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Rio de Janeiro
Setembro de 2009
JOSÉ MAURÍCIO DA SILVA
Trabalho apresentado
Rio de Janeiro
Setembro de 2009
À minha querida família
Ao professor César Moisés que corrigirá meu trabalho de forma mais crítica
possível, apontando todos os erros, de modo que eu possa crescer na vida
acadêmica, atingindo maturidade para os próximos trabalhos.
… luto por uma amada causa com um
amado adversário.
1. INTRODUÇÃO.......................................................................06
2. DESENVOLVIMENTO
1. CREDENCIAIS DOS AUTORES E SUAS OBRAS..........07
2. RESUMO DA OBRA.........................................................10
1. PERÍODO DE 1909 a 1919
1. Início da Amizade...................................................11
2. Análise de Obras...................................................11
3. O Campo das Idéias..............................................13
4. Influência Mútua.....................................................15
2. PERÍODO DE 1920 a 1929
1. Análise de Obras...................................................16
2. O Campo das Idéias..............................................20
3. Influência Mútua.....................................................24
3. PERÍODO DE 1930 a 1939
1. Análise de Obras...................................................27
2. O Campo das Idéias..............................................28
3. Influência Mútua.....................................................28
3. Conclusão (Resenha Crítica)
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1. Introdução
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RESENHA CRÍTICA
FREUD, Sigmund; PFISTER, Oskar. Cartas entre Freud & Pfister [1909-1939]:
Um diálogo entre a psicanálise e a fé cristã. 3ª Edição. Viçosa, Ultimato, 2009.
200 p.
Freud, suas teorias e seu tratamento com seus pacientes foram controversos na
Viena do século XIX, e continuam a ser muito debatidos hoje. Suas idéias são
freqüentemente discutidas e analisadas como obras de literatura e cultura geral
em adição ao contínuo debate ao redor delas no uso como tratamento científico e
médico.
Outras obras:
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1. FREUD, Sigmund. Delírios e sonhos no Gadiva de Jensen. Rio de Janeiro:
Imago 1907.
10. FREUD, Sigmund. O mal estar da civilização. Rio de Janeiro: Imago 1930
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Foi o único analista suiço a permanecer ao lado de Freud, depois da cisão deste
com Jung.
Outras obras:
9
histórico-religioso e psicológico. Imago, 1920.
18. PFISTER, Oskar, Amor em crianças e suas aberrações. London: Allen and
Unwin, 1924.
RESUMO DA OBRA
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de ambos, em alguns casos com agudos embates de palavras, soou mais alto o
apreço mútuo, mostrando autêntica tolerância e empatia recíproca, evidenciando
que uma diferença de opinião não precisa de modo algum levar à ruptura, a não
ser que as mentalidades fossem fundamentalmente divergentes, não aplicável
neste caso pois eram profundamente próximos, enraizadas no amor à verdade,
como fator central para a compreensão das pessoas. As correspondências
incitaram muitas obras de Oskar Pfister assim como estimulou Freud em suas
pesquisas, como na técnica de análise de crianças.
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temerosa. Fala sobre o dilúvio como lenda. Ao receber uma prova
tipográfica do texto de Pfister contra Foerster (Freud adjetivou Foerster
como “repulsivo, pegajoso e sórdido”, “que sem hesitação e de forma
determinada, emite julgamentos publicamente com tão pouco
conhecimento de causa não pode ser trazida à razão nenhuma
influência externa, mas segue o demônio interior que tem de seguir”,
dizendo ainda que “aí a debilidade torna-se palpável”, “eu tinha
esperado algo mais habilidoso e inteligente” quando Foerster criticou
FREUD, Sigmund. Psicopatologia da Vida Cotidiana. Imago 1901)
réplica que era esperada ansiosamente por Freud, sobre algo feito por
parte de Foerster à Pfister, que tinha sido alertado anteriormente por
acha-lo “puro reconhecimento pelo senhor!” e que “creio que o senhor
espera muito dele, seu otimismo de bom pastor eleva demasiadamente
sua expectativa”, fica admirado pela forma que Pfister escreveu “tão
moderada, humana, cheia de tolerância, tão objetiva, tão mais para o
leitor que contra um inimigo”, que “eu não seria capaz de escrever
assim” e conclui que “deixemos que continuem latindo”. Sobre A
pesquisa analítica sobre a psicologia do ódio e da reconciliação, Freud
a pedido de Pfister pronuncia-se sobre a análise que diz esta “sofrer do
mal hereditário da – virtude”, “é obra de um homem decente demais,
que também se sabe comprometido com a discrição”, “a própria análise
só anda quando o paciente desce das abstrações substitutivas para os
pequenos detalhes”, concluindo que “a discrição é, portanto,
