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Dirsto: ‘Aspsia Alinta cama | Juste: Brandio Lopes Licino Marine Ficha Catalogriicn CPBrasi. Catsogasso-n-fonte Sindcato Nacional dos Eutora de Ls Kowatck, Laci ke 1 Espoiagd urbana / Lucio Kowarick - Rio d neta Paz e Tera 1979 (Golesi Esudos brasil I, Sto Paulo (Cidude) ~ Condigdes so ciologia urbana, Titulo Seve 7e.a10 cpp - 301 cpu = son2i) EDITORA PAZ E TERRA Convo Editorial Antonio Csndido Coo Farad. Fernando Gasparan Fernando Henrique Cardoso ESPOLIACAO URBANA Para BE. culo. wikee A Regito da Grande Sto Paulo é 0 centro dinmico do Pais. A produgio industrial, o sistema financeiro, a renda per capita, enfim, qualquer indicador de pujanga ‘econdmica apresenta-se com larga fartura quando com- prado as outras areas da sociedade brasileira Contudo, permanecer no nivel destas constatagbes {que traduzem, em titima andlise, 0 grau de desempenho tecondmico - mas nfo necessariamente “qualidade de vi- {da da populaglo - significa revelar apenas um lado da ‘Questio’e deixar de relacionar dois processos que fre- ‘ientemente aparecem interligados: crescimento econd- ‘mico e pauperizacio de vastas parcelas das classes traba- Thadoras, ‘As condigdes de vida dependem de uma série de fa- tores, da qual a dindmica das relagbes de trabalho é o pon- to primordial, Nao obstante tal fato, & possvel fazer uma leitura destas condiges através da andlise da ex- ppansio urbana, com seus servicos, infra-estrutura, espa- (08, relagSes sociais eniveis de consumo, aspectos direta- Imente ligados a0 processo de acumulacio do capital ‘Um exame da Grande Sio Paulo pode iniciar-se ‘com uma visio da Metropole em seus aspectos fisico-es- paciuis, para depois detectarem-se 0s processos que estio por deiris deste conjunto de aparéncias. A aparéncia de- Sordenada do crescimento metropolitano pode ser vista através de seu tragado irregular e 0 desconexo de seus es- 3 ‘pagos vazios ¢ ocupados que ji sugerem formas dispara- tadas de ocupagio do solo. Essa impressio de desordem ainda se agrava quando conhevida a realidade que nao consta do mapa oficial da cidade: hi 26 mil ruase S mil Toteamentos clandestinos. ‘A. distribuigdo espacial da populagio no quadro deste crescimento eadtico reflete a condicio social dos habitantes da cidade, espelhando a0 nivel do espaco a se- ‘gregacio imperante no Ambito das relagBes econdmicas. ‘© agravamento dos problemas que afetam a qualidade de vida da populagio de Sio Paulo ndo atinge a cidade fem geral. Sobretudo a partir das timas trés ou quatro. décadas, surgem © se expandem os bairros periféricos {ue, conjuntamente com 0s tradicionais cortios e fave~ Tas, alojam a populacio trabalhadora. E nestas reas que se concentra a pobreza da cidade e de seus habitantes. conveniente comecar por uma répida reconstitu «lo historia. Nos primérdios da industrializagdo e basi- amente até os anos 30, as empresas resolveram em parte ‘o problema de moradia da mao-de-obra através da cons- Urugio de “vilas operirias”, geralmente contiguas as Fabricas, cujas residéncias eram alugadas ou vendidas ‘40s operarios. O fornecimento de moradia pela propria ‘empresa diminuia as despesas dos oper propria sobrevivéncia, permitindo que os: Febuixados, Tal tipo de solugo era vidvel na medida em ‘que # quantidade de forca de trabalho a ser alojada era Felativamente pequena - pois destinava-se de modo espe- ial wos operdrios menos disponiveis no mercado de balho ~ e'0 baixo custo dos terrenos ¢ da construgdo compensava a fixacdo do trabalhador