de Sales: «Ha 25 annos que sou director de almas; e a experiencia me ensinou a efficacia indizivel da santissima Eucharistia Para proteger, fortalecer, consolar, e, numa palavra, di- vinizar as almas, quando commungam com fé, pureza ¢ devogao.» . Quanto mais frio sentirmos, mais nos devemos apro- ximar do Santissimo Sacramento, se 20 mencs desejamos amar a Deus. Se vos perguntarem porque que com- ‘mungaes tantas vezes, respondei com o mesmo So’ Ffan- cisco de Sales: «Ha duas classes de pessoas que devem commungar frequentemente: os perfeitos e os imperfeitos, 0s primeitos para se manterem na perfeigo, 98 segundos Para chegarem 4 perfeicao.» meu Jesus, Vés que amaes tanto as almas, j4 néo tendes mais provas a dar-nos de vosso amor. Fazei, Bon- SRXTALPEIRA. y (¢ infinita, que de hoje em diante Vos ame com todas ie 2 Vés, meu Redemptor, que, depois de haverdes a vida por mim, Vos daes a Vés mesmo neste ramento? Ah! meu Senhor, pudesse lembrar-e sempre ;vosso amor, afim de esquecer todas as creaturas ¢ f sémente « Vés, sem interrupgao e sem reserva. po-Vos, meu Senhor; +Fesus, meu Deus, amoVos todas as cousas, € 56 a Vés quero amar. Pego-Vos expulseis do meu coragdo todos os affectos que nfo im para Vés. Gragas Vos dou por me concederdes po para Vos amar e chorar os desgostos que Vos ii, Meu Jesus, desejo que sejais o unico objecto de as minhas affeigoes. Soccorrei-me, salvae-me; possa minha salvaco consistir em amar-Vos de todo 0 cora- SEXTA-FEIRA. Grandes penas de Jesus sobre a cruz. Despectum et novisslmum virorum, virum dolorum et scientem infrmitatem— ¢O mais despresado ¢ 0 ultimo dos homens; bo: mem de déres, e experimentedo nos trabalhos» (Is. 53, 3): infame, cheio de Summarie, Conenhplemos Jesus suspenso no mad {Pires © tormentos. Por for ests dilacerado pelos egoutes, pelos espinhos craves; cada um de seus membros tem seu soffrimento particular. Por intro esth afficto € triste, desolado ¢ desamparado de todos, mesmo do vino Pee. © que, porém, o atormenta mais, € a vista dos peccedos ‘rv rem commettides pelos homens, remidos 20 prego de seu sangue, ‘Ahl meu Redemptor, ea tembem sou um dos ingratos que entKo vistes Quem me déra ter morrido e nunca Vos ter offendido! I. Jesus na cruz! Que espectaculo foi para os anjos do céu vérem-um Deus crucificado! Que impressdo nos deve tambem fazer contemplarmos o Rei do céu suspenso num Patibulo, coberto de chagas, desprezado e amaldigoado 5. Affoor, Meditagien, 1, 2 18 DUODECIKA SEMANA DEPOIS DE PENTECOSTES. de todos, em agonia ¢ rorrendo de dér, sem consolagao! céus, porque € que padece tanto o divino Salvador, innocente © santo? Padece para pagar as dividas dos ho. mens. Onde se viu jamais tal espectaculo? o Senhor morrer Por seus servos! 0 Pastor morrer pos suas ovelhas! 0 Crea dor sacrificar-se todo pelas suas creaturas! Jesus na cruz! Hisabi o homem de déres, predito por Tsaias: virum dolorum. Kiko sobre esse ‘madeito infame, atormentado exterior ¢ interiormente. Exteriormente est dilacerado pelos agoutes, pelos espinhos e pelos cravos; de toda a parte corre o sangue, e cada um de seus mem. bros tem o seu sofftimento particular. Interiormente est afflicto ¢ triste, desolado e abandonado de todos, até de seu proprio Pae.—Mas o que mais o atormenta no meio de tantas déres é a vista horrenda de todos os peccados, que ainda depois de sua morte seriam commettidos pelos homens remidos ao Prego de seu sangue. Sim: 08 odios, os peceados imputos, os furtos, as blas- Phemias, os sacrilegios, numa palavra, todos os peccados Se aptesentaram entdo aos olhos de Jesus Christo, e cada um delles, com a sua malicia propria, veiu, qual fera cruel, dilacerar-Ihe 0 Coragdio.—Queixavase entio Jesus: E assim, 6 homens, que me Pagaes o meu amor? Ah, se vos soubesse agradecidos, morreria satisfeitol Mas, o vér tantos peccados depois de tantas déres; tamanha ingratidao depois de tao grande amor—eis o que me faz morter de Pura tristeza. — Ah, meu Redemptor! entre esses ingratos me vistes tambem a mim com todos os meus peccados. IL Meu amabilissimo Jesus! eu tambem concorri grande- mente para Vos atormentar na cruz, sobre qual estaveis morrendo por mim. Oxalé tivesse eu morrido e jamais Vos tivesse offendido! Meu Jesus e minha esperanga, assusta‘me a morte pela lembranga de que entdo terei de dar contas de todas as injurias com que paguei o amor que me haveis tido; anima-me, porém, a vossa morte ¢ sanpano, 19 faz esperar 0 perdso, Pezame de todo 0 coragio de # ter desprezado. Se pelo passado nfio Vos amei, quero Vos durante todo o resto da minha vida, © quero nhor, dissestes que, quando fosseis exaltado sobre a havieis de attrahir-Vos todos os coragdes: E+ eg0, altatus fuero a terra, omnia traham ad meipsum’: entes e vida, Supplico-Vos, arrebatae tambem 0 meu fio, que, pela'vossa graa, j4 suspira por Vos amar; jo permittais que ainda ame o lodo da terra, como no ssado tenho feito, . FrQuem me déra, 6 meu Redemptor, vér-me despojado je todo affecto terrestre, afim de que, esquecendo tudo, me lembre de Vés e sé a Vés ame! Espero. tudo da jgsa_graca. Conheceis a minha impotencia; ajudaeme, Vol-o pego, pelo amor que Vos fez acceitar uma morte dolorosa no monte Calvario. © morte de“ Jésus, 6 nor de Jesus, apossae-vos de todos os meus pensainentos, todos os meus affectos, ¢ fazei que de hoje em diante o:pense em outra cousa sengo em amar a Jesus, Ama- ‘bilissimo Senhor, attendei-me pelos merecimentos de vossa orte.— Attendei-me tambem vés, 6 Maria, que sois Mae SABBADO. Grandezas ineffaveis de Maria Santissima. prod, pi amen sett go ex ore Alta prod, prinogenia ane rim tabi de bossa do Alito, 6 primogenta atc de toda a ereatura> (Beles 24,5) 10, 12, 32. - 20 DUODECIMA SEMANA DEFOIS DR PENTECOSTES, ‘Sumario, Assia como o divino Redemptor, « Santissima Virgem pode ser tumbem chamada Alva primogenite de Deus. Primogenita na ordem ae ratureee s porque na creagio do universo, depois da gloria de si mesmo © de Jesus Christo, 0 Senhor teve em mira a de Maria, Primo- genite na ordem da graga,s porque mais do que qualquer outro foi chela de todas as gragas celestines: Primogenita na ordem da gloria, por ser 4 Rainha de todos os Santos. Fagamos um acto de fé acerca de todas tas grandecas da divine Mite; démos gragas « Deus em seu nome e pelos ‘ossos obsequios procureios desaggrs 4 de todos os ultrajes que ree I. B com razdo que a Igreja poe na bocca da Santis: sima Virgem este elogio da divina Sabedoria: Eu sahi da bocca do Altissimo como a primogenita; porquanto, semelhante a Jesus Christo, ella é verdadeiramente a Filha Primogenita de Deus, na ordem da natureza, da graca ¢ da gloria, Primogenita na ordem da naturesa, no quanto ao tempo, mas, como affirma Séo Bernardo, quanto 4 inten- G40; porque o eterno Artifice, projectando a formago do universo, dirigiu tudo, depois da sua propria gloria e de- pois dade Jesus Christo, para a gloria de Maria. —Por isso se “diz de Maria que ella nao sémente escolheu as cousas mais excellentes, mas d’entre as cousas mais ex- cellentes a optima parte; porque o Senhor a dctou, em Brau supremo, de todos os dons geraes e particulates conferidos ds demais creaturas: Optimam pariem elegit\, Maria € tambem a primogenita de Deus na o:dem da £7460; porque, sendo destinada a ser Mae de Deus, (0, desde o primeiro instante de-sua immaculada Concei igo, tao, enriquecida de gragas, que levava vantagem a todos os anjos € ‘santos juntos. —Nem deixou o grande cabedal de gragas desaptoveitado; mas, como estivesse dotada do uso per- feito Ga razdo desde 0 seio de sua mie, comecou desde logo e continuou sempre a fazel-o rendoso, mesmo, como dizem os theologos, a duplical-o em cada momento de sanmavo. ar Jonga vida. De sorte que ella pode dizer com ver- : Senhor, se ndo Vos amei tanto como o mereceis, q cop mienos Vos amei quanto me foi possivel & certo, como é certissimo, que Deus retribuiré a a um segundo as suas vbras3, seguese que a Bem- aturada Virgem & a primogenita de Deus tambem na fa. «De tal modo», diz Sdo Basilio, «que, como o es lendor do sol, a nosso vér, excede o brilho de todas as strellas juntas, assim a gloria da divina Mae é superior {&, © regozijemo-nos com Maria pela sua triplice pogenitura; em seu nome démos gracas a Deus, Ao Hiesmo tempo congratulemo-nos comnosco, porque a gran- ‘de uma Mie redunda em honra e vantagem dos filhos: ia filiorum patres eorum®. “Il. ‘pear Geer a Filkn primogenita de Deus na ordem i natureza, da graga e da gloria, Maria Santissima ¢ n mesmo faltam homens desnaturados que chegam 20 esso de blasphemar contra ella.—Se nos quizermos jastrar dignos filhos de tio grande Mae, ndo basta que "80 cuvir as injurias e blasphemias atrozes que muitas Vvezes ouvimos vomitar contra vés, 6 Virgem immaculada, "Rom 2.6. * Prov. 17, 6. 22 -DECIMA TRRCHIEA SEMANA DRPOis DE HENTICOSTES. Ob! quanto ‘ffendent!aquellas palavras impies 4 Majestade infinita de Deyse dé seu Filho unigenito, Jesus Christo! Quanto provagdm-a sua indignagto e nos fazem temer os sffeitos terridéis dg sua vinganca! Se com o sacrificio de nossa vida pudessemos impedir tantos ultrajes e blasphe- mias, sacrificalaiamos. de boa vontade, porque, 6 Me Santissima, desejamos amar-vos e venerarvos de todo o coragao, jd que € esta a vontade de Deus. E porque vos amamos, faremos quanto nos: fr possivel, para que de todos sejais honrada e amada, ‘ Preceitua o Evangelho, «amemos ao Senhor nosso Deus, de todo o nosso coragdo, de toda a nossa alma, com todas as nossas forgas, © de todo o nosso espirito;’«, por amor delle, amemos ao Proximo como a nés mesmos.» Ah, meu querido Redemptor Jesus, estou envergonhado Por vér que de vosso lado fizestes tudo para me obrigar So Wosso amor e que eu, por meu lado, fiz tudo, pela minha ingratido, para vos obrigar a abandonar-me. Se Pudessem voltar os annos de minha vida, quizera empregal- ©s todos em vosso servico. Mas jé que os annos no voltam mais, quero ao menos empregar o reste de minha vida em Vos amar e Vos agradar, misericordioso medico de minha alma, amo-Vos de todo 0 coragao, Amo-Vos, 6 bondade infinita, digna de um amor infinito, e nada desejo nem procuro sendo viver unica. mente occupado em Vos amar. «0 Deus omn: ipotente e misericordioso, de quem vem a graca de vossne servos Vos servirem bem e louvavelmente, concedei-me que sem fropego cora 4 consecugdo das vossas promessas.s ! Aug: ‘mentae sempre em mim o vosso amor, recordandome o que haveis feito © padecido por mim, ¢ nao permittais que eu torne a offender-Vos. Deixae-me antes morrer.— Doce Coracdo de Maria, sede minha salvacao, SEGUNDA-FEIRA. Necessidade da mansidao e da humildade para © religioso, Disete a me, quia wits sum et humilis corde; et iveniets requiem animabts vesris— cAprendei de mim que sou manso e humnilde de descanso para vosss almass (Matth. 11,29). Foipalmente quiz que de si aprendesem os seus disci- orecto’ Eso estas tambem at que Jesus exige par SEOUNDA-PEIEA. 25 smario. AS virtues que o Senhor exige oartieularmente dos reli- see vem oc commuatdade, Ho harieds 4 mentite, Quen ap fo delles; mas quem vive em je soltario nos desertos, fo precisa tanto del fisiunidade, se nfo & manso e humilde, cabiré cada dia em mil defeitos asceré uma vide foguieta, porgue € imposiel que nko sofa ou re JhensGes do superior ou desgostos dos compaaheiros, Para que’ serve ulos: Aprende! de mint, que sou manso e humilde de sularmente dos religiosos, que fazem profissio de imitar —Quem vive solitario nos desertos, po tem tanta necessidade destas virtudes; mas quem B vive em communidade, € impossivel que nfo soffra ou feprehensdes dos superiores, ou desgostos dos compa- yipheiros. Pelo que um religioso que nfo ama a mansido, fcahird cada dia em mil defeitos, ¢ passaré uma vida in- . O talho fusa dér; eis porque é indispensavel a paciencia. Postea dditio iucunditatis: depois seremos consolados, conforme yerinos sofirido. Deus é fiel, ¢ ao que soffrer qualquer a com resignago € por seu amor, promette que elle 10 Ihes serd recompensa, mas recompensa infinita- te superior a todos os nossos padecimentos: Ego pro- fblor twus sum, et merces tua magna nimis*— «Eu sou protector ¢ a tua paga infinitamente grander. Feliz, EG Fumilhacao tem paciencia; porque no fogo se provao HPturo © a prata, ¢ os homens, que Deus quer receber, na 9 Cant. 2,12, * Gon, 15, 1. 