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O poema lamenta o declínio da língua portuguesa causado por seu próprio país. A língua está sendo assassinada no dia a dia pela técnica, ciência, propaganda e mídia. Apesar disso, a língua ainda é nossa e nos ilumina com o que resta dela.
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Vasco Graça Moura - Lamento Para a Lingua Portuguesa
O poema lamenta o declínio da língua portuguesa causado por seu próprio país. A língua está sendo assassinada no dia a dia pela técnica, ciência, propaganda e mídia. Apesar disso, a língua ainda é nossa e nos ilumina com o que resta dela.
O poema lamenta o declínio da língua portuguesa causado por seu próprio país. A língua está sendo assassinada no dia a dia pela técnica, ciência, propaganda e mídia. Apesar disso, a língua ainda é nossa e nos ilumina com o que resta dela.
no s mais do que as outras, mas s nossa, e crescemos em ti. nem se imagina que alguma vez uma outra lngua possa pr-te incolor, ou inodora, insossa, ser remdio brutal, mera aspirina, ou tirar-nos de vez de alguma fossa, ou dar-nos vida nova e repentina. mas o teu pas que te destroa, o teu prprio pas quer-te esquecer e a sua condio te contamina e no seu dia a dia te assassina. mostras por ti o que lhe vais fazer vai-se por c! mingando e desistindo, e desde ti nos deitas a perder e fazes com que fu"a o teu poder enquanto o mundo vai de ns fugindo ruiu a casa que s do nosso ser e este anda por isso desavindo connosco, no sentir e no entender, mas sem que a desavena nos importe ns "! falamos nem sequer fingindo que s runas vamos repetindo. talvez se"a o processo ou o desnorte que mostra como realidade a relao da lngua com a morte, o n que faz com ela e que entrecorte a corrente da vida na cidade. mais valia que fossem de outra sorte em cada um a fora da vontade e to filosofais melancolias nessa escusada busca da verdade e que a ti nos prendesse melhor grade. bem que ao longo do tempo ensurdecias, nublando-se entre ns os teus cristais, e entre gentes remotas descobrias o que no eram notas tropicais mas coisas tuas que no tinhas mais, perdidas no enredar das nossas vias por desvairados, l#gubres sinais, msera sorte, estranha condio, em que, por nos perdermos, te perdias. neste turvo presente tu te esvais, por ser combate de armas desiguais. matam-te a casa, a escola, a profisso, a tcnica, a ci$ncia, a propaganda, o discurso poltico, a pai%o de estranhas novidades, a ciranda da viol$ncia alvar que no abranda entre r!dios, "ornais, televiso. e toda a gente o diz, mesmo essa que anda por tempos de ignomnia mais feliz e o repete por lu%o e no comanda, com o bafo de hienas dos covis, mais que uma vela v nos ventos panda cheia do podre cheiro a que tresanda. foste memria, m#sica e matriz de um !spero combate apreender e dominar o mundo e as mais subtis equa&es em que igual a %is qualquer das dimens&es do conhecer, dizer de amor e morte, e a quem quis e soube utilizar-te, do viver, do mais simples viver quotidiano, de ilus&es e sil$ncios, desengano, sombras e luz, risadas e prazer e dor e sofrimento, e de ano a ano, passarem aves, ceifas, esta&es, o trabalho, o sossego, o tempo insano do sobressalto a vir a todo o pano, e bonanas tambm e tais raz&es que no mundo costumam suceder e deslumbram na s variedade de seu modo, lugar e qualidade, e coisas certas, ine%actid&es, venturas, infort#nios, cativeiros, e paisagens e luas e mon&es, e os caminhos da terra a percorrer, e arados, atrelagens e veleiros, pedacinhos de conchas, verde "ade, doces luminesc$ncias e luzeiros, que podias dizer e desdizer no teu corpo de tempo e liberdade. agora que s refugo e cicatriz esperana nenhuma h!s-de manter o teu prprio domnio foi proscrito, la"e de lousa gasta em que algum giz se esborratou informe em borr&es vis. de assim acontecer, ficou-te o mito de seres de vastos, v!rios e distantes mundos que serves mal nos degradantes modos de ns contigo. nem o grito da vida e do poema so bastantes, por ser devido a um outro e duro atrito que tu partiste at as prprias "antes nos estrad&es da histria estava escrito que iam descon"untar-te os teus falantes na terra em que nasceste. eu acredito que te fizeram avaria grossa. no rodar!s nas rotas como dantes, quer murmures, escrevas, fales, cantes, mas apesar de tudo ainda s nossa, e crescemos em ti. nem imaginas que alguma vez uma outra lngua possa pr-te incolor, ou inodora, insossa, ser remdio brutal, vs aspirinas, ou tirar-nos de vez de alguma fossa, ou dar-nos vidas novas repentinas. enredada em vilezas, dios, troa, no teu prprio pas te contaminas e dele essa misria que te roa. mas com o que te resta me iluminas.