incompatível com uma boa configuração de uma análise”. Diz o que “o
senhor informa basta plenamente para justificar suas conclusões –
estas, aliás, dignas de honra – , mas o leitor não recebe nenhuma
impressão, não pode sensibilizar-se com seu inconsciente e por isso, a
rigor, não consegue criticar a fundo.” Referindo-se a técnica “o senhor
reconheceu corretamente que o experimento de associação serve bem
para uma primeira orientação, mas não para a realização da cura, já
que com cada nova palavra-estímulo, a gente se interpõe na fala do
paciente e corta-lhe a palavra. A formação espontânea de sequência de
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palavras, da qual o senhor se serve na análise, com certeza é
incomparavelmente melhor, mas ela não fornece nenhum belo quadro,
nem compreensões claras, e não me parece nenhuma economia”. “A
formação de sequências é apenas um meio de contornar a resistência,
e atualmente detesto esta formação”. Freud diz que o caráter principal
de sua técnica “atual” é negligenciar os complexos contras as
resistências e procurar aproximar-se diretamente destas últimas. Com a
transferência, diz que “é preciso orientar-se pelass particularidades do
doente, e também não se deve abandonar seu modo de ser”, que “o
paciente deve ser mantido na abstinência, no amor infeliz, o que é
plenamente possível”. Sobre a transferência concluiu que “o senhor tem
maior facilidade que nós, médicos, porque pode subliminar a
transferência na religião e na ética, pois pratica a psicanálise a serviço
da cura de almas em pessoas jovens, cuja maioria ainda se encontra
distante da seriedade do erotismo.” Sobre O método psicanalítico;
descrição sistemática e científico-experimental de Pfister, Freud diz-se
estimulado de que “ganharíamos entre os pedagogos um novo círculo
de leitores” e alegrou-se por ver que “o senhor escreve com tanta
autoconfiança, e quando nada hostil lhe tenha acontecido”. Em O que a
psicanálise oferece ao educador, de Pfister, Freud expressa que
“contém um calor que alegra o coração e mostra todas as belas
qualidades que apreciamos no senhor: sua capacidade de entusiasmo,
seu amor pela verdade e pelas pessoas, sua coragem de professar-se,
sua compreensão e também – seu otimismo.”, “prestará bons serviços a
nós, já que este ponto de vista prático também deve ser mencionado”.
Mostrou-se insatisfeito com um ponto: “o seu desacordo com minha
teoria sexual e minha ética”, “na minha experiência, a maioria é ralé,
tanto faz se professam abertamente esta, aquela ou nenhuma corrente
ética”, entretanto “o que há com a teoria sexual?”, “como pode o senhor
negar a decomposição da pulsão sexual em pulsões parciais, a qual a
análise nos obriga diariamente?”, “parece-me que o senhor quer uma
síntese sem análise prévia”, “deve ter-se escondido no senhor o
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remanescente da sua resistência contra o sexual”, “tente revisar este
aspecto junto a si mesmo”, “a beleza da religião certamente não
pertence à psicanálise”, “na terapia, nossos caminhos se separem”.
− Campo das idéias – Freud focaliza a diferença que existe “entre sua
atividade e a atividade médica”: que “o êxito da psicanálise
seguramente depende de dois resultados: que haja descarga de
satisfação e que se domine a pulsão recalcitrante...”; “O senhor, porém
tem a feliz possibilidade de conduzir para Deus, e de produzir num
ponto o estado feliz de outrora, em que a fé religiosa sufocava as
neuroses. Para nós não existe essa chance de resolver as coisas.”;
“Nosso público é não-religioso”, “Nós também o somos”; “... a religião
são demasiado difíceis aos nossos pacientes”; “Nós não podemos ver
na satisfação sexual em si algo proibido ou pecaminoso”. Cita que a
psicanálise é um instrumento do qual tanto o religioso como o laico
poderão servir-se. Pfister diz que a própria ética protestante “retirou do
relacionamento sexual a mácula da impureza” e que como “modernos
pastores protestantes”, com “absoluta liberdade”, “podemos pensar
livremente”, e que falta a clareza sobre a possibilidade de se “achar um
amor totalmente livre que não passe pelo matrimônio”. Que a libertação
do flagelo da neurose e da perversão é possível com “a melhoria de
condições sociais, uma educação e conduta mais saudáveis”. Freud diz
que “a diferença entre nossas visões somente começa quando moções
emocionais passam a influir sobre os processos de pensamento”. Que
Pfister ao continuar trabalhando, pensará sobre muitas coisas de modo
diferente e mais corretamente, destacará problemas isolados e
pressentirá conexões mais profundas, falando numa linguagem
“compreensível somente a nossa comunidade”, não causando impacto
na maioria e que “agora, na transição do modo comum e o modo
psicanalítico de pensar, o senhor tem força subjetiva de arrastar
consigo os ainda intocados”, pensando que é isto que Pfister quer.
