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Revista da Associa¢gao Brasileira de Daseinsanalyse no. 4, 1978. Para fins didaticos. CONHECER O OUTRO NA ENTREVISTA. Solon Spanonis [Nas entrevistas dos encontros terapéuticos, das triagens, das anamnescs, dos hist6ricos de casos sistematizados de modo geral, o que se busca basica mente € conhecer a outra pessoa. Nessas situagdes diversas pretende-se geral mente colher dadlos pessonis, familiares, sécio-econdmicos e culturais. Ea par- tir dessas informagées que sto conhecidos varios fatos referentes a vida e pro- blemitica da pessoa entrevistada.A triagem € normalmente o primeito paso. para encaminhar o interessado aos varios servicos disponiveis. A anamnese serve para a formagio do diagndstico ¢ outras entrevistas servem para decidir & respeito da indicagio de aconselhamento, orientacio ou terapia. Apestr de diferentes, estas atividades sempre se dirigem ao hist6rico da pessoa pelo re- gistro dos seus antecedentes, que chamamos de pasado. O registro de antecedentes se realiza de preferéncia através do preenchi- ‘mento de formulirios ja preparados.As questOes preparadas, contidas nos for- mulérios, estio de antemio planejadas no comteduo © ma seqiiencia, Assin encontramios essas questécs, nessa ordem: anteccdentes familiares, informa ‘0s s6cio-econdmicas, estrutura familiar, nivel cultural, doengas, traumas psi quicos, etc... Nas entrevistas de carater verbal segue-se 0 mesmo esquema € planejamento, apesar da ordem das questdes ser mais flexivel. Mas, mesmo, assim, nos dois tipos de procedimento o fundamental éa importancia decisiva dada ao registro dos antecedentes sob a primazia do passado, A coleta de dadlos ¢ informagGes, hoje em dia elaborada e computada com maior eficiéncia, tema finalidade de verificar ¢ explicar as causas que determi- ‘nam os efeitos correspondentes. Assim, da mesma maneira que se encontra no virus da paralisia iniantil a causa da atrofia dos miisculos atacados e, por con- seqiencia, da paralisia ¢ da dificuldade de locomogio dos membros afetados, procurase através da claboracio dos dados coletados as causas que determi ‘nam, por exemplo, os sintomas neuréticos,o desvio de conduta, os vicios. Baseando-se nos principios de causalidade ¢ determinismo € indispensi- velo procedimento acima exposto, Mas sera que conhecer 0 outro, entrevis- tado, se limita 4 coleta de dados ¢ informagSes dos antecedentes de sua vida e ambiente? Ser4 que conhecer 0 outro quer dizer format uma opinido, um pa- recer, sobre ele através de coleta e elaboracio de dados ¢ informagies? Seri ‘que o fundamental € somente a importincia decisiva do passado? Serd que conhecer € somente a claboraco de informagées de um individuo objetivado, € a aquisigio de dados no decorrer do tempo? “Conhecer’ é derivado do latim “Cognoscere” que, por sua vez, é formado Por cum - gnosco - nosco.Gnosco - nosco significa comecar a aprender (pelos semiddos),tourar eonlrecinnento, exanisar, considera: Cum (com) significa junto com os outros. Conhecer é algo mais fundamental do que coletar ¢ elaborar dados e in formacoes. Para conhecer 0 outro, sendo este o entrevistado, precisamos aproximétto, nao no sentido espacial, mas no da familiaridade.Aproximar quer dizer tentar compreender 0 outro na maneira como ele vive, reage,atua, pensa € sente. Quando uma pessoa procura ser entrevistada, faz a entrevista para algo, seja para ser diagnosticada, scja para ser encamninhada ou rientada. Esse para algo, que também pode ser comecar a terapia, tem 0 cariter de futuro. Se 4 pessoa interessada nao tiver uma expectativa de algo haseado no futuro nun- ca poder procurar uma entrevista. O entrevistado € motivado pela expectati- va de consulta, ocasiio em que evoca acontecimentos do passado para mos- trar como se sente, pensa ¢ atua no presente. Se deixamos a pessoa a vontade, fazendo perguntas simples ¢ essenciais, ela mesma evoca o passado conforme este se apresenta, Evocar 0 passado € algo vivencial, ¢ nio mero registro dos antecedentes. O histérico ou a anamnese do entrevistado nio depende somente de da- dos do passado mas € um procedimento onde futuro, pasado € presente se fundem. © futuro desde que nascemos até o dia de nossa morte, sempre nos motiva, nos apela para pacticipar de nosso hist6rico. Essa maneita de se liber- tar do pasado como algo exclusivamente determinista ¢ entender tempo no somente como uma seqiiéncia de “agoras”, como registro de anteceden- tes, constatacao do presente € previsio conclusiva do futuro,mas de uma ma- nein onde 6 frtura, pasado © presente apelam juntos, foi 6 que Martin Heidegger nos ensinou € Medard Boss aprofundou na Daseinsanalyse. ssa maneira de compreender o existir humano nos possibilitou uma apro- ximacdo com 0 outro mais ampla e libertadora. No momento em que o regis: tro dos antecedentes ¢ a primazia do pasado determinista é superada, abri- mos também a possibilidade de atendimento de pessoas cronologicamente idosas. Oportunamente vamos expos 0 acompanhamento de uma pessoa de 68 anos « quem, fora de um atendimento medicamentoso € algumas sessdes paliativas de apoio, foi negado o atendimento psicoterapéutico ¢ psicanalitico devido a sua idade cronolégica. Conforme a visio do tempo linear € determinista, 0 pasado dessa pessoa, no actimnlo dos aconcecimentos ocort! dos, jé tinha congelado todas as possibilidades dela enfrentar seus problemas de uma maneira corajosa € de assumir uma vida mais ativa, criativa € feliz, Ficamos surpreendidos quando, na hora em que s¢ livrou do peso do pasado € respondeu ao apelo € motivacdo do futuro, se livrou da depressiio € se tor- ‘nou uma pessoa realizaca ¢ feliz Conhecer o entrevistado nao se limita & coleta de dados informativos de forma objetiva a respeito dos antecedentes, nem as constatacdes do presente Se queremos nos aproximar para compreender e conhecet o entrevistado te- ‘mos que partir de perguntas simples ¢ claras pois somente assim poderemos entender como ele pensa, age, sente, fala, gesticula, reage as situages © se relaciona com as outras pessoas de ambito familiar ou social. Evitamos per- ‘guntas padronizadas € esquematizadas, Preferimos perguntar e solicitar a res peito de, por exemplo, frustracées, decepcdes, abalos vividos pelo entrevista- do,em vex de perguntar:"Quais os traumas psiquicos que ocorreram en sua vida?" E muito importante também ficarmos sempre atentos aos detalhes sim- ples ¢ evidentes, que esquecemos facilmente quando presos a descobri cau- 828 ¢ suposicées complicadas Antes de, por exemplo, pensarmos numa disritmia cerebral diante de queixas de dor de cabeca, falta de atencio, falta de concen. tracio € lembranea das coisas, € aconselixivel pensarmos em. primeiro Lugar ‘uma simples deficincia de vista ou numa anemia decorrente de verminose ow de falta de alimentacio adequada. Além disso, é também importante sem- pre tentarmos esclarecer o sentido do que nos fala e apresenta o entrevistado, Por exemplo, quando alguém nos diz:*Eu procurei o senhor porque sou muito netvoso".A palavra “nervoso” nos diz tudo e nada. Nervoso pode ser 0 entre- ‘vistado que sente, por exemplo, medo, vergonha, raiva, tensio, ansiedade, de- cep¢io ou alegria, Em cada caso, 0 sentido de nervosismo precisa ser esclare- cido. Atendendo a expectativa do entrevistado para conhecé-lo devemos fazer perguntas simples ¢ claras que 0 deixem a vontade para que a sua problemati- ¢a se mostre num evocar de ocorténcias do passado, de forma pessoal. Nao podenios, no entanto, negligenciar como tle apela o futuro para que se apre- sentem as dificuldades, diividas e problemas que ele encontra, Sem apelo do futuro nao seria passivel aproximar ¢ conherer o outro BIBLIOGRAFIA HEIDEGGER, M.- Sein und Zett (1927)- Max Niemeyer Verlag, 1972 12." edigao. HEIDEGGER, M.- Being and Time - Oxford, Basil Blackwell, 1973 - 3.* ed, GOMES FERREIRA, A, Dicionario de Latim-Portugués - Porto Editora Ltda.

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