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ads nternacionas de Catalogaco-na-Pblcago (IF) ‘Bible Pot. Gulhere Simoes Gomes Faculdade de Odontlogia de Pernambuco ~ FOPTUPE 1922 Souza Neto, José Maria Gomes de (ra) “Antigas letras: slog ente a hstria eo IiteretrsAlbino Dantas. ft. — Recife: EDUPE, 2012. 208 . ISBN 978.65.7656-089.6, Demats autores: Albino Danas, Anderson Vicente da Sia, André Bueno, Bruno Roel Veras ce Moras e Siva, Carlos Eduardo da Costa Capes, Fabio Duarte Jl, Félix Jicome Neto, Gibson Moreio do Sina, Jost Ber Rosa da Siva, Jost Marie Gomes de Souza Net, Luz Henrique Banfi, Marcos Meo, Margaret Bokos, Maria Regina Candido, Ségio de Corréa Mendes Jui. 1 HISTORIA 2.LITERATURA |. Universidade de Pernambuco I. Eitra Universidade de Pernambuco I Tilo 0p - 21ed.- 801.9 ‘lauia Henriques» CRBA/T600 ‘ror-10/2012 JOSE MARIA GOMES DE SOUZA NETO (ORG.) ANTIGAS LEITURAS DIALOGOS ENTRE A HISTORIA E A LITERATURA Autores Albino Dantas ‘Anderson Vicente da Silva ‘André Bueno Bruno Rafael Véras de Morais e Silva Carlos Eduardo da Costa Campos Fabio Duarte Joly Félix Jacome Neto Gibson Monteiro da Rocha José Bento Rosa da Silva José Maria Gomes de Souza Neto Luis Henrique Bonifécio ‘Marcos Melo Margaret Bakos Maria Regina Candido Sérgio de Corréa Mendes Jinior ce Recife, 2012 SUMARIO Prefacio . Apresentacdo Capitulo 1 © OBELISCO DE HATSHEPSUT: SUPORTE E IMAGENS DE PODER. Margaret Bakos Capitulo 2 HISTORIA E LITERATURA GREGA, NOVAS ABORDAGENS EM ANTIGAS LEITURAS..... 139 Maria Regina Candido Gapitulo 3 HISTORIA SOCIAL ATRAVES DA LITERATURA: CONSIDERAGOES SOBRE O INCONSCIENTE POLITICO DA EPICA HOMERICA A PARTIR DO APORTE TEORICO DE FREDRIC JAMESON. Félix Jacome Neto Gapitulo 4 HETAIRESIS OU HOMOSSEXUALIDADE: RELACOES ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO EM PECAS GREGAS E NOS DIAS ATUAIS Anderson Vicente da Silva | Luis Henrique Bonifacio Capitulo 5 ‘AS MULHERES EM CENA: 0 TEATRO GREGO E A PARTICIPAGAO FEMININA NA SOCIEDADE CLASSICA .. Sérgio de Corréa Mendes Junior 55 Capitulo 6 A LITERATURA LATINA COMO DOCUMENTACAO NAS PESQUISAS HISTORICAS: UM ESTUDO DE CASO EM TITO Livio. Carlos Eduardo da Costa Campos Capitulo 7 LEITURAS DE SANTO AGOSTINHO NA HISTORIA INTELECTUAL DA ESCRAVIDAO (SECULOS VIL-XIX)... 117 Fabio Duarte Joly Capitulo 8 UMA AFRICA QUE SE DESDOBRA: A ANTIGUIDADE AFRICANA E O DEBATE ATUAL DO ENSINO DE HISTORIA 27 José Maria Gomes de Souza Neto | Marcos Melo Capitulo 9 A HISTORIA IMAGINARIA DA CHINA.... André Bueno 145, Capitulo 10 HOMO VIATOR: DANTE, LEITOR DA BIBLIA E DA ENEIDA..155 Gibson Monteiro da Rocha Capitulo 11 DE ARISTOTELES A ARISTUTALIS: O CONFLITO ENTRE AS INTERPRETAGOES NA BAIXA IDADE MEDIA (SECULO XIII)... 173 Albino Dantas Capitulo 12 LITERATURA DE VIAGENS E CRITICA HISTORICA: 0 CASO DE IBN BATTUTA . pace 183 Bruno Rafael Véras de Morais e Silva | José Bento Rosa da Silva Capitulo 13 ENSAIO: "AQUILO QUE CRIEI, NINGUEM JAMAIS CRIOU"...201 José Maria Gomes de Souza Neto PREFACIO Ao ser provocado para ler o livro “Antigas Leituras: didlogos entre a Historia e a Literatura”, organizado pelo professor José Maria Gomes de Souza Neto, confesso que o fiz mais por interesse geral de um professor na érea das Ciéncias Humanas, de modo mais especitico, da formacao docente, do que mesmo de um historiador. Creio que tenha sido essa a razdo pela qual fui convidado a ser o prefaciador desta obra. Como professor que atua na érea da formacéo docen- te, preocupa-me, sobremaneira, as questdes didaticas, a atualizago dos métodos de ensino, pautados na atualidade por uma premente necessidade de praticas de investigagio, a incorporacéo de novas € diferentes fontes e 0 permanente didlogo com outras areas do saber. Além desses, apresentam-se outros desafios que fazem parte do ensino da Histéria tais como: a questo da construgio de conceitos, processo esse cada vez mais complexo, que aponta para a necessidade de praticas interdisciplinares; a interseccdo de diferentes areas do co- Mhecimento; 0 respeito as diversidades sociais, representadas na sala de aula; assim como a incorporacao de novas vozes e linguagens. Para além dos meus propésitos, na condigo de leitor “leigo”, tive uma agraddvel surpresa ao me deparar com uma vasta e significativa producao académica, permeada de teméticas origindrias na antigui- dade e que ajudam a entender problemas na atualidade, tais como: 0 papel da mulher, a origem da escravidao, a relacdo hist6ria/imagind- rio social, a homossexualidade, entre outros. O texto, como um todo, mantém uma preocupacao original, mesmo que discreta, a partir da ‘categoria didética no ensino da Histéria, de modo mais concreto, buscando aproximar textos antigos, originais, da sala de aula. Pode-se encontrar, no conjunto da obra, um compromisso dos HISTORIA SOCIAL ATRAVES DA LITERATURA: CONSIDERAGOES SOBRE O INCONSCIENTE POLITICO DA EPICA HOMERICA' A PARTIR DO APORTE TEORICO DE FREDRIC JAMESON Félix Jacome Neto Este capitulo consiste na apresentacéo de possiveis caminhos de stigacao da historia social do mundo homérico a partir da u 0 de uma estética literdria especifica da teoria literdria marxis- , a saber, 0 aporte tedrico desenvolvido por Fredrik Jameson no livro “0 inconsciente politico: narrativa como ato socialmente ibélico"”. Nesse livro, publicado originalmente em 1981, Jameson 1992 [1981], p. 15) defende a “prioridade da interpretacdo politica textos literérios" como uma condigdo indispensavel para se en- der a funcao social da literatura como produto cultural de uma inada época. A primeira parte do artigo consiste em uma breve sintese do re- cial teérico exposto no supracitado livro de Jameson. Do ponto Vista da histéria social do mundo classico, a concepsao jamesiana texto literdrio como narrativa socialmente simbélica 6 deveras itil esforgo de "localizar as contradig6es da narrativa como indicativas presenca das contradig6es sociais mais amplas" (MORAES, 1996, ‘A edigio grega da iliada utilizada neste artigo é a estabelecida por Helmut van el em Homeri (1996). J4 a traducdo para o portugues é de Frederico Lourenco ‘em Homero (2005), “The politcal unconscious: narrative as a socially symbolic act” 56 ANTIGAS LEFTURAS | Dislogos entre a historia e a literatura p. 93). E justamente este exercicio analitico, que consiste em desvelar conflitos sociais “reais” a partir de contradig6es dentro da prépria nar- rativa, que sera exemplificado na segunda parte deste texto, Para tan- 10, sero feitos alguns comentérios, especialmente centrados em um episodio da Iliada’, sobre a maneira pela qual 0 arcabouco tedrico- metodolégico de Fredric Jameson pode ser proficuo para uma anéli da configuracao social da sociedade homérica‘. Trata-se, portanto, de apontamentos de caréter preliminar que tém o desejo de dar algu- ma contribuigo para uma reflexao sobre o inconsciente politico* em Homero, ao mesmo tempo em que sugere a validade deste aporte te6rico para a anidlise histérico-social dos poemas homéricos®, 3. Hom.IL. 2.188-278. Agamemnon, persuadido pelo sonho enviado por Zeus, ima- gina que é chegado o momento de vencer Tidia. Para tanto, ele sugere aos quer- reiros a derrota e a volta para casa, como forma de testar 0 empenho dos aqueus em continua na quero. Cansados da guerra, no enant, os greges fogem para suas naus com 0 fito de irem para casa, mas Odisseu os interpela para voltarem. 