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ic Gusmao west capitulo? M MECANISMOS DE DEFESA oO n Da. © exato inicio é realmente necessirio que 0 ego procure ‘cumprir sua tarefa, atuar como intermediério a servigo do principio de prazer entre seu id e o mundo exterior, proteger o id contra os perigos do mundo exterior. Se no decorrer desse esforco ele aprende a se colo- car em posigdo defensiva igualmente contra seu proprio id, ¢ a tratar as reivindicagées pulsionais deste como perigos exteriores, isso se produz, 20 menos em parte, porque ele compreende que a satisfacio pulsional conduziria a conflitos com 0 mundo exterior. © ego habitus-se enti, sob a influencia da educag3o, a deslocar o teatro do combate do exte- rior para o interior, a controlar o perigo interior, antes que venha a se tornar exterior, e-0 mais das vezes ele, sem diivida, tem razio por agir assim, Durante esse combate em duas frentes — mais tarde uma tercei- ra frente se somari a estas —, 0 ego recorre a diferentes procedimentos para atender & sua tarefa, em termos gerais evitar perigo, angiista, des- prazer. Chamamos esses procedimentos de ‘mecanismos de defesa” (Freud, 1937, p. 251). INTRODUGAO: OS CONCEITOS DE DEFESA E DE MECANISMOs' As nogées de defesa e de mecanismos de defesa impuseram-se a Freud desde o inicio de seus trabalhos psicanalitcos. Esses conceitos foram desde ‘entiolargamente vulgarizados,e mesmo materializados,e cobrem atualmente fenémenos heterogéneos que tém em comum o aspecto defensivo relativa- mente ao conflito psiquico quando perdura a referéncia 4 psicanélise. Reto- 1967), compreendemos que elas contém em seus termos numerosos questio- ‘namentos teéricos sempre atuais. A defesa seria um “conjunto de operacies cuja finalidade ¢ reduzir, suprimir toda modificagao suscetivel de por em perigo a integridade e a constancia do individuo biopsicolégico, Na medida ‘em que 0 ego se constitui como instancia que encarna essa constancia e pro- cura manté-la, ele pode ser descrito como a aposta ao jogo e o agente dessas }) O processo defensivo especifica-se em mecanismos de defesa mais ou menos integrados ao ego" (Laplanche e Pontalis, 1967, p. 108). Assim, a nogio de defesa é mais ampla que a de mecanismo, os mecanismos defensivos sendo definidos deste modo: “diferentes tipos de operagdes em_ que pode se especificar a defesa. Os mecanismos prevalentes sao diferentes segundo 0 tipo de afecgio encarado, segundo a etapa genética considera- da, segundo o grau de elaboragio do conflito defensivo ete. Concorda-se em dizer que os mecanismos de defesa so empregados pelo ego, a questo tes- rica permanecendo em aberto quanto a saber se seu emprego pressupde sempre a existéncia de um ego organizado que seja seu suporte” (Laplanche € Pontalis, p. 234). Freud num primeiro momento deduziu certos mecanis- ‘mos proprios a histeria e tentou mais tarde especificar certas entidades psicopatol6gicas em fungao das particularidades defensivas, o que se reen- contrara muito particularmente na neurose obsessiva e na paranoia. sivo foi estabelecido, Submetido a uma excitagao interna demasiado forte, 0 ego corre o risco de ser submergido e infiltrado pelos processos primérios. 1 Por Aline COHEN DE LARA: mestra de conferéncias em psicopatologia na Universidade Paris Descartes, psicdloga¢ psicanalsta ¢Jean-Yoes CHAGNON: mestre de conferéncias «em psicopatologia na Universidade Paris Descartes, psicélogo e psicanalista, 126 | Cemeciniamas da dafeea defesa normal, no que lhe diz respeito, tem lugar por ocasido da revives- cia de uma experiencia penosa. O ego nao é entdo confrontado pela pri- eira vex com uma experiéncia de desprazer, nao é submergido; a inten- 6, assim, minima. E, portanto, 0 carater macigo do mecanismo e no funcionalidade, o cariter uniforme da defesa, mas também a auséncia de 3a estruturada, que determinam a dimensio patol6gica. ‘De um ponto de vista historico, os termos “defesa” e “mecanismo” estio ites a0 longo de toda a obra de Freud. Mas € principalmente em 1926 ele julga necessirio restaurar 0 conceito de defesa em Inibicdo,sintoma e istia; ele ai ressalta em particular “o vinculo intimo entre formas parti- de defesa e das afeccées determinadas’ (Freud, citado por Laplanche Pontalis, 1967, p.235). Emite a hipdtese de que métodos de defesa diferentes ‘empregados em funcao dos estigios de organizacio do aparelho psiquico, especialmente antes da diferenciagao das instancias a separagao entre 0 eg0 © id © antes da formacio de um superego, isto é, antes do declinio do splexo de Eidipo. A abordagem classica freudiana da defesa e de seus meca- smos centra-se, portanto,na instincia egoica, mediante a expressio* mecanis- de defesa do ego", por exemplo, ¢ por isso nas mogdes pulsionais sus- iveis de acarretar desprazer ¢ devendo, portanto, ser combatidas. A defesa respeito, certamente, a excitagdo interna, a pulsio, as representagdes as ais esta ligada, bem como aos afetos, mas também a uma situacio capaz de cadear a excitacao, Se a defesa pode ser encarada como uma luta con- ra satisfac pulsional, nao pode se reduzir a isso, e outros desafios distintos jueles da pulsionalidade suscitam a defesa e seus mecanismos. © conceito de defesa vai se encontrar progressivamente