na empresa, Neste caso, o custo de reprodugao da forga de trabalho, pelo menos no que diz respeito a moradia, era resolv {do pela propria empresa, O cenario do Bris, Moéca, Be- lém de entdo, onde a vida girava em torno dos “apitos das fabricas de tecido™, caracterizava-se pela concentra- ‘Gio das moradias operdrias na proximidade dos locais de Trabalho » Com a intensiicagio da industrializagao, erescera- pidamente 0 niimero de trabalhadores, aumentando a Pressio sobre a oferta de habitacdes populares. Taisfe- émenos ocorrem paralelamente a valorizagio dos terrenos fabris residenciais que torna, do ponto de Vista da empresa, anti-econdmiea a construgao de vilas para “seus” operirios, ainda mais quando, com a accle ragio do fluxo migratério, acumula-se um excedente de Forea de trabalho na cidade. ‘As empresas transferem assim © custo da moradia (aquisigfo, sluguel, conservagio do imével) conjunta ‘mente com os gastos com transporte para o proprio tra balhador © os relacionados os servigos de. infra: estrutura urbana, quando existentes, para 0 Estado. Des {fe momento em diante as "vilas operiias” tendem a de saparccer e a questio da moradia passa a set resolvida pelas relagdes econdmicas no mercado imobilidrio, ‘A partir de entdo surge no eensrio urbano © que ppassou a ser designado de “periferia’: aglomerados dis tantes dos centros, clandestinos ow nao, carentes de in fraestrutura, onde passa a residir crescente quantidade de mao-de-obra necessiria para fazer girar a maquinaria, ‘Como acumulagio e especulagio andam juntas, a localizagio da classe trabalhadora passou a sept 0s fu- x08 dos interesses imobiliirios. ' No contexto explosivo do erescimento metropolitano, © poder piblico 36 se muni tardiamente de instrumentos legais para tentar dar um minimo de ordenagdo ao uso do solo. No entan- 1 tal iniciativa ocorre num periodo em que o desenho urbano ja esti em grande parte tragado em conseqiéncia dda retenclo dos terrenos por parte de grupos privados, Desta forma a ago governamental restringiu-se, tanto ‘agora como no passado, a seguir 0s nicleos de ocupacio ttiados pelo setor privado, ¢ os investimentos pablicos, 1 Ye WILE. Jo Sip ig Mari 6. Er So Li a vere ca bid tia rit SESa Se tomar Fenians renee six Utd Crp tat a ee forbes nario ero minim doasvee ce NGA Marooltan, gor uioncs aur ign ede are eg el apne Sime gee ees S50, Sm os sio servidos pela rede de esgotos ¢ 537, pela de gua. Resultado: “as populagdes servem-se em geral de fossas, mega ae angus tn sige a aed rep poebion ry Wothke ages? Na pena fa (pea eae ere a ‘tém rede de esgotos ¢ 46% de dgua. Para se ter uma idéia fnfotagsi Saniett nnet one men Bees rte vis ns ceedareestar Beer mesgistees settee Siocon ape et Capa mae See Sigma E imperioso tracar as grandes linhas desta situacio, Ree ceo Uncsmetourent seas Mobis cacy crs Eeera tne rna preter eee cert dele guns nat ma og Bea eect erie renter eSpace oer ne Eedeceatee ed eesatiianansoette Gio copeculatva de terenosfendmeno ainda feqiente eeesiseescaeeescatenia cae sre mas tees epee hee +i pap ore ee ee 1a meter sn 2 cipalmente nas ireas perifricas Leste, Oeste, Nordeste © Sudeste - e também, atualmente, cada vez mais general zado na Grande Sto Paulo, ‘A frase... "60 prego do progresso” traduc e ao mes- ‘mo tempo justifica 0 crescimento eadtico da metropole Indica inicialmente a ineapacidade do poder pablico de programar formas mais racionais de ocupacio do sol. ‘Ademais, fundamenta uma forma de expansio que, devi do & fraglidade das organizagOes populares