Valor a
2410212014 - 08:00
Controle de precos gera perda de arrecadagao
Por Claudia Schaffner
Ocontrole de pregos da gasolina, diesel e de outros combustiveis nao esta apenas corroendo o patriménio da
Petrobras, que tem hoje a maior divida corporativa do mundo. Ao provocar uma distor¢ao dos pregos relativos
de diversos energéticos comercializados pela estatal para controlar a inflagao, o governo esta dando um tiro no
proprio pé.
Além de afetar a maior empresa do Brasil, os controles esto levando a uma perda de competitividade de outros
setores da economia. Essa politica ja reduziu em 31,6% a arrecadagao do governo federal com tributos
incidentes sobre as atividades da Petrobras entre 2008 e 2012, quando se corrige os valores pela inflagao.
Peso menor No mesmo periodo
Evolugdo dos impostos pagos pela Pet (2008-2012) 0 valor
Petrobras Impostos« Contribuigbes Cons total dos tributos
a ete gerados pela estatal
ase caiu de 2,1% do Produto
PASEP/COFINS, Interno Bruto (PIB)
Ioosto de Renda CSL Usite stdefaultfile slan/t 4/02/arte 246 2-101 -petroxutad.
para 1,6%, com base nos
dados até o terceiro trimestre. Quando exeluido dessa conta o ICMS, um imposto estadual que no vai para o
caixa do Tesouro, o valor passa de 1,3% do PIB para 0,73%, queda de 44%.
Essa e outras contas so parte de um estudo da economista Paula Barbosa, especialista em petréleo e gas, para o
Instituto Brasileiro de Beonomia (Ibre), da Fundagao Getilio Vargas (FGV).
Segundo os dados, a arrecadagao da Unido com tributos pagos pela Petrobras vem caindo. Em 2008, foi de RS
49,187 bilhdes, somando-se a Contribuigao de Interven¢do no Dominio Eeondmico (Cide), Pasep-Cofins,
Imposto de Renda (IR) ¢ Contribuigao Social sobre o Luero Lfquido. Em 2012, tinha eaido para R$ 33,631
bilhdes. A redugao em termos reais, descontada a inflagao, representa perda de R$ 15,55 bilhdes.
"Na medida em que o governo faz uma politica de combustiveis prejudicial a Petrobras, ele também se
prejudica, porque também perde receita tributaria", diz Paula. Segundo a economista, quando 0 governo abriu
mao da arrecadagao da Cide - que passou a ter aliquota zero em junho de 2012 - fez.a escolha de atender ao
mereado, via redugao de prego na bomba, mesmo quando isso prejudicava a Petrobras. Jéo IR, observa, “cai
em consequéncia da queda do lucro, jé que a empresa perde excessivamente na conta de abastecimento €
importagdes"’Occonomista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), observa que no setor de
combustiveis, o governo parece ter optado por eleger "preferidos nacionais", citando como exemplos gasolina,
diesel, 6leo combustivel e GLP, que, segundo ele, vém ganhando uma “artificial competitividade’, sem se
importar com os "perdedores", como o etanol, o bunker para navio, o gas natural ¢ 0 querosene de aviagao.
Segundo Pires, 0 etanol se tornou inviével como combustivel veicular com o fim da Cide e com aatual
defasagem do prego da gasolina em relagao ao mercado internacional, que calcula estar em 12%. No diesel, é de
14%, percentual inferior ao calculado pelo banco Credit Suisse, que projeta 20% para os dois combustiveis.
Oceconomista Mauricio Canédo Pinheiro, professor da FGV acha que essa desorganizagio de pregos ¢ mais
perniciosa do que os efeitos macroeconémicos que seriam provocados pela equiparagao com o mercado
internacional, onde os pregos do petréleo so mais elevados. 0 professor vé um erro no argumento usado pelo
governo para nao permitir a equiparagao de precos aos do mercado global.
"Indexagao é atrelar aumento de pregos a inflagao passada, Manter a paridade com pregos internacionais nao
tem nada a ver com indexagao. Em economia, indexagao vem de indice, ¢ do jeito que o governo usa, remete A
indexagao ruim, mas nao é a mesma coisa’, diz Pinheiro:
Mauro Rochlin, professor do Ibmee, prevé problemas fiscais no futuro, quando for necessério voltar a organizar
aatual estrutura de pregos. Segundo cle, ae promover uma administragao de pregos de olho no curto prazo
para ajudar no controle da inflagao, 0 governo cria um problema inflacionario, com efeitos no médio e longo
prazos. "fstentador amenizar o problema no curto prazo, que vai gerar um problema mais grave adiante, por
meio de mais inflagao e mais descontrole das contas piblicas’, afirma Rochlin.