ampliado a0 0s €, mais particularmente, os de Anna Freud ssua obra O ego ¢ as mecanismas de defesa publicada em 1936. Ela vai nesta cerever a variedade e a complexidade dos mecanismos defensivos, sem les claborar uma lista exaustiva ou sistemética. Mostra ai por meio de tiltiplos exemplos clinicos como a defesa pode usar diversas atividades tivo de protecao nao somente contra as forcas pulsionais, ido que pode suscitar o desenvolvimento da angiistia, logia kleiniana, que faz.remontar a formacio das -coces do desenvolvimento, completou conside- sImente a descrigao do arsenal defensivo, em particular mediante o estudo defesas qualificadas de primérias, mecanismos primitivos, proprios do ‘odo pré-edipiano, distintos dos mecanismos ditos neur6ticos do perio~ at (Os grandes conceitos da psi odo inconsciente como dominio separado do resto do psiquismo" (Laplanche ntalis 1967, p. 396). Dois sentidos sio geralmente distinguidos. Num sentido lato, 0 conceito de recalcamento aproxima-se do de [Nessa acepeio mais geral, poder-se-ia considerar que o recalcamento itui um momento necessirio a todas as operagées defensivas, uma eracdo gracas & qual uma representagio se torna ou permanece inacessivel msciéncia. Na realidade, 0 modelo tedrico do recalcamento sera usado Freud como protétipo de outras operacdes defensivas. Redescobre-se 0 0 recalcamento em agdo em outros mecanismos, por exemplo a iso- go ou a formacao reacional. O recalcamento originario, hipdtese freudiana inte no curso de toda sua obra, seria um processo correspondente 20 \ciro momento da operagio do recalcamento. Esse primeiro momento por efeito a formagio de certo ntimero de representacdes incons- do edipiano. Assim, os mecanismos de defesa no so do exclusive registro do 0 e, como 0 propéem A. de Mijolla e S. de Mijolla Mel generalizado da nogio de mecanismos de defesa nao caminha sem propor ‘questées, ¢ pode-se perguntar (com os autores do vocabulirio) se € sada um conceito verdadeiramente operacional, na medida em que esses meca- rnismos podem tanto englobar boas vias de atenuacao, de liberacao, de regula- ‘20, quanto, em seu carter macigo, suas tendéncias,e mesmo suas finalidades, se voltarem contra o ego, fraglizé-l,estreité-lo, empobrecé-lo, dilaceré-lo, tor narem-se assim 0 oposto, a0 menos a certo nivel, da defesa, revelarem-se iatrégenos’ para o ego” (De Mijo , 1996, p. 199), Esta claro que a defesa en 3s distintos dos meca- rnismos psiquicos, mas nés consideraremos neste capitulo apenas os mecanis- ‘mos mentais de defesa,tais como diferentes trabalhos psicanaliticos os des- crevem, mecanismos constitutivos do aparelho psiquico. Muitosmecanismos de defesa podem ser usados por um individuo, mas a predominancia ea eficacia de alguns entre elesno funcionamento psiquico permitem distinguir perfis diferentes sm, em seguida, para o recalcamento propriamente dito pela atragéo exercem nos conteidos a ser recaleados” (Laplanche e Ponta que nao seriam aceitas para tratamento pelo consciente. A ligacdo ode ser feita com a nogio de fixacao, fixagao da pulsdo a uma representacdo se inscreve no inconsciente. Essa hipdtese freudiana deu ensejo a nume- discussdes tedricas, em particular acerca da existéncia de um meca- smo originirio de defesa. Num sentido proprio, o recalcamento & um mecanismo de defesa par lar, uma “operacio pela qual o sujeito procura rejeitar ou manter no consciente representacdes (pensamentos, imagens, lembrangas) ligadas a pulsdo” (Laplanche e Pontalis, 1967, p. 392). O recalcamento corres- nde a0 fato de afastar e de manter fora da consciéncia uma representacio; m dos destinos da pulsdo, de seu representante. A instancia recalcadora é te inconsciente do ego que obedece as ordens do superego, do ideal do ‘e mesmo do ego ideal. © mecanismo do recalcamento ¢ chamado, entio, secundério. De um ponto de vista clinico, um sujeito nao se lembra, no lembra mais, de certas representages, lembrangas — esqueceu-as. Trata-se quentemente de esquecimentos seletivos, de falsos esquecimentos, uma aréncia de esquecimentos que o tratamento vai procurar reencontrar. rse-d a partir desse momento de suspensio do recalcamento e de re- mno do recalcado. Em sua Introduedo a psicandlise (1916), Freud considera spensio do recalcamento a razao de ser da psicanilise, que teria como 1, OS MECANISMOS DE DEFESA NEUROTICOS. Os mecanismos descritos nesta parte so geralmente encontrados na esfera dos funcionamentos normais, mas também neuréticos, limites ¢ narcisistas, assim como em certas formas psicopatologicas psicoticas, nas quais se revelam frequentemente ineficazes e sio assim substituidos por ‘mecanismos primitivos. Mencionamo-lo, e seria vio querer fazer uma lista ‘exaustiva de todos os mecanismos de defesa. Em sua obra, Anna Freud ‘examina dez entre eles, dos quais alguns serdo retomados aqui de maneira ‘mais ou menos desenvolvida, o mesmo ocorrendo com o recalcamento que ‘ocupa um lugar particular na teoria psicanalitica 1.1 O recaleamento Oconceito de recalcamento constitui um dos eixos da teoria psicanalitica, © a teoria do recaleamento foi considerada por Freud @ pedra angular do edificio psicanalitico. Evoluiu ao longo de toda sua obra e é considerado “um proceso psiquico universal na