32 DECIMA TERCEIRA SEMANA DEPOIS DE PENTECOSTES, Sornatha da humithagao.r* Portanto, ge quizermos sofirer ¢om paciencia, mister & que ao amof. dé Deus unamos @ humildade. O que commetteu um péccado mortal, lance um olhar sobre o inferno: merecido, e assim’ soffrer4 com aciencia qualquer desprezo ¢ qualqier dér.—Nas humi- Ihagdes € que se manifesta a santidade, Um tal tido or santo, mas ao receber alguma injuria fica todo per- turbado € queixa-se @ todos. Que prova isso? Prova. que nao & ouro, mas chumbo. Maldito amor proprio que quer intrometter-se em ltodas a8 nossas acg6es! Mesmo nos exercicios espirituas, na ora- $40, nas penitencias e em todas as obras de devogio elle acha interesses seus, Nao ¢ raro as almas espirituaes ca- hirem neste defeito. — Mulicrem fortem quis invenict?— Qual € a alma forte que livre de toda paixdo. e inteira- mente desinteressada continue a amar Jesus Christo entre 08 desprezos ¢ soffrimentos, entre as desolagées interiores € as contrariedades da vida? Salomao diz que taes almas sto verdadeiras pedras preciosas; vem trazidas da extremi- dade da terra e por isso so rarissimas; Procul et de ul- timis finibus pretium eius'. . Meu Jesus crucificado, eu sou um daquelles que ainda em suas devogées buscam apenas 0 proprio gosto e a Propria satisfacgo; sendo assim todo differente de Vés, que por meu amor levastes vida attribulada e falta de todo allivio, Dae-me © vosso auxilio, porque de hoje em diante quero buscar tao sémente © vosso agrado e a vossa gloria. Quero amar-Vos desinteressadamente; mas sou fraco; Vés me dareis a forca para assim fazer. Fis- me aqui; sou vosso, disponde de mim conforme a vossa vontade; fazei com que Vos ame, e nada mais Vos pego, — © Maria, minha Mie, pela vossa intercesséo obtendeme a fidelidade a Deus. * Beclus, 2, 45. # Prov, 31, 10. QUENTA-PEA, 3B QUINTA-FEIRA. "Jesus no Santissimo Sacramento nao deseja senaio dispensar gragas. Mecom sunt diviae ut ditem diligentss me, et thesnuros orum repleam— +Commigo estfo a8 riquesss, pare enriquecer os que me amam encher 0s seus thesouros> (Prov. 8, 18 et 21). ‘Summerie. Porque Jesus Christo & a bondade infnita, tem desejo ex: smo de nos communiear seus bens, e esté sempre prompto a fazernes Bipem. asia comudo v experiencia que no Santissino Sacramento da Bucharistia Jesus dspensa as gragas mals facil e abundantemente, Felies, tanto, de née, se, conforme nolo permittir nosto estado, procararmos ‘equentemente vito, entreteroos com elle ereeebelo em nosso peta! zh graga que sobretudo The devemos pedir, 6 que not abrase mais © mais fein set s4nt0 amor. I. Consideremos como Jesus na Eucharistia dé audienci ‘a todos, para a todos fazer bem, Segundo Santo Agostinho, Ho Senhor deseja mais dar-nos suas gragas do que nés re- bel-as. A razio € que Deus é infinitamente bom, e a Pbondade da sua natureza € expansiva, de sorte que tende Wa communicar seus bens a todos. Deus se queixa das almas que Ihe nilo vao pedir gracas. «Porgues, diz elle, «nao mereis mais vir a mim? Tenka sido para vis terra esteril de ouro, querendo Jesus sob esta figura mostrarnos a multid’o de gracas que em sua miscricordia nos deseja onceder: Vidi praccinctum ad mamillas sona aurea®. PiJésus Christo est4 sempre disposto a fazer-nos bem; mas, Kdiz o discipulo que é especialmente no Santissimo Sacra: Mento que dispensa suas gragas com maior abundancia E 0 Bemaventurado Henrique Suso dizia que na Santissima 'Eucharistia Jesus attende de melhor vontade 4s nossas " supplicas, Sten 2, 31 Apoe. 1, 13, S. Affonso, Meditagiea. 1H. 3 34 RCIA THRCEIRA SEMANA DRPOIS px, FRNTECOSTES, Assim como uma mée corre aonde estd seu filhinho para nutril-o allivial-o de seu leite, “assim o Senhor, 1é do sacramento do Amor, nos chama para si e diz: «Sereis como meninos gue sua mae aperta com ternura sobre o Seio» — Ad ubera portabimini,.., Quomodo si cui mater blandiatur, ita ego consolabor vost, © Padre Balthazar Alvarez viu a Jesus no Santissimo Sacramento com as dos chelas de gragas, procurando distribuil'as, mas néo havia quem as quizesse. Oh, feliz da alma que fica 20 pé do altar, afim de pedir gragas a Jesus Christo!’ Dentro de pouco tempo subiré ao mais alto gréu de perfeigao, € ficard enriquecida de meritos immensos para o céu. UL. © insensatos mundanos, exclama Santo Agostinho, desgracados, onde ides buscar contentamento para 0 vosso coracio? Vinde a Jesus; s6 elle vos pode dar a felici dade que buscaes. E tu, minha alma, nao sejas do numero destes insensatos; busca a Deus s6, que encerra todos os bens. E, se 0 queres achar jé, eil-o aqui perto de ti no Santissimo Sacramento. Dizelhe © que quizeres, porque Para te consolar e ouvir é que elle estd neste cibori Pedelhe sobretudo o dom de seu divino amor. Feliz de ti, se Jesus Christo fizer 0 favor de abrasarte todo em seu amor. Entdo, de certo, néo amarés, mas desprezards todas as cousas terrestres, Ab, meu Jesus! fazei-Vos conhecer e amar! Sois tao amavel e tudo exgotastes para Vos fazer amar dos ho- ‘mens; como, pois, s4o tio poucos entre elles os que Vos amam? Ail tive eu mesmo a desgraga de ser do numero desses ingratos! Fui grato 4s creaturas que me fizeram algum favor; sémente para comvosco, que Vos déstes a mim, levei a ingratidao até ao ponto de Vos desagradar muitas vezes gravemente, e de Vos ultrajar com os meus peccados. Comtudo, vejo que, em vez de me abandonar, * 1s. 66, 1213, SEXTAWRIRA, 38 persistis em me procurar e pedir 0 meu coragio. Sinto que continuaes a intimar-me 0 preceito amoroso: Diliges Dominum Deum tuum ex toto corde tuo\—«Amards ao Senhor teu Deus dé todo o teu coragtor. J que, apezar da minha ingratidao, quereis ainda ser amado por mim, tomo a resolugo de Vos amar. Desejaes meu amor, e eu tambem, pelo soccorro da vossa graca, no desejo outra cousa senéo amar-Vos. Amo-Vos, meu amor, meu tudo; + esus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as cousas, Ajudae-me a amar-Vos, pelo Sangue que por ‘mim derramastes, Meu amado Redemptor, nesse Sangue precioso é que ponho todas as minhas esperancas, e tam- bem na intercessio da vossa Mae Santissima, cujas oragées quereis concorram para a nossa salvagdo.— O Maria, minha ‘Mae, rogae a Jesus por mim; inflammacs com amor divino * todos os que vos amam; abrasae-me tambem, a mim que tanto vos amo, (*II 168.) SEXTAFEIRA. A priséo de Jesus e as mas occasiées. Vineula ius alligature esutaris —«Os seus vinculos sfo une Tigadura salatar» (Beclus, 6, 31). rs co um bp te Summarin uss en om jr de Oli ossvloae Ha mean ats ols nae lng she fore Setar cou an nutter» ants olen poms man ' Jerusslem, O Redemptor divino quiz sujeitarse a to grande ignominia recer a grage do sacudinnos as eadeias do peccado, que sto Bh nomser Cuaron Chrno, mito deve eres por slg tp se preciptaram por cnusa dellas num abysmo de inigudade e extfo agora ardendo no inferno! I. Judas entra no horto ¢ entrega o seu Mestre com ‘um beijo. No mesmo instante os insolentes ministros lan- cam-se sobre Jesus. Um 0 prende, outro 0 empurra, outro ‘© fere, outro 0 amarra como um malfeitor. Comprehen- * Marth, 22, 37 36 DECINA TRRCEIRA SEMANA DEFOIS DR PRNTRCOSTES derunt Tesum et ligaverunt eum'— «Elles prenderam Fesus ¢ 0 ligaram>. Céus| que vejo! um Deus encadeado! E porque? ...e por quem? Pelas suas proprias creaturas; Pelos homens, esses vis vermes da terra. Anjos do céu, que dizeis vés? E Vés, meu Jesus, porque Vos deixaes ligar? Que teem de commum comvosco, pergunta Sdo Bernardo, os ferros dos escravos e dos criminosos, com © Rei dos reis, com 0 Santo dos santos? O rex regum, quid tibi et vinculis? Ab, meu Senhor, que na vossa infancia fosseis ligado estreitamente nos panninhos por vossa divina Mae, com: Prehendo; que no sacramento do Altar fiqueis como li- gado e encarcerado dentro do ciborio, debaixo das especies eucharisticas, comprehendo-o igualmente. Mas que fosseis amarrado como um malfeitor pelos perfidos Judeus, para serdes arrastado pelas ruas de Jerusalem de um tribunal @ outro; para serdes preso a uma columna no Pretorio de Pilatos ¢ alli sofirerdes a mais horrivel flagellagio; para serdes, emfim, levado ao Calvario e pregado num infame Patibulo: ah, meu Jesus! € 0 que ndo devieis ter per- mittido, Se os homens se atrevem a commetter tdo grande sacrilegio, Vés, 0 Todo-poderoso, desatae-Vos ¢ livrae-Vos dos tormentos ¢ da morte, que os ingratos Vos preparam, ‘Ja comprehendo, porém, o mysterio: meu Senhor, nao fo as cordas que Vos ligam, mas sim o amor; foi o amor que Vos ligou € Vos obriga a soffter ¢ morrer por nds.—Pelo que Séo Lourengo Justiniani exclama: E vés, Maria Santissima, ajudae-me; impetrae-me a graca de executar a divina vontade, na qual consiste a minha salvagdo, e nada mais vos pego. (*II 171.) TERCA-FEIRA. Do grande mal que é o desaffecto de Deus. i tas ius — «O im Similiter sutem odio sunt Deo impius et impie pio © a impiedade silo igualmente odiosos « Deus» (Sap. 14, 9). "Pe rgz, to, Act, 13) 22. 46 ——DECHMA QUARTA SEMANA DxFOIs DE PENTECOSTES, Stnmario, Cot quio grande 6 a ruine que tar comsigo 0 pec- ado mortal, Faznos primexo perder todos os merecimentos anteriormente fdquitides, por grandes e immensos que sejam. Além disso, de filho de Deus torna o homem escmvo de Lucifer; de amigo quetide, inimigo summamente odioso; de heideiro do céu, um condemnado no inferno, Se 0 anjos pudessem chorar, chorariam de compsiifo vendo = deageage de uma alma que commette peccado mortal © perde a graga de Deus E née fearemos indiferenter) ferde egg de > 1. Consideremos 0 miseravel estado de uma alma em peccado mortal. Vive separada de Deus, seu soberano bem, de tal sorte que nao pertence a Deus, assim como Deus no pettence a ella: Vos non populus meus, et ego non ero vester}. Nao 86 jé ndo & della, mas aborrece-a e con- demna-a ao inferno. —0 Senkior no odeia nenhuma das suas Creaturas, nem mesmo as feras e as viboras: Nihil odisti corum quae fecisti*. Mas 0 Senor nio pode deixar de odiar os peccadores. Sim, porque Deus odeia neceséaria- mente o peceado, que é seu inimigo inteiramente contrario 4 sua vontade, ¢ assim odiando o peccado, deve necessaria- mente odiar tambem o peccador que se conserva unido a0 peccado: Similiter autem odio sunt Deo impius et in bietas cius—¢O impioe a ie is eealee Caan sua impiedade sto igualmente Oh céus! se alguem tem por inimigo um principe da terra, nfo pode mais dormir tranquillo, receiando com razdo a cada instante 2 morte. E 0 que tem por inimigo a Deus, como pode viver em paz? A ira de um principe Pode-se fugit, jé buscando esconderijo numa floresta, j4 ausentando-se para outro paiz; mas quem pode escapar ds mios de Deus? As vossas mos, Senhot, exclamava David, quer eu suba aos céus, quer desga ao inferno, alcangar-me- oem toda a parte: Elenim illve manus tua deducet me®, Desgragados peccadores! Elles sio amaldigoados por Deus, amaldigoados pelos anjos, amaldigoados pelos santos, Ost, 9, 8 Sap, un, 25, Ps, 438, 10, ‘TERGATEIRA, ar amaldigoados até na terra por todos 0s sacerdotes e reli- giosos, que todos os dias, ao recitar 0 Officio divino, pro- nunciam esta maldigio: Maledicti gui declinant a man- datis tuis'\—«Amaldigoados os que se apartam dos teus mandamentos».