Quanto à uma dúvida teórica de Pfister, Freud conclui que “todos os
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recalcamentos processam sobre recordações, não sobre vivências, que
podem no máximo, ser recalcadas posteriormente.” e quanto aos
complexos “por mais imprescindível que seja o conceito para diversas
práticas e demonstrações, quando se teoriza, deve-se sempre pôr em
lugar do conceito o que está por detrás dele, pois é demasiado vago e
inadequado.” O que Pfister chama de “compensação” Freud fala que
cabe debaixo do que ele chama de “sublimação”, ou debaixo do
conceito parecido e mais exato da “formação reativa”, contidos nas
Cinco Lições de Psicanálise. Freud aconselha Pfister a cerca da
composição de um livro respondendo abertamente que “ o modo pelo
qual o senhor se sente menos atraído, parece-me o mais adequado
para o propósito e o mais vantajoso para o leitor”. No O método
psicanalítico; descrição sistemática e científico-experimental, Freud
diverge de Pfister na teoria sexual, a ponto de perguntar “por que
nenhum de todos estes devotos criou a psicanálise, por que foi
necessário esperar por um judeu completamente ateu?”. Pfister
explicou que “ porque devoção ainda não significa gênio de descobridor,
e porque os devotos em boa parte não foram dignos de produzir estes
resultados”, que “o senhor primeiramente não é judeu” e “o senhor não
é ateu, pois quem vive para a verdade vive em Deus, e quem vive pela
libertação do amor, segundo 1 João 4.16, permanece em Deus” e que
“jamais houve cristão melhor”. Acerca da Associação Internacional,
Freud disse “uma sociedade nova não pode ser constituída de analistas
formados”.
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modo honesto, ficando bem e animado, dando-lhe toda a razão e que
“sem a sua visita eu jamais teria conseguido”. Que “suas observações
sobre transferências e compensações terão de mim a consideração que
merecem”. O estado de ânimo causado pela visita de Pfister influenciou
Freud na redação do livro Notas sobre um caso de neurose obsessiva.
Freud, à respeito da visita de Pfizer, fala que “teve tanto impacto nas
crianças e trouxe tanto bem-estar a mim mesmo”, assim como “O
senhor nos torna felizes porque chama à consciência o que, em função
da disposição infeliz do homem, esconde-se atrás dos pequenos
sofrimentos e preocupações fugazes”, referindo-se a Pfister em uma
das cartas como “Caro homem de Deus”. Pede que envie publicações
da área de Pfister, “de preferência em quantidade, também dos
adversários, ou me der as referências sobre as encontrar” para reunir
na Biblioteca da Sociedade Psicanalítica de Viena. Freud em relação à
obra A pesquisa analítica sobre a psicologia do ódio e da reconciliação”,
de Pfister, menciona que “suas frases finais demonstram quanta
clarificação e enriquecimento a psicologia atual pode ganhar com a
nossa psicanálise”. Em relação ao Zinzendorf, Freud recusa-se a
devolvê-lo pois “ele tem toda a qualificação imaginável para um caderno
de Textos de psicologia aplicada”, “convincente para todo aquele que, a
qualquer custo, não se precaver de ser convencido.” Freud fez o
prefácio do livro O método psicanalítico; descrição sistemática e
científico-experimental, de Pfister.
