Vous êtes sur la page 1sur 425
O SUPREMO PROPOSITO DE DEUS Exposico sobre Efésios 1:1 - 23 D.M. LLOYD-JONES FES PUBLICACOES EVANGELICAS SELECIONADAS Caixa Postal 1287 01059-970 — Sao Paulo - S.P. Titulo original: God’s Ultimate Purpose Editora: The Banner of Truth Trust Primeira edig&o em inglés: 1978 Copyright: Lady E. Catherwood Tradugio do inglés: Odayr Olivetti Revisio: Antonio Poccinelli Capa: Ailton Oliveira Lopes Primeira edigéo em portugués: 1996 Impressio: Imprensa da Fé PREFACIO Este volume consiste de sermdes pregados nos domingos de manh§ no curso do meu ministério regular na Capela de Westminster, Londres, durante 1954 — 1955. Alguns leitores podem estar curio- sos quanto a por que eles ndo apareceram no Registro de Westminster (“The Westminster Record”) e por que foram precedidos, na forma de livro, por meus sermées sobre Efésios, capitulo 2, sob o titulo God’s Way of Reconciliation, e sobre 0 capitulo 5:18 até o fim desta mesma Epistola, que apareceram sob os titulos Life in the Spirit”, The Christian Warfare e The Christian Soldier. * A explicagio é que eu achei que os temas tratados naqueles volumes eram de relevancia mais imediata. Rendi-me também a pressio que foi exercida sobre mim por aqueles que achavam que havia urgente necessidade de orientagio baseada nas Escrituras sobre as questées gerais da paz entre as nagdes, do problema do racismo e dos crescentes problemas na drea das relagdes entre maridos e esposas, pais e filhos, senhores e servos, e também sobre problemas criados pelas seitas, pelas religides orientais e pelo novo interesse pelo oculto. Estou pronto a confessar que, ao adotar este procedimento, bem pode ser que me pese a culpa de permitir que o meu coragao pasto- ral governasse 0 meu entendimento teolégico, e especialmente o meu entendimento do invari4vel método do apdstolo Paulo. A minha tinica defesa é que naqueles outros volumes eu salientei repetidamente que s6 se pode entender o ensino a luz da grande doutrina que o apéstolo formula neste primeiro capitulo, E agora espero fazer plena reparagio neste volume, e, “querendo Deus”, nos futuros volumes sobre os capitulos 3, 4 e 5:1-18. " Os quatro livros af mencionados jé foram publicados em portugués pela PES, com os seguintes titulos e nas seguintes datas: Reconciliagdo: O Método de Deus (1995), Vida no Espirito (1991), O Combate Cristéo (1991), e O Soldado Cristdo (1996), Nota do tradutor. O nosso mundo est4 num estado de completa confusao e, que pena, dd-se o mesmo com a Igreja Crista e com muitos cristos indi- viduais. Seré ocioso chamar pessoas para ouvif-nos, se nds mesmos estivermos inseguros quanto ao que queremos dizer com as expres- sdes “cristio” e “Igreja Crista”. Neste primeiro capftulo desta Epistola aos Efésios, o apéstolo trata dessas mesmas questées de maneira a mais sublime, fazendo-nos lembrar desde 0 inicio que fomos abengoados “com todas as béngios espirituais nos lugares celestiais em Cristo”. Ele prossegue, dizendo que essa verdade se refere aos crentes judeus e gentios, que o poder da ressurreigdo esta operando em cada um de nés e na Igreja, que é o Seu corpo. A Epistola aos Efésios é a mais “mistica” das Epistolas de Paulo, eem nenhum outro lugar a sua mente inspirada se eleva a maiores alturas. Nao ha maior privilégio na vida do que ser chamado para expor 0 que Thomas Carlyle denominou “infinidades e imensidées”! S6 posso orar e esperar que Deus abengoe os meus indignos esfor- GOs, e use-os para ajudar muitos a se elevarem A altura da nossa “alta’’ou “soberana vocacao em Cristo Jesus” e libertar aqueles cujas vidas até aqui estao “presas a frivolidades e misérias”. Devo agradecer 4 Srta. Jane Ritchie, que bondosamente fez a transcrigao do original, e também, como sempre, a Sra. E, Burney, ao Sr. S.M. Houghton e 4 minha esposa pela costumeira ajuda e encorajamento que me deram. Londres, agosto de 1978 D.M.Lloyd-Jones CHEN AWAYN . “Selados com o Espirito” . A Natureza da Selagem (1) . . A Natureza da Selagem (2) . . Experiéncias Reais e Falsas. . Problemas e Dificuldades Concernentes 4 Selagem . Provas da Profissio de Fé Crista . “O Pai da Gléria” .. . O Cristo e o Seu C Introdugio “Santos ... e Fiéis em Cristo Jesus” Graga, Paz, Gloria . A Alianga Eterna “Todas as Béngios Espirituais nos Lugares Celestiais” . “Nos Lugares Celestiais “Nos Elegeu Nele” ... “Santos e Irrepreensiveis diante dEle em Amor” Ado¢ao Superior a Adio. A Gloria de Deus “No Amado” Redengao.... “Pelo Seu Sangue” “As Riquezas da Sua Graca” O Mistério da Sua Vontade.. Todas as Coisas Reunidas em Crist “Nés ... Também V6s” .... “O Conselho da Sua Vontade” Ouvistes, Crestes, Confiastes “O Penhor da Nossa Heranga’’... Sabedoria ¢ Revelagdo ....ssssesssesseennersee 31. 