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9l6 = 1opoE ortaiBoud op objaiet © exnyna y pf ‘ voozisLee . dpsed ‘ sspbld ey F U « s cm 8 4 5 ; 2 > 7 9 « 3 . J07O0Nd3Y 3 OW E ‘ . 0 ‘ i fe ‘ o ct B “ = apziany Avo q i fe SVINOFION J SNIWOH f 5 4 a Titulo original: “nological Man: The Myth and the Reality ‘Teaduzido da adsptagio feita por Joseph P. Kane, com a aprovacio do autor, Edigdo original publieada ot George Braziller Inc, de Nova York MINC/FER Copurioht @ 1969 by Victor C. Perkise BIBLIOTECA DEMONSTRATIVA DE BRASHLIA Tombe we 3315 _ Bete 29/06) 4 cape de Exr00 1976 Diretos para a lingua portuguesa adguridos por ZAHAR EDITORES. Caixa Postal 207, 2600, Rio ‘que se reservam a proptiedade desta versio Impresso no Brest! INDICE © QUE EXISTE E 0 QUE VIRA A EXIST .. © tito do Futuro, 12 A TECNOLOGIA E 0 HOMEM INDUSTRIAL ... Tecnologia Cultura Humans, 24 Agricultura e Civilizagie, 27 © Advento do Homem Industrial, $1 Natureza da Sociedade Industrial, 87 A MAQUINA E SEUS DETRATORES .., © Ataque contra a Civilizagio Industriel, 49 ‘Teoria da Sociedade de Massa, 54 08 PROFETAS DE UM MUNDO NOVO 0.0.2.0)... Os Profetas Sociolégices, 69 Os Utépicos, 63 Os Profetas Existenciais, 66 A REVOLUGAO EXISTENCIAL .. A Extensio do Meio Ambiente, 73 © Impacto da Biologia, 7 A Crise de Populagio, 79 AS MUDANGAS TECNOLOGICAS E A DEFASAGEM ECONOMICA ..... eiaeeerfer snare © Mito de uma Eeonomia em Mutagho, 69 © Mito da Elite Téenica, 86 Automagio, Desemprego © Riquesa, 90 Comunicagio © Centralizagio, 98 © Mito de uma Sociedade sem Classes, 95 A Distribuigdo da Populagdo eo Mito dos Subirbios, 98 © Capitalismo Privado ea Revolueio Existencial, 100 n 02 A TECNOLOGIA F A REDESCOBERTA DA POLITICA 105 ‘A Previsio do Futuro Politico, 105 0 Mito de uma Sociedade Politica de Masse, 108 0 Mito do Governo com Poderes Hlimitados, 111 © Mito da Elite Cientifiea, 117 Centralizagio ¢ Descentralizagéo, 118 © Planojamento e a Centralizagio, 121 A Televiséo © a Nova Politica, 12 A Deoadéneia dos Sistemas de Partidos, 124 A Decadéncia das Nagies, 125 Bracasto do Sistema Politico, 126 © Sistema Internacional e a Revolugo Existencial, 198 AS MUDANCAS TECNOLOGICAS B A DEFASAGEM CULTURAL aoe © Futuro Previsto da Cultura, 140° 0 Seio ea Familia, 142 A Cultura Sensorial © as Drogas, 146 Allenngio ¢ Violéncta, 147 ‘A Rovolugio dos. Jovens, 149 O Mito dos Subsrbios, 151 ‘A Cultura do Futuro: Variedade ou Caos?, 152 Gomunieagio © Educagio, 154 © Puturo da Religiso, 155 A Tecnologia, os Artes © a Edueagio, 159 A Dovordom Cultural © a Revolugio Existencisl, 161 PELA CRIAGAO DO HOMEM TECNOLSGICO OF Wh ‘A Wordaptagio da Cultura, 174 ‘A Newessidade do Controles, 180 188 169 1 O QUE EXISTE E O QUE VIRA A EXISTIR Rumo As sstRELAs! Depois de haver permanecido preso & terra durante incontaveis milhares de anos, comeca 0 homem, atualmente, a dar os seus primeiros passos rumo & conquista dos espacos interplanetdrios. Homens e mu- iheres, em todos os‘quadrantes da terra, se emocionam com as exploragées realizadas pelos individuos que re- presentam a humanidade inteira nesta grande aventura, vendo nos triunfos deles nfio apenas vitdrias a serem creditadas aos Estados Unidos ou & Unio Soviética, mas vitorias que jé pertencem & raca, humana. Nao obstante, muitos de nds j4 nos tornamos habituados a essas reali- zagbes maravilhosas, tomando-as quase como fatos dbvios e de rotina, como acontece em relacgdo ao rédio e a tele- visio que transportam tais realizagdes para o interior dos nossos lares. Os astronautas e os cosmonautas que cortam 0s espacos sio também herdis dos nossos filhos, @ estes, como ns, os consideram como seres familiares. ‘Mas hd uma diferenca a registrar. As viagens espaciais séo exatamente um dos aspectos de um mundo novo, um mundo gue os adultos observam com incerteza e medo. Para os jovens das nagdes avancadas, 6 o tinico mundo que conhecem ou que realmente podem conhecer. Sao eles os homens e es mulheres do futuro e, a muitos res- peitos, j4 esto sendo preparados para o desempenho dos seus papéis nesse futuro pela escola e pela socieda- de, Pois o futuro ja esta As nossas portas. Nao faz muito tempo, conheci pela primeira vez um astronauta. Era orador ‘numa reunifo e havia trazido a 0 Home Tecxovécic0 filmes coloridos do titimo sucesso espacial americano de que havia participado. Foi uma experiéncia reveladora 4ul estava, @ minha frente, o homem novo em pessoa, Lim dos poucos membros da espécie humana que havia felt gue 0s homens, ao longo da historia, haviam sonhado fazer. Ele vira a nossa mie terra de longe e olbara pare e801, 6 25 estrelas de fora de seu invdlucro atmostérico, aio através de uma cimara, como a sua platéia, mag 2m OS Seus proprios olhos. ‘Tinha caminhado, quase imponderével, no vazio do espago.Nele a humanvdeis fRgontrara uma nova liberdade de suas limitagses © transpusera um novo Umiar. Com que se parecia este homem novo, este herdi da Rossa civilizacko tecnoldgica? Seu discurso poderia ter Sido escrito por um computador, uma dessas maquinas usadas para a realizagio de cdlculos complexos, Tere SOR Perfeicdo, com o entusiasmo e a sinceridade de uma Gqianca feliz e bem ensaiada. Um bom politico teria de Uberadamente saltado umas tantas linhas, a fim de wey Ze Sus ouvintes @ se identificarem com ele; o astronauta soem nio procedeu. Militar de profissio, nao parecia Seldado, nem marinheiro, nem aeronauta,’ nem mesmo: cag Gurrelro. Era, obviamente, um supertécnico, eujo , do falava das suas préprias reagées e das reagses ten Sous Companheiros no espago, mesmo quando deserevia perigos fantdsticos, permanecia inteiramente deseutine i cstéria que contava era a estéria de uma bravura son limites ¢, néo obstante, era de espécie diferente de nen aa Gos homens que lutaram na It Guerra Mundial ou Gaqueles que navegaram, em sécuios passados, os eos nos ainda desconhecidos da Tumo & América, Era Hue, bevura composta de conhecimento © de autocom trole, de uma aceitacdo perfeita da realidade. Aquele jovem de aparéncia ¢ maneiras simpéticas que 'o corcava, conhecendo-as e as suas qualidades ene Conhecia a si mesmo, encontrando neste conhecimenty Par ¢ Uberdade. Segundo os padroes de imimeras ideole, Sias politicas © psicoldgicas, ou de doutrinas, ters aap um espéclme quase perfeito’ do homem alienado, isolude 0..quE. Exists. 2.0. que, Vink. » Exionn 9 © Popular do homem alienado ou que parecesse mais se guro de si mesmo e mais sereno, Que caracteristices psicoldgicas apresentava ele? Sig- nifleativamente, ao expor o programa das alividades wo, paciais, aquele astronauta néo fez mengéo da morte de Sous amigos © colegas, ocozrida ha poucos meses, quar Go uma espagonave Apolo incendiouse, ainda em terra, Gurante uma prova, Mas por que haveria de fazélo, una {ez que @ ocorréncia de tais coisas, no seu novo mundo feenolégico, deve ser e normalmente seré evitada? “A morte, agora, nio apresenta interesse especial; s6 suse (gauses ¢ que interessam. A Unica coisa importante é que 1a propria aventura nio deve morrer. O gue no disse, e que ninguém relacionado com 0 programa espacial o atirmou diretamente, 6 que, so © empreendimento obtiver sucesso, a raca humana pode vis a ndo perecer. Estd, todavia, implfcito em suae S006 acerca do progresso clentitico. A terra, um dia, pode acabar, mas universo, tanto quanto a ‘ciéncia "posh faber, Pode ser eterno." A humanidade, ao escapar da Senmais animais ultrapassaram hd milhdes de anos, quan. do, pela primeira vez, deixaram o mar, a fim de se arrie farem pela superficie da terra. Este ‘acontecimento de, ferminou e marcou ndo Spenas a conquista de um novo 10 0 Homes Teexexsorea isto porque os nossos triunfos tecnoldgicos sio a criagéo de uma civilizacio tecnologia que da os seus primeiros [passos, © Os astronautas e seus colegas néo 86 represen. tam essa civilizaco, como se acham empenhados tam. bém em construtla.’ Eles nio so apenas os frutos dos Jabores da humanidade, mas determinam, cada vez mais, © seu destino. © homem tecnoldgico, ao que parece, atin: giu a sua maioridade. Esta é ums realidade visivel. Mas hé ainda uma outra, Por volta do fim de 1945, 0 poderio militar da Ale. manha nazista e 0 do Japio Imperial haviam sido des. truidos. Nessa ocasiéo, também por meio de um pro. cesso cujas causas sfo, cada vez mais, matéria de contro. vérsia entre os historladores, os dois maiores represen. tantes das poténcias aliadas'— os Estados Unidos e a Unido Soviética — passaram a se olhar nio mais como amigos mas como inimigos potenciais e, em cortas areas, como inimigos efetivos. Durante o curso da guerra hou. ve duas mudancas capitais no terreno da tecnologia mi litar: os alemées haviam desenvolvido e posto em acéo ‘s-bombas V-1 e V-2 e as tinham usado para fim destru- tivo; e um grupo composto, em sua maior parte, de cien- tistas europeus havia possibilitado aos Estados Unidos Gonstruirem as bombas atémicas. Essas bombas, atira- das de avides, destruiram as cidades japonesas de Hiro. hima e Nagasaki, resultando em perda de vidas em es. @ala sem precedentes, pela ago de uma tnica arma bé. ica, em todo o curso da hisiéria humana, ‘As grandes poténcias, agora hostis, engajaram-se numa corrida para combinar as. duas novas realidades tecnoldgicas que diziam respeito aos foguetes e & fisica atomica num sistema tinico de armamento, que seria ele- mento decisivo em qualquer guerra futura. Ambas as Poténcias fizeram, com aquela finalidade, uso importante de cientistas e de técnicos provenientes da Alemanha der- totada. Os Estados Unidos mantinham a Hderanca quar to &s armas atémicas, mas os russos em breve conquis. tariam essa lideranca’no terreno dos misseis. Em con. seqiléncia, os russos foram os primeiros a enviar um sa. ‘élite a0 espaco — 0 famoso Sputnik, a primeira con. quista humana total da gravidade que 0 prende a terra. Esta proeza, considerada impossfvel por muitos cientis. tas, era produto de uma luta global pelo poder politico 0 -QU-Bxiere-8-0.quR-¥ink-A Bxtsria 1 entre a América capitalista e a Russia comunista, A cor- rida espacial fazia parte de um drama antigo no quadro da politica de poder internacional. A tecnologia do espago desempenhou um papel im. Portante também no plano das providencias politicas na- cionais de ambos os paises. Na Uniio Soviética, possii litou & elite politica do partido comunista distribuir ta. refas & sua comunidade cientifica em expansio e utilizar @ produtividade de sua capacidade industrial em desen- volvimento, sem abandonar a estrutura_policial-estatal pela instabilidade econémica e politica de uma economia baseada no consumo, Nos Estados Unidos, a corrida espacial realizou fun bes politicas ainda mais necessérias: Os Estados Uni dos nunca haviam superado a grande depressio econd. mica da década de 1930. A IT Guerra Mundial havia dado & economia um enorme impulso. A demanda de consu. mo aumentada no pés-guerra continuou a alimentar esse Ampulso e foi seguida da guerra da Coréia, A rivalidade tecnolégica da corrida espacial com a Uniaio Soviética assegurou a manutengio da economia em nivel de alta capacidade, sem a ocorréncia de maiores alteragoes no sistema econdmico e social dos Estados Unidos. ‘Mas, na reuniao em que falava o astronauta, estava evidente que o paraiso terrestre nfio tinha chegado ainda © 0 homem e a sua sociedade nfo tinham ainda rom. pido com 0 passado. Na verdade, 0 objetivo do discurso do astronauta era o de convencer seus ouvintes de que © piiblico americano precisava desviar seus recursos de servigos sociais ou de novos automéveis ou de coisas se. melhantes — para um maior apoio ao programa espacial dos Estados Unidos. Como 6 possfvel atribuir uma transformacéo de im- portancia capital, no que tange 20 destino humano, a NASA — U.S. National Aeronautics and Space Adminis tration — ou & sua contrapartida sovistica e a seus agen- ies? Seria esse jovem simpdtico e seus colegas gente absolutamente obtusa, os super-homens que a raca hu. mana lutou milh6es de anos para produzir? Seria o fu. turo igual ao presente, ou mais ainda? Qual dessas realidades 6 realmente real? Formular @ pergunta ji é respondé-la. Ambas sfio, Tudo que é real € real. E este 0 fato central a que se deve ater, para se compreender um dia as vastas mudangas que jd estio comecando a transformer a sociedade humana, os peri. 12 © Hownw Teexorsar00 goS que trazem e os triunfos que prometem. O homem tecnoldgico é, a um sé tempo, mito e realidade, O Mito do Futuro feviver as culturas da ‘antiguidade cldssica: da Grécia Roma antigas, A um nivel cultural ‘6rla tinha um significado, em que os acontecimentos co Gesenvolviam numa linha reta: a Cringlo; a Redengdo on 8 Hbertagio do pecado pela intervengio divina, ¢ o duce Final, quando todos os homens seréo julgadoe por peg Segundo a vida que levaram, boa ou'ma. Esta atitude fubstitui os pontos de vista grego e romano, de que todas as coisas se repetem etermamente — visio que, for v vista do homem primitivo, Gertos grupos religiosos, no fim da Idade Média (séculog XII ¢ XIV), reviveram a idéia crist primitiva da Se gunda Vinda do Cristo que ocorreria muito breve. Com Binada com a crenga no progresso resultante do nasch mento da ciéncia moderna, esta idéia influenciou os Tigres Cfedos ndo-religiosos da Democracia e do Socia. 0, iiss essa crenca, de que 0 futuro seria melhor ¢ que Gevia sor ajudado @ se tornar melhor, desenvolveuse, pejgomamente, por meio de mudancas’ vagarosas, par’ faa got no caso de desvios maiores, de préticas vigen. tes, pelo menos em acréscimos l6gicos'a essas pritions on Gano Gerivacdes do que jd existia. Se as maquinas po- (iam ser melhoradas, eram melhoradas; as edificaches fornaramse maiores,’o transporte mais rapido; move idéias € novas técnicas foram introduzidas e aceitas c © que Exisrs © 0 qun Vik 4 Exisnin 13 pareciam ser um avango em relagdo as idéias antigas. Mas as mudangas, para a maioria dos homens, tinham de ser autojustificaveis, ¢ o futuro chegou de etapa em etapa, Em contrapartida, a cultura contemporanea foi, na verdade, invadida pelo futuro, Homens de sensibilidade fizeram eco & crenca expressa por Thomas Jefferson, es. tadista e humanista, 0 teresiro Presidente dos Estados Unidos (1801-1809), de que-cada geracio deve levar a sua propria vida, desembaracada da influéncia dos mortos, ‘Mas vivemos, cada vez mais, num mundo em que 0 pon: to de referéncia cultural e, de corto modo, de poder poli. tico é a imagem do futuro.’ A ficcdo cientifica tornouse, finalmente, uma forma popular de literatura, em lugar de um setor adstrito a um grupo especial. Bois para a maioria dos homens ¢ das mulheres, 0 futuro é unia pro- messa a ser cumprida. Até mesmo’as modas refletem a énfase dada ao amanha, e os vestidos das senhoras adul. fas ndo so idénticos aos de suas avos, mas se parecem com os de suas netas. Tudo isto poe'o perigo de que, quando chegar o futuro, ninguém estard apto a reconhe. clo. Ou, mais seriamente, que, embora as coisas acon. tecam e 0 tempo passe, o futuro pode, na verdade, ser impedido de jamais se concretizar. Este novo mito do futuro — mitico porque combina glementos de fantasia com novos objetivos ou significa. dos para a vida — € diferente do mito que se expressou no século XIX e comego do século XX. Vé-se isto pelo fato de que o futuro tornou-se um assunto sério e Tes. peltdvel de estudos pelos cientistas. Pode, efetivamente, ‘ransformarse numa nova industria académica, A ciéneia do futuro, inclusive a teoria da andlise dos sistemas, deve suas origens as necessidades militantes da era da Guerra Fria, 0 periodo de tensio entre a Russia Soviética @ 0s Estados Unidos que se seguiu ao término da II Guerra Mundial. A anélise de sistemas desenvolveu se pela atuacdo da Rand Corporation, organizagao criada pela Forea Aérea dos Estados Unidos a fim de resolver gertos problemas de planejamento militar. A Forca Aérea tinha de planejar aeronaves que deveriam voar ¢ comba: ter dez anos mais tarde, e nelas incluir caracteristicas que as tornassem titeis nesse tempo, Mas, para fazer isto, tinham de se arriscar a algumas previsdes: prever que espécies de novos materiais escolher, que novas de- fesas passaria o inimigo a desenvoiver e que espécie de 4 0 Howem Tresouserco guerra poderia eclodir. Todos esses fatores previstos nham de ser inter-relacionados e as suas relagdes mituas identificades. Desta forma, a técnica da andlise de siste- mas e o estudo do futuro nasceram como irmios gémcos As téonicas rigorosas de previsio variam, mas todos 0s futurélogos do tipo Rand acham-se especialmente preocupados em prever o futuro em termos de determi nadas tendéncias ou acontecimentos. Todos tém cons- ciéncia de que varias tendéncias passiveis de serem pre- vistas tender necessariamente a se eliminar mutuamen- te: melhores meios de comunicagao podem fazer decres- er a pressdio para a melhoria dos transportes, por exem: plo. Todos estdo convencidos de que certas’ tendéncias bdsicas continuarao, em particular quanto ao crescimen- to do conhecimento cientifico e ao crescimento das po- pulagbes, e, portanto, que a escolha da humanidade acha- Se limitada a uns tantos “futuros” possiveis, dependendo de quais tendéncias atuais e que eventos futuros previs- tos silo dominantes. Mas, embora certas tendéncias tec- noldgicas, politicas e culturais sejam vistas como basicas Para determinar com que se pareceréo os remanescentes do século, os futurdlogos organizados tendem a oferecer uma série de previsses em que a variedade de freatien- tos elementos muitas vezes desiguais ¢ conflitantes passa © existir lado a lado. Outro grupo de profetas assume uma postura funda. Mmontalmente diferente, muitas vezes sem constaté-la in wgralmente, uma vez que muitos deles acham-se envol- vidos no estudo organizado do futuro assim como na provistio do seu proprio futuro. Este ultimo grupo pro- cura encontrar a chave para o futuro num tinico aspecto das tendéncias presentes ou num punhado de aspectos correlatos. Véem o mundo futuro como uma nova civi- Usaglio baseaca num tinico fator unificador, dssim como fa civilizagéo do passado fora unificada por instituicdes tals como 0 feudalismo ou o capitalismo, ou por idéias como Cristianismo ou Liberalismo. Para todos esses profetas do futuro, a tecnologia é, de uma maneira ou de outra, o fato que estd fazendo com que uma nova civilizacdo radicalmente nova seja possivel e necesséria ¢ fornecendo o seu principio de or- @anizagio. A despeito da diferenca de énfase entre cien- tistas de varios setores da sua atuacio, todos estio de acordo em que, como resultado de certos fatores tecno- logicos, estamos deixando para trés a era industrial ea © que Extsre = 0 Que Vink 4 Exione, 15 sociedade burguesa ¢ penetrando num mundo radical mente novo. As idéias geram conseqtiéncias. As idéias relativas a0 futuro geram um género especial de conseatiéncias, Os que acreditam que vastas mudangas estejam para ovor. rer podem ser perdoados por se dedicarem menos aos problemas temporérios do presente. Os crentes religio- sos que procuravam a salvacio numa vida depois da morte so capazes muitas veres de ignorar os problemas mundanos, partindo da presuncio de que “estes também passaréo”.” Os mitos acerca do futuro, provenientes em grande escala das expectativas religiosas de vida depois da morte, tém essencialmente 0 mesmo efeito da crenga no sobrenatural, Assim, os socialistas marxistas, que acreditavam no eventual 'e necessério triunfo da revolu- do, poderiam mostrarse indiferentes & politica do dia adia ou podiam procurar manobrar os seus elementos em, termos de sua interpretacio segundo o significado a ongo prazo que trazia, implicito, a historia, Tsso pode ser perigoso. Por exemplo, a interpretagio comunista de que © nazismo era a Ultima fase, na Alemanha, do capitalis- mo agonizante, resultou na destruigao do movimento co- munista alemio, depois que Adolf Hitler chegou ao poder em 1933. Algumas vezes 0 presente tem uma vida vigo- rosa_prépria, Desta forma, os que estio conveneldos de que esteja ocorrendo uma mudanea radical na sooiedade humana, como resultado de um progresso teenolégico, freatiente. mente minimizam os problemas do presente, ou, pelo menos, fazem com que os outros assim conciuam. Se estivermos entrando numa nova era de tecnologia unt. versal, entéo as diferencas entre os Estados Unidos e a Unido’ Soviética se tornam insignificantes, Se 0 proble- ma do futuro é 0 da utilizacao do. lazer cada vez mais amplo, numa era de automacéo, ento a aparente luta de classes de hoje nos Estados Unidos pode ser posta de lado como néo tendo maior importéncia. Quando se pre- diz que novos progressos tecnoldgicos nos possibilitarao transformar 0 mundo inteiro num belo jardim, ou fazer Gas nagées avancadas paises to ricos que possam supor. tar os povos menos avangados com os seus recursos ex- cedentes, entfio a inguletagéo revolucionéria que varre 0 ‘Terceiro’ Mundo — as nagdes em desenvolvimento — perde sua importéncia. Tratase meramente das dores que acompanham 0 crescimento da nova civilizagao mun a atramerE aa eR i ‘ i i i mags 16 © Howes TeeNouéar00 dial e, quando a era cientifica que af vem realizar as suas potencialicades, olharemos para trés com divertimento ara aqueles que pensavam que o comércio, as tarifas 6 8 assisténcia técnica tradicional eram coisas’ importantes, No momento em que se é atraido fortemente pelo mito do futuro certos problemas tendem a desaparecer inteiramente. A revolucio negra — a luta dos negros nos Estados Unidos para conseguirem igualdade econdmica @ social — e seus equivalentes em outras partes do mun. do