Vous êtes sur la page 1sur 27
ISBN: 85-86572-17-9 O SINDICALISMO NA POLITICA BRASILEIRA ARMANDO BOITO Jr. IFCH/UNICAMP Este livro contém parte dos artigos que escrevi sobre o movimento sindical a0 longo dos iiltimos quinze anos. Os textos privilegiam as relagSes do ismo com 0 processo politico nacional e internacional realcam também © componente ideolégico. que inevitavelmente acompanha a ‘organizagao sindical e a acdo reivindicativa dos trabalhadores, Empreendemos uma andlise critica da estrutura sindical brasileira e das reformas pelas quais essa estrutura passou no periodo recente, examinamos as relagdes do sindicalismo brasileiro com 0 populismo, com o neoliberalismo ¢ com as novas formas de corporativismo e, de maneira mais ARMANDO BOITO Jr. parece claro que nfo € mais possivel escrever a hist6ria politica do pats ignorando a ago reivindieativa dos trabalhadores assalariados. Na parte final da coletinea, analisamos as relagdes do sindicalismo ‘com 0 governo Lilla, governo cuja base social ¢ formada por uma original c wergéncia do novo corporativismo sindical com o populismo ressurgente; o tiltimo ensaio apresenta uma andlise da crise do sindicalismo internacional que destoa muito dos enfoques das teses correntes sobre esse tema, O SINDICALISMO NA POLITICA BRASILEIRA a © movimento sindical diante Quem veneeu?, politica de reform avn 47 125 Direito do trabalho ¢ estrutura sindical na CLT: uma nota sobre © projeto de reforma trabalhista e sindical do Governo FHC. 137 SINDICALISMO, NEOCORPORATIVISMO E NEOLIBERALISMO Hegemonia neoliberal e sindicalismo no Brasil... see dS © peleguismo aderiu 20 neoliber 148 A estratégia da CUT antes da ofensi 152 1989-1991: uma nova conjuntura. 157 A nova estratégia da CUT: recuo ou capitulagio neoliberal? — : 161 O sindicalismo propositivo nas cimaras setoi 109 De onde vem a forca do neoliberalismo?. 176 Pés-escrito... 180 Neoliberalismo ¢ corporativismo de Estado no Brasil 185 Neoliberalismo e sindicalismo no Bra: 188 Neoliberalismo ¢ corporativismo de I - 199 Os projetos de reforma sindical de Collor ¢ dé FHC sesessnsnnorsvrrse,, 204 Populismo, neocorporativismo e o declinio do sindicalismo de Estado..214 Perspectivas 221 ia neoliberal no Governo Lula ~ neocorporativismo — “ 203 As relagdes de classe © a hegemonia regressiva do neo! 225 © novo corporativismo operitio. : we D30 © novo populismo: jogar os pobres conten os reme 243 Aesquerda ea 258 .** surgimento de uma nova esquerda no Brasil O sindicalismo no segundo go govemno FHC. " Decadéncia ou refluso do sindicalismo?. Por que o sindicalismo esta em crise? Conélusio: crise e mutagdes do sindicalismo. © O'SINDICALISMO ONTEM E HOJE A presenga do sindicalismo na histéria politica do Brasil... ( sindicalismo brasileiro nasceu fazendo politica G anarco. 1930: 0 sindiealismo intervem no processo de revolugio burguesa. O sindicalismo e a politiea populista... a O sindicalismo acuou a ditadura militar e contribuiw para 0 spolitizou o movimento sindical A defensiva do sindicalismo nos anos 90.. Bibliogratia O futuro do sindicalismo........ Ha um recuo international do sindi lismo? A politica é reflexo da economia? 265 267 269 an 273 s.280 284 so 287 289 293 97 299 301 305 308 Instituto de Filosofia e Cigneias Hu ISBN 85-86572-17.9 SUMARIO ; APRESENTAQAO wocesinnsnsnnnnnnnn : 7 INTRODUGIO. 9 SINDICALISMO, ESTRUTURA SINDICAL E POPULISMO 0 Populismo no Brasil: natureza, formas de manifestagio € Seon De PUBLICAgOES: s ates packets wy . + A polémica sobre 0 populismo : 20 Grdrica: Schas . -O populismo: um estatismo reformista Pequenoburgus 2 Editoragao: Mavilza A. Silva A aparéncia do populismo: o personalismo .. 30 Revisio: Armando Boito Je. As mani Projeto da eapa: Carlos Roberto Fernandes “Dé onde ver a forga do popul Capa: Laser Color Bibliografia Impressio: Grafica do ICH/UNICAMP oe O sindicalismo de Estado n0 Brasil... 47 . }. A atualidade politica do tema e o problema da earaeterizagio da cestrutura sindical brasileira... «2. Acsteutura sindical e 0 populismo. «7 "3. A fungio politica da estrutura sindical + 4.0 declinio do sindicalismo de Estado. “5. HA uma crise da estrutura sindical? [0375 nas, 2008. 300 p. = (Coles 8% “Bibliogra Reforma ¢ persisténcia da estrutura sindical na crise da ditaduga militar e no processo democratizagio (1978-1990) 79 A estrutura sindical ¢ o sindicalismo de Estado 85 © declinio do sindicalismo de Estado. 4 A ctise do modelo sindical da ditadura e a politica de abertura sindical...106 A supressio do modelo sindical da ditadura ea preservagio da estrututa sindical 1 O Sindicalismo Ontem e Hoje : A presenga do sindicalismo na histéria politica do Brasil* A revista da Apropue solicitou-me, para a série “Brasil 500 A- » tim texto sobre o sindicalismo na histéria do Brasil, O tema é vasto, e°% claro qué qualquer ambigio de tratar um conjunto m ito ‘grandle de problemas contidos em tal tema seria initil, dados os limi tes de espago da revista e de conhecimento deste autor. H4, contudo, ido. tum ponto interessante a ser considerado e sobre o qual pre zer algumas palavras. Refiro-me a intervengao da luta sindi t6ria politica do pais. Farei isso, ja que se trata de um balango do “a- hiversirio de 500 anos”, dando ao leitor algumas indicages dos deba- + tes © dos autores que trataram do tema. O espago, contudo, me de de dar muitas indicagdes ¢ de apresentar as referéncias bi £28 completas “Existe uma concepgio da histéria do Brasil que omite sistemati- camente a intervensio dos trabalhadores no proceso histérico na- cional. Essa concepgio aparece em diferentes verséi primeira que consiste em abordar “'os acontecimentos da histéria nacional, como a Independénci ie : Texio esctito no ano 2000 a pedido dos colegas da Apropue, Professores da PUC-SP. Refeséncia: “A Presenga do sindlealam wm: a do Brasil", PUCVIVA, Sio Paulo, Pontificia Universe Carole 16, ano Il, n°7, dezembro de 1999, p 266 A presen do sindicaliona na tra politica do Brasil boligao, a Repablica, a Revolugio de 1930, o fim da ditadura mi outros, ocultando, pelo siléncio ou pela negacio explicita, a importin- cia da interferéncia dos trabalhadores na definigio dos rumos de tais ar € processos politicos. Outra versio, de motivagio distinta, que subjeti- vamente pode, eventualmente, ser até adores, mpatica aos trabs aquela que analisa as condicdes de vida, as formas de organizacio © a luta dos trabalhadores ou, mais recentemente, seus habitos ¢ suas priticas culturais, separadamente das transformacdes politicas ¢ soci- pelas quais o Brasil p: histéria dos trabalhadores separada da histétia do Brasil. Esses dois ou ao longo de sua histéria. Paz-se uma modos de omitir a presenga dos trabalhadores na histéria nacional podem até se fundir, dando origem a uma terceira vertente. De con- tesido aparentemente critico progressista, essa terceita vertente, marcada por um forte pessimismo, nio s6 silen: ou nega a interven- io dos trabalhadores nas transformagoes pelas quais 0 Brasil passou, como tende a apresentar ta transformacdes como quimeras: a Inde- pendéncia teria sido um mero acerto entre membros da familia 1 Republica um golpe de Estado, a Revolugio de 1930 expressio de uma “dissidéncia oligarquica”, o fim da ditadura, resultado da politica de abertura do General Figucivedo ete. Numa histéria marcada por mudangas fieti , seria mesmo melhor que os tral Esses enfogu te, incorretos ¢, politicamente, prejudiciais ao movimento operitio © popular. Essa corrente tem algo em que se apoia foque unilateral. © Brasil teansitou para o capitalismo fazendo eco- nomia de uma revolugio burguesa A moda francesa. Isso teve impli- \dores se man- tivessem dos dessa comé sio, historicamen- mas apresenta um en- cages que marcam, profundamente, a vida econémica, politica € social do pafs. Tivemos a formidivel ruptura