medida em que estaria na origem da constitui- 128 120 OE (Os grandes conceltos da psicologia clinica objetivo tornar consciente o inconsciente, suprimindo os recalcamentos ou preenchendo processo analitico nao visa tanto & investigacéo do passado ea sua interpretac2o, como o proptinha as a favorecer a suspensao do recalcamento ia, da resisténcias e das defesas que estag e de constrangimento, topa-se com o torné-lo nao acontecido pri- ente-nos sintomas em dois tempos, em que o segundo ato suprime ‘como se nada houvesse acontecido, ali onde na realidade os dois, nica é muito antiga, segundo ‘em sua origem (Le Guen, recaleamento foi posto em evidéncia e constitu o mecanismo de defesa privilegiado, mas nio especifico, entre as pessoas acometidas de histeria. Freud constatara que existia uma espécie de equivaléncia entre certos sintomas de conversio e das lembrangas, até entio esquecidos, recalcados. O recalcamene (de uma impressio, de uma experiéncia vivida), mas esse proprio to esti também em aco fora do sintoma conversivo, em quadros neuréticos 34). Escolhendo a expresso "remover soprando histéricos e histérico-fobicos sob forma, por exemplo, de fadiga, certas inibigdes im ao papel que desempenha a anuilacao retroa- intelectuais por tras das quais o evitar protege o sujeito das representacdes tanto na neurose quanto nas priticas de encantamento, nos costumes recalcadas. Entretanto, foi visto, o recalcamento ultrapassa o dominio de uma ares e no cerimonial religioso. Verdadeiro procedimento magico, esse afeccdo psicopatol6gica especifica, estando presente em diferentes quadros smo é perfeitamente ilustrado nos rituais de conjuracio e nas con- clinicos, essencialmente neurdticos, assim como constituindo funciona- compulsivas, como a compulsdo pela lavagem constantemente reite- ‘mento psiquico normal. A falta de recalcamento torna-se um dos sinais de a fim de anular 0 ato sujo anterior, real ou imaginado, psicopatologias distintas das neuroses, ou psiconeuroses de defesa clissicas, Assim, a anulacdo retroativa possui um grande campo de aplicagao ea ‘uma vez que nessas formas outras defesas mais macigas sio empregadas, 0 cia a0 tomar nao acontecido encontra uma transicio por diminuigo {que serd desenvolvido mais adiante com respeito as defesas primitivas. siva para o normal na decisio de tratar um acontecimento como no Freud descreve ao lado do recalcamento, dos quais seriam sucedineos, dois ido” (ibid., p. 35). Pode-se entio perguntar-se acerca da ligacao possivel mecanismos de defesa, caracteristicos da neurose obsessiva mas presentes em mecanismo com um comportamento normal frequente como a diversas formas psicopatoldgicas ou nao: a anulagio retroativa e a isolacio. i, teria nascido da atitude €,por assim dizer, magia nega 1.2 A anulagio retroativa lagdo pura e simples do acontecimento passado e nao se contenta com ibalho de desinvestimento ou de contrainvestimento. ‘A anulagio retroativa é um mecanismo psicol6gico “pelo qual o sujeito se esforca para fazer de modo que pensamentos, palavras, gestos, atos pas sados no acontecam; ele usa para isso um pensamento ou um comporta~ isolagio ‘mento tendo uma significagio oposta, Trata-se nesse caso de uma compu . so de postura magica” (Laplanche e Pontalis, 1967, p. 29). Freud descreve Kem Inibigdo, sintoma e angiistia que Freud descreve pela primeira vez anulagao retroativa em “O homem dos ratos” (1909) quando analisa os atos vehcbanacekateec compulsionais de seu paciente, atos em dois tempos em que o primeiro € anulado pelo segundo, Esses atos representam o contlito de dois movimentos ‘opostos ¢ de intensidade quase igual que correspondem oposigao amor ‘dio. Em Inibigéo, sintoma e angistia, o mesmo mecanismo é deduzido ace™ lagio como uma técnice tipica da neurose ‘um acontecimento desagradivel, do mesmo modo que apés uma lade pessoal significativa no sentido da neurose, uma pausaé intercalada jual mais nada deve se produzir, nenhuma percepcio ¢ efetuada e ne- aso executada’ (ibid, p. 36). isolacio € um mecanismo de defesa 130 131 i sill (Os grandes conceitos da psicologia clinica que permite isolar um pensemento ou um comportamento a fim de que suas cconexdes com outros pensamentos ou com o resto da existéncia do sujeito sejam rompidas. “Entre os procedimentos de isolacao, citemos as pausas no curso do pensamento, formulas, rituais ¢, de uma maneira geral, todas as medidas que permitem estabelecer um hiato na sucessio temporal dos pen- samentos ou dos atos” (Laplanche e Pontalis, 1967, p. 215). Na neurose obsessiva, diferentemente da histeria, a experiencia vivida nio é esquecida, “mas despojada de seu afeto, ¢ suas relacdes associativas se acham reprimidas ou interrompidas, de modo que ela permanece ali, como isolada, e € tampouco reproduzida no curso da atividade de pensamento" (Freud, 1926, p. 36). Freud faz aqui o paralelo entre a isolacio e 0 recalca- ‘mento na histérica, o que leva a ndo reduzir a isolagao a um tipo de sintoma particular. Ele introduzira anteriormente essa nocio de isolaglo em seu texto sobre as Newropsicoses de defesa (1894), a defesa sendo concebida, para as entidades clinicas reagrupadas sob esse termo, como uma isolagio, uma separagio entre a representagao insuportivel