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naNDES 1 ouRKHEIM Ee Gaba ata ov Sta * sw) MAO TSETUNG 1 Guia FURTADO Organizador: xt Aberin Rodriues| 9# edigao 2 impresséo a) 182 sobrepor-se 20 primeiro somente por um ato criador. — Mas atribuir A sociedade o papel preponderante na génese da nossa natureza nio é negar essa criaglo; pois a soviedade dispée precisamente de um poder criador que nenbum ser observavel pode iguala efeito, a menos que seja uma operagio mistica que escapa a ciéncia € A inteligéncia, € produto de uma sintese. Ora, se as sinteses das representagées particulares que se produzem no seio de cada consciéncia individual sfo, por si préprias, inovadoras, quanto mais essas_vastas sinteses de consciéncias completas que so as sociedades! Uma socieda- de 6 0 mais poderoso feixe de forgas fisicas e morais que a natureza nos proporciona. Em nenhum lugar se encontra tal riqueza de materiais diversos, elevados a tal grau de concentracio. Nao pois surpreendente que uma vida mais elevada se desprenda dela, que, reagindo aos cle- rmentos de que resulta, eleva-os a uma forma superior de existéncia € transforma-os Assim, a Sociologia parece ser chamada a abrir um novo caminho para a ciéncia do homem. Até aqui, estévamos colocados diante desta alternativa: ou explicar as faculdades superiores ¢ especificas do homem, reduzindo-as as formas inferiores do ser, a razio aos sentidos, o espirito & matéria, 0 que levaria a negar sua especificidade; ou entdo ligé-las a qualquer realidade supra-experimental que se postulasse, mas de que nenhuma observacdo poderia estabelecer a existéncia. O que colocava © espirito nesse embarago ¢ que o individuo passava por ser finis nature: parecia que nada havia além, pelo menos nada que a ciéncia pudesse atingir. Mas, desde 0 momento em que se reconheceu que, cima do individuo, existe a sociedade, e que esta nao é um ser nominal € de razéo, mas um sistema de forgas atuantes, uma nova maneira de explicar 0 homem tornou-se possivel. Para conservar-Ihe os atributos distintivos, no & necessério colocé-los fora da expé Pelo menos, antes de chegar a esse extremo, convém pesquisar se aquilo que, no individuo, ultrapassa o individuo, no Ihe viria dessa realidade supra- individual, mas dado pela experiéncia, que a sociedade. certo que ndo saberiamos dizer desde ja até onde essas explicagdes podem ser levadas e se elas so capazes de suprimir todos os problemas. Mas é inteiramente impossivel também assinalar por antecedéncia um limite {que elas ndo poderiam ultrapassar. & preciso testar a hipétese, subme~ ta tdo metodicamente quanto seja possivel ao controle dos fatos. Foi isso que tentamos realizar. 17, ALGUMAS FORMAS PRIMITIVAS DE CLASSIFICACAO * I Os sistemas de classificagio mais humildes que conhecemos cs observados nas tribos australianas, Conhece-se 0 tipo de organizagao mais encontrado nessas sociedades. Cada tribo esta dividida em duas grandes secgdes fundamentais, que chamamos de fratrias. * Cada fratria, por sua vez, compreende certo nimero de clas, isto & de grupos de individuos portadores do mesmo totem. Em principio, os totens de uma fratria no sio encontrados na outra fratria, Além desta divisio fem clas, cada fratria esté dividida em duas classes que chamaremés matrimoniais. Damos este nome porque tal organizagdo tem por objeto, antes de mais nada, a regulamentagio dos casamentos: determinada classe de uma fratria no pode contratar casamento sendo com deter minada classe de outra fratria. A organizagio geral da tribo toma, entio, a forma seguinte: * = Reprodurido de Durxireim, E. © Mauss, Marcel, “De quelques formes primi- tives de classification. Contribution a Tétude des représentations collectives” Tn: Journal Sociologique, seleeio de textos de L'Année Soclologique, organizada por Jean Duvignaud. Paris, PUF, 1969, p. 395-461. ‘Trad. por Maria Isaura Pereira de Queiroz 3 Como se sabe, esta terminologia nko € adotada por todos os avtores. Muites empregam de preferéncia a palavea classe. Daf resbltam contusdes desagraddveis com as classes matrimoniais, das quais se falaré mais adiante. Para evitar tals fertos, todas as vezes que um pesquisador chamar de classe uma fratria, subs tuizemos 0 primeiro termo pelo segundo. A unidade da terminologia tornard mais fécil a compreensio © a comparagio dos fatos, Seria, pois, muito de desejar que houvesse um entendimento sobre esta. terminologia, que € Usads com tanta freqdéne 2 Este eaquema nio representa sendo a organizagio que consideramos tipica. também a mals geral. Em certos casos, somente alterada é gue a encontramos. Nalgumas tribos, as classes totémicas apresentam Hise slo substtuidas por Cla da ema Cla da serpente Cla da lagarta etc. Classe matrimonial A Classe matrimonial B Cla do canguru Cla do gamba Cla do corvo etc. Classe matrimonial A’ Classe matrimonial BY As classes designadas pelas mesmas letras (4, 4’ etc. ¢ B, B’etc.) so aquelas entre as quais € permitido 0 conébio. Todos 0 membros da tribo se encontram assim classificados em quadros definidos © que se encaixam uns nos outros. Ora, a classifi- cago das coisas reproduz a classificacdo dos homens. Cameron j@ tinha observado que entre os ta-ta-this “todas as coisas do Universo esto divididas entre os diferentes membros da tribo”. Diz ainda: “Alguns desses membros atribuem a si as drvores, outros as planicies, outros o sol, 0 vento, a chuva, ¢ assim por diante”. Infelizmente, esta informagio é falha quanto & preciso, Nao declara a que grupos de individuos os diversos grupos de coisas estio assim ligados. * Possuimos todavia dados muito mais evidentes, documentos de alta significacao. As tribos do rio Bellinger estio divididas em duas fratrias cada uma; ora; segundo Palmer, esta divisio também se aplica & natureza. “Toda a natureza”, diz ele, “esté dividida de acordo com a denomina- do das fratrias.* As coisas sio masculinas ou femininas, o sol, a lua, as estrelas so homens ¢ mulheres, € como os préprios negros, perten- ‘grupos puramente Tocais; noutras, nfo possuem mais nem fratrias nem classes. E ainda, para que 0 quadro fosse completo, seria necessirio acrescentar uma Aivisio em grupos locais que se sobrepse muitas vezes as divisdes precedeates. 3Notes on Some Tribes of New South Wales." J. A. 1. XIV, p. 350. O texto, todavia, io indica expressamente apenas os tata-this. O parigrafo precedente ‘menciona todo um grupo de tribos. +Parece tratar-se de uma divisio segundo grupos totémicos, andloga & que vere- mos mals adiante. Mas nio pasta de hipdtese. 50 autor utiliza o termo classe, que substtuimes por fratria, como j& avisamos atris; pois acreditamos reproduzit assim a idéia do texto, que todavia nfo & bem clara, Dagui por diante, faremos a substituiglo sem prevenir 0 letor, todas as vezes que niio hower dividas quanto 20 pensamento dos autores, 185 cem a esta ou aguela fratria”.