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O Processo Da Constituigdo Dos Estados Nacionais Em Africa
Escrito por Carlos Serrano
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A DIVERSIDADE CULTURAL
‘A imagem que 0 mundo ocidental nos legou da Africa é a do continente isolado, exético, integrado na Histéria com a chegada dos europeus. A
visio etnocéntrica dos “outros” nas descrigdes dos navegantes, traficantes e missionérios seiscentistas até a andlise cientifica dos exploradores
do século XIX deu-nos a conhecer uma sociedade estatica, homogeneizante, nos primeiros estagios de uma evolugdo unilinear.A DIVERSIDADE CULTURAL
A imagem que 0 mundo ocidental nos legou da Africa é a do continente isolado, exético, integrado
na Histéria com a chegada dos europeus. A visdo etnocéntrica dos "outros" nas descrigdes dos
navegantes, traficantes e missionarios seiscentistas até a andlise cientifica dos exploradores do
século XIX deu-nos a conhecer uma sociedade estatica, homogeneizante, nos primeiros estagios de
uma evolugao unilinear. A recente descolonizagao do continente africano acompanhada de uma
premente necessidade de recobrar sua identidade propria assume seu discurso cientifico para
revelar-nos, pelo contrario, formacées sociais em constante modificacgdo. Impérios, reinos, grupos
étnicos, linhagens ou segmentos menores da sociedade colocam-se numa relagdo de equilibrio
precario e, portanto, possiveis de serem mudados a qualquer momento. migracdes, ocupagdes
territoriais, aliancas ou conflitos entre aqueles grupos humanos modificam a todo momento a
paisagem social, subvertem a ordem estabelecida e criam condi¢ées a mudanca. A analise
detalhada do processo que opée os homens entre si e estes como um todo em oposic¢ao aos
“outros,” os "de fora", parece poder tornar explicitas as mudancas de carater histdrico que
ocorreram nas sociedades africanas, tanto na "situagao colonial" quanto ao se constituirem como
Estados-Nagdes. Nao queremos aqui fazer uma descri¢ao detalhada do mosaico cultural africano
mas apenas enunciar alguns tracos essenciais que constituem o fundo comum da civilizacdo negro-
africana, para que melhor se possa compreender como se relacionam aspectos de cultura
tradicional numa situac¢déo de modernidade (na construgdo do Estado-Nagao). O mundo africano é
um todo integrado onde se relacionam nao so os aspectos sociais mas também o tempo e espaco
em que vive. Para 0 africano a vida social em toda a sua totalidade insere-se numa constante busca
de um equilibrio de um sistema de forgas que se expressam desde os tempos primordiais (deuses,ancestrais e mortos das linhagens) até a sociedade presente segmentada nos diversos espacos:
€tnico, clanico, linhagem e da aldeia. Este sistema estabelece uma hierarquia de estruturas
baseadas em critérios de ancianidade, qualidade social fundamentada nesta visdo ontoldgica.
Assim a comunidade africana é constituida de vivos e antepassados entre os quais ha uma
constante relacao reciproca explicita no culto aos antepassados. Um dos aspectos mais relevantes
reside na importancia do chefe da comunidade nesta relacgao. Ele 6 o intermediario obrigatorio
entre o mundo visivel e o invisivel, intercedendo junto aos ancestrais e é através dele que os vivos
recebem o fluxo vital. O chefe é por conseguinte considerado um gerador de vida e fecundidade
que transmite a toda a comunidade. A transmissdo do fluxo vital pelo chefe constitui, tal como os
lagos de parentesco, um dos alicerces na construgao da solidariedade clanica. Ela cria uma unido
vital, uma rede de relagdes unindo os homens e seus antepassados num plano tanto vertical quanto
horizontal, totalizando numa unidade Unica: tempo e espago. A vida do individuo é deste modo
percebida como participativa (coletiva) estabelecendo a consciéncia de pertencer a um grupo
social, a identidade étnica. A maior parte dos estados africanos sdo multiétnicos e ndo pode ser
esquecido quando se pretende tansformar um pais independente numa na¢ao, isto é, numa
unidade politica identificada com um projeto politico, um Estado.
IDENTIDADE ETNICA VERSUS IDENTIDADE NACIONAL
Desde o final da Segunda Guerra Mundial, quase todos os Estados africanos passaram ou estao
passando pelo processo de independéncia politica. Segundo Markovitz (1970), sdo trés os casos de
"desenvolvimento politico" pelo qual passam os paises africanos:
1) a luta pela libertagao;