que significou a aboligi da escravidio, mas nfo tivemos, aqui, a reforma agriria e a luta do Armano Boit J 267 MST esta ai para comprovar a importirfcia ¢ a atualidade dessa ques- to, No inicio do século XIX, a administeagio colonial portuguesa foi substituida por um Estado Nacional e, ja no século XX, a Revolucio, de 1930 permitiu que se desencadeasse um processo de industrializa- brasileira permatieceu dependente ~ ¢ o agravamento recente dessa dependén- dove de expansio dos direitos sociais, mas a economi cia realgou essa verdade — e a expansio dos direitos sociais nio che- gou a moldar um Estado de bem-estar no Brasil. Alguns marxistas brasileiros, como Joo Quartim de Moraes, J. Chasin e Carlos Nelson Coutinho, utilizaram conceitos como os de “via prussiana”, “capita lismo hipertatdio” ¢ “revolugio passiva”, pata indicar essa transfor- thagio (limitada) sem’revolugio. Mas o fato é que entre, de um lado, © Brasil de hoje, organizado por um Estado nacional, industrializado, e xegido por um regime politico democritico-burgués, ¢ o Brasil de ontem, colonial, agricola ¢ esceavista, a diferenca é de qualidade. ‘O sindicalismo brasileiro nasceu fazendo politica IE claro que, sendo nosso tema o sindicalismo, nao poderemos travar essa polémica tomando como referéncia © conjunto da histéri do, Brasil. Temos de testringir nossa anélise a0 periodo em que os trabalhadores livres iados, ¢ principalmente a classe operitia, constituem o principal setor das classes trabalhadoras. Os trabalhado- res livres assalariados nao existem ha muito tempo no B: Atéo quarto'século de nossa histéri ¢ no wabalho escravo. Ligada 4 exportagio de café desenvolveu-si a economia brasileira bi “avi jfna segunda metade do século XIX, uma nova classe média urbana — tra- balfiadores do comércio, de escritério, de atividades culturais ete. — “mas toda a economia exportadora girava em torno da escravidio. AApés a.Abolicio, cresceu o trabalho assalariado na inddstria e tam- 268 A presenga do sinicaicmo na biséria politica do Brasil . bém nos servigos urbanos. Mas é preciso lembrar que a industria bra- sileirn era, até a Primeira Grande Guerra, uma atividade econdmica secundatia e estava localizada em poucos centros urbanos. No interior do pais, nas fazendas, ainda dominava a figura do trabalhador que se encontrava pessoalmente subordinado a0 proprictiti — 0 antigo colono, nos cafezais de Sio Paulo, o agregando ou o mora- dor nos canaviais do Nordeste etc. Ora, 0 escravo ¢ 0 trabalhador dependente nio organizam sindicatos. Alguns historiadores utilizam, impropriamente, o termo negociacio para se referir a alguns tipos de luta entre escravos ¢ senhores (Reis ¢ Silva, 1989). E. certo que os escravos lutaram. Nur patamar inferior, tinhamos, de fato, pressdes difusas dos escravos sobre os fazendeiros, , num patamar superior, rebelides ¢ fugas. Mas, mesmo quando dessas pressdes difusas ¢ des- sas rebeliGes resultaram concessées dos fazendeiros, niio é correto falar em negociagio entre trabalhador ¢ proprietirio. O trabalhador 6 pode negociar as condigdes de sua prdpria exploragio com os pro- ptictitios dos meios de producio, negocingio que ¢ 0 que caracteriza o sindic: mo, quando esse trabalhador € reconhecido como cidadiio, dotado de direitos civis plenos, o que no ocorre (por definigio) na escravidio, ¢ s6 ocorre de modo parcial no caso dos camponeses de- pendentes (Boito, 2001), O sindicalismo no Brasil nasce, entio, com 0 trabalhador livre ¢, principalmente, com o trabalhador livre manual, empregado na induis- tia. Foi a aboli¢io da escravidio que abriu caminho para o sindica- lismo. No periodo imediatamente posterior 4 Abolicio e 4 Proclama- gio da Repiblica, a ago de tipo sindical dos tabalhadores ji esti presente, Estudos de Francisco Foot Hardman e Victor Leonardi (1982) ¢ de Marcus Vinicius Pansardi (1993) mostram 0 forte vinculo existente, na-iiltima década do século passado, entre esse movimento sindical incipiente e os acontecimentos politicos de en Os primei- Armanda Boit Jr 269 ros anos da Repiiblica sio marcados por diversos conflitos entre as classes dominantes. De um lado, conffitos entre as correntes republi- cinas que tinham assumido 0 poder etas cotrentes monarquistas que chegaram a encetar agdes restauradoras, e, de outro lado, conflitos no interior das correntes republicanas, dividindo as partidos oligitquicos regionais, ligados aos fazendeiros ¢ ao grande comércio exportador, € 2 instituigio militar, cuja base politica era composta por parte dos ‘tabalhadores urbanos. Esses conflitos deram um grande impulso 20 + sindicalismo e ao movimento popular urbano. Parte da oficialidade do . Exército, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, procurou, co- mo mostrou também 0 historiador José Murilo de Carvalho (1987), estabelecer uma alianga com os trabalhadores, para manter-se como forca governante, contra os monarquistas restauradores ¢ os republi- ‘chinos oligarcas. Com a ascensio dos presidentes civis ¢ estabeleci- mento da chamada politica dos governadores, reunificou-se 0 campo das classes dominantes ¢ os trabalhadores ¢ o sindicalismo perderam " espaco no processo politico nacional. ~'Oranarco-sindicalismo despolitizou o movimento sindical “Ao longo da Repitblica Velha (1894-1930) ¢, principalmente, até 0 inicio dos anos 20, 0 movimento sindical foi dominado pela ideolo- " gia anarco-sindicalista, um amilgama do anarquismo com 0 sindica- lismo, que propugnava o abstencionismo politico dos trabalhadores. ‘© anarco-sindicalismo predominava e era mais forte em Sio Paulo, ‘no setor industrial. No Rio de Janeiro, havia, como mostrou Ligya * Osério Silva (1977), uma tendéncia sindical, menos representativa é «verdade, de tipo tradeunionista, ligada principalmente aos trabalhado- ies das ferrovias e do porto. A Confederagio Operitia Brasileira era -céntrolada pelos ainarco-sindicalistas. 270 mais ani tal orientacjo i otigem imigrante da classe operiria. O “anarquismo” seria uma “plan- ta exdtica”, contrabandeada pelos imigrantes, para um pais pacifico como o Brasil. Essa explicagio foi rejeitada pela pesquisa historiogs- fica. Talvez a explica mais consistente seja aquela langada por Azis (1982). ‘Tal explicacio valotiza 0 fato de a classe operitia estar exiivida do sistema Simo (1966), retomada e desenvol politico (0 voto urbano pouco significava devido ao fato de o voto de cabtesto, o bico de pena e a Comissio de Verificagio dos Poderes decidirem o resultado das eleigies) e isolada das demais classes popu- lates (a massa eamponesa encontrava-se dispersa ¢ sob controle dos fazendeiros, a classe média urbana estava embuida do duplo precon- ceito contra 0 imigrante e contra o trabalhador manu: sairamos da escravidio). Essa exclusi mal io € esse isolamento podem ter levado os operiitios fabris a desacreditarem da politica ¢ a, com seu abstencionsimo, legitimarem, ainda que a contrapclo, o democracia oligirquica. Ou s smo da ., €.0 proprio sistema politico que ex- plica, em grande medida, 0 abstencionismo politico qu wractel movimento sindical de e © ntimero de trabalhadores assalariados e o potencial do sindi lismo cresceram com a industrializacio que se acclerara durante a Primeira Guerra Mundial. A greve geral de 1917, em Sio Paulo, est ligada a esse surto industrial (Fausto, 1976). Na década de 1920, a vinculagio entre a histéria politica do pais eo movimento sindical voltatia a se evidenciar. Agora, nio sé uma nova conjuntura de “crise entre os de cima” favoreceu, como ja ocorrera na década de 1890, 0 movimento operitio e sindical, como também esse movimento reve um papel importante na solugio dessa crise. Armee Boit Jr 2m mo intervém no proceso de revolugio burguesa “A Revolucio de 1930 nio foi um mero golpe de Estado. Apre- sentada como tal pela antiga diregio do