* Esta tribo esté bastante pr outra, a de Port-Mackay, no Queensland, onde encontramos © mesmo sistema de classificagio. Segundo & resposta de Bridemann aos. ques- tionérios de Curr, de Br. Smyth © de Lorimer Fison, tal tribo, assim como as vizinhas, compreende duas fratrias, uma chamada Yungaroo, outra Wootaroo. Existem também classes matrimoniais; mas estas ndo parecem ter afetado as nogdes cosmolégicas. A divisio em fratrias, a0 contrério, é considerada “como uma lei universal da natureza”. “Todas as coisas animadas ou inanimadas esto divididas por estas bos em duas classes chamadas Yungaroo e Wootaroo”, escreve Curr, de acordo com a informagéo de Bridgmann.* “Elas divide as coisas entre si", afirma 0 mesmo observador (Br. Smyth). Dizem que os cro- Codilos sio Yungaroo € os cangurus, Wootaroo. © sol é Yungaroo, a lua Wootaroo ¢ assim por diante, tanto para as constelagées quanto para as érvores, as plantas etc.* E Fison diz: “Tudo na natureza se reparte entre a5 duas fratrias, na opinido deles. O vento pertence a uma, a chuva & outra... Quando interrogados sobre uma estrela particular, dirdo a que divisio (fratria) ela pertence”.* (p. 9.) Tal classificagdo & de extrema simplicidade, pois néo ¢ mais que bipartida. Todas as coisas esto dispostas em duas categorias que cor- respondem as duas fratrias. O sistema se torna mais complexo quando no & mais unicamente a divisio em fratrias mas também a divisio em quatro classes matrimoniais, que servem de quadro A distribuigéo dos seres. " Apés ter estabelecido este tipo de classificagio, é preciso tentar determinar, tanto quanto possivel, sua genetalidade. s fatos néo nos autorizam a afirmar que tal classificagéo seja encontrada em toda a Australia, nem que tenha extensio igual & da organizacdo tribal, em fratrias, em classes matrimoniais e em clas toté- micos. Estamos convencidos de que se procurdssemos bem, a encontra- iamos sem davida alguma completa ou alterada, em muitas sociedades © PaLateR, “Notes on Some Australian Tribes.” J. A. 1. XII, 300, Cf. p. 248, FCune. Australian Race. IM, p. 43. "Suvi, Br. The Aborigines of Vietori. (1887). ¥. 1, p. 94 Fisox © Howrrs. Kamilaroi and Kurnal, p. 168, nas, nas quais até hoje passou desapercebida; mas no podemos prejulgar resultados de observagdes que nao forem feitas. Os documen- tos de que dispomos atualmente nos permitem afirmar, todavia, que essa classificagdo certamente & ou foi muito espalhada, Em primeiro lugar, essa forma de classificagdo nfo foi observada ditetamente em muitos casos, mas totens secundérios foram encontrados © nos foram assinalados; © estes, como vimos, supem tal classificaglo. Observacdo que é notadamente verdadeira para as ilhas do estreito de Torres, vizinhas da Nova Guiné Britinica. Em Kiwai, os clis Possuem quase todos por totem (miramara) espécies\ vegetas; uum deles, 0 da drvore de palma (nipa), tem por totem secun- dirio 0 caranguejo, que habita a érvore do mesmo nome. # Em Mabuiag (itha situada a oeste do estreito de Torres) ** encontramos uma organiza- ‘io de clés agrupados em duas fratrias: a do pequeno augid (aughd sig- nifiea totem) ¢ a do grande augitd. Uma é a fratria da terra, outra, a fratria da égua; uma acampa a favor do vento, a outra contra 0 Vento; uma esté a leste, a outra a oeste. A da gua tem por totens a vaca-marinha * ¢ um animal aquético que Haddon chama de shovel- nose skate; 0s totens da outra so todos animais terrestres, com excegio do erocodilo, que é anfibio: 0 crocodilo, a serpents, 0 catoar. Ai estio evidentemente tragos importantes de classificacio. Ainda mais, Haddon rmenciona expressamente “totens secuudérios ou subsidiérios’ propria- ‘mente ditos”: 0 tubardo-martelo, o tubardo, a tartaruga, a raia-de-ferrdo (sting ray) estdo ligados assim & fratria da agua; 0 cio, a fratria da terra. Dois outros subtotens estio ainda atribuidos a esta tltima; sio ‘0s ornamentos feitos de conchas em forma de crescente. " Se lembrar- ‘mos que, em todas essas ilhas, o totemismo esti em plena decadéncia, pparecer-nos-& muito legitimo considerar tais fatos como restos de um sistema mais completo de classificagio. E também muito possivel que ‘uma organizacao andloga se encontre noutros lugares do estreito de LO HADOON. Head Hunters. Londees, 1901. p. 102, 11 Sabese, desde as obras de Haddon (Head Hunters. p. 13 ¢ “The Etnography ff the Western Tribe of Torres Straits” J. A. 1. XIX, p. 39) que o totemismo ‘nfo € encontrado senio nas ilhas de Oeste, © no nas de Leste * Dugong. (N. do T.) 2 HapooN. Head Hunters. p. 132. Mas ot nomes que demos is fratrias nfo slo dados por Haddon. 33 Hiap0oN. Ibid. p. 138, Cf. Ravens, W. H. “A Genealogical Method of Collee- ting.”, ete. J. A. 1. 1900, p. TS er segs. 187 Torres e no interior da Nova Guiné. O principio fundamental, isto é, a divisio em fratrias e em clas agrupados trés a trés, foi formalmente constatado em Asibai (ilha do estreito) e em Daudai. Sentimo-nos tentados a apontar tragos da mesma classificagio nas ihas Murray, Mer, Waier’ ¢ Dauar. Sem entrar em detalhes sobre a organizagao social delas, tal qual no-la descreveu Hunt, chamamos a atengio sobre 0 seguinte fato, Um certo nimero de totens existe entre esses povos. Cada um dos totens confere aos individuos, deles porta- dores, poderes variados sobre diferen es espécies de coisas. Assim, aos individuos que t8m por totem o tambor, esto atribuides os poderes seguintes: € a eles que compete realizar a ceriménia que consiste em imitar os cies e em tocar os tambores; so eles que fornecem os feiti- ceiros encarregados de fazer multiplicar as tartarugas, de assegurar a colheita das bananas, de adivinhar os assassinos por meio dos movimen- tos do lagarto; so eles, finalmente, que impGem o tabu da serpente. Pode-se, pois, dizer com verossimilhanga que ao cl do tambor estéo ligados, de certa maneira, além do proprio tambor, a serpente, as ba- rnanas, 08 cdes, as tartarugas, >s lagartos. Todas estas coisas dependem, pelo menos parcialmente, de 1m mesmo grupo social e, por conseguinte, ‘como as duas expresses so no fundo sinénimas, de uma mesma classe de seres. A mitologia astronémica dos australianos apresenta marcas desse ‘mesmo sistema mental. Efetivamente, sua mitologia é, por assim dizer, modelada sobre a organizagdo totémica. Os nativos dizem, quase por toda a parte, que tal astro é determinado antepassado. mais que provével que se deveria mencionar para 0 astro, como para 0 individu com 0 qual se confunde, a que fratria, a que classe, MHaDooN. Op. cit. p. 171. sSHuwr. “Ethnographical Notes of the Murray Islands.” J. 4. 1. 