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Caio Fernando Abrea- Aquoles dois hip://www-releituras.com/eaioabrew_dois.asp oe Pet releituras - téxtos” : : Prieto loa [ Principal }[ Biografias }{ Releituras ][ Novos escritores ] schimaide Noguera a Aqueles dois (Historia de aparente mediocridade 0 ropressso) Caio Fernando Abreu ora fofran Femandes: “Tamounce adhesiveness, [say shall be ls, luipocen Tsay you shal yet fa the Iran youwere ooking foe> ‘(ale intone 50 tong) Menu do Autor A verdade & que no havia mals ninguém em volta. Meses depois, no no comego, um deles diria que a repartigio era como “um deserto de aimas". O outro concordou sorrindo, orgulhoso, sabendo-se excluldo. E longamente, entre cervejas, trocaram ent dcidos comentarios sobre as mulheres mal-amadas ¢ vorazes, os papos de futebol, amigo secreto, lista de presente, bookmaker, bicho, endereco de cartomante, clips no relégio de ponto, vezenquando salgadinhos no fim do expediente, champanha nacional em copo de pléstico. Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato 2 outra — talvez por isso, quem sabe? Mas nenhum se perguntou. Nao chegaram @ usar palavras como "especial", “diferente” ou qualquer coisa | assim. Apesar de, sem efusées, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto. Acontece porém que no tinham preparo algum para dar Nome as emocées, nem mesmo para tentar entendé-las. No que fossem Muito jovens, incultos demas ou mesmo um pouco burros. Raul tinha um ‘ano mais que trinta; Saul, um menos. Mas as diferencas entre eles ndo se limitavam a esse tempo, a essas letras. Raul vinha de um casamento fracassado, trés anos e nenhum fitho. Saul, de um noivado téo interminavel que terminara um dia, e um curso frustrado de Arquitetura, Talvez por isso, desenhava, Sé rostos, com enormes olhos sem fris nem pupilas. Raul ouvia musica e, as vezes, de porre, pegava o violfo ¢ cantava, principalmente velhos boleros em espanhol. E cinema, os dols gostavam. Passaram no mesmo concurso para a mesma firma, mas néo se encontraram, durante os testes. Foram apresentados no primeiro dia de trabalho de cada um, Disseram prazer, Raul, prazer, Saul, depois camo é mesmo o seu nome? sorrindo divertidos da coincidéncia. Mas discretos, porque eram novos na firma e a gente, afinal, nunca sabe onde estd pisando. Tentaram afastar-se quase imediatamente, deliberando limitarem-se 2 um cotidiano ol, tudo bem ou, no maximo, as sextas, um cordial bom fim de semana, entdo, Mas desde © principio alguma coisa — fados, astros, sinas, quem saberd? consplrava contra (ou a favor, por que néo?) aqueles dois, ‘Suas mesas ficavam lado a lado. Nove horas diérias, com intervalo de uma Para o almoso. E perdidos no meio daquil que Raul (ou teria sido Saul?) chamaria, meses depois, exatamente de "um deserto de almas", para néio sentirem tanto frio, tanta sede, ou simplesmente por serem humans, sem lof? 4/16(2012 12:02 PM Caio Fernando Abreu Aqueles dois, -utp./www.releituras.com/eaioabreu_dois.asp querer justifici-los. — ou, ao contrério, justificando-os plena_e | profundamente, enfim: que mais restava aqueles dois sendo, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem? Pols foi 0 que aconteceu, Tao lentamente que mal perceberam. 