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Pfister foram considerados bem melhores que Freud esperava e que
“serão instrumentos úteis de agitação e formação”. Em O amor da
criança e sua falhas de desenvolvimento, Pfister observa em obra que
de sua parte “significa um avanço em relação a meu estado anterior, à
medida em que superei uma série de imprecisões que tinham crescido
em mim através de Jung e Adler”. Nesta obra , “cujo primeiro volume
consiste numa monografia sobre desenvolvimento e falhas de
desenvolvimento do amor, dirijo-me a pais e educadores, pois a minha
fé nos letrados encolheu consideravelmente.. Em primeira linha quero
ajudar a vencer o sofrimento, e posso fazê-lo melhor direcionando o
povo para os analistas, do que me batendo com um bando de
psicólogos e pedagogos bitolados”. Freud em relação à obra, diz “para
ser autêntico, não se pode ser tão otimista na vida como o senhor. À
rancorosa dualidade entre a razão e a necessidade, certamente a gente
só se converte na velhice”. O livro Amor em crianças e suas
aberrações, de Pfister, proporcionou uma grande alegria em Freud,
assim como “pela repercussão que suas idéias encontram”. Acerca do
livro O amor pré-matrimonial e suas falhas de desenvolvimento, de
Pfister, Freud diz “que todos os bons espíritos, nos quais ainda parece
acreditar, possam conserva-lhe o prazer e a força para tais esforços por
mais alguns decênios”. Em relação ao livro A lenda de Sundar Singh,
de Pfister, sobre “um extravagante santo indiano em moda”,
“prevenindo contra a fé estúpida nos milagres, que eleva o faquir acima
do nível humano”, e sobre a repercussão do livro “os círculos
protestantes mais liberais estão encantados com as minhas revelações.
Eu queria combater a superstição, a ignorância e o fanatismo que revira
os olhos. No entanto Freud critica dizendo ter ficado penalizado “pelo
senhor, que tenha de se ocupar com essa chamemos, porcaria.
Provavelmente tenha seu valor para determinados círculos. Do
contrário o senhor não o teria escrito. Contudo é uma pena que o
senhor não possa ser totalmente sincero. Pois não é possível que o
senhor atribua ao psicopata o mérito de que ele saiba dar tão belos
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discursos”. Sobre o livro de Freud, A questão da análise leiga, Pfister
diz que “O senhor nunca tinha escrito de modo tão facilmente
compreensível.”, mas que “o senhor fala dos casos pedagógicos, mas
deixa de lado a enorme área dos adultos que não estão doentes, no
sentido clínico, mas que necessitam da análise em grau máximo. Penso
nos alcoólatras, excêntricos, confusos no amor, artistas marginalizados
e outros. Como tais casos fazem parte do campo de trabalho da cura de
almas, tenho tido muito o que fazer com eles, e eu lhe peço de coração
que aprecie com olhar benevolente a cura de almas analítica, que
também é filha sua. Sem dúvida, haverá uma cura de almas fora da
igreja, até não religiosa. Se tão somente as pessoas forem tornadas
boas e felizes, com ou sem religião, o querido Deus aprovará este
trabalho com um amável sorriso”. Freud no entanto diz a Pfister que
“não o julgue como uma exposição conscienciosa e objetiva. É
essencialmente texto de polêmica e de ocasião. Do contrário, eu
certamente não teria ignorado a aplicação da análise na cura de almas”,
dizendo que pensou nisto mas “na Aústria católica é totalmente
inconcebível um religioso que trabalhe com análise”. Na brochura O
futuro de uma ilusão, onde Freud trata de sua “posição totalmente
contrária a religião – em todas as formas e diluições” e que temia “e
ainda temo que uma declaração pública lhe seja constrangedora”,
querendo saber “que medida de compreensão e tolerância ainda
consegue ter para com este herege incurável”, Pfister responde que
“sua rejeição à religião não me traz nada de novo”, que aguarda com
“alegre interesse” e que “um adversário de grande capacidade
intelectual é mais útil à religião que mil adeptos inúteis”, que “não
poderia imaginar que uma declaração pública sua me pudesse
melindrar; sempre achei que cada um deve dizer sua opinião honesta
de modo claro e audível. O senhor sempre foi paciente comigo, e eu
não o seria com o seu ateísmo? Certamente o senhor também não vai
levar a mal se eu oportunamente expressar com franqueza minha
posição divergente”. Em outra carta Pfister ressalta que “minhas
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ressalvas contra sua rejeição da religião não comprometem nem de
forma mínima minha posição em relação ao senhor, nem minha alegria
pela psicanálise. Sempre enfatizei que a psicanálise constitui a parte
mais fecunda da psicologia, porém nunca a totalidade do conhecimento
sobre o anímico, muito menos engloba uma visão de vida e de mundo.