e seu afeto. ‘Como para a anulacio retroativa, Freud aproxima a isolagdo de um processo normal, o da concentracio, que forneceria um pretexto @ esse ‘mecanismo da neurose. "Jé no normal a concentragio é usada para manter a distancia nao s6 o que ¢ indiferente, o que nio diz. respeito a isso, mas sobretudo 0 que, sendo oposto, nao convém" (ibid., p. 36). Uma das tarefas do ego é efetivamente isolar a fim de orientar 0 curso do pensamento, mas esse procedimento é consideravelmente ampliado nos neurdticos obses- sivos. Ea esse trabalho que 0 ego deve renunciar temporariamente na técnica analitica a fim de permitir livee curso as associagdes. Ademais, des- de essa época Freud notava a grande dificuldade para os pacientes obsessi- ‘vos de seguir a regra fundamental, especialmente em razio da importincia dos mecanismos de isolacao, uma vez. que “o que é assim mantido separado € justamente 0 que forma um conjunto de maneira associativa” (ibid., p. 36). A isolacio constitui efetivamente uma das resisténcias mais impor tantes da cura porque os fantasmas, as lembrancas traumiticas podem ser ai evacados, 8s vezes mesmo cruamente, mas sem nenhum ouitras associagdes e desconectados de seus afetos. O vazio emocional re presenta um obstaculo ao tratamento, e um dos aspectos impressionantes dos pacientes obsessivos é a esterilizagao dos afetos. A colocagio da afeti~ vidade a distancia pela isolacdo acarreta certa frieza nos gestos bem como a auséncia manifesta de emotividade. _ In fine, Freud reconduz a isolagio a um modo arcaico de defesa contra a _pulsao,o tabu do tato."Procurandoimpedir as associages, um encadeamento dos pensamentos, {0 ego] obedece a um dos mandamentos mais antigos ¢ ‘mais fundamentais da neurose de constrangimento, tabu do tato. (...) © evitar do contato, da contaminacio, por exemplo, desempenha um papel importante na neurose obsessiva. Segundo Freud, a neurose obsessiva hha por objetivo inicial o tato erdtico; depois, apés a regressio ao estégio jco-anal, 0 tato é mascarado em agressio. Para essa afeccdo, “nada mais proibido a um tao alto grau, nada é tio préprio para se tornar © ponto tral de um sistema de interdicao” (ibid, p. 37). A isolacio equivale a su- imir a possibilidade de contato, permite subtrair uma coisa de toda espécie tato, Quando o neurdtico isola “uma impressio ou uma atividade me- liate uma pausa, ele nos proporciona simbolicamente compreender que no deixar os pensamentos que se relacionam a isso se tocar associativamente outros" (ibid., p. 37). 2. AS FORMAGOES REACIONAIS ‘A formagao reacional, posta em evidéncia por Freud desde seus primeiros igos sobre a neurose obsessiva, 6 um mecanismo psiquico particular, uma tude ow habitus psicologico de sentido oposto a um desejo recalcado, e ituida em reagio contra este” (Laplanche e Pontalis, 1967, p. 169), dai o 1 “reacional” que destaca a oposicao direta com a realizagao do desejo. se de uma luta contra a representacio dolorosa que é substituida por sintoma primério de defesa, ou contrassintoma, consistindo em tracos de nalidade, escripulo, pudor, desconfianca de si. Esses tracos estio em idicao com a atividade sexual infantil praticada no passado pelo sujeito. Je um ponto de vista econémico, a formacio reacional é um contrainvesti- io de um elemento consciente, de forca igual e de diregao oposta 20 ento inconsciente. Excluindo da consciéncia a representagdo sexual sensagio de censura que The esti associada, e substituindo-as por uma ide moral excessiva, a formacio reacional constitui uma defesa bem- lida, Freud mostra bem em Os trés ensaios sobre a teoria sexual (1905) as formagoes reacionais tém um cariter normal no desenvolvimento de 13 (Os grandes conceitos da psicologia clinica ‘um sujeito: Durante o periodo de laténcia, participam da edificagao do ca das virtudes humanas. Qualificadas por Freud como cont excitagdes sexuais, transformam-se em diques psiquicos de tipo pudor, moralidade, suscetiveis de reprimir © desprazer ligado a ativid sexual. Um posto importante thes ¢ concedido na génese do superego, Segundo os quadros clinicos, as Formacées reacionais podem ser localizadas e se manifestarem num comportamento especi ralizadas como na neurose obsessiva, na qual assumem a forma de carter, de alteragao do ego, constituindo meios de defesa ao regressao e do recalcamento (Freu De um ponto de vista cis particularmente na neurose obsessiva, as formacées reacionais assum seu valor sintomatico devido a sua forca, sua rigidez e seu aspecto com sional. Isso pode alcancar as vezes um resultado oposto ao conscienteme desejado, a formagao reacional se tornando entao o lugar do retorno do} calcado, Se teoricamente, na formacio reacional, somente a oposicao slo deve aparecer, pode-se detectar ai efetivamente a acio contra a q defende o sujeito, por exemplo a extrema meticulosidade da dona de que a leva a focalizar constantemente seu interesse no pé ainda que elap cure afirmar sua aversio pela sujeira Portanto, ao lado da sublimacao, as formagdes rea dos mecanismos mais frequentemente invocados para carater. Para certos autores, como O. Fenichel, nao é evidente que as f ges reacionais representam um mecanismo de defesa separado ¢ dente, embora ele inclua seu estudo em seu capitulo sobre os m de defesa.