1 Eram dois mogos sozinhos. Raul tinha vindo do norte, Saul tinha vindo do | sul. Naquela cidade, todos vinham do norte, do sul, do centro, do leste — com isso quero dizer que esse detalhe ndo os tomaria especialmente diferentes. Mas no deserto em volta, todos 0s outros tinhiam referenciais, uma mulher, um tio, uma me, um amante. Eles néo tinham ninguém naquela cidade — de certa forma, também em nenhuma outra —, a ndo ser a si préprios. Diria também que no tinham nada, mas ‘nao seria inteiramente verdadeiro. Além do violéo, Raul tinha um telefone alugado, um toca-discos com radio & um sabld na galola, chamado Carlos Gardel. Saul, uma televisdo colorida ‘com imagem fantasma, cadernos de desenho, vidros de tinta nanguim e um, livro com reprodugées de Van Gogh. Na parede do quarto de penséo, uma ‘outra reproducéo de Van Gogh: aquele quarto com a cadeira de palhinha parecende torta, a cama estrelta, as tébuas do assoalho, colocado na parede ‘em frente cama. Deltado, Saul tinha as vezes a impresséo de que o quadro era um espelho refletindo, quase fotograficamente, © préprio quarto, ausente apenas ele mesmo. Quase sempre, era nessas ocasiées que desenhava: Eram dois mocos bonitos também, todos achavam, As mulheres da reparticdo, casadas, solteiras, ficaram nervosas quando eles surgiram, to altos € altivos, comentou, olhos arregalados, uma das secretérias. Ao contrario dos outros homens, alguns até mais jovens, nenhum tinha barriga, ‘ou aquela postura desalentada de quem carimba ou datilografa papéis ito horas por dia. Moreno de barba forte azulando o rosto, Raul era um pouco mals definido, ‘com sua voz de baixo profundo, to adequada aos boleros amargos que gostava de cantar. Tinham a mesma altura, 0 mesmo porte, mas Saul parecia um pouco menor, mais frégil, talvez pelos cabelos daros, cheios de caracbis mitides, olhos assustadicos, azul desmaiado. Eram bonitos juntos, diziam as mocas. Um doce de olhar. Sem terem exatamente consciéncia disso, quando juntos os dois aprumavam ainda mals 0 porte e, por assim dizer, quase cintilavam, 0 bonito de dentro de um estimulando 0 bonito de fora do outro, e vice-versa. Como se houvesse entre aqueles dois, uma estranha e secreta harmonia, m Cruzavam-se, silenciosos mas cordiais, junto garrafa térmica do cafezinho, comentando © tempo ou a chatice do trabalho, depois voltavam as suas mesas. Muito de vez em quando, um pedia um’ cigarro ao outro, e quase ‘sempre trocavam frases como tanta vontade de parar, mas nunca tentei, ou 44 tentei tanto, agora desist!. Durou tempo, aquilo. E teria durado muito mais, porque serem assim fechados, quase remotes, era um jeito que traziam de longe. Do norte, do sul ‘Até um dia em que Saul chegou atrasado e, respondendo a um vago que que houve, contou que tinha ficado até tarde assistindo a um velho filme na televisio. Por educagéo, ou cumprindo um ritual, ou apenas para que 0 outro no se sentisse mal chegando quase 4s onze, apressado, barba por fazer, 2087 4/16/2012 12:02 PM Caio Fernando Abreu - Aquoles dois Iup://worweleituras.com/caioabreu_dois.asp Raul deteve os dedos sobre o teclado da maquina e perguntot: que filme? Infémia, Saul contou baixo, Audrey Hepburn, Shirley MacLayne, um fllme muito antigo, ninguém conhece. Raul olhou-o devagar, e mais atento, como ninguém conhece? eu conhego e gosto muito. Abalado, convidou Saul para um café e, no que restava daquela manhd muito fria de junho, o prédio felo | mals que nunca parecendo uma priséo ou uma clinica psiquidtrica, falaram sem parar sobre 0 filme, Outros filmes viriam, nos dias seguintes, ¢ tio naturalmente como se de alguma forma fosse inevitével, também vieram histérias pessoais, passados, | alguns sonhos, pequenas esperanca e sobretudo queixas. Daquela firma, daquela vide, dequele nd, confessaram uma tarde cinza de sexta, apertadd no fundo do peito, Durante aquele fim de semana obscuramente desejaram, pela primeira vez, um em sua quitinete, outro na pensdo, que 0 sébado ¢ 0 | domingo caminhassem depressa para dobrar a curva da mela-noite e novamente desaguar na manhS de segunda-feira quando, outra vez, se encontrariam para: um café. Assim foi, e contaram um que tinha bebido além da conta, outro que dormira quase 0 tempo todo. De