2 Assembleia e as operagdes bélicas. E no instante em que os soldados formam a Assembleia que surge, de forma inesperada, a intervengao de Tersites. Todas as, citagées de Homero no decorrer deste artigo serdo do segundo canto da Iliada, 4. Por sociedade homérica eu estou pensando na sociedade hist6rica a partir da qual ‘05 poemas emergiram e que estd ora representada, ora refratada pela sociedade implicada nos poemas, 0 que para mim significa, 2 grosso modo, 0 geométrico tardio (800-700) (todas as datas de periodos histéricos referidas neste artigo, salvo expresso 0 contrério, s80 anteriores a Cristo). Embora a validade histérica da épi- «a homérica apareca de inicio na representacdo ideologizada de temas histéricos especificos da época (cf. Thalmann 1998, 1,'14, 243, 271), é preciso nBo limitar 2 analisehistérica dos poemas a uma mera historia das ideias do periodo, sendo categsrico insistir na dificil misséo de relacionar os poemas com as outras fontes histéricas do perfodo, advindas seja dos dados arqueolbgicos, seja das poemas de Hesiodo. Nesse sentido, como adverte Seaford (1994, 6): “embora o épico homeéri- 0 no nos dé uma fotografia de uma sociedade real, tampouco é meramente uma construcao ideol6gica” (‘although Homeric epic does not give us a photograph of an actual society, neither is it merely an ideological construction"). 5. Por inconsciente politico entenda-se “a coletiva negagdo ou represslo, pelas so- ciedades humanas, de contradigoes histricas subjacentes" (DOWLING, 1984, p. 114) 6. Vale ressaltar que o referencial tebrico advindo de Jameson aqui debatido s6 ‘pode ser util para obras literdrias oriundas de sociedades marcadas por substancial Tita de classes, dado que Jameson concebe estes textos como conflitos discursivos de classe. Dessa forma, esté pressuposto neste artigo que os poemas homéricos refletem uma obra cultural de uma sociedade jé classista. O conceito de classe social que tenho em mente € este de Ste Croix (1981, p. 43-4): “Uma clase (fun- damentalmente uma relacdo) € a expresso social coletiva do fato da exploracao, a CAPITULO 3 | Félix Jécome Neto No livro "0 inconsciente politico: narrativa como ato socialmente bdlico", Fredric Jameson afasta-se de propostas de sociologias da ftura que concebem os significados politicos de uma obra liter- no seu imediato contetido manifesto, como uma espécie de mero rem palavras” uma visio de mundo — do autor ou da classe social integralmente pré-existente ao texto literdrio. Ao fazer isso, Jame- (1992 [1981], 39) aponta os limites das diversas andlises literarias, je trabalham com a ideia de uma nosdo estrutural de homologia, J serviria como uma mediacéo simplista e mecénica entre posigao classe, visio de mundo e manifestacao artistica. ‘Assim, Jameson opta por aprofundar as perspectivas dialogicas ad- indas de Bakthin e a contribuigo dos althusserianos para a teoria aria, especialmente com a aplicacéo, operada por estes, da psi- INdlise para 0 estudo dos objetos culturais, como a literatura. Nesse ido, a unidade e coeréncia do texto literério percebida por di- s sociologias da literatura, ndo ¢, para a critica literéria althus- ana que Jameson corrobora, sendo uma aparéncia de unificacao mal que precisa ser “desmascarada como um fracasso ou miragem Iégica” JAMESON, 1992 [1981], p. 50). Dessa maneira, a meta interpretacdo literdria no € a busca por um sentido nico ou um cédigo chave que a priori define os sentidos do texto, mas a “explosdo do texto aparentemente unificado em miriades de Imaneira em que se encatna a explorag3o em uma estrutura social [..] Uma classe iuma classe em particular) é um grupo de pessoas de uma comunidade que se ntfica por sua posic0 no sistema global de producSo social, definida antes, de tudo com respeito a suas relacées (basicamente segundo 0 grau de posse ou Controle que tenham delas) com as condigdes de produsao (sto €, os meios € o Irabalho de producio) e com outras classes" [Class (essentially a relationship) is the collective social expression of the fact of exploitation, the way in which exploi- lation is embodied in socal structure |. A cls (¢patculr cess fs0 group of [petsons in 2 community identified by their position in the whole system of social production, defined above all according to their relationship (primarily in terms of cof ownership of control) to the conditions of production (that isto say, the ‘means and labour of production) and to other classes” Para exemplos da utilizaglo do conceito de classe para o estudo da sociedade homérica ver Thalmann (1998), Rose (1975, 1997), Morris (1986). 