1, nova série, p. 5 er segs. 28 Queremos chamar a atenglo para este fato, porque nos fornece a ocasilo de uma observasio de ordem geral. Por toda a parte onde encontramos um cll fou uma confraria religiora exercendo poderes mégicoeligiosos sobre eapécies Giferentes de coisas, & muito lepitimo inquirir se no existe nisso 0 indicio da fantiga classficagio, atribuindo = esse grupo social tis espécics diferentes de 170s documentos a respeito so de tal mancira numerosos que nfo os citaremos todos. A referida mitologia € mesmo to desenvolvida que, muitas vezes, os ‘europeus acreditaram que ot asttos eram as almas dos mortos. (V. Cunn. I, p. 255, 403; Ml, p. 475; Il, p. 25.) 188 ‘a que cla pertence. Em vista disso, ele se encontraria classificado em determinado grupo; um parentesco, um lugar determinado Ihe seriam atribuidos na sociedade, O que & certo & que estas concepgies mitol6- gicas so observadas nas sociedades australianas em que temos encon- trado a classificagdo das coisas em fratrias e em clas, com todos os seus tragos caracteristicos; nas tribos do Monte Gambier, entre os wotjobaluk, nas tribos do norte de Vit6ria. “O sol", diz Howitt, “é uma mulher Krokitch do cli do sol, que todos os dias parte em busca do filhinho que perdeu”. ® Bungil (a estrela Fomalhaut) foi, antes de subir a0 ‘céu, um poderoso cacatua branco da fratria Krokitch. Este cacatua possufa duas mulheres que, em virtude naturalmente da regra exogi- mica, pertenciam & fratria oposta, Gamutch. Eram cisnes (provavel- mente dois subtotens do pelicano). Ora, ambas sio também estrelas. Os woiworung, vizinhos dos wotjobaluk, *° acreditam que Bungil (nome da fratria) com todos os seus filhos, todos eles seres totémicos (homens € animais a0 mesmo tempo), subju ao céu num turbilhao;** Bungil é Fomathaut, como entre 0s wotjobaluk, e cada um de seus filhos é uma estrela; ** dois dos filhos siio duas estrelas do Cruzeiro do Sul. Os mycooloon do sul do Queensland, * grupo que se encontra muito afas- tado dos atrés citados, classificam as nuvens do Cruzeiro do Sul no totem da ema; o cinturdo de Orion faz parte do cli Marbaringal, e cada estrela cadente, do cla Jinbabora. Quando uma dessas estrelas cai, vai tocar a drvore gidea e se transforma numa drvore do mesmo nome. Isto indica que a citada drvore esté também relacionada com o referido cla. A lua é antigo guerreiro, do qual no se sabe nem o nome, nem classe. O c&u esté povoado de antepassados dos tempos imaginérios. As mesmas classificagdes astronémicas esto em uso entre os arun- ta, dos quais tomaremos a falar mais tarde, sob um ponto de vista diferente. Para eles, 0 sol é uma mulher da classe matrimonial Panunga, e € a fratria Panunga-Bulthara que esta encarregada da ceriménia reli W8°On Ausiralian Medicine Men." J. A. 1. XVI, nota 2, p. 53. 2 Howirr. “On the Migration on the Kurnai Ancestors." J. A. f. XV, nota 1, p. 41S. Cf. “Further Notes” etc. J. a. 1. XVIIL, nota 3, p. 65. 20Further Notes” ete J. A. 1. XVII, p. 66. 2 Ibid, p. 59. Cf. nota 2, p. 63. Correspondem aos cinco dedos da mio. Ibid. p. 66. 23. PALMER Antigo citedo. J. A. 1. XII, p. 293, 294, 189 giosa que 0 concerne. # Deixou na terra descendentes que continuam 4 se reencamar ® ¢ que formam um cli especial. Este titimo detalhe dda tradigio mitica deve, porém, ser de formagéo tardia. Pois, na ceri- ménia sagrada do sol, o papel preponderante € desempenhado por indi- viduos que pertencem 20 grupo totémico do bandicoot © do grande lagarto. O que significa entio que o sol devia ser antigamente um Panunga do cla do bandicoor, habitando © terrt6rio do grande lagarto. Por outro lado, sabemos que isto € 0 que se d4 com suas irmas. Ora, estas se confundem com ele, Ele é 0 “filhinho delas", “o sol dela fem suma, elas néo si0 mais do que um desdobramento do sol, Em ois mitos diferentes, a lua esté ligada ao cla do gamba. Num dos mitos, ela é um homem desse cla; noutro mito, ela € ela mesma, mas foi roubada a um homem do cla" e foi este homem quem Ihe deter- minou 0 rumo. Nao nos dizem, é verdade, a que fratria ela pertencia Mas o cli implica a fratria, ow pelo menos implicava a principio, entre 0s arunta, Sabemos, da estrela da manbé, que pertencia 2 classe Kumara; vai refugiar-se todas as noites numa pedra que esté no territ6rio dos grandes lagartos, com os quais parece estar estreitamente aparentada. * 0 fogo esté, também, intimamente ligado 20 totem do “euro”. Foi um hhomem desse el8 que o descobriu no animal do mesmo nome. * Finalmente, quando, em muitos casos, estas classificagdes nfo estio imediatamente aparentes, no deixam de ser encontradas, mas sob uma forma diferente da que acabamos de descrever. Mudangas sobrevindas, a estrutura social alteraram a economia desses sistemas, mas no a ponto de torné-los completamente irreconheciveis. Alids, as mudangas resul- tam em parte dessas classificagdes e seriam suficientes para reveld © que caracteriza as referidas classificagdes 6 que as idéias estio nelas organizadas de acordo com 0 modelo fornecido pela sociedade. Mas desde que esta organizagio da mentalidade coletiva exista, ela é suscetivel de reagir & sua causa e de contribuir para modificé-la. Vimos 240s individuos que realizam a ceriménia devem, em soa maior parte, pertencer a esta atria, V. SPENCER € GILLEN. Natlve Tribes of Central Australia. p. S61. 28Sabe-se que, pare os aruats, cada nascimento € a reencarnagio do espirito de ‘um ancestral mito, 201i. p. 564 7 bid, p. 565. 281d. p. $63, in fine 20 1bid. p. 444, 190 como as espécies de coisas, classifizadas num cla, servem de totens secundérios ou de subtotens; isto 6, no interior do cla, cada grupo parti- cular de individuos, sob a influéncia de causas que ignoramos, passa 4 se sentir mais especialmente em re,agies com tais ¢ tais coisas que siio atribuidas, de maneira geral, ao cli inteiro. Desde que este, tornan- do-se muito volumoso, tenda a segmentar-se, sera segundo as linhas marcadas pela classificago que se processaré a segmentacdo. Nao se deve crer que estas divisGes sejam necessariamente 0 produto de movi- mentos revolucionérios e tumultuosos. Parece, as mais das vezes, que cles tém lugar segundo um processo perfeitamente I6gico. Foi assim que, em grande nimero de casos, se constituiram as fratrias, que se dividiram os clas. Em muitas sociedades australianas, as fratrias se opdem uma & ‘outra como 0 branco © 0 negro, isto é, como os dois termos de uma Aintitese, e nas tribos do estreito de Torres, como a terra e a égua; ainda, os clés que se formaram no interior de cada uma delas, conser- ‘vam uns com os outros relacdes de parentesco légico. Assim, € raro nna Austrélia que 0 cla do corvo seja de outra fratria que nio a do ‘trovo, das nuvens e da 4gua. Da mesma forma, quando num cla a segmentacio se torna necesséria, so 0s individuos agrupados em toro de uma das coisas classificadas dentro do cla que se destacam do resto, para formar um clé independente, e 0 subtotem se torna um totem, Uma vez comecado 0 movimento, pode continuar e sempre segundo 0 mesmo proceso. Efetivamente, 0 subcld que assim se emancipou trans- porta consigo, para seu dominio ideal, além da coisa que Ihe serve de totem, algumas outras que sio consideradas solidérias com aquela. Estas coisas, no novo cla, desempenham o papel de subtotens e podem, se for necessério, tomar-se outros tantos centros em tomo dos quais se produzirdo, mais tarde, novas segmentagGes. *° Os wotjobaluk nos permitem precisamente capturar esse fendmeno por assim dizer a0 vivo, em suas relagées com a classificacio, ® Segundo 3 0 ‘estado das lstas de clis repartidos em fratrias, que Howitt apresenta em suas “Notes on the Aust. Class Systems." J. 4. 