PCB (Pereira, 1979) e por + parte.dos historiadores, como Edgar de Decca, ou concebida como “fruto de uma mera dissidéncia oligérquica, tal qual 1930 aparece nos trabalhos de Boris Fausto (1975), esse*movimento tem sido redimen- sionado pelas pesquisas mais recentes na histétia ¢ na ciéncia politica. “A Revolugio de 1930 pode ser vista como parte do processo de revo- lugio burguesa no Brasil. A revolugio politica burguesa é um proces- soprolongado. Seu ponto de pattida foi, como demonstrou Décio Snes, a ruptura no Estado brasileiro provocada pela Aboligio e pela Replica — surge, entio, no Brasil, um Estado baseado no diteito - (formalmente) igualitésio burgués com instituiges politicas (formal- mente) universalistas. Esse é 0 tipo de Estado necessitio para a difu- -Sio, das relagSes de producio baseadas na exploragio do trabalho livre, isto é, capitalistas (aes, 1985). A Revolucio de 1930 deve ser ‘situada nesse processo porque, a0 encerrar a hegemonia da grande burguesia ligada ao comércio de exportagio e importagio, deu novo impulso 20 desenvolvimento do Estado e da economia capitalista no Brasil: ela ampliou a cidadania, com o desenvolvimento dos direitos Politiéos ¢ sociais, unificou o mercado nacional e desencadeou o pro- --cesso de industrializagio, permitindo a constituigio das forcas produ- ca. de 1930 possibilitou um 44 tivas especificamente capitalistas no Brasil. “O sindicalismo foi parte integrante desse proceso. A crise politi- ido crescimento do movimento sindi- cal'Ao lado do anarco-sindicalismo do tradeunionismo surgia, em 1922, 0 Partido Comunista do Brasil. O movimento tenentista bus- cou; ‘nos mais variados pontos do pais, em Sio Paulo, nos Estados do Nordeste € no Sul, apoio nos trabalhadotes, e particularmente no By mm A presen do sindislsn ea hit pli sindicalismo, para vencet a resisténcia da velha burguesia mercantil intigos, como os de Edgard Ca- 978) iio Cavaleanti yango da Revolugio. Trabalhos rone (1982) ¢ Maria ini palmente alguns trabalhos recentes, como os de Cli (1996), Brasilia Carlos Ferreira (1997), Angela Ca cito de Araijo (1997) ¢ outros, evidenciam essa frente entre tenentismo e sindicMlis- mo, seja no momento da deposicio de Washington Luiz, seja no de consolidagio do novo poder. Como demonstrou de modo pioneizo Virginio Santa Rosa (1976), a pressio difusa das massas urbanas na década de 1920 € 0 pano de fundo do movimento de 1930 e, acres- centamos nés, justamente por ter se tratado de uma pressio difu isto é sem ditecio partiditia e programa politico préprios, 0 governo Vargas pode implantar dircitos sociais ¢ legislagio de filbriea limita- dos, de modo gradativo segmentado, e, ademais, apresentar legislagio como se fosse uma doacio do Estado aos trabalhadores. A Revolugio de 1930 nao realizou a refort agritia, propost que era defendida pela ala esquerda do movimento tenentista, nio rompeu com o imperialismo, embora tivesse ampliado 0 controle do Estado nacional sobre a economia do pais e ampliado sua autonomia no cenitio internacional, ¢ tampouco logrou implantar um bem-estar — os trabalhadores rurais, que compunham a maiori 108 50, ficaram excluidos dos populacio economicamente ativa até o: direitos sociais ¢ trabalhistas. Porém, cla iniciou um processo de ampli- agio dos direitos sociais e criou condigdes para ampliar a democracia burguesa no Brasil, como se viu no periodo 1945-1964. importante repetit que © sindicalismo dos trabalhadores urbanos , em primeiro lugar, o sindicalismo operério foi um dos agentes dessa transformagio, Ha outzas transformagdes na histéria politica do Brasil contem- porineo que sio incompreensiveis se deixarmos de lado 0 papel de- sempenhado pelos sindicatos. Refiro-me a transformagées teacion’- Armano Boite Jr 273 ria, como o golpe militar de 1964, que foi apresentado pelos proprios golpistas como uma medida preventiva contra a implantacio de uma suposta “Repiiblica Sindicalista”. O simples aptesentado como motive do golpe ja é um indicador da sua pr tna historia politica do Brasil no periodo da democracia populista. O sindicalismo e a politica populista As relagées complexas do sindictlismo brasileiro com os gover- nos populistas & tema de grandes polémicas na bibliografia. Esse de- bate gira em tomno de alguns temas como a natureza da politica var- ‘guista, a forga real do movimento sindical, sun dependéncia frente aos governos populistas, seu apego & estrutura sindical corporativa de Estado, a amplitude e importincia dos movimentos de base, “espon- - tineos”, ¢ outros. Ha imimeros debates sobre esses pontos, envol- vendo autores como Luis Werneck Vianna, Francisco Weffort, José Albertine Rodrigues ¢ Leéncio Martins Rodrigues. Eu préprio inter- _ vim nessas polémicas, publicando trabalhos sobre 0 populismo, a estru- tura sindical ¢ as relagdes do sindicalismo com o Governo Vargas. Al- “gitns cientistas sociais e historiadores de Campinas ¢ do Rio de Jancito estio, atualmente, retomando de modo polémico essas questées. Pre- tendein negar a procedéncia do conceito de populismo!, podere- mos considerar muitas dessas questdes neste nosso ripido apanhado. Querémos apenas dar algumas indicagdes sobre a importincia politica - da movimento sindical no periodo populista e a pestinéncia do concei- to de populismo para analisar o sindicalismo daquele perfodo. Na introdugio desta coletinea fago uma critica a essa tentativa, referindo-me is + seguintés obras: Alexandre Fortes, Antonio Luigi Negro, Femando Teixeita da iva, Hélio Costa e Paulo Fontes, Na luta por dieites ~estudos reenes em histdria ssial 4 trabalho. Campinas, Editora da Unicamp, 1999; Jorge Ferreira (org.), O poptliima sua hiséria— debate eertica. Rio de Janeieo, Civilizagio Brasileira, 1001 274 A presenga do sindlcalomo ah ria politica do Brasil As relagdes do fetiche populista do Estado com © movimento sindical sio mais complexas do que podem imaginar os eriticos do conceito de populismo. Tais relagdes, embora estabelegam claros limi- tes 3 0 sindical, comportam contradigdes ¢ instabilidades de alguns tipos. No plano estritamente reivindicativo, esse fetiche vine vimento sindical 4 estrutura indical corporativa de Estado ¢ regras bisicas, inibindo a organizagio © a luta: sindicatos {ota dos locais de trabalho, baixas taxas de sindicalizagio, sindicalizagio com expectativa assistencial, atividade meramente sazonal dos sindicatos (a campanha salarial na data base), fragmentagio no corporativismo das categorias legnis, delegacio A Justiga do Trabalho do poder de tutela em substituigio a luta reivindicativa, multiplicagio de ditetorias buro- cxiticas ¢ pelegas amparadas na legalidade sindical nos fondos que cla propicia. As liderangas pelegas que boicotam a luta reivindicativa so, em grande medida, um resultado dessa estrutura. No plano da luta politica, o fetiche do Estado protetor que caracteriza 0 populismo coloca o movimento sindical sob diresio politica do Estado. O papel de diregio politica do movimento operitio reivindicativo, desempe- nhado pelo partido na Europa, foi, de certa forma, desempenhado pelo Estado populista no Brasil. A politica é pensada como algo a- Iheio a0 movimento sindical, ilegitimo e divisionista. De fato, eln po- deria dividir 0 coletivo de trabalhadores unificados politicamente em torno do Estado. A organizacio de um partido operitio ¢ de traba- Ihadores pela do movimento sindical, proceso que nio deve ser confundido com a caticatura petebista, é incompativel com © popu- lismo. justamente por isso, de resto, que 0 chamado novo sindica- lismo e 0 processo de ctiagio do PT podem ser tomados como 0 principal indicador do declinio do populismo sindical no inicio dos nos 80. 