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@ TEMPO PARA VIVER O COTIDIANO aE Re! 05 tltimos anos, a educagio infantil temse revigorado com as poiticas piblicas baseadas nos direitos das criancas, com o aprofun: damento dos estudos sobre as infancias e, especialmente, com as andlises sobre as experiéncias que 0 atendimento realizado pelos sistemas péblicos vem constituindo. Porém, esse repertério de principios politicos, abordagens pedagogicas, imagens de infén cia — que tanto enriqueceram as novas concepcoes de educacdo infantil — tem grande dificuldade de se ma- terializar em praticas cotidianas na escola. Afinal, n&o basta tracar grandes objetivos, estabelecer decisoes curriculares, definir modos de acompanhar o processo ceducacional se taisconceitos nao conseguem enraizar-se no cotidiano das escolas, na maneira como estabeleceros as re- lacdes com as criangas e também nas concepcoes de exercicio da docéncia dos professores de educacao infantil Sabemos que o coti¢iano avida coletiva estrutura-se 2 partir de algumas varié vels, como os espacos orga- nizados, 25 materialidades selecionadas, as intencio- naligade das propostas pe: dagégicas, 0s conhecimentos cientificos, as culturas valori- zadas e oferecidas pela escola ¢, fundamentalmente, a organi- zacao do cenvivio com 0 grupo de criangas. Contudo, é preciso observar que é 0 tempo a variével que imprime 0 movimento, a energia, 0 ritmo no qual as pessoas cenvolvidas ho processo — criancas, pais, professores outros — podem viver com qualidade a experiéncia da vida coletiva no cotiaiano. Temos realizado, do ponto de vista pedagogico, um esforco significativo para transformar os espacos da esco la de educacao infantil em lugares onde as criancas pos- sam viver sua infancia. Entretanto, oespaco fisico precisa de sua dimensao gémea — 0 tempo — para tornar-se um ambiente, para que realmente ocorra im encontro, para a construcao de algo em comum. Talvez 0 tempo seja 0 tema fundamental para ser discutido nas propostas de organizacao da vida cotidiana da educacao infantil, pois ele é uma categoria politica que diz respeito 8 vida das criancas, de seus pais e também de seus professores. O tempo é o articulador - da vida, é ele que corta, amarra ou tece a vida 0 tempo é 0 articulador da vida, é ele que corta, amarra ou tece a vida. E 0 tempo que nos evidencia que ‘temos um passado em comum, que temos uma meméria uma histéria, que € preciso compreender esse passado e compartilhar a experiéncia do presente para, assim, propor possibilidades para o futuro. E 0 tempo que nos oferece a dimensao de continuidade, de durabilidade, de construcao de sentidos para a vida, seja ela pessoal ou coletiva. Isso nos leva a algumas perguntas: como estamos vivendo 0 tempo? Como, neste momento histérico, temos vivido 0 tempo em nossa vida como docentes e ensinado as criancas a vivé-lo? Ou, ainda, como organizamos 0 tempo na escola ou como somos, organizados por ele? Ja no final da década de 1970, Felix Guatarri, a convite de pro: fessores de escolas maternais francesas, escreveu uma im: portante reflexao sobrea cre- che. Ele afirmou que a creche era um espaco de iniciacées e que, naquele contexto, iniciagéo fundamental era a da inscricao das criancas rum tempo, mas nao qualquer tempo, no tempo acelerado do capital (Guattari, 1985) No momento em que tais pa: lavras foram escritas, talvez nao estivesse tao evidente para nés, 0s pro- fessores, 0 impacto que a recanfiguracao do tempo e do espaco causaria no mundo contempo- raneo. O processo econémico de aceleracdo do tempo tem gerado efeitos adversos na vida humana, e esse novo ritmo, caracteristico das relacées capitalistas, fez diminuir 0 tempo de estar com os outros, de compart thar, de conversar, Perdeu-se de vista a longa e complexe temporatidade dos processos sociais, substituida pelo jimediatismo do foco nos pradutos finais. Nos diltimos anos, nas escolas de educacao infantil, apesar de sua aparente improdutividade econémica, pode-sernotar a presenca do tempo do capital como uma pedagogia invisivel. As manifestagdes dessa pedagogia do observadas de diversas maneiras: pela queixa da falta de tempo, pela pressa e, por fim, pela auséncia de sentido atribuida ao tempo que apenas passa. Fate Baleiphlalcon/lanciarie © Privo. eovercho nrawne so we 2 auuser © Piri eovercho men, 0 primeiro aspecto & 0 da queixa constante sobre a falta de tempo. Na escola, o tempo parece dema siado curto para as muitas expectativas sobre o que deve estar presente na educagao das criancas. Essa situacae vem sendo resolvida, equivocadamente, com a diminuicao do tempo para que as eriancas brinquem € a ampliacdo do tempo para que se desenvolvam “abilidades” através de “trabalhos", com o objetivo de ndo perder tempo. 