Vous êtes sur la page 1sur 38
METODOLOGIA GEOGRAFICA E CRITICA DA GEOGRAFIA IDEOLOGICA Jo’o Bernardo NOTA PREVIA, MAS TARDIA Marxista e spinozista, nfo creto que dom‘nemos 0 nosso presente. Muito me- nos entendo, por isso, que possamos dominar o que & J6 passado, Dai que publique, sem mais alteragses do que &@ correccdo de umas poucas -pa‘avras, um texto redigido hé sels anos, quando as minhas posigées teéricas comegavam & deserever um arco de cirew'o que ainda hoje percorrem, e quando come- cava @ aperceber-me de que as formas por que realizava a minha pritica esta vam longe de corresponder 80 que, desde sempre, tem sido os anse‘os alti- mos dessa prética. Apresento no en- tanto este texto hoje, tanto tempo de- corrido ¢ tantas experiéncias recome- gadas, porque em nada alterei as mi- nhas posicdes quanto a0 seu objectivo fundamental: propor um modelo teérico para os estudos geogréticos e esbocar as linhas que deveria seguir a critica da geografia, Continuo a achar esse modelo, nos tracos gerais em que o apresento, como decorrente de uma po- sigdo revoluctondrla, e os rumos de ert tica abertos continuam a parecer-me os que mais longe podem aloancar. Tam- bém nada altero em tudo aquilo—e muito 6— de que discordo $4; pols pare- ce-me que s6 um moralismo catélieo (chame se ele auto-eritica) pode pre tender apagar os tracos do passado. O passado ¢ um passado, Néo h& passe~ dos. HA presentes que se sucedem. Pre- tender apagar um passado e reconst!- tuir de outro modo, a posterior’, 0 que gostarfamos que tivesse sido a nossa evolugiio, ndo & mais do que a utopia Tidicula de procurar subsumir ao pre- sente outros presentes, tio reals como ele —ou mais ainda, sabe-se 16, porque J& absolutamente intocaveis! Em nada mudando as idelas expos- tas, preferi defronté-las com a expres- so muito suméria das minhas Ideles actuals sobre os mesmos assuntos, de forma a que o leltor possa, preenchendo seu modo © espago de sels anos que val entre ambas as teses, ou seguir a ‘evolugho que me fez passar de umas para outras, ou negar as actuals em mome das antigas, ou taivez encontrar no tecido contraditério que as sustenta @ todas a possibilldade de uma coexis- téncia. e no uma exclusso, A mim com- pete-me 96 escrever, e nunca tentar AmpOr uma leltura. £ ao leitor que cabe ler e tirar as suas conclusdes. Ao gosto o cltente. Ajudaré talvez & compreensio deste artigo explicar porque o escrevi, 34 que @ geografia, nisto tudo, nfo fol nunca a preocupago original. As preo- ‘cupacdes de uma prética revolucionéria ¢, de forma mais difusa mas também mais geral, a propria necessidade de compreender @ novidade dos tactos con- temporaneos que & luz do !eninismo eléasico permanectam inexplicdvels, le vou-me a estudar, e depols a tentar esenvolver por minha conta ¢ risco, ‘a concepc&o de especialistas, Quando este conflito se processa em profissbes intelectuats decorre da «deontologia profisstonals, porque a bolsa pode ceder & moral. Convém ainda abordar outro porto. ‘Freeman @ bastante sensivel & quase imexisténcia de blografias e auto-blo- grafias de geégrafos, o que me leva a colocar a questéo da acco efectiva do nivel individual na relagéo entre a es- trutura social e a natureza, O nfvel Individual exerce somente um tipo pre- ciso de subdeterminancta sobre certos nivela da super-estrutura soclat e esta (allés, certos niveis desta) tem um certo efelto, nfo na relagho da estru- tura socla} com a natureza, mas sim na estruturac&o dos elementos da natureza em func&o dessa relagéo, na medida em que sobre-determina 0 modo de produ: ¢80. Assim, nfo s6 o nivel Individual n&o exerce qualquer acco efectiva na relagéo entre a estrutura avcial e a na- tureza, como 96 mediatamente, pela sua sub-determindncla na estrutura social € pela sobre-determinancia desta no mode de produgfo, ele tem certo efelto ns estruturagéo de elementos da naturezs na estrutura @ que chame! A. Por 1880, @ estrutura social funciona aos olhot das pessoas como o anteparo que pro tege a natureza—toda a natureza ¢ portanto, também o elemento dominante