57 58 ANTIGAS LEITURAS | Didlogos entre a histria a literatura elementos conflitantes e contraditérios" (JAMESON, 1992 [1981], p. 51),a fim de evidenciar 0 “real” da luta de classes, que se encontra, a principio, reprimida e recalcada pelo texto literdrio. Este “real” deve ser entendido em termes psicanaliticos como aquilo que “resiste a simbolizagao", gerando perturbagées sintométicas que formam um subtexto intrinseco da obra literéria. Dado que os sentidos politicos de um texto literério esto muitas vezes inconscientes ao prdprio texto e ao seu autor, a investigagéo da obra literéria quarda forte semelhanga com a avaliacéo do discur- so produzido em contexto de uma terapia psicandlitica, na medida em que a “verdade" esté naquilo que se silencia, que se reprime ou se censura. E neste sentido que Jameson, no livro “O inconsciente politico", recupera a psicandlise freudiana na tentativa de restaurar os discursos e conflitos de classe silenciados pela obra ficcional. Sendo assim, 0 inconsciente que Jameson almeja discutir nos textos literérios nao € tanto um inconsciente linguistico ou psicolégico, mas propri mente um inconsciente politico O teor politico deste inconsciente pode ser percebido de imediato pela propria caracteristica da narrativa literdria que funciona, segun- do Jameson, como um mecanismo especial em que a consciéncia coletiva reprime as contradig6es histéricas, especialmente aquelas li- gadas aos antagonismos de classe e as formas de exploracao que séo sustentadas por estes antagonismos. Justamente por reprimir estes conflitos e retird-los da superficie do texto, é que a obra literdria pode apresentar-se, aparentemente, como um todo unificado, harménico e unissono. Nesse sentido, Jameson segue Pierre Macherey e Etienne Balibar ao conceber a narrativa como uma resolug0 imaginéria de conflitos ideolégicos em verdade irreconcilidveis. Com 0 objetivo de desvelar o inconsciente politico da obra lite- réria, Jameson articula, entéo, trés momentos interpretativos distin- tos. O primeiro modo de interpretacdo consiste no nivel imanente de andlise, onde 0 objeto de estudo primordial € 0 texto entendido, CAPITULO 3 | Félix JScome Neto ‘neste primeiro momento, como obra ou expresso individual’. Nesta insténcia interpretativa a narrativa € concebida como um ato simb6- Tico, que se configura como uma resolugéo de uma contradicéo que, de outro modo, nao poderia ser resolvida. Sendo assim, a narrativa construida por um autor a partir do registro de acontecimentos de janeira ficticia expressa um acontecimento simbélico particular. Ao [pesquisador, faz-se mister saber qual tema a narrativa estruturada em ima ado simbélica individual esta buscando exprimir? Qual contra- ligdo esta sendo resolvida neste dado ato simbdlico? Dessa forma, a ntradigao €, aqui, univoca e limitada a situacao do texto individual, ituada em ura resolucao simbélica puramente individual. 0 segundo horizonte interpretativo, por sua vez, lida com 0 as- mais propriamente sociodiscursivo do texto. Neste instante, 0 eto de estudo passa a ser o que Jameson chama de ideologema, inido como “a menor unidade inteligivel dos discursos coletivos ncialmente antagénicos das classes sociais” (JAMESON 1992 1981], p. 69). Em outras palavras, 0 ideologema consiste em ma- ras de pensar sobre o mundo tal como expresso por classes sociais iferentes e conflitantes presentes no texto literdrio. De um ponto de vista mais formal, Jameson traz a ideia bakhtinia- da heteroglossia, entendida como o confronto de vozes distintas tro do texto, a maneira pela qual uma voz ndo é mais individual, s social, a representante de um ponto de vista social que se expres- através da escrita do autor individual. Nesse sentido, para Jameson, ideologemas advindos dessa relacao dialégica de pontos de vista listintos dentro da mesma obra literdria so, em parte, inconscientes. Jameson esté aqui pensando no romance burgués dos séculos XIX e XX d.C, onde “0 autor da ficcdo literéria é fortemente individualizado. No caso da producao li {eréria dos poemas homéricos, poderiamos pensar esta primeira dimensSo de in- _terpretacdo como expressio coletiva, dado que 0 épico foi fabricado ao longo de flgumas geracdes de forma coletiva, ainda que um poeta ou um grupo deles {enha realizado a versio final dos poemas. Apesar desta ressalva, a diferenca na _ producio literdria entre 0 épico homérico e © romance burgues no altera 0 ar- ueno que eis sendo sustemado, sto 0 texto cancebido como expressSo individual ou coletiva reveste-se em um discurso simbdlico que resolve, de forma Imgica, contradigbes reais que de outra forma nao poderiam ser dirimidos. 59 60 [ANTIGAS LEITURAS | Dislogos entre ahistriae a literatura Assim sendo, a literatura pode ser vista, entéo, como um "drama de ideologemas", em que a apresentacao de conflitos no resolvidos manifesta-se na variedade de vozes de classe ou de status social. J4 0 terceiro horizonte de interpretacéo, ultima dimensso do cam- po social da obra literéria, trata do nivel epocal de leitura hist6rica, onde 0 texto individual e 0 texto enquanto “drama de ideologemas” so vistos sob a ética dos modos de producéo ~ principais e secunda- rios*- com 0s quais 0 autor e os ideologemas presentes no texto esto inseridos. Neste momento da anélise da obra, 0 objeto de estudo ¢ 0 que Jameson chama de “ideologia da forma”: “as mensagens simb6- licas a nés transmitidas pela coexisténcia de varios sistemas simbéli- cos que so também tracos ou antecipagées dos modos de producéo” (AMESON, 1992 [1981], p. 69). Assim, essas mensagens simbdlicas refletem atitudes que se pode associar com os modos de producao, tanto 0 vigente, como os modos de producéo sobre os quais ha ves- tigios no texto literdrio. Quando “a coexisténcia de varios modos de produséo torna-se visivelmente antagénica, com suas contradicées orientando-se para 0 proprio centro da vida politica, social e histé- rica” JAMESON, 1992 [1981], p. 87), temos ue Jameson chama de “revolucdo cultural’, onde a codificago ideolégica dominante do modo de produso principal esté sob forte contestacao”. £8. Haja vista que, para Jameson, uma mesma sociedade contém elementos frutos tan to de um modo de produc3o dorinante, como de modos de produc3o periféricos friundos de resquicios ou de vislumbramentos de outros modos de producéo. 9. Das teses de Jameson acerca do inconsciente politico das obras literarias advém, como nota Gil (2009, p. 252-7), duas implicagGes para a relacBo entre ideologia € texto literdrio Que foram levadas em conta no decorrer deste artigo: por um lado, 3 ideologia nio é um bloco homogeneo que penetra na obra lterdria desde alum jugar exterior, antes 0 text literdrio é entendido como a propria encenacBo da ideologia, na medida em que promove solucbes imagindrias ou formats a contra- icdes sociis de outro modo insolUveis, por outro lado, a ideologia no € mera Sfalsa consciéncia’ da realidade, mas sobretudo estratégias de contenco do “real” contidas nos textos literdrios. Estas estratégias de contencao tornam possivel “que ‘que se pode pensar parece ter coeréncia interna em si mesmo, embora reprira © impensevel (neste cas0, a propria possibilidade de praxis coletiva) que se coloca ‘além de seus limites” JAMESON, 1992 (1981), p. 48). CAPITULO 3 | Félix Jicome Neto clk A nivel