1. XM, p. 149, em suas "Further Notes on the Aust." ete. J. A. 1. XVIII, p. $2 ef segs, e em suas “Remarks on Mr. Palmers Class Systems." Ibid. XII, p. 385, € altamente convincente 51 Foi, alii, sob esse ponto de vista éxclusivo que Howitt estudou os wotiobaluk, «© foi esta mesma segmentacho que, dando a uma expécie de coisas ora o eatéter de um totem, ora o cardter de sublotem, tornou dificil a constituigio de um quadro exato dos clis e dos totens, 191 Howitt, certo nimero de subtotens s20 totens em vias de formacao. “Bles conquistam uma espééie de independéncia”.®* Assim, para deter- rminados individuos, o pelicano branco é um totem € 0 sol um subtotem, enquanto outros os classificam em ordem inversa. Provavelmente, as dduas denominagées deviam servir de subtotens a duas seegSes de um cla antigo, cujo velho nome teria “decafdo”,® © que compreenderia, entre as coisas a ele atribuidas, o pelicano ¢ © sol. Com o tempo, as dduas secgdes se destacaram de seu tronco comum; uma tomou © peli- ceano como totem principal, deixando o sol em segundo lugar, enquanto a outra fez 0 contrétio. Noutros casos em que nio se pode observar tio diretamente a maneira pela qual a segmentacio se faz, ela se toma sensfvel através das relagdes I6gicas que unem entre eles os subclas provindos de um mesmo cla. Vé-se claramente que correspondem is espécies de um mesmo género. B o que mostraremos expressamente mais adiante, a propésito de certas sociedades americanas. Ora, € fécil de ver que mudancas esta segmentacio deve intro- duzir nas classificagdes. ®* Enquanto os subtotens, provenientes de um mesmo cli original, conservarem a lembranca de sua origem comum, sentirfo que si0 parentes, associados, partes de um mesmo todo; por conseguinte, seus totens © as coisas classificadas sob esses totens ficam subordinados, de certa maneira, a0 totem comum do cla total. Mas com 0 tempo, esse sentimento se apaga. A independéncia de cada seccio aumenta ¢ termina por se tomar completa autonomia. Os lagos que uniam todos esses cls e subclés numa mesma fratria se distendem ainda mais facilmente ¢ toda a sqeiedade acaba por se resolver numa poeira de pequenos grupos aut6nomos, iguais uns aos outros, sem ne~ nhuma subordinagio, Naturalmente, a classificagio se modifica em con- seqiiéncia. As espécies de coisas atribuidas a cada uma dessas subdivi- s6€5 constituem outros tantos géneros separados, situados no mesmo ‘Farther Notes” etc. p, 63 ¢ sobretudo 64. s3-australian Group Relations" in Report. Reg. Smith Inst. 1883. p. 818. 34"Further Notes.” p. 63, 64, 39. 85(,..) Bata segméentagho ¢ as modificagdes que delas resultam na blerarquia dos iotens ¢ dos sublotens permitem talver explicar uma particularidade interes sante de tals sistemas socials, Sabe-se que, principalmente na Austilia, os fotens io geralmente anima, ¢ muito mais raramente objetos inanimados. Pode-se crer que primitivamente todot eram emprestador 20 mundo animal. Mas sob estes totens primitives estavam clasificados objetos inanimades que, devido fs segmentagées, acabaram por ser promovidos ao lugar de totens principals. 192 plano. Toda hierarquia desapareceu. Porém, & licito supor que alguns tragos restam ainda no interior de cada um desses pequenos clas. Os seres ligados ao subtotem que se modificou em totem continuam a ser subordinados a ele. Mas, em primeiro lugar, no podem mais ser muito numerosos, dado 0 cariter fracionério desses pequenos grupos. Ainda mais, por pouco que 0 movimento continue, cada subtotem acabaré por ser clevado a dignidade de totem, cada espécie, cada variedade subor- dinada se tornaré um género principal. Entéo, a antiga classificagéo teré dado lugar a uma simples divisio sem nenhuma organizagio inter= nna, a uma reparticéo das coisas por cabeca ¢ nfo mais por fontes. Mas, ‘a mesmo tempo, como ela se processa no meio de um mimero con- sideravel de grupos, ela compreenderé, mais ou menos, 0 univers inteiro. nesse estado que se encontra a sociedade dos arunta. Nao existe entre eles uma classificagao completa, um sistema constituido. Todavia, segundo as proprias expresses empregadas por Spencer e Gillen, “de fato no pais ocupado pelos indigenas, néo existe objeto, animado ou animado, que ndo dé seu nome a,algum grupo totémico de indivi duos”. ** Encontramos mencionadas no trabalho desses pesquisadores cingiienta ¢ quatro espécies de coisas servindo de totens a outros tantos ‘grupos totémicos; e, ainda mais, como eles ndo se preocuparam em estabelecer uma lista completa dos totens, a que pudemos organizar, segundo as indicagoes esparsas em seu livro, ndo € certamente exaus- tiva.** Ora, a tribo dos arunta é, sem divida, uma daquelas em que Native tribes of Central Australia. Londres, 18 ST Acreditamos ser sil reproduzir aqui_a lista, tal qual a reconstituimos. Nio sequimos, bem entendido, nenhuma ordem em nossa enumeragio: 0 vento, 0 sol, 8 &gua ou nuvem (p. 112), 0 rato, a lagarta witcherty, 0 canguru, 0 lagarto, ema, a flor hakea (p. 116), a guia, o falefo, o clonka ({ruto comestivel), luma espécie de mané, 0 gato selvagem, 0 irickura (espécie de bulbo), a lagarta 4a borboleta “longicome", 0 bandicoot, o mand ilpirla, a formiga do mel, a 13, 2 frutinha chankuna, a ameixeira, 0 peixe irpunga, o gambi, 0 clo selvagem, 0 “euro” (p. 177 ef seqs.), 0 faleho pequeno (p. 232), a serpente tapis (p. 242), a lagarta pequena, o grande morcego branco (p. 300, 301), a semente da relva (. 311), © peixe interpiina (p. 316), a serpente coma (p. 317), 0 faleSo nativo, luma outta espécie de fruto de mandinia (p. 320), 0 Tato jerboa (p. 329), 8 catrela da tarde (p. 360), 0 lagarto grande, o lagarto pequeno (p. 389), 0 Tatinho (p. 389, 395), a semente alchantwa (p- 390), uma outra espécie de rato equeno (p. 396), 0 falcko pequeno (p. 397), serpente okranina (p. 399), ‘0 peru selvagem, a pega, © morcego branco, 0 motcego pequeno (p. 401, 404, 406.) Existem ainda os clis de uma certa espécie de bicho d'agua (p. 414), do faleso p12. 