para interfe~ rir nos processos decisorios, confere grande liberdade de aacio aos grupos privados inteiramente voltados para & ‘obiengio do luero, Vale a pena descrever 0 processo pelo qual se leva adiante a dindmica especulativa, “A especulagao imabi- Tira (.) adotou um método, préprio, para parcelar a tetra da cidade, Tal método consistia (¢ consiste) no se- uinte: 0 novo loteamento nunca era feito em continui= dade imediata ao anterior, jé provido de servigos publi- £05. Ao contririo, entre 0 novo loteamento ¢0 Ultimo ja fequipado, deinava-se uma rea de terra vazia, sem loteat ‘Completado 0 novo loteamento, a linha de Gnibus que o serviria seria, necessariamente, um prolongamento 3 parti do ultimo centro equipado. Quando estendida, a linha de énibus passa pela drea ndo loteada, trazendo- the imediata valorizagdo. O mesmo ocorreria (e vcorre) com os demais servigas piblicos: para servit 0 ponto e {remo loteado, passariam por areas vazias, beneficirias Imediatas de methoramento pablico. Desta forma. trans- feria-se pura o valor da terra, de modo ditetoe geralmen- {eantecipudo, a benfeitoria publica, Ainds hoje. sempre que se chepa a um centro secundario da cidade ~ de Sun- {fo Amaro a Penha, indistintamente ~ se continua em diregio a periferia, 0 processo € visivel (agora também fem virios pontos da Grande Sao Pauloy: entre cada lo- teamento alcancado existe uma drew winds vata.” ' CARDOSO, Fernando Hengue CAMARGO, Canto F. Feria de KO- WARICK, Lise Cuore ssn emtenent de aan ‘ocr. io Pai, CEBRAP 1973p. Catron CEBRAP. » Paraleo a este process, depois dos anos 30jnici-se tm surt industrial que triha os eis ferovirios pa irda Capital de um lado a FerrviaSantos-Jundiat i pulsion a atividadeseconOmieat em Santo André Sto Gitano. De ou, a longa da rade de Fs Cem tral do Brasil surgem pequenos nclos industrials mas Drincipalmente as chaades “eidades-dormitorio™, que Slimentam de nko a empresas da Capital e mals reser temente outros ndclesindustrias da regio. pos a Se funda Grande Guerra, de modo especial depois de 1960, través das rodovias, Sto Beroardo e Diadema, Guar: ihos e Osasco ~ municipios contiguos 4 Capital - pas- San, em moments diferentes dos Simos 20 anos, por tim rapido proceso de indurialzago. ‘importante resalar€ que cada um desses né- cleo, na medida em Ques expand, ei, por suave, Sha propria pefera’ que aaa a ret er ands de forma mals Gramitica, os problemas sécio-ccondmicos fpontados para a Capital 1 veruginso erecimento,demogrifico da regi. aque entre 1960-1970 fi de 38%, ao ano, conjugado a0 Broceso de rteneto dos terenos& eapera de valor Eto, levou a0 surgimento de bars cadaver mals di fonts," Amontoum-se populagbs em eas ongingu aTastaae dos locas de trabalho, impondovse dist de deslocameno cada ver maiores. Acentuase 0 ro: esto de ering de “cidades-dormitOrio",verdadiros SSampamentos desprvidos de infra-estutura.” Nese Context, alm do trabalho eda moradia, que serio ana- isadon a sepuro sistema de transpotes elemento tam bm bisico a eproducdo da orga de rab passa a scrum dos problemas crucial ‘Quem trabalha em Diadems, more fora. Quem sora em Diadema tbalha for’, dio peleto desc 1 Camo ¢ cose mito te impart papel ceimensdenogrco “hep Marotta anor Spo lao 1 Retest qo 1 7 manda ve ti crc seine aemapeo noe “ municipio de grande expansio industrial, luma situagdo que constitui a regra geral Paulo.” Os deslocamentos assumem desta forma uma feigio cadtica. Efetivamente, 0 tempo médio de desloca- mento subiu nos iltimos anos de 30%, enquanto