metodolégico, como efeito, 0 primeiro horizonte de inter- pretacao exige do critico que, como passo inicial, proceda a um estudo intrinseco das particularidades formais e estruturais da obra em estu- do, Tal estudo, ao entender os padres formais como “uma ordenaggo ssimbélica do social dentro do formal e do estético’ (|AMESON, 1992 11981], p. 70), necessita preparar o terreno para os niveis subsequentes interpretaco que irdo, por sua ver, transcender a andlise puramente mal. Para tanto, € necessério justamente apontar qual contradigao jal real que aqui encontra uma resolucao puramente formal no ter- 10 estético, além de evidenciar os mecanismos estéticos pelos quais ‘operada esta resolusao literdria do conflito”. De inicio, vale ressaltar que é preciso compreender que a temati- que confere uma resolucdo magica para uma contradigo social I" tem lugar, em Homero, dentro de um género literério, 0 épico, Je ndo é neutro ideologicamente, mas antes carrega de forma ima- te um pretenso mundo heroico como sua ideologia hegeménica. significa que as préprias caracteristicas literarias do épico, como foco da narrativa em torno das acdes de herdis mitolégicos, basea- na associacao entre estes herdis e os poderes divinos, a elevacso, estilo, a forte glorificagdo do pasado, sdo em sim mesmo um Jo especifico de articular um discurso ideolégico, como defende (1997, 165): As historias padroes caracteristicas, 0s epitetos, as personagens ti- picas, as cenas tipicas, e assim por diante, de forma alguma cons- tituem um velculo isento de valor para a expresséo individual. Eles Para dar conta deste ultimo ponto, que se reveste em uma andlise imanente do 0 literrio, € importante o suporte tedrico-metodolégico de alguma teoria de lise literaria. A minha prépria preferéncia € pela utilzagSo em conjunto de lentacBes advindas da narretologia e do quadrado semiatico postulado por Jules, imas. Dado que néo € objeto deste artigo discutir estes referenciais conceituais Se, contentorme em sugerir a leitura.introdut6ria sobre narratologia em Flue nik (2008) e Bal (1997 [1985)), a aplicacdo da narratologia para anslise dos ema homerics fea por DeJong (1987, 2001), am do uso de semisica mas em conjunto com a teoria da narati ida por ei con narrativa de Todorov desenvolvida po 61 62 [ANTIGAS LEITURAS | Dislogos entre a historia ea literatura implica, obviamente, a quase completa auséncia ou margina- lizagio da vasta maioria da sociedade: mulheres, trabalhadores agricolas, pastores, artesdos, comerciantes, etc." Assim, por um lado, as operacées estéticas que fomentam as re- solugbes magicas dos conflitos sdo primariamente configuradas pelas visées de mundo das classes dominantes que buscam hegemonizar os sentidos do relato poético, por outro lado, as vozes das classes subal- ternizadas, que serao referidas principalmente no segundo horizonte interpretativo, so quase sempre mediadas pelo discurso dominante baseado na tentativa de vincular-se a tradi¢éo dos herois mitolégicos do passado. Um dos dispositivos estéticos que contribui para criar a aparente unidade harménica caracteristica do primeiro horizonte interpretati- vo tem sido discutido, especialmente em relacdo as pecas de teatro gregas, pelo helenista David Konstan. Assim, Konstan (1994, p. 50) sustenta que 0 teatro grego tende a metamorfosear conflitos sociais reais em disputas literdrias meramente individuais, anulando o aspec- to social dos conflitos, de forma que a dimensao da luta de classes é secundarizada na narrativa, estando apenas latente ou implicita nela Assim, Konstan (1994, p. 53) conclui que 0 teatro classico tende a transformar conflitos puiblicos em questdes de cardter simplesmente individual ou psicolégica. ‘As teses mencionadas por Konstan, embora sejam balizadas a par- tir dos estudos do teatro grego", servem perfeitamente, a meu ver, para a anilise de diversos passos do épico homérico. Por exemplo, a passagem da Iliada, anteriormente citada, envolvendo os personagens Tersites, Agamemnon e Odisseu. Este passo representa, a meu juizo, um ‘momento privilegiado na anélise proposta por este artigo na medida 11. "The characteristic story-patterns, epithets, character types, typescenes, and so ‘on by no means constitute a value-free vehicle for individual expression. They en: tail, most obviously, the near total absence or marginalization of the vast majority Of the society: wornen, agricultural workers, herdsmen, craft-workers, traders, et.” 12, Além do text jd citado, vera coletnia de artigos do autor sobre Arstofanes & “Menandro em Konstan (1995). CAPITULO 3 | Félix Jdcome Neto que nele & possivel escutar a voz e a contestaco da classe subalter- fa recalcada durante todo 0 épico, isto €, os homens livres presu- ivelmente pequenos proprietérios”. Assim, como observa Gil (1980, 5), Tersites surge para “fazer ouvir pela primeira vez a voz do povo na storia da Grécia", de forma que “se a auséncia generalizada da vasta ioria da populacdo dos aqueus da Iliada constitui o principal 'silén- estruturado’ da Iliada, 0 surgimento de Tersites pode representar momento privilegiado na medida em que a estratégia da censura \légica é quebrada” (ROSE, 1988, p. 14)". Assim, a contradigéo real entre setores emergentes e contestatérios demos, de um lado, e as facgées das classes dominantes, de outro, entio, representada pelo contetido manifesto da narrativa desta gem da Iliada n8o como um conflito social legftimo, mas como E possivel distinguirtrés vertentes de interpretaco desta passagem na bibliogra- especializada: uma que minimiza a conotac8o sécio-politica da passagem ao ntar que Tersites nBo representa alguém de status social inferior, atando-0 10 uma figura t80 somente cBmica € literéra (cf. LOWRY, 1991, NAGY, 1979, 'P. 253-64, GEDDES, 1984), outra leitura concebe a passage como uma mera irmacéo da ordem aristocrdtica, por meio do castigo ao soldado comum que ‘a rebelarse. Esta interpretacdo tende a negligenciar o caréter contestatorio ‘do discurso de Tersites em raz da supervalorizacdo da eficcia do discurso artis- ocrético dominante, muitas vezes reproduzindo 0: prOpris (pre) julgamentos do Iharrador e de Odisseu sobre Tersites como um individuo moralmente deficiente | ADKINS, 1960, p. 35), Hauser (1999 [1951], 30). Por fim, uma terceira via de Fetacao, na qual me filo, entende a passagem como uma fissura no c6digo ‘ersico das classes dominantes, sendo Tersites um personager do povo