“Elas parecem, antes, er uma consequéncia e um ressegurod recalcamento jé estabelecido. (...) As formagées reacionais evitam 0s ‘camentos secundarios realizando "uma vez. por todas’ uma modificagi® finitiva da personalidade. O sujeito que elaborou formacées reacionais desenvolve certos mecanismos de defesa a serem empregados quando 08 ameaca da parte de um perigo instintual; ele mudou a estrutura des sonalidade como se esse perigo estivesse sempre presente, para estaF P seja qual for o momento em que esse perigo se apresei Pp. 187). Isso corresponde as modificagdes do ego resultando das especificas do conflito entre instancias. Na neurose obsessiva, o ego luta tra 0 recalcado, pois o id, que exige satisfacio de uma maneira cada Vel imperiosa, busca ao mesmo tempo obter o objeto do desejo e dest esté também em conflito com um superego cruel e intolerante ques no se 0 recalcamento nio tivesse ocorrido. Com base na ordem do .quistada pela regressao sidica que afeta a libido, 0 ego se modi- 0 reacional. Quando as formagoes reacionais predominam leste pode parecer como sendo ele mesmo defensivo, destinado © sujeito da ameaca pulsional e do aparecimento de sintomas sto de defesa caracterial, distinta do sintoma, na medida em que tivamente integrada ao ego (Cohen de Lara, 2000, p. 37-38). nente, Freud descrevera a formacio reacional como um con- to destinado a proteger 0 ego, tornando-se uma disposi¢ao geral ncia, nfo unicamente no obsessivo. 3, INVERSAO PARA O CONTRARIO E VOLTA SOBRE SI do do recalcamento e da sublimacdo, Freud introduz. em "Pulsoes das pulsdes" em 1915 esses dois processos como destinos pul- ndizendo respeito a meta, 0 outro ao objeto da pulsio, Na inversio 4rio,"a meta de uma pulsio se transforma em seu contrario na Bebiatividade a pasividade”e, na volta sobre a propria pessoa, “a tui um objeto independente pela propria pessoa” (Laplanche 1967, p. 409 e 425), Esses dois processos esto muito fortemente Podem atuar em sentido inverso, do passivo para o ativo, 0 que erem aco no caso da moga na identificagdo com o agressor, e a tir de si pode se operar sobre outrem. Freud dé disso um exemplo do a volta do sadismo para o masoquismo, que necessita uma pas- ‘atividade a passividade e uma inversio dos papéis. 4. IDENTIFICAGAO COM O AGRESSOR Freud interroga-se sobre o cariter primirio desses mecanismos yO que seria o caso da identificacao com o agressor, mecanismo des- itora em 1936 e frequentemente reencontrado na crianga, sem © posstia um carster patoldgico. Sem ser mencionado diretamente este, entretanto, o descreve em Além do principio de prazer (1920) éncia com certos jogos infantis. Na identificago com o agressor, locado diante de um perigo exterior (representado tipicamente — (0a grandes conceitos da psicologia clinica por uma critica que emana da autoridade), se identifi seja reassumindo por sua conta a agressio tal como é, ou moralmente a pessoa do agressor,seja adatando certos simbolos de poder que o indicam” (Laplanche e Pontalis, 1967, p. 190). Esse mecanismo seria ‘um dos primeiros a atuar na constituigao do estagio preliminar do superego segundo Anna Freud, enquanto D. Lagache (1962) 0 coloca na origem da formagao do ego ideal. A identificagao com 0 agressor bem como a identi- ficagdo projetiva, que abordaremos mais adiante, podem ser consideradas mecanismos de defesa, ainda que possam também ser pensadas como co- brindo aspectos de um processo psiquico mais vasto, a identificagio, o que vamos evocar brevemente agora yuco em conformidade com as complexidades introduzidas por Freud. 5 mecanismos de defesa primitivos (ou psicéticos) so usados contra as tias que derivam do instinto de morte; hé boas razdes para diferencié-los 5 mecanismos de defesa neuréticos contra a libido, e especialmente do -alcamento. Determinam o carater psicético das posigdes (depressiva e yuizoparanoide) e compreendem: a negacio, a clivagem, as formas exces- vas de projegio e de introjecio, as identificagoes que lhes sio aparentadas e idealizagio, Em sua maioria, esses mecanismos foram descritos por psica- ists classicos, mas Melanie Klein concedeu-lhes uma importincia parti- r uma vez que caracterizam as mais precoces fases do desenvolvimento” inshelwood, 2000, p. 135). Portanto, esses mecanismos de defesa primi- is é necessério acrescentat as defesas maniacas se voltam (para 1s) para anguistias psicdticas (depressiva e persecutsria) revelam-se violentos e onipotentes, dai seu carater “primério” no duplo tido de brutal e,nessa concepgao desenvolvimental, primitivos, primeiros, sf oposiciio aos mecanismos secundarios como o recalcamento, Tratam ialmente mais das “partes” do psiquismo do que das representagoes, dos ontetidos dele, contribuindo assim para o empobrecimento do ego. Veremos 1¢ atualmente, particularmente depois dos trabalhos de A. Green (1990), diferencia mais de bom grado os mecanismos primitivos ou areaicos dos 10s psicéticos, Primeiramente e antes de acolher favoravelmente ‘concepcdes pés-freudianas, retomaremos sumariamente seu estudo hist6- ‘em Freud, centrando-nos na “nega¢3o-clivagem’” em tomo da qual “gi- "08 outros pracessos defensivos. 