aumen- tam, fundamentalmente para a populaglo operiria que utiliza 0 transporte de massa, as distincias a serem pe corridas: "os usuarios que moram na periferia da cida- de... (permanecem) de 3 a 4 horas didrias nos vefculos {que os levam ao trabalho etrazem de volta para casa” ‘Ademais, 0 intenso processo de motorizagio ocorrido nos iiltimos anos, expresso pela frota de veiculos que ppassa de 120 mil na Capital em 1960 para quase um mi Tho em 1974, acirrou enormemente 0 grau de congestio- famento do tafego, Em 1968 havia 7 milhoes de deslo- ‘eamentos dirios, cifra que em 1974 passa para 13.9 mi Thaes, Contudo, o importante a ressltar é a modalidade ‘como se efetuam estes percursos difrios. De um lado, Sob a forma de transporte individual: so 0s grupos abastados, possuidores de automéveis, cuja média de ‘cupacio é de 1,2 pessoa por velculo. De outro, o trans- porte de massa através de Onibus que transportam 6,8 milhdes de passageiros, carregando nos momentos de maior afluéncia cerea de 130 passageiros por veiculo, © dobro da lotacio maxima prevista. O transporte ferro: viisto de subsrbio conduz 900,000 passageiros por dia: € ‘© quotidiano dos “pingentes”, ou se, 700 usuarios que. duis vezes ao dia abarrotam uma composigao que nao everia receber mais de 300 passageiros E claro que os assim chamados “problemas do trin- sito” afetam a todos. A exasperagdo oriunda do conges- ino ne ania wm ony manip St doe ‘eps tensn So Bars e 9 ecaanlp Ae 1 Odors can ra a in: op Mop de ShotaSagonis 3: Condgor Utans = Tasfoe op 2 s tionamento, buzina, falta de estacionamento, tensio de corrente do atropelo do trfego e até certa medida adi culdade de cobrirdistincias erescentes ¢ realizadas em tempos mais longos afetam as pessoas que se locomovern com sew automével. Tal tipo de exasperacio exprime apenas alguns aspectos da intensa e exaustiva locomogao que diariamente se efetiva na MetrOpole, Mas os proble- mas mais crucias atingem os usuirios dos transportes coletivos em que a maior parte das locomogdes serve para cobrir 0 trajeto que liga residéneia ao trabalho. Flas, superlotaglo, atrasos, perdas do dia de trabs tho e ds vezes a fria das depredagdes ndo constituem, apenas simples “problemas do trinsito”. As horas de pera e de percurso antes e depois do dia de trabalho, via de regra extremamente longo, expressam 0 desgasie & ue estio submetidos aqueles que necessitam do trans- Porte de massa para chegar a seus empregos. Em outras palavras, submetido a engrenagem econdmica da qual rio pode escapar, o trabalhador, para teproduzir sua condigio de assalariado e de morador urbano, deve st jeitar-se a um tempo de fadiga que constitui um fator Adicional no esgotamento daquilo que tem a oferecer sua forga de trabalho. E como esta, pelo menos nos desgaste aque estd sueitafaca decair sua produtividade. 36 Foi sponta o pape que o sistema de transpores bre nu capo habicoval dace tablbocort triando, através dos flxos da expecilagio imobilra, 8s *peniris" que em perioos mals rezenespasaram A constr ocendrio mum em quase todas areas ur tanas da Grande So Paulo, onde vvem cerca de 98, dos habtantes da regi. Como # obvi. a expeculagioimobiliria nfo se ex prime tio-somente pela retengio de terrenos que ses {am entre um centro de suas zon peifeics. Ela se presenta também com imens vigor dentro dss proprias ifeas ena, quando zona elagnadse ou detadentes Tecsbem investments em servigos ou inacetrturss Discs O surgimento de una rodovis ou vas express, {canalizagio de um simples corepo enfin, marmelbo- Fia