Seguramente o senhor é da mesma opinião”, acrescentando que “o que
o senhor diz das contradições do pensamento religioso e teológico, o
senhor mesmo as chama de repetição, uma repetição
psicanaliticamente aprofundada de pensamentos há muito conhecidos.
Porém, o que me admira é o que o senhor não dê atenção às vozes
daqueles defensores da religião que destacam, ao menos do mesmo
modo agudo, aquelas contradições e as diluem em uma abordagem
filosófico-religiosa mais elevada”, um dos quais é um extraordinário
filósofo, professor de teologia que “pensa sobre a interpretação ético-
otimista do mundo de maneira tão pessimista como o senhor”, “mas é aí
que o verdadeiro problema inicia” pois “ele tampouco se fecha para
compreender a visão de mundo do sem visão de mundo”. Inclui ainda
que “seu substitutivo para a religião é, na essência, o pensamento
iluminista do século XVIII em nova e orgulhosa revificação”, que não crê
“apesar dos progressos da ciência e da técnica”, “na suficiência e
sustentabilidade desta solução para os problemas da vida, sendo
questionável se “o avanço científico tornou os homens mais felizes e
melhores”, dizendo não compreender bem “sua visão de vida” e que “o
senhor tem tanta tolerância para com este testemunho público quanto
eu para com suas heresias, que há muito me são conhecidas?”,
persistindo “entre o senhor e mim esta grande diferença: Eu pratico a
análise dentro de um plano de vida que o senhor, com bondosa
consideração, tolera como condição da minha profissão, enquanto eu
não considero esta visão de vida apenas como poderoso fomento para
a cura, mas justamente como consequência de uma filosofia mais
condizente com a natureza humana e o cosmos, que ultrapassa o
naturalismo e o positivismo, e que é bem fundamentada em termos de
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higiene da alma e da sociedade”. Em resposta Freud tenta chamar a
atenção de Pfister para o fato de que “o senhor trabalha com o
argumento: isto tem de estar errado...” quanto a posição dos dois. Faz
questão de que “o senhor publique uma crítica – na Imago – se quiser –
e espero que nesta o senhor ressalte expressamente nossa límpida
amizade mútua e sua adesão inabalável à análise” e que “a influência
sobre a terapia analítica através da concessão ou recusa de uma
satisfação ilusória dos sentimentos, está colocada severamente de
lado, pois por mais bondosamente que o analista se comporte, ele
obviamente não pode encarregar-se de substituir a Deus e à
providencia para o analisando”, “o analista não pode satisfazer o anseio
em si, ele tem de deixá-lo para o analisando, se este o supera após o
esclarecimento, saciando-o de forma religiosa ou diferentemente de
forma sublimada.”
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de sono”. Freud em outra ocasião cita que “ocorre com frequência que
pessoas maravilhosas e sérias precisem atormentar-se mutuamente por
não conseguirem expressar de forma plena o seu amor de outro modo”.
Pfister diz que “o decisivo para a análise é a catagogia”. Sobre a
educação diz “que tem de ter um sentido ético. O senhor mesmo
acentuou outrora que se precisam educar as crianças. E quando
analisamos, precisamos também preencher com intensões honestas as
pequenas bestas e anjos com que lidamos. Não que não lhes
sopremos nosso próprio hálito de pensamento e lhes inspiremos nossa
própria alma; contudo, uma porção de higiene anímica e social elas
certamente precisam ter e concretizar num amor sadio. Mas a análise
como tal precisa considerar todos os produtos do inferno como
autênticos e sérios; não se pode vestir o diabo com folhas de parreira,
assim como precisa fazer plena justiça à parábola do joio no meio do
trigo”. Por outro lado Freud diz que naturalmente “é necessário que haja
educação, ela pode até ser severa; não é prejudicial que ela se apóie
em conhecimentos analíticos. Mas a análise em si é algo diferente e
primeiramente uma constatação honesta. Nisto, portanto estamos de
acordo. Não combina com um analista a melindrosa preocupação de
que o mais sublime da pessoa possa sofrer algum dano”. Em relação
ao texto FERENCZI, S., RANK, Alvos de desenvolvimento da
Psicanálise. Viena: 1924, Pfister disse que “fornece-me vários caroços
para quebrar. Não posso e não quero admitir que a psicanálise pareça
conduzir a uma nova visão de mundo. A análise somente é capaz de
fornecer contribuições muito valiosas para elaboração de uma imagem
do mundo” e que “é exagerado dizer que faz parte da cura ideal que
nunca mais se escute nada do analisando. Pois é humano que reste
uma gratidão, ainda que discreta; isto não significa cerceamento da
liberdade”. Freud diz que “o homem não pode ser mudado e tem de ser
engolido assim como ele é”. Em relação aos teólogos e pedagogos,
Pfister diz “que é doloroso para mim que os teólogos permaneçam
atrasados e fracassem de modo tão lamentável”, “os pedagogos tem
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aceitado muitas coisas e, de todos os lados, ouço que a análise vai
ocupando cada vez mais o centro dos interesses.”, “os teólogos
envolveram-se demais numa tola disputa por princípios, em vez de se
preocuparem com o bem-estar psíquico dos laicos – e o seu próprio”.