5. A REGRESSAO, A SUBLIMACAO, A IDENTIFICACAO No capitulo devotado aos mecanismos de defesa, A. de Milla e S. de Mijolla Mellor interrogam-se acerca desses procedimentos enquanto modos de defesa, no exclusivo servigo do ego a fim de lutar unicamente contra as cexigéncias pulsionais. Nio se deveria, de preferéncia, consideré-los procedi- mente, esses procedimentos tém um sentido mais amplo que o de meca- rnismos de defesa, pois sio inerentes & atividade psiquica, como certamente para o recalcamento no sentido amplo, Mas, se estdo realmente a servigo do ‘ego, frequentemente o ultrapassam, ajudando-o a evitar o recalcamento. Con- sequentemente, nao desenvolveremos mais adiante esses processos psiquicos « remetemos os leitores s suas definig6es no Vocabulaire de la psychanalyse (Laplanche e Pontalis, 1967) ou em outros capitulos desta obra, 1 A negacio (Verleugnung) de realidade, a clivagem do ego ea projegio em Freud 6. OS MECANISMOS DE DEFESA PRIMITIVOS 6.1.1 Negagdo (Verleugnung) e clivagem do ego Optamos por tratar no mesmo paragrafo a negacdo (Verleugnung) e a ivagem do ego porque historicamente se trata de dois conceitos totalmente tricados e indissocidveis, um (a clivagem do ego) sendo em Freud a conse- cia passiva do outro (a negacao [ Verleugreung] de realidade), concepca0 1¢ difere em outros autores, em particular em M. Klein e seus sucessores. Negagio [Verleugnung] (da realidade):"Termo empregado por Freud num ido especifico: modo de defesa que consiste numa recusa do sujeito de ‘Vimos queS. Freud nao elaborou uma visio de conjunto dos mecanismos de defesa, deixando esse cuidado para sua filha Anna (1936): ele nao dife- renciou, portanto, os mecanismos de defesa chamados de neuréticos dos mecanismos de defesa ditos primitivos ou psicdticos. Deve-se essa distingSo aM. Klein e seus discipulos, essa denominagio tendo permanecido em uso atualmente entre os clinicos apesar de seu cariter relativamente sumério 136 lat TE _— (0s grandes conceitos da psicologia clinica reconhecer a realidade de uma percepcio traumatizante, essencialmente aquela da auséncia de penis na muther. Esse mecanismo é particularmente invocado por Freud para explicar o fetichismo e as psicoses" (Laplanche, Pontalis, 1967, p. 115). (Clivagem do ego: "Termo empregado por Freud para designar um fené= ‘meno bastante particular que ele vé em acio principalmente no fetichismo «nas psicoses: a coexisténcia, no seio do ego, de duas atitudes psiquicas com relagdo a realidade exterior enquanto esta vem contrariar uma exigéncia pulsional: uma leva em conta a realidade, a outra nega a realidade em causa poe em seu lugar uma producao de desejo. Essas duas atitudes persister lado a lado sem se influenciarem reciprocamente” (Laplanche, Pontais, 1967, p.67), Os autores do Vocabulaire de la psychanalyse optaram por traduzir 0 termo alemao Verlewgnung por déni (negacio), ao passo que escolheram (dé)négation [(de)negacio] para traduzir 0 termo Verneinung: esses dois ‘termos assumem efetivamente significagoes diferentes na obra freudiana, mesmo que ambos remetam a ideia geral de negagio. A negacio (déni) (Verleugnung) tem mais a ver com a negacio de um ato do que com uma ica, podendo, portanto, ser traduzido por “recusa de justica” ou aqui uma nuanca de ago, de intencdo, uma recusa ativa de perceber, a0 passo que a denegacio "uum procedimento pelo qual 0 sujeito, simplesmente formulando um de seus desejos, pensamentos, sentimentos até aqui recalcado, continua a se defender negando que ele Ihe pertence” (Laplanche e Pontalis, 1967, p. 112): tem a ver, consequentemente, com uma representagdo e no com uma percepcao, Pela negacao (déni [Verleugnung]), 6 sujeito nao deseja ver ou reconhecer uma realidade externa fonte de angiistia. Notemos que Freud emprega igualmente em seus escritos, parti- cularmente em" homem dos lobos" (1918), 0 termo Verwerfuung traduzido por rejeicao, Freud descreve, depois conceitua a negacio (Verleugnung) de realidade ‘em trés casos: na crianga, no psicético, depois no fetichista e, portanto, 0 pervertido, Do ponto de vista hist6rico, Freud menciona bastante cedo (‘As ‘eorias sexuais infantis’, 1908) a recusa do menino de reconhecer a auséncia de pénis na menina, recusa motivada pela sobre-estima narcisista do penis 0 cariter impensivel do fato de alguém semelhante a ele e digno de estima (a mae) ser dele desprovido. Todavia, Freud nao designa ainda essa recusa ‘mediante um termo especifico, que s6 aparece em 1923-1925, Do ponto de 138 ae ——— (Osmecanimas de detona vista do desenvolvimento, seri a teoria sexual infantil da castrago quando da fase genital-flica que vird fazer cessar a negacio (Verleugnung) ‘normal’ da jovem crianca (‘A organizacdo genital infantil’, 1923). Em “Algumas conse- quéncias psiquicas da diferenga anatémica entre 0s sexos" (1925), Freud ia precisées essenciais: "... quando o menino entrevé numa primeira regido genital da menina, ele se conduz de maneira irresoluta, pou- o interessada sobretudo; ele nada vé ou entio mediante uma negacao _(Verleugnung) ele atenua sua percepsao, procura informagées que permitem Tharmonizé-la com o que ele espera. E somente mais tarde, quando uma ameaca de castracio assume influéncia sobre ele, que essa observagio torna-se cle repleta de significagio: se a rememora ou se a