na relago geogréfica—dos desvariat hhumanos. O mito do genio louco que quer destruir 0 mundo implica que para o conseguir, ele possua sobre & natureza uma eficécia directa, tsto 6 um complexo téenieo que the permita no acto destruldor, prescindir de qua quer forma de trabatho social e de qual quer estrutura social. © reverso da me- Gatha: um modo de produs8io que ocupe na relag3o com a natureza um lugar de dominante € que exerca sobre a natu- reza efeitos que alterem as condicées do elemento dominante na estrutura da natureza @m fungho da sua relagie com a estrutura social. A ideologla entende este processo evidentomente de uma forma mitica, como a quebra da char- mona naturals. Mas onde fol parar a estrutura social como salvaguarda dessa tipo de desenvolvi modo de sup JOAO BERNARDO harmonta? Esperemos em breve vero genio bom que quer sa'var 0 mundo! * Nesta altura, um esquema pode arrumar idelas sem que o seu deficiente simbolismo soja contraproducente. Es- trutura da relagio geogréfica: +E osteo lugar exacto que ocupam 0s recentes mitos ecolégicos. Nao me refiro, so menifosta mas & sua fungdo como nove sx des harmonies naturais (rote do 1977). truteral mento das forgas ———_) produgao ——_—__aoeial produtiv. transformacao natu ral dos elenentos da estrutura A, ou: efeitos da accao exercida por un da do modo de producao estrutu¥a social (reiagio) estrutura A estruturagao de elementos da ng tureza em fun ¢20 da sua rele G80 com a estru tara social eobre ebementos da estratura & da naturez: za ( ESQUEMA I dos elonentos na Nature trutura B) METODOLOGIA GEOGRAFICA Mats correctamente, este esquema pode representar-se de uma forma mals complexa, como se segu + PYavde de producio tipo de desenvolvi mento das forcas ‘1, ‘Mas, para malor facilidade na ro presentacdo gréfica, usarel daqui por lente o esquema I relagoes de super-estrutura ju produgao ¥ ridica @ polftion a FY SY estrutura social (relegao) estrutura A ee eae estruturagao de elenentos da na tureza em fun $0 da eua rela go com a estry tura oocial ESQUEMA IL Num como noutro esquema, as setas Indicam a determiaémcis (deter- minagbes, sobre-determinagdes...); 05 tragos sem seta indicam uma relacéo Re qual se situa um polo dominante. S6 uma anélise conereta pode precisar que elemento ocupe o lugar de dom!- nante. Mais: precisar as domtnantes, € 1900 @ andlise concreta.\Temos pois de afastar resolutamente qualquer forma de Ideologia da causalidade. Um es quema geral permite-nos tragar unica- transformacao natu ral dos elementos da estrutura A, efeitos da accao exercida por um @g do modo do produgao sobre elementos da estrutura A astrutura dos elenentos da natureza, na Naturg za (eetrutyra B) mente a@ determinantes e marcar, agsim, o elxo em que se cituarfo as dominantes. Nao se trata de estabsle- cer leis causais sem conteddo, a re chear depots de contedo no acto da concretizaso, porque ‘as leis causais referem-se a um efcito, e as determi- nacdes nenhum efetto tém se es domi nantes ndo forem inclufdas na andltse. Por outro lado, nem as domingntes, bem a sua acco, estdo Incluidas nas determinantes, porque estas apenas de- terminam a locelizachio des dominantes. E por isso ndo podemos falar em efelto das dominantes, como nfo podemos feler em efeito das determinantes, A concepgio de efelto deve ser afastada tanto de um esquema gerai, como de um esquema concreto global. A relacho cause-efetto encontra-se reduzida ao In dividuai concreto ¢ portanto n&o pode constituir base nem expresso de qual- quer lel clentifica 1. Limito-me agora enunclar o problema, tanto quanto me parece exigir a compreensfio do es quema geral, Mals adiante.esta questdo seré exemplificada com um caso con- ereto, como cumpre & tarefa de uma efectiva expulso da ideologia causa- -ttelto, A relegho da estrutura social com @ natureza n6o 6 outra senfo a rela- 80 da estrutura social com a estru- tura A. B essa, e 36 essa, a relagio da estrutura social com @ natureza, Ou seja, nfo se trata de uma relacéo com a Natureza (estrutura B), mas sim com © que elementos da