ordinério “eujo discurso deve ser valorizado na medida em que traz a tona a vor dissidente © Temergente de uma classe social distinta daquela dos herbis da lida (cf. STUUR: MAN, 2004, ROSE, 1988). J. "hacer ofr por primera ver la vor del pueblo en la historia de Grecia’ if the general absence of the vast majority of the Achaian population from the lad constitutes its primary ‘structured. silence; the appearance of Thersites may feoresent a privileged moment when the strategy of ideological censorship 63 64 ANTIGAS LEITURAS | Dislogos entre a histéria ea literatura uma queixa isolada'*, descabida”, desqualificada", risivel”, advinda de um soldado feio® e igndbil chamado Tersites. Ao fazer isso, a narrativa individualiza e desmerece o conflito a ponto de anulé-lo, atribuindo-o aos vicios fisicos e psicolégicos de Tersites. A resolucao magica da contradicao de classes ~ tépico principal do primeiro nivel de interpretacao - é, assim, efetuada gracas ao recurso de deslegiti mar 0 préprio adversério do membro da aristocracia, que, ao fim e 0 cabo, tem lugar devido ao esvaziamento de qualquer contedido politico e coletivo as reinvidicacGes de Tersites. Dessa forma, a caracterizagdo de Tersites promove um forte contraste €em relagSo aos outros personagens, dentro daquilo que individualiza um personagem dentro de uma dada histéria, ou seja, os aspectos fisicos, comportamentais e mentais. Como nota Margolin (2007, p. 74), isso faz com que a distingao do personagem em relacSo aos outros seja maxima, contribuindo, neste caso, para acentuar o estatuto social inferior e mes- mo anti-heroico de Tersites comparativamente aos demais personagens. 16. Assim, escutamos pela voz do narrador no verso 212: *S6 Tersites de fala des- medida continuava a tagarelar” [xpom¢ 6! &n podvor dqetpoemtigéxoh« al, pela vor de Odisseu no verso 247 "Nao queria entra, sozinho, em conto com res” [pn Ber’ ofos épiGéevar Baeiow). 17, 213-4: “ele [Tersites] que no esprto tinha muita efeiaspalavrs,/ sem nexo € sem propésito, para vlipendiar 0s res” [8c p" tea gpeoiv {ow Gixopd te Wodd re fn / peiy dap oF Kae xGopov Epitepevar Baorhetonv]. 18. 200-2: “Desvairadol Senta-tesossegado e ouve o que dizem os outros, / melhores ‘que tul No passas de um cobarde, de um fraco! / Nao contas para nada, nem na guerra, nem pelo conselho [Bayisw’, arpéyas fiz0 xai GANov piBov dxove, / of £0 gi prepot cian, oi 8 &reeShquog Kai Givahnic /oté wor kv woke Evapi6j10¢ oti’ évi BounG.] 19. 215-6; "embora o que acaso Ihe ocorresse dizer fizesse surgi oriso entre os Ar- ‘ivos" [&AN' 5 n of eloaro yehotiov Apysiowow Fypevan.] 20. 216:9: “Era o homem mais feio que veio para ion: tinha as pemnas tortas e era oxo num pé; os ombros eram curvados, dobrando-se sobre 0 peito. A cabeca a pontiaguda, donde despontava uma rara lanugem” fataysoros 8: dvip im “Dhow NBs / goede Env, xohds 8 Erepov mbar BE of deo Kupio i orBos ovvoxioxére abap tmepbe / pokdc Env xegahiy, yeBvi 8 Emeviivobe Aan] 21. 248-9: "Pois eu afirmo que nao hd criatura mais abjecta que tu, / entre todos que para debaixo de lion vieram com os Atridas" [ot yap eyo of0 gyi xepexdtepov Bpordv GdAov / Fupevar, Sao Gy" ArpetBgg dmb “Troy AAGov.] CAPITULO 3 | Felix JScome Neto Assim, de acordo com a abordagem de Konstan, a questao ptiblica lcral levantada por Tersites, concernente a prdpria legitimidade po- ica do comandante da armada grega, ¢ tratada na narrativa como is um insulto sem razao advinda da vileza de um individuo. A cena al do passo, com o golpe fisico promovido contra Tersites por Odis- na tentativa de silencié-lo definitivamente e a aclamacdo favoré- | 2 Odisseu por parte do restante da armada dissolve 0 potencial testatdrio do discurso de Tersites, mantendo a aparente harmonia re as classes sociais. Na segunda dimensao interpretativa, como foi visto na primeira te do artigo, a tarefa do investigador consiste em tornar visiveis as sBes € conflitos, em partes inconscientes, presentes nos ideologe- las de classe, jé que nesta fase da abordagem o texto é concebido MO parte de discursos coletivos de classes. Assim, é necessério des- Nstruir a aparente unidade da contradicao formal do primeiro nivel andlise a fim de expor os elementos conflitantes que compéem harménia aparente. Neste segundo momento de andlise, portan- a obra literaria nao € mais vista como um todo coerente que neu- liza as contradicdes, mas antes é percebida através de vozes cujas de mundo fazem aparecer as contradig6es dentro da propria rrativa, o que é revelador dos conflitos reais que subrepticiamente tam no reino do discurso, como sustenta Nimis (1986, 222) so- a lliada: A Ilfada articula uma crise no discurso, ou seja, uma crise na pré- ria forma de organizac3o social, e esta crise é de certo modo enraizada nas condic6es materiais da época. No reino do discurso, tal crise significa que as contradicdes subjacentes a estrutura da Sociedade tornaram-se insustentdveis e sua mistificaco ideolégica rompida®. The liad articulates a crisis in discourse, which isto say a crisis in the very form (of social organization, and this crisis is somehow rooted in the material conditions ‘of the times. In the realm of discourse, such a crisis means that the contradictions Underlying the fabric of society become untenable and their ideological mystfca tion breaks down, 65 ANTIGAS LETTURAS | Dislogos ene a hiséria ea literatura Desse modo, para que seja possivel restituir 0 cardter dialégico do texto faz-se necessério trazer & tona a voz das classes negligenciadas pelo texto literério, visto que estas fazem parte do didlogo do texto, ainda quando sao recalcadas e censuradas pela voz dominante do relato literdrio: Na verdade, de uma vez que, por definigao, os monumentos cul- turais e as obras-primas que sobreviveram tender necessariamen- te a perpetuar apenas uma tinica voz nesse didlogo de classes, a voz de uma classe hegeménica, eles no podem ocupar um lugar telacional no sistema dialégico sem a restauragao ou reconstru- 640 artificial da voz a que inicialmente se opunham, uma voz em grande parte abafada e reduzida a0 siléncio, marginalizada, cujas Palavras foram espalhadas pelo vento ou reintegradas na cultura hegeménica JAMESON, 1992 [1981], p. 78). Assim, 0 reavivamento da polifonia originéria do texto através da identificagdo dos ideologemas de classe € condicao para, consoante 08 dizeres de Macherey (1989 [1966], p. 91), “dar-lhe [a obra literd- ria] inscricdo