193 © processo de segmentagio continuou até 0 extremo limite; pois, devido as mudangas sobrevindas & estrutura dessa sociedade, todos os obstéculos, suscetiveis de conté-lo, desapareceram. Sob a influéncia de causas que foram aqui mesmo expostas, ®* os grupos totémicos dos arunta foram Tevados muito cedo a sair do quadro natural que 0s cercava primitiva- mente € que, de certa maneira, Ihes servia de ossatura; isto-é, 0 quadfo da fratria, Em lugar de ficarem estritamente localizados numa metade determinada da tribo, cada um deles se expandiu livremente em toda fa extensio da sociedade, Tornados assim estrangeiros & organizagio social regular, decaidos quase ao nivel das associacies privadas, os gru- pos totémicos puderam multiplicar-se, atomizar-se quase até 0 infinito. ‘A atomizagio dura ainda hoje, Existem, efetivamente, espécies de coisas cujo lugar na hierarquia totémica é ainda incerto, segundo © con- fessam 08 prOprios Spencer ¢ Gillen: nao se sabe se sio totens principais ‘ou subtotens. ®? Quer dizer que esses grupos estio ainda num estado mével, como 0s clas dos wotjobaluk. Por outro lado, entre totens atual- mente atribufdos a clas independentes, existem, por vezes, ligagdes que testemunham que primitivamente deviam estar classificados num mesmo cla. E 0 caso da flor hakea e do gato selvagem. Assim, as marcas gra- vadas sobre 0s churingas dos homens do gato selvagem representam 56 ¢ unicamente arvores de flor hakea. #° Segundo os mitos, nos tempos fabulosos, era de flor hakea que se alimentavam os gatos selvagens; fora, 08 grupos totémicos origindrios so geralmente conhecidos por se alimentarem de seus totens.*" Isto significa que as duas espécies de coisas ndo estiveram sempre estranhas uma a outra, ¢ que nao vieram a sé-lo sendo quando o cla nico que as compreendia se fragmentou, O clé da ameixeira parece ser também um derivado desse mesmo cli complexo: flor hakea — gato selvagem. ** Do totem do lagarto se des- (@ 416), da codorniz, da formiga-buldogue (p. 417), das duas espécies de lagartos (p, 439), do canguru (2) de caude angulada (p. 461), de uma outra cexpécie de flor hakea (p. 444), da mosea (p. 546), do péssaro-sino (p. 635). 8 Année Sociolopique. t. V, p. 108 et segs 3” Assim Spencer ¢ Gillen nio sabem a0 certo se © pombo dos rochedos & um totem ou totem secundério (cf. p. 410 ¢ 448). E também o valor totémico das diversas espécies de lagartos fo sti determinado: assim os seres miticos que ‘riaram os primeiros homens, que estes tiveram por totem o lagarto, se trans ormaram numa outra espécie de lagarto (p. 389). wp, 449, ep, 417, 418, #2, 283, 297, 403, 404, 194 tacaram diferentes espécies animais e outros totens, notadamente 0 do ratinho. * Pode-se, pois, ter a certeza de que a organizacio primitiva foi submetida a um vasto trabalho de dissociagdo e de fracionamento que no esté ainda terminado, Assim pois, se no encontramos mais entre os arunta um sistema completo de classificagio, néo foi por nunca ter existido, foi porque se decompés & medida que 0s clas se fragmentaram. O estado em que se encontra o sistema nao faz mais do que refletir o estado atual da orga- nizagio totémica dessa tribo; outra prova, pois, da relacdo estreita que une entre elas essas duas ordens de fatos. O sistema, todavia, néo desa- areceu sem deixar tragos visiveis de sua existéncia anterior. Jé assina- lamos as sobrevivencias na mitologia dos arunta, Outras mais demons- trativas foram encontradas na maneira pela qual os seres se repartem entre os clis. Certas espécies de coisas esto muito freqlentemente Tigadas ao totem, de maneira idéntica & das classificagdes completas que examinamos. & um iltimo vestigio de subordinagio, Assim, a drvore de goma esté especialmente associada ao cli das ris; a galinha-d'dgua estd ligada a agua. Vimos anteriormente que existem relagdes esttei- tas entre o totem da agua e 0 fogo; por outro lado, os galhos do eucalipto, as folhas vermethas do érémophile,* 0 som da trombeta, © calor e 0 amor* estéo ligados 20 fogo. Ao totem do rato jerboa esté ligada a barba, ” ao totem das moscas, as doengas dos olhos. +8 O ser assim colocado em relagio com o totem € no caso mais freqiiente tum péssaro. ** O passarinho negro alatirpa depende das formigas do ‘mele, como elas, freqiienta as moitas de mulga, ® assim como outro 505 churns, emblems indus om quest sre rede as sims dos anepaait, nena, no i das rik, rerenarber deters de son SS carmbnas aoe lo Teptnds et mon do it cemprrcnca af Tago de uma frvoree suas ses (p14 47, 62,626,670 CF. aS ua Che 38 fara a Lrr— (N. do T.)) : — p38, an 3 oP. 56 ‘*Spenet © Gillen sf falam de pos. Mat, on read, 0 fo & muito ma ge oe, a, 447, 195 passarinho alpitarka, que busca os mesmos habitantes. °* Uma espécie de passaro chamado thippa-thippa € 0 aliado do lagarto.** A planta irriakura tem por dependente © papagaio de pescoco vermelho. § Os individuos do cla da lagarta witchetty nfo comem certos péssaros que so chamados comensais deles (quathari que Spencer ¢ Gillen traduzem por inmates). O totem do canguru tem sob sua dependéncia duas ‘espécies de péssaros, © © mesmo acontece com o “euro”. * O fato dos seres assim associados a outros terem sido, antigamente, do mesmo totem que estes tltimos, mostra de maneira concludente que tais cone- xBes sflo bem os restos de uma antiga classificacdo. Os péssaros kar- fwungawunga eram antigamente, segundo a lenda, homens-cangurus © comiam canguru; As duas espécies ligadas a0 totem da formiga do mel eram outrora formigas de mel. Os unchurunga, passarinhos de um ver- melho muito bonito, eram primitivamente do cli do “euro”. As quatro espécies de lagartos se concentram em dois pares de dois, © 0 membro de cada par é ao mesmo tempo o associado e a transformagio do outro.** nalmente, o fato de podermos, entre os arunta, encontrar a série de estados intermediérios por meio dos quais esta organizagdo se prende, quase sem solugio de continuidade, ao tipo cléssico do Monte Gambier, € uma tltima prova de que estamos bem diante de uma forma alterada ddas antigas classificagSes. Entre os vizinhos setentrionais dos arunta, 0s cchingalee, que habitam o territério norte da Austrélia meridional (gol- fo de Carpentaria), encontramos, como entre os proprios arunta, uma ‘extrema dispersio das coisas entre clés muito numerosos, isto é, muito fragmentados; so af notados 59 totens diferentes. Os grupos totémicos deixaram de ser classificados sob as fratrias, da mesma forma que entre ‘0s arunta: todos os dois esto a cavaleiro das duas fratrias em que se SIP, 448, 188, 646. E de notar a analogia que existe entre seus nomes © © de Iatirpa, © grande antepassado desse totem. 82. 305, Em certas ceriménias do elf, em torno do “lagarto”, fazse. dangar dois individuos que representam dois pissaros dessa espécie. E, segundo 08 mites, festa danga estava fem uso no tempo de Alcherings. 