natureza significam para um dado modo de producéo (estru- tura A). Uma concepg8o espacial dos elementos da natureza s6 pode interes- sar as cléncias que ttm como objecto certos niveis de estrutura B, A dix clplina geogréfica nfo estuda a estepe como érea, mas sim o que s estepe implica na relag&o com o modo de pro. dugdo pastoreio némada e 8 estrutura social decorrente, Se nfo, a admitir- mos que geografia considera as Sreas estéticas, admitiremos também forgo- samente que a hist6rla considera a dind- mica dos volumes, visto que 0 corpo Ge Cassar ¢ um volume em movimento, tal como o 6 0 punhal de Brutus. Se a geografla deolégica aparenta tomar a8 Areas como 0 objecto do seu estudo, isso deve-se 96 as mecanismos do provesso {Geolégico, que analisaret na continua- go, Limltemo-nos, por enquanto, & exposigho da cléncla geogrética. ® conventente, ainds, nB0 confun- dir esta confusso com uma outra, que JOAO BERNARDO embas endam comummente vonfundi- das, embora sofam distintas confustes, A de que © geogratia pode determinar & localtzagéo precisa dos eventos do real conereto. A primeira confuséo referia-se 80 objecto do conheclmento, Rafere-se esta & relagio entre o concreto pensado © 0 real concreto, ou eeja, ao tipo de eflc&cla na acco prética de um dos nivels do concreto pensado—a geogre- fla, A rea entra aqui, ndo como ele- mento do conheclmento, mas sim como Parte do processo real. E se a geogra- fla, ainda aqui, recusa a area, ¢ por- que o nivel geogréiico do concreto pen- sado néo tem como eficdcla prética a Jocotizagdo precisa dos eventos, mas sim 8 posigéo destes. A localizacio precisa dessa posicto € a eficécia de outros niveis do conoreto pensado, nomeada- mente do politico e da estrategica +, Até aqui, considerel a geogratia Independentemente dos problemas ie- vantados pela transigéo de um para outro modo de produguo. £ a esse ponto que me vou agora referir, A geografia 0 estudo da relagdo de uma dada estrutura social com elementos da natu- reza numa estruturagéo determinada pelo modo de producdo, Essa estrutura- Ho de elementos da naturezs, @ estru- tura A, s6 existe em funcuo da sue relagdo com a estrutura social, ¢ outro modo de produgio determinaré outra estruturagio, Sendo assim, a sucesso de uma a outra estrutura A somente tem significado ao nivel do proceso de transicdo de um para outro modo de producdo. A discipline historica tem por objecto o estudo das formas de transicho entre um e outro modo de Produce. Ou seja, o objecto da histéria 6 0 estudo dos diferentes modos por que nos diversos niveis da estrutura Global se processa a trensiglo de uma para outra estrutura, e¢ dos diferentes tipos dessa transigfo. Por isso, a dis- ciplina que tem por objecto essas for mas de transigho inoide unleamente nos METODOLOGIA GEOGRAFICA nivels em que essa transigho 98 pro- cessa, Vejamos em esquems a transicio de um para outro modo de produgéo na estrutura global: euper-estrutera social Aa Guper-estrutura jurfaica ¢ polfticd relagdes de produgo. um dado tipo de desen volvinento das forcas ~~ produtivas ESQUEMA IIL ‘A cada modo de produc, a sua geografia, © a passagem de uma a outra geografia nfo ¢ senfo a transicio de um para outro modo de producho. Convém néo confundir a transigdo de um para outro modo de produgSo com © desenvolvimento das forcas produtt- vas, Esse desenvolvimento @ determ!- nado pelo modo de produgéo e precisa- mente por 1850, por se desenvolver, entra em determinado momento em conflito com esse modo de produgio e com a super-estrutura por ele determi- nada. & essa a fase de transicio para um novo modo de produséo, repres20- tada no esquema II pela articulacdo entre a) eb) 4, Ao dizer que a geogri- ‘Na se refere A relagho entre uma dada estrutura social e a natureza, em que © tipo de desenvolvimento des forcas produtivas determina o polo domtnante, digo, por isso mesmo, que est& impli- cada no estudo do desenvolvimento das forgas produtivas determinado pelo > formas de cons, ci@ncia social a)colisio D)levam a revg | lugao até eo 2 deseavolvinenta, desve tipo, das