urbana de qualquer po repereue imedistamente no Devo dos errenos: Neste sentido talvero exemplo mais Magrante e recente aja o que ocorre com at dese cont sas a0 tajeto present futuro do Mero. fato dere- oriarcerton burrs da cidade remodela oso eo tipo de imévels exsentes,encarecendo veripinosamente @ prego dos lotes dsponives.Forjacse asim’ ='e 0 poder Plblco awravés de esapropragtes e planos de ve: Etbuniagio" inrfere dietamente mete proceso ~ una ova confguragio expacial que visa ao mercado residen- Gil ou de servigo dan eames abestadas, enguanto os trupos pobre: tndem er explses para dreis mals i antes, Desta forma, um transporte de massa qe dove- fs serve uo daloesmento du popuagdo opedta, dev 0 1 alguimisexpeculatva do. setor mobil Sonsirutor eh neutalidadetecnicia do planejamento piblico, converse em insirumento dor tmerswes dos Extrator prvilegtados. Este process de expulso é intenso nos nicleos de rapids valoraglo da regido metropolitan, Predio Marinl um exemplo dos procedimenton de ecpe Taglo" efetuidos em ceria oss, quando a valorzagio delimovestorna-se incompavl com 4 presen da po pulagio de renda bala. O poder publico impde relor. ‘mas, cujo custo esté fora do alcance dos moradores mais ppobres, forcando com isso sua transferéneia para as ie reas da periferia. Tal processo de “limpeza” reflete-se também nas favelas da Capital, que apesar da interdigao formal de seu crescimento tiveram um ineremento subs- tancial. Apés os intensos desfavelamentos que ocor ram na Capital nos anos 60, favelas tenderam a seguir © fluxo do desenvolvimento econdmico que ocorria nas reas mais industrializadas da Grande Sio Paulo, ‘Apesar de inexstirem dados precisos acerca da popula co favelada sabe-se que ela € numerosa em certos mu- nicipios ~ Guarulhos, Osasco, Diadema, Sio Bernardo do Campo ~ © que apresentam caracteristicas s6cio- ‘econémicas semelhantes as da Capital. " ‘A localizagio das favelas tendeu a seguir a tritha da industrializagdo, amontoando-se em dreas préximas 20 mercado de'mio-de-obra nio-qualificada. Quando & pressio imobiliria ou congelamento de certas éreas tor- hham-se mais vigorosos numa cidade ou regio, novas fa- velas surgem ou sdo transferidas para municipios vizi- nhos, onde os negécios imobilidrios ainda nio se apre- sentam tdo lucrativos. Neste particular, um caso 4 transferéncia das favelas de So Caetano para Maud, ‘corrida ha alguns anos, e que constituem um exemplo fagrante de “limpeza” de uma regio marcada por i tensa valorizagio de terrenos. ram nas “casas precarias” da "periferia”. Tas cifras refe- 1 Ox ahins dud dpi PNAD aia (tne de Pa S19 rem * salman rs fem-se somente a Capital para o ano de 1975. Sabe-se ‘que o numero de habitagdes precérias aumentou nos il- {imos anos, fendmeno que também tem ocorrido nos ou- {fos municipios da Regio Metropolitana, para onde se fem dirigido a populagdo trabalhadora, Mais recentemente, com a explosio do preco dos Acrrenos, a tendéncia &acentuar a expulsio da populacio para as “peiferias, onde, distante dos loeais de trabalho, Se avolumam barracos e casas precirias. Esta é a etapa, Imais recente do processo “expulsdo-fixagio” das classes ‘fubalhadoras, que obviamente no se reduz &s popula- hes faveladas. Nas assim chamadas “casas precirias”™ a “periferia reside o fulero do problema, presidido pela {oi lativa dos “loteamentos” que fixou, em ca- Sis “proprias”, boa parte da classe trabalhadora. "Mut {0s dos novos baieros operirios tanto no que se refere & qualidade das construgdes e de infra-estrutura