—Além disso 0 desaffecto de Deus traz comsigo a perda de todos os merecimentos. Ainda que algum tivesse merecido tanto como um Séo-Paulo Ere- mita, que viven 98 annos numa gruta; tanto como um Sav Francisco Xavier, que conquiston para Deus mi- Ih6es de almas, tanto como o apostolo Sto Paulo, que, segundo Séo Jeronymo, adquiriu mais merecimentos que todos 0s outros apostolos: se commettesse um s6 peccado mortal, perderia tudo: Ommnes iustitiae eius, quas fecerat, non recordabuntur®— «De nenhuma das obras de justica que tiver feito, se fark memoria». I, Téo grande é, portanto, a ruina que traz comsigo © desaffecto de Deus: de filho de Deus faz 0 homem tomarse escravo de Lucifer; de amigo quetido, inimigo summamente odiado; de herdeiro do céu, um condemnado 20 inferno. Pelo que dizia Sao Francisco de Sales, que, se 0s anjos pudessem chorar, chorariam de compaixio vendo a desgraga de uma alma que commette peccado mortal e perde a graca de Deus.—O que é, porém, mais triste, € que os anjos chorariam, se fossem susceptiveis de cherar, e 0 peccador nao chora, Quando se perde um animal, uma ovelha, diz Santo Agostinho, jé nao se come, nao se dorme, nZo se faz senfo chorar; mas perde-se a graga de Deus, e comese, dormese ¢ ndo se choral Eis, pois, o triste estado a que me tenho reduzido, 6 meu Kedemptor, Para me tornardes digno da vossa giaya, haveis empregado 33 annos de suores e soffrimentos, ¢ eu, por um instante de prazer envenenado, por um nada, a desprezei e perdi. Dou gragas 4 vossa misericordia, 1p 118,21 Be 18, 24. 48 Deca QuanTA SEMANA DBYOIS DE FENTECOSTES. que me dé ainda tempo para a recuperar, se 0 quizer. Ab! sim, quero fazer tudo para a readquitir. Dizeime 0 que devo fazer para obter o perdao, Quereis que me arre- Penda? Pois bem, 6 meu Jesus, arrependo-me de todo o coragdo de ter offendide, a vossa bondade infinita. Que- reis que Vos ame? Amo-Vos sobre todas as cousas, Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as cousas, No passado liguei demais 0 coragdo ao amor das crea- turas das vaidades. De hoje em diante, quero sé viver Para Vés, e s6 amar a Vés, meu Deus, meu thesouro, minha esperanga e minha fortaleza: Diligam te, Domine, Fortitude mea'—«AmarVosei, meu Deus e minha for. falesa>. Os vossos merecimentos, as vossas chagas, 6 meu Jesus, devem ser a minha esperanca e a minha fora. E de Vés que espero a forca de Vos ser fiel. Recebeime, Pois, na vossa graca, 6 meu Salvador, e nao permittais que. jamais Vos abandone. Desprendeime de todas as affeigdes mundanas, e inflammae o meu coragio no vosso santo amior.—Maria, minha Mae, fazei com que me abrase no amor de Deus, como sempre vos haveis abrasado, (II 88.) QUARTA-FEIRA. A resurreigao dos corpos no dia do Juizo. (Eeclus. 24, 30). . = sugittmario. Se & verte gun fies as gras ptm pees ton de vn tambo wert ao que aS por mae oe f cone «graph sprean du peneersnge: Se, Se nee salvar, sejamos devotos des ic tn dein gun key tsemmor tis on sos neeiddes; © quo cen te oi nor ren tenance C:inhisbos so ver no sr mika, wamosor auc dehy dann unto, Mata de nds ae reanees es dose oe el gto se condanne un wetaaie dee te Vine iu poderemos esperar LA perseveranga € um dom todo gratuito de Deus ue nds no podemos merecer. Todavia, como ensinam Santo Agostinho e outros, podemos obtela pela oragdo © pela oracdo quotidiana, porque ella nfo é dada toda de uma vez, mas dia a dia. Ora, se é verdade que todas 88 gracas que Deus nos concede passam pelas maos de Maria, segundo a palavra de Sao Bernardo: Tonum nos habere voluit per Mariam— «Deus quis que tives. semos tudo por meio de Maria>; tambem serd certo que 86 por meio de Maria poderemos esperar e conseguir a graca suprema da perseveranca, _Certamente a conseguiremos, se com confianga a pe- dirmos sempre a Maria, mas especialmente no tempo Gas tentagées, Ella mesma, como Ihe faz dizer a santa Igreja, | tndulg, de too dias cada ves; plenain (ous condigbs ordvaras), uma vee Jor mez, para os qué, durante um mes, resarem eta oragto menos tes veses por dis, em diferentes intevalon sanmapo.” 57 promette-a a todos os que fielmente a servem: Os que obram por mim, no peccarao, E em outro logar: Mea est fortitude, per me reges regnanti— sMinka é a forta- lesa, por mim reinam os reiss. Minha € a fortaleza, diz S Maria; Deus depositou na minha mao este dom, tio in- dispensavel para vencer os inimigos espirituaes, para que eu 0 conceda aos meus devotos. E por minha mediagio que os meus servos reinam e dominam sobre todos os seus sentidos e paix6es, e assim se fazem dignos de rei- j,. Marem eternamente no céu, Ao contrario, pobres das almas que deixam de ser devotas de Maria e de se recommendar a ella em todas as occesi6es. Diz Santo Anselmo, que assim como aquelle que se re- commenda a Maria e por ella € olhado com amor, nao se pode perder, tampouco € possivel que se salve 0 que nao € devoto de Maria e por ella protegido, —Sao Fran- cisco de Borja perguntou certa vez a uns novicos, de que Santo eram mais devotos, e achando que alguns néo tinham devogao especial a Maria, avisou ao Mestre dos ¥ novigos que olhasse com mais attengio para aquelles des- * gragados; e succedeu que todos perderam miseravelmente |, vocagio, e quic4 com esta tambem a alma, - IL E com razdo que Sao Philippe Neri dizia sempre } a seus confessados: «Meus filhos, se desejaes a perseve- ranga, séde devotos da Virgem Maria.» Toméra que todos os homens amassem esta benignissima e amantissima Se- nhora, € a ella recorressem sempre e immediatamente no momento da tentagio! Quem jamais havia de cahir? Cae © perdese quem nao recorre a Maria Assim como os pintainhos, vendo no ar o milhafte, cor- tem logo a recolher-se debaixo das azas da mie; tambem nés, diz Santo Thomaz de Villanova, quando os demonios nos vierem tentar, devemos logo, sem discorrer sobre as 58 ——DHEINA QuiwTA semana DEFoIS! DE PENTHCOSTES, tentagoes, metter-nos debaixo do manto de Maria, e dizer com confianga: Sub tuum pracsidinm confugimus— «Re- Sugiamonos ‘sob a vossa protecco>. © Déus Eterno, gracas Vos dou, porque me esperastes quando estava em peccado, me perdoastes tantas vezes € me preservastes de tantas faltas, nas quaes teria cahido sem 0 soccorro da vossa graga e a protecgio da minha Mae, Maria, Ail meus inimigos nao cessarao de me tentar até 4 morte; se ndo me sustentaes, Vos offenderei ainda mais do que d’antes.—Pelo amor de Jesus Christo e da Virgem Maria, dae-me a santa perseveranga, Pego-Vos, pelos merecimentos do vosso Filho amadissimo, ¢ pela intercesstio de Maria, a graga de ndo me separar mais de Vés. Certo estou, 6 meu Deus, de que, se continiio a Pedir-Vos a perseveranga e a recommendar-me 4 Rainha do céu, obtelaei, pois promettestes ouvir dquelle que Vola pede. A graga, pois, que Vos peco, em nome de Jesus e Maria, é ndo deixar a orago, Fazei que, nas ten- tag6es, jamais deixe de recorrer a Vés, invocando os santos nomes de Jesus ¢ Maria. Por este meio, 6 meu Deus, tenho a firme esperanca de morrer na vossa graca © ir amar-Vos no paraiso, onde viverei seguro de no me separar mais de Vés e de Vos amar per seculos eternos, — © Maria, Mae da perseveranga, rogae por mim. DECIMO QUARTO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES. Os dous senhores e as almas tibias. Nemo potest duobus dominis servire ‘ dous seahores» (Maith. 6, 24). «Ninguem pode serve Summario. As almas tibias parece que querem servir 20 mesmo tempo Deus ¢ a0 mundo; « Deus, preservando-se de culpas graves; 20 mundo, ‘fo fazendo caso das culpas veniaes deliberadas, Escutem, porém, estas Pobres illudidas © que diz Jesus Christo no Evingelho de hoje: «Nin- guem pode servir a dous senbores; porque, ou ha de amare um e odiar pouixeo, 59 to outro, ou ae speger a um © abandonar 0 out.» i como que der gue cedo ou tarde acabaré por eahir em culpes graves, Além disto 0 dengragado levaré vide infle; porque fiaré privado tanto dos pruzeret do mmdo como das consolagGes exlstiaes I. Quem déra que esta maxima de Jesus Christo fosse bem comprehendida por aquelles que vivem na tibieza voluntaria. Os ingratos repartem entre Deus ¢ as creaturas © corago que Ihes foi dado para amar a Deus s6 ¢ ainda € muito pequeno para o amar devidamente. Com outras palavras, elles silo to insensatos que se persuadem que podem servir ao mesmo tempo a dous senhores, tio op- postos entre si, como o sio Deus e o mundo. Querem servic a Deus, preservandorse de peceados graves; © a0 mundo, nfio fazendo caso das culpas veniaes, em que caem por habito e com advertencia, Taes almas dizem: Os peccados veniaes no nos fazem perder a graga divjna; por poucos que sejam, impedir- noso de nos santificarmos; mas assim mesmo nos salva- remos, e € quanto basta.—Mas 0 que fala assim, ouga © que assegura Santo Agostino: Ubi dixisti, satis, ibi periisti—Dines que basta que te salves? Sabe, porém, que desde que disseste dasta, comegou a tua perdi¢ao; por- quanto a alma nunca fica no logar onde cahiu, mas vae sempre abysmando-se mais e mais. Santo Isidoro dé-nos disso a razo, porque com justiga Deus permitte que os que nio fazem caso dos peccados veniaes, em castigo do seu desleixo e do pouco amor que the teem, caiam afinal em peccado mortal. Demais, é natural que o habito dos peccados leves in- cline a alma aos peccados graves, exactamente como certos eves mas repetidos incommodos da saiide corporal aca- bam por fazer a pessoa cahir numa enfermidade mortal levala ao tumulo.—Em summa, persuadam-se bem as almas tibias, que cedo ou- tarde se verificard tambem nellas a palavra de Jesus Christo: «Ninguem pode servir a dous 60 rea quinra semana pxvoF® PF PENTRCOSTES: a um e odiar ao outro, senhores; porque ou ha de amaf © outro.» ou se apegar a um e abandonar Tl, Mas além do grave risco qu Core™ as almas tibias de cahirem em peccado mortal, #¢™ ‘ambem uma vida infeliz na terra, sem, jamais achare™ * Pa% nesse estado, Sim, pois que por um lado esta? Privadas dos prazeres do mundo; por outro, nfo pode™ Stborear as consola. oes espitituaes. Justo é que, asai™ Como ellas sto ava- rentas para com Deus, Deus o sei* igualmente para com ellas.—Tinha, pois, Santa There® "40 de dizer: «Do peccado deliberado, por pequeno 4° Sia, livre-te Deus.» E athutes: cApromeae a Degs We tivessemos medo, no do demonio, mas de todo ° Peceado venial, que nos pode prejudicar mais do que '9d05 05 demonios do inferno. Meu amabilissimo Jesus, eu so# 5, . tibias que, de encontro 20 voss?, “sino, tive a pre- tenso de servir a dous senhores, imteiramente oppostos, como 0 sois Vés e 0 mundo, #945 Vos dou, meu Senhor, por ndo me haverdes ai%¢8 expulso de vosso servigo, conforme tinha merecido. Em ver disso fazcis me ouvir a vossa voz, que me cid a0 vosso amor: Prache, fili mi, cor tuum miki? ‘Meu fitho, déme teu coragto. Animado pela vossa PO48de, proponho ser de hoje em diante todo vosso, e as#* Vos de todo o meu coragio. Amo-Vos, 6 meu soberand Bers #°-Vos, meu Deus, digno de amor infinito; e porque Y°S 9%» artependo- me de todas as minhas ingratidoes P'"@ Comvosco, € pro- testo antes querer morrer, do que "ar @ Vos dar des- gosto. Vés, porém, 6. meu Jesus, Pel amor de Maria Santissima, abengoze este meu prop”? © daeme a graca de Vos ser fiel. «Guardaenos, se™#% om vossa per- uma daquellas almas 1 Prov. 23, 26. SKGUNDA-FRIRA. 