na historia ideolégica que fornece 0 encadeamento das questées, o fio das problematicas’. Para tal, & preciso estar atento aos Personagens que eventualmente atuam como porta-vozes para certos ideologemas, como penso ser 0 caso dos discursos de Odisseu e Ter- sites dentro da crise da armada no segundo canto da lliada. Pensan- do desta forma, o segundo horizonte interpretativo, surge, portanto, como a apresentagio de conflitos ndo resolvidos que se manifesta na variedade de discursos de classes e status sociais. Visto isso, € possivel avangar um pouco mais em direc3o aos po- emas homéricos. Eu percebo trés blocos de ideologemas em torno das classes sociais, que séo as unidades organizadoras do discurso neste segundo horizonte interpretativo. Dentro da classe dominante da sociedade apresentada nos poemas, que forma o primeiro blo- 0 de ideologemas, temos dois ideologemas distintos. De um lado, temos um ideologema baseado na alegacao hereditéria de poderes estabelecidos em torno de algo proximo a aristocratas, de outro lado, CAPITULO 3 | Fel Jacome Neto sivel visualizar um ideologema que consiste na unidade do dis- de uma elite baseada em um poder fragil exercido por chefes is6rios, a0 molde das chefaturas estudadas pela antropologia. O lundo e terceiro blocos de ideologemas esto presentes nos po- de forma nao explicita e mediada pelo discurso do primeiro {0 jé mencionado, o que dificulta sua identificac3o. Desse modo, }0 segundo grupo de unidades minimas de discurso de classe ha a quase inaudivel dos agricultores pequenos proprietérios, que for- iam um setor médio da sociedade. Por fim, como terceiro bloco ideologema, temos a voz das classes mais forterente exploradas, 95 escravos, os trabalhadores por didria e os mendigos” A passagem da Iliada em que surge o personagem Tersites é lis uma vez ilustrativa. Como jé foi argumentado, Tersites surge 10 uma voz dissidente dentro do cédigo herdico que permeia a lor, de contradigées na narrativa. Assim sendo, certos momentos Narrativa entram em conflito com aspectos daquele tratamento Passagem apresentado quando eu me referia ao primeiro hori- le de interpretacao. Por exemplo, o pretenso isolamento de Ter- como agente conflitante é contradito tanto pelo verso 223 do to II, onde € dito que “muito irados contra ele [Agamémnon] fam 0s Aqueus no coracéo” [2xnayhaos koréovro vewéconBév vi Bung], como pelos versos 236-8 do mesmo canto, onde ites discursa ndo como "eu", mas como “nés", identificando-se, 67 68 [ANTIGAS LEITURAS | Dislogos entre a histriae a literatura com boa dose de certeza, aos aqueus que se encontravam agasta- dos com a condugo da guerra por Agamémnon**. A nivel epocal-hist6rico, Ultimo no qual se relaciona o texto lite- ratio, defendo que 0 periodo geométrico tardio, que corresponde {20 grosso do referencial histérico do texto, foi um dos momentos que se pode falar, de acordo com Jameson, de “revolugao cultural”, onde a codificagao ideolégica hegeménica, que atribui o sentido que configura idealmente 0 modo de produgdo dominante, est sob aguda disputa. Isto se verifica gracas a profunda “revolucso estrutural”® verificada no século oitavo, conhecida como “renasci- mento grego”*. A base material deste fendmeno caracteriza-se, ba- sicamente, pela ascensio da agricultura como base da economia”, pelo aumento da populasao.2* que pode ter promovido uma maior disputa pelas melhores terras®, sendo que uma parcela da elite, 24, Note 0 uso do pronome pessoal “nés" [iysic] (verso 238) ¢ a utilizagao dos ‘verbos “regressemos" [vecipe€al] e “deixemos" [2dpev] (verso 236), ambos na pri ‘eira pessoa do plural. 25. Concordo com Marts (2009, 64-5) que, nao obstante a relativizagSo da impor ‘ancia das mudangas ocorridas no século oitavo por estudiosos da década de 90 do século passado, justfica-se ainda o termo “revolucao estrutural’, cunhado por Snodgrass (1980) para o século oitavo. 26. Denise a abundante literatura acerca do “renascimento grego", ver Coldstream (2003 [1977], p. 217-340), Whitley (1991, p. 39-45) e Crieelard (1995) 27.0 que ndo implica sustentar a tese de uma passagem linear do pastoralismo da idade obscura’ para a agricultura advinda dentro do processo das mudancas do século oitavo. Como Farenga (2006, 40) estou inclinado a pensar a economia da *\dade obscura" enquanto uma economia concomitantemente pastorial e agricola, sendo 0 decorrer do século Vill 0 momento da formacBo de uma economia pre: dominontemente agricola. Sobre o cardter eminentemente agricola do século Vil ser Osborne (2007, p. 295-6), Donlan etal. (1999, p. 71-2) € sager e Skydsgaard (1992, p. 19-43). Morris (2009,67-8), por sua vez, fala em intensificacao da produ {ho agricola, nesta época em que o Controle sobre a terra era crucial (cf. MORRIS, 2007, p. 233). 28. A tese do aumento da populacéo grega durante o século Vill deve-se, conside- ravelmente, 20 crescimento do nimero de tumbas visiveis encontradas na cultura material, €, assim, inferido por muitos especialistas que isto indica um aumento da opulacéo; embora a magnitude deste aumento seja matéria de controvétsa, Rela Evamente isto, ver Snodgrass (1980, p. 15-48), Morris (1987, p. 73, 157, 159). 29, Gerando, assim, duas classes sociais economicamente opostas: os polukleroi (com muitos lotes de terras) € 05 akleroi (sem lote de terra). Sobre isto ver Gschnitzer CAPITULO 3 | Félix Jacome Neto lemergentes aristocratas, possivelmente passou a controlar as terras mais férteis, "Estas mudangas sociais balizadas no aumento da populacso po- m, assim, ter precarizado a vida dos grupos sociais economica- jente fragilizados, aumentando a pobreza, a quantidade de escra- , bem como os sem-terras, a0 passo que forcou uma parcela da pula¢ao a procurar uma vida melhor na colonizago rumo ao les- 2 Neste cenério, a desigualdade social entre 0 “povo" e a “elite” ntuou-se consideravelmente", enquanto que, dentro desta tltima, grupo mais antigo e remanescente do ideério de elite da "idade ura” lutava contra a nova elite baseada no controle das melhores as € na alegacdo de poder hereditario, de propriedade privada e Givinizacdo através do nascente culto herdico que tendia a associar classe aristocrética nascente aos herdis divinizados do passado, fun- nando, assim, como uma fonte superestrutural de legitimag3o da toridade desta nova elite. Regressando aos poemas homéricos, hé uma profunda divergéncia fe 05 estudiosos no que tange & configuracao das relagdes de poder e 0s distintos grupos sociais representados no épico. Para uns, no Poder institucionalizado no mundo homérico, uma vez que a rela- entre lideres e liderados baseava-se em poder pessoal e transité- , como tais, frageis, j6 que a emergéncia de novos lideres coincidia 9051961, p. 53-5). Donlon et (1985p. 96-70) e Moris (2007p. 231) sta € a hipdtese explicativa de Donlan et al. (1999, : " jonlan , 66-70), @ qual tam i. andy (1997. 