bisica, omo no que tange aos aspectos legas da posse do terre: tno, no se diferenciam substancialmente das favelas. Ressalte-se que pouco mais da metade dos domici- lios particulares da Grande Si0 Paulo slo proprios ou fm estigio de aquisicdo. De um lado, através do Banco Nacional de Habitagao (BNH), as classes médias passa- am a situacio de proprietdrios, stuando-se em areas Anais eentrais, melhor servidas, enquanto as classes tra- balhadoras foram fixadas na “periferia', construindo, elas mesmas, nas horas de folga com a ajuda gratuita de pa- Fentes,vizinhos e conterrineos, as suas casas propria." 1 Ani quo daca prc opening ‘epee s0 preven be tscnase de mor no cp 1a Rama psu sponte gues ane ra can eer rem ccna Am orn oy penu igor Crem ‘motu qu ©, ucts repo perf gts cnn po Fi onic eal py TTS Cay ‘ibrar ange a lor main og Sr SETS |R coe cali iy da Stas cana quando ecomptso sine pau pt dorm {oprcio age em mid. 2 pons pa abet pe » A construgo da casa propria, através da ajuda matua, onsttui a Unica possibilidade de alojamento para os tra balhadores menos qualificados, cujos baixos rendimen tos ndo permitem pagar aluguel e, muito menos, candi datar-se aos empréstimos do BNH. Por outro lado, essa “solugio" do problema habitacional contribuiu para de- primir os salrios pagos pelas empresas aos trabalhado- fes, Eliminando-se dos custos de sobrevivencia da forea de trabalho um item importante como a moradia, os sa- lirios limitam-se a cobrir os demais gastos essenciais, como o transporte e a alimentagdo. ‘A petiferia como formula de reproduzir nas cidades a forga de trabalho & conseqléncia direta do tipo de de- Senvoivimento econdmico que se processou na sociedade brasileira das dltimas décadas. Possibilitou, de um lado, alas taxas de exploragio de trabalho, e de outro, forjou formas espoliativas que se dio a0 nivel da prépria condi- 0 urbana de existéncia a que foi submetida a classe tra- balhadors, Ha também os habitantes dos cortigos, concentra- os em reas decadentes de bairros mais centrais: Bom Retiro, Bris, Bela Vista. Os cortios tendem a expandir- se, na medida em que se reurbanizam os bairros centrais, 440 longo de outras dreas desvalorizadas, em especial as {Que margeiam os wrilhos ferrovitrios em regides como erus e Prituba. "Nos cortigos vivem em média 3,6 pes- sous por cOmodo. A quarta parte destes cémodos nio tem janelas externas, Contudo, em 67% dos casos, seus moradores gastam menos do que 1/2 hora no percurso até 0 local de trabalho. ” Favelas, casas precérias da periferia e corticos abri gam a classe trabalhadora, cujas condigBes de alojamen- to expressam a precariedade dos salrios. Essa situagdo tende a se agravar, na medida em que se vém deterioran- o os salrios. Para os gastos bisicos de uma familia ~ rutrgdo, moradia, transporte, vestuirio, etc. - aquele que em 1975 ganhava um salério minimo deveria traba- Thar 466 horas e 34 minutos mensais, isto 6, cerca de 16 horas durante 30 dias por més." Tais cifras assumem sua real dimensio quando se tem em conta que, na Grande Sio Paulo, em 1973, cerca de 19% dos empregados ganhavam até um salério mo, 54%, até dois © 75% dos assalariados até trés rendi- ‘mentos tinimos mensais. Importa reter ndo apenas que os niveis de remune- ragio c as condigdes de vida de grande parte dos trab Thadores se deterioraram, mas que esta deterioraglo se ‘acentuou justamente quando a economia cresceu a uma signifcativa taxa de 10% 20 ano dando origem a0 que por ‘muitos foi designado de "Milagre Brasileiro". Mas & Ge se