32. 33, 34, 35. 36. 37. “A Esperanga da Sua Vocagio”..... sesreeesee 349 “As Riquezas da Gléria da Sua Heranga nos “A Sobreexcelente Grandeza do Seu Poder” . “Sobre Nés, os que Cremos” Seu Poder do Comego ao Fim “A Igreja, que E o Seu Corpo’ A Consumagio Fina 10. 11. O SUPREMO PROPOSITO DE DEUS Efésios 1: 1-23 Paulo, apdstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estiio em Efeso, e fiéis em Cristo Jesus. A vés graga, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo. Bendito o Deus ¢ Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abengoou com todas as béngaos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; Como também nos elegeu nele antes da fundagao do mun- do, para que féssemos santos e irrepreensfveis diante dele em caridade; E nos predstinou para filhos de adogio por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplacito de sua vontade, Para louvor e gléria da sua graga, pela qual nos fez agrada- veis asi no Amado, Em quem temos a redengio pelo seu sangue, a remissao das ofensas, segundo as riquezas da sua graga Que ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudéncia; Descobrindo-nos 0 mistério da sua vontade, segundo o seu beneplacito, que propusera em si mesmo, De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispen- sagao da plenitude dos tempos, tanto as que estao nos céus como as que estio na terra; Nele, digo, em quem também fomos feitos heranga, haven- -do sido predestinados, conforme o propésito daquele que 12. 13. 14, 15. 16, 17. 18, 19. 20. 21. 22. 23. faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade; Com o fim de sermos para louvor da sua gléria, nés, os que primeiro esperamos em Cristo; Em quem também vés estais, depois que ouvistes a pala- vra da verdade, o evangelho da vossa salvagiio; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espirito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa heranga, para redengiio da possessao de Deus, para louvor da sua gléria. Pelo que, ouvindo eu também a fé que entre vés hé no Senhor Jesus, e a vossa caridade para com todos os santos, Nao cesso da dar gragas a Deus por vds lembrando-me de v6s nas minhas oragGes; Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da gléria, vos dé em seu conhecimento 0 espirito de sabe- doria e de revelacao; Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperanca da sua vocagiio, e quais as riquezas da gloria da sua heranga nos santos; E qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nés, OS que cremos, segundo a operagao da forga do seu poder, Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos, e pondo-o & sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, ¢ potestade, e dominio, e de todo 0 nome que se nomeia, nao sé neste século, mas também no vindouro; E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas 0 constituiu como cabega da igreja, Que € 0 seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos. 1 INTRODUCAO “Paulo, apéstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estdo em Efeso, e fiéis em Cristo Jesus.” — Efésios 1:1 Ao abordarmos esta Epistola, confesso francamente que o fago com considerdvel atrojo. E muito dificil falar dela de maneira comedida por causa da sua grandeza e da sua sublimidade. Muitos tentaram descrevé-la. Um escritor a descreveu como “a coroa e climax da teologia paulina”. Outro disse que ela é “a destilada esséncia da religiao cristi, o mais autorizado e 0 mais consumado compéndio da nossa santa fé crist@”. Que linguagem! E de maneira nenhuma é exagerada. Longe de mim querer competir com os que assim tem procu- rado descrever esta Epistola, mas me parece que qualquer descri¢éo geral que dela se faga deve observar de modo especial certas pala- vras que lhe sao caracterfsticas, e que o apdstolo usa mais vezes nela, talvez, do que em qualquer outra Epistola. O apédstolo fica maravilhado ante o mistério, as glorias e as riquezas do método de redengiio de Deus em Cristo. Como eu mostrarei, estas so as pala- vras que ele usa com muita freqiiéncia — a gléria disso, o mistério e as riquezas do método de redengiio de Deus em Cristo! Outra maneira pela qual se pode expor a caracteristica peculiar desta grande Epistola é mostrar que esta é uma carta na qual o apés- tolo olha para a salvagdo cristé da vantajosa posi¢&o dos “lugares celestiais”. Em todas as suas Epistolas ele expde e explica 0 cami- nho da salvacdo; ele trata de doutrinas especificas, ¢ de discussdes ou controvérsias que tinham surgido nas igrejas. Mas o peculiar trago e caracteristica da Epistola aos Efésios é que aqui o apéstolo parece estar como ele mesmo diz, nos “lugares celestiais”, ¢ dessa posigao especial ele esté