muitas coisas falaram aqueles dois nessa manhé, menos da falta que sequer sabiam laramente ter sentido, Atentas, as mocas em volta providenciavam esticadas aos bares depois do expediente, gafieiras, discotecas, festinhas na casa de uma, na casa de outra. A principio esquivos, acabaram cedendo, mas quase sempre enfiavam-se pelos cantos e sacadas para contar suas histérias Interminavels. Uma noite, Raul pegou o violso e cantou Ti Me Acostumbraste. Nessa mesma festa, Saul bebeu demais e vomitou no banheiro, No caminho até os téxis separados, Raul falou pela primeira vez no casamento desfeito. Passo incerto, Saul contou do nolvado antigo. E concordaram, bébados, que estavam ambos cansados de todas as mulheres do mundo, suas tramas complicadas, suas exig&ncias mesquinhas. Que gostavam de estar assim, agora, 56s, donos de suas proprias vidas. Embora, isso no disseram, n&o soubessem que fazer com elas. Dia seguinte, de ressaca, Saul no foi trabalhar nem telefonou. Inquieto, Raul vagou o dia intelro pelos corredores subltamente desertos, gelados, cantando baixinho 7 Me Acostumbraste, entre inuimeros cafés e melo maco de cigarros a mais que o habitual, Ww Os fins de semana tornaram-se to longos que um dia, no meio de um papo qualquer, Raul deu a Saul o nimero de seu telefone, alguma colsa que voce recisar, se ficar doente, a gente nunca sabe. Domingo depeis do elmoco, Saul telefonou s6 para saber o que o outro estava fazendo, e visiteu-o, ¢ jantaram juntos a comidinha mineira que a empregada deixara pronta sdbado. Foi dessa vez que, dcidos e unidos, falaram no tal deserto, nas tais almas. Ha quase sels meses se conheciam, Saul deu-se bem com Carlos Gardel, que ensaiou um canto timido ao cair da noite. Mas quem cantou fol | Raul: Perfiaia, La Barca e, a pedido de Saul, outra vez, duas vezes, Ti) Me Acostumbraste, Saul gostave principalmente daquele pedacinho assim sutil llegaste a mi como una tentacién lenando de inquitud mi corazén. Jogaram algumas partidas de buraco e, por volta das nove, Saul se fo. Na segunda, no trocaram uma palavra sobre o dia anterior. Mas falaram mais que nunca, e muitas vezes foram ao café, As mogas em volta esplavam, &s vezes cochichando sem que eles percebessem, Nessa semana, pela | primeira vez almogaram juntos na pensto de Saul, que quis subir ao quarto ara mostrar os desenhos, visitas prolbidas & noite, mas faltavam cinco para 30f7 ‘4/16/2012. 12:02 PM Caio Fernando Abreu- Aqueles dois hup:/ferwow.releituras.conveaioabreu dois.asp {as duas e 0 religio de ponto era implacdvel. Salam e voltavam juntos, desde entéo, geralmente muito alegres. Pouco tempo depois, com pretexto de assistir a Vagas Estrelas da Ursa na televisdo de Saul, Raul entrou escondido nna penséo, uma garrafa de conhaque no bolso interno do paleté. Sentados no chéio, costas apoiadas na cama estreita, quase no prestaram atengo no filme. No paravam de falar. Cantarolando Io Che Non Vivo, Raul viu os desenhos, olhando longamente a reproduce de Van Gogh, depois perguntou como Saul conseguia viver naquele quartinho to pequeno. Parecia sinceramente preocupado. Néo & triste? perguntou. Saul sorriu forte: a gente acostuma. ‘Aos domingos, agora, Saul sempre telefonava. E vinha. Almocavam ou Jantavam, bebiam, fumavam, falavam 0 tempo todo. Enquanto Rauil cantava = vezenquando &1 Dia Que Me Quieras, vezenquando Noche de Ronda —, Saul fazia carinhos lentos na cabecinha de Carlos Gardel, pousado no seu dedo indicador. As vezes olhavamse. E sempre sorriam. Uma noite, porque chovia, Saul acabou dormindo no sofé. Dia seguinte, chegaram juntos & repartic&o, cabelos mothades do chuveiro. As mogas no falaram com eles. Os funcionérios barrigudos e desalentados trocaram alguns olhares que os