8, 320. Cj. 318, 319. 4p, 447, 448. SOP, 448, 8 hid, St 1bid. p. 448, 489. ORV, Marmitews, R. H. “The Wombya Organization of the Australian Aborigines.” American Anthropologist. N. 8, 1900. p. 434 ef segs 1 divide a tribo, Mas a difusio desses grupos nio € tio completa quanto entre os arunta, Em lugar de se estenderem, a0 acaso ¢ sem regula- ‘mentago, em toda a extensio da sociedade, eles se repartem de acordo com principios fixos ¢ se localizam em grupos determinados, embora diferentes, da fratria. Com efeito, cada fratria esta dividida em oito classes matrimoniais; * ora, cada classe de uma fratria no pode casar- se seno com uma classe determinada de outra fratria, que compreende ‘ou pode compreender os mesmos totens que a primeira. Reunidas, estas dduas classes correspondentes contém, assim, um grupo definido de to- tens de coisas, que no sio encontrados noutra parte. Por exemplo, todas as formas de pombos, as formigas, as vespas, 0s mosquitos, as centopéias, a abelha indigena, a relva, a ri, diversas serpentes, etc. pertencem as duas classes Chongora-Chabalye; 20 grupo formado pelas classes Chowan © Chowarding sio atribuidas certas estrelas, 0 sol, as nnuvens, a chuva, a galinha-d’égua, o fhis, 0 trovdo, a éguia-falcdo, 0 faledo escuro, 0 pato negro, ete.; a0 grupo Chagarra-Chocarro, as chas, 0 rato bilbi, 0 corvo, 0 porco-espinho, 0 canguru, etc. Assim, ‘num certo sentido, as coisas ainda esto presas a quadros determinados, mas estes possuem jé qualquer coisa de mais artificial e de menos con- sistente, uma vez que cada um deles € formado de duas secgSes que se prendem a duas fratras diferentes. Com outra tribe da mesma regio, faremos um passo a mais no caminho seguido pela organizagio ¢ sistematizagao. Entre os moorawa- ria, do rio Culgoa, ® a segmentacéo dos clis é levada ainda mais longe { Ainda nesse ponto, hé um parentesco notével entre esta tribo © a dos arunta, nna qual as classes matrimoniis aio também em nimero de cite: € pelo menos © caso entre os arunta do norte; e entre os outros a mesma subdivisio das ‘quatro classes primitivas ests em vias de formagio, A causa deste seccionamento 2a mesma nat duas sociedades, isto & a trantformagio da filiagfo uterina em filiagio masculina. Nesta revista mesmo foi mostrado, com efeito, como tal revolugdo teria por conseqlincia a impossbilidade de qualquer casamento se as ‘quatro classes inicisis nfo se subdividisem (V. Année Sociol. V, n° 1, p. 106). Entre os chingalee, a modanga se produziu, todavia, de mancira muito especial. A fratriae, por conseguinte, a classe matrimonial, continuam a transmitirse or linha materna; somente o totem € herdado do pai. Explica-se asim porque ada classe de uma fratria possul, na outra fratria, uma classe correspondente ‘que compreende os mesmos totens. £ que a crianga pertence a uma classe de Tratria.materna; mas postui os mesmos totens que set pal, o qual pertence a tuma classe da outra frat coMarmmews, R. H. In: Proceedings of the American Philosophical Society (Flladétia), 1898. XXXVI, p. 151 et seas. 197 que entre os arunta; conhecemos af, efetivamente, 152 espécies de obje- os que servem de totens a outros tantos clis diferentes. Mas esta mul- tidio de coisas esta regularmente enquadrada pelas duas fratrias Ippai- -Kumbo € Kubi-Murri. Estamos, pois, muito perto do tipo cléssico, salvo quanto a atomizagdo dos clas. Que a sociedade, em lugar de estar ‘2 esse ponto dispersa, se concentre, que os clis, assim separados, se fagrupem segundo suas afinidades naturals de modo a formar grupos mais volumosos que, por conseguinte, 0 niimero de totens principais diminua (tomando as outras coisas que servem presentemente de totens, fem relagéo as précedentes, um lugar subordinado) © tornaremos a en- contrar exatamente o sistema do Monte Gambier. Em resumo, se nfo podemos afirmar que esta maneira de classi- ficar as coisas esté necessariamente implicita no totemismo, em todo (© caso ela é certamente encontrada com muita freqiiéneia nas socie~ dades que se organizaram numa base totémica. Existe, assim, uma ligacdo estreita ¢ no uma relacdo acidental, entre esse sistema social € 0 sistema I6gico. Veremos agora como a esta forma primitiva de clas- sificagdo outras podem estar ligadas, que apresentam um grav mais alto de complexidade. v |As classificagdes primitivas nfo constituem, pois, singularidades excepcionais, sem analogia com’ as que esto em uso entre povos os ‘mais cultivados; parecem, a0 contrério, se ligar sem solugio de continu dade as primeiras classificagbes cientificas. Com efeito, embora difiram profundamente destas iiltimas sob certos aspectos, nio deixam todavia de possuir todos os caracteres essenciais das mesmas. Em primeiro lugar, da mesma forma que as classificagoes dos eruditos, elas so sis- temas de nogies hierarquizadas. As coisas nfo se encontram dispostas simplesmente sob a forma de grupos isolados uns dos outros, mas estes grupos mantém uns com os outros relagées definidas © seu conjunto forma um s6 mesmo todo. Ainda mais, estes sistemas, do mesmo modo que os da cigncia, ttm um fim especulativo. Seu objeto no facilitar a agdo, mas tornar compreensivas, inteligiveis, as relagdes exis- tentes entre os seres. Dados certos conceitos considerados como funda- WNesta tribo no se conhecem nomes para designar especialmente as frat Designamos, pois, cada uma delas pelos nomes de suas classes matrimoniais. Vese ainda que a nomenclatura é a do sistema Kamilaroi. 198 mentais, 0 espirito sente a necessidade de prender a eles as nogdes que formula a respeito de outras coisas. Tais classficagSes si0, pow ares de tudo, destnadas alga as iis enre sa unifea o cenkocinenty 4 este tile, podemos dizer sem inesaidso que elas slo obra ds ee costa tn ni nt natn * Neo © ede vista a regulamenagao de sun condula, nem meamo a juslieesto de Prdtea que o austaiano divide © mundo ene av ttens de tos wise E'simporgue 2 n0sio de Totem, sono capital, neces sea, os flag el, todos ob outtos conesiments feos Podess pon, pene aus scone de gu doped a cafes to ag tio deirram de deempenhar um papel inporante'na genes Ga fa 40 classificatéria em geral. ® " __OFa, resulta de todo este estudo que tais condigdes sio de natureza Social. Ao contrério de terem as relacées l6gicas entre as coisas forne- cido base as relagdes sociais dos homens, como parece admitir Frazer, nna realidade foram estas que serviram de protétipo aquelas. Segundo Frazer, os homens se teriam dividido em clas de acordo com uma clas- sificagio prévia das coisas; ora, muito ao contrétio, os homens classi ficaram as coisas porque estavam divididos em clés. Vimos, com efeito, como estas classificagSes se modelaram sobre 4 organizagio social mais préxima ¢ mais fundamental, Esta expressio € insuficiente para exprimi-lo. A sociedade néo foi simplesmente um modelo de acordo com 0 qual 0 pensamento classificatrio teria traba- Ihado; foram os préprios quadros da sociedade que serviram de quadros. a0 sistema. As primeiras categorias I6gicas foram categorias sociais; as primeiras classes de coisas foram classes de homens nas quais as coisas foram integradas. Foi porque os homens estavam agrupados e se conce- bbiam a si mesmos sob a forma de grupos, que agruparam idealmente os © Distinguem-se, por esse lado, nitidamente do que se poderia chamar as clasi- ficasées tecnolégicas. £ provavel que, em todos os tempos, o homem mais ou ‘menos nitidamente clasifico as coisas de que se alimenta, de acordo com os Brostion atdor para spropritlas: por etempl, ‘em asinals que vivem oa 2, O nos ares, ou na terra. Mas, primeiro, estes grupos assim constituldos nig estio ligedos ‘uns aos outros e sistematizados. io divises, distingSes de nogdes, mas nfo quadros de classficagio. E, mais ainda, ¢ evidente que esas distingies fo exetamente. comprometda ‘om a pris, ‘da ql elt no fazem mais ‘do que exprimir certos aspectos, Foi por esta razio que néo falamos delas neste trabalho em que procuramos principalmente esclarecer um oaco a8 origens do proceso gio que end na tae day claifeagbs cen 19 outros seres, ¢ as duas modalidades de agrupamento comecaram por ‘se confundir a ponto de serem indistintas. AS fratrias foram os primeiros géneros; 0s lis, as primeiras espécies. As coisas eram tidas como fazendo parte integrante da sociedade, ¢ era o seu lugar na sociedade que determinava seu lugar na natureza. Pode-se mesmo perguntar se a Imaneira esquemétiea pela qual 0s géneros so comumente concebidos nnio dependeria em parte das mesmas influéncias. E um fato de obser- ‘vagdo corrente que as coisas compreendidas pelos géneros so geralmen- te imaginadas como se situando numa espécie de meio ideal, de cir- ccunserigio espacial mais ou menos nitidamente delimitada. Nao foi sem uma razio, certamente, que tantas vezes os conceitos suas relagdes foram figurados por circulos concéntricos, excéntricos, interiores, exte- riores uns aos outros, etc. Esta tendéncia para representarmos agrupa- mentos puramente I6gicos sob uma forma que contrasta a tal ponto com sua verdadeira natureza, no proviria do fato deles terem sido con- cebidos, no comego sob a forma de grupos sociais, ocupando, por con- seguinte, local determinado no espago? E, de fato, nfo temos observado esta localizagdo especial dos géneros e das espécies em grande nimero de sociedades muito diferentes? Também as relagées que unem as classes umas as outras, e no somente sua forma exterior, io de origem social. Foi porque os grupos hhumanos se continham uns nos outros, o subeld no cls, ¢ cld na fratria, a fratria na tribo, que os grupos de coises se dispuseram segundo a mesma ordem. Sua extenséo regularmente decrescente & medida que se passava do género A espécie, da espécie & variedade etc., vem da ex- tenslo igualmente decrescente que apresentam as divisdes sociis & me- dida que nos afastamos das mais vastas € mais antigas para nos apro- ximarmos das mais recentes © mais derivadas, E se a totalidade das coisas 6 concebida como um sistema tinico é porque a sociedade, ela propria, € coneebida como tal. Ela forma um todo, ou melhor, ela é (© todo tinico, a0 qual tudo se liga. Assim a hierarquia Wégica nio é ‘endo um outro aspecto da hierarquia social e @ unidade do conhec mento nio é outra coisa sendo a propria unidade da coletividade, esten- ida 20 universo. Ainda mais: os proprios Jagos que unem, seja os seres de um mesmo grupo, seja os diferentes grupos entre si, sfo concebidos como lacos sociais, Lembravamos no inicio do trabalho que as expressées pelas quais designamos ainda hoje tais relagGes tm um significado moral; ‘mas, enquanto para nés ndo significam mais que metéforas. primitiva- mente elas conservavam todo o seu sentido. As coisas de uma mesma 200 classe eram realmente consideradas como parentes dos individuos do ‘mesmo grupo social , por conseguinte, como parentes uns dos outros. Elas eram “da mesma carne”, da mesma familia, As relagdes l6gicas sto, entio, em certo, sentido, relagdes domésticas. Vimos também algu- ‘mas vezes que elas se comparam em,todos os pontos as relagies que existem entre 0 senhor e a coisa possuida, entre o chefe © seus subor- dinados. Poder-s'-ia perguntar se a noco, tio estranha do ponto de vista positivo, da ‘uperioridade do género sobre a espécie, no teve aqui sua forma rudimentar. Do mesmo modo que, para o realista, a idéia geral domina o individuo, assim também 0 totem do cla domina 0 dos subclis e, mais ainda, o totem pessoal dos individuos; e 14 onde a fra- tria guardou sua primeira consisténcia, ela possui, sobre as divisSes que compreende © os seres particulares a estas atribuidos, uma espécie de primazia. Embora sendo essencialmente Wartwut ¢ parcialmente Moi- viluk, 0 wotjobaluk de Howitt é, antes de tudo, um Krokitch ou um Gamutch. Entre 0s zufi, os animais que simbolizam os seis clas funda- ‘mentais estio soberanamente preponderantes sobre seus subclas respec- tivos ¢ sobre os seres de toda espécie af agrupados. © que precede permite compreénder como se pode constituir a nogio de classes, ligadas entre elas num Gnico e mesmo sistema, mas ignoramos ainda quais as forcas que induziram os homens a repartir 8 coisas entre essas classes da maneira que adotaram, Do quadro exte- rior da classificacdo ter sido fornecido pela sociedade, nao decorre ne- cessariamente que o modo pelo qual foi empregado tenha as. mesmas raz6es de origem. E muito possivel, a priori, que motivos de ordem muito diferente tenham determinado o modo pelo qual os seres foram aproximados, confundidos, ou entao distinguidos e separados. A concepeio particular que se tem dos lagos légicos permite, po- xém, por de lado esta hipstese. Acabamos de ver, com efeito, que estes lagos sio representados sob a forma de lacos familiares, ou como rela- es de subordinago econdmica ow politica; pode-se dizer, pois, que 8 mesmos sentimentos que estio na base da organizagio doméstica, social, etc. presidiram também a repartifo l6gica das coisas. Estas se atraem ou se opbem da mesma maneira que os homens se ligam pelo parentesco ou se opGem pela vendeta. Elas se confundem como os mem- bros de uma mesma familia se identificam num pensamento comum. © que faz com que umas se subordinem as outras € em todos os pontos anélogo 20 que faz 0 objeto possuido aparecer como inferior a seu Proprietério, 0 servo a seu senhor. Foram, pois, estados coletives que deram nascimento a estes grupos ¢, ainda mais, estes estados si0 mai festamente afetivos. Existem afinidades sentimentais entre as coisas como entre os individuos, ¢ elas se classificam