0 segundo aspecto é a pressa, que se manifesta tanto no modo perverso como a infancia ver tendo diminuida sua duracao no inicio deste século quanto no ‘modo como as criancas sao apressadas para crescer, para atender a0s horsirios da insituicao, para acompanhar 0 ritmo dos demas colegas, para se alfabetizar cada vez mais cedo, etc. 0 terceiro aspecto € 0 da com: partimentatizacao do tempo. As acdes das criancas na escola séo reguladas por tempos fixos — fragmentados, sequenciais, Lineares ~ estabetecidos pelos adultos. NBo existe encadea- mento ou, ainda, aquilo que Winnicott denominava de uma atividade completa, ‘sto 6, acdes que iniciam, ddesenvolvem-se com tempo disponivel e findam, cons- truindo significados em seu Gesenrolar. Do ponto de vista pedagégico, trés podem Vira ser 29s antidotos para resistir& tempo- ralidade acelerada que invade nossa vida, nossas escolas e, em especial, a Vida das criancas, Uma das ideias mais potentes constituidas pelas pe- Gagogias da educacdo infantil foi a de caracterizar a escola como um lugar de muitos encontros: de pessoas, de concepcées, de futuros. A escola como um lugar ara o qual, todos 0s dias, as criancas dirigem-se com seguranca, tranquilidade e estabilidade para aprender a viver. Um ambiente onde as pessoas compartilham a5 coisas simples e ordindrias do dia a dia, mas tam. bem criam contextos para que o extraordinario possa invadir 0 cotidiano, Contudo, para produztr a vida cotidiana, é preciso tempo. Eno exercicio demacratico da vida coletiva que as criancas efetivamente se socializam ¢ aprendem a conviver, confrontar, discutir, procurar solucées com seus pares. Para constituir um encontro, & necessario, lum tempo longo, assim como a participacao de todos ha definicdo dos usos do tempo que se realiza no co- tidiano da escola, E preciso narrar Para construir tempo, ter tempo Para criar narrativas As novas geracées precisam aprender a valorizar 0 tempo, a vé-lo como um bem precioso que cada um de. és possui. Algo que nao pode ser banalmente vendido ou comprado, mas sim dividido, compartithado, usu- fruido. © tempo nao pode ser vivido apenas como algo {que passa, mas algo que merece ser vivido com inten: sidade e sentido. Aprender a valorizar e a se apropriar do préprio tempo € oferecer as criangas instrumentos de resistencia ao tempo do capital. Em uma jornada diaria, a5 pessoas costumam ocupar seu tempo com 8 horas de sono € 16 horas de vigilia. No entanto, os momentos de vigitia sio acompanhados de tempos de devaneios, de sonhar acordado, de imaginacao e fantasia. Entéo, mesmo nos eriodos em que estamos acordados, nao somos apenas seres racionais. Somos seres de razao e emacao. Acapacidade de imaginar ¢ fantasiar inicia com a heranca genética da especie, porém seu desenvolvimento esta profundamente vinculado & possibilidade que o ambien: te oferece a cada crianca. A partir de sua vida cotidiana, de suas experiéncias iniciais com os objetos, com as his térias que the narram, comas pessoas que os alimentam, os bebdés, em seus pequenos atos, dio inicio & formago de um mun- do imaginario: inictalmente com seus Cuidadores e, posteriormente, sozinhos ‘ou com seus pares. As criancas pequenas imaginam e, ao imaginar, constroem mundos, mas para isso elas precisam de muito tempo para brincar. ‘Ao brincar, as criancas desenvolvem argumentos narratives, tomam iniciativas, representam papéis, solucionam problemas, vivem impasses, Brincar é 0 rimeiro exercicio de imaginacao e, quanto mais tem- o as criancas tiverem para brincar em um ambiente Fico em parceiros e brinquedos, mais realizarao expe: riéncias socials, cognitivas, corporais e emocionais. Se elas inventam mundos ficticios em suas brincadeiras, maior disposicao para a criago de novos mundos so Ciais, cientificos e culturais poderao vir a ter quando forem adultes 4s criangas nao aprendem somente aquilo que ensina- ‘mos a elas. Aprendem porque querer compteender o mundo em que vivem. Querem dar sentido sua vida, ‘As narrativas feltas para as criancas, tanto sobre a sua prépria vida (constituinda meméria) quanto sobre os elementos culturais que configuram a sua comunidace,

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