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Introdução:
de Janeiro
qualquer documentação referente a desapropriação deste espaço vicentino por parte da Coroa.
Do mesmo modo, não foi ainda descoberto algum foral ou qualquer autorização
régia que permitisse Estácio de Sá fundar uma vila no Morro Cara de Cão, em princípio
elevasse esta vila, quando de sua transferência para o morro do Castelo, à condição de
cidade, status reservado, em princípio, aos centros urbanos que abrigassem uma sé episcopal
Discordando do modelo hipotético que considera tais fontes como extraviadas dos
cartográfico, que esta documentação nunca foi emitida, levando-nos a considerar que tanto a
circundante, que permitiu a expansão da Capitania Real do Rio de Janeiro, deram-se sem o
1-As Latitudes das Capitanias Concedidas aos Irmãos Pero Lopes e Martim Afonso de
Sousa
Hey por bem, e me apraz de lhe fazer mercê (a Pero Lopes), de 80 legoas de terra
na dita Costa do Brazil, repartidas desta maneira: 40 legoas de terra que
começaram de 12 legoas ao sul da Ilha de Cananéia, e acabaram na terra de Santa
Anna, que está em altura de 28 graos, e hum terço; e na dita altura se porá o
Padram, e se lançará huma linha, que se correrá a Loeste: e de 10 legoas, que
começaram do Rio de Curparê, e acabaram no Rio de S. Vicente; e no dito de
Curparê da banda do Norte se porá Padram, e se lançará huma linha, pelo rumo de
Noroeste athe altura de 23 graos, e desta dita altura cortará diretamente a Loeste; e
as 30 legoas, que fallecem, começaram no rio, que cerca em redondo a Ilha de
Itamaracá, ao qual rio eu ora puz nome, Rio da Santa Cruz, e acabaram na Bahya
da traycam, que está em altura de 6 graos, e isto com tal declaraçam, que a 50
passos da Caza da Feitoria , que de principio fez Christovam Jacques (...) (3)
Hey por bem, e me apraz de lhe fazer mercê (a Martim Afonso de Sousa) (...)
segundo irá declarado de cem leguas, que começarão de treze leguas ao Norte de
Cabo Frio, e acabarão no Rio de Curpare, e do dito Cabo Frio começarão as ditas
treze leguas ao longo da Costa para a banda do Norte, e no cabo dellas se porá um
padrão das minhas armas, e se lançará uma linha pelo rumo de Noroeste até altura
de vinte e um graus, e desta dita altura se lançará outra linha que corra
direitamente a Loeste, e se porá outro padrão da banda do Norte do dito Rio de
Curpare, e se lançará uma linha pelo rumo de Noroeste até altura de vinte e tres
graus e desta altura cortará a linha direitamente a Loeste, e as quarenta, e cinco
leguas, que fallecem começarão do Rio de São Vicente, e acabarão doze leguas ao
Sul da Ilha de Cananea. (4)
Assim, este segundo bloco tem como referência inicial o paralelo de 28 graus e 1/3,
ou seja, 28º 20’ S. A partir deste, contavam-se então as distâncias correspondentes em direção
norte, até o paralelo 21º S, limite setentrional da Capitania de São Vicente e,
consequentemente, deste segundo bloco. Os domínios de Pero Lopes completavam-se com a
capitania de Itamaracá, situada no primeiro bloco, ao norte de Pernambuco.
Estas cartas de doação das capitanias dos irmãos Sousa nos revelam dados
surpreendentes. Inicialmente, por ter este segundo bloco seus limites definidos não por ponto
referencial costeiro ou distâncias lineares a outras capitanias, conforme ocorrido no primeiro
bloco, mas sim por paralelos geográficos, precisão a princípio surpreendente e inexplicável ao
considerar que haviam passados somente três décadas do descobrimento do Brasil. Além
disso, como a carta de Pero Lopes refere-se à capitania situada mais ao sul, este documento
tem a particular importância de identificar o paralelo da terra de Santa Anna como o limite
meridional da América portuguesa, reconhecido então pela Coroa. Este paralelo, de 28º 20’
S, corresponde ao da Ponta de Imbituba, em Santa Catarina, ponto notável igualmente
4
próximo ao meridiano definido por Tordesilhas, tomado em sua extensão máxima ocidental.
Assim, o limite meridional dos domínios americanos da Coroa de Portugal definido por
latitude na carta de capitania de Pero Lopes coincide, de forma precisa, com este mesmo
definido em termos de longitude, estabelecido em 1494 pelo Tratado de Tordesilhas. (5)
Ao mesmo tempo, este segundo bloco de capitanias, concedido do sul para o norte
a partir do paralelo de 280 20’ S, tem como limite setentrional o paralelo 21º S, que intercepta
a linha costeira exatamente sobre a foz do rio Itapemirim. Por conseguinte, o limite
meridional do primeiro bloco de capitanias concedido do norte para o sul, encontrava-se da
mesma forma precisa com o limite setentrional do segundo bloco de capitanias, delimitado do
sul para o norte, sobre o paralelo 21º S.