215, Armando Baito J. © papel fundamentalmente desorganizadlor do popu- ‘Temos, Jism sindical, papel que os criticos do conceito de popu dora basi ocultando. Porém, essa fungio desorgani: de modo algum, que a histéria do sindicalismo brasileiro seja uma histéria de passividade. Aqui, devemos considerar dois elementos Primeiro, ¢ © menos importante, € que Mm dios com o populismo podem organizar e participar da luta reivindien- “va, Fssa pode exist e produzir, a despeito das limitagdes apontadas, algum resultado pritico, embor difcilmente se desdobre em educa: io e organizagio politica?. Descobrir movimentos grevistas, descre- -yé-los, examinar a sua importincia um dever de todo historindot exi- tico e competente: Potém, isso no basta para desconstrui 0 conceito de populismo, Fim segundo lugar, ¢ © mais importante, é que o Pope ‘ismo sindical, embora hegemdnico num determinado perfodo da Shossa histéria, nunca logrou, sequer nesse periodo de hegemonia, hhoimogeneizar os valotes e as atitudes vigentes no movimento dos trabalhadores brasileiros. Em diferentes conjunturas, diversos setores operiios escaparam do controle do populismo. / “A conjuntura do inicio dos anos 50 ¢ um exemplo. A hist6rica Greve dos 300 mil de Sio Paulo, em margo-abril de 1953, foi apenas “ym dos pontos salientes de um conjunto de lutas que abalaram todo 0 sindicalismo de Estado 0 proprio populismo naquela conjuntura. Os sindicatos estavam fechados, por determinacio governamental, 4 agio * és comunistas ¢ socialistas. Esses passaram, entio, a construir sindi- catos livres ~ ou “paralelos” como se costuma dizer de modo pejora- tivo, O Partido Comunista do Brasil adotou abertamente essa politica | como mostea a pesquisa do historiador Augusto Buonicore. A organi- — [No primeio artigo desta coletnea, expiquei como se pode dar a compatiiidads ‘entre a luta reivindicativa e 0 populismo, Ver “O populismo no Brasil: natures “fotmas de fio € 276 A presenga do sndivaisma na listiria politica do Brasil de Sio a orpanis indical desses novos sindic: tos livres ~ os operitios navais do Rio de Janeiro tinham jornais de organizacées sindicais livres, ditas “paralelas”, que tiravam mais de 8,000 exemplares, como mostra a pesquisa de Denis Linhares Barsted. Tudo isso signifiea que os operitios comegavam a romper com o populismo sindical ¢ que 0 conceito de populismo sindical um conceito improcedente, como tentei mostrar em pesquisa sob: crise politica de 1954. Apés muita luta ¢ muito vai-vem, a crise do indical foi abortada com a iniciativa do Governo Va populismo de reabrir os sindicatos aos comunistas e apés a ascensio de Joio Goulart 20 Ministétio do Trabalho. Esse exemplo indica porque 0 populismo sindical nfo impediu que o sindicalismo brasileiro intei- esse nas crises © no proceso politico do periodo. © golpe de Estado que depds Getilio Vargas em 1954 teve, co- ‘mo j tentei demonstrat na citada pesquisa sobre esse golpe de Esta- do, a luta sindical como seu componente bisico, Diferentemente do que sustentaram Francisco Weffort, Octavio lan esmagadora maioria dos pesquisadores ¢ a prépria meméria politica herdada do varguismo, o aspecto fundamental do golpe de 1954 nio foi a vitéria de um “projeto de desenvolvimento associado ao capital estrangeiro”, defendido pela Uniio Demoeritica Nacional (UDN), sobre um “pro- jeto de desenvolvimento auténomo”, que seria defendido e imple- mentado pelo Governo Vargas. A contradigio burguesa entre nacio- nal-teformismo ¢ entreguismo era real, mas o seu significado e o seu Peso no cortespondem Aqueles apresentados na anilise dominante do Golpe de 1954. O nacionalismo de Vargas era um nacionalismo industrialist out court”. A politica industralista secretava um discurso nacionalista por- _ brigados a dizer, por causa disso, que ele seria Armanco Boite Jr on que havia resisténcias do imperialismo norte-americano a tentativa de Vargas de reformular a antiga divisio internacional do trabalho que + condenava o capitalismo brasileiro a condigio de produtor de produtos Primitios ¢ importador de produtos industrais. Se dizemos, portanto, que © nacionalismo varguista nfo era antiimperialista, ‘indo estamos o- smagégico”, coisa que Aossas consideragdes explicam que ele nio eta — populismo ¢ demago- q Pop we Bis s6 sio sindnimos para o senso comum ou para quem des polémicas fics. J4 0 entreguismo da UDN era um entreguismo antiin- dustrialista, que representava os interesses comerciais & agricolas das cripresas brasileiras e estrangeiras que exploravam os negocios de ex- Pottagio e importacio propiciados pela antiga divisio internacional do trabalho, divisio que esses interesses queriam manter E por que 0 peso da contradigio entre o industtialismo, repre- sentado pelo intervencionismo nacional-reformismo varguista, © 0 modelo agro-exportador, representado pelo liberalismo entreguista udenista, nfo é aquele que normalmente se imagina? Por que pode- mos dizer que foi a luta sindical e no a luta pela industrializacio que esteve na base do golpe de 1954? Porque, embora numa primeira fase da crise, a politica brasileira tenha estado dividida entre industtalista ¢ andindustrialistas, a ascensio da luta sindical a partir da Greve dos 300 mil reunificou o campo burgués, preocupado com a ascensio do ‘movimento operirio. Essa reunifica , que aparece em diversos do- “cumentos das principais associagdes de empresitios, como mostrei no meu estudo sobre 0 golpe de 1954, se deu, 20 mesmo tempo, contra 0 movimento sindical ¢ contra © préptio Getilio Vargas. Explica-se Com efeito, diante da pressio sindical, 0 Governo Vargas optou por fazer concessdes 20 movimento operirio para abortar a crise do po- Pulismo sidical. O ponto culminante dessa politica de concessio foi Srreajuste de 100% do salétio minimo em maio de 1954. A partir dai a 278 LA presenga do snicalsmo na istriapoltca do Brasil mo jo do conjunto da burguesia contra o governo intensifico © golpe de 1954, portanto, teve como principal fator a ascensio do movimento sindical, que engatinhava numa tentativa, posterior- mente frustrada, de rompimento com o sindicalismo populist Algu spectos semelhantes estio presentes na crise © golpe militar de 1964. Aqui, um dos fatores basicos é, de modo aparente- — dos trabalhadores mente paradoxal, 0 ingresso — e no a ruptu rurzis no sindicalismo populista. Vale a pena repetir: 0 populismo como demagogia nem manipulagio. Nesse caso, podemos dizer o seguinte: o populismo levou a cidadania — restrita, é preciso lembrar — para uma zona rural dominada por proptietitios de terra que nio queriam saber de cidadania alguma. A incorpor 0, pelo Governo Goulart, do movimento dos trabalhadores rurais av sindic: mo po- pulista foi o comeso da perdigio desse governo junto da burgu pode-se consultar sobre isso os livros de Fernando Azevedo sobre as Ligas Camponesas e de Caio Navarro de Toledo sobre 0 Governo Goulart. A luta das Ligas Camponesas e a agitacio entre outras cate- gorias de trabalhadores rurais representavam uma ameaga 20 sindi8a- lismo oficial que, de resto, ainda nio se implantara no campo. Um movimento reivindicativo organizado de modo livre e visando re forma agritia, um objetivo “ ;plosivo” para um capitalismo como o brasileiro, estava crescendo, Isso colocava Goulart diante de uma alternativa semelhante Aquela frente 4 qual Vargas se vira dez anos antes: simplesmente reprimir o movimento contestador e arriscar-se a perder sua base de apoio ou fazer concessdes de modo a recuperar 0 prestigio ¢ a forga do sindicalismo popu indispor com a burguesia Os trabalhadores, o Partido Comunista e outras correntes de ista, correndo o risco de se esquerda, sob forte impacto do populismo, eram suscetiveis a essa oferta minguada de uma cidadania sindical sob tutelad, Nao Armando Boite Je * 219 thovimento sindical ¢ reivindicativo como um grande movimento que deveria organizar de forma independente as massas, educi-las para a hegemonia, e