néo apresentam nenhum relacionamento essencial com a sociedade que surgiré como realidade pdés-indus- frial. & verdade que a automacSo piorou, no momento, 9s problemas econdmicos dos negros americanos, mas a luta racial estd tio desligada da nova viséo do futuro como @ luta nacional estava da doutrina origindria mar- xista. Uma vez que a mdquina nfo distingue entre as cores, qualquer conflito racial que possa ocorrer na era tecnoldgica, que estd surgindo, serd necessariamente qua- se que um’ acidente, Com isso niio se quer dizer que o mito do futuro seja deliberadamente cultivado, a fim de desviar a aten- a0 dos problemas do momento presente, Os futurdlogos so, de modo geral, sensiveis e morais que pessoalmente, assim como os homens, se preocupam profundamente com os problemas comuns de hoje. Mas o futurologismo apresenta uma tendéncia natural em focalizar a atengio de seus seguidores e correligiondrios naquilo que ha de vir em lugar de nas coisas que existem atualmente, Se esta fosse a iinica objecéo, a acusagio n&o procederia. Nossa sociedade tem efetivamente problemas de longo alcance que quase desafiam a solucio que lhes oferece- mos, se forem nogligentemente deixados de lado, até que se tormem claramente graves. Os que véem o futuro an- tecipadamente devem ser reconhecidos como herdis. ‘Mas © se 0 futuro nunca vier? Isto é, que acontece- tse o futuro for, sempre, mais mito que realidade? Existe, © todos nds o sabemos, uma tendéncia natural humana de se prever coisas demais e cedo demais. Exis- te, também, uma tendéncia em resistir 2s mudancas. Mas © aparecimento do primeiro passaro na primavera nao significa que munca mais se ha de precisar do calor que vem da lareira. Devemos, ainda, nos precaver com o fato de que o Surgimento das coises novas signifique o fim das coisas velhas, Isto parece ocorrer, &s vezes, no terreno intelec- © ave Exism™ © 0 que Vit A Exisnin rte tual. A redescoberta feita por Marx da base econémica ¢8 politica fez com que muitos acreditassem que a vida inteira era economicamente determinada, Sigmund Freud (1856-1989) chocou uma época de extremo racionalismo go chamar a atencio para as raizes animais do compor. famento humano nfo-racionais ou inconscientes e, deade gnldo, muitos tém sustentado que todo o comportamen to humano 6 irracional ¢ inconscientemente determi Nao obstante, @ realidade pode ser muito mais complexs So teidt# humana pode ‘basear-se em relacionamentos gcondmicos © também na influéncia de experiéncias dis: {antes da primeira inféncia, assim como na hita biolégi A Revolugéo Existencial e a Resisténcia Social és Me ‘udangas A, cumanidade, nos dias que correm, esté prestes @ adquirir novos poderes sobre si mesma ¢ sobre 0 melo ambiente, que podem alterar a.sua natureza tio funda. mentalmente quanto o fizeram o fato de caminhar ereto $40, que chamamos de sociedade, sua propria es Bioldgica. Ao mesmo tempo, ha cortos paades de eee com. Portamento tanto institucional quanto pessoal que so {isse to resistentes as mudancas quanto o dos aninmiais inferiores © 0 dos insetos sociais, As acdes do homern Sao lmitadas pela escassez, pelo conflito, pela inseguratt $2, pelo medo, pela irracionalidade, pelo egoismo e polis {atlas Instituigdes sociais e culturais que resultamn de fais problemas ou que procuram vencé-los. Estes dois fatores nao constituem apenas esmagadores quebra-cabe, $25, intelectuais ou um ‘escandalo moral. Apresentamn Pongel™ Perigo quanto uma esperanca de vastas pro- redes, 1B 0 Hoxnm Tecworsa100 Falar de realidade desta maneira 6 admitir que o préprio termo tenha sentido, que hé algum sentido em qué aqui. Jo que percebemos corresponda a alguma coisa “fora de nds”, O debate desta questéo 6 uma ocupacio favorita @ no completamente intitil dos fildsofos. Nao obstante, nossa inteligéncla prética nos parece dizer que a inven- G0 da agricuitura, 0 comego do Cristianismo e a libera- 0 da forca atémica foram, de alguma forma, fatos de Profunda significagio para toda a humanidade. Da mesma forma, consideramos.a transicéo. do feu- dalismo para 0 capitalismo como mais importante do que 0 declinio da familia reinante dos Habsburgos da Austria, no comego do século XVIII, a Revolugio Fran- ‘cesa (1789-99) como mais significativa do que a liberta- Ho da Grécia do dominio turco (1821-29). Sabemos que, sob a superficie dos acontecimentos didrios, hé um nivel mais profundo em que 0 nosso comportamento social e individual se empenha em criar, no campo da histdria, mudangas de significaco e de alcance amplos. Desde que o cientista inglés Charles Darwin publi- ‘cou em 1859 seu livro A Origem das Espécies, passamos ‘a acreditar, menos obscuramente, que o homem néo foi sempre o homem que é, que houve um longo processo de ascensio a partir de alguma coisa diferente e que isto fol, de certa maneira, assinalado por transformagies es- Pecitias. Algumas eram fisioas, tal como a que assine © desenvolvimento da postura ereta e o do polegar que se opde aos outros dedos; outras, num sentido tec- noldgico ou social, como a que assinalou o desenvolvi- mento da fala, da utilizacdo das ferramentas e da desco- berta do fogo. Mas admitimos que a um determinado ponto no passado distante 0 homem tornou-se homem @ {8 evolugéo teve termo, cessou. Tudo, a partir desse mo. mento, passou a ter entio uma significagio menor por- que a natureza é fixa; e, embora a vida econdmica, polf- tica e cultural do homem ofereca oportunidade para al- gumas alteracdes e talvez para grandes avancos, a natu- reza do homem 6 fundamentalmente inalterével. Aqui est o homem, e a sua relacio com o mundo da nature- za, seu lugar nela, é considerada como um fato. Todas ‘as suas realizacdes, grandes como possam ser, S40 ape- nas variagdes de um tema e efetivamente nado muito im- portante. Sempre alimentouse 0 homem de plantas e de animais, utilizouse de ferramentas e construiu suas ha- Ditagdes. Viveu em familia, habitualmente em companhta © aus Exism = 0 QUE ViRK A Exisnn 19. do grupos relativamente grandes de outros homens. Tem sido governado por uma combinagio de elementos de persuasio, de forea e de resisténcia &s mudancas. Tem negociado com os outros, divertido a si mesmo e pro- curado encontrar sentido’na vida e em expressé-lo em formas culturais. Com uma heranga bioldgica fixa, com uma escolha limitada entre as formas socials e um con- trole limitado sobre o seu meio ambiente, tem seguido © seu caminho desde o nascimento até a morte. ‘Mas uma visio mais significativa da evolugio indica que esta teoria simplesmente ndo é verdadetra, O homem é ainda capaz de mudancas’ fundamentais, dado que a evolucéo nao chegou a seu fim. Biologicamente, é ver: dade que cada recémnascido é irmio do homem da ca- verna. Neste sentido, nio houve mudanca alguma. Mas com isto nao se quer dizer que af esteja toda a historia. As criancinhas dependem de sua sociedade para a sobre: vivéncia, A cultura é parte da heranca humana, ainda que no seja um fato bioldgico. As mudangas que ocor- rem na cultura humana podem ser téo fundamentais que tém significacdo até mesmo: dentro do processo evolu- ciondrio. O homem pode tornarse outra espécie de cria- tura. A evolugdo estd ainda em processo de acontecimen- to e 0 homem mostrese consciente desse processo e pode conscientemente dirigir seu roteiro. ‘Mas, que poderia ocorrer de tio fundamental, no plano da cultura, que alterasse a natureza basica do ani- mal humano? Que descoberta se poderia emparelhar com aquelas forcas que transformaram o animal em homem? Nada, certamente. ‘Intimeros fatos — fatos li- gados A moderna tecnologia — alteraram a naturesa do homem. De que maneira? Simplesmente dando 20 homem um poder quase infinito para mudar seu mundo © para mudar-se a si mesmo..A corrida espacial e a ener- gia atOmica e, mais fundamentalmente, os progressos ve- Hificados na medicina e na biologia estdo entre as provas da nova posicéo existencial do homem. Alguns tém afir- mado que o homem aproximase da intima imitagto de us. ‘Até onde o homem pode chegar? © que resta a fazer a fim de desafiar 0 seu Criador? Deve o homem ter a capacidade de fabricar a vida de substdncias nio-viven- tes ¢ orientar o seu desenvolvimento. Certas experién. clas recentes quase que atingiram este estégio. Deve adiar infinitamente a morte. Isso 0 homem ainda nio 20 0 Hoste Teewxous pOde fazer, mas experimentagbes que envolvem a refri- geracio dos corpos na esperanca de os reviver;~depois Ga descoberta da cura da doenca que os vitimou, sio uma indicagio da tentativa de vencer a morte, Além do mais a substituicio das partes daniticadas ou doentes do corpo pode tomar a morte sem sentido; a morte de uum corpo teria pouca significagio se 0 seu cérebro ot 0 Gontetido do seu csrebro pudessem ser colocados num cérebro mais nove, O homem esté destinado a ser, para sempre, uum ser frustrado por no ser capaz de ctiar 0 mundo desde um seu novo inicio; o seu mundo jé existe. Mas hoje jd 6 qusse capaz de tornar nosso planeta abs: lutamente inabitével e talvez mesmo de mudar sua rbi- ta, levando-o, por conseguinte; & sua destruicio fisica. A medida que o homem pode fazer todas as coisas que pensa e disto tem ciéneia, podemos falar do fim do mundo moderne ¢ do surgimento de uma revolugSo exis. tenelal, Dols essas forcas novas sio simples extensio das foreas antigas. O poder absoluto sobre si mesmo e sobre o.seut ambiente ccloca o homem numa posigso moral ra- Gicalmente nova. Ao longo de toda a historia tem vivido © homem com certas idéias de liberdade e de identidade. A liberdade consistia em fazer 0 que quisesse fazer. Era restringido por outros homens ou por um meio ambien: te fisico imutavel. Mas o grau em que os outros homens Podiam controlé-lo ou constranger sua liberdade era I Imitado pelo fato de que o meio ambiente limitava tam. bém os seus poderes, A identidade, igualmente, era um Problema limitado, © homem era @ resultante de uma Combinagio de circunsténcias — sua infancia, sua am- bléncla, seus préprios desejos. Tudo podia ser determi- nado pelo destino, e nao por ninguém mais, e certamen. te jamais pelo prdprio homem. Na era da tecnologia absolita, todavia, a liberdade a identidade devem ganhar novas significagées ou tornar- Se sem significacto alguma. Outros homens podem mu- far a sua sociedade, a sua economia e o seu melo fisico. Finalmente, estaréo’ em condigdes de forcar a gente a Viver num mundo sem drvores e oceanos, se assim 0 qui serem. Fodem obrigarnos a amélos. Podem alterar a Bossa identidade controlando nossas experiéncias € nos- Sa educacso © podem determinar, antes do nascimento, © tipo de filhos que se quer ter.” Mas, talvez mais com. turbador, ainda, é 9 fato de que estamos em condigoes de fazer tudo por suas prdprias mos: poderemos mudar © un Bxiste © o que Vink & Exton 21 @ propria aperéncia assim como o préprio sexo, nossa Gisposigéio ¢ nossas lembrancas e até mesmo aquilo com gue quisermos que os nossos filhos se paregam, Mas, se pudermos ser o que quisermos, como distinguiremos nosso eu “real” do outro de escotha? Quem é que estd promovendo essa mesma escolha? Nem todas essas mudancas que afetam a natureza da lberdade e da identidade sio, no momento, praticdveis, mas todas esto implicitas nas novas forgas que se de. senvolvem pela ioderna tecnologia. A tinica questéo pa rece ser a de se saber quanto tempo durard para que tais futuros tomem forma e figura e passem a existir. © fato de 0 homem de hoje saber que esse futuro esti @ caminho deve afetar de imediato a imagem que tem de si mesmo e a de suas ages. Desta forma, néo hé dil: vida de que a era do novo homem chegard em breve, A revolugao existencial j é uma realidade. No obstante, tudo isto pode ser realmente verda: deiro? Muitas coisas continuam as mesmas. Por exem plo: as escolas continuam a ensinar; os governos ainda se acham envolvidos na politica, como antes. O mundo, tal como o conhecemos, ¢ ainda téo real como sempre 0 fol, ‘Ha vérios sentidos em que podemos pensar acerca das realidades como coexistentes. Um deles seria 0 da situagiio em que mundos diversos coexistem de alguma maneira dentro do mesmo universo sem quaisquer pon: tos de contato normais ou ordinérios — como nos casos dos mundos natural e sobrenatural. H4 uma outra pos: sibilidade. Podemos estar viajando e, na volta, descobri: mos que a guerra nuclear teve inicio @ que a maior parte do mundo pereceu e, mais ainda, que morreremos no dia seguinte, vitima da exposicao & irradiagio nuclear. Mas tudo em redor de nés sera exatamente téo real quanto sempre foi. Os misseis estéo em posi¢&o de disparo quan: do vos 18 isto. Essa diferenca — entre a rotina da vida ordindria e a possibilidade de um horror sem paralelo — € menos manipulével do que a que se vé entre 0 mak tural e 0 sobrenatural porque ambos existem dentro do mesmo sistema mundial. Ainda assim, podem ser sepa rados por muitos de nds, uma vez que um 6 imediato, a0 paso que o outro é geralmente remoto, A politica ¢ a economia devem, num certo sentido, ser baseadas ni Possibilidade da déstruigéo nuclear, mas a maioria das 22, © Homest ‘TEexor6a100 pessoas, durante a maior parte do tempo, néo pode ou nio precisa considerar @ existéncia das armas atomicas. Mas a realidade da atual vida cotidiana continua rumo & era do novo homem — era que jé se estd ini ciando — de uma maneira diferente. A nova clvilizacdo existird lado a lado com a velha, substituindo.a gradati. vamente, jamais de um modo absoluto. O poder de so. brevivéncia das velhas instituigGes, das velhas idéias das velhas classes governantes é simplesmente imenso. A resisténcia as mudencas é 0 fator mais importants dentro da sociedade humana. O homem é o animal que nio renuncia a coisa alguma, Simplesmente soma as coisas 20 que jé tem e ao que jé 6. Isso’ nao deve constituir surpresa, Contrariamente 5 nossas primeiras impress6es, a evolugio destrui mui. to pouca coisa. As criaturas que surgem com o seu novo dominio puseram as outras de lado, mas poucas perece- Tam. Assim, na sociedade humana ‘também ha sobrevi- Venies das sociedades mais antigas e de tipos humanos mais arcaicos assim como das culturas anteriores. Com que se parece esta continuidade do velho em meio a0 novo? De certo modo, é simplesmente uma es- Pécie de mistura social variada, A confuséo parece ser 4 caracteristica capital do mundo de amanhé. A varie- dade pode predominar simplesmente porque uma socie. dade mais rica poderé suportéla. Uma vez que a malo- tla das pessoas no seré reclamada para trabalhar com © maguinismo da produtividade, poderao fazer ¢ viver como quiserem. Esta mistura de diferentes estilos de vida sera confusa, As vezes tragica, outras vezes amoa- gadora; e a cultura daf resultante poderia ndo ter uma diregéo definida. Mesmo assim, poderia funcionar per: feitamente bem, Outros problemas, todavia, podem resultar do fra- asso da realidade tecnoldgica ém triunfar completamen. te sobre as resistencias sociais As mudancas. Quando fa lamos do préximo surgimento do homem novo, ao nivel existencial, néo precisamos admitir seu triunfo’ sobre as forcas sociais. Nada assegura que quaisquer das reali- dades fundamentais dos sistemas social, econémico ou cultural viréo a mudar. As novas forcas que se enfeixam has mios do homem podem ser controladas por pessoas motivadas pelo medo, pela ambigéo, pela supersticao ou pela voliipia do poder. Embora seja sempre pintado como sem coragéo, frio e racional, muitos esperam que © Que Exist £ © que Vit 4 Exisnin 2 ‘© homem tecnoldgico possa adquirir virtudes humanisti- cas e seguir os cédigos morais e tradicionais. Mas e se este mesmo homem emergir como um escravo dos pio- a area a nema ee ja permanecer, em grande parte, como é hoje " {nstrumento do homem de negocios edo tilttar? Que aconteceré se a civilizagdo capitalista e 0 seu paralelo socialista permanecerem dominantes, e a tecnologia vier @ ser meramente mais uma arma entre tantas na busca do lucto e do dominio politico? Os profetas da nova realidade podem estar certos em ressaltar os vastos poderes disponiveis ao alcance da nova sociedade, mas podem estar errados ao avaliar quao diferente essa nova sociedade hé de ser. Por que con- cluir que 0 homem do futuro seré uma criatura comple- tamente nova? Ese 0 homem novo combinar a irracio nalidade animal do homem primitivo com a volipia do poder do homem industrial, embora guardando os pode- res que Ihe foram doados pela tecnologia? Seria a catds trofe final. SOE fe ea ee eT aa _ Soe Arama 2 A TECNOLOGIA E O HOMEM INDUSTRIAL Tecnologia e Cultura Humana © HOME # UM ANIMAL tecnolégico e a mudanga tecno- l6gica € 0 fator fundamental na evolugio humana. Esta 6 simplesmente uma nova maneira de dizer que 0 ho- mem € um animal cultural. Outros animais possuem as ” Suas tecnologias e, algumas vezes, apresentain uma for. ma bésica de cultura. Por exemplo, os pdssaros cons. troem ninhos e os ratos instruem suas crias quanto 20s novos venenos desenvolvidos pelo homem. Mas para o homem as ferramentas e es cultuas so fatores centrais em sua existéncia. Sé 0 homem evoluiu culturalmente, a Ponto de, conscientemente, poder alterar radicalmente seu meio ambiente fisico ¢ a sua propria forma biold- gica e natural, como um ser vivo. Todavia, afirmar que a mudanga tecnoldgica seja o fator central que define a existéncia humana no é dizer que a tecnologia seja a tnica varidvel independente na civilizagio humana. As tecnologias so criadas e utiliza- das pelo homem. Os que afirmam que nos estamos tor- nando uma sociedade tecnolégica, definida pelo fato de gue a tecnologia passou a ser um objetivo em si mesma sem controles externos, estio completamente equivoca. dos. Temos & nossa disposicio 0 conhecimento tecnold. gioco e cientifico a fim de eliminar a pior pobreza, de pre. venir 0 envenenamento do nosso meio ambiente ¢ de tor. nar o mundo, de modo geral, um lugar bem melhor em que possamos viver. Todavia, assim nfo procedemos. As ‘A Trewovocia 0 Howem Ixpusrarat, 25, novas forgas que 0 homem possui sio capazes de varias utilizag6es. Algumas dessas utilizagdes se opdem # ov. tras: a pesquisa biolégica e médica pode ser usada para @ produgéo da guerra bacteriolégica ou para a cura das doengas. E algumas dessas utilizagées, na prdtica pelo menos, excluem outras utilizagdes. Os ‘recursos destina. dos & ‘corrida espacial ndo podem ser utilizados com 0 fim de eriarse uma sociedade melhor ou um melhor meio ambiente fisico. Na verdade, o perigo central que desatia o homem na tltima parte do século XX 6 a subordinacao da tec: nologia aos valores das eras historicas mais antigas ¢ sua exploragdo por aqueles que no compreendem o que envolve a tecnologia, mas procuram apenas seus objeti: vos egoisticos pessoais ou de grupo. O novo homen| teonoldgico, com os seus vastos poderes, estd surgindo como servidor do homem primitive dos nossos dias, que néo pode compreender a mudanga tecnolégica. "Isso smeaga transformarse em desastre. A idéia de que a cultura humana depende de seus fundamentos tecnolégicos ¢, a principio, estarrecedora, ou, mesmo, desagradivel. Todavia, um exame mais dé tido da coisa mostraré que esta concluséo é tio dbvli quanto inegavel. Por exemplo, as descobertas feitas por Galileu, astrénomo italiano do século XVI, que muda. ram radicalmente a visio do homem de sua posi¢do den. tro do universo, jamais poderiam ter sido realizadas sem a mestria dos polidores de lentes, que fabricaram sou te. leseopio. Todas as sociedades humanas, incluindo-se stag estruturas econémicas e politicas e suas culturas inte. lectuais, so dependentes de suas bases tecnoldgicas, As alteragdes ocorridas nas idéias podem causar mudangas nas tecnologias assim como as mudangas ocorridas ‘no terreno da tecnologia podem dar ensejo a que fagamos uma reviso de nossas idéias. Mas a tecnologia leva, tal: vez, uma Pequena vantagem. Ainda néo:podemos fazer tudo aquilo que esteja nas nossas concepedes de realiga, goes, embora nos estejamos convencendo cada vez mais de que tudo que imaginamos poderd vir a ser feito por nds num futuro muito proximo. © fato de que a tecnologia pbe limites as atividades do homem e define, em larga escala, sua existéncia nfo € nenhum fenémeno recente ou contempordneo, embora seja a extenso dos poderes tecnolégicos no momento & disposicio do homem, Desde o inicio da sua existéncia 26 0 How Tecxoxsa100 © homem tem dependido da tecnologia; na verdade, pode- se argumentar que a tecnologia possihilitou so Homem fazer-se homer. Nenhum dos fatores apresentados pelos estudiosos da existéncia humana explica a singularidade que o ho: mem atingiu no isolamento, Alguns salientaram a fala, Ou a invengio do fogo pela friecéo de dois objetos, ou uillizacko de ferramentas possibilitada amplamente pelo dedo polegar em oposigao aos outros dedos da mio, ut até mesmo a consciéncia de sua vida de sonhos. Acon: toce, porém, que todos os fatores, incluindo-se 0 cérebro humano, evolufram conjuntamente, a fim de produzir o homem 'primitivo, hé cerca de um milhgo de anos. ‘Similarmente, através de toda a histéria humana até © presente periodo de mudangas, a tecnologia tem sido uma causa necesséria mas no de todo suficiente da as: conslio e queda das civilizagbes. A tecnologia explica muita coisa acerca das clvilizacées, mas nfo determina completamente sua configuracio ou atua isoladamente ou independentemente das opg6es humanas. A natureza deste, relacionamento entre a tecnologia e a cultura ex- plica, em grande parte, as varias controvérsias entre os Hocidlbgos relativamente % importéncia comparativa da Wwonologia em conjugagio