Um outro dado surpreendente neste bloco meridional refere-se a estreita faixa de 10
léguas, concedida a Pero Lopes, na porção mediana da Capitania de São Vicente.
Desconhecemos as razões que levaram a Coroa a adotar esta estranha configuração espacial.
Sabemos que as incursões interioranas partiam, preferencialmente, do planalto vicentino,
salomônicamente a ser compartilhado pelos irmãos Sousa. Contudo, em princípio, a
existência deste mais importante acesso interiorana deveria ser ainda do desconhecimento dos
responsáveis por esta divisão territorial.
Todavia, a divisa setentrional entre a Capitania de Santo Amaro, que corresponde a
esta estreita faixa de 10 léguas, e a de São Vicente, e assim como entre esta Capitania e a de
Espírito Santo, não foram definidos unicamente pelos paralelos geográficos de 21ºS e 23ºS,
mas também por linhas de rumo noroeste que interceptavam estes paralelos, a partir de pontos
referenciais costeiros.
Assim, a divisa setentrional entre Santo Amaro e São Vicente era formada também
por uma linha de rumo noroeste que atingia o paralelo 23º S partindo da foz do rio Curparê,
ou Jucuriquerê. Da mesma maneira, o limite setentrional de São Vicente era também formado
por uma linha igualmente de rumo noroeste, cujo ponto de origem situava-se a treze léguas de
Cabo Frio, atingindo o referido paralelo 21º S, segundo nossos cálculos, próximo a atual
cidade de Visconde do Rio Branco, no Estado de Minas Gerais.
Acreditamos que este foi um recurso que os responsáveis pela redação destas cartas
de capitanias encontraram para evitar superposição de áreas, optando por deixar uma zona de
segurança entre as Capitanias de Santo Amaro e São Vicente e entre os dois referidos blocos
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de capitanias, um deles, conforme visto, delimitado a partir da foz do rio São Francisco para o
sul e o outro do paralelo de 28º 20’ para o norte.
Contudo, no caso desta divisa com o paralelo 21º S, deixou-se uma área triangular
de dimensões excessivas. Essa cunha sobrante foi então doada a Pero de Góis em 1536, como
capitania de São Tomé. Apesar de não observar-se na carta de capitania que esta área teria a
forma triangular e não, como todas as restantes, de faixa estendendo-se ao interior, a
dimensão a ela concedida na costa, trinta léguas, corresponde exatamente à distância entre as
trezes léguas de Cabo Frio ao paralelo 21º S. (6).
Neste mesmo ano de 1536, Martim Afonso, que não demonstrou maiores interesses
por sua capitania, transfere a administração para sua esposa, D. Ana de Pimentel. Em 1539,
seu irmão Pero Lopes morre próximo a Madagascar, ao retornar da Ásia. Assume então a
administração de suas capitanias também sua esposa, D. Isabel de Gamboa. Os esforços
colonizadores das capitanias dos irmãos Sousa restringem-se, neste momento, a região
litorânea próxima a São Vicente, onde é fundada a vila de Santos, em 1545, e ao planalto de
Piratininga, que não se sabia onde se encontrava situado, se na capitania de Martim Afonso ou
de Pero Lopes, ocupado por João Ramalho, seus descendentes mamelucos e indígenas aliados.
Em 1546 Pero de Góis abandona a capitania de São Tomé devido aos constantes
ataques dos índios goitacá, transferindo os colonos para as capitanias do Espírito Santo e São
Vicente Pouco depois, a Coroa incorpora a capitania de Todos os Santos ao indenizar o filho
do donatário, Francisco Pereira Coutinho, morto pelos indígenas após naufragar na costa da
Baía. Em 1549, instala-se nesta capitania real Tomé de Sousa, primeiro governador-geral, que
traz a determinação em seu regimento de fundar uma cidade na baía de Todos os Santos, onde
já havia uma vila, estabelecida por seu finado donatário. O limite desta cidade, que recebe o
nome de São Salvador, deveria ser de seis léguas em roda, a partir de seu centro. Logo em
seguida, em 1551, o papa Júlio III instaura o bispado do Brasil, com sede em São Salvador,
que ganha assim sua verdadeira dimensão de cidade ao abrigar a sé episcopal.
Acompanhando Tomé de Sousa vem, sob o comando do P. Manuel de Nóbrega, o
primeiro contingente jesuítico. Após inicialmente instalado na cidade de São Salvador,
Nóbrega acompanha Tomé de Sousa em viagem a Capitania de São Vicente, resolvendo então
este religioso em não medir esforços na instalação da Companhia de Jesus no planalto
vicentino, onde se encontra a vila fundada por João Ramalho, denominada Santo André.
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Próxima a esta vila Nóbrega funda um pequeno colégio, que denomina de São Paulo, para
atender a população local Neste momento, a porção setentrional da capitania de São Vicente,
incluindo a baía da Guanabara, encontrava-se praticamente abandonada. .