contemplando o grandioso panorama da salvagao e da redengio. O resultado é que nesta Epfstola ha muito pouca controvérsia; e isso porque o seu grande interesse foi dar aos Efésios, e a outros aos quais a carta é dirigida, uma viso panora- 11 mica desta maravilhosa e gloriosa obra de Deus em Jesus Cristo, nosso Senhor. Da Epistola aos Romanos Lutero diz: “ela é 0 documento mais importante do Novo Testamento, o evangelho em sua expressio mais pura’’, e em muitos aspectos eu concordo que nao existe expo- sigéo mais pura e mais clara do evangelho do que na Epistola aos Romanos. Aceitando isso como certo, eu me aventuro a acrescen- tar que, se a Epistola aos Romanos é a expresséo mais pura do evangelho, a Epfstola aos Efésios é a expresso mais sublime e mais majestosa dele. Aqui o ponto de vista € mais amplo e maior. Hi declaragGes e passagens nesta Epfstola que realmente frustram qual- quer tentativa de descrig&o. O grande apéstolo empilha epiteto sobre epiteto, adjetivo sobre adjetivo, e ainda assim nao consegue expressar-se adequadamente, Ha passagens no cépitulo primeiro, e outras no capitulo 3, especialmente mais para o fim dele, em que 0 apostolo € transportado acima e além de si préprio, e se perde e se abandona numa explosio de adoracao, louvor e ag&o de gragas. Reitero, pois, que em toda a extensdo das Escrituras nao ha nada que seja mais sublime do que esta Epistola aos Efésios. Comecemos procurando ter uma visdo geral dela, pois sé poderemos captar e entender verdadeiramente as particularidades se fizermos uma firme tomada do conjunto todo e da exposi¢gio geral. Por outro lado, aqueles que imaginam que ao fazerem uma tosca divisio da mensagem desta Epistola de acordo com os capitu- los terao tratado dela adequadamente, exibem a sua ignorancia. E quando passamos aos detalhes que descobrimos a riqueza; um sumério da sua mensagem é muito Util como comego, porém é quando chegamos as declaragSes particulares e ds palavras indivi- duais que encontramos a gléria real exposta & nossa maravilhosa contemplagao. O tema geral da Epistola € proposto logo no seu primeiro versiculo, Isso é caracteristico do apéstolo; ele nao péde refrear-se, e parte imediatamente para o seu.tema. “Paulo, apdstolo Jesus Cristo, pela vontade de Deus” — af esté! O tema da Epistola, primei- ramente e acima de tudo, é Deus — Deus 0 Pai. “A vés graca, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo. Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.” O apédstolo Paulo sempre comeca dessa maneira, e 6 assim que todo cristo deve comegar. Esse é 0 tema que domina tudo o mais. Nunca houve perigo de que 12 Paulo se esquecesse disso, pois mais que ninguém ele sabia que tudo é de Deus e por Deus, e que a Ele se deve dar gléria para todo o sempre. A Biblia é 0 livro de Deus, é uma revelagdo de Deus, e 0 nosso pensamento sempre deve comegar com Deus. Grande parte do problema da Igreja hoje deve-se ao fato de que somos muito subje- tivos, muito interessados em nés mesmos, muito egocéntricos. Esse € 0 erro peculiar ao presente século. Tendo-nos esquecido de Deus, e havendo--nos tornado to interessados em nés mesmos, tornamo- -nos miserdveis e infelizes, e passamos 0 tempo em “frivolidades e misérias”. Do principio ao fim, a mensagem da Biblia tem o propé- sito de levar-nos de volta a Deus, humilhar-nos diante de Deus ¢ habilitar-nos a ver a nossa verdadeira relagao com Ele. E esse é 0 grande tema desta Epjstola; ela nos pde face a face com Deus, com o que Deus ée com o que Deus fez e faz; toda ela salienta a gléria e a grandeza de Deus — Deus, o Eterno, Deus sempiterno, Deus sobre todos —e a indescritivel gloria de Deus. Este tema grandioso apa- rece constantemente nas diversas frases que o apdstolo emprega. Aqui vio exemplos - “E nos predestinou para filhos de adogio por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplacito da sua von- tade”; “descobrindo-nos 0 mistério da sua vontade, segundo o seu beneplacito, que propusera em si mesmo”; “em quem também fomos feitos heranga (ou “obtivemos uma heranga” — VA inglesa), havendo sido predestinados, conforme o propésito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade”. Deus, 0 eterno e sempiterno Deus, auto-suficiente em Si mesmo, de eterni- dade a eternidade, que nao necessita da ajuda de ninguém, vivo, que habita em Sua gléria duradoura, absoluta e eterna, é o grande tema desta Epistola. Nao devemos comegar examinando a nés mesmos e as nossas necessidades microscopicamente; devemos comegar com Deus, e esquecer-nos de nés. Nesta Epistola somos como que levados pela mao do apéstolo, e nos é dito que nos vai ser dada a oportunidade de ver a gléria e a majestade de Deus. Ao aproximar-nos deste