forcas produ “tivas modo de produs6o, Mas a fase de transi- so determinada sempre ao nivel do modo de producéo seguinte, Seré a ané- lise do modo de producdo para o qual ee transita, do desenvolvimento das forces Produtivas por ele determinado, e do tipo desse desenvolvimento, que permi- tiré determinar o papel da geografia naquela fase de transicéo, & neste sea tido que devemos entender as afirma- gOes usuais da geografla ideolégica so declarar, por um ledo, a sua nfo him toricldade, por outro, a sua almetria com a historia, Essa simetria provem do facto de uma como outra se refe- rirem & estrutura global Devo focar, por ditimo, outra ques téo, a do choque entre duas estruturas sociais com diferentes modos de produ- so, de que resultam alteracdes mais ou menos profundas, ou até radicals, nés reiagbes entre essas estruturas socials © @ natureza. Assim, @ quanto 30 cy ‘odjecto do nosso estudo, retenho dols tipos de coliséo entre estruturas socials. Primeiro, se na relagho entre a estru- tura social a que se deve a colisiio e a natureza ¢ esta ultima e ocupar o lugar de dominante, Nesse caso, 6 a propria natureza, pelo lugar de dominante ocu- ado na relagéo com a estrutura social, que determina o deflagrar da collsdo. Vejamos um exemplo conereto, que apresento como tiptco: as «lnvasdes bérbaras», Para maior facilidade ellmi- narel, no esquema que se segue, os efel- tos em cadeia, desde o primeiro povo a deslocar-se até ao ultimo a receber © impacto dessa deslocacéo, e conside- rare! unicamente os dois extremos. A chelo seré tragado o esqusma geral das determinantes; a tracejads, as do- minantes e a concretizagdo das det miuantes; marcarei a trago/ponto as transformacées produzidas e as novas estruturas resuitantes (Ver esqucma IV, em extra-texto). E agora a altura de referir um Problema atrés deixado em suspense, © esquema IV mostra bem o cardcter anti-clentifico da ideologia assente 20 Proceso causa-efeito e¢ a necessidade da redug&o desse proceso ao individual concreto, retlrando-Ihe qualquer valor Ge lei clentifica. Dizer que as tipo de desenvolvimento das (relagao) forgas produtivas estrutura A ———- +. transformagia natural dos ele- mentos da estrutura A [iienitaae | estruturagso dos eleientos da natureza em fungso de suas rela- ges com a estrutura social Vgima Lelima— soley clima —soio J—- mayascarenatiaeamen|) | Ree ee na Netureza (estrutura B) { SS [Zonas “climaticas, zonas |_geotbgicas | METODOLOGIA GEOGRAFECA do nivel clentifico: 6 cléncia queiquer forma de reproducBo do real concreto em concreto pensado que assegure uma eflesicia prética material no dominio da natureza. O nivel clentifico de uma dada ideologie 6 determinado pelo modo de produs8o, através do qual os indivi- Guoe estabelecem com a natureza rela- bes de apropriagéo. Uma dada clén- cla 6 @ forma conceptual necessérla a uum dado modo de producéo e que the assegura a sua eflcécla enquanto modo de produgio— 6, por ise, determinada or este, b) Uma forma de reproducéo modo de produgao. elagdes de produ gio (condicses das condigbes ideolégicas de existéa- cla de uma classe social, ou seja, do aspecto super-estrutural das reiaghes de Produo, As relagées de producto, logo, as condigdes de existéncla das classes sociais, sio determinadss pelo modo de produgfo e determinam, néo 86 este nivel b) da ideologia, como a artlculagSo dos dols nivels na estrutura tdeolégica, bem como a articulacSo da. estrutura ideolégica na estrutura glo al e conseguintemente as relagdes en tre a estrutura Ideolégica e cada um dos nivels da estrutura global. Estrutura da ideologia: eiéncia Adeolégicas de exis————__-y estrruturacao téncia das classes sociais) ESQUEMA V Independentemente da functo espe- cities de cada um dos niveis, a fungéo da tdeologia como ideologia ¢ a de Teproduzit as condigées ideolégicas de existéncia da classe sociel que a pro- duz, Ou, numa outra formulagéo: @ articulagBo dos dois nivels da ideologia constitu! uma forma de reproduc&o das condigbes Ideolégicas de exleténcla da classe que produz essa articulagso, Por