dois no saberiam compreender, se percebessem. Mas nada perceberam, hem os olhares nem duas ou trés pladas. Quando faltavam dez minutos para as seis, salram juntos, altos e altivos, para assistir ao Witimo filme de Jane Fonda, v Quando comecava a primavera, Saul fez aniversario. Porque achava seu ‘amigo muito solitério, ou por outra razo assim, Raul deu a ele a galola com | Carlos Gardel. No comego do vero, fol a vez de Raul fazer aniversdrio, E Porque estava sem dinheiro, porque seu amigo néo tinha nada nas paredes a quitinete, Saul deu a ele a reprodugio de Van Gogh. Mas entre esses dois aniversdrios, aconteceu alguma coisa, No norte, quando comesava dezembro, a mée de Raul morreu e ele precisou ~ assar uma semana fora. Desorientado, Saul vagava pelos corredores da firma esperando um telefonema que nao vinha, tentando em vao | concentrar-se nos despachos, processos, protocolos. A noite, em seu quarto, ligava a televiséo gastando tempo em novelas vadias ou desenhando olhos cada vez mais enormes, enquanto acariciava Carlos Gardel. Bebeu bastante, essa semana. E teve um sonho: caminhava entre as pessoas da reparticlo, todas de preto, acusadoras. A excecdo de Raul, todo de branco, abrindo os bragos para ele. Abracados fortemente, e téo proximos que um podia sentir 0 cheiro do outro, Acordou pensando mas ele é que davia estar de luto. Raul voltou sem luto. Numa sexta de tardezinha, telefonou para a reparticao Pedindo a Saul que fosse vé-lo, A voz de baixo profundo parecia ainda mais baixa, mais profunda, Saul fol. Raul tinha deixedo a barba crescer. Estranhamente, ao invés de parecer mais velho ou mais duro, tinha um rosto quase de menino. Beberam muito nessa noite. Raul falou longamente da mae — eu podia ter sido mais legal com ela, disse, e ndo cantou. Quando Saul estava indo embora, comegou a chorar. Sem saber ao certo 0 que fazia, Sau! estendeu a mo e, quando percebeu, seus dedos tinham tocado a barba crescida de Raul. Sem tempo para compreenderem, abragaram-se fortemente. E to préximos que um podla sentir 0 cheiro do outro: o de Raul, flor murcha, gaveta fechada; 0 de Saul, colénia de barba, talco. Durou Muito tempo. A mio de Saul tocava a barba de Raul, que passava 0s dedos Pelos caracéis mitidos do cabelo do outro, Nao diziam nada. No siléncio era Possivel ouvir uma torneira pingando longe. Tanto tempo durou que, quando Saul levou @ méo ao cinzelro, o cigarro era apenas uma longa cinza que ele 4087 4/16/2012 12:02 PM Caio Fernando Abreu Aquoles dois hup:/Avww.eleituras.com/caioubreu_dois.asp ‘esmagou sem compreender, Afastaram-se, ento. Raul disse qualquer coisa como eu néo tenho mais ninguém no mundo, e Saul outra coisa qualquer como vocé tem a mim agora, ¢ para sempre. Usavam palavras grandes — ninguém, mundo, sempre — & apertavamse as duas mos 20 mesmo tempo, olhando-se nos olhos | injetados de fumo © dlcool, Embora fosse sexta e no precisassem ir & | Teparticéo na manhé seguinte, Saul despediu-se. Caminhou durante horas | elas ruas desertas, chelas apenas de gatos © putas, Ein casey wants Carlos Gardel até que os dois dormissem. Mas um pouco antes, sem saber Por qu@, comegou a chorar sentindo-se s6 e pobre e feio ¢ Infeliz ¢ confuso e abancionado e bébado e triste, triste, triste. Pensou em ligar para Raul, mas ‘do tinha fichas e era muito tarde. Depols, chegou o Natal, 0 Ano-Novo que passaram juntos, recusando Convites dos colegas de reparticéo. Raul deu a Saul uma reproducso do Nascimento de Vénus, que ele colocou na parede exatamente onde estivera © quarto de Van. Gogh. Saul deu a Raul um disco chamado Os Grandes Sucessos de Dalva de Olivelra. 