6r ‘petua clemencia; ¢ pois que a humana fraqueza, sem vossa E assistencia, cae a cada passo, fazei, com vossos auxilios, que eu fuja do que é nocivo, e tenda sempre ao que me € saudavel.»t (#1V 48.) ° x SEGUNDA-FEIRA. Da mortificagao interior. Qui autem sunt Christi, carom susm crucfixerunt eum vitis crucifcarim & carne et concupiscentiis—«Os que sto de C! ios © concupiscencias» (Gal. 5, 24). F— summario. B certo que a1 painSen, dirigidas segundo easto oa peu F dencia, fo sémente nfo causam prejuito, seno antes trazem proveito “alma, Ao contrario, nfo sendo bem dirigidas causam eparavels, [porque escurecem 0 espirito © nfo permittem vér nem © bem nem o mal. Le Bis porque os mestres da vida espiitual recommendam tanto a morticagio interior, Se nflo quizermos ser dominados pelas nossus paixtes, indague mos qual sein x nossa paixto dominante ¢ esforeemo-nos para a subjugar, lembrando-nos, porém, de que o melhor meio para sermos bem succedi- | dos € a oragto, I. As paix6es, por natureza, nfo so mds nem nocivas, ‘e, quando dirigidas conforme a razdo ¢ a prudencia, néo F sémente no trardo prejuizo, sendo proveito 4 alma. Se, a0 contrario, ndo so bem dirigidas, causam ruinas irre: paraveis para o que as segue; pois que escurecem a fi verdade e ndo permittem vér 0 que seja bom e o qué seja mau. Por isso 0 Ecclesiastico rogava a Deus que 0 livre de umia alma escrava das paixtes: Animae irreverenti et infrunitae ne tradas me*— «Nao me entregues @ uma alma sem respeito ¢ sem recator Kis em que consiste propriamente a mortificacao in- terior, do recommendada pelos mestres da vida espiritual em regular e moderar os movimentos da alma. Muitos poem toda a sua diligencia na compostura exterior, no porte modesto respeitoso, ao passo que no coragéo 1 Or, Dom, cur, * Keclus. 23, 6. 62 DECIMA QUINTIL SEMANA DEFOIS Bk PRNTECOSTES. consetvam. affectos peccaminosos contrarios 4 justica, 4 catidade, 4 humildgde ou 4 castidade. Sao semelhantes 0s Phariseus, hypocritas depravados, e em vez de des- atraigarem og vicios, encobrem-nos com o manto da devocto, Mas, aielles! De que serve; pergunta Sio Jeronymg, absterse de alimentos e guardar 0 coragao sheio de orgulho? abster-se de vinho, e ficar fora de si pela ira? Notemos bem que todas as mds paixdes nascem do amor proprio. E este o inimigo principal que nos ataca, © devemos vencel-o pela abnegagtio propria, segundo o que ensina Jesus Christo: Aéneget semetipsum'— «Renuncie @ 8 proprios. Emquanto nfo expulsarmos do coragdo 0 amor proprio, nfo pode entrar nelle 0 amor de Deus, — @ Bemaventurada Angela de Foligno que tinha m: medo do amor proprio. que do demonio, porque o amor proprio tem mais forga do que este para nos fazer cahir, E Santa Maria Magdalena de Pazzi accrescenta: O nosso Peior traidor € 0 amor.-proprio; faz como Judas: entrega- nos com um beijo. Quem o vence, vence tudo; quem nio © vence, esté perdido, Tl. Colhamos como fructo desta meditagdo o indagarmos qual seja a nossa paixto.dominante, e empregarmos todos os meios para a dominar, visto que deste triumpho de- pende toda a nossa’ salvacdo. Procuremos, além disso, se- gundo 0 conselho ‘de Cassiano, dar a nossas paixtes outro objecto, de sorte que de viciosas se tornem santas. Um & propenso 4 ira; pois mude © objecto e vire a sua iracundia ao odio do peceado, que mais damno Ihe pode causar do que todos 0s demonios do inferno. Outro é Propenso a amar pessoas de boa presenca; volte o seu amor para Deus, em que se reunem todas as qualidades amaveis, — Ah! elevemo-nos acima da terra, e appliquemo- * Matth. 16, 24, ‘TERGAFEIRA, 63 nos a amar com todas as forgas o Bem supremo, que nos fez para si, e nos espera 14, no céu, para nos fazer felizes pela sua propria gloria, © melhor remedio, porém, contra as paixdes ¢ recom- mendarmo-nos a Deus, afim de que nos livre dellas. Quanto mais nos molestarem as paixées, tanto mais devemos multi- plicar as oragses. Nesses instantes, de pouco servem os raciocinios, pois que a paixdo escurece tudo; quanto mais se reflectir, tanto mais seductor se nos affigurard 0 objecto que a paixtio nos suggere. Entio no ha outro remedio sendo o recurso a Jesus Christo ¢ a Maria Santissima, di- zendo ¢ repetindo: Domine, salva’ nos, perimus'— «Se- nhor, saluae-nos, sento perecemos». Néo permittais, Se- hor, que me aparte de Vés.—O santa Mée de Deus, refugio-me debaixo da vossa protecgtio: Sub tuum prae- sidium confugimus, sancta Dei Genitrix, Sim, meu Deus, é isso que proponho fazer sempre. Vés, porém, que conheceis 0 meu nada, dae-me forca para executar esta minha resolugdo, Fazei-o pelos mereci- mentos de Jesus Christo, ¢ pela intercesstio da minha que- rida Mae, Maria. (*III 570.) TERCA-FEIRA. A cada momento nos aproximamos da morte. Omnes morimur, et quest aquae dilsbimur in terram, quae non revertuntur— «N6s morremos todos, ¢ corremos pela terra como ‘as agaas que nfo tornam meise (2 Reg. 14, 14)- Summario, % certo que fomos todos condemnados & morte. Todos \scemos com & corda a6 pescago, e a cada passo que damos, aproximamo- nos mais do patibulo, Que Ioucura, pois, a nossa, sabermos que havemes de morzer, erernos que do momento da morte depende uma eternidade de goror ox de penss, e nfo pensermos no ajuste das contas © nos meios para ter uma bos morte! Compadecemo-nos dos que morrem subita- mente, Porque 6 pois, que nos expomos ao isco de nos sueceder a 1 Math. 8, 25, 64 DECIMA QUINTA SEMANA DEPOIS DR FENTRCOSTES. tmesma desgrage? Quem sabe te este anno nfo é 0 ultimo da nose Vidn?... Quem stbe se ainda amenheceremos? 1. E certo que fomos todos condemnados 4 morte. Todos nascemos, diz Sdo Cypriano, com a corda 20 pescogo ¢, cada passo que damos, nos aproximamos mais da motte, Meu irmao, assim como foste inscripto um dia no livro dos baptismos, assim serds inscripto um dia no livro dos mortos, Assim como dizes hoje dos teus antepassados: meu falle- cido pae, tio ou irmao, assim dirgo de ti os que vierem depois, Assim como ouviste muitas vezes dobrar os sinos pela morte dos outros, assim outros 0s ouvirdo dobrar pela tua morte, Que dirias, se visses um condemnado 4 morte caminhar Para 0, supplicio galhofando, rindo, olhando para toda a Parte, € pensindo ainda em comedias, festins e diverti- mentos? E tu, ndo caminhas neste momento para a morte? € em que pensas? Ve nessa cova teus amigos e parentes, a quem jé feriu a sentenga, Que horror se apodera dos condemnados quando veem os seus companheiros jd mortos € pendentes da forcal Attenta nesses cadaveres, cada um dos quaes te diz: Miki keri et tibi hodie\—«Hontem a mim, hoje ati.» E isto o que te dizem ainda os retratos de teus parentes j4 mortos, os seus escriptos, as casas, 08 leitos, as ronpas. que deixaram. Haverd loucura maior do que saber que se ha de morrer, € que depois da morte nos espera uma eternidade de ale- grias ou uma eternidade de penas; saber que do momento da morte depende um futuro eternamente feliz ou eterna- mente infeliz: © no pensar em ajustar as contas e em empregar todas os meios para ter uma boa morte? Com- Padecemo-nos dos que morrem subitamente ¢ nfo se acham preparados para a morte; como é ento que no cuidamos em estar preparados, podendo-nos acontecer 0 mesmo?— * Beclus, 38, 23. ‘TERGAPEIRA, 65, Mas cedo ou tarde, prevista ou imprevistamente, quer pen- semos nisso quer no, devemos morrér; ea todas as horas, fa todos os instantes nos vamos aproximando da nossa forea, quer dizer, da ultima doenga que nos deve fazer sahir deste mundo. I, Em cada seculo, as casas, as pragas ¢ as cidades enchem-se de novos habitantes, e os que precederam sio levados e enterrados nos tumulos. Assim como para estes passaram os dias da vida, da mesma maneira chegard o tempo em que nem eu, nem vés, nem nenhum dos que vivem actualmente, existird na terra, Entdo estaremos todos na etemidade, que seré para nés ou um eterno dia de delicias, ou uma eteina noite de tormentos. Nao ha meio termo; € certo, é de f€ que uma das duas sortes nos espera. ‘Meu amado Redemptor, nfo teria a ousadia de appa- recer diante de Vés, se Vos no considerasse suspenso nessa cruz, despedagado, ultrajado e morto por minha causa. Foi grande a minha ingratidio, maior ainda porém € a vossa misericordia. Grandes foram os meus peccados, mas muito maiores sfio os vossos meritos.’ As vossas chagas, ‘© vosso sangue, a vossa morte sio as minhas esperangas. Merecia o inferno desde o instante do meu primeiro pec- cado; e depois tantas vezes Vos tornei a offender, e Vés ndo sé me haveis conservado a vida, mas com extrema bondade © amor me convidastes ao perdao © me haveis offerecido a paz, Como poderei receiar que me afasteis de.Vés, agora que vos amo e 86 desejo a vossa graca? Sim, amo-Vos de todo coragtlo, meu querido Senhor, © 86 desejo amar-Vos. Amo-Vos e arrependo-me de Vos ter desprezado, ntio tanto pelo inferno que mereci, como por ter offendido a Vés, meu Deus, que tanto me tendes amado. © meu Jesus, abrime o seio da vossa bondade, accrescentae misericordia a misericordia. Fazei que nio torne a ser ingrato para comvosco, e mude completamente 5, Aono, Mediagtes. 10. 5 66 PECIMA QuiNTA SEMANA DEPOIS Dx FENTECOSTES. © meu coragio, Fazei que 0 meu coraco, que antigamente nenhum caso fez de v6sso amor, e lhe preferiu as misera- veis satisfacgoes da terra, seja doravante todo vosso ¢ continuamente inflammado de amor por Vés.—Esta graca peco-a tambem a vés, 6 grande Mae de Deus e minha Mie, Maria. (II 19.) QUARTAFERRA, Da eternidade do inferno. Et fbunt hi in supplicium acternum— «Estes info para osupplicio eterno» (Math, 25, 46). Sumario, A eternidade do inferno nto € uma simples opinifo, mas sim uma verdade de {6 fundada no testemunho te Deus na Santa Esti ‘ture, na qual se diz repetidas veres que os desgragados peceadores, uma vet langados naquelles abysmos, serfo atormentados de dia ¢ de noite pelos’ seculos dos seculos, Se alguem por um dia de divertimento se deixaste condemnar a trinta annos de pristo, tél-oinmos por louco, Que tsior loucura nfo seria a nossa, se por umm momento. de vil prazer not condemnassemes queimar no fogo para sempre? a ficar privades para sempre da posse do soberano bem, que € Deus? I. Se 0 inferno nao fosse eterno, deixaria de sér inferno. A pena que dura:pouco, no & grande pena. ‘Quando se rompe a um doente um abscesso, quando a outro se queima uma ulcera, a dér é viva, mas, como passa rapida- mente, 0 tormento nao é grande. Que sofirimento porém no seria, se aquella inciséo, aquella operacio por meio do fogo, continuasse por uma semana, por um mez in- teiro? Quando o soffrimento é bastante proléngado, apezar de leve, como uma dér de olhos, uma dér ‘de dentes, torna-se insupportavel.