estudo, parece-me ouvir a voz que na antigiii- dade veio a Moisés, provinda da sarga ardente, dizendo: “Tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar em que estds € terra santa”. Estamos na presenga de Deus e Sua gléria, portanto, devemos caminhar com cautela e com humildade. Nao somente isso, porém; estamos de imediato diante da sobe- rania de Deus. Pensem nos termos que constantemente vemos 13 perpassar pelas péginas das Escrituras, as grandes palavras e expressGes da verdadeira doutrina e teologia cristé. Quao pouco nos falam acerca da gléria, da grandeza, da majestade e da sobera- nia de Deus! Os nossos antepassados deleitavam-se com essas expressdes; estas eram as expressdes dos reformadores protes- tantes, dos puritanos e dos pactudrios. Eles tinham prazer em passar © tempo contemplando os atributos de Deus. Notem como o apéstolo chega de imediato a este ponto. “Paulo, apéstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus” — nao por sua prépria vontade! Paulo nao se chamou a si mesmo, e a Igreja nao o chamou; foi Deus quem o chamou. Ele é 0 apéstolo pela vontade de Deus. Ele expde isso muito explicitamente na Epjstola aos GAlatas, onde diz: “... quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha me me separou”. Ha sempre énfase a soberania de Deus, e quando estivermos avangando em nosso estudo desta Epistola, a veremos sobressair em toda a sua gléria em toda parte. Foi Deus que escolheu em Cristo todo aquele que é cristo; foi Deus que nos predestinou. Faz parte do propésito de Deus que sejamos salvos. Jamais haveria salvagao alguma, se Deus nao a planejasse e nfo a pusesse em execugao. Foi Deus que “amou ao mundo de tal maneira”; foi Deus que “enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”. E tudo de Deus e de acordo com 0 Seu propésito. E “segundo o conselho da sua vontade” que todas estas coisas acon- teceram. Toda esta Epistola nos diz que sempre devemos contemplar a salvagao desta maneira. Nao devemos partir de nds e depois ascen- der a Deus; devemos partir da soberania de Deus, Deus sobre todos, e depois descer a nds. Ao caminharmos através da Epistola, vere- mos que nao somente a salvagdo é inteiramente de Deus em geral; também é de Deus em particular. Vejam, por exemplo, o grande tema que Paulo desenvolve no capitulo 3. A tarefa especial que Ihe fora confiada como apéstolo é: “demonstrar a todos qual seja a dispensa¢gao do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou” (“por Jesus Cristo”, VA). O mistério é que os gentios sejam co-herdeiros com Jesus. Foi esse o “mistério” que noutras eras nao foi dado a conhecer aos filhos dos homens, e agora é revelado aos Seus santos apéstolos e profetas pelo Espirito. Deus domina todas as coisas; o fator tempo em particular. Quan- do vocés léem o Velho Testamento, alguma vez perguntaram por que foi que todos aqueles séculos tiveram que passar antes que de 14 fato o Filho de Deus viesse? Por que foi que tao longo tempo somente os israelitas, os judeus, tiveram os ordculos de Deus e 0 entendimento de que h4 somente um Deus vivo e verdadeiro? A resposta é que é Deus quem decide 0 tempo em que tudo deve acon- tecer, ¢ assim Ele revela esta verdade que até aqui tinha sido secreta. Este fato é apenas outra ilustrac&o da soberania de Deus. Ele deter- mina 0 tempo para que as coisas todas acontegam. Deus é sobre todos, dominando sobre todos, ¢ marcando o tempo de cada acontecimento, em Sua infinita sabedoria. Numa época como esta, nao sei de nenhuma outra coisa que seja mais consoladora e que dé mais seguranga do que saber que o Senhor continua reinando, que Ele continua sendo 0 soberano Senhor do universo, e que, apesar de que “‘se amotinam as gentes, e os povos imaginam coisas vas”, Ele estabeleceu 0 seu Filho sobre o Seu santo monte de Sido (Salmo 2). Viré 0 dia em que todos os Seus inimigos lambero o pé, viraio a ser o estrado dos Seus pés e serio humilhados diante dEle, e Cristo serd “tudo em todos”. Dessa maneira a soberania de Deus é ressal- tada na introdugao desta Epistola e repetida até o fim dela, porque é uma das doutrinas cardinais, sem a qual realmente nao entendemos a nossa fé crista. Depois, tendo dito isso, o apéstolo passa a tratar do mistério de Deus, Sua grandeza e a majestade da Sua soberania. A palavra “mis- tério” é utilizada seis vezes nesta Epistola aos Efésios, mais vezes, portanto, do que em suas outras Epistolas. Assim, estou justificado em dizer que este é um dos mais importantes temas desta Epistola, 0 mistério dos procedimentos de Deus com relagao a nés, o mistério da Sua vontade. Nés o vemos neste capitulo primeiro — “Desco- brindo-nos 0 mistério da sua vontade, segundo o seu beneplacito, que propusera em si