com os outros fatores. itos historiadores tém manifestado a tendéncia do enoarar a tecnologia como sendo apenas um fator de menor import&ncia'e, até recentemente, ignoravam intei ramente sua influéncia, Alguns socidlogos, todavia, fo: ram tomados de uma visio de deterministas tecnolégicos = Oui seja, acreditam que a tecnologia controla as for- Socials e os padrées de cultura. Embora os marxis- tas sejam menos claros a este respeito, 6 certo que o determinismo econdmico marxista é realmente um deter- minismo tecnol6gico, porque para Karl Marx, tedrico flemio das Ciéncias Sociais no século XIX, a espécie de sistema econémico e social que cada Sociedade apresen- ta era necessarlamente determinada pela espécie de sis- tema ou de producéo que a sustentava. Evidentemente — seja 0 que for mais — 0 homem é um animal tecnol6- gico e a tecnologia é fundamental & sua humanidade. Mas a tecnologia é mais do que a fabricagao de ferra: mentas e de utensflios. Os sistemas de suprimento de gua, as formac6es militares e a organizacdo da arreca- daco tributéria sio tanto tecnologias quanto o é 0 modo de construir navios ou pontes ou armas de guerra. Ao A TeoNowecta #0 Homem Inpusretat, 27 estabelecermos uma concepeio tio vasta quanto esta a Tespeito de tecnologia, arriscamo-nos obviamente a co- meter 0 engano daqueles escritores que afirmam que a tecnologia € a técnica e, uma vez que tudo se resume em técnica, todas as agdes humanas sio agOes tecnoldgicas. Podemos evitar essa dificuldade para incluir demasiados elementos na definicéo de tecnologia se considerarmos que tem determinadas caracteristicas essenciais. A tec- nologia 6 um meio organizado, deliberado, de afetar o meio ambiente fisico ou social ¢ capaz de ser assimilada © comunicada a terceiros. geralmente eficiente, inde- pendentemente das atitudes pessoais, qualidades ou ta- lentos dos que a manipulam. Desta forma, um cantor exige uma “técnica” mas nio se utiliza realmente de uma tecnologia, Agricultura e Civilizagao Embora a data dos comecos da agricultura seja uma questo aberta para os historiadores, parece claro que Bor volta de 7000 @. C. os homens jd viviam, em Areas do Oriente Médio, em comunidades agricolas organiza das, As conseqliéncias para a humanidade da nova tec- nologia foram-imensas, Os excessos de alimentos produ zidos pela agricultura e os problemas e as possibilidades que esses excessos criavam forneceram a base para a especializagao do trabalho, para a escrita, para a cidade, para a configurag&o das classes sociais, para o surgimen- to do Estado e da civilizagio tais como os conhecemos. Estes excessos tornaram possivel o primeiro grande au. mento da populacdo na histéria humana, fazendo subir @ populacio humana a um novo nivel, de maneira ainda no Tepetida até o advento da nossa ‘propria era indus- trial. “Um pesquisador acredita que, por volta do ano 5000 a.C., os pressupostos para o nascimento da civili- zagio j4 se achavam presentes, mas esta nfio ocorreu porque outros fatores eram ainda necessdrios. Em ou- tras palavras, a tecnologia sozinha nfo podia criar as condig6es necessérias ao seu pleno uso e desenvolvimen- to; novas. formas politicas e sociais eram reclamadas, As primeiras grandes civilizagdes agricolas surgiram cerca de 4000 a.C., nos vales dos rios mais importantes do Velho Mundo. Eram o Tigre e o Eufrates, no Oriente Médio; 0 Yangtzé, na China; 0 Nilo, no Egito; e o Indo, sane nonce en em 28 © Hower Teworsatoo a India. © solo rico e os recursos abundantes de égua que tals rios produziam favoreceram a populagsio no seul crescimento, @ a necessidade de obter dreas de tertas Mais ardveis através dos processos de drenagem da dgua gue se escoava em excesso estimulou a cooperagio © a organizacdo social. O desenvolvimento das téonicas de Guiaeio de metals encorajava uma certa especializacso de trabalho, ¢ @ falta de metal, de madeira e de pears Bas partes baixas dos terrenos ‘fez surgir a necessidade Hos e vales — um extenso sistema de drenagen @ de se primento de égua — era tanto social quanto fisica, Esses Sistemas de suprimento hidrico achavam-se tao intima, mente conjugados com os Estados centralizados que um Proeminente historiador desenvolveu o conceito de “den Potismo oriental” — uma forma de governo tecnologics. mente resultante da ‘necessidade de estabelecimento. de Felagdes harmoniosas nas sociedades dependentes de A evidencia hist6rice parece mostrar que é exagera do 0 principio do historiador. Mas serve como lemirers Uli de que, embora a tecnologia nio controle complet: mente a politica, pode fazer com que certas prativas 6 forts instituicdes sejam mais eficientes e, por conseguin. te, com maiores probabilidades de progredir. O homem Pode comprar sua liberdade a partir dos efeitos gorados ela tecnologia, mas sé por um prego determinado, at gumas vezes Por um prego tao alto que pode nao estar Gsposto a pagélo ou no o querer pagar. AS civilizagées do antigo Oriente Proximo atingiram altos de desenvolvimento que, sob certos respel gia um grau de flexibilidade social e um afrouxamento Cas barreiras locais que favoreciam o desenvolvimento © 8 circulagéo de novas idéias e até mesmo permitiam ‘A Trewovocia ® © Howes INpusmisat 29 © crescimento de uma certa dimensio de individualismo @ de interesse mundano, As civilizagSes posteriores da Grécia e de Roma, pelo menos ao nivel tecnoldgico, representaram um movitnen, to de regressio. % verdade que a ciéncia, como hoje conhecemos, teve as suas origens nas especulagdes ¢ nas gxperimentagdes .dos gregos. Mais fundamentalmente, fol a filosofia grega que fez a importante distingao entre & natureza, que é universal, e a convencéo, que se Tela. cionava “apenas com as tribos particulares Ou coin ag Tagas, Essa distingio forneceu as bases para o concelto de ciéncis baseado em leis universais. Mas o sistema social da Grécia, apoiado na escravatura, forneceu pouco estimulo para o desenvolvimento das maquinas que de. viam ajudar o trabalho humano. Até a tecnologia da agricultura foi declinando, & medida que o comsérelo. gre. 0, baseado no imperislismo militar, tornou dispontvely 08 suprimentos baratos de cereais vindos de fora, O fra. casso da civilizacio grega em estimular a tecnologia std simbolizado no tato de que a famosa eolipila — um tipo de maquina a vapor inventada por Héron de Alexandrin entre os anos 100 8.C. e 200 dC. — permaneceu como um brinquedo. Com que se teria parecido a historia In. mana subseatiente se houvesse havido motivagio para que se fizesse uma utilizagéo prética dessa miquina? © tato de que a tecnologia néo se tenha colocado em po- Sigdo independente © completamente prevalente ao longo da historia no tem nenhuma outra melhor ilustragao do que na recusa mantida pelos gregos de colocar a gran. de parte do seu conhecimento tedrico ao nivel da pritica disria, Os tomanos, a0 contrario, respeitavam a tecnologia ¢ foram responsdveis pelo desenvolvimento e uso de miu. 8S Pontes © os aquedutos para o transporte de dgua ain. da 'sdo utilizados até hoje, O aquecimento central ¢ 0 eneanamento de gua para dentro das casas eram fatos gomuns nas cidades romanas no periodo de 100 a.C, € 200 .C.; no fol sendo no século XVII que qualquer gidade européia poderia oferecer um alto padrao de som forto e de utilizacdes técnicas. Mas a tecnologia romaria z, tanto no terreno das atividades fisicas como nos seus Telinados sistemas de direito e de administracao publica 30 0 Howzar Teonousatoo — no era uniformizada por quaisquer formas de prin- cfpios cientificos ¢ se limitava a circunstancias éspeciais. Algumas partes da heranga grega do pensamento espe- culativo ¢ da pesquisa de leis universais foram preser- vadas, mas os Tomanos pouco fizeram para ampliar essa heranga, ‘As causas da decadéncia de Roma tém-se constituido em tema predileto para o debate histérico, mas parece fora de duvida dizer-se que a decadéncia social e econd- mica levou ao. eventual declinio politico e militar. Toda- via, 0 alcance e a duragio da decadéneia durante os sé culos seguintes podem ser facilmente exagerados. Partes da sociedade européia tornaram-se unidades sociais dis tintas e muitas técnicas se perderam. O restabelecimen- to, no entanto, nfo durou muito a surgir. Estimuladas, em parte, pelas atividades de varios grupos de monges cristéos, novas descobertas foram feltas e novas técnicas se desenvolveram. A madeira foi um material de maior importéncia estrutural; 0 vento, a égua e os animais eram as principais fontes de energia. A civilizagdo da Europa Ocidental, durante o perfodo medieval, aproximadamente de 500 d.C. até 1500 d.C., estava fundamentada em dois fatores tecnolégicos. Um deles era o arado de ferro recurvado que, juntamente com os bois necessérios & sua tracéo e com os comple- mentos de arreios e equipamentos que tornavam possi- vel sua utilizacso, conquistou os solos roxos, timidos ¢ extremamente férteis do norte da Europa, tornando pos- sivel a manutencéo de uma grande populagio com um padréo de vida em crescente ascenséo. Esta nova tecno- Jogia da agricultura deu apoio & transferéncia do poder Politico e militar das terras da regio do Mediterraneo para a parte norte da Europa. O segundo fator tecnolé- gico consistiu no uso do estribo e dos equipamentos a ele relacionados, como as ferraduras. Tais equipamentos tornaram possivel uma cavalaria bastante eficiente a fir de repelir os ataques invasores. Uma vez que um trecho Telativamente grande de terra era necessério para ali- mentar um cavalo, ¢ considerando-se que 0 equipamento 0 tempo necessdrios para o treino nas varias habilida- des e pericias do novo estilo de guerra requeriam acesso 8 escassas fontes de recursos, 0 poder passou para as mfos de uma restrita aristocracia de proprietérios ru- rais, Uma nova forma politica baseada na lealdade es- Pecificamente pessoal, chamada feudalismo, fez 0 seu A Teonowoaa £ 0 Home IxpuseRIAL 31 aperecimento; ¢ apoiado na nova base teonolégica, foi crlado 0 sistema de conduta relacionado com o feudalis. mo, chamado cavalaria O Advento do Homem Industrial A histérla do advento da moderna civilizago industrial é realmente a histéria de como .o homem moderno veio a ser 0 que é — ou, pelo menos, 0 que era até recente. mente, até 0 dia de ontem. Desta forma, é uma hist Jé relatada intimeras vezes, e cada qual que a relata 4-10 em termos que servem 3 Sua especial visio das coisas e aos seus interesses. Aqui, duss preocupagdes nos assal- tam, Primeiramente, desejamos descobrir 0 papel desem- penhado pela cléncia e pela tecnologia na configuragdo de todos os aspectos da nova era — os aspectos socials e culturais, assim como os econdmicos. Em lugar, desejamos isolar os elementos tecnolégicos & base do industrialismo que elevaram a posico da tecnologia no quadro da civilizacdo a um nivel de proeminéncia e de importancia, # esta nova importancia da tecnologia que atualmente ameaca explodir a civilizagéo criada pelo industrialismo, de modo que a humanidade s6 tem a es- colha de criar uma nova civilizagdo e viver ou — talvez — morrer no caos. ‘As raizes materials da civilizacéo industrial penetram até 0 terreno do perfodo medieval. A mineragéo forne- eeu tanto a energia para o advento da revolugio indus. trial como para a estruturacdo dos seus padroes essen: clais. Originalmente, desenvolvida em alto grau_pelos gregos, a mineracio’ durante esse perfodo dependia da tecnologia do passado e procurava ajuda nas ciéncias que se formavam, Estreltamente conjugada, através de toda a histéria, com a guerra e a escravatiira, a mineragio assinalou & conturbac&o que o industrialisino haveria de trazer & sociedade medieval. Um dectinio agudo ou a dik namizagio do incremento na capacidade das minas para produzirem os metais preciosos levaram & depressio ou 80 crescimento. As minas forneciam as armas ¢ os mis- seis que destruiram as bases militares da cavalaria ¢ es: tabeleceram 0 moderno Estadonagio. E a introducdo das miquinas e dos novos. padr6es nas minas da Europa, na Ultima parte do periodo medieval, causou problemas de trabalho semelhantes aos que vieram mais tarde du ie 82. © Hoxem TeoNoxécr00 rante @ insteuragio da Revolugdo Industrial na Inglater- rae na Turopa, Na verdade, as condigdes se ternaram to precirias no século XVII que na Escdcia os mineiros Joram redusidos & condic&o de verdadeiros escravos. ‘Mas as auténticas raizes da civilizagio industrial e3- tavam nas mentes dos homens, nfo nas suas técnicas ou nos seus efeitos. A Europa, em poucos séoulos, néo teria Superado a lideranga tecnoldgica do Oriente e conquista- do o planeta simplesmente pelo crescimento fragmenté- rio do conhecimento baseado na experiéneia ¢ nos expe. rimentos, e por uma tecnologia prética baseada no aci dente @ na conveniéncia. A Revolugio Industrial estava misturada a uma revolugio intelectual e espiritual. Hoje, clo mesmo modo como a tecnologia de sociedade indus: trial fornecou o ponto de partida para a tecnologia da Sociedade que a, seguiu, do mesmo modo como o homem € tanto irmao quanto pai do homem tecnoldgico que se snuncia, assim ‘também os fundamentos intelectuais da revolucéo industrial oferecem, no momento, 0 apoio in- telectual da civilizagio tecnolégica. Quase todas as ‘criaturas exibem a espécie de com: portamento a que se poderia chamar de “curiosidade’ ‘Muitas criaturas. entregam-se a atividades que se pode. rlam chamar de jogo. ‘Todos os seres vivos procuram 0 poder em algum’ sentido — ainda que seja o poder de ‘se proteger a si mesmos contra o meio ambiente e con- tra o poder manifesto de outras criaturas, O homem compartilha de todas estas caracteristicas e, mais ainda, mostra uma outra que lhe é propria: procura prineipios morais absolutos. A majoria das sociedades tenta justi- ficar suas acdes pela utilizagéo de referéncias a algum ser, a certas leis, ou a determinados objetivos que estio fora dos prdprios atos e, geralmente, fora das suas vidas didrias. A base da civilizagéo industrial era uma unio de todas estas necessidades prementes; a curiosidade, 0 jogo © a moralidade, tudo isto combinado com a busce de poder. A civilizacao industrial esté baseada no desen- volvimento da ciéneia e da tecnologia como instrumen. tos de amplificagéo do poder do homem sobre 0 scu meio ambiente fisico e sobre seus semelhantes, de modo que possa satistazer, da melhor maneira, as suas neces. sidades animals bésicas quanto & alimentagio, ao vestud. rio e & habitacio ou abrigo e ainda a sua volipia de poder sobre as coisas ¢ sobre os homens. A Tronotedta © 0 Hoenr Ennusraat 38. © homem industrial, nos seus exemplos mais puros — evidentemente poucos individuos exibem completa mente esse espirito — estaria disposto a restringir 0 co. nhecimento @ a tecnologia ao que pode ser usado. Para ele, 0 jogo é apenas uma preparacdo para o trabalho, e © trabalho — esforgo utilizado pare orgunizar ou fazer alguma coisa — ¢ tanto o meio exclusive quanto o obje- tivo tinico da conduta moral. As bases intelectuais da civilizagdo industrial séo de encontrar-se no triunfo da atitude de que o. trabalho é 0 tinico objetivo adequado a0 homem, e que a ciéncia, a tecnologia e mesmo a mo: ralidade devem servir, exclusivamente, a esse objetivo. ‘Varios entendidos'tentaram mostrar o papel do Cris: tianismo protestante e de um de seus ramos mais con- servadores, 0 Puritanismo, na ascensio do Capitalismo, Todavia, nem o Protestantismo nem o Puritanismo, mas todo o Cristianismo ocidental em si mesmo é uma fonte da nova atitude experimental e arrogante, em relacho a0 mundo, que tem sido a base intelectual do advento do industrialismo. © Cristianismo, a religiéo dominante no Ocidente.du- rante o periodo medieval, era radicalmente diferente das religiées nao-influenciadas pelo Judaismo ou pelo Cris tianismo, porquanto incluia uma dimenséo histérica, Se- gundo 0 Cristianismo, Deus criou o mundo e, através do nascimento e da morte de Cristo, ofereceu a salvacéo do hhomem do pecado. A isto seguia-se, mais tarde, 0, juizo final de todos os homens, bons e maus, e o fim do mun: do. Unica entre as religides‘de maior importéneia, mun. dial, e em contraste especial com as regioes do Oriente, © Cristianismo afirmava que o mundo tinha um‘ destino, que o futuro no era simpiesmente uma repeticao imu. tével do passado. A idéia de progresso — idéia central no desenvolvimento da ciéncia e na caracterizagio do mundo moderno — tem as suas raizes vinculadas & dou trina crist@, relativamente go fim do homem e ao fim deste mundo. Com um sentido de histéria surgiu uma nova énfase ‘a0 tempo ¢ aos seus “valores”, um elemento essencial da civilizagdo tecnolégica. Os monges do periodo medieval, om 0 ordenamento rigido das suas tarefas didrias em consondncia com as horas de seu programa de oragdes, ndo apenas estimularam o desenvolvimento do relégio como ainda podem ser tomados como sendo os primel ros homens modernos, rasa ist) Q @ a Rihiint trai © Homes ‘Teenen6aieo © Cristianismo forneceu um segundo estimulo & nova revolugio ocorrida nas idéias, porquanto admitiu que 0 universo e, na verdade, 9 préprio Deus eram racio- nais e governados por lels universais capazes de serem conhecidas pelos homens. A ciénefa moderna est basea- da nesta crenca. Embora existisse alguma hostilidade entre a religiio e a ciéncia, desde os tempos mais anti. gos — especialmente por causa das motivagdes munda- as que existiam por trés da ciéncia e do enfraqueci- mento que provocava quanto a certas crengas religiosas — a tradig&o religiosa do Ocidente fol claramente mais eficaz no desenvolvimento da ciéneia do que as tradig6es réligiosas do Oriente, como foi demonstrado subseqtlen. temente pela histéria. © Cristianismo manifestava ‘também a tendéncia de encorajar uma atitude basicamente hostil em relagdo & natureza. O homem primitivo fazia parte da natureza ¢, Para ele, a natureza era sagrada; a maloria das religies niio-cristis incluia a adoragéo da natureza e dos seres vivos. Mas 0 Cristianismo sustentava dois pontos de vista confltantes: um, de que Deus esta fora @ acima da nm tureza, e 0 outro, que Deus, Criador, revelaSe a Si mes. mo em Sua Criagho. O resultado deste conflito era a {dia de que a criagso era um dom de Deus concedido 408 homens, a ser utilizado por ele. O uso significa a @xploragio, a experimentacso e até mesmo a destruicdo. A natureza nfo tinha quaisquer reivindicagées a respeito do homem,; o homem era supezior & natureza. A medida que © tempo passava, o Cristianismo, especialmente nas suas formas de Cristianismo protestante, oferecia estimu- Jo @ justificativa & completa dominagao da natureza e de Blorificagio das Iutas da humanidade pelo poder. © Protestantismo também destruiu a noco de que @ lei natural pudesse constituir a base de respeito con- tinuado & harmonia da natureza. A natureza tinha de ser conquistada, nao apenas porque se encontrava A disposi- gio do homem, a sua frente, mas porque era, de certo modo, a expressio do mal; e toda a filosofia natural era contrdria & religigo. © advento da ciéncia e da tecnologia era insepardvel da ascensio do moderno Estado-nacio; suas lutas pelo poder vinham em posigao paralela, Com o renascimento do direito romano surgii um renovado interesse pela administrago publica racional, e novas tecnologias de A TeoNoLociA 0 Homese Ixpusmmiat 35 administracio surgiram com novas méquinas e novas armas. Por mafs estranho que parega, 0 Estado, controlado por um governante absoiuto, era, em certo sentido, mais democrdticn do que os seus predecessores. AO mesmo tempo, essa qualidade era reduzida a diferengas em quan- tidade, nas espectilagdes dos cientistas e dos fildsofos, e chegot-se & concluséo de que até mesmo as massas eram uma ajuda natural que podia ser acrescentada ao poder real. O-Capitalismoprimitivo estava bem adaptado 2 nova situagio, porquanto podia fornecer as massas um mais alto padrdo de vida ¢ um monarea com outras fon. tes de poder nacional. A énfase, desde 0 comego, da Re- volucdo Industrial centrouse na produgio de mercado- ras para a populagso em geral, e nio apenas para uns poucos selecionados. Como assinalou um historiador, a roducéo se realizava a favor da quantidade e, no campo da cféneia, a importfncia primordial foi colocada no pla- no das considerag6es matematicas. Esta nova motivagio para a conquista do mundo, ‘para encontrar os seus segredos e utilizé-los a favor do oder politico e do crescimenta econémico, conduziu pri- meiramente a uma redobrada atengSo quanto A ciénela @ a tecnologia e, finalmente, ao apoio deliberado do go- verno para que ‘realizassem’ estas forgas 0 poder nacio- nal. Cedo se viu que os conhecimentos vigentes em mui- tas reas eram inadequados e que muitas crencas co- muns e generalizadas eram simplesmente falsas. A cién cia tinha de comegar de novo, de maneira divers. A busca do conhecimento, em si mesma, tinha de ser cien- tificamente organizada.’ Os homens jf comegavam a des- cobrir a idéia que por muitos ere acreditada como a malor de todas as invengSes da era industrial, a “inven- cdo da invencio”. : Nao foi na Inglaterra, bergo da Revolugio Industrial na ultima parte do século XVII, mas sim na América ena Buropa, que a ciéncia ¢-2 tecnologia se organizaram do modo mais caracteristico da era industrial. A Alema- nha ¢ os Estados Unidos foram as nagGes que ganharam, nos comecos do século XX, 0 prémio do dominio in- dustrial. © pequeno Estado alemao da Prussia transformouse num poder europeu capital, pela cuidadosa organizacio e emprego de fontes de recursos. A medida que estendia © sett controle por todos os estados alemies, as mesmas 36 0 Howie Teeworserco ieonicas de organizagéo — inciuindo-se a organizagio do conhecimento — eram transformadas em bases do esfor, c A industria alema dava realce a pesquisa organizada, especialmente no campo das importantes ¢ merciais. Em pouco tempo, o profissiona. smo de seus teendlogos ¢ sua capacidade administrati. W8 Possibilitaram aos alemdes ultrapassarem a Inglater, ta @ a Franca 2s, Estados Unidos comecaram, apenas em ritmo lento, a se organizarem para 0 dominio tecnoldgico. Du. Zante 9 século XIX, 0 apoio ptiblico & ciéncla — oficial ou privada — era pequeno. Mas a América teve efetivamen- fade de assimilacéo. A sua grande vantagem, taiven, tenha sido devido a0 meio ambiente fisico natural, das fuss regides do CentroOeste e das regides montanhosas, Aqui, exigiam-se providéncias dos povoadores para so Siustarem Bs condicbes extremamente diferentes Gas de Europa ou da dos Estados mais temperados e bem irri gados da regiéo Leste. Como nas posteriores tentativas Dara conquistar as. profundezas dos oceanos e do espago Sxterlor, Os pioneiros que domaram as Grandes Planicies Ou.0 Grande Deserto Americano (como a maior parte do Oeste Americano era ento conhecida) exigiam uma tee. nologia organizada, a fim de ajudéos ¢ sustentélos Bstados Unidos, um servigo do govemo eriado em 1862, oi, sob muitos respeitos, a primeira organizagio moder, na de ampla pesquisa. americana (como na Alemanha, as novas indiistrias qué micas e elétricas) deu grande relevo & pesquisa organi. sada. As induistrias e os individuos fundaram institul. ges © apolaram.a ciéncia, naquelas instituigoes desejo. $88 de cooperar. O governo dava apoio as pesquisas ha “sgricultura © nas artes mecénicas”, concedendo terrenos A Teonotecia = 0 Howe InpusTRiAt 37 para 0 estabelecimento de colégios. O vocabulo “cientis- fa” fol empregado primeiramente por William Whewell, na Inglaterra, no comeco do século XIX; a palavra “tec. nologia”, pelo alemao Johann Beckmann, em 1772. Mas milhares de homens, desinteressados das origens destas palavras ou na distincao entre elas, silenciosamente se juntaram, organizando e trabalhando. Contrariamente a um mito popular contemporaneo, @ ajuda organizada dada pelo govsrno nos Estados Uni dos @ ciéncia nfio foi simplesmente um produto da guer- ra, € @ pesquisa comercialmente apolada fol menos ain- da. Todavia, a guerra era um fato importante. A indus: tria americana havia sido mobilizada para a I Guerra Mundial pelo Conselho de Industrias de Guerra, mas a ciéncia organizada, representada pelo Conselho Nacional de Pesquisas, desempenhava um papel limitado. Basic: mente, a guerra foi feita com os instrumentos © 0S mi. terlais disponiveis no seu comego. Pelo contrario, dit. Yante a II Guerra Mundial os Estados Unidos erlaram uma Comissio de Pesquisas para a Defesa Nacionil, criaram o Escritdrio de Pesquisas Cientificas e de Desen. volvimento ¢, finalmente, é claro, 0 Projeto Manhattan, gue veio a fabricar a bomba atémica, A II Guerra Mun. dial afetou também radicalmente as idéias dos cientistas. Embora suas capacidades técnicas fossem boas, era algo de novo para os cientistas americanos e: tecnélogos 0 fato de pensar em suas tarefas em termos de poder mi- litar ¢ social —- porquanto as aplicag6es sociais de suas habilidades eram coisa de amadores. Mas a explosio da bomba atémica em Hiroshima, no’ Japao, incrementou grandemente a mudanca desse clima. Deu a muitos cien: tistas um novo sentido de responsabilidade social e, por conseguinte, teve uma importante influéncia em fazer progredir a crescente consciéneia da humanidade quanto 808 seus préprios poderes, consciéncia extremamente im: portante para o surgimento do homem tecnoldgico, Natureza da Sociedade Industetat As civilizagdes se baseiam na interagio da tecnologia @ dos valores humanos. Jé examinamos os valores que spoiaram @ ascensio da civilizagio industrial — o trata: mento da natureza como simples objeto a ser explorado 38 0 Howe TrexoLéci00 para a satistagio das necessidades e desejos huthanos, 0 releyo dado & quantidade como chave para a consecucio da verdade ¢ da mensuracio das qualidades, o valor aposto a0 conhecimento como fonte de poder @ a orga. nizagio consciente da busca do conhecimento como par. te do poder. Mas, que espécie de tecnologia se achava associada @ esses novos valores? Que novos poderes trouxe para © homem? So compreendendo a maneira pela qual a ci vilizagio industrial diferiu tecnologicamente das suas bredecessoras 6 que poderemos alimentar a esperanca de entender as mudangas tecnoldgicas que podem transfor- mar a, sociedade industrial numa nova civilizagdio e subs tituir & sua figura simbélica central — 0 homem indus. trial — por um novo tipo, 0 homem tecnolégico. Ha uma caracteristica central que distingula a socie- dade industrial de todas as outras sociedades anteriores — as suas fonies de energia, A sociedade industrial est Va baseada na cescoberta e no uso de novas fontes de energia, encontradas em quantidades limitadas na face da terra, e que possibilitavam ao homem empreender uum trabalho muito mais vastamente ampliado do que poderia ter feito em periodos anteriores. Este trabalho assumia, normaimente, a forma de produgio de merca- dorias, Ou seja, a alteracio das substancias fisicas encon- tradas na natureza, a fim de fazétas operar como instru. Montos iiteis a0 homem. As novas fontes de cnergia, combinadas com as prevalentes tecnologias da producio, eondusiram as providéncias paralelas de centralizagio e de padronizagio. Desta forma, num caso tipico, o carvio encontrado na Inglaterra iria produzir energia ‘para con- dusir as méquinas manipuladas por homens ou mulheres que transformavam 0 ferro em aco e, subseqiientemen. le, em automéveis. Esta atividade ocorria, normalmente, numa fabrica e era chamada de producio em massa, ou de produgdo de coisas em grande quantidade. Tudo 0 mais passa a secundario ao definirse a sin. gularidade do sistema industrial. O que era fundamental No sistema era o uso de combustiveis extraidos da terra, a fim de reelizer 0 trabalho das fébricas. Quando novas fontes de energia comecam a ser utilizadas, primordial. mente, para objetivos outros que nao os especificos da producio de coisas fisicas, entéc o sistema industrial se encontra proximo ao seu fim, A. TeoNoLociA & © Howmet INpusmmiat 39 © sistema da produgo em massa, conhecido como industrialismo, teria sido impossivel sem a ocorréncia, das revolugdes anteriores, notadamente da revolucgéo agricola. A revolugdo agricola condualu aos excedentes de produgéo, de modo a permitir o crescimento de uma enorme populagao, parte da qual seria destinada ao tra- balho nas fébricas. Embora fosse este fato uma causa necessria & industrializagio, era no entanto uma causa insuficiente.Desta forma; também, as revoluges ocor- ridas no terreno dos transportes 'e das comunicagdes, que precederam e acompanharam a Revolugéo Indus: trial, constitufram-se em fatores importantes para o seu sucesso, Inclusos nessas revolugdes registravam-se 0 apa- recimento de um novo tipo de carro puxado a cavalo, as estradas para finalidades miulltiplas, as estradas de ferro e 0 navio a vapor. Mas nenhum desses elementos, isola- da ou conjuntamente, teria podido produzir a sociedade industrial sem o surgimento das novas fontes de energia. Todo trabalho exige o consumo de energia. Antes que o trabalho possa ser empreendido, deve haver ener- gia, em forma adequada, disponivel para este fim. Os animais e os homens convertem o alimento em energia, que pode mover seus musculos e, finalmente, puxar arados, suspender toras de madeira ou tornear pedras. © homem, durante a maior parte da sua existéncia, tem dependido’ da energia disponivel das fontes humanas e animais, derivadas em tltima insténeia do alimento que consome. O homem captou a energia do vento e da égua, através da vela e do moinho hidréulico, e chegou até mesmo a fazer uso do sol para o fim de secar os seus alimentos ou outros objets. A descoberta do fogo deu- Ihe um acesso limitado & energia concentrada na madei- ra, na terra e no carvao, mas ndo era uma energia nem cficiente nem fécil de sér controlada. O grande triunfo velo quando o homem descobriu como converter 0 calor Giretamente em energia mec&niea, como fazer com que as coisas que se queimavam estivessem a set servigo. Embora essa descoberta fosse feita mais ou menos no séeulo I a.C., no Egito dominado pelos gregos € pos- sivelmente em outros lugares, a base da civilizacto in- dustrial consistiu na sua Tedescoberta na Inglaterra e na sua utilizago comercial extensiva no comeco do século XVIII, A invencao da bomba de agua em 1712 assinalow uma nova era, Primeiramente, o carvéo foi transforma- do em vapor e, em seguida, em energia mecanica e em 40 0 Homey TacxoxSero0 trabalho produtivo, Mais tarde, 0 carvio foi transfor. mado em vapor e, em seguida, em energia elétrica’e em trabalho; e, finalmente, as quedas d'égua e os cursos de Giferentes niveis de agua transformaram-se em energia elétrica e em trabalho. ‘Todavia, embora outras fontes de energia viessem a se tornar importantes, os funda. mentos da Revolugéo Industrial descansavam no carvao e no vapor. Dessa circunstéincia surgiram quase todas as princi: pais caracteristicas da revolugdo industrial — econémi. cas, politicas ¢ culturais. Primeiramente, as novas fontes de energia ndo estéo distribuidas eqiiitativamente pela Superficie da terra. O carvdo era encontrado em alguns paises, ¢ em outros, nfo. O carvio ndo podia conduzir & industrializagdo sem a motivagao e a técnica para ut lizélo, mas sem o carvao seria impossivel a industria moderna, A medida que o aco substituia a madeira como material de fabricagdo das coisas, em virtude de suas préprias qualidades © de sua maior utilidade no campo da produgdo em massa e de seus processos, o ferro equi- parava'se ao carvio como fonte vantajosa, porquanto o ferro transmudava-se em aco pela agio do carvao. O fer. - Yo, assim como o carvéo, era encontrado em alguns pai Ses, em outros, ndo. Isso significava que nacdes {ais como a Inglaterra e os Estados Unidos tinham uma van- tagem inicial no processo da industrializagao. No mo- mento em que © petrdleo e, em seguida, a eletricidade gerada pela agdo da agua tornaram-se realidades impor. tantes, 0 padrao do poder politico jé se encontrava esta. belecido. ‘Uma vez que o carviio era de transporte dispendioso, a indtistria surgiu nos locais em que havia carvio. Este fsto levou & concentracdo da atividade Industrial dentro de nagdes @ entre elas. Os homens tinham de trabalhar em contato estreito com as suas fontes de energia, a fim de poderem utilizdla eficientemente, Isso conduziu a uma concentragéo de individuos no trabalho e, dadas as facilidades limitadas de transporte, a uma concentracio ‘habitacional. Homens ¢ mulheres eram atraidos para as fabricas © cidades, embora o crescimento de algumas ci- dades indicasse mais 0 progresso do comércio do que o da produgdo. Carvao significava centralizacéo assim como industrializagso, tanto em Ambito nacional como internacional. A Teonotocia = 0 Howest InpusraiaL, 4 Juntamente com a centralizagio dos processos de trabalho veio a padronizagéo dos produtos da indiistria A producdo em massa teria sido econémica e fisicamente impossivel se 0 trabalho a ser feito ndo fosse dividido em pequenas pertes, cada uma das quais pudesse ser executada por uma ‘méquina manipulada pela mao-de- obra relativamente nfo-especializada. Quanta estandardi- zago era tecnologicamente necessdria & sociedade indus. trial-e quanto realmente se deu sio problemas de dimen ses complexas. A linha de montagem de operdrios que produziram o primero automével Ford — simbolo da nova era — era mais um modelo abstrato do ideal do novo método de trabalho do que um exemplo tipico, ‘Muitos operdrios permaneceram altamente qualificados Alguns setores da indtistria foram padronizados apenas em grau muito limitado. Na verdade, & medida que 0 tempo passava, os produtos iam-se tormando menos pa- Gronizatios. A padronizacdo pode no ter sido universal ou talvez mesmo tecnologicamente essencial, mas um alto grau da sua aplicagéo era necessdrio a0 novo siste: ma econdmico de vida, Com a padronizacéo veio a hierarquia, ou uma série de niveis entre proprietdrios © administradores. As gran das somas da riqueza acumulada necessdrias a0 éxito da Competigéo nas indtistrias de produgio em massa e as vantagens das poupanges nos custos que a padronizacio © a centralizagéio ocasionaram significavam que um nls mero menor de homens poderia ser proprietario das int diistrias, Esses proprietarios, sem duivida, exerciam sua autoridade da mesma maneira que 03 homens de oder sempre a usaram, ao lidarem com 0s seus subor- dinados ou com as suas propriedades. Além disso, toda: via, um proceso de trabalho padronizado exigia wm con: trole centralizado extensivo e relacionamentos harmonio- S08. A inobservancia de instrugdes poderia prejudicar todo 0 processo da produgdo; as méquinas humanas nao Podiam errar mais do que as préprias maquinas. Mesmo quando ‘os proprietérios delegavam uma boa parte da sta autoridade a seus gerentes, o principio de que 0 tra: balho tina de ser controlado ‘pela centralizacdo perma: necia. De outra maneira, padronizagéo e produgo em massa teriam sido impossiveis, © que era verdade para a economia era verdade para 8 politica. Nas nages cujo tradicional governo monér- quico ou’ aristocrdtico continuou durante a era indu 0 Homem TeeoLseic trial, a vida politica tornowse centralizada ¢ hierdrauica. surgimento do Estado-nagio centralizou o poder poli ico e se encontrava numa posicko harmoniosa em rele gdo & centralizagdo imposta pela industrializacéo. Nagdes Como a Alemanha e 0 Japao poderiam industrializar-se rapidamente e sem revoltas sociais, sob sistemas de go: vero em que 0 povo no era politicamente representado. ‘A organizagio racional dos recursos econdmicos e das fontes do poder politico pareciam consistentes ¢ harmo sas. ‘A relagio entre a centralizacéo politica e econdmica era um dado menos claro nas nagdes democraticas. Aqui, uas opgdes cram yossiveis. Podia-se, pelo menos em teoria, escolher um sistema politico cujo governo central tivesse poderes limitados © cujas repartigbes governa mentais fossem descentralizadas de modo idéntico a um modelo idealizado de um sistema de livre empresa como Sistema. Um exemplo deste caso era a republica de pe quenos fazendeiros e comerciantes, proposta pelo esta dista americano Thomas Jefferson’ (1743-1826) como 0 Hstado ideal — sendo que este ideal nunca cessou de wwsoguir_ 0 homem moderno, especialmente nos Estados Hnidos, Ou se poderia aceiiar a necessidade de um con- tole politico centralizado e hlerarquizado idéntico ao ‘quo Ja oxistia no campo da economia. Podia-se mesmo fargumnentar que uma centralizagdo politica desse teor era fieoossdrla, se a soberania popular tivesse de dominar 0 filstoma econdmico. O povo, através do processo eleito- yal, doterminaria quem conduziria 0 governo; os lideres controlariam, entao, os funciondrios do governo e as suas necessidades. Mas’ isso significava uma centralizagio e luma padronizagio tao profundas quanto as que predo: minayam nos governos néo-democraticos. ‘A lei consuetudindria, um sistema juridico baseado fem costumes sociais néo-codifieados e em tradigées de Origem medieval, salvou os paises de lingua ingles das plores tensoes e ‘perplexidades causadas por esta concep: ‘de governo. Todavia, mesmo esses paises também tivoram cle aderir a esta Tegra basica: 0 governo nas 50- ciedades industrializadas significava a afividade dirigente contralmente administrada. A unica diferenica entre os Yoximes democriticos e nJo-democraticos estiva em que hos primeiros os lideres cram responsaveis perante 0 poro inteiro e podiam ser chamados a prestar contas de Euas agées em intervalos de certa maneira regulares A TecNowoaia © 0 Howes Inpusrntat, 43 exatamente como o mais rigido e centralizado sistema de administracso era, em ultima andlise, responsivel pe- rante os que haviam'nele investido o seu dinheiro. A civilizagdo industrial moderna diferia de todas as suas predecessoras em outro aspecto vital. Era tanto mundial em extensio quanto dominante nas sociedades que a compunham. O dominio do industrialismo dentro das nagdes desenvolvew-se de varias formas. Hm parte surgiu do.fato de-que o-puro poder econdmico da. indus trla moderna era to grande que outros aspectos da vida econémica eram obrigados a se ajustarem a ele. Por exemplo, a vantagem que leva 0 fabricante sobre o fa: zendeiro, por ser capaz de regular sua produg&o de modo @ aumentar seus lucros ao maximo, significava a subor- dinagSo dos interesses da agricultura a esse quadro. Os lucros ampliados e os beneficios de que gozava o publico consumidor do industrialismo levaram a que os seus métodos fossem copiados até mesmo por aqueles setores da'sociedade que néo precisavam temer pela sua compe- tiggo direta. Nao so os fazendeiros, efetivamente, se tor- naram homens de negécios, & medida que 2 irregula: dade da natureza o permitia, como os “métodos dos ne- gécios” foram aplicados com inegével sucesso a0 mundo governamental e até mesmo ao mundo académico. O ho- mem industrial era o ideal e a0 mesmo tempo o {ipo dominante no seio da sua sociedade. a sua sociedade se transformou na tinica socieda- de. Inicialmente, 0 triunfo da civilizagio industrial re- sultou da energia, da autoconfianea e do senso de com- peticdo dos negociantes da Europa, dos seus explorado- res, missiondrios ¢ guerreiros. Mas, de maneira crescen- te, nos séculos XVII e XVIII, os novos poderes concedi- dos aos europeus e aos americanos pela tecnologia in- dustrial transformaram-se em poder militar.e’ a resistén- cia de outros povos © de outras culturas fof fisicamente dominada, © exemplo foi também influente. Inicialmente, ou- tras_sociedades procuraram imitar a tecnologia ‘militar do Ocidente assim como as suas téenicas, enquanto man- tinham suas proprias tradicGes socials’ e culturais. A ‘Turquia, a Ruissia czarista e 0 Japao assim procederam no final’ do séeulo XVIII e no inicio do século XIX, em seus primeiros contatos com o Ocidente. Mas cedo’ tor- nouse Sbvio que o poder militar se apdia no poder in- dustrial, 0 que significava a introducdo total des idéias svesageenlly 4 0 Howew Teenoubateo & dos métodos ocidentais. Ao mesmo tempo, os povos desses paises acolhiam com satisfagio novas mercadorias produzidas pelo industrialismo, estrangeiro ot nacional © resultado foi que a producio em massa, a padroniza, 80, a centralizagao politica e todas as coises que acom- panhavam a civilizagao industrial tornaram-se de ampli- tude mundial ¢ com elas — embora mais vagarosamente © menos completamente assimiladas — as atitudes em Tolagio ao trabalho, ao saber, ao poder, 20 homem e A natureza, que faziam parte da constituigio do homem industrial.