BOM-PRA-NADA BOM-PARA-TUDO

Robert Filliou
O texto de Filliou foi publicado em seu livro Teaching and Learning as Performance
Art (Cologne and New York: Verlag Gebr. Koenig, 1970).

Eu crio porque eu sei o quanto. Eu sei o quanto bom para nada eu sou,
isto. Arte, como comunicao, o contato entre o bom-pra-nada em um e o
bom-pra-nada em outros. Arte, como criao, fcil no mesmo sentido em
que ser um deus fcil. Deus o nosso perfeito bom-pra-nada.
O mundo da criao sendo o mundo do bom-pra-nada, pertence a qualquer
um com criatividade, o que quer dizer, qualquer um que reivindica um dom
natural: o dom da bom-pra-nadidade. O mundo da criao, pois, tem de ser
no-especializado. A especializao pertence ao mundo do bom-pra-algumacoisa. Como possvel que o bom-pra-nada seja especializado? Ainda assim
algumas barreiras entre as artes permanecem. Teriam sido elas criadas em
um tempo em que os artistas pensavam que estavam fazendo algo til? O
que quer que fosse, as barreiras tem de cair.
Tanto as barreiras caram que para que sejamos perfeitamente to bonspra-nada quanto possvel precisamos constantemente renovar-nos, fazendo
de tudo, cada um de ns, sendo bons-em-tudo. Sabemos que um poema
pode ser uma escultura que pode ser uma composio musical que pode ser
uma pintura etc... Essa tendncia pode ser intensificada, deliberadamente e
sem apologia quele que, no obstante o quanto possam ser modernos,
ainda se vangloriam de ser Escultores, Pintores, Msicos, Poetas, dotados de
uma sensibilidade plstica, abenoados com uma Natureza potica, etc...
Todos podem ser artistas. Todos deveriam. Todos um dia sero to
especializados em trabalhos bons-para-alguma-coisa, o trabaho mais e mais
entregue s mquinas. Todo mundo j , de um jeito ou de outro. De
agora em diante, e para sempre, na Terra ou no espao, a arte o
domnio do bom-pra-nada-bom-em-tudo (Ou no haver arte, o que
tambm est bom pra mim, desde que eu me divirta).
O mundo do bom-pra-nada ilimitado, ou deveria ser. Est disposio
para ser tomado, feito, acariciado, batido, bebido comido, soprado, cagado,
chacoalhado e vai por a a fora, meus irmos.