isso, a ideologia aparece sob um aspecto mistificado, como uma mera forma de reprodugio das condi- GOes Ideologicas de existéncia das clas ges, apagando-se o seu cardcter de forma de conhecimento, isto 4 de forma de dominio material prtico reproducfo dee condig5ee 3) ideolégicas de existén- cia da classe social efectivo da natureza, Isto resulta de néo se considerar a especificidade, dentro da estrutura ideoldgica, dos ni vels que a constituem, A autonomla dos nivels da estrutura implica que para cada um deles tenhamos de construlr © concelto da sua propria eficécia, A eficécla do nivel clentifico reside no dominlo material prético efectivo da natureza, A eficéela do nivel da repro- dugBo das condicdes Ideolégicas de exis- tncla das classes socials afere-se pela inérela dessas condigées na {deologia, Isto 6, pelo grau efectivo de perpetua- Bo dessas condigdes, Pelo mesmo par drBo se mede a eficdcla da ideologia enquanto estrutura ideolégica, isto 6, como reprodutora das condighes tdeold- gicas de existéncla da classe que a pro- duz, Esta tripia divisio reduz-se, de facto, unicamente a uma duple eficé- ela. Como ¢ que a ideologia pode ter a mesma eficécia que um dos seus nivels, como € que, na articulagéo entre os nivels da ideologia, a eficicla de um pode apagarse na eficécla do outro? Porque o nivel clentifico & silencioso sobre as condigses de existéncla das classes socials. & esse silénclo que per- mite & ideologia, enquanto estrutura Adeologica, reproduzir as condigbes deo- Wgicas de existéncla das classes. E por 1sso a forma especitica desse alléncio € determinada pelas condigbes de existén- cla de classes soclais especiticas, Uma dada cléncla ¢ aplicada num quadro dentro do qual 56 coustréi hipéteses vélidas para uma situagéo que Lmpli- que a reprodugéo das condigées de exis. teéncla de dadas classes sociais, Mas, se a condicho da artlculagio do nivel etentifico na estrutura ideoldgica como reprodutora das condigdes ideolégicas de existéncia das classes socials ¢ 0 seu silénelo, ent&o, ¢ isto & fundamental, esse ailénclo, ou methor, aquilo que fala © que ease siltncto cals, ¢ exterior & gua estrutura enquanto ciéacia, £ por tao que uma mesma forma de cléncia pode ter tugar em diversas condigbes de existéncla de diversas classes socials. BAo duas as condigbes desse silénclo: uma reside no modo de transmissio do saber cientifico, que se apresenta como valido unlcamente para condigdes de existéncla de classes tidas como dedas ‘@ outra consiste nas fungdes que os re- presentantes do nivel da ciéncla desem- penham no processo de producto, e que os sub-alternizam na hierarquia dos prestigios socials nas relagdes de pro- dugdo 7. (Para quem eliminar da ideologia © nivel clentifico e, por outro lado, medir a eficdcia da ideologia como estrutura ideolgics, ou seja, como re- produtora das condigbes ideolégicas de JOAO BERNARDO existéncla dae classes soctais, pela bi- tola da eficécla do nivel cientifico, en- tho remuita claro que @ Ideclogia nBo ofereceria qualquer eficécla, e dat apll- darem-na de artificio, atrés do qual se ccultariam designios tenebrosos¢, esses sim, verdadeiros, Desta forma, torna-se imposaivel qualquer critica da 1deologia, visto esta ser considerada como decorrendo do tlusiontsmo—e ve- remos ne continuagio o papel funda- mental da critica clentifiea da 1deolo- gia, Pode ser estabelecida uma lel geral quanto As relacSes entre os dois niveis em que @ estrutura ideolégica ve de compe. Na fase em que o modo de produglo vigente permite o desenvol- vyimento das forcas produtivas, os inte- esses da classe dominante so os pré- prlos interesses desse desenvolvimento. Por isso, as exigénclas que tal desen- volvimento implica podem ser intelre- mente correspondidas e 0 nivel cienti- fico assume ua estrutura Sdeclégica uma enorme amplitude, Mas o pré- prio desenvolvimento das forgas pro- dutlvas faz com que o quadro em que até ai se moveram—e que as tinha felto mover—, 0 modo de produy8o, se tome demasiado estreito, passando entéo a constituir um entrave. 