Dois anos após, em 1555, entrou nesta baía uma esquadra de naus francesas, ocupando
uma ilhota próxima à sua barra. Era essa expedição militar comandada por Nicolas Durand de
Villegaignon, que logo se transfere para uma outra ilha maior e melhor abrigada, dando início
à construção de uma fortificação. Essa ilha, denominada pelos índios de Serigipe, guarda até
hoje o nome deste comandante francês, Ilha de Villegaignon.
Assim que chegou, Villegaignon estabeleceu uma aliança guerreira com os indígenas
Tupinambá, que, após a expulsão de seus inimigos Temiminó, dominavam inteiramente a baía
da Guanabara Em 30 de abril de 1557, parte de Portugal para o Brasil Mem de Sá, 3º
Governador Geral. Assim que chegou, Mem de Sá defrontou-se com a eclosão de um grande
levante indígena na Capitania do Espírito Santo. Depois de conseguir pacificar esta Capitania,
preparou-se para dar combate aos franceses na Guanabara, aonde chegou em 1560,
acompanhado do Pe. Manoel de Nóbrega. Villegaignon tinha partido pouco antes para
Europa, a fim de procurar apoio ao seu empreendimento, deixando o comando sob a
responsabilidade de seu sobrinho, Bois-le-Comte. Após intensos combates, o Governador
expulsou os franceses de sua fortaleza, retirando-se para São Vicente. Os franceses, com
ajuda dos aliados Tamoios refugiaram-se nas matas, reconstruindo a fortaleza, depois da
partida de Mem de Sá.
Essa expedição, conhecida como "invasão francesa", costuma ser considerada como
um empreendimento calvinista apoiado pelo rei Henrique II, de França, com finalidade de
fundar uma nova colônia na América, a França Antártica. Contudo, o comandante desta
expedição não era protestante, mas sim um freire católico da Ordem São João de Jerusalém,
também conhecida como Ordem de Malta (7).
Em França, Villegaignon convidou os jesuítas a participarem deste empreendimento,
conforme carta do Padre Nicolau Liétard, de 6 de março de 1560, ao Geral da Companhia (8).
7
Em 1562, por motivos que nos são ainda desconhecidos, o Geral da Companhia de Jesus
decidiu não aceitar o convite da aliança com este frei da Ordem de Malta (9). Neste mesmo
ano de 1562, Villegaignon, que não mais voltou ao Brasil, negociou com o embaixador
português em Paris, Pereira Dantas, a renúncia deste empreendimento em solo americano,
recebendo em troca uma indenização de 30.000 ducados. Contudo os soldados franceses, sob
o comando de Bois-le-Comte, permaneceram resistindo, obrigando assim à continuidade da
guerra.
A 1º de maio de 1563 chegou à Bahia, acompanhado de mais quatro jesuítas, Estácio
de Sá, filho de Diogo de Sá, por sua vez primo direto do pai do governador Mem de Sá, o
cônego Mendes de Sá (10). Veio ele com a incumbência de ajudar o Governador a expulsar da
Guanabara os invasores e ocupá-la, em definitivo, fundando uma povoação. Após organizar
uma esquadra, Estácio de Sá partiu da Bahia em direção ao Espírito Santo e São Vicente a fim
de receber reforços de índios e mamelucos (11). A 20 de janeiro de 1565 saiu ele de Bertioga
para o Rio de Janeiro acompanhado dos jesuítas Gonçalo de Oliveira, capelão da expedição, e
Anchieta, ainda coadjutor temporal. Acompanhava-o também uma tropa indígena comandada
por Araribóia, "principal" Temiminó originário do aldeamento jesuítico de São João, no
Espírito Santo, que, ao ser batizado, adotara o nome cristão de Martim Afonso de Sousa (12).
Ao chegar à baía da Guanabara, Estácio de Sá estabeleceu-se próximo a sua barra,
entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar, fundando aí um povoado. Iniciou-se então uma
luta de escaramuças entre as tropas comandadas por Estácio de Sá e Bois-le-Comte, sem
vitória decisiva para nenhum deles. Em maio de 1566, partiu do Tejo uma armada de três
galeões comandada por Cristóvão Cardoso de Barros, trazendo reforços e com ordens
expressas para Mem de Sá ir pessoalmente ao Rio e expulsar definitivamente os franceses.
Em 18 de janeiro de 1567 Mem de Sá chegou à Guanabara iniciando logo o ataque às
posições francesas. Em um desses ataques Estácio de Sá foi atingido por uma flecha no rosto,
vindo a falecer um mês depois. Contudo, as tropas portuguesas, com o apoio decisivo dos
indígenas comandados por Araribóia, conseguiram tomar todos os bastiões franceses. Batidos
na Guanabara, os franceses dirigiram-se então para Pernambuco tomando posse de Recife, de
onde foram novamente expulsos pelo comandante da praça de Olinda, então uma das mais
importantes e florescentes vilas do Brasil.