1354) cone um aconecnento say Cresherse eso sol ecorente do crescento do populaco, que gerou exaiez de i lestas, aliado a0 aumento da riqueza sponivel para Hes fruto da presena de excedentes em produtos, No enano, 0 referido autor a este proceso como posterior a0 mundo homéricoe contemporsneo a fo. Todavia, a profunda discrepancia que o autor concebe entre a sociedade 2 da fodo €, da epoca de Homero ¢aquela de Hesiodo €, meu ver, jutamente 0 ponto J 0 aprofundamento da estratifica " ificagdo social durante 0 “renasciment * bigecindo, dee outs iatore, pelo aero dos coms dos als ose Sim to do casa dos mals pobres (ch, MORRIS, 2009, p. 69; MAZARAKIS AINIAN, £006), como também pelos bens de prestgios enconttados nas tumbas dos ividuos das classes dominantes (cf. MORRIS, 1999). 69 70 [ANTIGAS LEITURAS | Didlogos ene a histéria ea literature com a formagio de pélos concorrentes de poder pessoal. Antropolo- gicamente falando, sociedades deste tipo seriam similares as socieda- des lideradas por chefes tribais ou “grandes homens” (big-men), tais como as sociedades melanésias estudadas por Sahlins (1963), onde o status social do individuo é conquistado (achieved status). Para outros, ‘a natureza das relades de poder entre os grupos sociais seria 0 oposto disto, ou seja, a autoridade derivaria de cargos institucionalizados, com suficiente impessoalidade nas relagdes de poder. Estes cargos estariam, na época dos poemas, investidos por uma elite aristocrata que possuia uma considerdvel estabilidade politica. Em termos antropolégicos, 2 sociedade homérica estaria, portanto, mais préxima as formagdes es- tatais e classistas, onde o status social é recebido ou herdado (ascribed status)®. Por fim, a insatisfacdo com os dois pélos explicativos acima tem gerado uma explicacao intermediaria, que entende a configuragéo politica da sociedade homérica como algo mediano entre uma socieda- de tribal e uma sociedade estatal, a partir da interpretaco de que tanto as alegasées feitas nos poemas em nome de principios iguelitérios de sociedades no estratificadas como aquelas que parecem sugerit forte hierarquia social através de poderes estabelecidos fazer parte, sobre- tudo, do mesmo contexto intelectual de crise de legitimidade dentro do campo politico no qual estavam inseridas as classes domninantes da época em que foram feitos os poemas™. Dessa maneira, percebe-se que as posicdes divergentes entre os homeristas situam-se dentro de um surreal cenério em que coexistern teses que vio desde o entendimento da sociedade homérica como igualitéria e tribal até a visio do mundo homérico como classista € estatal. A meu ver, um dos motivos que explicam este amplo e contra- ditério quadro de interpretacées reside no fato de que parte conside- r4yel destes estudos sobre a sociedade homérica parte do pressuposto de que 0 relato literdrio, enquanto fonte histérica, néo poderia con- 32. Ck. Quiller (1981), Geddes (1984), Hall (2006), Donlan (1997; 1989). 33, Cf, Van Wes (1995, 166; 2002), Carlier (2006), Gschnitzer (2005 [1981], P. 43:70). 34, Cf, Thalmann (1998). ‘CAPITULO 3 | Félic Jdcome Neto informacdes contraditérias sobre © mesmo assunto, o que leva- © investigador a eleger uma tnica caracteristica como verdadeira qualificar os aspectos contraditérios corno anomias, quando nao ligencié-los. Dessa forma, tantos referenciais explicativos existirao tas caracteristicas tinicas puderem ser extraidas dos poemnas, em al a partir de uma escolha tendenciosa de passos do texto. No entanto, a literatura n3o é uma fonte histérica unissona, pelo rério, € um tipo de discurso substancialmente polifénico. Esta ralidade e contraditoriedade de visoes de mundo e de dados so- a realidade histérica so ainda mais esperadas dentro de uma jca composta oralmente ao longo de geracdes. Sendo assim, uma dagem da literatura como proposta por Jameson tem 0 mérito fazer justica 3s particularidades discursivas do tipo de fonte para historiador advindo de uma obra literdria. Dessa forma, a coexis- ia em Homero de alegacdes que concomitantemente sustentam negam formas de poder estabelecidas, por exemplo, surge como smentos advindos de resquicios de modo de vida passado ~ séculos 1uros — e emergencia de mensagens simbdlicas de um novo modo producéo balizado pela agricultura e pela producao de exceden- de produtos. Sendo assim, as vozes contraditérias que devem ser mmembradas na andlise, longe de provar que Homero nao possui f hist6rico porque coabitaria formas histéricas contraditorias”, stram, na verdade, 0 pano de fundo da luta ideolégica e hist6rica {que 0s grupos sociais estavam envolvidos na transigéo da “idade ura” para 0 periodo arcaico da historia da Grécia. Entio, conforme o terceiro horizonte de andlise proposto por Ja- sn, Tersites, enquanto uma representacao literéria e ideolégica de tipo social, surge como porta-voz de uma mensagem simbélica rergente, dado que se trata de "um novo nivel de auto-consciéncia antecipa 0 movimento posterior em direcéo a limitagéo da lide- Como parece ser a ideia de Osborne (2009 [1996], p. 140-52), que percebe % organizacao politica dos poemas homéricos como uma construcao lterria. € forhistrica que utlzou das caractertsticas de épocas histricas disintas, uma dominada pelos res e outra pelos aristocratas. m1 72 [ANTIGAS LEITURAS | Didlogos entre a histéria ea literatura ranca da elite pelos até entao impotentes povo do demos” (ROSE, 1997, p. 161-2), Nesse sentido, Tersites pode ser concebido como 0 eco de uma recente luta politica no tempo de Homero”, que evidencia que o poder simbélico hegeménico esta sob causa, abrindo espaco para a voz do homem comum nas assembleias, algo que deveria ser muito mais corrente do que faz parecer 0 poeta da Ilfada" Seguindo a linguagem lacaniana, com a qual Jameson trabalha, © principal niicleo traumético nao simbolizével contido nos poemas = esfera tiltima de inteligibilidade do inconsciente politico - é, com efeito, a recente fissura