0 que mais ouviram fol Nossas Vidas, Prestando atengao no pedacinho que dizia até nossos beljos parece beljos de quem nunca amou, Foi na noite de trinta ¢ um, aberta a champanhe na quitinete de Raul, que Saul ergueu a taca e brindou a nossa amizade que nunca nunca vei terminar. Beberam até quase cair. Na hora de deitar, trocando @ roupa no banheiro, muito bébado, Saul falou que ia dormir nu, Raul olhou para ele disse voc tem um corpo bonito. Voc8 também, disse Saul, e balxou os oltos. Deitaram ambos nus, um na cama atrds do guarda-roupa, outro no Sofé. Quase a noite Inteira, um conseguia ver a brasa acesa do cigarro do gutro, furando o escuro felto um deménio de olhos incendiados, Pela manhé, ‘Saul fol embora sem se despedir para que Raul no percebesse suas fundas olheiras. Quando janeiro comegou, quase na época de tirarem férias — ¢ tinham + | planejado, juntos, quem sabe Parati, Ouro Preto, Porto Seguro — ficaram surpresos naquela manhé em que 0 chefe de seo os chamou, perto do melo-dia. Fazia muito calor. Suarento, 0 chefe fol direto ao assunto. Tinha Tecebido algumas cartas anénimas, Recusou-se a mostré-las. Pélidos, ouviram expresses como “relacdo anormal e ostensiva", “desavergonheds aberragéo", “comportamento doentio", “psicologia deformada", sempre assinadas por Um Atento Guardigo ‘da Moral. Saul baixou ‘os olhos desmaiados, mas Raul colocou-se em pé. Parecia muito alto quando, com uuma das mos apoladas no ombro do amigo e a outra erquendo-se atrevida no ar, conseguiu ainda dizer a palavra nunca, antes que o chefe, entre coisas como a-reputacdo-de-nossa-firma, declarasse frlo: os senhores esto despedidos, Esvaziaram lentamente cada um a sua gaveta, a sala deserta na hora do almoco, sem se otharem nos olhos, O sol de verdo escaldava o tampo de metal das mesas. Raul guardou no grande envelope pardo um par de olhos ; enormes, sem {ris nem pupllas, presente de Saul, que guardou no seu grande envelope pardo, com algumas manchas de café, a letra de Tii Me Acostumbraste, escrita & m&o por Raul numa tarde qualquer de agosto, Desceram juntos pelo elevador, em siléncio. Mas quando safram pela porta daquele prédio grande e antigo, parecido com uma clinica ou uma penitenciaria, vistos de cima pelos colegas todos postos fa janela, @ camisa branca de um, a azul do outro, estavam ainda mais altos, © mais altives. Demoraram alguns minutos na frente do edificio. Depois Sof? 4/16/2012 12:02 PM Caio Fernando Abreu - Aqusles dois 60f7 Iitp:/svww.releituras.com/eaioabreu_dois.asp apanharam 0 mesmo téxi, Raul abrindo a porta para que Saul entrasse, Ai-ai, alguém gritou da janela, Mas eles ndo ouviram. O taxi jé tinha dobrado a esquina. Pelas tardes posirentas daquele resto de janeiro, quando o sol parecia a gema de um enorme ovo frito no azul sem nuvens no céu, ninguém mais conseguiu trabalhar em paz na reparticao. Quase todos ali dentro tinham a nitida sensacao de que seriam infelizes para sempre. E foram. Caio Fernando Loureiro de Abreu nasceu no dia 12 de setembro de 1948, em Santiago (RS). Jovem ainda mudou-se para Porto Alegre onde publicou ‘seus primeiros contos. Cursou Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, depois Artes Draméticas, mas abandonou ambos para dedicar-se 20 trabalho Jornalistico no Centro @ Sul do pais, em revistas como Pop, Nova, Veja e Manchete, foi editor de Leia Livros e colaborou nos jornais Correio do Povo, Zero Hora, O Estado de So Paulo e Folha de Sao Paulo. No ano de 1968 — em plena ditadura militar — foi persequido pelo DOPS (Departamento de Ordem Politica e Social), tendo se refugiado no sitio da escritora e amiga Hilda Hilst, na periferia de Campinas (SP). Considerado um dos principals contistas do Brasil, sua ficc’o se desenvolveu acima dos convencionalismes de qualquer ordem, evidenciando uma temética prépria, juntamente com uma linguagem