repete, ele € a presa dde uma terrivel tempestade emocional e se poe a crer na realidade de uma meaca que até entio nao levava em conta” (1925, p. 127). E mais adiante, desta vez a respeito da menina:"ou entdo € 0 processo que eu gostaria de des- fer como negacao (Verleugnung) que entra em cena; no parece nem raro em muito perigoso para a vida mental da crianga, porém no caso dos adul- 08 introduziria uma psicose” (ibid., p. 127). Isso introduz a segunda série de trabalhos relativos a psicose que data 1924 (a eb) e reunidos em Neurose, psicose e perversio, mesmo que © ‘mecanismo de rejeigdo (Verwerfung: traduzido por forclusion [perda de um ( por prescrigio] em Lacan) de um elemento de realidade haja sido jencionado desde “O homem dos lobes” (1918) para designar a rejeigao da wséncia de pénis na mulher, auséncia impensdvel, engendrando o retomo alucinatério de um dedo cortado. Na psicose, o eu psicdtico ingresso no con- flito com 0 mundo exterior, opera uma negacdo (Verleugnung) de realidad ceptiva e substitui esta por uma (neo)realidade alucinatéria ou delirante rantajosa para o id, a0 passo que o neurdtico recalca certas represen- pulsionais para resolver seu conflito com o id. Notemos que; inter se sobre as razdes que fazem com que o ego sucumba (ou nao) a seus is conflitos com as outras instancias ou com a realidade externa, id evoca o papel da economia (da forca de diferentes tendéncias opostas) ‘antecipa a futura nogio de clivagem: “sera possivel ao ego evitar a ruptura de ‘tal lado deformando-se a si mesmo, aceitando pagar por sta unidade, mntualmente mesmo se rachando ou se fragmentando, Dessa maneira se colocariam as inconsequéncias, as extravagincias e as loucuras dos homens ob a mesma luz que suas perversdes sexuais, cuja adogio 0s poupa dos re- calcamentos" (Freud, 1924a, p. 286). 139 1 eee s grandes conceitos da psicologia clinica Em seguida, do artigo sobre “O fetichismo” (1927) ao Resumo de psi- ‘candlise (1938b), Freud amplia a clinica da negacdo [ Verleugnung] (correlata 8 da clivagem) & perversao, depois (contra toda expectativa) & neurose e 4 “quase normalidade”, o que vai lhe permitir cetornar por intermédio disso A questdo da psicose. Em"O fetichismo’, Freud “elabora a nogio de negasio (Werleugnung), defesa que consiste em recusar a percepgio de uma reali- dade intoleravel, e ele associa essa defesa & clivagem do ego que é sua consequéncia” (Quinodoz, 2004, p. 277). Freud mostra, para comecar, que ‘ofetiche 0 substituto do pénis da mulher (a mae) no qual o menino creu a0 qual nao quer renunciar: a crianga, futuro fetichista, nega a “castragio” feminina (0 que G. Bayle traduz por “eu ndo quero sabé-lo”, em 1996) ea substitui por um substituto félico, composto das tiltimas impresses visuais (calsado, pé, lingerie etc.) deixadas antes da percepsio traumatica do 6rgio genital feminino. Mas a mengio de outro caso de negacio (Verleugnung), 0 da morte do pai em dois homens (dos quais um poderia ser “O homem dos ratos"), vai permitir um avango decisivo no que se refere & conceituagio da negacao (Verleugnung) e de sua consequéncia tépica, a saber, a clivagem do ego: efetivamente, Freud constata que "os dois jovens haviam ‘escotomizado’ a morte de seu pai tal como os fetichistas, a castracao da mulher. Havia somente uma corrente da vida psiquica deles que nao reconhecia essa morte; uma outra corrente a levava perfeitamente em conta; as duas posigdes, a fundada no desejo e a fundada ide, coexistiam” (Freud, 37), 0 que define precisamente sgem do ego (a ser diferenciada da clivagem da consciéncia tal como ¢ no inicio da obra freudiana nos primeiros trabalhos sobre a histeria). Freud apoderou-se entao dessa descoberta da coexisténcia nio conflitual de duas correntes de pensamento para apli Com efeito, nesse mesmo caso ¢ regular constatar negacdo (Verleugaung) € afirmacio da “castragdo” feminina (0 que O. Manonni [1969] traduzira or“eu sei bem, mas apesar de tudo"), dupla corrente que vai se reencontrar za propria construcio do fetiche que afirma e nega no mesmo movimento @ auséncia de pénis na mulher (por exemplo, no cortador de esteiras). O fetiche tem, portanto, uma dupla fungio contraditéria: a de manter @ renga de que a mulher tem um pénis ¢, paralelamente, a de se proteger contra a percepgio traumitica da realidade de sua auséncia: "ele [o fetiche] permanece o signo de um triunfo sobre a ameaga de castracdo ¢ uma pro- ‘tecdo contra essa ameaca” (ibid., p. 135). | Ser apenas com “A clivagem do ego no proceso de defesa” (19384) Freud teorizaré a clivagem do ego sempre a partir do fetichismo (a per- io). O ego de um sujeito confrontado com duas exigéncias contraditorias reagir a essa contradicdo por duas atitudes opostas: uma que recusa a idade e nada se deixa proibir de suas pulsdes e a outra que reconhece 0 erigo que provém da realidade e assume dele a angistia sob forma de "toma, Mas essa solugao habil tem seu prego: "o sucesso foi alcangado 20 go de um dilaceramento no ego, dilaceramento que nunca mais sararé, as que aumentaré com o tempo. As duas reages ao conflito, reacdes opos- se mantém como niicleo de uma clivagem do ego” (Freud, 19384, p. ), clivagem que vem perturbar 2 funcio sintética do ego. © desvio “as- ‘tucioso” (ibid., p. 