8
Neste mesmo ano, o governador geral transfere o povoado fundado por Estácio
de Sá do morro Cara de Cão para o morro do Castelo. Passa então a denominar este novo
núcleo urbano de cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em homenagem ao futuro rei de
Portugal, D. Sebastião, iniciando então a distribuição de sesmarias, apesar de nas primeiras
cartas de concessão reconhecer que seu regimento não fale nesta cidade de São Sebastião do
Rio de Janeiro. Para tanto, Mém de Sá utiliza-se do artifício de estender para o Rio os poderes
a ele concedidos pela Coroa unicamente para a cidade de São Salvador (13). No ano seguinte,
em 1568, Mém de Sá retorna à Salvador, nomeando Salvador Corrêa de Sá como capitão-mor
e governador da Capitania do Rio de Janeiro e da cidade de São Sebastião. Os limites da
cidade restringiam-se ao núcleo urbano centrado no morro do Castelo e à capitania as seis
léguas em torno deste ponto ainda hoje central da cidade. Contudo, ao contrário do ocorrido
na Bahia, onde a Capitania de Todos os Santos foi reincorporada pela Coroa e para onde esta
mesma Coroa concedeu foral de instalação de uma cidade, a Capitania do Rio de Janeiro
surge sem que a Capitania de São Vicente fosse reincorporada aos domínios da Coroa ou que
esta tenha concedido algum foral para que na capitania de Martim Afonso fosse fundada uma
cidade. Neste mesmo ano assume o trono D. Sebastião que concede autorização para que a
Companhia de Jesus instale um colégio na capitania de São Vicente. Contudo, este colégio
será implantado na sesmaria concedida aos jesuítas no ano anterior de 1567 por Mém de Sá
no morro do Castelo, no Rio de Janeiro (14).
Em 1571 morre em Portugal Martim Afonso de Sousa, deixando como
donatário de São Vicente seu filho, Pero Lopes de Sousa. Ainda neste ano D. Sebastião
nomeia Cristóvão de Barros capitão e governador da capitania e cidade de São Sebastião do
Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, passa a Cristóvão de Barros uma provisão sobre doação de
sesmarias no Rio de Janeiro onde determina que todas as terras que estão a roda desta cidade
que foram dadas a moradores de outras capitanias se, dentro de um ano, não estivessem
ocupadas que fossem tomadas e doadas a moradores do Rio de Janeiro (15). Acreditamos que
este documento corresponda à certidão de batismo da capitania, já que a referência aos
moradores de outras capitanias dirigia-se, certa e principalmente, aos sesmeiros de São
Vicente. Sua existência nos faz crer em algum acordo informal estabelecido por Martim
Afonso com a Coroa no sentido desta incorporar as terras em roda da cidade. Contudo,
conforme veremos tal acordo, se realmente existiu, nunca foi devidamente legalizado.
9
Ostras à foz do Macaé. Esta sesmaria encontrava-se não só fora dos limites de seis léguas
referentes à Capitania do Rio de Janeiro como dentro da Capitania de Cabo Frio, que tinha
como limite o mesmo rio Macaé. Em 1630 Martim de Sá acrescente a esta sesmaria uma
outra que corresponderia a todos os pastos que correm do Rio Maquiê até a Paraíba, região
pertencente à Capitania de São Tomé. Contudo, apesar de assinar esta carta de sesmaria como
capitão-mor e governador do Rio de Janeiro, em seu despacho se identifica também como
procurador de Gil de Góis e da Condessa de Vimieiro, donatários das Capitanias de São Tomé
e São Vicente (20).
O poder dos Sás no Rio de Janeiro é consolidado com a nomeação de Salvador
Corrêa de Sá e Benevides, filho de Martim de Sá em 1635, como Governador da Capitania do
Rio de Janeiro, cargo em que será confirmado por D. João VI em 1641, com o fim da União
Ibérica. Em 1653, quando Salvador de Sá e Benevides encontrava-se no auge de seu prestígio
político junto às cortes de Lisboa, ocupando um lugar no Conselho Ultramarino após ter
expulsado os holandeses de Angola, o tutor de D. Diogo de Faro e Sousa, da casa dos
Vimieiros e herdeiro da Capitania de Itanhaém, ou seja, originalmente de São Vicente,
transfere seus direitos donatários do herdeiro para a irmã deste, casando esta com o Conde da
Ilha do Príncipe, D. Luis Carneiro, que recebe estes direitos donatários como dote de
casamento.
Em 1664, o rei Afonso VI concede o morgadio do Paul dos Assecas, uma
comenda da Ordem de Cristo, a Salvador de Sá e Benevides. Dois anos depois, este mesmo
rei concede o título de Visconde dos Assecas a Martim Corrêa de Sá, primogênito de
Benevides. Em 1674 o Visconde dos Assecas receberá, como reconhecimento da Coroa pelos
serviços prestados por seu pai, os direitos hereditários da Capitania de São Tomé, incorporada
pela Coroa após a morte de Gil de Góis, conhecida então como Paraíba do Sul. Contudo, esta
nomeação resultou em um grande conflito com os pecuaristas instalados nesta capitania, que
acusavam Benevides ter usurpado, junto com os jesuítas, a maior parte das terras concedidas
aos 7 capitães, primeiros sesmeiros a ocupar a capitania (21).