articular-se com partidos politicos que representassem_ «seus interesses. Nao sé act as Ligas Capone podiam organizar camponeses — como lutaram para levar o sindica- aura a sindicalizagio ofiial rural, isolando jf que os sindicatos ofciair rurais também -lismo oficial a0 campo. Porém, essa exportagio do populismo para o campo foi fatal. Goulart fez a mesma opgio coneilindora que Vargas _fizeri dez anos antes ¢ os proprietirios de terra ¢ a Burguesia nio 0 perdoaram, como nio haviam perdoado seu predecessor e inspirador. “E tal como ocorrera em 1954, quando os quebi squebras foram a agio (impoteiite) de protesto contra o golpe de Estado, a es- brasileira permancceu, como os trabalhadores desorganizados pelo populismo, passiva — esperavam uma reagio do Governo lait — que fugiu — ou do Estado, ue 1 pessoa” da “ala progressista” ._ (sic) das Forgis Armadas. Sio, portanto, muito complexas as relagdes dos trabalhadores com o populismo. O sindicalismo, apesar de populista, pode criar *jnstabilidades ¢ interferir no processo politico nacional, seja porque o populismo nao inviabiliza a reivindicacio, seja porque nem todos os setores das classes trabalhadoras estivéram, sequet no periodo iureo do populismo, sob o império absolut dessa ideologia. Porém, nos . exemplos de 1954 ¢ 1964, vemos que o sindicalismo, justamente por no ter rompido com o populismo, embora tenha tido o poder de provocar crises, nfo foi capaz de propiciar um desfecho que favorivel. Quem estiver interessado num desfecho favordvel aos tra- “balhadores no poder, portanto, ocultar o componente populista da gig sindical. Como podemos notar, existem sim implicagées politicas importantes na discussio tedrica sobre o conecito de populismo, © fosse 280 AA prsena do sinicaliseo na bisa pote do Brasil Algo diferente acontece na conjuntura de crise da ditadura mili- tar ¢, dentre outras razdes, porque, naquele momento, o novo sindi- calismo iniciou um processo mais conseqiiente de ruptura com o populismo sindical, procurando substitui-lo por um reformismo operatio de tipo social-democrata ferentemen- te do reformismo superficial € estatista do populismo, organiza o movimento operitio no plano sindical e pattidatio, tornando-o ca- paz de intervie na politica e nos parlamentos de modo mais eficaz ¢ organizado. O sindicalismo acuou a ditadura militar e contribuiu para o sur- gimento de uma nova esquerda no Brasil Passemos a discussiio do papel desempenhado pelo sindicalismo na luta pelo fim da ditadura militar tor econdmico-social ¢ Aqui nos deparamos, de novo, com um quantitative: o crescimento industrial induzido pelos governos milita- res e suas repercussdes nas classes trabalhadoras. H4 um interessante livro de Duarte Pereira, intitulado O Perfil da Classe Opentria, que mos- tra o crescimento do operariado industrial a0 longo da década de 1970 (Pereira, 1977). Esse crescimento teve como “carto-chefe” a atomobilistica concentrada no ABC Alguns auto- nga sindical emergente no ABC, em meados da década de 1970, diagnosticaram que essa lideranga se enderecaria para uma agio sindical de tipo norte-americano: sctorial, negociagio dus € combinada com despolitizagio. Maria Herminia ‘Ta ares de Almeida S que apresentou, entio, esse dingnéstico (Almeida, 1975). perspectiva histérica mais ampla, Primeizas greves que surgiam no ABC, John Hump. they polemizou com essa tese, ¢ insist que, se os operirios do ABC Armada Bait Jr 281 possuiam uma situago diferenciada frente ao restante do operariado brasiléiro, eles eram, tal qual o restante da massa proletiria, optimidos + pelo mesmo regime politico e pela mesma politica econémica ¢ social, © que estava levando a radicalizagio e A politizagio do movimento Sindical que ressurgia, depois de um longo hiato, como movimento Sindical de massa (Humphrey, 1982). B interessante relembrar como as coisas se passaram, para ‘compreender como a crise da ditadura facilitou 0 ressurgimento da uta sindical de massa ¢, por sua vez, como essa fa tornou irrever- "siyel, até onde se.pode falar em irreversibilidade na politica, a crise da ditadura militar. A lideranca emergente do ABC surgiu falando em livré-negociagig ¢ defendendo a sepatagio entre sindicalismo e luta politica. Nao se tratava de um retorno ao anarco-sindicalismo, uma pregacio doutrinitia sobre o cariter necessariamente burgués da atividade politica, mas sim de uma atitude que consistia em m nosprezar a importincia da politica na solugio dos pro! trabilhadores. Livre-negociacio, apoliticismo e base social nos tra- -balhadores qualificados do setor mais moderno da industria: parecia que o ABC caminhava, de fato, para um sindicalismo de tipo norte- ameticano. . Desde 0 fim do “milagre econémicp” ¢ da derrota da luta ar- mada, o partido burgués de oposigio, o MDB, adotara uma linha mais stitica frente a ditadura militar. Parte da grande imprensa também ne issou a refletir as insatisfagdes de sctores da burgues ambiente de fim do “milagre”, Tanto a acio do MDB, quanto a atitude da imprens: favoreceram, de maneiras variadas, a retomada do movimento sindical. Quando, porém, o sindicato dos metakitgicos ge Sio Bernardo sentiu-se forte para organizar sua primeia greve, em 979, a reagio da ditadura militar, de um lado, e do movimento popular, de outro, politizaram aquele sindicalismo. A ditadura reagiu com Uma repressio du c violenta e a greve sé pode s¢ manter gracas 282 A presenga do sinticatam wa bisa pot repressio dura e violenta ea greve s6 pode se manter gragas 20 apqio dos mais variados movimentos populares ¢ democxiticos de todo pais — movimento contra a carestia, movimentos de bairro, movimento © outros. Processou-se, entio, uma virada na orientagio smo do ABC. A proposta de livre-negociacio revelou-se uma quimera sob 2 di- tadura: essa nio admitia nenhum tipo de sindicalismo — nem mesmo 60 de tipo norte-americano. A idéia de agit sozinho, dispensando ali- angas e frentes politicas, revelou-se inviivel: nto fosse 0 apoio ativo do movimento popular ¢ a conivéncia da imprensa burguesa ¢ de um setor representativo do MDB, a greve de 1979 nio teria aleangado a duragio € 0 impacto que aleancou. A partir de entio, o sindicalismo do ABC inscreve, gradativamente, a luta contra a ditadura na sua agio eno seu discurso, aproxima-se dos movimentos populares ¢ langa a proposta da ctiagio de um Partido dos Trabalhadotes e, posterior mente, da CUT. Nesse proceso, aquilo que ficou conhecido como novo sindi alismo, se espraiou, ganhando amplos ¢ novos setores das lasses trabalhadoras, inclusive amplos setores das classes médias que debutaram no movimento sindical, como mostram os tabalhos de Maria da Gloria Bonelli (1989), Marcia Maria Moreira Corsi Fantinatti (1998), Patricia Vieira Tr6pia (1994), Silvana Soares de Assis (1999) € outros. Foi, portanto, 0 processo politico, além de outros fatores sub- jetivos como a agio de correntes marxistas e de parte da Igreja Caroli ca, fatores esses que nio podemos analisar aqui, que definiram 0 ru- mo do sindicalismo de Sio Bernardo, Essa nova forca social, representada pelo par PT/CUT, sera um dado novo na conjuntuta, elevando a crise da ditadurn militar para um patamar superior. Nem mesmo a campanha das diretas pode ser en- tendida sem a criagio dessa nova forga social no cenfrio politico na- cional. De novo, 0 comportamento do movimento sindical apresen- Armando Boito Je 283 tow-se vinculado a0 proceso politico do pais ¢ influenciou, de modo detisivo, o desdobramento dos acontecimentos politicos. A acho do movimento sindical foi um fator fundamental na crise € na superacio da ditadura militar. ‘A propria forca politica ¢ eleitoral temonstrada pela candidarara Lula em 1989 é incompreensivel se mio levarmos em conta a agio do -movimento sindical. A agio da CUT ao longo da década de 1980, ¢ particularmente