A partir do final de 1924, à um conflito de idéias entre Pfister e Freud
sobre um paciente jovem americano, com neuroses compulsivas
graves, no qual Freud indica o Dr Reick que “com extrema paciência e
profunda compreensão, e também não sem sucesso, um conde russo
que lhe pude enviar”. Diante da insistência de Pfister, Freud fala que
“traga junto o seu americano. Não estou nem um declinado em aceitá-lo
para tratamento...”, “o principal, é claro, será a impressão que o jovem
causará em mim no nosso encontro”. Com a visita do pais do rapaz à
Freud ele antecipa um pouco a aceitação do mesmo, porém “é meu
desejo intenso que ele permaneça com o senhor”. Confidencia a Pfister
que “o senhor deve deixá-lo ir para a sua ruína” e que “não há nenhuma
ocupação para ele, pela sua condição insociável. Assim eu correria o
risco de ter de me envolver com ele de modo intensivo demais”. Pfister
relata sobre a análise de Schjelderup que sofria “com sua torturante
enxaqueca semanal” que tornara mais forte e que trabalhando em
análise arduamente durante quatorze dias ocorreu o último acesso,
significativamente atenuado não se mostrando os “inicialmente
violentos recalcamentos patogênicos”, parando após três semanas,
após então sumindo totalmente. Sobre a diferença de procedimentos
Schjelderup fizera anteriormente o que fizera junto a Pfister, escreveu
“O senhor, porém colocava a ênfase sobre a própria tomada de posição
e a participação. Somente deste modo parece ser criada a possibilidade
de realmente dar conta das atitudes inconvenientes. Através do
estímulo à atividade própria também se consegue a impressão de um
real trabalho em conjunto entre o analista e o analisando. Desaparece,
por isto, em grande parte, o aspecto humilhante , e uma transferência
sadia é tornada viável”. Pfister de seu ponto de vista atribui o sucesso
“somente uma certa relação de gratidão e afeição, que me parece mais
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natural e curadora que a fria despedida de uma pessoa a quem se tem
tanto a agradecer. Pois por detrás dos relacionamentos pessoais
objetivamente ilegítimos, gerados pela transferência propriamente dita,
deve haver relações autênticas que estão fundamentadas nas
características pessoais de ambos os indivíduos”, acrescentando que “é
importante que o analista transmita valores que assegurem
compensação maior que o ganho secundário ou o sentimento de culpa”.
Em contrapartida Freud, quanto à terapêutica, diz que “o senhor, como
cura de almas, tem naturalmente razão em recorrer a todas as tropas
auxiliares que estão à sua disposição. Nós, como analistas, temos de
ser mais reservados e deslocar a ênfase principal sofre o esforço de
tornar o paciente independente, o que muitas vezes resulta num
prejuízo para a terapia. Mas no geral, não estou tão distante do seu
ponto de vista como o senhor imagina” e que “muito mais premente é
uma análise mais profunda da situação transferencial”. Freud menciona
que “tanto combati a subestimação da nossa terapia como a
superestimação. Tenho afirmado que os sucesso psicanalíticos não
precisão esconder-se diante da medicina interna, que a análise
proporciona tudo o que se pode exigir de uma terapia hoje. Por outro
lado, temos que estar preparados para reconhecer seus limites”. Pfister
em relação à Freud fala que “a principal diferença entre nós reside
provavelmente em que o senhor cresceu perto de formas patológicas
de religião, as quais considera como a religião, enquanto eu tive a sorte
de poder dirigir-me a uma forma livre de religião. Ao senhor, esta
religião parece ser um esvaziamento do cristianismo, mas para mim, é
o centro e a substância do evangelismo”. Em resposta Freud diz que