Em 1709 o Marques de Cascais, herdeiro das Capitanias de Itamaracá e de
Santos e São Vicente, pede autorização da Coroa para transferir seus direitos de donatários
desta última capitania para José de Goes de Moraes por 40. Mil cruzados (22). O Conselho
Ultramarino manifesta-se contra esta transferência “(...) porque esta Capitania he hoje a mais
12
importante que V. M. tem em seus reais dominios e que conthem em si minas, ficando nas
vezinhanças das mais preciozas, e passagem para ellas (...)”, por esta razão o Conselho opina
na compra pela Coroa da capitania pelo valor referido, no que é acatado pelo rei. Contudo,
conforme nota-se na petição do Marque de Caiscais translada no documento do Conselho
Ultramarino, era ele donatário não da capitania original de São Vicente, mais sim da de Santo
Amaro que, em razão do imbrolio cartográfico, tinha indevidamente adotado o nome de São
Vicente. Portanto, não era nesta capitania que se encontravam as minas, mas sim na de
Itanhaém. Em 1710 a Coroa formaliza a compra da capitania do Marque de Cascais, criando a
Capitania de São Paulo e Minas.
Este equívoco vem à tona quando 1716 o Conde da Ilha do Príncipe faz uma
petição ao Conselho Ultramarino solicitando o pagamento da redízima que lhe pertencia das
100 léguas de terra que era donatário na Capitania do Rio de Janeiro (23). Desconhecemos
ainda o desdobramento da petição do Conde da Ilha do Príncipe, contudo a existência deste
documento não nos deixa dúvidas de que a ocupação régia da porção setentrional da Capitania
de São Vicente deu-se de forma indevida e sem base legal, o que permitiu ao Conde
reivindicar seus direitos donatários sobre a Capitania do Rio de Janeiro, mas que na verdade,
estendia-se também para a Capitania de São Paulo e Minas. É bem provável também que os
conselheiros ultramarinos só tenham percebido de que a Capitania Real do Rio de Janeiro não
fazia ainda parte do patrimônio da Coroa e que esta ainda não havia incorporando a região das
minas onde pouco depois iria encontrar também diamantes. Provavelmente também esta
petição resultou na incorporação da capitania do Conde da Ilha do Príncipe pela Coroa, pois
em 1720 as Capitanias de São Paulo e de Minas são criadas como independentes.
Devido aos conflitos na Capitania de Paraíba do Sul, degenerado em uma
verdadeira guerra civil, a Coroa, em 1733, a retoma dos Assecas. Contudo, pouco depois
retorna esta capitania aos domínios donatários dos Assecas, reacendendo os conflitos.
Finalmente, em 1752, a Coroa incorpora definitivamente a Capitania de São Tomé à Capitania
Real do Rio de Janeiro, definindo praticamente a configuração do atual Estado do Rio de
Janeiro.
13
Considerações Finais:
revelar que os registros cartográficos referentes ao litoral brasileiro, da foz do São Francisco a
limiar do século XVIII Esta precisão se encontra expressa não só em relação as extensão de
ficou resolvido para o navegador (24). Até o século XVII somente cosmógrafos doutos
astronômicas nas três décadas que separam o descobrimento do Brasil e sua divisão em
em nosso litoral porém, em sua maioria, como no caso da registrada por Pero Lopes de Sousa,
foram observações expeditas que não permitiriam dimensionar a costa com maior precisão. O
mais antigo registro histórico de observação feita por astrônomos no Brasil refere-se à datada
por Harley de 1660, com finalidade de determinar a declinação magnética em Cabo Frio (26).
estritamente reservado até o momento em que a frota comandada por Cabral desse início à
da estreita faixa concedida a Pero Lopes de Sousa na porção mediana da capitania de seu
irmão. Como a carta de doação não define em qual barra de São Vicente esta faixa inicia,
torna-se impossível precisar, ainda hoje, em que capitania se encontravam as vilas de São
Vicente e Santos. Mesmo o posicionamento da vila de São Paulo, que sabemos encontrar-se
na Capitania de Santo Amaro, era uma tarefa de difícil realização aos agrimensores do século
XVII (28).
tio Pero Lopes, tenham acertado informalmente a transferência da posse da região da baía da
Guanabara à Coroa, pois, após a expulsão dos franceses e a ocupação efetiva Guanabara, os
capitães de São Vicente não mais concederam sesmarias dentro do espaço reservado de seis
léguas. Porém, suas mortes prematuras e inesperadas no Norte da África impediram que este
acordo fosse devidamente oficializado.