—Mas para que falar de sofiri- mento? Mesmo uma comedia, uma musica que se prolon- gasse muito ou durasse um dia inteiro, nao se poderia aturar pelo grande fastio. Que serd, pois, do inferno, onde ndo se trata de assistir 4 mesma comedia, de ouvir a mesma musica, onde ndo se tem unicamente a soffter uma dér de olhos ou de dentes, onde nao se sente s6 0 (QUARTAPEIRA, 67 tormento de uma incisio ou de um ferro em braza, mas onde esto reunidos todos os tormentos € todas as déres? E isto, por quanto tempo? Por toda a eternidade! Crucia- buntur die ax nocte in saecula saeculorum'— «Serao ator. mentados de dia ¢ de noite pelos seculos dos seculos». Esta eternidade no ¢ simples opinido, mas sim uma verdade de f&, attestada repetidas vezes por Deus nas Sagradas Excripturas. S6 no capitulo 9 de Séo Marcos Jesus Christo affirma até tres vezes que o verme roedor € a consciensia dos condemnados nunea morrerd: Vermis corum non moritur; até cinco vezes repete que 0 fogo que os abrasa, nunca seré apagado: Et ignis corum non extinguitur ; e finalmente conclue dizendo: Omnis igne salietur® — «Seré todo salgado pelo fogor. Assim como © sal tem a propriedade de conservar as cousas, assim 0 fogo do inferno, ao mesmo tempo que atormenta os re- probos, produz nelles o effeito de sal, conservando-lhes a vida, Desgracados reprobos! Que loucura nao seria se por um dia de divertimento alguem se deixasse encerrar num calabougo vinte ou trinta annos? Se o inferno durasse cem annos—-cem annos! que digo? — se durasse sémente dous ou tres annos, seria jd grande loucura condemnar-se ao fogo esses dous ou tres annos por um momento de vil prazer. Mas nfo se trata de trinta, nem de cem, nem de mil, nem de cem mil annos; tratase da eternidade, trata-se de soffter para sem- pte 05 mesmos tormentos, sem nunca esperar fim nem momento de descanso, Il, Tinham razdo os santos para temer € gemer, em- quanto estavam no mundo e, portanto, em risco de se perderem. O Bemaventurado Isaias, posto que passasse os dias no deserto entre jejuns e penitencias, exclamava cho- rando: Desgragado de mim, que ainda ndo escapei ao * Apoc. 20, 10, * Mare, 9, 48, 3° 68 bscriea quinra seMANA DAPOIS DE PENTECOSTES, perigo da condemnagio! Nondim a gehennae igne sum liber! Mas se os santos tremiam, nés, que somos peccadores, teremos a presumpgto de nos julgar seguros? Ah, meu Deus! se me tivesseis langado no inferno, como tantas vezes mereci, e depois’ me tivesseis tirado d'alli pela vossa misericordia, quanto Vos seria obrigado! que vida santa néo teria desde entéo principiado! Agora por uma misericordia maior me preservastes de cahir no inferno: que farei? Tornarei a offender-Vos e a provocar a vossa indignagdo, afim de que me condemneis realmente @ arder nessa priséo dos revoltosos contra Vés, onde jé ardem tantas almas que commetteram menos peccados que eu? Ah! meu Redemptor, € 0 que fiz no passado; em logar de aproveitar o tempo que me daveis para chorar 0s meus peccados, abusei delle para excitar a vossa ira, Agradego a vossa infinita bondade o terme aturado tanto tempo, Se néo fosse infinita, como me houvera soffrido? Gragas Vos dou por me haverdes esperado -até aqui coin tamanha paciencia, e gracas Vos dou sobretudo pela luz que me concedeis agora, luz que me deixa vér a minha demencia e o aggravo que Vos fiz, ultrajando-Vos com tantos peccados, Detesto-os, meu Jesus, e arrependo- me de todo 0 coracdo; perdoae-me, em consideragéo 4 vossa Paixto e ajudaeme, com a vossa graga, a ndo mais ‘Vos offender. Com razdo devo temer que, depois de mais um peccado mortal, me abandoneis.—Ah, Senhor! rogo- Vos que me ponhais sempré diante dos olhos este justo temor, em particular quando 0 demonio novamente me provocar a Vos offender. Amo-Vos, meu Deus, endo Vos quero mais perder; ajudae-me com a vossa graca.— Ajudae- me tambem vés, 6 Vitgem Santissima, e fazei com que em mishas tentagdes sempre recorra a vés, afim de que nunca mais perca, 0 meu Deus. O Maria, vés sois a minha esperanga, (II 123.) QuINTATEIRA, 69 QUINTA FEIRA. Jesus no Santissimo Sacramento da audiencia a todos e a qualquer hora. ‘Ad vocem clamoris tai, stati ut audierit, respondebit “Logo que ouvir a vor do teu clamor, te responder» (Is. 30, 19). Summario, Os reis da terra nfo do sempre audiencia, © muites veses scontece que © que Ihes desea falar, 6 despedido pelos guardas a pre texto de que nfo € tempo de audiencia © deve vir mais tarde. Jesus, pork, no Sentisimo Steramento, fo faz assim; d& audiencia a todos fe a toda hora, E por isso que as igrejas esto sempre abertas. Porque tentio € que nés, que temos a sorte fiz de morar no palacio do Senbor, ‘fo aproveitames melhor sua condescendencia, para the expbr as nossas necessidades e pedir gragas? I. Falando do nascimento do Redemptor no presepio de Belem, Séo Pedro Chrysologo diz que 0s reis da terra nao dao sempre audiencia, e que, quando alguem Ihes deseja falar, muitas vezes acontece que os guardas o despedem a pretexto de que nao é tempo de audiencia ¢ deve vir mais tarde. O divino Redemptor, pelo contrario, quiz nascer numa gruta aberta, sem portas nem guardas, para dar audiencia a todo o mundo e a toda a hora: Non est satelles qui dicat: Nom est hora.— (Io, 19, 25), aBstava a0 pé da Summarin, Do mario de Matin sobre o Calero, nfo 6 neesto tice ours sou tendo o que dr Sto Joto, setansla vitahe ¢ ae 4 vista de Jonun moribund, © depo, ve ve hdr balan wee © auc mais stomentou x none fe delve, ¢ tr gee ele mesa com sua presngeaugmentave as lips 2e Fhe, he pore rents patie dos homens sang divine seri ean de saioretndearorte, Se Jens © Maca seca de innocents, Sonam tno Por nose maer, és, que merecenos mil inferon, Ho desageade ster gems eomre Yor amor dele ¢ ex misacglo por neues pesados I, Admiremos uma nova especie de martyrio; uma Mae condemnada a vér morrer diante de seus olhos, no meio de barbaros tormentos, um Filho innocente e amado com todo.o affect. Hstava ao pé da crus (de Jesus) sua Mae, Como se Sto Joa® dissesse: Ndo é necessario dizer outra cousa do martyrio de Maria: contempla-a visinha 4 cruz, 4 vista do Filho moribundo, e depois ve se ha dér seme. Ihante 4 sua dér, Mas para que servia, 6 Senhora, the diz Sto Boaven- tura, ires a0 Calvario? Devia reter-vos 0 pejo, pois que © opprobrio de Jesus foi tambem o vosso, sendo vés sua me. Ao menos devia reter-vos o horror de tal delicto, como vér um Deus crucificado pelas suas mesmas crea. turas, Mas responde o mesmo Santo: Non considerabat cor tuum horrorem, sed dolorem. Ab! 0 vosso Coracio ndo pensava no seu proprio sofitimento, mas na dér © na morte do amado Filho, e por isso, quizestes vés mesma assistit-lhe, ao menos para -Ihe mestrar a vossa compaixo, Oh Deus! que espectaculo doloroso era vér o Filho agonizante sobre a cruz, e, ao pé da cruz, vér agonizar a Mae, que sofria no coragao todas as penas que o Filho SABBADO. 8 padecia no corpo!— Eis-aqui como a mesma Bemaventu- rada Virgem revelou a Santa Brigida o estado lastimoso do seu Filho moribundo, conforme ella o presenciou: «Estava meu amado Jesus na cruz, todo afflicto e agoni- zante; 0s olhos estavam encovados e meio fechados e amortecidos; os labios pendentes e a bocca aberta; as faces descarnadas, pegadas aos dentes e alongadas; afilado © nariz, triste o rosto; a cabega pendia-lhe sobre 0 peito; os cabellos estavam negros de sangue, o ventre unido aos rins; os bragos e as pernas intelrigadas e todo 0 resto do corpo coalhado de chagas ¢ de sangue.» O po- bre de meu Jesus! O martyrio cruel para o coragdo de uma mde! TI, Quem se achasse entio sobre o Calvario, diz So Joo Chrysostomo, teria visto dous altares, nos quaes se consummavam dous grandes sacrificios: um no corpo de Jesus, outro no coraggo de Maria, Mas melhor me pa- rece, com Sao Boaventura, considefar alli um sé altar, isto é, s6 a cruz do Filho, no qual, juntamente com a vietima do Cordeiro divino, é sactificada tambem a Mie. Por isso o Santo perguntalhe assim: O Domina, ubi stas?>—«O Maria, onde estaes?» Junto 4 cruz? Ab! mais exactamente direi que estaes na mesma cruz, a sacrificar- vos, crucificada juntamente com Jesus. O que mais affligia a nossa Mae dolorosa, era o vér que ella mesma, com a sua presenga, augmentava as af- ficgoes do Filho, porquanto, como diz 0 mesmo santo Doutor, a mesma pena que enchia o Coragio de Maris trasbordava para amargurar o CoracHo de Jesus; ¢ Jesus padecia mais pela compaixio da Mae, do que pelas suas proprias déres, Accresce que, lembrando-se Maria da pro- phecia de Simeto, jé desde entdo previu que os padeci mentos de Jesus Christo seriam, pela culpa dos homens, inuteis para grande parte delles, ¢ ainda mais, causa de maior condemnagio: Lece positus est hic in ruinam et 76 DECIMA suxrA SmMANA DEDOIS DE PENTECOSTRS, vesurrettionem multorum'— Bis que-este & posto para ruina e resurrei¢do de muitos», Roguemos 4 nossa divina Mie, pelos merecimentos desta sua dér, que nos obtenha verdadeira dér dos nossos pec- cados e verdadeira emenda de vida, zelo fervoroso pela salvagdo das almas e uma terna compaixto dos soft mentos de Jesus Christo © pelas suas proprias déres, Se Jesus © Maria, apezar de tao innocentes, quizeram soffrer tanto por nds, céus de mil infernos, néo recusemos softer alguma cousa por amor delles. Por isso digamos com Sao Boaventura: «© Maria, se no passado vos offendi, vingae- vos agora ferindo-me 0 coraglo; se vos servi fielmente, tambem outra recompensa ndo vos pego, senfo que me firais. Demais indecoroso seria para mim, ficar illeso, 20 Passo que Vos vejo repletos de déres, a vés ¢ a meu Senhor, Jesus Christo.» Poenas mecum divide — «Reparti commigo as penas». (*1 244.) a DECIMO QUINTO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES, © mogo de Naim e a lembranga da morte. Defunetus efferebatur, filius unieus matris suse—eLevavam & sepultura um defuncto, flho unico de sua mie» (Lue. 7, 12), SS eepes oestn coma tr a Nl eo wen pe cae teens een Nada, pois, mais certo do que a morte, mas nada mais incerto do ae ahora da morte, Ahi se penssssemos muitas veves n¢ ema nio peccariamos nunca, ‘on tore meena € estariamos sempre preparades para morrer, I. Refere Sto Lucas que «Jesus ia para uma cidade chamada Naim; ¢ iam com elle os seus discipulos e uma grande multidgo de povo. E quando chegou perto da * Lue, 2, 34. DOMINGO, 7 porta da cidade, eis que levavam um defuncto a sepultar, filho unico de sua mae, que jé era viuva, ¢ vinha com cella muita gente da cidade.» Antes de proseguirmos, meu irmSo, reflictamos nesta primeira parte da narragio evan- gelica, e lembremo-nos da morte. E féra de duvida que devemos morrer. Cremos nesta verdade, nfo porque é um ponto da f€, mas porque a vemos tambem com nossos olhos, pois que cada dia se repete 0 facto do Evangelho: Hece defunctus effere- batur— Um defuncto é levado & sepulturar, Se alguem se quizesse illudir pensando que néo ha de morrer, no seria tide por hereje, mas sim por louco, que nega a evidencia —E, pois, certo que havemos de morrer; contra cada um de nés jé foi langada a sentenca inappellavel: Statutum est hominibus semel morit— «Est decretado que os homens morram uma sb ves». Mas onde € que morreremos?... como? ... quando?... Ninguem 0 sabe. «Nada mais certo do que a morter, diz 0 Idiota, «e a0 mesmo tempo, nada mais incerto do que a hora da morte.» O filho da viuva de Naim era novo, na flor dos annos; her- deiro unico de seu pae; unica consolacdo de sua mae; amado de seus concidadaos que por isso acompanhavam 0 cortejo funebre. Provavelmente nao pensara que a morte o havia de surprender em taes circumstancias; mas apezar disso colheu-o, Tal seré tambem a nossa sorte; quem nolo diz é Jesus Christo, a verdade mesma: Extote parati; quia qua hora non putatis, Filius hominis veniet!—«Estae preparados; porque & hora que nto cuidaes, 0.Fitho do homem vird>, I. O Evangelho contimia a natragao dizendo que «0 Se- nhor, vendo a viuva, e movido de compaixto para com ella, Ihe disse: Nao chores. E, chegando-se ao esquife, acctescertou: Mogo, eu te ordeno, levanta-te. E sentou-se © que havia estado morto, e comegou a falar.» Deste * Hebe. 9, 27, 2 Luc, 12, 40. 78 DECIMA SEXTA SEMANA DuPOIS DR PENTECOSTES, ‘modo Jesus Christo approveitou-se da morte daquelle moco Para fazer um grande milagre, que consolou uma mae extremamente afilicta, e confirmou no bem os assistentes, que glorificevam a Deus e diziam: «Um grande propheta levantowse entre nds; e Deus visitou 0 seu povo.» E 0 que o Senhor contimia ainda sempre a fazer nas almas por elle remidas pela meditagio sobre a morte, Serve-se desta lembranga para consolar a Igreja, nossa mie, pela resurrei¢#o espiritual de tantos peccadores, seus filhos; €, depois de os resuscitar, serve-se ainda da mesma consideragao para os fazer perseverar no bem, enchendo- os de um temor salutar.