2 uma época de revolucBo (ver 0 esquema II), A classe dominante tem agora todo o tnteresse em tentar traver o desenvol~ vimento das forcas produtivas, por lav0 a amplitude do nivel da cléncia € seve- ramente reduzida, Por outro lado, aper felgoa-se uma técnica de opressio, ou feja, 0 nivel da Ideologia constitulde pela reproducéo das condicdes ideoldgi- cas de existncla das classes assume uma enorme amplitude e diversifica- 80°, Devemos, assim, distingulr entre © papel determinante essumido na es trutura {deolégica pela reprodugto das condigSes de existéncla das classes 50- clai, e a malor ou menor amplitude de cada ‘um dos nivels da estrutura ideo- Wegica METODOLOGIA GHOGRAFICA ‘Com as diferentes amplitudes rela- tivas que sucesslvamente tomam os dois nivele da Ideologia se liga um outro problems: a assimilacéo formal de um Por outro nivel Num periodo (num modo de produgio) ou numa fase (numa fase de um modo de producéo) ‘em que o nivel clentifico possul grande ‘amplitude, € 0 nivel reprodutor das con digdes {deolégicas de existéocia das clases socials que assimila forma, ou certas formas, do nivel clentifico. Num perfodo de fraco desenvolvimento das forcas produtivas, ou numa fase em que o modo de producdo constitu! um quadro demasiado estreito para perml- tir 0 desenvolvimento das forcas pro- dutives, © as entrava, ¢ 0 nivel clentifico que se assimila, ou que tende a essimilaree, a forma ou a cer tas formas do nivel reprodutor das con- diges Meolégicas de existéncla das classes. O facto de um nivel se asstmi- Jar formaimente a outro leva a uma errada identifieag6o dos dols nivets, 0 que allés n&o 6 do espantar, dado que ta! identificagio 6 uma das condicdes da eficécla da estrutura Ideol6gica como reprodutora das condigses 1deo- Wgicas de existéncla das classes s0- clals, Ou seja: a forma, ou as formas, que um nivel da estrutura assimile a0 outro constitui uma questo determi- nada na estruturagio desses nivels pelas condicSes de existéncia das olas- ry Sempre deda & luz por individuos, @ Ideologia 4, sob esse aspecto, indis- tinta dos seus representantes indivi- duals, E no eatanto ¢ preciso distingul- -los radicalmente, O esquema da estru- tura ideolégica que atrés desenhel (es- quema V) refere-se indifereatemente a qualquer estrutura ideoidgica, apll- cando-se portanto as ideologias reinan- ‘tea, ou seja, as {deologias espontaneas 10, ‘como as escolas ideolégicas, ou as Ideo- logias individuals, no sentido de {deo- logias de individuos. N&o hé, para a estruture ideolégica, qualquer distincéo er entre estas trés formas. O estudo de uma ‘deologia nfo ¢ 0 estudo da ideo- Jogia de um ndividuo; peto contrério, sdeologia de um individuo néo 6, na sua estrutura, distinta de qualquer outra estrutura ideolégica. O que nfo signi fica que as relaches entre os Individuos @ 5 ideologias nfo constituum um ‘objecto de estudo. Podemos encarar sob dols aspectos a relacéo entre ums !deo- logia ¢ um individuo: a) a relagdo entre um individuo e um nivel da ideologia, 0’) As relacdes entre og individuos, de- correntes da relagfo de cada um deles com um dos nfvels da ideologia. b) A Telacto entre um individuo e a ideolo- gia enquanto estrutura ideolégica @) S6 pela sua fungéo no modo de produgSo um individuo pode ser considerado como representante de um dos niveis da Ideologia, Essa represen- tatividede nfo € pols determinada no campo da ideologia do individuo em questo, mas sim no da sua actividade Bo modo de producho—se o individuo ‘tem como fungio garantir directamente ao modo de produgéo a sua eficdcla prética material enquanto modo de apro- Prlacho da natureza, ou se a eficdela do individuo ¢ a de assegurar ao modo de producdo e sua reproducéo enquanto aquele modo de producto. Antes de considerarmos a alinea desta decor rente, passemos j& ao outro aspecto sob 0 qual se pode encarer a relacto entre 0 individuo © a ideologia, 2) © ponto de vista desta alinea correspande @ uma outra posigso do tndividuo: 0 seu tugar nas relagbes s0- elais de produco implica que @ sus actividade no modo de producio ae