286) da realidade pelo perverso que Freud reservava, de ‘bom grado, antes. psicose ¢ diferente, todavia, pelo fato de queno fetichismo sujeito no alucina uma neorrealidade (um pénis ali onde nao hé um), ‘procede a um deslocamento de valor e transfere a significacao de penis ‘a uma outra parte do corpo” (ibid, p. 286°). A aproximaco entre psicose e perversio vai entio ter consequéncias "mais importantes na concepgao da clivagem e do funcionamento psiqutico em geral, consequéncias esbogadas em 1937 em “A anélise com fim e a and- lise sem fim". De fato, interrogando-se sobre as resisténcias do ego & anslise, Freud vem a respeito disso afirmar estas palavras fundamentais: "Mas um tal ego-normal [com o qual o analista busca uma alianga] é, como a norma- lidade em geral, uma ficgao ideal (...). Toda pessoa normal é efetivamente ‘0 s6 medianamente normal, seu ego se aproximando daquele do psicético nesta ou naquela parte, numa maior ou menor medida..." (Freud, 1937, p. 250). No Resumo de psicandlise (19380), Freud precisa que na psicose 0 ego ja- mais se destaca totalmente da realidade: “podemos provavelmente admitir que o que se passa em todos os estados semelhantes consiste numa clivagem ppsiquica. Em lugar de uma tinica atitude psiquica, ha duas; uma, a normal, eva em conta a realidade, enquanto a outra, sob a influéncia das pulsdes, separa 0 ego da realidade. As duas atitudes coexistem, porém a saida de- pende de suas poténcias relativas. As condigdes necessirias para 0 apareci- ‘mento de uma psicose estdo presentes quando a atitude anormal prevalece” (Freud, 1938, p. 78). Mas Freud vai ainda mais longe reduz a distancia 2. Deste ponto de visto fetiche (a organizacio pervertida) protege da solugio psicstica (desinvestimento da realidade mais solugdo delirante), Mo mm a ene ee et ARESIOTR CT entre psicase e normalidade afirmando que existe uma clivagem da ego ndo somente na perversio (0 fetichismo), mas igualmente nas neuroses: “dizemos que em toda psicose existe uma clivagem do ego, ¢ se nos apegamos tanto a esse postulado é porque ele se acha confirmado em ‘outros estados mais proximos das neuroses ¢, finalmente, também nessas ‘iltimas’ (ibid, p. 78). Freud conclui pelo fato de que toda crianga recalca e nega, a normalidade ou a patologia sendo o resultado de um equilibrio das forcas entre duas atitudes, uma aceitando a realidade, a outra a negando: "A rejeigo € sempre duplicada por uma aceitacio; duas atitudes opostas, independentes uma da outra, se instauram, 0 que conduz a uma clivagem do ego. Ainda aqui, a saida deve depender daquela entre as duas que dispoe da intensidade maior” (ibid., p. 80). O que reterdesse estudo historic dos conceitos de negacao (Verleugnung) ede clivagem em Freud? Tem sido frequentemente discutida a ambiguidade do emprego do termo "realidade da castragio feminina’?, e é verdade que as vezes a teoria sexual infantil do menino Freud parece infiltrar-se em sua teorizagao da sexualidade feminina, mas essa ambiguidade é eliminada par- cialmente por uma leitura atenta dos textos: & menos a “realidade da castra- sao” e, consequentemente, a auséncia de pénis na muther que é negada do que sua significacao de castragio no psiquismo do sujeito, isto é, a ameaca de castragio pelo pai em caso de obstinagio masturbatéria edipiana, o com- plexo de castragio do menino resultando de uma condensacio operando entre dois tempos: o da ameaga, depois 0 da percepgio da diferenga dos sexos. O sujeito que por ocasido do édipo nega a significagao de castrac3o ‘com a auséncia de pénis na mulher, nega a ameaca de castragao e contorna, portanto, de maneira “astuciosa” o complexo de castracdo, ndo renunciando a seus investimentos edipianos incestuosos, pois nesse setor negado-clivado seu pénis nao € ameacado. ‘Assim, € acrescemos a complexidade dos fendmenos mentais, a negag3o (Verleugrung) de realidade externa (a negacao de auséncia: do pénis ou do desaparecido) tem uma incidéncia na realidade interna, aquela da signifi- cago simbélica da falta: a negago (Verleugnung) e a clivagem que é a con- sequéncia passiva da negacio privam o sujeito de uma porcao de realidade 2 ser elaborada no psiquismo; dai seu cardter fundamentalmente anticon- flitual e antissimbolizante, consequentemente antipensamento. "A negacao 3. Razio pela qual escrevemos “castragio feminina" entre aspas. ua anna aime TTT es mocanismos de defeea: |[Verleugnung) (de auséncia) constitui, portanto, um entrave fundamental 20 proprio processo de constituicdo da realidade psiquica, a0 contrério da ne- {gacio (nocio geral de negacio), que opera como tempo primeiro do reco- ihecimento mental (pré-consciente) de alguma coisa (...). Ao contrério da negacio (nocio geral de negacdo), a negacao (Verleugnung) constitu tim ex- ‘pediente narcisista pelo qual alguém pretenderia evitar recorrer & conta- ilizaco das faltas e transgressées de suas figuras parentais de referencia (cas- ‘tragio da mae, morte do pai). Constata-se, entretanto, na pritica que uma a carga traumatica das representagdes em causa; 0 poten: Jatente destas tltimas parece, bem antes, perenizado pel ligacdes simbélicas possiveis. Ademais, aquilo que a negas:

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