as cinco greves gerais de protesto que organizou, revinindo milhdes de trabalhadores de quase todos Estados do pais, Conttibuiu, de modo decisivo, para demarcar um campo democritico “e popular e evidenciar, para grande parte dos trabalhadores, o carter “antipopular da politlca do Estado brasileiro. B claro que, também aqui, é necessitio apontar os limites dessa transformacio. A estrutura sindical corporativa de Estado, a decapitagio da esquerda durante a sdiiadura, 0 economicismo da lideranga emergente de Sio Bernardo, “economicismo do qual essa lideranga nio se libertou nem mesmo depois dé ter criado o PT, esses © outros fatores permitiram que a _ditadura fosse substituida, sob controle da burguesia, por uma demo- cracia burguesa restrita que no tocou no arcaismo da estrutura eco- némica ¢ social do Brasil. As condigées de vida dos trabalhadores na ‘ativalidade sio uma prova clogtiente de que, mais uma vez, as classes populares nio lograram assumir o controle do processo de mudanga Ditinte dessa limitagio do processo de mudanga, recorrente na histé- + tia do’ Brasil como estamos vendo, talvez se deva falar numa “historia Tenta”, mas no em algo paradoxal como uma “hist6ria pa la”, na -qual as lutas politicas seriam metas encenagdes; € nio convém falar ‘iampouco em algo como uma “histria paralela”, em que as trans- formacdes politicas, de um lado, ¢ a vida ¢ a luta dos tr de outro, nunca se tocariam. adores, 284 A presenga do sindcaisme na bitiia politica do Brasil A defensiva do sindicalismo nos anos 90 Ao longo dos anos 90, 0 sindicalismo br: posicio defei ~ pouco pode fazer cesso, rechagar 0 -cimento politico: icio presidencial de 1989, vitoria que deu inicio & “era neoliberal” no Br A politica econémic: ccita, privatizagio das emp) vicgos piblicos, desregulament so do mereado de trabalho ¢ redugio dos gastos © dos direitos so. Nio hi es go para demonstagio, mas é possivel argumentar que essa politica atende, fundamentalmente, os intere ceito internacional, que ganha com todas as medi liberal que atrolamos acima, ¢ os interesses na, principalmente o geande da politica neo- 4 grande burguesia inter- sla das medidas arroladas. Como conseqiiéneia da aplicagio do pro- graina neoliberal, a economia brasicta tem oscildo, a0 longo dog anos 90, entre crescimento baixo € a recessio, a politica de juros esti voltada para o estimulo da acumulagio financeita, 0 desemprego atingiu um patamar inaudito na histéria do Brasil ¢ houve um nov: vaga de reconcentragio da renda. Segundo o IPEA, na década de 1960, quando mais pobres da populagio detiveram, como média anual, 18% da ren- da nacional; na década de 1970, a parcela da renda apropriada pelos mais pobres caiu para 15% ¢ na década de 1980 pata 14%. Os gover- ‘tos neoliberais conseguiram jogar a renda dos mais pobres ainda mais Para baixo. Entre 1990 ¢ 1996, a média foi de 12% da renda aproprinda pelos 50% mais pobres. O fato de, ao longo dos dois primeiros anos renda jé era muito concentrada no Brasil, os 50% Armando Boit Je 285 do Piano Real, ter havido uma pequena e efémpern melhoria nos termos dy distribuicio da renda foi usado, indevidamente, como propaganda Pelds neoliberais. Porém, como evidenciam os dados disponiveis para 97, esse acidente foi passageiro e nfo alterou a tendéncia concentra- dora da década do neoliberalismo. Sio intimeros os fatores econémicos ¢ sociais que contribuiram A mnioria deles para colocar o sindic la, de um modo ou de outro, a aplicagio da politica neolibe- ral no.Brasil. O desemprego intimida o trabalhador, ¢ esse desempre- go afetou, de modo marcante, dois dos setores mais ativos do sindica- lismo biasileiro nos anos 80 — os metaliirgicos do ABG ¢ os banca- tios. Hoje, no ABC, bi pouco mais da metade do ntimero de meta- lirgicos que havia nos anos 80, ¢ no setor bancétio ji foram suprimi- a de 1990, cerca de 500.000 postos de tr: de 1980, os fun- ado, que os do, a0 longo da dé Outro-setor muito ativo do sindicalismo na dé cionarios pablicos, também entrou em declinio: o govermos neoliberais querem reduzir 20 minimo, nio contrata mais, tendo pai do, tia verdade, a demitir. Ademais, no plano idcolégico, 0 funcionalismo publico foi colocado na defensiva — 0s governos neoli- berais lograram identificar o funcionitio pibblico com uma casta privi- legiada, ‘os “marajis”. O pano de fundo das situagdes apontadas aci- ma é a desindustiializagio provecada pela politica neoliberal, fend- meno estudado por economistas do Tnstituto de Economia da UNICAMP, ¢ 0 declinio dos direitos sociais e dos sexvicos piiblicos. Um putro setor poderoso do sindicalismo, os petroleitos, foi vencido com 9 recurso 4 repressio ~ na greve nacional de 1995, 0 governo FHC determinou a ocupagio das refinarias pelas Forgas Atmadas ¢ 0 Judiciétio impés multas impagiveis aos sindicatos em greve Mas a defensiva do movimento sindical decorre, também, dos Hemanejamentos politicos ocorridos no interior da burguesia brasileizn 286 A prsenza do sndicaliomo na bistniapoltiva do Brasil e das mudangas no cenétio internacional. Durante os anos 80, a bur- guesia brasileira estava dividida politicamente: primeiro, dividiu-se na ctise da ditadura, depois, na querela sobre a e: némica, pois que a burguesia industrial relutou senvolvimentismo e aderir 20 neoliberalismo. Havia um partido bur- gués de oposicio A ditadura militar e, nos trabalhos da Constituinte, 08 sindicalistas puderam contar com os votos de partidos bi para constitucionalizar direitos trabalhistas ¢ sociais, medidas de pro- tesio ao mercado interno ¢ de preservagio de monopélios do Estado. Hoje, os partidos de esquerda ¢ as centrais sindicais estio isolados no Congreso Nacional, ¢ todos partidos burgueses votam favor das reformas neoliberais. No cenario internacional, as mudangas foram igualmente desfavoriveis aos tabalhadores c ao sindicalismo. Os EUA aparecem sozinhos como superpotécia polit peraram sua economia, ¢ podem, gragas também a d antiga URSS, agir livremente no cenfrio internacional. Hoje, 0 impe- rialismo norte-americano, agindo diretamente ou através de agéncias como o FMI ¢ 0 BID, tutelam a politica econdmica ¢ social dos pa situagio nacional ¢ internacional objetivamente desfa- a luta dos t \dotes, o sindicalismo foi enfraquee forma neolibs € pela nov. propria e por influ- éncia da J € da So entagio caminhou para a direita do espectro politico ao longo dos Idemocracia, instituigdes cuja oxi- iltimos anos, a corrente o sindical de massa e nutre a ilusio de que é possivel, com base em propostas tecnicamente bem elaboradas, convencer 0 governo ¢ * reitos: a formagio do governo Chi Armano Boi Jr 287 econdmica. O sindicalismo ptopositivo multiplicou os fSruns triparti- tes (goyerno, empresirios ¢ sindicatos) mas nio logrou, 20 longo de tdda’'a década de 1990, apresentar resultados palpaveis para os traba- Ihadores. A CUT acabou enredando-se numa atuacio contraditdria € hesitante frente ao neoliberalismo. Apenas agora, em 1999), a diregio da‘central dé alguns sinais de que poderi rever a estratégia estratégia propositiva. O sindicalismo no segundo governo FHC A teflextio que poderiamos deixar em aberto, seguindo essa pro- posta de pensar as relicdes entre o movimento sindical ¢ historia politica do pais, seria a questio de saber se hi uma modificacio im- portante na situ: 10 politica dos anos 90 nest segundo mandato de FHC. nite Ha muitos elementos novos neste final de década que podem vir a configurar uma fase de declinio do neoliberalismo brasileiro: as su- cessivas crises cambiais que levaram & desvalorizagio do real, o agra- vamento dos conflitos na prépria base politica do governo, a qued de popularidade de FHC, o crescimento do MST e o ressurgimento, ainda 'timido, de greves ¢ de demonsteagdes,de massa de fmbito na- ional. No plano internacional, também