fora dos padrdes normais. Em 1973, ‘querendo deixar tudo para trés, viafou para a Europa. Primelro andou pela Espanha, transferiu-se pata Estocolmo, depols AmsterdS, Londres — onde escreveu Ovelhas Negras — © Paris. Retornou a Porto Alegre em fins de 1974, sem parecer caber mais na rotina do Brasil dos militares: tinha os ‘cabelos pintados de vermelho, usava brincos imensos nas duas orelhas € se vestia com batas de veludo cobertas de pequenos espelhos. Assim andava calmamente pela Rua da Praia, centro nervoso da capital gaticha. Em 1983 transferis-se para 0 Rio de Janeiro e em 1985 passou a residir novamente em So Paulo. Volta 4 Franga em 1994, a convite da Casa dos Escritores Estrangeiros. Lé escreveu Bien Loin de Marienbad, Ao saber-se portador do virus da AIDS, em setembro de 1994, Calo Fernando Abreu retorna a Porto Alegre, onde volta a viver com seus pals. PBe-se a culdar de roseiras, encontrando um sentido mais delicado para a vida, Fol internado no Hospital Menino Deus, ‘onde faleceu no dia 25 de fevereiro de 1996. Bibliografia: = Inventério do Irremediével, contos. Prémio Fernando Chinaglia da UBE (Unido Brasileira de Escritores); Rio Grande do Sul: Movimento, 1970; 28 ed. Sulina, 1995 (com 0 titulo alterado para Inventério do Ir-remedivel). = Limite Branco, romance. Rio de Janeiro: Expresso e Cultura, 1971; 28 ed. Salamandra, 1984; So Paulo: 3? ed., Siciliano, 1992. = 0 Ove Apunhalado, contos. Rio Grande do Sul: Globo, 1975; Rio de Janeiro: 28 eaicdo, Salamandra, 1984; So Paulo: 3? eaiglo, Siciliano, 1992. = Pedras de Caicuté, contos. S40 Paulo: Alfa-Omega, 1977; 2 ed., Cla. das Letras, 1995, = Morangos Mofados, contos. S80 Pauio: Brasiliense, 1982; 9 ed. Cia. das Letras, 1995. Reeditado pela Agir - Rio, 2005. = Tréngulo das Aguas, novelas. Prémio Jabuti da Cémara Brasileira do Livro 4/16/2012 12:02 PM Caio Ferrando Abreu~ Aqusles dois Iup://wwvwreleitaras.com/eaioabreu_dois.asp para melhor livro de contes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983; So Paulo: 2 edigio Sictliano, 1993. = As Frangas, novela infanto-juvenil, Medalha Altamente Recomendével Fundagao Nacional do Livro Infanto-Juvenil. Rio de Janeiro: Globo, 1988. = Os Dragées no Conhecem o Paraiso, contos. Prémio Jabuti da Cimara Brasileira do Livro para melhor livro de contos. Séo Paulo: Cia. das Letras, 1988. - A Maldico do Vale Negro, peca teatral. Prémio Moliére de Air France para dramaturgia nacional. Rio Grande do Sul: IEL/RS (Instituto Estadual do Livro), 1988. + Onde Andard Dulce Velga?, romance. Prémio APCA (AssociagS0 Paulista dos Criticos de Arte) para romance, So Paulo: Cia. das Letras, 1990. ~ Bien Loin de Marienbad, novela. Paris, Franca Arcane 17, 1994, ~ Oveinas Negras, contos. Rio Grande do Sul: 2 ed. Sulina, 1995. ~ Mel & Girasséis (Antologia) - Estranhos Estrangeiros, contos. So Paulo: Cia. das Letras, 1996. - Teatro Completo, 1997 | Teatro: + 0 Homem e a Mancha ~ Zona Contaminada | Teaducio: +A Arte da Guerra, de Sun Tzu, 1995 (com Miriam Paglia). conto acima fo! pubilcado no livro.*Morangos Mofades", Editora Brasiiense ~ S80 Paulo, 1982. Incluido entre "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", selegéio de ftalo Moriconi, Editora Objetiva — Rio de Janeiro, 2000, pg. 439, de onde fot extraido. Pes Pok« [ Principal J © Projeto ReleRues — Todos 0s dretos reservados. 0 Proeto ReleRures — ums sem Shs ucratvos — tem como objeto oki trabahos ie escfores naconase estrageros, buscando, sempee que passive sel ado humors, [ntreo ou fdnko, Aguerdames dos amigos lloras crea, cementars © augeste ‘Ntodos, multe obegado. Arnaldo Noguelra nor: @ jo grafias }[ Relelturas ][ Novos escritores ] 7007 4nten012 2PM

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