mesmo”. Pergunto se sempre compreende- mos isso como deverjamos. E de temer-se que, as vezes, os cristaos abordam estas grandes verdades como se as compreendessem com © seu préprio entendimento. Jamais pensemos assim. Se vocé comecar a imaginar que pode entender a mente e a vontade de Deus, estar condenado ao fracasso, pois h4 mistérios aos quais nenhuma mente humana pode fazer frente. “Grande é 0 mistério da piedade”; ninguém 0 pode entender. E se vocé tentar entender os procedi- mentos de Deus com respeito ao homem e ao mundo, garanto-lhe que vocé se verd téo confuso que sentird acabrunhado ¢ infeliz. Na verdade vocé poder4 acabar quase perdendo a fé e tendo um senti- mento de rancor contra Deus. “O mistério da sua vontade’! Ele é 15 infinito e eterno, e nés somos finitos e pecadores, e nao podemos ver nem entender. Se vocé se sentir tentado a dizer que Deus nao é justo, acon- selho-o a, com Jé, pér a mao na boca, ¢ tratar de compreender de quem vocé esté falando. Certamente, fazer objegao ao mistério é quase negar que sequer somos cristios, Haverd algo mais mara- vilhoso, mais encantador, mais glorioso para 0 cristao do que con- templar os mistérios de Deus? Espero que ao aproximarmos destes grandes temas, vocé j4 esteja cheio de um sentimento de divina expectagiio, e aspire a adentré-los cada vez mais. Um dos aspec- tos mais maravilhosos da vida crist@ é que nela vocé esté sempre avangando. Vocé pensa que jé o conhece todo, e entéo dobra uma esquina e de repente vé algo que nao conhecia, e vai adiante, sempre adiante. E por isso que 0 apéstolo escreve acerca das “riquezas da sua graca’”; € o glorioso mistério que a Ele aprouve revelar-nos por Seu Santo Espirito. Mas nao permita Deus que algu- ma vez imaginemos que seremos capazes de entender isso tudo no sentido de abarcd-lo totalmente. Meu interesse n3o é somente aumentar 0 nosso conhecimento intelectual de Deus, e sim desven- dar “o mistério” dos Seus caminhos, a fim de que possamos vé-lo e adorar o Senhor, e confessar a nossa ignorancia, pequenez e fragili- dade, e Lhe agradecer 0 mistério da Sua santa vontade. O préximo tema € a graga de Deus; e esta palavra é utilizada treze vezes nesta Epistola. O apéstolo a fica sempre repetindo. No versiculo dois ele a coloca na frase inicial: “A vés graga, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo”. Este é 0 tema que, acima de tudo mais, é desenvolvido nesta Epjstola — a estu- penda graca de Deus para com o homem pecador, providenciando para ele salvagio e redengiio. “A graga de Deus”; sim, e abundante em particular — “as riquezas da sua graga”. Essa idéia acha-se aqui mais do que em qualquer outro lugar — “as riquezas da sua graga”"! “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, 0 qual nos abengoou com toda as benciio espirituais nos lugares celestiais em Cristo. “Nesta Epistola nos é dado um vislumbre das riquezas, da abundancia, da superabundancia da graga de Deus para conosco; e se n&o estivermos ansiosos por um exame e investigagdo com a mais 4vida antecipagiio possivel, € duvidoso se somos cristéos. A maioria das pessoas se interessa por valores e riquezas; gostamos de ir a museus e a outros lugares onde se guardam e se armazenam coisas preciosas, gostamos de ver jéias e pérolas; ficamos em filas ¢ 16 pagamos pelo direito de ver tais valores e riquezas. Gabamo-nos disso como individuos e como nagGes. Repito, pois, que o supremo objetivo desta Epfstola é fazer-nos entrar e olhar, e ter um vislumbre das riquezas, das superabundantes riquezas da graga de Deus. Tudo comega com Deus, Deus 0 Pai, que é sobre todos. Mas tendo dito isso, paseemos para 0 que invariavelmente vem em seguida em todas as Epistolas deste apéstolo, na verdade o que sempre vem em segundo lugar em toda a Biblia —- o Senhor Jesus Cristo. “A vés graca, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo”. Vocés notaram quantas vezes ocorre 0 nome, © nome que era tio caro e bendito para o apéstolo? “O apéstolo de Jesus Cristo”, “A vés graga, e paz de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abencoou com todas as béncios espirituais nos lugares celestiais em Cristo”, ¢ assim continua. No versiculo primeiro Paulo nos diz logo de inicio que ele é um “apdstolo de Jesus Cristo”. Soa quase ridiculo ter que dizé-lo, e, todavia, é essencial salientar que nao ha evangelho nem salvagio fora de Jesus Cristo. E necessério porque hd pessoas que falam de cristianismo sem Cristo. Falam em perdao, mas o nome de Cristo nado € mencionado, pregam sobre o amor de Deus, porém em sua opinido o Senhor Jesus Cristo nao é essencial. Nao € assim com o apéstolo Paulo; no hd evangelho, nao ha salvac&o sem o Senhor Jesus Cristo. O evangelho é especial- mente