—Procura, tu tambem, ter sempre diante dos clhos 0 pensamento da morte, Fazendo isso, se é peccador, resuscitards depressa 4 vida da graca; se, como espero, és justo, o Espirito Santo te assegura que nunca mais tornards a cahir no peccado: Memorare no- vissima tua, et in acternum non peccabis'— «Lembra-te de teus novissimos, ¢ nunca jamais peccaras. © meu Deus! gragas Vos dou pela luz que agora me communicaes. Jé basta de annos perdidos! Quero empregar todo o resto da minha vida em me preparar para a morte, chorando as offensas que Vos fiz, e reparando o tempo Passado, por uma dedicaczo mais fiel a vosso servico, Ajudaeme com a vossa santa graca, «Purificae-me, 6 Se- nhor, € fortaleceime com a vossa continua piedade; e, Porque sem Vés nada pode subsistir, sustentae-me sempre com os vosses dons.» *—} Doce Coractto de Maria, sede minka salvagao. (*IL 490.) SEGUNDA-FEIRA, Do amor que Deus nos mostrou. Nos exgo diligemus Deum, quoniam Deus prior dilexit nos— sAmemos portento a Deus, porque Deus nos amou primeizom (Io. 4, 19). * Heclus, 7, 40, ¥ Or, Dom, curr SROUNDA-PEIEA, 79 Summaric. Sto ionumeras as provas de amor que © Senhor nos dea, Amou-nos desde « eternidade, tirou.nos do nade com preferencia a tantos ‘outros, ¢, © que mais 6, fer-nos nascer num pair catholico © no selo da Igreja verdadeira, Quantos milbdes de homens vivem privados dos sacra. mentos, da pregacto, dos bons exemplos, ¢ de tantos outros melos de salvagto! A nés Deus quir dar todos estes meios de perfeiglo, sem me vito algum da nossa parte; prevendo mesmo todos os nossos demeritos: Porque entto correspondemos tfo mal ao,amor de Deus? porque nfo 0 tamamos de todo 0 coragto? I. Considera primeiro que Deus merece teu amor, por- que te amou antes de ser amado por ti e de todos os seres: In caritate perpetua dilexi te1— «Com amor eterno te amei>. Os primeiros que te amaram na terra, foram teus paes; mas sé te amaram depois de te terem co- nhecido, Deus jd te amava, antes de existires, Ainda no existiam no mundo nem teu pac, acm tua méc, ¢ jf Deus te amava. Nio era ainda creado 0 mundo, ¢ j4 Deus te amava. E quanto tempo antes da creacdo jd te amava Deus? Talvez mil anos, mil seculos antes? Escusado ¢ contar annos e seculos: Jw caritate perpetua dilexi te; ideo at- traxi te, miserans tui—«Com amor eterno te amei; por isso, compadecido de ti, te attraki a mim», Numa palavra, Deus te amou desde que ¢ Deus, e desde que se amou a si mesmo, amou-te tambem. Foi, portanto, com muita razio que a santa virgemzinha Ignez respondeu 4s crea- turds que a requestavam: Ab alio amatore pracventa sum—<«Outro amante vos precedeur ‘Assim, meu irméo, teu Deus te amou desde a eterni- dade; e € s6 por amor de ti que tirou do nada tantas outras creaturas formosas, afim de que te servissem e te recordassem sem cessar 0 amor que te tem, ¢ o que Ihe deves. O céu e a terra, exclamava Santo Agostinho, tudo me préga, 6 meu Deus, quanto sou obrigado a amar-Vos. Her. 31, 3: 80 eeney, sexra swan DEFOIS DE PuNTECOETES. Quando o Sanw ihava o sol, a lua, as estrellas, as mon- tanhas, 9s rios, parecia-the que todas estas creaturas The diziam: Agostinho, ama a teu Deus, creou-nos para ti, Para ganhar 0 teu amor, © abbade de Rancé, fundador da Trappa, 4 vista das collinas, das fontes, das flores, dizia que todas estas crea- turas Ihe recordavam 0 amor que Deus he tinha, Santa Theresa dizia igualmente que as creaturas Ihe reprehen- diam a sua ingratidio para com Deus. Quando Santa Maria Magdalena de Pazzi tinha na mdo uma bella flor ou qualquer fructo, sentia o corago ferido por uma setta do amor divino, dizendo comsigo: «O meu Deus pensou desde a eternidade em crear’ esta flor, este fructo, afim de que eu o amassel> IL. Considera o amor particular de Deus para comtigo, fazendo-te nascer ‘num paiz christio € no seio da verda. deira Igreja. Quantos nao ha que nascem no meio de ido- latras, de judeus, de mohometanos, os quaes se perdem todos! Mas Deus te péz no numero dos que nascem em logares onde reina a verdadeira {é. © dom inappreciavel o da fé! quantos milhes de pes- soas se veem privadas dos sacramentos, das instrucc6es, dos bons exemplos e de todos os outros meios de sal. vagio que nos offerece a nossa verdadeira Igrejal E Deus quiz prodigalizarte “todas estas grandes vantagens sem nenhum merecimento de tua parte, ou, para melhor dizer, Prevendo os teus desmerecimentos; porque, quando pen. ‘sava em crearte e fazer-te estas gragas, jd previa as in- jurias que the havias de fazer. Soberano Senhor do céu e da terra, como é que, tendo amado tanto os homens, sois tao desprezado por elles? Entre esses homens, 6 meu Deus, amastesme com amor particular, favorecendo-me com gragas especiaes, que Fecusastes a muitos outros, e eu Vos desprezei mais que ©8 outros. Prostromme a vossos pés, 6 Jesus, meu Salvador: “tengarrnnea, ax Ne proicias me a facie tua\— «Nao me repillais de vossa bresencar, Mereceria ser repellido por Vés por causa de minhas ingratid6es; mas dissestes que ndo sabeis reper um coragio arrependido que volta para Vés: Eum gui venit ad me, non eiciam foras*— «Nao rejeitarei Aquelle que vem a mims. ; {Meu Fesus, misericordia! Outr'ora niio Vos conhecia; mas agora reconhego-Vos por meu Salvador, que morrea para me salvar e ser amado por mim, Agora Vos conhego, Vos adoro e Vos amo por todos aquelies infelizes que Vos offendem, e nada desejo sendo crescer sempre em vosso amor,—Meu Senhor, dae-me 0 vosso amor; mas um amor ardente, que me faca esquecer todas as creaturas; um amor forte, que me faga vencer todas as difficuldades para Vos agradar; um amor constante, que aunca mais se res- fie entre mim e Vés. Tudo espero dos vossos mereci- mentos, 6 meu Jesus; ¢ tudo espero tambem da vossa intercessto, 6 minha Mae Maria, (II 154.) TERGA-FEIRA. Deus é misericordioso, mas tambem justo. Misericordin enim et ite sb illo cito proximant, et in pecea- tores respicit ica illine— «A sua misericordia e a sun ira chegem tmplamente,e em tm iru olbe para on peceaorese (Bese § 7) Summaris, De dows modon 0 dein ongune ot homens «rte inioscomsigo to inferne, Depois do pccado arses dsr, por i th jo dn ar do prin ten» comme Fe ine itcmos ester ate do nino, coprone fa dvina. mierda, 8 feqaoe ornare, depts de pean, cones ne indi di tne antes do pesca, tennmes ta jatgn Tosca Como pote confar nu mivcrda de Doo quen ube dx mente etcords pars @ ofender? I. Diz Santo Agostinho que 0 demonio engana os ho- mens de dous modos: pelo desespero ¢ pela esperanca. 1 Ps 50, 13, * Jo. 6 37, ‘ |S. Aono, Moditagter, I 82 ——DECIMA SEXTA SEMANA DUPOIS Dx PENTECOST3S, Quando © peceador cahiu, arrasta-o ao desespero, repre sentando-lhe o rigor da divina justiga; mas antes do pec- cado, excita-o a commettel-o pela confianca na divina mi- seticordia, —Com effeito, serd difficil encontrar um peccador to desesperado que se queira condemnar por si proprio. Os peccadores querem peccar, mas sem perderem a espe- ranga de se salvar. Peccam e dizem: Deus é misericordioso; commetterei este peccado e depois irei confessar-me delle. Mas, 6 Deus! € assim que falaram tantos que agora esto condemnados! Avisa-nos 0 Senhor: «Nao digas: so grandes as miseri- cordias de Deus; por muitos, peccados que eu commetta, obterei o perdio por um sé acto de contrigao.»1 Nao digas assim, avisanos Deus; e porque? Porque a sua misericordia e a sua justiga vo sempre juntas; ¢ a sua indignagao se inflamma contra os peccadores impeniten- tes, que amontoam peccados sobre peccados e abusam da misericordia’ para mais peccarem: A sua misericordia € @ sua ira chegam rapidamente, ea sua indignacao vira-se contra os peccadores.— A misericordia de Deus é infinita, mas os actos dessa misericordia so finitos, Deus € misericordioso, mas é tambem justo. «Eu sou justo e misericordioso», disse um dia o Senhor a Santa Brigida; «mas os peceadores julgam-me sémente miseri- cordioso.» Nio queiramos, escreve Sao Basilio, considerar s6 uma das faces de Deus. E 0 Bémaventurado Jodo Avila ac- crescenta que tolerat os que abusam da misericordia de Deus, para mais o offenderem, no seria mais acto de misericordia, mas falta de justiga. A miseticordia € pro- mettida ao que teme a Dens, no ao que della abusa: Et misericordia eius timentibus eum A justia ameaca os Peccadores obstinados; ¢ assim como Deus, observa Santo * Beclus. 5, 6, * Lue. 1, 50, srungareina, 83 Agostinho, nao falta 4s suas promessas, tio pouco faltaré a suas ameagas, IL, Meu irmao, escuta o bello conselho que te dé Santo Agostinho: Post peccatum spera misericordiam, Depois do peccado, confia na misericordia de Deus; mas antes do peccado, receia.a sua terrivel justiga: Ante peccaium pertimesce iustitiam. Sion, porque € indigno da misericordia de Deus quem della abusa para o offender, Aquelle que offende a justiga, diz Affonso Tostato, pode recorrer 4 misericordia; mas a quem poderd recorrer o que offende @ propria misericordia? Seria zambar de Deus querer con- tinuar a offendel-o e desejar depois 0 paraiso. Avisa-nos, porém, Sao Paulo, que Deus no consente que zambemos delle: Deus non irridetur. Ah, meu Jesus, eu sou um daquelles que Vos offenderam, porque Vés ereis téo bom. Esperae, Senhor, no me aban- doneis ainda, j4 que pela vossa graga espero nunca mais dar-Vos motivo para que me abandoneis. Peza-me, 6 bon- dade infinita, de Vos ter offendido e abusado tanto da vossa paciencia, Gragas Vos dou por me terdes esperado até agora. No futuro, nio mais Vos quero trahir como no passado. ‘Vés me supportastes tanto tempo, afim de me verdes um dia captivo amorosamente da vossa bondade, Esse dia j4 chegou, como espero. Amo-Vos, 6 bondade infinita, + Sesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as cousas; estimo a vossa graca mais que todos os reinos do mundo; antes perder mil vezes a vida que perder a vossa affeigéo,— Meu Deus, pelo amor de Jesus Christo, dae me, com o vosso amor, a santa perseveranga até 4 morte, Nao con: sintais que eu torne a trahir-Vos, deixe jamais de Vos amar.—O Maria, sois a minha esperanga; obtende-me a perseveranga e nada mais vos pogo. (*Il 76.) * Gal. 6, 7. oF 84 ——-DECIMA SpxTA SEMANA DEFOIS DE PENTECOSTES. QUARTA-FEIRA, Felicidade eterna do céu. Beati qui habitant in domo tus, Domine; in seecula saculoram Ieudabuat te— «Bemaventurados, Senor, 03 que moram na cua ‘asa; pelos seculos dos seculos te louvartor (Ps, 83, 5). Summario. No céu 4 alma veré Deus face « face, conbecerd todas as Aisposigtes admiraveis de divina Providencia para sua salvago, © vers que 0 Senhor a abraga © a sbraga sempre como filke querida; pelo que ‘salma se embriagard de tal amor, que nfo pensard mais sendo em amar seu Deus, Seré esta a sua eterna occupagio: emar o bem infinito que Possue, louvalo ¢ bemdizelo. Quando nos sentirmos opprimidos pelas ruses, levantemos os olhos 20 cfu, ¢ lembremonos de que os esté re servada torte igual, a0 fnrmos fsis « Deus I, Na terra, a maior pena das almas que amam a Deus € se acham em desolagio, é 0 receio de néo 0 amarem € de ndo serem por elle amados: Nescit homo, ubrum amore an odio dignus sitt—. Como se dissesse: A alma, vendo a des: coberto e abracando com transporte o seu soberano Bem, cembriagar-se-d de tal sorte de amor, que se perderd feliz- mente em Deus, isto é esquecer-se-d completamente de si, e nfo pensard desde entdo sendo em amar, louvar € abengoar esse bem infinito, que possue. TI. Quando nos opprimirem as cruzes da vida, animemo- nos a supportal-as com paciencia, com a esperanga do céu, O abbade Zosimo perguntou a Santa Maria Egypciaca, como aguentara viver tantos annos no deserto; a0 que a Santa respondeu: Pela esperanca do clu. Quando a Sao Philippe Neri foi offerecida a dignidade cardinalicia, a re- cusou atirando o barrete ao ar e exlamando: paraiso, 6 paraiso! "Assim tambem nés, quando gemermos ao peso das mi- serias deste mundo, levantemos os olhos ao céu © con- solemo-nos, dizendo: 6 paraiso, 6 paraiso! Lembremo- + Bs. 35) 9 86 {CIMA SEXTA SEMANA DEFOIS DX PENTECOSTES, hos de que, se formos ficis a Deus, acabarao um dia todas 8 nossas penas, miserias e temores, e seremos admittido: nessa feliz patria, na qual estaremos plenamente felizes, em quanto Deus fér Deus. Jé esperam-nos os Santos, es. Pera‘nos Maria, ¢ Jesus jd tem na mao a corba, para nos coroar reis no seu reino eterno, Mes guerido Salvador, ensinastesme a rogar: Adve- Pa em) nee Venke @ nbs 0 vosso reino». Tal tithe ag, 206, Vo8 ditios estabelega-se vosso reino em bom Vary Ge mancira que a possuais toda e ella tam- = 0: pe ‘a. a Vos, que sois o supremo Bem. Q meu ret am Poupastes parame salvar ¢ para ganbar 0 coe Vanni, Salvaeme, pols, © consista minha salvagéo incessantemente nesta vida e na outra, Tantas vezes Vos tenh i 10 offendido, e nao ob: is me affiancaes que no Vos oa unido comvosco durante to: dedigoares de me conservar a la a eternid: guizer arrepender. Sim, arrependo-me, aa, eras or. De hoje em diante sé quero pensar em Vos ser agra. davel. Acceito © abrago todas as mortifcagdes ¢ pens ae me quizerdes envae. Bastame que nio me riven de rey cerasti basta que um dia possa eu ir amar-Vos, low ‘0s € bemdizer-Vos no paraiso. —O Maria, quando é que me verei aos vossos pés, seguro de nfo mais poder Perder o meu Deus? Soccorrei-me, minha Mic, © na consintais que me condemne ¢ tenha de viver para sempre apartado de Vés e do vosso divino Filho. (I 135) QUINTA-FEIRA. Do sagrado Viatico. Ambulavit in forttudine cibi illus...usque ad montem Dei— (La, 14, 2). - Summaris, O hydropico’ de quem fala o Evangelho, & figura de um christfo que se deixe dominar por uma paixfo qualquét, e particular mente pelo desejo das honras. Com effito, o soberbo nunca ache paz, porque nunca se ye traiado conforme o vio conceito que faz de si mesmo. Se por desgraga nos achermos infectados deste hydropisin espi- ritual, representemo-nos nosso Senhor, ¢ contemplemol-o reduzido como fot por nosso amor a ser 0 stime des homens; © envergonhados 44 noses ambigto, digamosihe: 6 Jesus manio © humilde de Coragfo, fazei o meu coragto senelhante 20 vosso. I. Refere So Lucas que centrando Jesus, num sabbado em casa de um dos principaes phatiseus, a tomar a sua refeigo, elles o estavam alli observando. E eis que diante delle estava um homem. hydropico. E Jesus dirigindo-se aos doutores da lei e aos phariseus, disse-lhes: E permittido fazer curas a0 sabbado? Mas elles ficaram calados. Entao Jesus, tomando a si o homem, o curou e o mandou em- bora—Sanavit eum, ac dimisit.» Sob a figura daquelle pobre hydropico, os santos inter- pretes veem a imagem do homem que se deixa dominar por uma paixdo qualquer ¢ particularmente pelo orgulho e pelo desejo imgmoderado das honras e grandezas. E com raziio; pois, assim como o doente de hydropisia é devo rado por tamanha séde, que, quanto mais bebe, tanto mais fica assedentado; assim o soberbo munca tem paz, porque nunca chega a vérse tratado conforme o véo conceito que forma de*si proprio. Até entre as mesmas honras ndo estd contente, porque sempre tem os olhos fitos nos que so mais honrados.—Sempre faltard ao orgulhoso ao menos alguma honra ambicionada, ¢ esta falta atormental-o-é mais do que o consolam todas as outras dignidades ob- 96 RCIA SeTIMA SRMANA DEPOIS DR isTECOsTES. tidas. Quanto nio era honrado Aman no palacio de As- ‘suero, assentando-se até 4 mesa do reil Mas porque Mar- docheo niio o cuiz saudar, disse que se julgava infeliz', ‘Meu irmao, examina a tua consciencia, e, se achares que, .no passado, tambem tu andaste atrés do vapor das honras vas, para remedio dessa tuaenfermidade espiritual imita o hydropico do Evangelho e poe-te logo na presehica do Senor. Contempla como Jesus, posto que fosse o Filho de Deus, por teu amor se anniquilou, tomando a forma de servo®; quiz por teu amor fazer-se 0 ultimo dos ho- ‘mens, 0 mais despresado e ultrajado®. E, envergonhado da tua ambigéo, dizelhe com amor: +O Yesus, manso ¢ humilde de Coracto, fasei 0 meu coracto semethante ao vosso. Il, Escieve So Jeronymo que a gloria verdadeira é semelhante 4 “sombra, que segue a quem della foge, € foge de quem a quer prender: Appetitores suos deserens, appetit contemptores. E. isto exactamente o que Jesus Christo quiz ensinar no Evangelho de hoje, quando, de- pois de curar o hydropico, e observando que os phari- seus escolhiam os primeiros logares 4 mesa, lhes disse esta parabola: «Quando féres convidado a algumas bodas, nao te assentes no primeiro logat;...mas vae tomar o ultimo logar; para que, quando vier 0 que te convidou, te diga: Amigo, .sobe para cima. Entgo te serviré isto de gloria na presenga de todos os convidados: posque todo o que se exalta serd humilhado, e todo o que se humilha serd exaltado— Omit qui se exaltat hwniliabitur, et qui se humiliat exaltabitur.» Humillimo Jesus, como € que em mim ha tanto orgulho depois de tantos peccados? Vejo que as minhas faltas, sobre me fazerem tdo ingrato para comvosco, fizeram-me ainda orgulhoso. Ne proicias me a facie tuat— «Nao me TBeh 5,13 F Phil 2, 2 "I 53,3. # Ps. 50, 13. pommsco, o7 rejeiteis de diante de vossa presenca, conforme mereciay Tende piedade de miim e fazetme conhecer 0 que sou ¢ 0 que merego. Em vez.de obter honras ¢ dignidades, mereceria estar no inferno, onde jé esto ardendo tantos outros por menos peccados do que fram os meus. Vés, porém, 6 meu Jesus, me offereceit 0. perdio, s¢ evi desejo. Sim, dggejo-o. Meu Redemptor, perdoae-me, j4 que de'todo o coragéo detesto as minhas ambig6es e orgullib, que. nto sémente me fizeram desprezar proximo, més tambem a ‘Vés, meu 'soberano Bem. DirVos-ei com Santa Catharina de Genova: Mew Deus, nada mais de peccado, nada mais de peccado! Jé basta de offensas; nio quero mais. abusar da vossa paciencia. De hoje em diante quero amar-Vos de todo o coragdo ¢; para Vos agradar, quero abragar com humildade todos 0s desprezos que me” sejam feitos. Jé prevejo qué o in ferno augmentard tanto mais as tentagdes, quanto mais me vit desejoso de: ser. todo vosso. .Vés, porém, meu Sener, ajudae-me a ser-Vos.fiel:;* (*III 548.) 1 On 4 11. 40x 5,4 "Or, Dom, cure “ Tndulg. de 100 dias. . 1 TOO _DECIMA SETIMA SEMANA DEPOIS DE FRNTECOSTES. SEGUNDA-FEIRA. Do zelo da salvacao das almas que devem ter 0s religiosos', Recopera proximum tuum secundum virtutem suam— «Assiste so teu proximo segundo ts tuas forgas» (Eeclus. 29, 27). Summarie, Quem sm muito 0 Senkor, nfo se contents de ser 36 ¢m iuml-o; desejaria atteahir todo © mundo 0 sex artor. E que maior gloria para ohomem, que ser cooperador de Deus na grande obra da salvagio das almas? Correspondamos, pois, & noste eublime vocapfe, abrasando- nos sempre’ mais de santo zelo, dirjjamos para este fim todos 0s nossos empenhos. Deste modo, & medida que soccorrermos as almas do nosso Proxim, secrrenor 4 non popin mvt, « obteemos wn loge sito no ps I. Quem € chamado 4 Congregagio do Santissimo Redemptor (a alguma ordem de vida activa), nunca serd verdadeiro seguidor de Jesus Christo, e nunce ser4 ssinto, se no cumprir o fim de sua vocaco e nfo tiver 0 espirito do seu Instituto, que ¢ 0 de salvar as almas, e as almas mais privadas de soccorros éspirituaes, como sio os pobres moradores do campo. Foi este tambem o fim com que 'o Redemptor veiu ao mundo, pois declara «que o espirito do Senhor repousou sobre elle ¢ que 0 consagrou com a sua uncgdo para pregar o Evangelho aos pobres»®, Em nenhuma outra cousa quiz experimentar se Séo Pedro 0 amava, senfo na ‘sua dedicagao 4 salvagao das almas: Simon Ioannis, diligis me?...Pasce oves meas’— «Sim@o, fitho de Yoho, amas- me?... Apascerta as minkas ovelhas», Nao Ihe impoz, diz Sao Chrysostomo, esmolas, penitencias, orag6es ou cousas semelhantes, mas sémente que procurasse salvar as As pessoas seculares poderio tomar hoje uma das meditagtes de reserva do Appendice IV. . * Luc 4, 18. "To. a1, 17. SRGUNDAVEIRA, ror suas ovelhas: Apascenta as minhas ovethas. Jesus Christo declarou que teria como feito a si mesmo todo o bene- ficio que fosse feito 20 minimo dos nossos semelhantes: ‘Amen dico vobis: Quamdiu fecistis uni ex his fratribus meis minimis, mihi fecistis'— «Na verdade vos digo, que 0 que finerdes a um destes meus irmdos mais pequenines, a mim & gue o fisestes>. Deve, portanto, qualquer membro da Congregacao nutrir em supremo grau este zelo, este eépirito de soccorrer as almas, A este fim deve cada um dirigit todos os seus empenhos, E quando algum tempo os superiores 0 em- pregarem neste ministerio, deve pér nelle todo o seu pensamento e toda a attengao, Jé nilo se poderia con siderar como verdadeiro membro da congregagio aquelle que nao acceitasse com todo 0, affecto este emprego, quando imposto pela obediencia, para tratar sé de si mesmo, na vida de solidio e de retiro,—E que maior gloria para o homem, que ser cooperador de Deus, como diz So Paulo, na grande obra da salvacio das almas? Quem muito ama ao Senhor, nfo se contenta de ser sé a amalo, Quizera attrahir todo o mundo ao seu amor, dizendo com David: «Engrandecei 0 Senhor commigo, € exaltemos juntos 0 sex nome.» Portanto, como exhorta Santo Agostinho todos os que amam a Deus: Sé Deum amatis, omnes ad amorem cius rapite— «Se amaes a Deus, attraki todos ao seu amor>. Ti, Grande motivo para esperar a sua salvar eterna tem aquelle que com verdadeiro zelo se emprega em salvar alas. Diz Santo Agostinho: «Se salvaste uma’alma, pre- destinaste ao mesmo tempo a tua,r E o Espirito Santo pro- mette?: Cum effuderis esurienti animam tuam— «quando te tiveres empenhado pelo bem de um pobre», —et animam "Math, 25,40. * PS 33) % "a, 58, 10. TO2 _DECINA SETIMA SEMANA DETOIS DE PENTECOSTES. Affiictam repleveris— ce 0 tiveres enchido da graca divine por meio do teu zelo»,—implebit splendoribus animam tuam, requiem dabit tibi Dominus — co Senhor te encherd a alma de luz e de paz», Sdo Paulo punha a esperanca da sua salvagio eterna na salvacdo dos outros que elle procurava; pelo que diz ao& seus discipulos de Thessalonica: Vos enim estis gloria nostra et gaudium'— Vis sois a nossa gloria e alegrias. Senhor meu Jesus Christo, como posso agradecer-Vos dignamente, vendo-me por Vés chamado ao mesmo mi- nisterio que Vés exercitastes na terra, ao ministerio de, com as minhas fracas forcas, ajudar as almas a se sal- varem? Como merecia eu esta honra e este premio, depois de Vos haver offendido tao gravemente, e sido causa de que outros Vos offendessem? Sim, meu Salvador, j4 que me chamaes a ajudar-Vos nesta grande obra, quero servir- Vos com todas as minhas forgas. Eis-me aqui a offerecer- ‘Vos todos os meus trabalhos, e ainda o sangue-e a vida para Vos obedecer. Nao pretendo com isto satisfazer a0 meu proprio genio, ou receber a estima e os applausos dos homens; outra cousa no pretendo serio vér-Vos amado de todos, como mereceis. Bemdigo a minha sorte e me dou por feliz, por me haverdes escolhido para tio sublime officio, no qual desde j4 fago © sincero protesto de renunciar a todos os lou- vores dos homens e a todas as minhas satisfacgdes, e de querer s6 a vossa gloria, Seja‘vossa toda a honra,e satis- faccdo, e para mim sejam sémente os incommodos, os desprezos e as amarguras. Acceitae, Senhor, esta offerta que Vos faz um miseravel peccador, 0 qual Vos quer amar ¢ vér-Vos tambem amado dos outros; dae-me forgas para a executar.—Maria Santissima, minha advogada, vés que tanto amaes as almas, ajudae-me. (IV 429.) ' Thess. 2, 20, “rRRGALPEIRA, 103 TERGA-FEIRA. Devemos receiar que o primeiro novo peccado seja talvez o ultimo. Fill, peceasti? Ne adiciesiteram; sed et de prstnis deprecare, ut tbi'dimittansur— «Filho, peccaste? Nig tornes a peccer, pelo contraio roga para que ot peccados commeitidos te seam per doadoss (Beclus. 