demarcatória, acabou por dar margem a uma demanda jurídica pela posse de São Paulo
fervorosa pelo domínio da região de São Paulo, antes mesmo da descoberta das minas de ouro
15
e quando era ainda uma vila pobre, situada em uma região de difícil acesso do litoral, dada a
íngreme encosta da Serra do Mar a ser vencida neste percurso, e habitada principalmente por
mamelucos de poucos recursos. Contudo, parece-nos que a motivação foi a mesma que fez o
Refere-se o superior jesuíta a este planalto, em 1554, como a porta e o caminho mais certo e
seguro para entrar nas gerações do sertão (29). Porém, considerando a imensidão do
tão pouco tempo após iniciada a ocupação colonial do Brasil, este jesuíta recém chegado
Assim, nas capitanias reservadas aos irmãos Sousa situavam-se dois importantes,
estratégica não só na defesa do litoral como também no controle da rota para o Índico que,
Norte ao de Santa Catarina. Deste modo, não é sem motivo que, até os dias atuais, o eixo Rio
do Brasil pela ótica única do negativismo ou como responsável maior de nossas atuais
mazelas, não há como deixar de ressaltar o fato de, em uma colônia de tão grande dimensão,
NOTAS
16
5- Dado à imprecisão dos termos do Tratado, que não definia a extensão da légua a ser usada,
sua origem de contagem e se esta se daria pelo equador ou pelo paralelo de Cabo Verde, na
verdade foi uma faixa o que, a princípio, foi estabelecido. Dependendo, assim, dos
referencias adotados, a discussão sobre a longitude do meridiano de Tordesilhas variou do
estabelecido pelos cálculos dos cosmógrafos espanhóis da Junta de Badajoz, que chegaram
ao valor correspondente a aproximadamente 45º 30' a oeste de Greenwich, ao cálculo do
cosmógrafo português Diego Ribeiro que chegou a longitude correspondente a 49º 45' oeste
de Greenwich. Considerando a ponta de Santo Antão como ponto referencial, por
encontrar-se no extremo ocidental do arquipélago dos Açores, e adotando os valores de 6
600 m. para a légua (correspondente a 300 braças) e de 110 573 m para o comprimento de
1º de longitude no equador encontramos o valor de 48º 26’ W, contando as 370 léguas sobre
o paralelo 17º 05’ N, latitude da ponta referida:
17
.
Longitude da ponta oeste de Santo Antão: 25º 20’ W
Latitude : 17º 04'
1 légua = 300 braças = 6,6 Km
370 X 6,6 Km = 2442 km
Compr. de 1º long. no Equador = 110,573 km
2442 / 110,573 = 22.0849 = 22º 05'
22º 05’ / cos 17º 04’ = 23º 06’
25º 20’ W + 23º 06’ = 48º 26’ W
Coordenadas da Ponta de Imbituba:
Lat. = 28º 27’ S
Long. = 48º 40’ W
Há apenas uma diferença de aproximadamente 20 Km em termos de longitude para que
esta interseção fosse perfeita, correspondendo assim a um erro de menos de 1% . Esta
proximidade demonstra que os responsáveis por estes cálculos trabalhavam com valores
para o comprimento do grau de longitude muito próximos os atuais.
6- Cf. Registro de uma carta de doação que Sua Alteza fêz mercê ao visconde de
Asseca e a seu irmão em que Gil de Góes teve a capitania de umas trintas léguas
das terras entre a capitania de Cabo Frio, Espírito Santo, lhe fiquem vinte léguas
das terras dela em capitania como os mais donatários. In Documentos Históricos:
Livro 1º de Regimento 1653-1684. Vol. LXXIX da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro,
Ministério da Educação e Saúde, 1930, p. 210.
8- Bibl. de Évora, cod. CVIII/2-2, f. 4v-5. 2§ tomo das Cartas da Europa: Quadrimestre
de Paris, escrita a seis de março de 1560, por Nicolau Liatrão Paredense. Códice que
pertenceu ao Colégio de Coimbra. Apud Herbert Wetzel, opus cit. pp. 77/8: Por muitas
vias se nos vão acrescentando as esperanças de alevantarmos muito cedo Colégio, por
meio de um cavaleiro principal de Rodes, homem assim nas letras gregas e latinas como
em virtudes assinalado, o qual haver cinco anos que, por mandado do Cristianíssimo
Rei, foi à Ilha América para conquistar. E conquistando perto de duzentas léguas, parte
com boas obras que fazia, parte à força de armas, haver três meses que chegou, não
18
com outro intento senão buscar Bispo e sacerdotes para cultivar esta Ilha e reduzirem a
nossa santa Fé. O Ilustríssimo Cardeal Lotarigiense, lhe prometeu que lhe daria alguma
gente da nossa Companhia. Com esta confiança veio este cavaleiro a Paris. (...). Em
América há assaz grande lugar, e acomodado, para se exercitarem nossos ministérios.
Há perto de duzentas léguas, onde há muitos infiéis, que se podem reduzir ao grêmio da
igreja, nem faltam lá mancebos franceses, que entendem já a língua da terra, os quais
nos podem servir, na obra do catecismo, de intérpretes, como tenho entendido de um
deles que de lá veio. As naus se ficam aviando em um porto daqui perto. O nome deste
Cavaleiro é Nicolau Villegaignon. Rogue Vossa Reverência ao Senhor que mande
operários para sua messe”. Desta maneira não tem nenhum sentido afirmar que
Villegaignon teria abraçado o protestantismo quando da invasão à Guanabara, voltando
ao catolicismo posteriormente. Devemos observar ainda que quando da sua chegada a
América, em 1555, estava não só acompanhado de um frade franciscano, Thevét, como
de uma guarda pessoal de soldados escoceses (cf. nota de Milliet, in Lery, opus cit., p.