surgem alguns sinais z na Venezuela ¢ 0 crescimento a Tura guervilheita na Colémbia. Como essa nova conjuntura poder influenciat 0 sindicalismo? De que modo o sindicalismo poders inter- vir para, valendo-se de uma eventual crise politica, contribuir para que isi da crise s brasileiros? ta mais favoriy possivel para os trabalhadores + O,movimento sindical deve estar atento, nessa conjuntura, para © papel muito importante que tem desempenhado a lata dos ttaba- 288 A presen do sndicaliono na Ihadores cujas vidas foram transtornad: ncoliber ismo, parte da populagio est mostrando que cl fs propostas de acho direta: os que foram despedidos de seu emprego, despejados ta residéncia que alugavam ou impedidos de trabalhar no setor informal (peruciros, camelés) engrossaram 2 agio do MST na ocupacio de terras © comecam a ocupar edificios vagos pata utiliz-los como mo- radia. O governo FHC solbgica diante dessas agdes. © mesmo governo que est forte e & aerogante ficado na defensiva politica © diante a luta sindical, vé-se em situagio embaragosa diante dessas novas lutas sociais. Se em periodos anteriores de nossa sindicalismo péde valer-se da expansio industrial e do crescimento do setor piiblico, no periodo atual, marcado pela desindustr F-s¢ fis novas lutas pela retracio do Estado, o sindicalismo deve dos desempregados por moradia, por terra ¢ emprego, h que sio frutos da politica neoliberal. do Se o sindicalismo influenciou a histéria politi , é de se esperar que possa influenciar também o presente. Outra questio é saber se ele, agindo com os partidos de esquerda e com os novos mo- vimentos populares (MST, Movimento de Moradia, luta dos tsabalha- dores do setor informal), se capaz de romper com o padrio que essa intervengio tem apresentado até aqui. De fato, vimos que a pre- senga do sindicalismo na histéria politica do Brasil foi, sempre, uma para desestabilizar regim \capaz de vincular-se a forgas politicas de esquerda, refor- © gover- os, mas mistas ou revolucionétis 5, que lograssem ditigir os proc os de 0 sigio. E certo que a mudanga desse padriio niio depende apenas, ¢ mo. Mas, no aniversitio talvez nem fundamentalmente, do sindic: dos 500 anos, essa é outsa questiio que nos desafia ¢ interroga Armada Bata Jr Bibliografia ‘Almeida, Maria Hermina Tavares, Estado ¢ clases trabalhadonas no Brasil (1930-1945). Sio Paulo, Tese de Doutorado, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciéncias Humanas, Universidade de Sio Paulo. 1978. Almeida, Maria Herminia Tavares de, “O sindicato no Brasil: novos + problemas, velhas estruturas”. Debag ¢ Crtiva, Sto Paulo, n. 6, ju- Iho de 1975. Aratjo, Angela Carneiro de, Construindo 0 consentimento, Sio Paulo, Edi- * ‘tora Seritta. 1997. " Assis, Silvana Soares de, A Apeoup ¢ as Reformas Neoliberais na Educa;to Piiblica Paulista, Dissertacio de Mestrado, Instituto de Filosofia ¢ Ciéneias Humanas, Universidade de Campinas (Unicamp). 1999. Azevedo, Fernando Antonio, As Ligas Camponesas, Rio de Janeito, Paz e Terra. 1982, Barsted, Dennis Linhares, Medigdo de forzas: 0 movimento grevista de 1953 ¢ {2 epoca dos operirios nanais. Rio de Janeixo, Zahar. 1982. Boito Jr, Armando, “Pré-capitalismo, capitalismo ¢ resisténcia dos trabalhadores: nota para uma teoria da agio sindical”. Critica “Marxista, n, 12, Sio Paulo, Editora Boitempo, 2001, p. 77-105. Boito Jx., Armando, O Gojpe de 1954: a burguesia contra 0 populismo, Sio Paulo, Brasiliense. 1982. Boito Jx., Armando, O sindicalismo de Estado no Brasil: uma andlise eritica da estratura sindical. Sio Paulo e Campinas, Editoras Hucitec e U- nicamp. 1991 Bonelli, Maria da Gloria, A classe média do “milagre” a recessdo mobilidade | social expectativas ¢ identidade coletiva, So Paulo, IDESP. 1989. Buonicore, Augusto Cesar Os comumistas ¢ a estrutura sindical corporatina (IPAB1I52): entre a reforma e a ruptura, Campinas, Dissertagio de Mestrado, Instituto de Filosofia ¢ Ciéncias Humanas, Universi- + dade Estadual de Campinas. 1996, 290 Brus! one, Edgard, A Repuiblica Nova: 1930-1937. Sao Paulo, Difel. 1982. Carvalho, José Mutilo de, Os bestializados: 0 Rio de Janeiro ¢ a Repuiblca que nia fai A Cavaleanti, Cliudio Anténio de Vasconcelos, As Litas ¢ os Sonbos: unt estudo sobre os trabalbadores de Sdo Paulo nos anos 30, Tese de Douto- rado, Faculdade de Filosofia, Letras ¢ Ciéncias Humanas,*Uni- versidade de Sio Paulo. 1996. Fantinatti, Marcia Corsi Moreira, Sindicalismo de Classe Média e Meritocra- dia: O Movimento Dovente das Universidades Piblicas. Dissertagio de Mestrado, Instituto de Filosofia ¢ Cigneias Humanas, Universi- dade de Campinas (Unicamp).1998. Fausto, Boris, A Revolugio de 1930: bistoriggrafa ¢ histiria. Sto Paulo, Brasiliense. 1975, Fausto, Boris, Trabalho urbano ¢ conflite social (1890-1920). Sio Paulo, Difel. 1976. Ferreira, Brasilia Carlos, Trabalbadores, sindicatos ¢ vidadania: Nordeste em tempos de Vargas. Sio Paulo, Ad Hominem. 1997. Ferreira, Jorge (org), O populismo sua histéria - debate ¢ critica. Rio de Janeiro, Civilizagio Brasileira. 2001 Fortes, Alexandre, Negro, Antonio Luigi et alli, Na dita por direitos. Estudos recentes em bistéria social do trabalbo, Campinas, Editora da Unicamp. 1999. Fortes, Alexandre; Negro, Antonio Luigi; Silva, Fernando Teixeira da; Costa, Hélio e Fontes, Paulo, Na lula por direitos — estudos recentes em bistéria socal do trabalho, Campinas, Editora da Unicamp. 1999. Humphrey, John, Fagendo 0 milagre. Petropolis, Vozes-Cebrap. 1982. anni, Octavio, Estado ¢ plangiamento econimivo no Brasil. Rio de Jancixo, Civilizagio Brasileira. 1979. Leonardi, Victor ¢ Hardman, Francisco Foot, Histénia da indistria e do trabalho no Brasil. Sio Paulo, Global Editora. 1982 + Simao, Azis, Sindicato ¢ Esta Armeana Baio Jr 201 Silvia Ingrid Lang, O movimento anarguista em Sao Paulo (1906- 1917). Sio Paulo, Editora Brasiliense, 1982. Pansardi, Marcos Vinicius, Republicanos ¢ operirias: os primeiros anos do movimento socialista no Brasil 1889-1903). Dissertagio de Mestrado, “Instituto de Filosofia e Cién Humanas, Universidade de Campinas (Unicamp). 1993. Pereira, Astrogildo, Ensais histrios e politica. Sio Paulo, 1979. fa-Omega. Pereira, Duarte. O perfil da classe openinit. Sio Paulo, Hucitec. 1977. + Reis, Jodo José e Silva Eduardo, Negociagto ¢ conflte: a resisténcia negra no Brasil eseravista. Sio Paulo, Companhia das Letras. 1989. Sges, Décio, A formtayio do Estado burgués no Brasil: (1888-1891). Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1985. . Santa Rosa, Virginio, O sentido do tenentivmo. 3* ed. Sto Paulo, Alfa- ‘Omega. 1976. Silva, Ligia Matia Os6tio, Movimento sindical openirio na Primeira Repibli- ea. Dissertagio de Mestrado, Instituto de Filosofia e Ciéncias Humanas, Universidade de Campinas (Unicamp). 1977. : suas relagées na formagio do proletariado de Sa0,Panlo, Sd0 Paulo, Editora Dominus. 1966. Toleilo, Caio Navarro de, O govento Goulart ¢ 0 golpe de 64. Sio Paulo, Brasiliense. 1982. © Tropia, Patricia Vieira, Classe média, situagho de trabalho e sindicalisma: 0 «aso dos comenciérios de Sido Paulo. Dissertagio de Mestrado, Instituto de Filosofia ¢ Ciéncias Humanas, Universidade de Ci mpinas *-(Unicamp). 1994. Weffort, Francisco, Sindivalismo ¢ politica. Tese de Livre-Docéneia, Sio Paulo, Faculdade de Filosofia Letras e Ciéncias Humanas, Uni- versidade de Sio Paulo. 