dentro do demos relativamente homogéneo da “idade obscura’, ocorrida por conta das jé mencionadas mudancas sociais do século citavo, além dos conflitos sociais decorrentes disto, exemplificado pela passagem de Tersites na Iliada. Desse modo, a parte do demos deslocada do acimulo de riquezas proporcionados pela “revolucdo estrutural” do século oitavo no tem lugar nos poe- ‘mas homéricos senao em forma de aparigdes espectrais, que € a parte que © real (a parte da realidade que permanece nao simbolizada) reaparece”. Ja na Odisseia, os dependentes do oikos de Odisseu e os escra- vos so relativamente bem descritos, enquanto os homens livres nao. nobres esto quase ausentes da narrativa. Uma hipétese que levan- to € que a descricao dos escravos e dependentes funcionava como um complemento “inofensivo" das atividades quotidianas dos nobres (aristo) do poema, tanto em guerra como em paz, através de uma dada naturalizagao de que os homens eram divididos entre os aristoi e aqueles que nao tinham capacidade de viver independentemente do chefe do oikos. Por outro lado, os homens livres, como Tersites ou 0 36. "a new level of self-consciousness that anticipates the later movernent toward res- ‘raint of elite leadership by the previously powerless people of the demos’ 37. cf, Willlcock, (1970, p. 50). 38. CI. Koiv (2002, p. 5). 39. cf, Zizek (1994, p. 21). CAPITULO 3 | Félix JScome Neto povo “comum’” de Itaca, ndo estavam em uma posicao social to sub- missa, relativamente aos aristoi, quanto 0s escravos e os dependentes, como também nao havia contra os homens livres uma ideologia que naturalizasse, de forma to destacada, a superioridade dos aristoi Nesse sentido, Homero teria silenciado, em larga medida, o papel na guerra e na vida politica justamente deste novo estrato social no tao bem integrado numa ordem social que os aristoi dominavam ou, mais possivelmente, desejavam dominar. Dessa forma, este elemento silenciado conforma-se na propria possibilidade de idealizar-se uma sociedade homogénea e fechada de herdis aristocratas. Isto por ser concebido, nos termos de Zizek (1992, p. 124), como uma “fantasia social”, “que € precisamente a maneira como a clivagem antagénica é mascarada’’ Para Zizek (1992, p. 124), 0 método basico da “critica da ideologia" consiste justamente em “identificar, num dado edificio ideolégico, o elemento que repre- senta sua prépria impossibilidade”. No caso da ideologia dominante que configura a maior parte do épico homérico, aquilo que expée a sua propria impossibilidade de ser uma sociedade homogénea de emergentes aristocratas ¢ a presenga de um setor do demos insatisfei- to com a discrepancia econémica e politica surgida com as transfor- mages sociais advindas do “renascimento grego" Sendo assim, a passagem de Tersites j4 debatida, enquanto sinto- ma de um conflito subjacente entre “ricos” e "pobres", configura-se ‘como expressdo estética da dissidéncia de sujeitos sociais contra uma organizacao sécio-politica pretensamente cristalizada e justificada por ‘uma prdtica discursiva que atribui a esses sujeitos que enunciam essas, ‘yozes marginalizadas e de contestacao um lugar particular e alegada- ente definitivo. Desse modo, quando os agentes sociais subalter- izados reelaboram suas posigoes na sociedade, promovendo algu- f consciéncia da subalternidade, questionam o discurso ideolégico ue the impde um lugar social fatalista ou definitivo, confrontando poder que Ihe atribui essa posicao, abrem, entéo, o horizonte para udangas socials. Transformagdes estas que serdo sentidas com mais igor na insistente luta de classes dos perfodos seguintes, visiveis so- 23 74. | ANTiGAs LETTURAS | Didlogos ente a histéria ea literatura bretudo nas reformas e mudangas de regime politico do perfodo ar- caico grego*. Sendo assim, como observa Van Wes (1997, p. 166), um proe- minente papel na narrativa no implica, necessariamente, um papel decisivo na realidade histérica. Desse modo, perscrutar 0 inconsciente politico da literatura grega ajuda-nos a ter uma visdo mais holistica do mundo helénico, na medida em que langa um olhar mais atento 0s personagens € grupos marginalizados por essas fontes escritas, ja que estas foram majoritariamente fabricadas conforme a visdo de mundo e os pré-julgamentos das classes dominantes. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ADKINS, A.W.H. Merit and Responsibility: a Study in Greek Values. Oxford: Clarendon Press, 1960. BAL, M. Narratology Introduction to the Theory of Narrative. 2. ed Toronto/Buffalo/London: University of Toronto Press, Scholarly Publishing Di- vision, 1997, CARDOSO, CF. Narrativa, Sentido, Histéria. Campinas: Papirus, 1997 CARLIER, P, Anax and basileus in the Homeric poems. In: DEGER JALKOTZY, 5. LEMOS, LS. Ancient Greece: from the mycenaean palaces to the Age of homer. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2006. COLDSTREAM, J.M. Geometric Greece. 900-700 BC. New York: Routledge, 2003 [1977]. CRIELAARD, J.P. 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HETAIRESIS' OU HOMOSSEXUALIDADE: ELACOES ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO EM PECAS GREGAS E NOS DIAS ATUAIS Anderson Vicente da Silva Luis Henrique Bonifacio Estas orientacées intimas correspondem a conjuntos normativos bastante diferenciados, que dao origem a juizos de valor bastante severos sobre os individuos cujos comportamentos se inscrevem em orientagbes diferentes. (BOZON, 2004, p. 138) Qual a importéncia da antiguidade para o presente? Por que de- s estudar um periodo da histéria que ndo mais existe? O que a ver as problematicas do mundo antigo com as atuais? Essas s50 juntas que norteiam o imaginério de pesquisadores e estudiosos historia e de outras ciéncias, que se dedicam a compreender 0 m e sua cultura. Os conflites, as lutas étnicas, os preconceitos problematicas que compdem as relacdes sociais do mundo atual. ia, que conexGes podem se estabelecer entre esses processos so- is € © mundo antigo? Este é o propésito deste ensaio. Buscaremos tar neste trabalho alguns pontos importantes para compreender }0 a homossexualidade foi representada em pecas (comédias) te- fis ao longo da historia do povo grego e como esse fendmeno ral influenciou a ideias que temos hoje acerca dessa orientacéo wal. Termo grego utilizado pelos atenienses para designar companheitos de mesmo (Cf. DOVER, 2007, p. 38 e 47).

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