acerca dEle. Todos os propésitos misericordiosos de Deus sao levados a efeito por Cristo, em Cristo, mediante Cristo, do prin- cipio ao fim. Tudo o que Deus, em Sua vontade soberana, por Sua infinita graga, e segundo as riquezas da Sua misericérdia e do mis- tério da Sua vontade — tudo o que Deus se propés realizar e realizou para a nossa salvagao, Ele o fez em Cristo. Em Cristo “habita corpo- ralmente toda a plenitude da divindade”; nEle Deus entesourou todas as riquezas da Sua graca e sabedoria. Tudo, desde 0 inicio até o fim, é nosso Senhor Jesus Cristo e por meio dEle. Somo chama- dos e escolhidos “em Cristo” antes da fundagéo do mundo, somos reconciliados com Deus pelo “sangue de Cristo”. “Em quem temos a redengao pelo seu sangue, a remissdo das ofensas, segundo as riquezas da sua graca”. (VA: “...pelo seu sangue, o perdio dos pecados...”). Todos nés estamos interessados no perdido, mas como sou per- doado? Ser4 porque eu me arrependi ou tenho vivido uma vida virtuosa que Deus me vé e me perdoa? Digo com reveréncia que 17 nem mesmo o Deus todo-poderoso poderia perdoar o meu pecado simplesmente com base nesses termos. Hé unicamente um modo pelo qual Deus nos perdoa; é porque Ele enviou Seu Filho unigénito do céu a terra, e & agonia, 4 vergonha e 4 morte na cruz: “Em quem temos a redengio pelo seu sangue”. Nao ha cristianismo sem “o sangue de Cristo”. E central, absolutamente essencial. Sem Ele nao hd nada. Nao somente a Pessoa de Cristo, todavia em particular a Sua morte, o Seu sangue derramado, o Seu sacrificio expiatério e substitutivo! B dessa maneira, e somente dessa maneira, que somos redimidos. Nesta Epfstola Cristo é exposto como absolutamente essencial. Veremos isso quando entrarmos em detalhes. Ele est4 em toda parte, tem que estar. Somos escolhidos nEle, chamados por Ele, salvos pelo Seu sangue. Ele é a Cabega da Igreja, como nos lembra o capitulo primeiro. Ele esté “acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domfnio, e de todo o nome que se nomeia, nao s6 neste século, mas também no vindouro”. Ele é a “cabega da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos”; e Ele est 4 mio direita de Deus, com toda a autoridade e poder no céu e na terra. Jesus, o nosso Senhor, é supremo; Ele é 0 Filho de Deus, o Salvador do mundo. Esse vai ser 0 nosso tema. Vocé est4 comegando a ansiar por isso — por vé-lO, contempl4-lO em Sua Pessoa, em Seus offcios, em Sua obra, em tudo 0 que Ele é e pode ser para nés? Entio, em particular, como ja estive antecipando, o tema do grande propésito de Deus em Cristo é 0 tema pratico desta Epistola. Vemo-lo no versiculo 10: “De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensagio da plenitude dos tempos, tanto as que estZo nos céus como as que esto na terra”. Vemos ai o propédsito de Deus. O apéstolo prossegue e nos diz que este propésito sempre foi necessario por causa do pecado. No capitulo 2 veremos que ele nos fala acerca dos problemas que importunam a mente e o coracgio do homem, e de como sua causa é o fato de que “o principe das potestades de ar, do espirito que agora opera nos filhos da desobe- diéncia”, esté dominando o homem decaido. Ele nos diz que o plano de redengao € necessdrio por causa da Queda do homem, e como isso foi precedido pela queda daquele brilhante espfrito angélico chamado diabo, ou satanés, que se tornou “o deus deste mundo”, “o principe das potestades do ar”. Seu poder terrfvel é a causa da inimizade, do estado e da ruina que caracterizam a vida da raga humana, O mundo moderno est dividido em faccGes rivais; o 18 mundo antigo estava na mesma situag3o. Nao hd nada de novo nisso, € tudo resultado do pecado e do édio do diabo a Deus. E resultado do fato de que o homem perdeu sua verdadeira relagao com Deus, O homem se pde como Deus, e com isso causa todo o transtorno e confusaéo no mundo. Mas nos é exposto como, no prin- cipio, ainda no Parajso, Deus anunciou o Seu plano e comecou a p6-lo em pritica. O Velho Testamento € um relato de como Deus comegou a pd-lo em agio. Primeiramente Ele separou para Si um povo, os hebreus, mais tarde conhecidos como judeus. Na hist6ria deles vemos 0 inicio do Seu propésito de redengdo. Do burburinho da humanidade Deus formou um povo para Si. Chamou um homem chamado Abraao e fez dele uma nagiio. Ai temos 0 comego de algo novo. Mas depois houve grande rivalidade entre os judeus e os gentios, e assim, um dos importantes temas desta Epistola 6 mostrar como Deus tratou dessa questo. O grande tema aqui € que Ele Se revelou, nao somente aos judeus, mas também aos gentios; “a parede de separagao que estava no meio” se foi; Deus criou “dos dois um”. Ha uma nova criagao af; algo novo foi trazido 4 existén- cia; a