Vous êtes sur la page 1sur 1

Quando o pai arranjou trabalho em Lisboa e resolveu levar consigo a mulher e o filho, o Augusto ficou muito

contente. Ele nunca tinha ido a Lisboa; só uma vez a Viseu, que até era uma cidade bonita, mas Lisboa havia de ser
ainda mais e maior.
Com muitos automóveis, autocarros e um comboio que andava por debaixo do chão (tinham-lhe contado). E
casas altas. Com dez andares! E um rio com vapores. E uma grande ponte.
Mas afinal…
Ao fim de um mês, o Augusto não se sentia tão feliz como julgava que havia de estar.
Lisboa seria uma cidade grande e bonita, seria, mas era talvez grande demais.
O Augusto ainda não tinha visto a estátua, nem a ponte, nem o rio com vapores, nem tinha andado no comboio
debaixo do chão, nem…nem…
Assim brincava na rua, ou no pátio da escola.
Mas também aí…
No primeiro dia, quando a professora o mandou ler e o Augusto começou: «No chimo da iárvore o pacharinho
tinha o ninho que era a chua caja…», os outros largaram-se a rir.
O Augusto parou. Não percebia o que tivesse dito que fosse tão engraçado. Lá na terra, a professora até dizia
que ele era bom aluno e lia muito bem.
– Continua Augusto – disse a professora de Lisboa, depois de ter mandado
calar os outros.
Leu o trecho todo até ao fim da página, mas agora com menos confiança,
cheio de medo de que as gargalhadas o interrompessem novamente.
Mas ninguém se riu mais.
– Muito bem Augusto! – disse a professora sorrindo para ele.
E depois explicou que a maneira de falar do Augusto era a pronúncia da
Beira Alta, nem pior nem melhor que a do Alentejo, a do Algarve, a do Minho, a dos
Açores, a da Madeira… Ou a de Lisboa. Todas estavam certas e tudo era Língua
Portuguesa.
Os outros acreditaram ou não. Dentro da aula nunca mais fizeram troça
dele, mas lá fora chamavam-lhe o Chantos (Augusto dos Santos era o nome dele), e
não lhe ligavam importância nenhuma. Naturalmente, porque já eram conhecidos e
amigos uns dos outros desde a primária, e o Augusto acabava de chegar.
Maria Isabel Mendonça Soares, Dias de Festa e Outras Histórias

AMIGOS OU NÃO?
No dia seguinte, Augusto chegou à escola, entrou na sala e todos se calaram a olhar para ele.
– Bom dia, professora.
Durante a aula, ninguém se riu, mas já no intervalo…
– Olha o “Chantos”…tax bem?...
O António, sentado num banco, falava ao telemóvel. Mal acabou, o Augusto sentou-se ao pé dele e
simplesmente calou-se. Pareciam dois mudos! De repente, o António espirrou e fez um barulho estranho.
Começaram a rir-se. O António espirrou outra vez e surgiu uma gargalhada vinda do Augusto. Até que um
dos dois meninos, o António, falou:
– Queres ser meu amigo? Sabes que eu também me mudei para esta escola há um mês e tenho uma
pronúncia diferente. Por isso é que ainda não tenho amigos. Na minha opinião, os amigos não se escolhem
pelas diferenças. Quando se riram de ti na sala, não achei lá grande piada e tive vergonha. Então, queres ser
meu amigo, ou não?
– Mas eu… mas eu…eu…
– Não queres?
– Claro que sim, não ligues.
E assim, Augusto encontrou um bom amigo e começou a achar que viver em Lisboa não era tão mau.

Ana Beatriz Craveiro Nunes, nº2, 7ºE

Vous aimerez peut-être aussi