38) súditos da rainha católica Maria, salva por Villegaignon. Observa também Wetzel
que o próprio Anchieta não desconhecia a condição de Cavaleiro católico do almirante
francês, pois em uma das suas cartas informa que: De Nicolau de Villegaignon
afirmavam todos eles ser católico e muito douto e grande cavaleiro. (Ibidem, p.78)
9- Herbert Wetzel, opus cit. p. 78: "A proposta de Villegaignon não foi aceita pelo Pe. Geral.
Os fatos vieram a comprovar o acerto de sua decisão, pois a essa data já a armada de
Mém de Sá ancorava na Guanabara e com ela o Pe. Nóbrega. De Roma escrevia o Geral
Laynez ao Provincial de Portugal, a 18 de abril de 1561: "En lo de aquel cavallero de
Rodas, y la empresa de América no hay más que tratar. Émonos consolado no poco con
lo que scriven del Brasil acerca de aquella gente que tenia tomado la fortaleza ..."
(Archivum Romanum Societatis Jesu, Roma, Hisp. 66, f. 169r". Ainda permanecem
obscuras as razões que levaram a Villegaignon estabelecer uma aliança com Coligny.
Contudo, a repressão logo desencadeada contra os calvinistas demonstra que este frei
hospitalário não tinha a menor intenção de cumprir a promessa de fazer da França
Antártica um território onde imperasse a liberdade de culto. Todavia, o que apresenta-se
como mais intrigante neste episódio é a negociação mantida por Villegaignon com a
Companhia de Jesus para uma aliança na consolidação da França Antártica. Esta
negociação é comprovada também por um manuscrito jesuíta do século XVI, encontrado
na Biblioteca de Évora cuja autoria Capistrano de Abreu atribui a José de Anchieta, onde
encontra-se o seguinte relato: Daí a muito tempo, que parece que foi no ano de 1567,
começara (os franceses) a fazer povoações no Rio de Janeiro, e então se fez aquela
fortíssima torre com baluartes e muita artilharia e casas de moradores, cujo autor foi
Nicolau de Villegaignon, cavaleiro de Malta, e fundou-a em uma ilha que está a entrada
da barra no princípio daquela baía, a qual ficou com o nome de Villegaignon. (...) De
Nicolau de Villegaignon afirmavam todos eles ser catolico e muito douto e grande
cavalheiro (...). No ano de 60 ou 61 segundo parece, vieram sete ou oito frades de
habitos brancos, Franceses, ao Rio de Janeiro depois da fortaleza destruída, porque
como Nicolau de Villegaignon era catolico, tornando á França trabalhou de mandar
religiosos ao Rio de Janeiro, assim para redução dos hereges como para conversão do
gentio. Com êste desejo se foi a um Colegio da Companhia em França onde, depois de
confessado e comungado, pediu Padres para este empreza, dizendo que tinha na Índia o
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Brasil 200 leguas de terras povoadas de gentio sujeito e pacífico: os Padres muito
alvoraçados com esta nova, responderam que mandariam recado ao Padre Geral a pedir
licença para isso e, como isto não se efetuou pela Companhia, trabalhou de mandar êstes
outros religiosos como já disse. José de Anchieta. Cartas: informações, fragmentos
históricos e sermões. Belo Horizonte; Itatiaia / São Paulo; Edusp, 1988 [1584], pp.
309/355..
15- Trelado de outra provisão do dito cristovão de barros de como dará terras as pesoas
que viverem na capitania de são sebastião. Conselho Ultramarino, Registros, Vol. II,
fls. 90-91, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. In Documentos para a história
do açúcar. Rio de Janeiro, Instituto do Acúcar e do Álcool / Serviço Especial de
Documentação Histórica. 1954, pp. 229/230
18- Cf. Vários papeis pertencentes às terras que deu de sesmaria o capitão Estêvão
Gomes, defronte da pouvoação e outras partes, mandados passar e tresladar por
ordem do prelado que então era, as quaes estão no Cabo Frio. . Documento n. 163 do
Livro de Tombo do Colégio de Jesus do Rio de Janeiro, datada de maio de 1617.. In
Anais da Biblioteca Nacional vol. 82. Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional, 1968, pp.
320/6. Nestes papeis encontra-se a transcrição da provisão de Gaspar de Souza de criação
da Capitania de Cabo Frio e nomeação de Estevão Gomes como capitão.