“alguns de seus argumentos parecem-me lirismo; outros, como a
enumeração dos grandes intelectuais que mesmo assim acreditaram
em Deus parecem-me baratos. Exigir da ciência que estabeleça uma
ética é injusto – a ética é uma espécie de código de trânsito para o
tráfego entre os homens” e que um erro da física “é explorado de
maneira tendenciosa por todos os famintos da fé” e por fim “por que
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diabos o senhor une tudo o que devemos esperar na vida ao seu
postulado de uma ordem moral universal?”. Em outra carta Freud diz
não saber “se o senhor adivinhou a ligação secreta entre a Análise
Laica e a Ilusão. Na primeira quero proteger a análise dos médicos, na
segunda, dos sacerdotes. Quero entregá-la a uma categoria que ainda
não existe , uma categoria de curas de alma seculares, que não
necessitam ser médicos e não podem ser sacerdotes”. Pfister refuta
Freud sobre a observação de que “os analistas desejados pelo senhor
não podem ser sacerdotes. Parece-me que a análise como tal precisa
ser uma atividade puramente secular” e que “como o protestantismo
suspendeu a diferença entre laicos e sacerdotes, assim também a cura
de almas deve ser desclericalizada e secularizada. Até o mais devoto
tem que admitir que o amor de Deus não corresponde somente àquilo
que traz consigo um cheirinho de incenso” e que “não só crianças, mas
também adultos, muitas vezes têm anseio por valores de vida positivos
de ordem intelectual, por visão de mundo e ética, e a psicanálise não os
pode dar”. Acrescenta que “muitos já necessitam de ponderações éticas
para resolução de conflitos morais patogênicos, que eles não querem
simplesmente regular pela via da transferência. A rigor, se o pastor não
puder analisar, não o poderia fazer também nenhum cristão, e nenhuma
pessoa religiosa e eticamente alicerçada; mas o senhor mesmo
ressaltou que a análise é independente da visão de mundo. A
descrença é simplesmente uma crença negativa. Não creio que a
psicanálise ponha de lado a arte, a filosofia, a religião, mas que ajude a
purificá-las”. Em resposta Freud sobre o caso dos sacerdotes, diz ter
falado de “um futuro distante”, concorda que “análise não fornece uma
nova visão de mundo. Mas ela não o necessita, pois repousa sobre a
visão de mundo científica comum, com o qual a religiosa permanece
incompatível”, acrescentando que “sua essência são as ilusões
piedosas de providência e ordem ética do mundo, que contradizem a
razão. O sacerdote ficará amarrado a representá-las”.
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− Influência Mútua - Sobre a luta pela psicanálise, de Pfister, este fez
cuidadosa verificação concernente às objeções e sugestões de
alteração de Freud, achando-as totalmente justificadas e que seu
trabalho “vai ganhar muito com seu apadrinhamento” e “que a sua falta
de filosofia me alegra”. Freud se agrada muito do livro O
desenvolvimento do apóstolo Paulo. Um esboço histórico-religioso e
psicológico, de Pfister, dizendo que “Paulo, um caráter autenticamente
judeu, sempre teve minha especial simpatia.” Pfister fez um achado em
Platão que iria alegrar a Freud: “NACHMANSOHN, Max. A teoria da
libido de Freud comparada com a doutrina de Platão. Zentralblatt, 1915,
3.65-83” pois em Platão também se encontra a frase: “A terapêutica é o
reconhecimento das moções de amor do corpo; quem nestas coisas
distingue corretamente o belo e o mau amor, (….) quem promove a
troca, de modo que o corpo, em vez de se apropriar de uma amor se
apropria do outro, e quem é capaz de ensinar o amor aos que não
carregam amor dentro de si, (….) este seria o mais perfeito terapeuta.”