“ Pequenas areas de resisténcla existem em muitas partes do mundo, mas a civilizagéo industrial es- palha-se por toda a parte e tem carater de alcance univer- sal. Se a prdxima etapa no processo da evolugio huma- ha tiver de ser uma uniéo de racas e de culturas fundin- do-se numa nova cultura baseada na nova tecnologia, 0 industrialismo tera prestado sua assisténcia a esse nas cimento, através da unificacéo do mundo, de fato e em espfrito, Que quyadro do homem industrial surge desta breve descrigfio das origens da civilizagao industrial e de seus aspectos principais? Nenhuma civilizacio ou cultura pro- duz individuos que tenham todos os mesmos papéis ¢ desempenhos ou que tenham o mesmo tipo de persona- Hidade; nem todas as caracteristicas do tipo dominante, em qualquer tipo de sociedade, diferem daquelas que in’ formam 0 homem tipico de uma sociedade qualquer. Mas os lideres da sociedade industrial tiveram varias caracte. risticas @m comum. Eram pensadores de atuagio pré- ica, pelo menos no que dizia respeito as suas vidas de trabalho. Para eles o conhecimento era importante mas instrumental, ou util apenas como um meio para condv- sir a um fim. Seu interesse principal estava no trabalho executado por eles mesmos ou pela sociedade. Suas mo- tivagSes mais decisivas eram o poder e a riqueza mate- rial, e tinham da natureza fisica, das idéias e de outros homens. uma concepedo de instrumentos para aquele poder. Atuavam segundo suas prdprias regras, porquan- to aceitavam a realidade de uma luta competitiva pela existéncia na qual dominava-se ou se era dominado. A vida era uma luta contra os outros homens, contra a natureza, grande parte, contra eles préprios. © Cristianismo, especialmente 0 Cristianismo protes- tante, a ciéncia e as teorias de Charles Darwin, que pa- reciam sugerir que s6 os capazes e agressivos sobrevive- A TecNoLoota Bo Homeat INpustetAL, 45 riam ¢ prosperariam, foram fatores que influenciaram a Sociedade industrial." Combinados com as paixdes ani- mais elementares, esses fatores ajudaram a produur uma civilizacio cujos ‘elementos mais visivels eram a produ. gio extensiva © 0 consumo de bens materiais, o afasta, mento da natureze ou a guerra contra ela, a’ repressio dos instintos que levavam ao jogo e & contemplacdo ou a sua transferéncia para as atividades competitivas e, 0 mais importante, a propria competicao e a guerra. Estas gram as caracteristicas do tipo bumano que determina. vam os tragos da civilizago industrial , se uma nova civilizacdo estiver em formacio — se tiver de haver um homem tecnolégico no futuro — essa civilizagio seré, por forga, radicalmente diferente. Hé, todavia, uma outrh Possibilidade: talvez os novos poderes concedidos ao ho: mem pela tecnologia e pela ciéncia no sero controla. dos por um novo homem tecnolégico, mas sejam adqui ridos por um homem industrial inalterado, A combina eee cgonologia pésmodema ¢ do homem industrial Pode produzir uma nova civilizagéo ou pode significar fim da humanidade. ae x 3 A MAQUINA E SEUS DETRATORES NOSSA PREOCUPAGKO CENTRAL neste livro ¢ saber se, e em que medida, uma nova civilizagao tecnoldgica e um novo tipo humano, 0 homem tecnoldgico, achamse em forma, , Tesultantes da sociedade industrial contemporénea. para responder a esta questiio precisamos saber al coisa acerea da natureza da sociedade industrial nossos dias. S6 em fungéo deste conhecimento po- doremos determinar de que modo sua tecnologia, suas formas sociais e seus valores culturais esto sendo alte- Tados, se devemos tomar tals mudancas como ameaga doris ou bencficas © .o que poderemos fazer, se for 0 ‘NNO, A Tespeito delas. Além de examinar os pressupos- Yon intelectuais © a base tecnoldgica que sustentam o homem industrial, para compreendermos o significado integral da sua existéncia, precisamos decidir quais os efeitos que 0 industrialismo acarretou para a vida hu- muna — para o poder do homem, sua Uberdade e suas melagdes com os outros homens, assim como com a na- tureza, Que os eruditos criticos tiveram para dizer _acer- fn da natureza e do valor da civilizagio industrial? Ve- femos que alguns dos juizos negatives e das criticas do sistema industrial so vélidos para a sociedade industrial © possivelmente para a nova sociedade tecnol6gica tam- hém; outros nfo sio nem mesmo vélidos para a sooie- dade industrial e funcionam como base dé falsas espe- Tangas ou falsos receios acerca da sociedade tecnoldgica vindoura — e mais outros podem ser validos para a s0- oledade industrial e funcionam como base de falsas es: perangas ou falsos receios acerca da sociedade tecnolé- A MAQuINA & sous Deruarones 4a gica vindoure — e mais outros podem ser vilides para @ Sociedade industrial mas néo 0 so para a sua suces sora teenoldgica. © problema de decidir que criticas so validas é um problema complicado pelo fracasso exibido por muitos eriticos de distinguirem entre o industriatismo do século XIX e dos comegos do século XX e o industrialismo pre- valente nos nossos dias. Falham também no distinguir as diferentes tecnologias — energia do carvao e energia elétrica, usinas de ago e companhias eletrénicas, estra- das de ferro e sutomdvel, navios de guerra e armas atd- micas, telefone e televisio — e freqitentemente confun- dem seus efeitos sociais. Nunca se sabe ao certo quais fatores tecnolégicos esto sendo condenados ou elogiados em virtude de que conseqliéncias sociais e culturais. O que é verdadeiro em relago as bases mais antigas da sociedade industrial no precisa ser necessariamente ver- dadeiro em relacdo as novas. Na verdade, as diferencas podem ser téo grandes que se torna necessério falar n5o mais em sociedade industrial, mas de algo diferente. Esta dificuldade é flustrada por uma tendéncia co- sum de se referir & era presente como a “idade da mé quina” — frase que parece admitir que a moderna so- ciedade 6 tanto maquina quanto a sociedade que poe ‘gua mineral em garrafas. Mas as palavras ou frases que implicam parecenca, as chamadss metdfores, podem ser erigosos instrumentos intelectuais. Seré que a burocra- cia moderna, o pessoal administrative das grandes orga- nizagées, é realmente um grupo de pecas méveis como um automdvel? Seré que chega mesmo a ter sentido fa- larse num aparelho de televisio como “maquina”? # muito mais facil para uma pessoa média_compreender ‘como funciona 0 motor de automével do que saber co- mo funciona sua televisio, principalmente porque o spa. relho de televisiio nBo é do tipo tradicional de maquina que executa um trabalho por meio de pressio transmi tida as suas partes. ‘Do mesmo modo, 6 muito mais técll pensar no go verno americano como dividido em legislativo, executive @ judiclério do que compreender como o mesmo funcio- na na realidade, Imaginar os processos eletronicos e po- Miticos exige um exercicio dificil, talvez impossivel, da imaginagao, idéntico a0 de imaginar os processos biold- gicos. Podemos imaginar as engrenagens exercendo for ¢a sobre outras engrenagens muito mais facilmente do 48 © Homes Treousetco que © fazemos em relagao ao crescimento de uma crian- ca ou aos tubos de um aparelho de televisio que scle. cionam as ondas vindas do ar e as convertem em ima gens, De uma maneira cada vez mais intensa, a agio Tecnica estd sendo substituida pelos processos eletr>. nicos © outros mais processos, numa variedade de ma neiras ¢ em todos os nivels; ndo obstante, a imaginagao Popular, e de varios criticos, deixam de Ievar em conta essa_mudanga, Uma outra dificuldade que surge ao se tentar com: preender 0 significado humano da sociedade industrial ou tecnoldgica advém do fato de que a tecnologia ndo tem sido objeto de consideracao precipua no terreno do Pensamento sovial. Todo mundo est hoje consciente do industrialismo e do efeito que apresenta a tecnologia so- bre as vidas didrias dos povos em todos os quadrantes Go globo. Nao obstante, a tecnologia é simplesmente aceita, @ os seus resultados sio tomados como acidentais © amplamente incontroléveis. Todas as ideologias basi. cas, ou as doutrinas sociais, que tem poder de influen: cla no mundo de hoje, tais’ como o liberalismo, 0 com. Servadorismo, o capitalismo e o socialismo, tém algo a dizer direta ou indiretamente acerca do significado da tecnologia para a existéncia social do homem; mas ne nhuma delas fez deste tema sua preocupacio central. A este respeito, 0 triunfo do industrialismo moderno me. rece muito bem o titulo de uma revolucéo “acidental” Desta forma, ganhamos pouco entendimento quanto & significagso social da tecnologia do exame dos movimen- tos politicos de maior vulto dos nossos dias. Na verda. de, uma das razdes pelas quais a filosofia politica se en. contra presentemente em tal situacéo de descrédito esté AO seu fracasso er lidar com as matérias trazidas pela nova tecnologia e pelo surgimento do homem tecnoldgico. Um tipo de filosotia politica conservadora procurou controlar a tecnologia e permitir apenas os aspectos que nao perturbassem 0 sistema social. Um outro tipo la menta os resultados das mudancas mas acha que nada pode ser feito acerea deles, por causa das suas vineula- s6es @ compromissos com os direitos da propriedade pri- vada © com 0 sistema da livre empresa. Os liberais ame. rieanos parecem estar prontos a aceitar as mudancas tecnologicas em geral, mas procuram modificar o que Pereebem como seus aspectos anti-sociais. Os socialisias spresentam sentimentos conflitantes acerca da tecnolo- A MAQUINA & sb0s Demaronis 49 les socials. Nao obstante, esbarram eles, de maneira cada yea mais intensa, com o problema da “burocracia”, com as economias controladas pelo Estado, com as economias socializadas — tao opressivas dos trabalhadores como os sistemas de produgao da propriedade privada. Hole em. dia; em varias partes do mundo esté sur gindo uma nova ideologia confusa, especialmente entre 8 gente jovem, que rejeita o marxismo tradicional © os governos, marxistas existentes, Este novo credo advém, em parte, da md vontade em aceitar os compromissog quanto na socialists, As {deologias politicas mais importantes ou nfo fa: zem da tecnologia sua preocupagio central ou, quando © fazem — 0 socialismo é um exemplo — no resolver O Problema que a tecnologia impée. Desta forma, os cri. a mar. O proprio homem teré de aprender como respira sob a agua por meio de uma alteragéo médica de seu pulmées ou através de outro meio. Se determinada eventos aqui previstos ocorrerao ou no, isto néo alter: r4 a relagio geral do homem com os oceanos que en breve mudaré. Do mesmo modo como muito breve ni tomaremos mais a lua como objeto de romance, ma antes como um campo de minas ou de bases militares nossos filhos, nas praias do oceano Pacifico, nio olhard mais uma vastido de dguas a serem domadas, estender dose para além do horizonte — mas uma represa chek de minas, de fazendas e até mesmo de subtirbios. ‘Com ‘que se pareceré a vida econémica do homent Alguns predizem que 2 corrida entre o progresso tecne 16gico e 0 crescimento da populagéo ser ganha pelo pre gresso tecnol6gico. Qual a probabilidade disto, devema Teservar seu julgamento para o futuro. Sem divida, pr rece haver uma crescente concordAncia de opiniGes entr 0s cientistas no sentido de que as novus armas ced esto disponivels para o combate & fome ea escassez. Mas surpreendente e mais importante ainda, espera-se que att mesmo 0 sonho antigo de alterar e transmudar os m+ fais basicos em metais preciosos seré plenamente real 6 0 Howem Tecwoxse100 zado. O homem jd pode criar novas fontes de energia novos elementos, através do dominio que tem ‘sobre 0 tomo, Mas esta capacidede é no momento, restringida Pela necessidade de usar apenas minerais instaveis que descarregam radiaglio. Se o homem puder liberar a ener. gia do ferro ordindrio e do hidrogénio e utilizdla para transformar os elementos comuns da terra e dos mares em energia mecdnica ou elétrica ou em outros elementos, a escassez perderd muito do seu significado. Ja é tecni. camente possivel criar do petréleo a protefna arlificial, 9 elemento principal nos corpos das plantas e dos ani. mais. Quando estivermos em condigées de fabricar tais coisas em grandes quantidades, nmguém mais precisard de sofrer fome ou padecer de defeitos mentais ou fisicos causados pela auséncia de proteina; porquanto 0 proprio Betréleo provavelmente poder ser obtido em quantida. des ilimitadas por processo quimico, Finalmente, 0 ho- mem teré condig6es de usar qualquer parte da superticie da terra ou do seu interior, para quaisquer objetivos que quiser; ¢, 20 utilizar-se de determinados processos, po- derd reutitizélo uma e mais vezes, indefinidamente, As foreas naturais ainda obstam a que as atividades produtivas do homem avancem, principalmente no cam. po da agricultura. Isto, também, serd ultrapassado, Uma Previséo absolutamente precisa'do tempo em todas as partes da terra é esperada quase unanimemente, num tempo relativamente curto, ¢ muitos analistes prevéem 0 controle dos aspectos mais significativos do tempo no de- curso de uma . © fator singular que mais distingue a civilizagio do futuro € a substituicao do “trabalho” tradicional pelos processos de “comunicacao” como a atividade primordial do homem, Os futurdlogos geralmente sustentam que a automagéo, de uma forma ou de outra, seré a base da nova civilizagéo. As médquinas de ensinar tornarseao padréo, e a informacio serd diretamente transmitida ao eérebro humano eletronicamente. O uso de outras ma- quinas complexas dar4 assisténcia ao trabalho comum do homem e as suas atividades de rotina, O climax deste Proceso se dard quando a simbiose homem-mdquina ¢o- megar a desempenhar seu papel na terra, possivelmente poueo depois do ano 2000, © progresso da tecnologia ampliaré extensamente os meios disponiveis de 0 homem controlar outros homens. Novas armas biolégicas ¢ novas drogas serfio utillzdveis A Ravouugio Exisrencrat, 1 com o fim de forgar ou de controlar os homens sem des truélos ou destruir sua propriedade, em grande parte através do efeito direto sobre sua yontade. A cletrnica aumentaré grandemente os meios de observacéo centra- lisada & disposic&o dos grupos dominantes. O Impacto da Biologia ‘Mas net as extensdes ja anteriormente mencionadas do meio ambiente do homem para o espago ou para os ocea- nos, nem a automagdo e a eliminagdo da escassez, nem mesmo os maiores controles sociais que se prevéem para um futuro préximo, sfetarao necessariamente a situacéo existencial do homem. Sempre buscou o saber, o bem- estar e 0 dominio sobre seus semelhantes, Antes, € a revolucio contemporanea nas Ciéncias Biolégicas que anuncia ® chegada do novo homem. A crescente com- preensio dos processos que suporiam a atividade biold- gica tornaré também possivel submeter os processos or ganicos ao controle humano. As drogas podem ser am: plamente usadas nfo apenas como meio de controle s0- cial mas como meios aceitos de auto-realizacéo. A acao preventiva geral e permanente da maioria. das doencas & considerada cada vez mais possivel. O tratamento fisico © quimico para as doengas mentais pode, em breve, re. duzir 0 papel desempenhado pelo analista psicoldgico, Novas técnicas estio constantemente sendo desenvolvidas Para controlar a fertilidade humana, Noves descobertas médicas levam os pesquisadores a esperar a extensio da vida humana em mais cingiienta anos. Jé é virtualmente certo que, agora, mesmo o cérebro pode ser revitalizado, Possibilitando assim a manutengio da memérid e a ca. Pacidade de resolugéo de problemas durante a idade senil. ‘Todavia, néo 6 a cura das doengas mas o controle da forma do homem e dos processos genéticos, dos pro- cessos biolégicos que transmitem e determinam as ca- Tacteristicas humanas, que excita mais a especulacio. A figura fisica do homem e os seus estados mentais serio alterdveis. A int ia e 0 caréter serao afetados pelos meios quimicos, e os sonhos serdo estimulados ou pla- nejados. Os processos bioldgicos e quimicos podem tor: nar possivel 0 crescimento de novos srgdos a fim de Ap " 0 Homme Teexoubarca buiria para a destruigio da forga da gravidade (em vez de seu mero ultrapassamento) aqui mesmo na terra. Al- gumas previses, tal como a que envolve a competigao em relagio as matérias-primas de outros planetas e a sua exploragéo agricola, teriam importantes efeitos psicol6gi- cos e econdmicos se forem levadas a termo. Mas, ainda que tais eventos ocorram realmente, sO significariam que @ conquista do sistema solar pelo homem seria idéntica, numa escala maior, & conguista pela Europa da terra na Gra coloniel: colénias, bases, plantagées, exploragio eco- nomica. Mais signiticativos sio os progressos tecnoldgicos li gados & conquista do espaco, que tém conseqiiéncias di- Tetas para a natureza do prdprio homem. As viagens a0 espago — especialmente as viagens para além do sisie- ma solar — seriam de longa duragéo, utilizando-se quais- quer das técnicas previstas no momento. Os cientistas, por conseguinte, profetizam a possibilidade de colocarem 0s viajantes num estado de inconsciéncia de que, num dado momento, automaticamente se recobrariam,’ Uma alternativa ainda mais significativa seriam as missdes, fem que os que chegassem & sua destinagao seriam os descendentes dos que houvessem partido da terra. Se isto ocorresse, 0 homem realmente teria deixado a terra, espathando a ‘sua semente no universo. Os que nasces- som e se criassem no espago seriam, num certo sentido, uma espéole diferente de homem. Talvez que nunca mais pudessem comunicar-se com a terra, mas 0 efeito da sua ida na consciéncia dos que ficaram seria, no obstante, imenso. ‘As dificuldades de operar sob as condigées fisicas do espaco interplanetsrio e de a elas se ajustar, assim como nos planetas estranhos, tém levado & especullagaio de que 08 astronautas do futuro seriam Cyborgs, ou sejam, ho- mens que teriam muitos drgaos artificiais e que, desta forma, estariam mais aptos & luta contra as ambiéncias rudes e novas, Um meio alternativo de exploracso, pelo menos para as distancias menores em que algumas co- municagdes fossem possiveis, seria o chamado homem- maquina, 0 que envolveria comunicagao direta entre o sistema nervoso humano ¢ o equipamento que receberia transmissdes de instrumentos colocados em vérios lugs- res no espaco. Os seres humanos jogados nesta opera- cdo controlariam a méquina exploradora e receberiam impressdes como se estivessem eles mesmos efetuando A Rewonugho Exrsranctt 18 fisicamente as exploragdes. O espago se tornaria, assim, parte do meio ambfente humano, uma vez que, ‘mesmo 08 que ndo se achassem num Telacionamento direto com os homens-méquina, seriam parte de uma cultura que to- maria conhecimento direto das visOes e dos sons das vas- tides do espaco. N&o 86 no espago, mas também na propria terra, 0 meio ambiente sofreré brevemente ampliagdes radicais. Os oceanos tornarse-o brevemente habitados pelo ho- mom, Nao existirio apenas para serem atravessados pelos viajantes, pelos pescadores, ou pelos navios de todo ‘0 mundo, ou explorados por alguns empreendedores sub- marinos ‘para fins cientificos, militares ou recreativo: tornarse-o tio domesticados como a prdpria superficie da terra, Em seguida, partiremos para o cultivo das Aguas, para a criagio e producSo de peixes e para a mi- neracdo do fundo do mar. A conguista de 70% da su- perficie da terra que se ache sob as 4guas significaré mu- danas para o homem, para a sociedade e para a natu- reza. Col6nias submarinas permanentes sero estabeleci- das: individuos e mesmo familias inteiras poderdo, even- tualmente, passar a maior parte das suas vidas ‘sob 0 mar. O prdprio homem teré de aprender como respirar sob ‘a 4gua por meio de uma alterago médica de seus pulmées ou através de outro meio. Se determinados eventos aqui previstos ocorrergo ou néo, isto ndo altera- rd a relagéo geral do homem com os oceanos que em breve mudaré. Do mesmo modo como muito breve nfo tomaremos mais a lua como objeto de romance, mas antes como um campo de minas ou de bases militares; nossos filhos, nas praias do oceano Pacifico, nfo olharéo mais uma vastidio de aguas a serem domadas, estenden- dose para além do horizonte — mas uma represa cheia de minss, de fazendas e até mesmo de subtirbios. Com ‘que se pareceré a vida econémica do homem? Alguns predizem que 2 corrida entre o progresso tecno- l6gico @ 0 crescimento da populagéo seré ganha pelo pro- gresso tecnoldgico. Qual a probabilidade disto, devemos Teservar seu julgamento para o futuro. Sem diivida, pa- rece haver uma crescente concordancia de opiniées entre 05 cientistas no sentido de que as novas armas cedo esto disponiveis para o combate & fomee & escassez. Mais surpreendente e mais importante ainda, esperase que até mesmo 0 sonho antigo de alterar e transmudar os me- tais basicos em metais preciosos seré plenamente reali- T 16 © Howes Tecwovéoree Ceusados pela auséncia de proteina; porquanto 0 proprio Betréleo provavelmente poderé ser obtido em quantida, Ges ilimitadas por processo quimico, Finalmente, © fo, mem terd condigdes de usar qualquer parte da superticis Ga terra ou do seu interior, para qusisquer objetives que quiser; ©, 80 utilizarse de determinados processos, bo. Gerd reutilizé-lo uma e mais vezes, indefinidamente’ As forcas naturais ainda obstam a que as atividades Produtivas do homem avancem, principalmente no cane. Po da agriculture. Isto, também, sera ultrapassado, Um Previsio absolutamente precisa ‘do tempo em todas ac partes da terra é esperada quase unanimemente, num tempo relativamente curto, e muitos analistas prevéem © Controle dos aspectos mais significativos do tempo no de. curso de uma geragio. O fator singular que mais distingue a civilizagho do futuro é substituicao do “trabalho” tradicional pelos Brocessos de “comunicagéo” como a atividade primordial do homem. Os futurdlogos gerelmente sustentam que a automagdo, de uma forma ou de outra, seré a base da nova civilizagéo. As méquinas de ensinar tomarseio padrao, e a informacio ser diretamente transmitida ao cétebro humano eletronicamente, O uso de oulras ma, guinas complexas daré assisténcia ao trabalho comum Go homem e as suas atividades de rotina. O climax deste Brocesso se daré quando a simbiose homem-maquina eo. inegar @ desempenhar seu papel na terra, possivelmente Pouco depois do ano 2000. © progresso da tecnologia ampliard extensamente os melos disponivels de o homem controlar outros homens, Novas armas bioldgicas ¢ novas drogas serdo utillzdveis A Ravowugio Exisrencian, 7 (om o fim de forcar ou de controlar os homens sem des frublos ou destruir sua propriedade, em grande parte através do efeito direto sobre sua vontade. A eletronice aumentaré grandemente os meios de observagio centra. lzada & disposicio dos grupos dominantes. O Impacto da Biologia melo ambiente do homem para o espago ou para os Ocsa. um futuro proximo, afetardo necessariamente a situagdo existencial do homem. Sempre buscou o saber, o bem. estar e © dominio sobre seus semelhantes. Antes, 6 a Zovolueo contemporanoa nas Cigncias Bioldgicas que anuncia 2 chegada do novo homem. A crescente com. Breensio dos processos que suportam a atividade biold. Gica tornaré também possivel submeter os processos or. génicos 20 controle humano. As drogas podem ser amc Plamente usadas no apenas como meio de controle so. Cial mas como melos aceitos de auto-realizacdo. A agho preventiva geral ¢ permanente da maioria. das doencas considerada cada vez mais possfvel. © tratamento fisico © uimico para as doengas mentais pode, em breve, ro. Quzir o Papel desempenhado pelo analista psicoldgico. Novas iécnicas estdo constantemente sendo desenvolvidas Para controlar a fertilidade humana. Novas descobertas vida humana em mais cingllenta anos. Jd é virtualmente corto que, agora, mesmo o cérebro pode ser revitallzado, Possibilitando assim a manutengio da meméria @ a om Pacidade de resolucio de problemas durante a idade senil. 