re- Produza conceptualmente nfo 96 quanto funcéo prética, mas enquanto fungéo prética executeda num modo de produgSo especitico, Ou sefa, o lugar dos individuos mas relagbes de produ- eo implica que reproduzam a si actividade enquanto actividade propria ® quem ocupa aquele lugar e conse: cy guintemente reproduzam as condicdes Sdeotegicas ds existéncla desee lugar, essa classe, Enquanto integrados em dadas relagdes de produgSo, os indivi- ‘duos nfo representam um nivel da tdeo- Jogi, mas sim uma estrutura ideol6- gica, ou antes, um tipo de estrutura {deolb6gica, O tipo de ideologia 6 deter- minado pela postc&o especitica ocupada nae retagbes de produgio', A anéllse pode tornarse mais complexa, porque um tndividuo representa um tipo partl- cular de ideologia que corresponde & sua posicéo precisa nas relacdes de pro- duo ¢, simultaneamente, representa um tlpo ideolégico mals geral, n0 qual esse tipo particular se integra, que cor- Tesponde & essa estrutura de relagdes de producéo considerada em geral e que 6 usualmente denominado ideolo- gia reinante. A anAllse deste problema Ao pode ser prosseguida ao nivel do tndividuo, mas somente ao nivel da ideologia; ola implicaria o estudo da in- tegracéo uns nos outros dos diferentes tipo tdeologicos, agsunto n&o abordado aqui porque me mito em todo este texto a tentar a decomposicéo da estru- tura ideolégica—e portanto de qual quer tipo ideolégico e de qualquer tipo de ideologia—nos niveis que a cons- tituem e a aflorar diversas questdes relacionadas com essa decomposigSo. © importante € que, sob 0 ponto de vista considerado nesta alines, um in- @ividuo nBo representa um nivel da ideologia, mas sempre ums ideologia, isto ¢, um dado tipo de articulagéo desses nfvels. Sintetizando, antes de continuar: sab o ponto de vista da sua funcio no modo de producSo, um ind! ‘viduo representa um dos nivels da ideo- Jogia. Sob 0 ponto de vista da sua po- sigho mas relagSes de producio, um individu representa um tipo de ideo logta, Podemos agora compreender me- thor porque ¢ que a eflchcla da ideo logia enquanto estrutura se considera distintemente da eficécia de cada um JOAO BERNARDO dos seus nivets enquanto nivels— por que eficécla de cada um dos niveis 4 8 eficéela de diferentes funges no modo de produplo, e a articulacdo dos dols nivelp tem ume eficécla propria, cujo segredo reside na reproduc, no campo da Meclogia, da posigéo ocupada Por aquete tipo de ideologia na hlerar- quia dag relagbes de produgao. a’) Os dole aspectos focadve nas almeas precedentes apresentam-s¢, 08 Tealldade, sob uma forma mals com- Plexa, porque em parte so mutua- mente confundidos. A funco especitica de um individuo no modo de produgdo, aspecto sob o qual o caracterizel como representante de um ou outro alve. da sdeologia, confere-lhe uma dada posl- $60 nas relagdes de produgho, as quala so —vamos admitito como uma re gra —relagdes hierdrquicas. Mas, como ‘sob 0 ponto de vista do lugar do indl- viduo nas relagdes de producSo este se integra num tipo {deolégico especifico, ‘temos que estes tipos sdeoidgicos esto bierarquizados entre af segundo @ pro- pria hlerarquia dos seus representantes, donde um resultado mistificatérlo: @ hlerarquizacio dos tipos ideolégicos ‘aparece como uma hlerarquizagso de um sob outro nivel da Ideologie, con- siderados esses nivels como ideologias independentes € distintas. Ou seja: sob © Ponto de vista das suas funcdes no modo de produc&o, os individuos repre- sentam um ou outro nivel da ideologia, Integrados nas relagbes de produgéo, o8 individuoa hierarquizam-se segundo es suas fungdes no modo de produsfo. ‘Mas, sob o ponto de vista das relagdes de producfo, os individuos representam tipos ideoldgicos independentes e¢ dis- tintas de outro tipos ideoldgicos. Esta simultinea hierarquizacéo dos indh- duos nes relagdes de produc&o segundo © geu papel no modo de produce, & das ideologies indepondentes que of individuos representam enquanto inte- gradcs nas relagdes de produglo, ex- prime-se mistificatoriamente atribuindo

Vous aimerez peut-être aussi