No livro O amor da criança e sua falhas de desenvolvimento, Pfister
reconhece o acerto das colocações de Freud “também nos aspectos em
que por longo tempo não tivera experiências próprias. No que concerne
à ética, religião e filosofia existe uma diferença, que nem eu
percebemos como abismo”. Freud demonstrou grande satisfação do
afastamento por parte de Pfister “cada vez mais nítido e sólido” de Jung
e Adler, aconselhando decisivamente a não repudiar o livro O método
psicanalítico; descrição sistemática e científico-experimental. Freud já
havia estado de acordo com que Pfister “se oponha às inovações de
Jung” e nutria algo contra Jung pois atribuíram “muitas coisas que Jung
não criou, como por exemplo a análise expectral” e a manifestação
pessoal de Jung “de que ele não me rejeita, mas misericordiamente me
deixa valer, de que apenas me corrige e me limpa [ou domestica], além
da crítica ao tratamento dado à uma paciente de Jung que avalia como
“ele nunca teve oportunidade de tratar um caso de tal intensidade e não
tem nenhuma ideia das dificuldades da questão. Não acreditei muito em
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um entendimento pessoal permanente entre mim e Jung. Ele exige
demais de mim, e eu estou me retraindo bastante depois da
superestimação da sua pessoa”. Contra Adler, Freud achou bom que “o
Zentralblatt desvencilhou-se de um redator (Adler), e como novamente
estou de bem com Stekel, ficará mais debaixo de minha influência” pois
as teorias de Adler segundo Freud “afastaram-se demais do caminho
correto. Era hora de fazer oposição à isto” e “ele criou para si um
sistema mundial sem amor, e estou executando nele a vingança da
ofendida deusa Libido”. Pfister fazendo menção “quando a situação se
torna séria, qualquer um pode notar quão grande e maravilhosa é a
análise, e que enriquecimento ela dá à nossa vida.”, agrade a Freud
“Para mim trouxe um alvorecer sem igual à minha existência, e jamais
poderei agradecer-lhe o suficiente por tudo com que o Senhor me tem
presenteado, através de suas pesquisas e de sua bondade de coração”
e fala ser difícil não escrever “quando se aprendeu algo tão grandioso e
importante do senhor”. Ao analisar a obra Alvos de desenvolvimento da
psicanálise, Pfister lembra que “que não se trata de um recordar, mais
sim de um reviver, isto o senhor sempre me ensinou ao ressaltar que
recordar não é suficiente, mas que é necessário que isso aconteça
pleno de emoção”. Freud em dado momento em relação a Pfister diz
que “muito me deliciou que o senhor resista um pouco à fundamentação
orgânica bem como à superestrutura metapsicológica da análise. Na
realidade, precisamos trabalhar em todos os andares ao mesmo
tempo”. Pfister em relação à recusa de tratamento do jovem americano
por parte de Freud, responde com “sua tendência de resignação me
entristece” , que em resposta diz que “uma reação tomou conta de mim.
O pobre rapaz deu-me pena, também se achou horário melhor, talvez
eu tenha vencido um acesso de desânimo”, embora ainda estivesse
temeroso. Diz ainda que se seus pais “o deixarem continuar, minha
posição será substancialmente fortalecida e melhorada”, “... e não terei
pena dele”. Freud acha muito lisonjeiro “que o senhor ainda tenha tanta
confiança em mim”. Durante o tratamento Freud diz a Pfister que
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“minha convicção médica, de que ele se encontra na fronteira de uma
demência paranóide, aumentou”, estando bem próximo de desistir “mas
algo tocante que ele tem em si me detém, e diante da ameaça de
interrupção ele novamente se torne meigo e acessível, assim que
mantemos atualmente um bom entendimento mútuo”. Mais tarde diz
que “algumas coisas mudaram. Felizmente foi vencida sua
insuportabilidade, eu até me afeiçoei a ele, e parece que ele retribui”.
Que após um terrível esforço “conseguimos clarear algumas partes da
sua história evolutiva íntima, e o efeito disto foi bem favorável, como
também confirmaram parentes que o viram nas férias. Externamente
ele ainda se comporta de modo excêntrico e ainda está muito longe do
normal”, embora “suas idéias e conexões de pensamento tem
frequentemente algo de estranho, e seus sintomas poderiam ser
chamados sem constrangimento de idéias delirantes”. Com o tempo
Freud observa que “ainda não abandonou suas reações infantis face à
influência da autoridade”, que “tem traços bastante esquizofrênicos”,
mas que não pode mandá-lo embora por estar “ligado a ele por tanta
simpatia”. Freud em outra ocasião em relação a dois trabalhos
enviados, da parte de Pfister diz que “pude ver com satisfação que
grande parte do caminho da análise podemos trilhar juntos”. Em
resposta à uma outra carta de Pfister, a cerca do anseio dos paciente
por valores éticos diz que “é digno do meu respeito; não vejo nenhum
problema nisso.
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apenas fomentá-la”, “que seria incorreto julgar as abominações culturais
presentes como sendo simplesmente a cultura, pois a elas também se
contrapõem magnificências culturais” e que são importantes para o
indivíduo “a higiene individual e social para a cultura, bem como para a
vida individual”.
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CONCLUSÃO DO RESENHISTA
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