isto se chama Igreja; e esta obra de Deus prossegue crescentemente, diz o apdstolo, até que, quando chegar a plenitude dos tempos, Deus executard o Seu plano completo, e tudo quanto se opde a Ele sera destrufdo. Todas as coisas seraio reunidas e feitas uma sé em Cristo. Este é um dos importantes temas desta Epistola. A princfpio somente os judeus, depois os judeus e os gentios, e depois todas as coisas. E tudo isso serd feito “em Cristo e por ele”. (cf. Ef. 2:13,18.) Isso, por sua vez, leva a outro tema importante, a Igreja. O propésito de Deus se vé muito clara e objetivamente na Igreja e por meio dela, o Seu grande propésito de unir todas as nagdes em Cristo. Nela se véem individuos diferentes, de nacionalidades diferentes, procedentes de diferentes partes do mundo, com expe- riéncias diferentes, diferentes na aparéncia, diferentes psicologica- mente e em todos os aspectos concebiveis; todavia, so todos um sé “em Cristo Jesus”. E isso que Deus esté fazendo, até que finalmente haja “novos céus e nova terra, em que habita a justiga” (2 Pedro 3:13), e Jesus reine “de costa a costa, até que as Juas nao tenham mais crescente nem minguante”, Nao hé nada mais enaltecedor e maravilhoso do que ver a 19 Igreja sob essa luz e, portanto, ver a importancia, o privilégio e a responsabilidade de ser membro dessa Igreja. E por isso que deve- mos viver a vida crista; e assim, no capitulo 4 e¢ até o fim da carta, Paulo dé énfase ao comportamento ético que se espera dos cristdos porque eles sGo © que sao, e porque esse € 0 plano de Deus, e eles devem manifestar a Sua graca na sua vida didria e no seu modo de viver. Tivemos af, pois, uma breve vista dos grandes temas desta Epistola. Permita-me fazer um sumiario deles, de maneira simples ¢ pratica. Por que estou chamando a sua atengio para tudo isso? E porque estou profundamente convencido de que a nossa maior necessidade é conhecer estas verdades. Todos nés precisamos rever esta gloriosa revelagio, e livrar-nos da nossa mérbida preocupagao com nés mesmos. Se apenas nos vissemos como somos retratados nesta Epistola; se apenas nos apercebéssemos, como 0 apéstolo o expressa em sua oracdo nos versiculos 17-19, de que devemos saber “qual seja a esperanga da nossa vocagio, e quais as riquezas da gléria da sua heranga nos santos; e qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nds, os que cremos, segundo a opera- ¢ao da forga do seu poder”, que diferenga isso faria! Acaso vocé é um cristaéo acabrunhado, infeliz, achando que a luta é demais para voc&? Vocé esta a ponto de ceder e desistir? O que vocé necessita é conhecer o poder que est4 operando vigorosamente por vocé, 0 mesmo poder que ressuscitou Cristo dentre os mortos. Se tao- -somente soubéssemos 0 que significa sermos “cheios de toda a plenitude de Deus”, deixarfamos de ser fracos e de afligir-nos, dei- xarfamos de apresentar um quadro tao lamentavel da vida crist& aos que vivem conosco e ao redor de nés. O que necessitamos primor- dialmente nao é uma experiéncia, 6, sim, compreender o que somos € quem somos, 0 que Deus em Cristo fez e como Ele nos abengoou. Nao nos apercebemos dos nossos privilégios. A nossa maior necessidade ainda é a necessidade de entendi- mento. A nossa oragéo por nés mesmos deve ser a oragdo que 0 apéstolo fez por aquelas pessoas, que “os olhos do (nosso) enten- dimento” sejam “iluminados”. E disso que precisamos. Nesta Epjistola “as abundantes riquezas” da graga de Deus sao expostas diante de nés. Vejamo-las, tomemos posse delas e desfrutemo-las. Acima de tudo, e especialmente numa época como esta, quao vital € que tenhamos um novo e robusto entendimento do grande plano e 20 propésito de Deus para o mundo. Com conferéncias internacionais sendo realizadas quase na soleira da nossa porta, com todo o mundo perguntando qual ser o futuro e quais serao as conseqtién- cias dos nossos problemas atuais, com os homens perplexos e desanimados, quao privilegiados somos por podermos pér-nos de pé e olhar esta revelagio, e ver o plano e o propésito de Deus por tras e além disso tudo. Plano e propésito que nao serao realizados por meio de estadistas, mas por meio de pessoas como nés. O mundo ignora isto e da risada e zomba; no entanto, com o apéstolo, nés sabemos com certeza que “todo o principado, e poder, e potestade, e dominio, e ... todo o nome que se nomeia, ndo sé neste século, mas também no vindouro” foi posto debaixo dos pés de Cristo. O Senhor Jesus Cristo foi rejeitado por este mundo quando Ele veio, os homens O repudiaram como a “um qualquer”, um “car- pinteiro”; contudo Ele era o Filho de Deus e 0 Salvador do mundo, o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, Aquele diante de quem se dobrard “todo o joelho dos que est&o nos céus, ¢ na terra, e debaixo da terra” (Filipenses 2:10). Gragas sejam dadas a Deus pelo glo- rioso evangelho de Jesus Cristo, e pelas “riquezas da sua graca’’! 