8 © Hows Trexousai00 substituirem os drgos velhos ¢ cansados; 0 ano 2007 é tomado por alguns como a data para essa realizagio. Mas a0 bidlogo € dificil alterar a mente humana ¢ © seu corpo, depois de formados. i muito mais fécil “ajusté-los” antes que se formem. Progressos no proces: so genético tornarao possivel, no futuro préximo, prede- terminar no apenas 0 sexo, mas outras caracteristicas humanas. Este fato, juntamente com outras atividades advindas da pesquisa, ajudargo a superar varios defeitos genéticos © # tornar possivel a pais terem os filhos que desejarem. sociedade pode mesmo capacitarse a criar subtipos de homens, para varios objetivos e fungdes, da mesma maneira que agora produz e crla cles de caga e cavalos de corrida. Que significam todas essas descobertas no campo da Biologia e que significa esta crescente simbiose do ho- meme da maquina? © estudioso americano Herman Kahn arrola duas previses que, afirma ele, merecem séria consideragdo. Uma delas é 'o quase completo con- trole genético do homem, no qual, todavia, permanece @ espécie homem. A outra se refere ao fim do homem éomo homem e a criagéo de uma nova espécie, através a propria agio do homem. Se, como alguns predizem, © homem teré a aptidio de criat novas espécies de plan- tas ¢ de animais dirctamente do laboratério, antes que ‘através do proceso mais longo de cruzamento seletivo, festaria cle também apto a criar uma nova espécie a p: ir dos materiais genéticos humanos. Embora sejam in- cortos 08 detalhes, 0 homem logo entraré numa nova fase de existéncia na qual estard capacitado a controlar ‘consclentemente a sua prépria evolugio ulterior. Provavelmente nem todas estas coisas acontecerdo muilas delas ocorreréo em tempo mais tardio do que 0 que lhes foi previsto. Mas, a mais importante de todas essas previsées tornar-se-é tecnologicamente possivel den- tro dos proximos setenta ¢ sete anos — progressos nas vlagens espaciais, exploragdo dos oceanos, novas fontes de energia e novos recursos, uma substituigao cada vez mals acentuada do trabalho fisico pelas comunicagdes, lum grande aumento dos meios tecnolégicos de autocon- trole e, 0 que é mais importante, a capacidade de afetar o homem a sua propria composigéo biolégica e mental e fa de seus descendentes, Essas mudancas constituem, em Conjunto, uma revolugio existencial que coloca um novo desafio diante da humanidade. Se 0 homem pode fazer A Revorugho Bxisranuiat 0 e ser o que bem quiser, como escolheré seus caminhos? Quais serdo seus padrées de referéncia nessa opgio? No passado, a natureza e a ignordncia punham lmites & li- berdade humana e &s suas fantasias; agora, tais limites ndo precisam necessariamente existir, e 0 homem tecno- logico sera livre até para destruir a possibilidade da pré. pria liberdade, A Crise de Populagao Mas a verdade é que todos esses progressos cientificos ndo contam toda a histdria. Pois, embora o homem te- nha ampliado seu poderio sobre 'o universo e sobre si mesmo, através da ciéncia e da tecnologia, uma outra forga tem estado em atuacio e que, sozinha, teria condu- ido a civilizagéo moderna & beira'da revolucao existen- cial — 0 répido crescimento da populagéo. Eis aqui um fato em que um aumento em quantidade resultou clara- mente numa mudanga em qualidade; o aumento da po- pulagéo tem significado que 0 homem, embora adquirin- do um poder maior sobre.a natureza e sobre si mesmo, tem também em grande parte esmagado a natureza e se visto forgado a viver estreitamente em comunhio de con- tigitidade com os seus semelhantes. Esto absolutamen- te certos os cientistas que afirmam que a nova civiliza- Go teria sido impossivel 86 como resultado de progres- sos no campo das comunicagdes ou de outras tecnolo- gias. O aumento da interagéo humana é resultado tanto da densidade humana quanto dos melos técnicos para essa interacdo. (© aumento da populago humana, nos séculos recen- tes, tem sido o resultado de progresso tecnoldgico e a causa desse progresso, Novas fontes de riqueza torna- ram possivel a sustentago de um maior ntimero de pes- soas; novas téenfeas médicas tém impedido a morte de pessoas jovens. Ao mesmo tempo, as grandes densidades populacionais tém proporcionado os recursos necessérios a0 desenvolvimento econémico, politico e cientifico. O resultado tem sido uma mudanga radical no meio am- biente humano e um novo desafio & tecnologia e & sabe- doria humanas. E quase impossivel compreender a magnitude do problema demogréfico sem que se examinem, rapidamen- 80 © Homes Teexouscice te, suas origens. Avalia-se em 5 milhdes o mimero de seres humanos no momento da invencio de agricultura. A populagéo mundial aumentou para 200 milhdes, ao tempo do nascimento de Cristo. Por volta de 1650, havia 900 milhées, e por volta de 1800, mais ou menos 900 mi- ihdes. No comeco do século XX, 0 mimero de habitan- tes havia subido para I bilhdo e meio e, nos tiltimos se- tenta anos, fez mais do que dobrar, de modo que hd mais de 3 bilhdes e meio de seres humanos hoje em dia, Alguns prevéem uma populagéo mundial de 15 bilhGes, mais do que a populacdo atual acrescida quatro vezes, e isto no final deste século. O homem tecnolégico precisa descobrir algum modo de fazer com que a populagio mundial se estabilize — uma proeza de macigo controle racional social ‘sem paralelo em toda a histéria humana, As sociedades individuais levaram a morte, 0 nascimento @ as fontes de sustento a um equilfbrio por varias ma neiras, através do curso da histéria, mas nunca a huma- nidade como um todo tentou essa tarefa restritiva, ‘A crise da populagio nao serg resolvida pela am- pliagdo das fontes de recursos e que se tornam dispont- veis através do progresso tecnoldgico. Na verdade, 0 au- mento da populacéo pode reduzir o avango teonoldgico através da competicao pelas fontes de recursos. Mas um problema ainda maior é, simplesmente, do espago em que se deva viver. Segundo os indices atuais de aumen- to, haverd eventualmente lugar apenas para localizacao, © até a colonizagao planetéria nao oferece uma alterna: tiva satisfatoria. Tudo de que a humanidade precisa pode ser criado pela ciéncia — mas o espaco vital nfo pode ser criado. Apenas algum progresso inconcebivel — tal como a descoberta de uma nova dimensio espago-tempo — poderia fazer com que fosse possivel para os seres uranos produsir eriangas infinitamente, sem qualquer limite, Do mesmo modo, 6 certo que a espécie de civiliza- 40 capaz de suportar ntimeros maiores de homens por meio do progresso tecnoldgico necessariamente teria de ser uma civilizagio nova, uma civilizagdo baseada em tals coisas como num edleulo racional completo, na dis- ciplina social maxima e na reutilizagio dos recursos. Suas instituigdes e sua cultura seriam totalmente opos- tas Bs necessidades instintivas reprodutivas que levaram & crise da populago e também & maioria dos habitos histéricos e aos seus atributos. A crise da populagio j4 A Revouvgio Exisraxciat, 81 largou as suas bases para a revolugio existencial, 20 po- voar a terra numa extensio diante da qual 0 homem no mais pode deixar de usar dos seus novos poderes. Poder sobre o homem e a natureza, poder que tanto limita a liberdade humana quanto Ihe di um novo sen- tido, que coexiste com a densidade da interagao e da in- terdependéncia entre os homens, que embora limite a li- berdade, Ihe dé também nova significacdo. As revolugdes existenciais provocadas pela tecnologia e pela populagio, embora diferentes em suas origens e em sua historia, conduzem 20 mesmo climax, ao_nivel da espécie huma- na. Sob a superficie da civilizacio do século XX, 0 tro- pel pode ser ouvido claramente e a terra jé principia a Se movimentar. F = 2 a 2 - 6 AS MUDANCAS TECNOLOGICAS E A DEFASAGEM ECONGMICA © nomen # Um ANIMAL incapaz de esquecer. Ainda per- sistem os padres de comportamento que possibilitaram pequenas hordes de homens primitivos a sobreviver em vastas florestas. Esses padrées ameacam cada vez mais a sobrevivéncia humana. Mas, se o homem ¢ incapaz de esquecer, seré que é, também, incapaz de aprender? Nao poderd, pelo menos, utilizar-se dos seus conhecimentos para guiar suas motivagdes bésicas ou dominé-las? ‘A revolucdo existencial $4 esté alterando o lugar do homem no seio da Natureza. A resposta & pergunta se o hhomem tecnolégico é um mito ou uma realidade depende da extensfio em que a revolucéo existencial seja também expressa em relagio & sociedade humana e as idéias que © homem faz de si mesmo. Mesmo se nao compreender ‘© que Ihe est acontecendo, o passado e 0 homem do passado desapareceram para sempre. Mas que sucederd no pasado? Seré que a nova civilizacdo se apresentard somente como uma nova idade das trevas, em que a cupidez humana e os instintos animais possuirfo os meios, inconcebivels nas épocas anteriores, de praticarem (0 mal e os meios de autodestruicao? Os profetas sociolégicos, e também os profetas exis- tenciais, pensam que a sociedade contemporanea esté mudando radicalmente em resposta 25 alteragSes tecno- logicas. Sustentam que tais mudancas so evidentes nas instituicdes econdmicas, politieas e sociais e nos valores culturais que revelam ou apdiam essas instituigdes. Mui- tos desses profetas parecem também acreditar que tais AS MUDANCAS TEONOLGcICAS EA Derasaczm ECoNOMICA 88 mudangas so um sinal de esperanca. Num certo senti- do, 0 argumento de que as coisas esto mudando 6 obvia- mente verdadeiro; a tecnologia estd fadada a afetar ou. tros aspectos da ‘sociedade. Mas isso é completamente diferente de dizer que a tecnologia est fornecendo a base de uma sociedade totalmente nova, ou que passaré a ser © elemento de unificaco no selo da nova civilizagiio. Os efeitos das mudangas tecnoldgicas podem, em Jugar dis- 50, ser 0 deslocamento, a distincdo entre as idéias e a realidade, a confuséo ¢ uma sociedade desarticulada e desunida. O Mito de uma Economia em Mutagéo Que efeito, entio, esta a tecnologia produzindo sobre a sociedade?’ Em primeiro lugar, investiguemos os efeitos da tecnologia no campo da economia, As coisas mate- rials formam a base da vida humana; e através de toda a historia, a tecnologia tem colocado’as condigGes de li- mitac&o & civilizagéo — primeiramente, ao tornar possi- ves os progressos na agricultura e na producdo e, em séculos Tecentes, ao fornecer as bases para a industriali zagio e para o surgimento do homem burgués. A utili zagio de novas tecnologias é sempre cara e, por conse- guinte, a sua existéncia exige uma economia que posse suportar estas aplicagdes e que, em seguida, seré por elas mesmas afetada, Desta forma, quando os profetas sociolégicos falam de mudangas na natureza da nossa so- ciedade, falam em termos de surgimento de técnicos ou de administradores, e também em termos de decréscime dos operdrios da producdo. Falam da crescente impor- tancia da ciéncia para a economia e para o movimento que vai da producao de bens industriais as induistrias de servigos. Tals mudancas na estrutura bdsica da econo- znia séo tidas como condutores de mudangas subseqtien- tes no sistema de classes e, finalmente, de mudangas nos aspectos politico e cultural da .civilizacdo. O resultado serd uma civilizagio tecnolégica, em que a figura domi- nante seré a de um homem novo com uma nova base ‘econémica, com novos modos de vida e com novas ati- tudes — uma criatura a quem preferimos dar o nome de homem tecnolégico, Tudo isto estaria efetivamente ocorrendo? Esti a economia se alterando, como resultado de um desenvol- 84 0 Home Teewordo100 . As MUDANGAS TreNOLGcICAS & A DePAsaceat Econoanica 85 i As supostecolSete0, © esto essas mudancas conduzindo S estatisticas so a tinica fonte de i mes en udanGas sociais bésicas? A resposta eres lagio As suposigées acerca das muda, t mesmo tempo sim © nfo. Mu significativas estio micas e Sociais. Mas as estatis & nada, hmas néo tém sido tio amplas como se peony tes diferentes, especialmente as Mais imeerent®, 3° continuem assim indefinidareee ‘sticas, néo revelam necessariamente * sts mioag Ubortante a assinalar é que as midanmee ee Tostem ndo ter as conseqliéncias socials ¢ culersy imples autenticidade e rigor na esta- que delas foram profe . Um répido inventario do Icancar. Em 1960, por exem. Recesedeio’ seatente no momento, por consegulrite, ¢ stados Unidos deixou_de re i. Romana, Se Hvermos de descobrir am que eters € ividuos — muitos deles per. fRonomico da civilizagéo. Esta providéncia “sos dard, também, alguns indicios ¢ algumas chaves Telativamente f tea tquants Scontecendo ao homem moderio, tanto woe | loa quanto culturalmente. ment QSsem eonsideradas, Os problemas: ue envolvem } woe Le peo Presente capitulo © nos capitulos subse. serwpretacio so ainda maiores, As estatitss podem | ientes tremos tratar, exceto quando explicadd de weey Fem sorpeacnantes, se as classificagdes utilizadas Deeg } forma, das condiodes’e das tendéncias Observadas nos fem cuidadosamente selecionadas. Por exemplo, como se | Unidos, nesse plano. Presumese, até certo por foderd usar a classiticagao de “autonomos® que inclut | to, que essas condigées ¢ tendéncias nao Sdo devidas as tanto o proprietario de uma loja ‘Pequena como um ho- i Reoartidades nacionais, mas ao tato de ques an °° precisatn eee Ccios mullionsrio? Dado ‘que as estatietiny | Guiza {ito dos Estados Unidos um modelo de sons, Fidoses, got Anterpretadas, devem ser tomadas vans Sresuaiig,€ do smericano o modelo para o homers roe Nidosas, menos que a sua feigdo cba dispense uma | Grosumesse que o que se esta passando em monne partes reinterpretagio, do mundo deveria chamarse antes “modernizagio” do Slerastan Tae6es rineipais dos profetas dever ser Rento nmericanizagio”. Presumese também que fines Tucan enatlas em relacdo com esta consideracic ae revo tal comiet? © mundo seguiré o modelo do homien wt Tueko socioldgica, = amplamente afirmane que os ame. tal como se apresentou nos Estados Unidos. Ficanos esto passando da produgio de tong industriais { sates Suposig6es, deve-se reconhecer, podem ser de- estiise ammesitias de servicos, que o papel dos tenia Slonas, Por iaimeras razdes, que mais tarde serie moe esté-se ampliando, que 0 conhecimente tedrico, mais do ciontidas, quando examinarmos 0 futuro sisteme sot, Gledade ¢ nUPIOS dos neyscios, esté dando o fom So Glonal. ‘Para os nossos objetivos immediate a suficiente Giedade 'e ‘que a ciéneia tem tim papel seis £22 maior dmaginar que, apés 0 fato de que um esto mimero de com ‘este tang, Gustriais © administrativos. Em commie | capan ag ‘gba Maudado as suas caracteristions 6 aren seja Fla acrenitat©; M88 no como sua consegiiéncla sorte Fanko, go Cor naseimento a outras criaturas que ee Sete Gan tcredita-se que a estrutura de classe come tornando, ee gnde, Mesmo modo, uma nova especie, sane, ter gg maior igualdade e mais aberta c quest téenicos so. | due fc independentemente de que atonte gestion de em mais alto-na escala menos rigida” de lace que dai ue tenha vindo continuard, ou no, oman Quiros profetas socioldsicos predizem suas Guiles que possamos compreender o curso da histo. tomacao substituird os operarios de’ todce na tips. e | a commamboranes, devemos reconhecer ‘gus nem ty lta dee, socledade de téenicos na sua hierarauly ae do courts acerca do futuro do homem é remit pak te Qberatios sera emprego na sua, hermes mais So ,cstupldes, da trustracao ou de simples igen. dos Sabra, stingindo, assim, um climax de mot ag em BO que egies Socials individuats, que divergem quacss Gireeto 20 terreno de uma sociedatie de leven iniciado dade estei# oeorrendo. © problema results da Guat? ii Bd uuito tempo, © trabalho que restasg” fuciado Gade do se interpretar’ a informagio forvecia pelos Ga sociedade tornarsed mais téenico e, Portanto, mais 86 © Homo Trexorscr00 dignificado, A automagéo, desta forma, é simplesmente um Passo a mais rumo a’ uma socledade mais riea em que a maioria dos problemas de escassez terd sido re. solvida e em que o problema capital serd o de como tt ligarse alguém do lazer que Ihe é oferecido, Algumas dessas asseredes stio falsas. Algumas séo verdadeiras, mas ilusdrias. Algumas, que do verdadel. Pas, no constituem mudancas fundamenteis, E, como resultado das condigdes em mutago da vida moderna (0 poder cada vez mais intenso disponivel pelo homem, através da ciéncia ¢ da ascensao, em tamanho e em con, eentragio, da populacio humans), isto significa o cres clmento de uma perigosa combinagéo, de um complexo le revolucio existencial com a auséncid de qualquer al. teragdo social significativa, O Mito da Elite Técnica Como interpretaremos a assercdo dos profetas sociolégi- 0s, de que a economia esté sendo dominada, cada vee mals, por um pequeno grupo de homens poderosos, ome fupacidades técnicas e cientiticas — uma elite tecnioe? Qicuilmero de pessoas classificadas como profissionnis c Wdenioas tem aumentado muito e rapidamente duroote os uitimnos trinta ou quarenta anos, de modo que esse ne. {noro, resentemente, constitui mais de 10% da’ fore folal masculina de trabalho. A isto devese scresceniar Alguma parcela — mas néo todos — de um mimoro once Ol menos igual de administradores, gerentes, funclond © poder que representam, ‘muitos deles nao se en’ ¢ontram ainda na escala hierérquica, no cume do quinto da populacéo, quanto a quantidade de dinheito que per tas altamente educados, muito bem pagos, deve ser se. tamente explicada. Mesmo em funcéo da amplitude om que tais técnicos existam e tenham um importante de- Sempenho, seus padrées no predominam. Sua posicao ®eondmica 6 controlada pelo dominio continuado os As MupaNgAs TrcNowdcreas 2 A Durasdakat EconOatica 87 costumes @ das leis do homem burgués. Sous salérios sao tributados a um indice mais alto do que o sio os lucros advindos dos investimentos, nos negdcios ou nas relacdes de propriedade, que so as fontes principais de rendimentos das pessoas ricas. O meio de se tornar rico nio é 0 de ser pago pela execucdo de trabalho técnico, segundo os padrées burocréticos, mas sim através de ou: tros meios tais como:a propriedade da terra, das paten- tes ou das agdes e certificados de crédito. Como esta minoria técnica tornarsed dominante? Ao responder a esta pergunta, os profetas das alteragdes sociais podem argumentar que os mimeros nio sdo im. portantes. Como exemplo, a maioria dos membros da Sociedade industrial no era de homens de negécio e, nio obstante, os homens de negdcio ¢ os valores vinculados aos negdcios é que dirigiam o processo da industrializa. géo. O homem ‘burgués era minoria, mas uma minoria dominante. H, podem argumentar na nova sociedade os valdres técnicos e 0 homem técnico serio dominantes, Hd alguma prova de que isto esteja ocorrendo? Quando afirmam que as decisdes pertinentes & economia terfio um “cardter cada vez mais técnico”, aparentemente querem dizer que alguns padroes objetivos, sujeitos a verificago cientifica, sero a base para a distribuigso dos recursos. Parece querer também dizer que a racionali Gade técnica ndo determinard simplesmente os meios usados para se atingir os objetivos determinados, mas gue as préprias consideracbes técnicas fornecerao’ esses objetivos de acdo. Mas pode acontecer que os valores Prioritarios do publico nao possam ser combinados numa Unica estrutura de prioridades, que a mestria cada vez mais profunda de capacidade técnica vinculada A politi. ca para o ptiblico conduziré a uma luta politica maior, em vez de a uma luta politica atenuada, que o plane. jemento estimularé, em lugar de reduzir a controversia, Desta forma, pode’ acontecer que, no futuro, 0 politico continue a dominar 0 técnico. © que os Estados Unidos produzem ou comunicam € determinado pelo que o mercado é capaz de accitar; € 0 resultado da procura popular, influenciada pela pro- paganda de venda e dos gastos do governo determinados Pela politica, Considerages altamente técnicas afotam estes assuntos, assim como a. politica financeira, por exemplo, mas a incapacidade dos “entendidos”, 0s eco- nomistas, e os funcionérios piiblicos em concordarcm em 33 © Homem TeeNoxsarco fais questées 6 bastante conhecida. Desta forma, as di fguldades com as moedas estrangeiras por parte dos Es. Sotes Waidos poderiam ser minoradas por’ umimposto fica, em que nenhuma carga de considerag6es tdor cas pode ir além de uma definicio técnica do problema. 4. Politica econémica do governo demonstra, ainda, a ca Pacidade politica do setor de negdcios © do trabalho Gar Sumentar 0s pregos e em combinar as forcas para pro Pe onde, entéo, advém.a suposicio amplamente ge neralizada de que a economia americana se torna cata se ¢ que esta existe, de um modo ou de outro. ‘Mas, qual a tipicidade da indtistria “defesa ueroespa- Sere economia americana? Até que ponto essa tipel dade determina as caracteristicas do futuro? Os core, Imistas podem argumentar acerca do gra em que ¢ ono. As Mupangas TecNotdctcas 5 A Derasacey EoowOuetca 89 Gis © da tecnologia, no que concerme & defesa © suas in Gustrias, nfo revolucionara ainda a economia american Para comecar, a propria existéncia dessas inciting inal geve a sua existéncia, como resultado, ao pensation: {o (estritamente cientifico.’ Muitos cientistas témse men, TRentos acentua, ainda, mais, a extens&o em que uma oe. [putura de poder nio-téonico, antes que uma elite toons, jofioa, dirige @ economia americana. Sugere, também > Ge Ge que as industrias de defesa-seroespaco poder gue conduzem a um beneticio direto em consonancig ness Samgmomia americana de modo geral. Na verdade, say gxiste uma indicagio qualquer de que os ‘metodes ic sGiministractio desenvolvidos por essas atividades possars Ser aplicados a outros aspectos da economia ous sant ‘mmulado uma resisténcia cada vez maior ao poder da en Presa defesa-aeroespago. O Vietnd destruiy muitas das Giberangas de que o comportamento humano pudesse ser Previsto © racionalizado; fez, além disso, muitos dos jo. o°Us Se tomarem contra a classe técnica, sues hipstesce e sistema de vida. Assim, @ despeito da grande atencéo dada a progra macio defesa-aeroespaco, a maioria da industria aimed, gana continua a funcionar segundo os seus métodos ha. Dituais. Os homens de negécios e os clientes decidom » Que Ser produzido e em que quantidades. O burgues ainda esta firme no leme do barco. 