segundo tais afinidades. Chegamos, pois, a esta conclusfio: que € possivel classificar outra coisa que néo os conceitos, e de maneira diferente das seguidas pelas leis do entendimento puro. Pois, para que nogdes possam assim se dispor sistematicamente segundo razdes sentimentais, € preciso que elas ‘do sejam idéias puras, mas que sejam, sim, obra de sentimentos. Efeti- ‘vamente, para esses que chamamos primitivos, uma espécie de coisas nao € simples objeto de conhecimento, mas corresponde antes de mais nada a uma certa atithde sentimental. Toda espécie de elementos afe- tivos concorre para a representagio que dela se concebe. Principalmente emogies religiosas que néo apenas Ihe comunicam um colorido espe- cial, mas ainda Ihe atribuem as propriedades mais essenciais que a cons- tituem, As coisas, antes de mais nada, so sagradas ou profanas, puras ‘ou impuras, amigas ou inimigas, favordveis ou desfavoraveis; ® isto seus caracteres fundamentais nfo fazem mais do que exprimir a maneira pela qual elas afetam a sensibilidade social. Diferengas ¢ semelhangas mais afetivas que intelectuais determinam a maneira pela qual elas se agrupam. & por isso — porque afetam diferentemente os sentimentos dos grupos —, que as coisas, de certo modo, mudam de natureza, se- gundo as sociedades. © que aqui é concebido como perteitamente homo- géneo, adiante & representado como essencialmente heterogéneo. Para 1n6s, 0 espaco esté formado de partes semelhantes entre si, substituiveis ‘umas as outras, Vimos, todavia, que, para muitos povos, 0 espaco est profundamente diferenciado segundo as regides. que cada regido tem seu valor afetivo proprio, Sob a influéncia de sentimentos diversos, ela se liga a um principio religioso especial e, por conseguinte, esta dotada de virtudes sui generis que a distinguem de qualquer outra. E € este valor emocional das nogdes que desempenha papel preponderante na maneira pela qual as idéias se aproximam ou se separam. E este valor que serve de caréter dominante na classificagio. ‘Mfirmou-se freqilentemente que 0 homem comegou por conceber ‘as coisas que se relacionavam com ele préprio. O que foi exposto atrés permite compreender melhor em que consiste este antropocentrismo, que seria chamado com mais propriedade de sociocentrismo. © centro dos Si Ainda agora, para o erente de muitos cultos, os alimentos se clasificam antes Ge tudo em dois grandes éneros, os gordurosos © os magros, © sabese quanto ‘existe de subjetivo nesta clasifcagio. primeiros sistemas da natureza no € 0 individuo, ¢'a sociedade. * # la que se objetiva ¢ no mais o homem. Nada mais demonstrative a esse respeito que 0 modo pelo qual os indios sioux englobam de certa maneira 0 mundo inteiro nos limites do espago tribal; e vimos como 0 préprio espago universal nada mais é do que 0 local ocupado pela tribo, indefinidamente estendido além de seus limites reais. Foi em vir- tude da mesma disposigo mental que tantos povos colocaram o centro do mundo, “o umbigo da terra", em sua capital politica ou religiosa, isto é, 14 onde se encontra o.centro de sua vida moral. Da mesma forma ainda, mas numa outra ordem de idéias, a forga criadora do universo e de tudo o que ai se encontra foi concebida primeiramente como 0 antepassado mitico, gerador da sociedade. Eis por que a nogéo de uma classiticagao l6gica foi tio dificil de se formar, como mostramos no infcio deste trabalho. B que uma classficagio l6gica é uma classi- ficagdo de conceitos. Ora, o conceito é a nogéo de um grupo de seres nitidamente determinado; os limites desse grupo podem ser marcados com preciso. A emogao, ao contririo, é qualquer coisa de vago e de inconsistente, Sua influéncia contagiosa se irradia muito além do ponto fem que se originou, estende-se a tudo quanto a cerca, sem que se possa dizer onde termina seu poder de propagacto. Os estados de natureza emocional participam necessariamente do mesmo caréter. Nao se pode dizer nem onde comegam, nem onde acabam; perdem-se uns nos outros, misturam suas propriedades de tal maneira que no podem ser catego- rizados com rigor, Por outro lado, para poder marcar os limites de uma classe seria preciso ainda ter analisado os caracteres pelos quais se istinguem e se reconhecem os seres reunidos nesta classe. Ora, a emo- ‘0 € naturalmente refratéria & anélise, ou, pelo menos, a ela se presta com dificuldade porque € muito complexa; desafia o exame critico € raciocinado, principalmente quando & de origem coletiva. A pressio exercida pelo grupo social sobre cada um de seus membros nfo per- rite 20s individuos julgar com liberdade nogdes que a propria sociedade elaborou, e em que colocou qualquer coisa de sua personalidade, Tais construgées sto sagradas para os particulares. Desse modo, a hist6ria De La Grasserie desenvolveu, mas de mancira assaz obscura ¢ sobretudo sem apresentar prova, idéias semelhantes is nossas em Religions comparées aut point de vue sociolopique. cap. I (© que & compreensivel em relapo aos romanos, ¢ mesmo em relagio 208 ‘ui, 0 € muito menos em relacio os habitantes da’ ha da Péscos, chamada Te Pitote Henwa (umbigo do mundo); mas a idéia é interamente natural em toda a parte. 203 4a classificagdo cientifca é, em definitivo, a propria histéria das etapas no curso das quais este elemento de afetividade social se enfraqueceu progressivamente, deixando cada vez mais o lugar livre para o pensa- mento refletido dos individuos. Todavia, muito falta ainda para que estas influgncias longinquas, que acabamos de estudar, tenham cessado de se fazer sentir. Deixacam atrés de si uma conseqiiéncia que sobre- vive e que continua sempre presente: 0 quadro mesmo de todas as clas- sificagdes, o conjunto todo de hibitos mentais em virtude dos quais, concebemos os seres ¢ 05 fates sob a forma de grupos coordenados e subordinados uns 208 outros. Pode-se ver, por exemplo, o raio de luz que a Sociologia projeta na génese e, por conseguinte, no funcionamento das operagies légicas. © que tentamos fazer para a classficagio poderia ser igualmente ten- tado para outras fungdes ow nogdes fundamentais do entendimento. 34 tivemos ocasifo de indicar de passagem como mesmo idéias tio abstra tas quanto as de tempo e de espaco estio, em cada momento de sua hist6tia, em relaglo estreita com a organizagéo social correspondente, (© mesmo método poderia ajudar igualmente a compreender a maneira pela qual se formaram as idéias de causa, de substincia, as diferentes formas de raciocinio, etc. Todas estas questdes, que metafisicos e ps logos agitam hé tanto tempo, serdo enfim libertadas das repetigées fastidiosas em que se detém marcando passo, no dia em que forem colo- cadas em termes sociolégicos. Ai esté, pois, um novo caminho que merece ser trilhado

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