21, 1)- Summerio. No ha ninguem tfo louco que tome veneno ¢ diga: «Pode ser que 0s remedios me curem ; e ha christios que se condemnam & morte terme, na esperanga de se livrarem della mais tarde, Meu irmgo, tt 20 menos of pone 4 ato foe sen, eve tne mal rr TER a lunged avian jatige, eto fo aver mais pedo Ob, quentes foram precipitados no inferno, no mesmo instante em que procuravarr qualquer satisfacgio probibida! I. Tal € 0 conselho que nos dé 0 Senhor, porque nos quer salvar: que no tormemos a offendel-o, ¢ que de hoje em diante procuremos obter © perdo dos peccados commettidos: Ne adicias iterum; sed et de pristinis de- precare, ut tibi dimittantur. Meu irmao, quanto mais offen- deste a Deus, tanto mais deves receiarte de uma nova offensa, porque um peccado a mais poderia fazer baixar fa balanga da divina justica, ficarias condemnado, Nao digo que depois de mais um peccado nio haverd abso- lutamente perdio para ti; nfo sei; mas pode acontecer. Dize, pois, quando fores tentado: Quem sabe se Deus ainda me quereré perdoar ¢ se nfo ficarei condemnado? Dizeme: se fosse provavel que alguma iguaria contem veneno, havias de proval-a? se cresses com certa probabil dade'que em algum caminho os teus inimigos esto 4 tua espreita para te tirar a vida, passarias por elle, havendo outro mais seguro? E que certeza, ou mesmo que pro- babilidade tens de que, peccando de novo, terés depois verdadeiro arrependimento e nfo recahirds outra vez? ou que Deus nfo te deixard morrer no acto mesmo do pec- cado, ou depois delle te abandone? 104 DRCIMA SETIMA SEMANA’DEPOIS Dm PENTECOSTES. © Deus! Quando compras uma casa, tomes todas as providenciag para legalizar © negocio ¢ néo perder o di- nheiro, Quando tomas um remedio, primeiro procuras certificar-te de que nfo te fard mal. Se passas. um rio, tomas precaug6es ,para néio cabir na agua, E depois por ‘uma satisfaccdo miseravel, por um prazer immundo, que- rerds por em risco a salvagdo eterna, dizendo: Espero que me'hei de confessar?—Escuta o que te diz Santo Agosti- sho! Deus, assim fala o Santo, prometteu o perdio ao que se arrepende, mas no prometteu o dia seguinte ao que 0 offende. Se peccares, pode ser que Deus te dé tempo de fazer penitencia, pode ser que no. Se no t'o dér, que serd de ti em toda a eternidade? Entretanto, perdes a alma por um miseravel prazer e 2 pées em perigo de ficar eternamente perdida; IL, Avivemos a nossa fé, Dize-me, meu irméo, « existencia do céu e do inferno ¢ uma verdade santa, on uma pura invengdo? Crés que, se a morte te colhesse em estado de peccado, estarias perdido para sempre?... Que temeridade, pois, 0 condemnarte a uma eternidade de-penas, dizendo: Espero mais tarde reparar as minhas faltas! Nemo sub spe salutis ult aegrotare— «Nao ha ninguem tio louco», diz Santo Agostinho, (Eecles. 12, 5). Summerio. Exramos quando chamamos nesta a casa na qual actual. mente morames. Em breve a casa do nosso corpo seri a cova, onde ficard até 0 dia do juiz0; a casa da nossa alma serd 0 e64 ou 0 inferno, alli fear durante loda a eteruidade, Mea itmfo, dize-me: se © Senhor te deixasse morrer neste instante, qual das duns ctsas seria a da toa slma?... Abl zeflece bem: tantos ha que nfo penstvam que seriam condemnados © agora estfo ardendo nos abysmes do inferno! I, Erramos chamando nossa a casa na qual presente- mente habitamos. Em breve, a casa do nosso corpo serd uma cova, onde ficard até 0 dia do juizo; e a casa da nossa alma seré 0 céu ou o inferno, ¢ alli terd de ficar durante toda a eternidade. — A sepultura os cadaveres nao vio por si mesmos, vdo levados por outros; mas a alma 106 RCIA SRTIWA SRMANA DEPOIS DE PRNTRCOSTRS. ird.por si mesma ao logar que Ihe caberé, ou de gozo eterno ou de eterno sofitimento. O komem iré & casa de sua eternidade. Conforme 0 homem pratica 0 bem ou o mal, dirige-se 4 casa do paraiso ou do inferno, e destas casas nfo se muda mais para outra. Os moradores da terra séem muitas vezes mudar de casa, ou por capricho ou por terem sido desalojados. Na eternidade nao ha mais mudanga; ficarse-4 eternamente na casa na qual se entrow primeiro: Si ceciderit Lignum ad austrum, sive ad aguilonem, in quocumaue loco ceciderit, ibi erit!—«Se a arvore cahir para a parte do meio-dia, ou para a do norte, em qualquer logar onde cahir, ahi Jficards. Quem entrar no céu, ser eternamente feliz; quem cahir no inferno, serd eternamente desgragado. Quem en- trar no céu, estard para sempre unido a Deus, para sempre em companbia dos Santos, para ‘sempre em suprema paz e pleno contentamento, porque todo o Bemaventurado es- tard repleto e saciado de go2o, sem receiar” jamais a sua perda. Ao contrario, quem entrar no inferno, estaré para sempre afastado de Deus, para sempre ardendo no fogo no meio dos reprobos, Nem imaginemos que os soffrimentos do inferno sejam como os da terra, cujo rigor se sente menos pelo habito, Assim como as delicias do céu jamais causardo fastio, ‘mas patecerdo sempre novas, como se fossem gozadas pela primeira vez; assim no inferno as penas nunca perderso 0 seu rigor. De forma que os infelizes reprobos soffrerso du- rante toda a eternidade o mesmo tormento que soffreram no primeito instante da sua entrada no inferno. TL «© eternidade!» exclama Santo Agostinho, <6 eterni- dade! Quem pensa em tie nfo se converte a Deus, per- deu a razdo ou a fé» E Sao Cesario accrescenta: «Ai dos peccadores que entram na eternidade sem a terem 4 Becles. 11, 3: auanra.werea 107 conhecido, porque se descuidéram de pensar nellal Os desgragados tero attrahido sobre si dous males irrepara- veis; 0 primeiro serd o cahirem no abysmo do fogo; 0 segundo, 0 no mais delle poderem sahir durante toda a eternidade, porquanto a porta do inferno sé se abre para dar entrada e ndo para dar sahida: Ingredinntur et non egrediuntur. No, os santos n&o fizeram demais internando-se nos desertos e em grutas, alimentando-se com hervas, e dor- mindo no chao, afim de salvarem sua alma, Naog diz Sao Bernardo, néo fizeram demais, porque, em se tratando da eternidade, nenhuma precaugdo ¢ exagerada: Nulla nimia Securitas, ubi periclitatur acternitas.— Quando Deus nos visita com a cruz de alguma enfermidade, ou de qualquer outro mal, lembremo-nos do inferno, que temos merecido, € toda a tribulagdo se nos affigurard leve. Digamos entao com Job: Peccavt et vere deliqui, et ut cram dignus non recepi'— Pequei e devéras delingui, e nto tenko sido castigade como mereciar. Meu Senhor, tenho-Vos offendido e trahido tantas vezes, € no tenho sido castigado como metecia; como poderia, pois, lastimar-me quando me enviaes alguma tribulago, a mim, que merecia estar ardendo nos abysmos infernaes?— Supplico-Vos, meu Jesus: no me mandeis ao inferno, visto que no inferno nao mais Vos poderia amar, mas Vos havia de odiar para sempre. Despojaeme de tudo: das riquezas, da saude; mas nao me priveis de Vés mesmo. Fazei que Vos ame e Vos bemdiga sempre, e depois cas: tigaeme, e fazei de mim segundo a vossa vontade.— © Mae de Deus e minha Mae Maria, pela vossa inter- cessio, que tudo obtem de Deus, impetrae-me a graga de ser todo delle; fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Christo, vosso divino Filho. (II 286.) "ob 33, 27. TOS —-DECIMA SETIMA SEMANA DrFOIS DE PENTECOSTES, QUINTA-FEIRA: A santa’Missa é um meio efficaz para obtermos as gragas de Deus. In omnibus divites fecti estis in illo — «Em todas as cousas fostes enriquecidos nelle» (1 Cor. 1, 5). ‘Summarie, Posto que o Senor esteja sempre disposta a nos conceder fs suas grages, dispensu-as todavia com mais largueza no tempo da missa tos‘ rogos do sazerdote, juntos aos de Jesus Christo que € 0 offerente principal. Os mesmos anjos aproveitem tempo da missa para inter- ccederem mgis effcarmente em neato favor} ¢ 0 que enlto se nfo obtem, obterse Aitfcilmente em outro tempo. Que thesouros podemos, sjontar pela celebragfo devota do divino sacrifcio e pela sus devota ssistencia! I. Considera que a santa missa é um verdadeiro sacri- ficio impetratorio, isto 6, instituido para alcangar de Deus os auxilios e as gracas de que necessitamos, E uma ver- dade da f& que 0 Pae Eterno dispensa seus favores sempre que forem pedidos pelos merecimentos de Jesus Christo: Si quid petieritis Patrem in nomine meo, dabit vobist— «Se pedirdes alguma cousa a meu Pae em meu nome, elle vol-a dard». Observa, porém, Sao Jodo Chrysostomo que no tempo da missa Deus os dispensa com maior lar- gueza aos rogos do sacerdote, porque estes entdo sio acompanhados e reforgados pelos rogos do proprio Jesus Christo, o offerente principal, que neste sacrificio se offerece ao Pae, afi de nos obter as gracas. Pelo que um’ grande servo de Deus dizia: Quando celebro e tenho Jesus Christo na mio, aleango tudo que desejo. Se soubessemos que todos os Santos do paraiso, em unido com a divina Mae, intercedem por nés, que con- fianga nfo teriamos de tudo succeder para nosso proveito? Pois bem, é certissimo que um sé pedido de Jesus Christo vale infinitamente mais do que todos os pedidos dos Santos. Este pedida, posto que, na palavra de Sao Paulo, Jesus QuInTArnEA, 109 Christo 0 faga por 1iés continuamente no céu (Qui etiam interpellat pro nobis'— «Que tambem intercede por nés»), falo todavia especialmente na hora da missa, na qual se renova o sacrificio da Cruz, Eis porque, como se exprime 0 Concilio de Trento, 0 tempo da celebragfo da missa € exactamente aquelle em que 0 Senhor esté no throno de graga, ao qual 0 Apostolo nos exhorta que recorramos com confianga para obtermos a divina misericordia: Adeamus ergo cum fiducia ad thro- mum gratiae?, Sao Joao Chrysostomo attesta que, os mes- mos anjos esperam o tempo da missa, para intercederem mais efficazmente a nosso favor; e accrescenta que 0 que no se alcanga na missa, difficilmente se alcangard- em outro tempo. Oh! que thesouros de gracas podemos ajun- tar celebrando devotamente o divino:sactificio ou assis- tindo a elle com attengio: Em todas as cousas fostes en- riquecidos nelle! TL. Se tivesses certeza de que perto de tua casa se acha uma rica mina de ouro e.que cada dia te & per- mittido nella entrar meia hora para tirar quanto quizeres, qual no seria o teu contentamento? Aviva, porém, a tua f€ e lembra-te de que o Rei do céu na santa missa poe 4 tua disposicio. uma mina incomparavelmente mais pre- ciosa, porque contem os merecimentos infinitos de Jesus Christo, pelos quaes podes alcangar todas as gragas. Pro- p6e-te, portanto, a assistir todos os dias 4 missa, mesmo a custo de algum incommodo. Pondera que, se o Senhor se offerece mil vezes sobre o altar por ten amor, justo € que tu tambem sacrifiques alguma pequena commodi- dade, algum pequeno interesse..E sendo-te impossivel ouvir a missa, assiste a ella a0 menos em espirito. Infeliz de mim! Quantas gragas, 6 meu Deus, tenho perdido pelo meu descuido em as pedir, celebrando ou 1 Rom. 8 34? Hebr. 4, 16, TIO DECIMA SETIMA SEMANA DEPOIS DE PRTECOSTES. ouvindo a santa missa! Mas j4 que me illuminaes, nfo me quero mais descuidar disso. O Padre Eterno, uno as mi- nhas oragées 4s de Jesus Christo e pelo amor desse vosso Filho, que por meu amor se immola sobre o altar, Vos rogo antes de tudo que me perdoeis todos os meus pec- cados, visto que os detesto de todo o coracao. Fazei-me, além disso, conhecer os direitos infinitos que tendes a0 meu amor, e dae-me forga para me livrar de todos os affectos terrestres e de empenhar todo o meu coragdo ,unicamente em Vos amar, que sois 0 Bem su- Premo, digno de amor infinito.—Peco-Vos tambem que illumineis aquelles que Vos no conhecem, ou vivem pri- vados da vossa amizade, Meu Pae, dae a todos o dom da vossa graga; dae a todos 0 dom do vosso santo amor, Fazei‘o pelo amor de Jesus Christo e pela intercessio de Maria Santissima, (*II 819.) SEXTA-FEIRA. Vida desolada de Jesus Christo. Magan est velut mare contitis tus, Quis modebitur tui? —

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