20 0 Homzat Tecxoudeico Automagéo, Desemprego e Riqueza Alguns profetas afirmam que a economia esté passando a0 dominio de uma elite técnica porque acreditam que os aspectos de rotina da produgdo industrial esto sendo gradativamente manipulados pela automagéo. O nivel das habilidades © o status dos operdrios ainda em atuacio, argumentam esses profetas, significario que tais oper tls sero considerados antes como técnteos do que ope: ririos no sentido tradicional. Todavia, ha pouca prova Para apolar essa atirmagéo de que o3'niveis de compe- téncia técnica estéo subindo e de que estamos passando da era de producio em massa’ com o trabalho nfo-quali- ficado ou semiqualificado para uma era em que o tra- ‘Dalho técnico especializado predomina no campo da for- ca de trebalho. Em primeiro lugar, 6 necessério reconhecer que o trabalho qualificado nunca foi inteframente substituido pelo operdrio semiqualificado, mesmo durante a primei- Ta revolucéo industrial, e que muitas espécies de compe. téncias hoje em dia séo virtualmente idénticas as desen- volvidas no passado préindustrial. Além disso, novas oportunidades esto sendo criades para a utilizagéo do trabalho semiqualificado. Muftas indistrias — processa mento de alimentos, indiistrias da construcio civil e do servigos, por exemplo — esto oferecendo uma vasta ereseente fonte de empregos aos que se apresentam com poucas qualificacdes técnicas. Desta forma, o trabalho nfo-qualificado e o serniqua lificado tém um’ grande papel a desempenhar na econo mia americana, papel que provavelmente continuard a ser desempenhado. Os profetas das mudancas alegam que isto deve ser um fenémeno tempordrio, que a auto- macio provocaré 0 desemprego em massa dos operrios, a0 mesmo tempo que fard subir o nivel das capacidades ‘écnicas dos que continuarem nos seus empregos. Por conseguinte, argumentam esses profetas, precisamos con. siderar seriamente 0 fato de fornecermos apoio econd- mico ao individuo ndo-aproveitével no seu emprego. Mas, parece haver pouoos indicios comprobatérios a apontar para 0 fato de que tais profecias sio corretas e auténti- eas e que nos, dentro em breve, haveremos de ter uma combinacSo de riqueza, de desemprego e de dominio por uma elite técnica, As MUDANGAS TecNoLGcicas = 4 Devasackm Bconoxtca 91 As estatfsticas do emprego nao indicam nenhum de- semprego em massa, causado pela generalizacéo da au. tomagao. Obviamente, essas estatisticas podem ser in corretas, uma vez que sd os que procuram trabalho so registrados como desempregados; e & possivel que os grupos da populagio nao levados em conta pelo recen. seamento de 1960 incluam muitos americanos que deixa- ram 0 mercado de emprego porque lhes faltavacn as ca. pacidades técnicas necessarias ou porque perderam.a es. eranga, Mas, a maioria dos desempregados nao compu. tados provavelmente nunca fez parte da forca ativa de trabalho; assim, nfo é uma consideraco significativa. Se a automacao esté provocando o desemprego, isto néo se tora evidente nos registros estatisticos, que mostram os padrées de desemprego relacionados primordialmente a niveis de atividade econémica em geral. As estatisticas do emprego, incluindo-se as que se referem & Europa Ocidental, nfo acusam qualquer desemprego em massa resultante de uma mudanea tecnoldgica. Além disso, muitas indtistrias americanas nunca poderao ser eficien: te ou economicamente automatizadas. O simples custo Jd seria provavelmente proibitivo, Assim como o desemprego em massa, o lazer tam- bém pode ser um mito. = provavel que atualmente te- nhamos mais lazer do que em qualquer outro periodo da historia humana. © lazer pertence, ainda, primordial mente, aos ricos. Horas de trabalho mais ‘curtas signi. ficariam um aumento limitado no tempo livre para os trabalhadores diretamente afetados pela medida, se nio utilizarem este tempo livre em outro emprego, o que muitos tém feito. Todas essas consideragSes indicam uma evidente in- consisténcia nos pontos de vista de muitas pessoas com relagio ao futuro. Supdem que, juntamente com um att- mento nas classes cientificas @ “profissionais — 0 que estd ocorrendo, mas nao bastante mipido para satisfazer @ prooura em algumas dreas — haverd um aumento nos operirios de servicos. Nao ha dtivida de que o mimero de operdrios de servicos esteja aumentando e que a pro- porgio de operdrios vinculados primordialmente ao cam- Po da produg&o de bens esteja decrescendo, mas este fato produz algumas conseqtiéncias estranhas. A produ- tividade nas industrias de servigos nio pode aumentar tao rapidamente como a das induistrias de bens de con- sumo; desta forma, quanto mais dominarem a economia 92. 0 Hows Teeworsarc0 © aumento mommico da acdo se registra mendes © aumento da riqueza, ~ ives QNg lf TSPelto & produtividade e”aos eustos com wes, S baslco para 3 visio de uma eotiene rica, hada ‘de oes 8 Stertsenicos e uma elasse apes dencla Tscionado com o problema de recuse evi fea, Patece indicar que a. produtividade os produgao fg bens esteja aumentando. Os reais ndo estio tam. bém desaparecendo, mas estas efetivamente tornando-se Dare. Qaratos como resultado de melos mais eticientes Grog tetas. Desta forma, a lel do decréccme de Iu doe que, eenetalizagio econémica do sacle XIX, segun- 0 @ qual, quando os métodos de producio permanecem inalterados, a capacidade da Produgio de cada unidade Sueossiva de fontes de capital dimming eventualmente sontiio Patece seja mais valida, "Mac nenhuma dessas Ae,ComPensacdo, isto 6, dos custos one Ocorrem 80 tor- Pat-se Dossivel 2 produgdo de bene, Suponhamos, como Edel sugerido, que o preco de uma lotro cerveja seja Taig tentemente aumentado a fim de iene custo da ia vatia que 6 jogada fora. Dobraesetr rego? Quem Geverd pagar pelo custelo extras fabricante, 0 com. Fen pe Cidaddos em geral? Mas © prone de saber tuum Pagard @ cobertura dos custos Se compensagio é nomigueStao Politica, uma das mais impor ene na eco. Romia moderna. Do’ ponto de vista econdmico, nao im. ab torienista mais agressiva do governo pocont mobili- aeOd0s Os recursos disponiveis, de nod, que todos os fustos para a produco de bens, paras oferecimento do Demestar © de servicos ¢ os que’ dudes manter um. tice parece, MBS, NO momento presente, uma tel eee Utica parece altamente improvavel, ‘guns paises com amplos programas de bemestar se tG0s pelo governo, como a GraBretanha, tem este Prarie, piUear de aumentar, os heneficios que tals ea sores Proporcionam, Em outros paises da Euscne ny soe ranneoCialistas tém sido desautorizados, Nos wets fag Unidos, os. programas de bemestar para os pone $80 dos miicteos de deciséo na indtistrin éo Tesultado do Sato do que @ competicso, a diferencianso an produto @ Korgullientes alteragées de modelos tomarsaee fatores squisences fundamentals, de modo que os bani de gtuisicdo dos consumidores $50 cada ‘yer Seait instaveis §, ugume flexibilidade € necessaria a fia Te responder as Breferéncias do consumidor. ‘Embors 5 liberdade da 94 0 Homes Teowor6ci00 procura do consumidor, adquirindo firmas menores que manufaturam espécies ‘correlacionadas ou mesmo nio- correlacionadas de produtos. Essas vinculag6es empresariais so, cada vez mais, de natureza financeira, antes que de naturesa tecnolégi- ca. Se uma firma de condicionamento de carnes adquire uma divisio de aeroespaco ou se uma companhia de avia- gio se entrega a pesquisas sobre as relagdes racials, nio € sensato que os administradores da companhia mafor comecem a dizer a seus subordinados como devem fazer as coisas. Por isto mesmo, os tedricos da administracdo estilo certos quando descrevem o sistema moderno de controles como um processo circular, uma espécie de conferéncia continua de iguais antes que uma espécie hierdrquica de administragio, que pertence 20 passado; 4a especializagéo, a diversificagio do. produto e a necessi- dade de decisées imediatas alteraram radicalmente os velhos padrées gerenciais. ‘Mas 0 processo de descentralizagéo das formulag6es de decissio nfo é tio grande como poderia parecer. A tecnologia também tem um efelto centralizador na admi- nistragio. O telefone © outros novos métodos de comu- nicagdes tornam ‘possfvel a uma ‘administragéo manter controles niinuciosos sobre as operagdes subordinadas, @specialmente em assuntos orcamentdrios. A comunica: gio imediata tornada possivel pela tecnologia significa que os centros.tradicionais de controle, que as grandes Capltais politicas e financetras podem ser substituidas Por novas e que agora 6 possivel dirigir-se as atividades administrativas de qualquer lugar. Todavia, isto signifi. ca, também, que a autoridade pode ser centralizada mais efetivamente, onde quer que possa estar. © sonho de um mundo descentralizado, em que a disponibilidade e a utilizagio de energia elétrica ou at6- mica flexivel e barata e as comunicagées imediatas des. truiriam o dominio das grandes cidades tanto dentro das hag6es e no mundo todo, continua a ser um sonho. No. vos e menores centros de tomada de decisdes existem agora a fim de suplementar as cidades centrais ou com- petirem com cidades as mais antigas, © muitos desses novos centros dio relevo as atividades tecnoldgicas e in. telectuais. Mas, embora haja mais centros de tomada de decisdes sociais, o fendmeno da centralizacéo nao estd diminuindo. Cada atividade no seio da sociedade esta AS MUDANGAS TreNOLGctcAs F A DBPASAGEAT Econdwtca 95 dominada por poucos centros em que as decisées sio fomadas, ainda que tais nucleos se coloquem, hoje, fora da drea das grandes cidades. O Mito de uma Sociedade sem Classes © exame dos processos de producio da nova socieda- de leva inevitavelmente & consideracéo do sistema de classes do mundo contemporaneo. Hé uma afirmagao de que como resultado das mudangas tecnoldgicas o tr: balho rotineiro est sendo cada vez mais executado pelas maéquinas, fazendo surgir uma nova classe dominante de técnicos ¢ elevando o nivel da populacéo em geral. Esta siirmagio pode ser comprovada ao nivel dos rendimen- tos, da interagio social e, ainda, pelo exame dos proces- 808 fisicos da produgdo. ‘Vista deste modo, a suposicao de" que estamos entrando numa era radicalmente nova Parece excessivamente apressada, As desigualdades de rendimentos, pela sua distribuicéo, nos Estados Unidos no mundo ocidental em geral, nao tam sido afetadas Por quaisquer mudangas tecnoldgicas ocorridas em mea: dos do século XX e continuam a ndo ser afetadas. O sis. tema de classes da era industrial permanece dominante. © fato fundamental é que as consideragées legais e poli. ticas tornam certo que a elite técnica permanece em pla. no secundario em relag&o a elite dos negécios. A manet- ra de alguém tornarse rico é ser investidor de dinheiro ou especulador, e no cientista, porquanto os saldrios e 0s pagamentos so taxados mais pesadamente, mais rigi- damente e mais regularmente do que os lucros advindos dos investimentos e das rendas. A idéia de que uma re- volugio nos rendimentos, na direeo da igualdade, esta ocorrendo é simplesmente um mito. Nos Estados Unidos, 20% do topo da populagdio ame- ricana recebem 46% dos rendimentos, enquanto que os 20% inferiores recebem apenas 4,6% dos rendimentos, Nenhuma das alteracées havidas ‘no sistema tributdrio Provocou qualquer diferenca basica na distribuicdo da Tenda nos Estados Unidos. Na Gra-Bretanha, na Franca @ na Alemanha ¢ nas outras nagOes industrializadas do Ocidente, a estrutura de classes 6 idéntica & que se obser- va nos Estados Unidos. As diferencas de renda sio ainda maiores, € os titulos de propriedade se concentram na 96 © Hours TeeNousa1c0 classe superior. Até mesmo na Unilio Soviética, em que @ propriedade legal da industria pertence ao Estado ou & outros organismos sociais, séo comuns grandes dife. rengas de renda. Parece também possivel que a maioria das fontes de informacio fatual subestimam as diferen- gas de renda e, portanto, as diferengas da posicéo das classes: parte da renda e vantagens das classes superio. Tes nunca aparece como rendimento liquido, e os milhdes inaproveitados pelo. recenseamento sio provavelmente em sua maioria muito pobres. Além disso, algumas fa- milias tém rendas relativamente altas sé porque mais de um de seus membros trabalha. Daf se conclui que a ren da da familia no 6 necessariamente um indicador verda- deiro do status de classe. © sistema de classes, como definido pelas diferencas de renda e seus niveis, néo desaparece nem quando con- sideramos 0 efeito da ‘tributagéo nem quando considera- mos o fornecimento dos servigos de bem-estar. Parece que o sistema tributdrio 6 nfo s6 uma carga proporcio- nalmente maior para os grupos de rendimentos mais baixos, mas ainda que tais grupos recebem também uma menor distribuigio de beneficios sustentados pela tribu. tagéd. Os pobres podem receber uma ajuda financeira direta ou utilizarse dos hospitais mais freqtientemente do que a classe média ou a classe mais alta, mas suas escolam empregam os professores mais pobres e a pior assisténcia de conservacio; os pobres utilzam-se das grandes estradas de rodagem e dos aeroportos em gratt menor © pouco se beneficiam, se tanto, das ajudas clan. Géstinas ou abertas que o governo faz & industria, A automacdo tem aparentemente feito pouco para redusir a natureza entediante e fatigante do trabalho. Onde existem as linhas de montagem, 6 ainda mais de. sinteressante e cansativo. O mito do trabalhador feliz 6 ainda simples mito. Onde quer que os velhos e rigidos brocessos centralizados tenham sido automatizados, com méguinas realizando os trabalhos de rotina, as condicoes Ge trabalho, especialmente as psicoldgicas, ‘nfio melhora- ram. Essa evidéncia tal como existe indica que os que cuidam. das‘ méquinas, examinando-lhes os componentes mantendo-es em bom funcionamento, sio com toda a certeza individuos que se sentem sozinhos, entediados e alicnados, freqtientemente sentiudo que sio meros servi. dores da mdquina ¢ nao seus mestres, A prova mostra que 0 que é verdadetro nos Hstados Unidos 6 verdadeiro As MUDANGAS TecNowcrcas B A Darasaceat Eoondseica 97 para toda a sociedade ocidental. Membros das classes mals baixas sentem que, independentemente de seus ren- dimentos e de seus hébiios de consumo, sio membros de uma classe diferente da dos administradores, Como resultado das miltipias e complicadas ques- t6es acerca da estrutura de classes nos Estados Unidos, 6 se pode estar certo de que embora os padrées de vida estejam subindo, as diferencas de classe continuam a ser importentes. As mudancas tecnoldgicas nao eliminaram ou mesmo revolucionaram 08 padrOes basicos das classes configurados pela sociedade industrial. ‘Mas, ainda que as classes econdmicas persistam, nao 6 verdade que o caniter da classe superior esta mudan- do? No estamos entrando numa nova sociedade buro- cratizada, dirigida pelos técnicos? O homem da organi- zagio — o homem que segue os padrées burocréticos ¢ prefere as normas as iniciativas, e 0 poder burocrético © o prestigio & riqueza — é um elemento importante em empresas de servigos monopolisticas tais como as estra- das de ferro, a companhia telefonica e as companhias de seguros. Mas a evidéncia mostra que nos Estados Uni- dos o homem da organizacao estd em minoria entre os que fazem parte das administragdes. O homem de admi- nistragdo médio americano é quase que amargamente competitivo. Luta por oportunidade, a fim de exibir suas qualiticagdes especiais — a fim de ganhar poder, prest{- gio e dinheiro. O que é verdadeiro para as nagées capitalistas tam- ‘bém parcialmente verdadeiro para as chamadas nagdes socialistas e comunistas, pelo menos para as nagdes que tenham uma estruturacéo ocidental. As diferengas exis tem, como existem entre as estruturas de negécios e os costumes do Japio e dos Estados Unidos, mas os aspec- tos essenciais sio em grande parte os mesmos. Na Unio Soviética e na Europa comunista ha diferengas de classe, tanto nas atitudes quanto na percepoao de rendas, entre © trabalhador comum e a nova classe de burocratas. Esses novos burocratas sio cada vez mais abertamente competitivos entre si, procurando rendimentos maiores tanto quanto o permita seu sistema — e mais motivados por consideragées econdmicas do que por consideragées tecnoldgicas. Seu conceito de eficiéncia é o do homem, burgués: produzir tanto quanto poss{vel, tf0 barato quan- to possfvel, contanto que o consumidor pague por isto. 98 0 Homes Trexotsai00 A Distribuigéo da Populacdo e 0 Mito dos Subticbios O crescimento da populace e.0 aumento consegliente da urbanizagéo — processo pelo qual ume sociedade passa da vida rural para a vida urvana — produtos da Revolt gao Industrial, continuam. © indice de crescimento da Populagdo mundial é dificil de ser determinado e as es. limativas variam muito, Mas as cifras mundiais no nos dizem respeito, porque séo, em grande medida, indfeacio de altos indices de crescimento das nagSes ndo-industria. lizadas. © que nos interessa ¢ saber se os padrdes de crescimento da populagsio na sociedade industrial, ou a Sua distribuieio, irdo ou nfo ser diferentes, nos ‘paises avangados, dos padrées da era burguesa, No momento presente, nflo hd nenhum indicio de alteracéo. Tem havido ultimamente uma tendéncia de diminut slo do indice de natalidade em alguns paises até um onto em que o crescimento répido da fase inieial da era industrial no pode mais ser tomado como padrio, mas até onde isto pode chegar € coisa ainda duvidosa, © © crescimento absoluto das populagSes continua na maioria dos paises. As decises quanto ao tamanho de uma familia séo feitas ainda mais em base individual do que social. A questo central, para a maioria das pes. Sons, no é a de saber quantos filhos a sociedade em quo vivem pode suportar adequadamente, como um todo, mas uma outra, a de quantos filhos posso eu, como in’ dividuo, sustentar? Novos progressos tecnoldgicos tiveram um efeito mais direto na distribuicéo do que na quantidade da po. pulagdo na superficie da terra, Os recursos mais moder. hos de poder permitiram uma maior descentralizacao da industria, e um transporte mais rapido e de maiores fa- cilidades ‘permitiu a0 trabalhador uma maior mobilida. de, Uma vez que a maioria dos americanos prefere a vida rural & cidade ¢ procura fazer de suas cidades tanto quanto possivel pequenas cidades, o resultado tem sido um decréscimo no dominio da cidade central nas éreas urbanizadas. ‘Mas 0 resultado néo tem sido a suburbanizaco da nacio, como alegado por alguns. A viso de um Estados Unidos em que as vides individuais tipicas numa rea que tem caracteristicas comumente conhecidas como su- SsrcaTaTETTTTEII EEE TE CaTCaPTEPTETTETTETECTECEPeEPTOPTETTETTETTECTECET CE TaPTET ET RECT ECET CE TOTTET aT TET ECETeEEerRaT TET TT ‘As MUDANGAS TecNoLGatcas A DEFASAGEN Econdaica 99 burbanas — ocasionando uma longa viagem para o tra. balho, uma casa prépria com jardim e talvez uma pisci na de recreagso — é uma visio essencialmente mitica, Também € a crenga numa mesmice econémica, cultural e politica que freqiientemente se associa a esta outra viséo. Certamente, as cidades centrais so cada vez me- nos significativas ou até mesmo necessérias na vida ame. ricana. A restauracio das formas de cidade que existiam durante a primeira revolucdo industrial é uma idéia tio romAntica quanto a de restaurar as vilas da era feudal, uma vez que a sociedade moderna nfo admite que tais espécies de cidades tenham a sua utilidade, © novo padrao suburbano no séo os subtirbios da Ienda, mas sim a megaldpole — a extensa voncentracéo de grandes populagdes numa drea urbana continua, in- cluindo-se qualquer ntimero de cidades, Os chamados subirbios se parecem cada vez mais com as cidades-sa. télites, uma vez que séo localizagdes de indtistrias e de comércio, além de serem dreas residenciais. Diferem uns dos outros e, dentro de sua propria estrutura, diferem entre si quanto a nfveis de rendimentos, cultura e visio politica. © que est4 emergindo é um certo mimero de areas muito grandes, algumas delas estendendo-se ao longo de quilometros seguidos, dentro dos quais uma va- riedade de utilizagdes de terreno 6 inter-relacionada, se parados por freas de populagdes muito menos densas, em decréscimo comparativo. As megaldpoles teréo seus pontos centrais onde os Hderes das varias atividades — de governo, de comunicagées, das induistrias privadas — puderem congregarse. Poucos destes pontos de concen. trag&o, no entanto, haverfio de coincidir. As novas dreas urbanas mostrarao uma variedade de espécies diferentes de utilizacdo da terra e uma populacao relativamente alta, combinando os espacos vazios, altos edificios de aparta: mentos, industria, centros comerciais, habitagdes singu- lares, centros culturais, éreas de recreacio e até mesmo algum terreno dedicado a um tratamento de fazenda, um caos mantido coeso por uma variedade de meios de transporte. A area de Los Angeles na costa do Pacifico, nos Estados Unidos, hoje em dia fornece um simulacro do que seré 0 mundo ocidental de amanha. ‘Em suma, portanto, a nova tecnologia nAo afetou de maneira alguma quaisquer dos aspectos fundamentais do sistema industrial-capitalista. A ciéncia é utilizada cada vez mais como um instrumento, e as pessoas com treina- 100 © Howem ‘Teexovsa1es Manto cientifico constituem uma proporgio cada vex mais ampla da