1972. O futuro do sindicalismo* Ha muito tempo atris, no final da década de 1970, alguns estu- diosos curopeus comecaram a falar em ctise do movimento sindical, *Tomavam como indicadores da crise a queda nos indices de sindizali- “zagio e a diminuigio do niimeto de greves. Dez anos depois, no final da década de 1980, alguns pesquisadores comegaram a falar em ago- ia ou morte do sindicalismo. Alguns nfo chegam a afirmar que 0 ‘sindicalismo iri desaparecer por complet mas insistem que seria um movimento fadado i decadéncia e a desempenhar um papel de pe- “quena importincia no século XI. Geralmente, a explicagio pata essa Suposta decadéncia é procurada no nivel da econontia capitalista con- felnporinea. As novas tecnologias, os novos métodosde organizacio “do trabalho, o declinio da ocupagio na indiistria ¢ 0 crescimento da ocupacio no setot de servigos, o desemprego, o crescimento do setor informa econi nica coni S10 escrito em 2001 para apresentay oes. Foi “Publicado em um livro orgunizado por colegas do Rio de Jancito com um tie iferente daquele que aparece nesta coletinea. Referéncia: “A cise do sindicaismo” Ip © Auli Santana ¢ José Ricardo Ramalho (ows), Alm da fbi ~ thao, silat anova gusto sal Sio Paulo, Beitempo, 2003, p. 319 ~ 333, ;puitemes, como exemplo, o importante tabalho de Lebncio Martins Roduigues, Destino do Sindisakane, 9. Trabalhando com os conecitos de p. Sio Paulo, 294 future di E certo que o sindicalismo est atravessando um perfodo muito dificil e que recuow nos iiltimos anos. Mas, como devemos caracteri- zat esse recuo? Aj é que comega o debate. ‘I de refluxo? Ou seja, trata-se de uma perda cres energia ow de um recuo mome © qual 0 sindicalis po 1 perfil? Ou seri ainda que, além de um reco momentineo, que seria a dimensio quantita ente ¢ inreversivel de in ia recobrar suas forgas sem mui va do fendmeno, tal fendmeno teria, també , uma dimensio qualita tiva, representada por uma mutagio no movimento sindical? Fssas questdes, por si so muito dificeis, referem-se, no entanto, apenas 4 versiveis na sociedade atual, tal fato tornaria igualmente irreversivel a decadéncia desse movimento. Se, diferentemente, as causas do recuo forem também conjunturais, envolvendo a politica politica so a de questoes apre: sma exige uma lise prospectivs tarefa de conjeturar sobre o futuro desse movimento reivindicativo dos trabalhadores. ial e sociedad pés-industrial (ou sociedade li “(..) a8 earacte cespago para a organizagio si * gio da obra de J. Habermas, cujo dualismo e Armano Bait Jr 295 Salientemos de saida que a anilise das dificuldades do sindicalis- + tho esteve, entre os autores ligados 20 pensamento ctitico, muito marcada, ¢ também muito prejudicada, pelo us metifora “mundo do trabalho”, Essa metifor ménia e sob controle consciente, ivo da conhecid se usada com parei- pode ter alguma utilidade critica, ja que pode sugerit uma distingio entre os trabalhadores ¢ 0 “mundo da riqueza”. Mas, como conceito, isto é, como instrumento de anilise nas ciéncias soci, os inconvenientes dessa metifors sio muitos, ‘Tal metifora sugere que os trabalhadores vivem e trabalham num ambiente " parte (0 mundo do trabalho, como indica a expressiio), como se a Sociedade pudesse ser subdivida em compartimentos estanques. E por isgo que a maioria dbs estudiosos que utilizam a metifora “mundo do trabalho” como se ela fosse um conceito tendem a se restringi Anilise do movimento sindical, ao nivel da fibriea e do mereado de trabalho, que seria o “mundo do trabalho” por exceléncia, separando ‘alismo da sociedade, da politica e do Estado, procedimento . tedtico esse que tende a fortalecer a idgia segundo a qual o reflux ou crise do sindicalismo origina-se na economia e setia irreversivel, Essa metifora partiha do vicio dualista que tem marcado ashistéria de pat te das ciéneias sociais, e que, nos tiltimos vinte anos, tem sido Dito isso, 0 leitor. A primeita diz respeito fi caracte do movimento sindical. De estamos vivendo a crise da se do sindicalismo. O sindicalismo esta dando elaros sinais de recuperagio e i € hora de os cientistas sociais, observadores ¢ sindicalistas deixarem igo atu certo modo, podemos dizer qu 2 Para, i anlise do dualismo da teoria da agio comu de Habermas ver ‘Catherine Colliot-Theléne “Habermas, leitor de Marx ¢ de Max Webes", revista Coca Marista, 12, Editora Boitempo, Sio Paulo, 2001 296 O fiturs do sindicaliome de lado o discurso da crise estrito senso ¢ comegarem a discutir ¢ « tender essa recuperacio. Tal recuperngio 6, por si s6, um elemento perturbador para as anilises que previram declinio irreversivel do movimento sindical. AA segunda observacio diz respeito a alguns dos pressupostos que a discussio sobre a crise do sindicalismo permitiu entrever. Esses Pressupostos permaneceram, no mais das vezes, intocados ¢, no en- tanto, vale a pena questiond-los. Um deles, 20 qual faremos referéncia neste ensaio, é aquele que identifica a crise do sindicalismo com a crise do movimento operitio ow socialista. I preciso lembrar que © socialismo nasceu antes do sindicalismo, que este tiltimo floresceu em muitos paises que nunca tiveram um movimento socialista significati- ‘vo (BUA) ¢ que o socialismo cresceu em paises de muito pouca tradi- io sindical (Russia czatista). Nao se pode, entio, identificar, de mo- do mecinico e direto, o declinio, crise ou refluxo do sindicalismo com © declinio, crise ou refluxo do soci ismo. No entanto, essa identifica io & muito corrente, embora nem sempre seja explicita e tampouco consciente da parte dos autores que a sugerem. Aqui teencontramos de novo a metifora “mundo do trabalh fancionando como conceito ¢ provocando estragos. Essa metifora “Mundo do trabalho Diteari- polissémic: pode significar, su mente, num mesmo ¢ iinico texto, quase tudo: relagdes de trabalho, processo de trabalho, condigdes de vida das classes trabalhadoras, composigio social dessas mesmas classes, movimento oper jo, movi- mento socialista etc. A essa metifora ainda foi acoplado um uso fstico € vago da nogio de crise. O resultado foi que, quando o leitor depara ele que com a expressio “crise do mundo do trabalho” num texto tem de descobrir do que se esti ssa expressio pode significar muitas co diferentes ¢, 20 mesmo tempo, nada, Muitas vezes, & mais uma forma de nio definir com precisio do que se esti falando, Armani Beit Jr 297 liberar um discurso genético e aparentemente critico, dispensando-se do esforgo de aprofundar a anilise. Geralmente, sugere-se que hi uma crise de tudo o que se refere a movimento de trabalhadores, ape- sar de a anilise tratar apenas ¢ tio somente de um movimento teivin- " dicativo dos trabalhadores assalatiados, que é o movimento sindical. De’nossa parte, sustentamos que é preciso definir com rigor de “que crise se esta falando. Tratamos da crise do sindicalismo, nio da crise, do movimento operitio ou socialista. Em segundo lugar, tenta- remos mostrar que a crise do sindicalismo pode estar se aproximando * do seu fim e que, para entendé-la, nao podemos nos restringir 4 andli- se das transformagdes econdmicas do periodo recente. Hi um recuo internacional do sindicalismo? A maioria dos autores que fala em declinio do sindicalismo apre- ‘senta uma visio limitada do fendmeno. Esses autores circunscrevem a anilise a apenas uma rca do globo — quase sempre, os paises capi * Tistas centrais. A partir dai, procuram tirar, de modo provinciano, conclusdes gerais sobre o sindicalismo. Ora, para oferecer conclusdes _.'Bétais sobre 0 assunto, é necessitio considerar as principais regides da economia mundial. E correto que o sindicalismo perdeu filiados, diminuiu sua ativi- dade réivindicativa e perdeu influéncia politica nas principais econo- nniias capitalistas — Europa Ocidental, Amés é-verdadei onge de ser homogénea. O ritmio ¢ a intensidade do refluxo sindical variam muito de acordg com do Norte ¢ Japio. Isso , emb 1 situagio esteja © setor econémico e o pais considerado. Em alguns paises, como os Estidos Unidos e a Franga, a queda nos niveis de organizacio sindical foram muito maiores que em outros, como a Inglaterra ¢ Alemanha. “Hi 0 caso do Canad que manteve os mesmos niveis de sindicaliza Gho.ao longo das décadas de 1970, 1980 ¢ 1990. Ha, inclusive, a situa-

Vous aimerez peut-être aussi