21 2 “SANTOS... E FIEIS EM CRISTO JESUS” “Paulo, apéstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estéo em Efeso, e fiéis em Cristo Jesus.” — Efésios 1:1 Como vimos, quando o apéstolo comega a sua carta, ele mer- gulha imediatamente no meio de grandes e profundas verdades. Suponho que todos nés, em graus varidveis, devemos declarar-nos culpados da tendéncia de considerar as instrugdes das Epistolas do Novo Testamento como send o mais ou menos formais. Inclinamo- -nos a achar que as instrugdes sao mais ou menos desnecessarias, € que podemos saltar por cima delas para podermos chegar depressa a grande mensagem que se lhe segue. Nas leituras da meninice querfamos chegar logo ao coracao da histéria, e muitas e muitas yezes ficdvamos impacientes com todos os preliminares; queriamos a vibracao e o fim da histéria. Esse h4bito tende a persistir, de modo que, quando chegamos as Epistolas do Novo Testamento, achamos que os versiculos preliminares e as saudagSes nao s&o importantes e nao tém nenhuma ligac&o com a verdade e com a doutrina. Assim, tendemos a lé-las muito rapidamente e a precipitar-nos ao que consideramos como o ensino essencial. Mas, isso é um engano profundo, n&o somente com relacio as Escrituras, como também com relagaio a qualquer coisa que valha a pena ler. E sempre bom dar atencao aquilo que o escritor no inicio julga necessdrio e impor- tante, pois é ébvio que ele nao o teria introduzido se nao tivesse algum objetivo em mente. Se isso é verdade em geral, é verdade particularmente quantos a estas Epistolas do Novo Testamento, porque nestas saudagées preliminares vemos aspectos da verdade que sao vitais e essenciais. Aqui, no versiculo primeiro desta Epistola, temos um notavel exemplo disso, pois o apdstolo nem consegue dirigir-se aos efésios sem ao mesmo tempo presented-los aos efésios (ec a nds) com uma extraordindria descricg&o e definig&éo do que significa ser cristao. 22 Chamo a atengio para este fato porque muitas vezes as pessoas interpretam mal o ensino das Epistolas do Novo Testamento é diri- gido Unica e exclusivamente a crist&os, a crentes no Senhor Jesus Cristo. E completamente erréneo e herético tomar o ensino de qual- quer das Epistolas do Novo Testamento e aplicd-lo ao mundo em geral. O ensino € dirigido a pessoas particulares, e aqui 0 apdstolo nao nos deixa em nenhuma divida quanto as pessoas as quais ele esté escrevendo. Ele se dirige a elas e imediatamente as descreve. Também € preciso ficar claro para nds o fato de que o apéstolo estava escrevendo o que se pode descrever como uma carta geral. A Versio Revista inglesa nao diz: “aos santos que esto em Efeso”. A palavra “Bfeso” é omitida, e isso nos faz lembrar que nalguns dos manuscritos antigos as palavras “em Efeso” nao estio incluidas. Os manuscritos mais antigos nado contém as palavras “em Efeso”, mas elas se encontram noutros manuscritos antigos. Contudo, as auto- ridades concordam em dizer que 0 que realmente aconteceu foi que o apéstolo escreveu uma espécie de carta circular a varias igrejas, e que o seu amanuense provavelmente deixou um espago em branco para que se pudesse inserir 0 nome de alguma igreja em particular. Esta carta a igreja de Efeso foi também a outras igrejas da Provincia da Asia, e é provavel que a descrigdo tradicional, “A carta para os efésios” tenha surgido do fato de que o exemplar original foi para a igreja de Efeso. Permitam-me ressaltar também que esta carta nao foi destinada a alguns cristaos incomuns e excepcionais, nao é uma carta dirigida a algum grande erudito ou tedlogo, nao é uma carta dirigida a professores, nao é uma carta dirigida a eruditos especializados no estudo das Escrituras. Ndo é uma carta para especialistas, porém para membros de igreja comuns. Esta é, sob todos os pontos de vista, uma observacao muito importante, e pela seguinte razao, que tudo o que o apéstolo diz aqui acerca dos cristéos e membros das igrejas deve, portanto, ser verdade a nosso respeito. Toda a elevada doutrina que temos nesta Epistola é algo que eu e vocés fomos destinados a receber. A Epistola aos Efésios — talvez a realizagio maxima da vida do apéstolo e dos seus escritos — é uma Epistola destinada a pessoas como nés. O objetivo é que membros comuns de igreja, de todas as igrejas, tomem posse desta doutrina e as entendam e se regozijem nelas. Nao so apenas para certas pessoas especiais e cultas; sao para cada um de nés e para todos nés. Voltando-nos, pois, para a descrig¢éo que o apéstolo faz do 23

Vous aimerez peut-être aussi