elite econémica. Mss 0 controlé“da pro- dugfo é ainda altamente centralizado. O sistema de clas. ses da sociedade industrial continua largamente inaltera- do, embora os padrées de vida estejam se elevando, A opulacdo continua a aumentar a base de decisdes indi viduais apoiadas na suposicéo de que o tamanho da po. pulagéo no € problema algum. O governo mostrase mais ativo no campo da economia exatamente quando a indiistria do conhecimento mostra-se com maior impor. ‘ancia, mas séo suplementos, antes que substitutos, da tradicional industria privada ‘produtiva. O que estd’ em processo de surgimento é uma multidio de interesses em competic&io, um sistema em gue todos procuram, sem uma direcdo geral, seus objetivos econdmicos privados ou burocréticos. O homem contemporineo é essencial mente burgués, de posse de novos instrumentos e do novos brinquedos, © Capitatismo Privado e a Revolugéo Existencial Quais serio as consegtiéncias, quando a revolugio exis- tencial produzir seus plenos efeitos numa economia ain: da motivada prineipalmente pelo lucro privado? A ex. Plorag&o do espago jé nos da algumas chaves. A moti- vagio primordial para a exploraco do espaco é militar, embora os seus objetivos mais amplos sejam definidos como de dimensio publica, como na guerra. Mas os meios para a sua consecugio sfo buscados nas agénciss privadas interessadas na obtengio de lucros. O resulta. do 6 um capitalismo em que nio hé nenhum risco, um capitalismo sustentado pelo Estado. A exploragio do es- ago @ as utilizagdes militares do espago nfo s60 ainda, em si mesmes, proveitosas em termos econémicos, mas quando produzirem itens secunddrios que possam ser ex: Plorados comercialmente, serao passadas A industria pri- vada; os satélites de comunicacio sio um exemplo. As esguisas bésicas sio pagas pelo contribuinte de impos. tos, enquanto quaisquer resultados de lucros vo para ‘0s bolsos dos acionistas. A base das realizagdes do passado, podemos esperar que a eventual exploracéo mineral dos planetas, se ocor- Ter, serd levada a efeito em termos dos interesses econd- AS MUDANGAS TECNOLOGICAS BA DerAscnat Bcowbutca 101 micos das empresas privacias, que operam com o apoio do govern para fim definido, segundo os interesses da seguranca nacional. O controle dos detalhes da politica de orientacao serd objeto de uma luta constante entre o financista € 0 burocrata; no caso de uma atividade simi. jar qualquer na Unio ‘Sovistica, os burocratas apenas serfio envolvidos, mas cada qual procuraré os interesses de sua propria repartigio de trabalho. Muitas decisdes, com as mais importantes conseqiiéncias socials, podem ser tomadas numa maneira quase que casual, em reacdo aos ditames da economia capitalista, Segundo 0 modelo do satélite de comunicagées, nio € inconcebivel que a indtistria privada possa assumir o controle da previsio do tempo e dos servigos de controle do clima, exatamente como poderé assumir o controle interplanetério nos transportes, quando estas viagens de. senvolverem seu potencial comercial. A industria aérea Jé goza de grandes ajudas governamentais sob a forma le ‘concessées para os custos de desenvolvimento, de aeroportos e de servigos ligados & previsio do tempo; or que nfo uma industria de viagens espaciais, baseada em pesquisas patrocinadas publicamente por decisOes oficiais € no fornecimento de facilidades de propriedade publica de langamento? O que é novo é o fato de que Poucos e grandes interesses privados, apoiados pelo £o- verno, sfio mais facilmente identificaveis do que muttos pequenos negéclos, fazendeiros, interesses comerciais e industriais, que no passado também eram subvenciona- dos. “Uma coisa é certa: enquanto o equipamento for produzido privadamente, os que o manufaturam conti- nuario a promover os seus produtos e pressionaro por maior atividade espacial. A conquista do espaco pelo ho- mem serd promovida pelos interesses particulares, exa- tamente como no caso da colonizagdo européia relativa- mente &s outras terras. Tdentica situacio estd surgindo na conguista dos ‘oceanos. Aqui, muito das pesquisas bisicas jd esta sen- do feito pela industria privada, especialmente no que diz Tespeito as mineragSes e & pesca. As firmas privadas tém pressionado 0 Governo dos Estados Unidos para que Ihes sejam forecidas as informagées secretas colhidas pelo setor militar, afirmando que a exploragio dos re- cursos dos oceanos pelos homens de negécio americans € a melhor garantia da seguranca nacional e do poderio submarino. A utilizaggo pelo homem dos oceanos acar- 102 0 Hoxtest Tecnousarce reta ainda maiores complicagdes intenacionals do_que as exploragées espaciais, mas a tendéncia atual é no’ser tido de se obter decisées quanto ao uso dos oceanos a serem tomadas em termos do lucro privado. Aqui, no- vamente, a incursio do homem nesse novo meio ambien. te nio estd baseada na significagSo existencial dessa in- curso, mas em fatores parciais e particulares. Ninguém fala pelo homem, relativamente a0 uso dos oceanos; exa. tamente como ninguém falaré em seu nome visando 20 uso do espago sideral. Como ja vimos, virtualmente, toda a ampliagio dos poderes do homem’ sobre a natureza e sobre si mesmo quase que com certeza sera feita em termos do que ¢ bom para alguns, nfo em termos do que é bom para todos. Os problemas que so basicamente cientificos e morais sero decididos em termos econdmicos. O uso das varias espécies diferentes de drogas tornar-sed mais difundido? A deciséo seré fortemente influenciada pelas Companhias que fabricam drogas através de pressoes exercidas no governo e através da propaganda publicité ria, O sistema da livre empresa americana é receptivo a esta espécie de atividade e nao mostra qualquer sinal de alteragéo. Se siio feitos, e em que medida sio feitos os compu- tadores, e como sergo utilizados — eis af uma outra de- cisiio de importancia vital para a sociedade, que continua @ estar sujeita apenas a controles privados. Desde o sur. gimento do industrialismo, as firmas privadas decidir quando ¢ em que lugar as novas cidades teriam de ser construfdas e as velhas abandonadas; agora, a existéncia continuada de certas ocupagées e talvez a utilidade eco. némica continuada de certas partes da porulagéo sio também objeto do controle privado. Talvez & mais surpreendente ruptura entre as velhas motivagdes e os centros de controle e as novas possibili- dades para a existéncia humane estejam na area da me dicina da genética, ou seja, no estudo dos processos biolégicos que transmitem e ‘determinam as caracteris- ticas humanas. A utilizacio do melhor cuidado médico tem sido sempre influenciada pelo sistema de classes. Quem sobreviveré? — tem sido sempre uma pergunta em parte decidida & base de consideragdes econdmicas. Os resultados dos novos avancos médieos de maior ca- libre serao em maior disponibilidade para os que tenham status de rendimento mais altos. AS MUDANGAS TeoNoLcicas #4 Durasacese EconOuica 108 Na drea da genética, o problema é mesmo dbvio. Se © superhomem puder ser produzido, de que sera filho? © proceso de encontrar defeitos genéticos é extrema- mente custoso; até que ponto e para os filhos de quem serio utilizades? Dado que estes e outros progressos si- milares tém sido postos & disposicao, em maior grau, das classes superiores, seré que os avangos da genética néo poderdo ser apenas mais um fator em fazer com que os ricos fiquem ainda mais ricos e os pobres mais. po- bres? Ainda mais, dado que as pesquisas modernas de genética introduzem a possibilidade de cruzamento espe- cializado, de homens com caracteristicas especiais para © desempenho de tarefas particulares, permitir-seé ao mercado econdmico ansioso de novas “capacidades” de- cidir os limites das alteragdes permissiveis — ou serd este assunto adjudicado exclusivamente a uma conscien- te deciséo social? Finalmente, no passado recente, o tamanho da popu- lsgao tem sido determinado no Ocidente por considera- ges privadas. Créditos de impostos, utilizagio dos pro. gramas de bemeestar disponiveis e até mesmo apoio fi- nanceiro para 0 controle da natalidade j4 comegaram a afetar a liberdade de planejamento do tamanho das fa milias. Quanto mais deverd fazer a sociedade, a fim de enfrentar 0 desafio existencial colocado pelo rapido ores ‘cimento da populacéo? Deverd regular o tamanho da fa- milia diretamente ou continuar a trabalhar por meio de medidas econdmicas destinadas indiretamente a determi- nar a escolha individual? Quaisquer que sejam os méto- dos adotados, parece possivel que alguns meios para que se torne o tamanho da populagéo receptivo a outras con- siderag6es que néo as de ordem privada possam ser in- troduzidos no futuro, desde que aqui, como acontece em outras dreas econémicas, os resultados das opedes pri- vadas afetam a sociedade no seu todo. Como reagiré 0 homem frente aos novos perigos © dificuldades provocados pela revolugdo existencial? Co- mo, no terreno prético, podem os novos poderes ser le- vados a um efetivo controle social? Pois o problema nio € um problema de se afastar, simplesmente, as decisbes acerea do uso do espago e dos oceanos, das drogas e dos computadores, e do conhecimento bioldgico das opera- gées aleatorias que se encontram no campo do mercado € nas fantasias dos interesses privados. Ha um impulso necessério para uma mudanca e crescimento, no método 104 0 Homes Teewoxéeice global e na estrutura institucional da civillzagéo indus- irlal. A expansdo 6 considerada boa porque traz Iueros a alguém; as cidades, por conseguinte, devem crescer e se tomar maiores, as inddstrias devem ser atraidas ¢ mais coisas devem ser produzidas e adquiridas. Esta no € apenas uma atitude do capitalismo privado. Os sis- temas socialistas esto sujeitos também a0 mesmo im- pulso. O Socialismo nada pode fazer para coibir a tecno- logia de alterar as condieées da vida humana para o pior, & medida que compartiihar desta atitude em relagio 2 mudanea e & expansio. © que est errado nao é 0 Capitalismo nem 0 Socia- lismo — no ¢ a ideologia ao nivel da pergunta trivial de quem é dono de qué. “Antes, 0 que estd errado séo as atitudes bésicas, O maximo que qualquer governo pode fazer é prover os instrumentos — 0 conhécimento legal ¢ administrativo e as técnicas — para lidar com a situa. Go numa base integrada. Hstdo esses instrumentos s do postos & disposicao? Jé vimos que, na area econdmi- ca, 0 homem tecnolégico ¢ em grande parte um mito. Mas © a politica? Talvez aqui os problemas de resistei cia social as mudancas nao sejam tao grandes, e um novo homem esteja emergindo delas e determinado a resolver os problemas que a revolucao existencial levantou. 7 A TECNOLOGIA E A REDESCOBERTA DA POLITICA A TwcNovociA TEM influenciado, grandemente, a vida po- itiea do homem, através de toda a ‘sua historia. Em parte, tal influéncia tem sido indireta: ao afetar a eco- nomia, a tecnologia afetou também a estrutura de classe, da sociedade e, desta forma, o sistema politico. A po- breza, proveniente da falta de tecnologia, tem levado hha- bitualmente ao desenvolvimento de sociedades oligdrqut: cas, em que umas poucas pessoas comandavam a massa do povo, No século XVIII, na Europa, a Revolugio In- dustrial forneceu a base para a democracia de massa ou, pelo,menos, para os sistemas politicos em que as massas participavam, ainda que, de tempo em tempo, como obje- to de propaganda ¢ de organizacéo politica. Os efeitos diretos da tecnologia sobre politica tém sido igualmen- te importantes. A tecnologia militar determinou quem poderia forcar a quem e a tecnologia das comunicagdes determinou quem poderia convencer a quem. As previ- sdes acerca do futuro do homem, por conseguinte, in- cluem necessariamente juizos relativos aos progressos atuais ou futuros tecnoldgicos ¢ aos seus provaveis efel- tos sobre as instituig6es politicas e sobre o comporta mento destas. A Previséo do Futuro Politico Alguns~profetas politicos acreditam que aquilo que con: sideram como as caracteristicas do presente continuara a i, aes tec Racin a ii rn ee ee a ee hel 106 © Hownse Teenoréaice ‘ao longo do tempo e tornarsed ainda mais intenso. Os que aceitam a proposicao relative & sociedade de massa argumentam que o industrialismo conduziu a uma perda de Iiberdade para o homem e 20 controle do seu com portamento cultural e politico por uma elite de capita- listas e de militaristas. Véem uma espécie de futuro em que a liberdade continuaré a diminuir até que venha a desaparecer, um futuro que diferiré do presente princi- palmente num grau em que as capacidades clentificas e técnicas sero os padres de agregagio como membro & elite dirigente. Finalmente, até mesmo essa elite serd en- cadeada pelos elos que construiram para a humanidade, ‘Tudo seré dominado pela tecnologia, que fabricara suas proprias leis. Este parece ser o ponto de vista do ssbio francés Jacques Ellul e de seus discfpulos. O desespero em rela- Go ao futuro politico ¢ um elemento basico na expres- séo do seu medio geral ao futuro. Ellul parece acreditar que a politica ¢ 0 papel do homem politico sero elimi- nados do mundo novo que vem surgindo. A tecnologia (que ele confusamente identifica com todas as “técnicas”, com todos os meios emprégados para chegarse a um fim) ela mesma proporé todos os objetivos socials e for- necerd ela mesma todas as respostas &s perguntas totais pertinentes & politica social. © tinico desempenho dei- xado ao politico seré o de usar das técnicas de organiza- do e de persuaséo a fim de obter a cooperacdo popular para os planos organizados pelos especialistas tecnoldgi- cos. O crescente papel da tecnologia entregard 0 governo a uma elite tecnolégica e eventualmente ao totalitarismo. Mas a estrutura politica e a teoria politica ficario subor- dinadas & técnica. ‘Muitos outros que fizeram previsies acerca do fu- turo politico comegam pela mesma formulagdo bisica da perda inevitSvel da iiberdade. A tecnologia significa pla- nejamento, eficiénela, centralizagéo e, pensa-se, como uma consegtiéncia natural de tudo isto, a perda da liber- dade individual a favor de uma burocracia impessoal. A propaganda faz com que o homem seja mais fécil de ser influenciado; as drogas e as armas tornam-no mais controlével. O homem ¢ destinado a ser governado por uma elite cientifica, Finalmente, predizem, a tecnologia faré a politica chegar a seu fim. Enquanto os profetas existenciais antecipam mudan- gas bésicas no relacionamento do homem com o seu pré- ______—_<$<$_ A TecNoloatA © 4 Reppscopmera pa Pouirica 107 prio ser e com 0 universo, os profetas socioldgicos preo- cupam-se principalmente com a vida tal como ela existe hoje em dia e tal como se desenvolver4 num futuro prd- ximo. A maioria dos profetas sociolégicos representa a Teagdo crescente contra a “sociedade de massa”, tal como descrita pela civilizagio industrial, e 6, por isso mesmo, mais otimista acerca do futuro, Seu argumento 6 de que os progressos tecnolégicos tais como a automagio podem ajudar a criar. uma, sociedade.com. maiores. indices de igualdade e com mais lazer. Ao mesmo tempo, as comu- nicagées modernas podem criar uma sociedade mais flexivel e mais democritica. Um proeminente adepto deste ponto de vista é 0 pensador canadense Marshall McLuhan. Parece que determinou, para a sua propria sa. tisfago, que o industrialismo esté-se transformando {4 nos nossos dias em algo novo e melhor. Embora nao in- teressado na politica em si mesma, argumenta que a ele trénica destroi a centralizagéo caracteristica da era in- dustrial em todos os terrenos. Em lugar de um poder mecénico como estrutura, baseado em hierarquias, a po- Kitica esté-se tornando atualmente um processo total em que os centros de poder estio por todos os lados e em luger_nenhum. Nem todos os profetas socioldgicos do futuro con- cordario completamente com McLuhan, mas tendem para o otimismo. As dificuldades, segundo eles, vém nao da rigidez, mas de uma maior flexibilidade. S40 um sinal de que uma sociedade de massa industrialmente funda mentada cessou de ser a ameaga maior & humanidade e que a idéia de dominio por uma elite cientifica € apenas um sonho mau. Tendem a compartilhar da crenga de que os criticos clissicos da burocracta, tals como Max Weber, estavam errados e que a flexibilidade e a diver- sificagio so partes até mesmo de organizagdes burocré- ticas centralizadas. Diferengas mais palpéveis, todavia, existem quanto & matéria da participagao do cidadio na politica. A maio- ria dos profetas sociolégicos aceitaria provavelmente a assergio de que a propria sociedade industrial é resul- tado de um longo proceso, em que a importéncia da po: ica, uma preocupacao central dos homens da velha Grécia e da antiga Roma, tem sido reduzida em relacdo @ economia, enquanto que os seres humanos tornaramse cada vez mais individualizados e isolados. N&o € 0 Es. tado, mas 0 individuo, nas nagdes demoordticas, 0 centro ee iia... 108 0 Howse TeewoLsarco da nossa preocupagio didria. Mas 0 pensador politico famericano Karl Deutsch espera que essa tendéncia ve- nha a ser alterada para o seu inverso. Prediz que, com maior lazer e melhor educacéo, as pessoas se envolverao mais ainda na politica. O sabfo’americano Herman Kahn, todavia, acredita no aparecimento de uma elite politica tecnicamente poderosa. Acha que os cidadios considera: Wo as decisées politicas como demasiadamente compli cadas e procuraréo, em vez disso, a vida individual plena € sem cuidados. Isso parece implicar que, com maior riqueza, as pessoas perdertio o interesse pelos conflitos politicos. socidlogo americano Daniel Bell e outros argumen- tam quo, independentemente do grau da participagéo do cidadio — um engajamento maior ou major falta de in- teresse — os assuntos politicos se tornario mais amar- 0s, porque Os efeitos dos objetivos escolhidos e os meios usados séo muito mais aparentes para as pessoas afeta- das. Bell sustenta que 0 planejamento leva ao conilito, em lugar de eliminélo. Por exemplo, quando podemos determinar quem e 0 que esté obstruindo nossos rios e como evité-lo, temos entio de decidir quem ind pagar para_conservar limpas as nossas sguas. Se Bell e pensadores idénticos a ele estiverem cer tos, entéo temos de esperar crescentes disputas relativa- mente aos valores de referéncia — com relagéo & natu- reza da prépria justiga — em lugar de uma tecnologiza- do da politica. ‘A televiso tem sido louvada ou vitupe- rada por tornar 0 estilo mats importante do que o con- ‘tetido © tornar a imagem do politico mais importante do que suas crengas © suas opini6es. Por estranho que pa- Tega, todavia, as imagens € 0. estilo talvez sejam aquilo com’ que estfio preocupados os politicos, dentro de uma sociedade tecnolégica. Os computadores resolverdo os problemas simples, deixando para os cidadios os proble- mas diffceis, 0s problemas bdsicos e os problemas pes- soais. O Mito de uma Sociedade Politica de Massa As previsdes acerca do futuro politico advém, em grande Parte, de crencas sobre como a politica contemporinea € afetada pela tecnologia. ©, portanto, importante com- A TwonotnctA 4 Reosscomera pa Porfmnca 109 preender a natureza do nosso sistema politico contempo- raneo para se poder enunciar quaisquer conclusdes so. bre seu futuro. Ao examinarmos a esfera econdmica, de terminamos que ela era ainda o capitalismo basicamente industrial, pouco sfetada pelas mudangas tecnoldgicas. Todavia, compreender a esfera politica e como estd sen. do afetada pela tecnologia é uma tarefa ainda mais com. plexa, porque existe uma séria discordéncia acerea dos efeitos da tecnologia sobre a politica contemporanes. Se @ teoria da sociedade de massa 6 vilida, entéo muitas das vérias previsdes deprimentes acerea do futuro seréo, provavelmente, verdadeiras. Mesmo se a teoria for false, podemos deparar com outras dificuldades, diticuldades Gue nao resultam do poder esmagador do governo sobre © individuo, mas antes de uma falta desse poder. A crenca na existéncia da sociedade de massa esté vazada em varios argumentos fracos. O conceito formu. lado pelos tedricos da sociedade de massa quanto # or dem politica baseiase na hipdtese central de que a clvi. lizacio industrial moderna destruiu os grupos meédios a sociedade, Os grupos que protegiam a elite de ser es. magada pelas massas ¢ as massas de serem controladas pela elite, Segundo esses tedricgs, o individu esta nu @ sozinho diante do macigo poder’ do Estado. Essa desorigio discoréa quase que completamente dos fatos. A tecnologia industrial e as atitudes de racio. nalidade ‘a elas associadas resultaram, na verdade, no fim de grande parte do status e dos privilégios baseados em fatores tradicionais como o prestigio da familia ou do clero. Mas esta mesma transformacao nio fol com: pleta. A Sociedade ainda respeita e confere status a mem: bros de familias tradicionais ou do clero. O que aconte. ceu € que as fontes mais antigas de stafus @ de privilé gios foram suplementadas por outras fontes, baseadas ‘a realizagio de sucesso e na fungéo social. Ao tempo da Revolugdo Francesa, em fins do século XVII, a sociedade francesa estava dividida em trés “es. tados” ou grupos sociais: a aristocracia, 0 clero e 0 povo. Desde 0 ultimo séoulo, a imprensa tem sido freqliente. mente adicionada a esta classificagio, que é referida como a um quarto estado. Mas, na sociedade moderna no ha quatro ou cinco estados, ias uma multidao deles # geralmente aceito na andlise social que 0 desenvolvi- mento tecnolégico leva, ou tem levado até 0 momento, & especializacao. As pessoas com as mesmas ocupagdes

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