20- Petição e carta de sesmaria aprezentada a mim tabalião por Antônio Fagundes
procurador bastante do R.do P.e Reitor F.co FRZ. Documento n. 150 do LIVRO DE
TOMBO DO COLÉGIO DE JESUS DO RIO DE JANEIRO. Anais da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro, 82, 1968. Tem este documento o despacho do Governador
Martim de Sá, datado de primeiro de agosto de 1630. Nesta, os jesuítas reivindicam uma
extensa faixa de terra em nome dos índios da aldeia de Cabo Frio, na sua maioria da etnia
Tupi e os da "nação" Goitacá (Aitacazes). Alegam que são esses indígenas os
responsáveis pela defesa desta porção litorânea, que percorrem em cavalgadas, contra as
incursões de corsários holandesas. Identificando-os também como criadores de gado,
alegam ainda os religiosos que estes indígenas necessitam de todos os pastos que correm
do Rio Macaé ao Paraíba. Pedem, igualmente, de sesmaria todos os campos a entre os
rios Macaé e Liripe (atual rio das Ostras), no que são também atendidos
21- Discutimos a questão referente ao conflito envolvendo o acerto feito entre Benevides,
beneditinos, jesuítas e herdeiros dos 7 capitães em Renato P. Brandão: O Roteiro dos
Sete Capitães e a Capitania de São Tomé: Confrontações Documentais Numa
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22- Consulta do Conselho Ultramarino, sobre a licença que pedia o Marques de Cascaes
para renunciar a capitania de Santos e S. Vicente, de que era donatario, na pessoa
de José de Goes de Moraes. Lisboa, 4 de mar;co de 1709. In Eduardo de Castro e
Almeida. Inventário dos documentos relativos ao Brasil existentes no Archivo de
Marinha e Ultramar de Lisboa. Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional, 1921, v. VI, p. 319,
doc. nº 3162.
24- Seu inventor ganhou um prêmio de 10.000 libras esterlinas que tinha sido oferecido a
quem resolvesse o problema da longitude 30 anos antes.
25- Em 1610 Galileu Galilei desenvolveu um método de calcular a longitude através das
eclipses das luas de Júpiter, que ocorrem de forma previsível. Este método acabou
finalmente por ser aceito após 1650, porém para determinações feitas exclusivamente em
terra.
26- Cf. Harley, 1683. Apud Horace E. Willians. Livro de campo contendo azimuth de
circumpolares para 1929. São Paulo, L. Schimidt, 1929, p. 17. Desconhecemos o
registro de qualquer determinação de longitude no Brasil antes do século XVIII, quando
da invenção do cronômetro de marinha.
27- Os veleiros seguem, em suas viagens transoceânicas, por rotas (derrotas, em linguagem
náutica) determinadas não só pelos regimes de ventos mas, e principalmente, pelas correntes
marinhas. No Atlântico sul as corrente das Canárias e Guiné percorrem o litoral ocidental
africano no sentido norte-sul até a região equatorial, sendo, a partir de então, dominante a
Corrente de Benguela, que corre no sentido inverso. Por outro lado, a Corrente do Brasil
percorre o nosso litoral no sentido norte-sul até o encontro da Corrente das Malvinas que,
originária da Antártica, muda de direção para leste na altura do litoral sul do Brasil. Para as
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embarcações à vela, os pontos referenciais básicos da navegação atlântica para o Oriente são,
de um lado, o Cabo de São Roque, a partir do qual a Corrente do Brasil acompanha o nosso
litoral e, de outro lado, o ponto extremo meridional do continente africano, o Cabo da Boa
Esperança. Assim, a rota para às Índias acompanhava o nosso litoral até a altura de Santa
Catarina, quando então afastava-se progressivamente para leste, afim de vencer o Cabo da Boa
Esperança, com a ajuda das correntes das Malvinas. Deste modo, as naus portugueses que
dirigiam-se às Índias acompanhavam a costa brasileira desde a o litoral do Rio Grande do
Norte até Santa Catarina, afastando-se da costa coincidentemente no limite meridional
determinado pela linha divisória de Tordesilhas. Ao contrário do que costuma-se considerar,
na verdade a ação da frota portuguesa no Oriente voltava-se para impedir o fluxo do Índico
para o Mediterrâneo de especiarias, ao bloquear as entradas do Golfo Pérsico e Mar
Vermelho. Passada somente uma década após a descoberta do Brasil, Afonso de Albuquerque
instala-se em Goa, após conquistar, em 1507, a cidade de Ormuz, estratégica para o controle
do Golfo Pérsico, e Francisco de Almeida ter derrotado a frota do sultão do Cairo, aliado dos
venezianos, na batalha de Diu, em 1509. A conquista de Málaca, em 1511, sepultou
definitivamente a hegemonia das potências mediterrâneas na economia européia, abrindo uma
nova página na História ocidental . Por conseguinte, Portugal atinge o Índico não para vencer
o bloqueio ao Mediterrâneo mas, contrariamente, para impor este bloqueio.
28- Como estas vilas foram estabelecidas pelos gestores da Capitania de São Vicente, e na
dúvida de seus posicionamentos, o correto seria, parece-nos, que fossem incorporadas à
capitania de Martim Afonso. Acreditamos que a decisão judicial favorável aos
Monsantos expressa, na verdade o maior prestígio que esta casa desfrutava na Corte do
que seus contentores, os Vimieiros
29-Cf. Manuel da Nóbrega. Cartas do Brasil, 1549-1560. Belo Horizonte / São Paulo, Itatiaia/
Edusp. 1988, p. 144.