perguntar: que tipo de milagre & esse que, a0 mes: mo tempo, reflete um crescimento acelerado e exclu des- te crescimento a maioria da classe trabalhadora? Trat ‘se, certamente, de um santo perverso que com uma mio di a alguns o que com a outra retira de muitos, AA logica da acumulagio que preside ao desenvol mento brasileiro recente apoia-se exatamente na dilapi- ddagio da forga de trabalho. Na presenga de uma vas reserva de mio-de-obra e na auséacia de uma solida o aganizacio sindical e politica da classe operdria, tomnou- se ficil aumentar as taxas de exploragdo, O desgaste de ‘uma forga de trabalho submetida a jornadas de trabalho prolongadas e as espinhosas condicbes urbanas de exis- ‘éncia tornam-se possiveis na medida em que a maior parte da mao-de-obra pode ser prontamente substituida, Se inenistem dados precisos acerca da situagio de subemprego, sabe-se, por outro lado, que... "para a po- pulagio com mais de 10 anos, a proporcio da forga de trabalho masculina desempregada atinge « ponderdvel cifra de 114%, Jé no contingente feminino a taxa de de- 2 semprego é de apenas 6,974."" Mas como se sabe a taxa de desemprego feminino esconde outro fendmeno. E 0 ddesemprego, chamado oculto por nio aparecer nas es- isticas, de enorme contingente de mulheres que nfo dispde de empregos nem estuda, mas que, pro forma, de- Sempenha atividade doméstica e por isso no se declara desempregado. Na medida em que se passa dos grupos Jovens aos mais idosos diminuem as taxas de participa- ‘lo: para a mulher sobretudo a partir dos 30 anos; para ‘homem sobretudo a partir dos 50 anos. Tais dados re- vyelam um processo de utilizagio da forga de trabalho ue atua seletivamente quanto 20 momento de exclusio das estruturas produtivas. Essa seletividade esta apoiada no fato do contingente masculino ser suficientemente nu- ‘meroso para tornar desnecesséria boa parte do trabalho feminino desde os 30 anos, bem como para substituir a mio-de-obra masculina de mais de 50 anos por forca de trabalho jovem. E significativo neste particular ver-se ue antes dos 40-49 anos o desemprego masculino é de apenas 4,6%; nas faixas etdria seguintes dé um salto ver- tiginoso: enire 50 e 59 anos a proporgio passa a ser de 24 no dectnio sequnte de 437 ea partidos 1 ano Cria-se assim um ciclo de ‘vida produtiva' em que empresas podem utilizar abusivamente de sua forga de trabalho, alijando a mlo-de-obra desgastada do merc do de trabalho. Decreta-se assim a incapacidade para 0 trabalho em fungdo da mdo-de-obra disponivel, e surge, rematuramente, a categoria “velho", ainda que, em Iuitos casos, os trabalhadores excluidos estejam em ple- no vigor de sua energia fisca e mental.” " eso snr domain en abet cans tumor ee pete bei" seo ve Row! aRiCh io BRANT Vai ata ominr) oPa e MULHERES “EXOD WANOS Sas ioMENS MULHERES esocuraposcomo, | pe OUTROS NA POPULA. rae nopUL ONFORCA DETRARAL HoMENS ‘QUADRO NY HoMeNs ‘TAXA DEPARTICIPAGAO ‘oguro DEwpaDE ONOTERIPLETOS) DESOCUPACAO E INATIVIDADE POR SEXO E IDADE, TAXAS DE PARTICIPACA, NA GRANDE SAO PAULO EM 1972, SARRERSE SRARESSE ‘Alem dos aspectos anteriormente apontados, rssal- tem-se 05 indices de nutrigdo instisfatrios e a maior ex. pposigio & mortalidade prematura. Neste particular con- Nem ressaltar que entre 1940/50 a taxa de mortalidade infantil diminui de 30%, e na década seguinte decresceu de 32%, contrastando ‘com 0 aumento ocorrido entre 1960/78 que foi de 37%, ” Suas principais causas ligam- se a doengas infecciosas que se relacionam diretamente fo saneamento ambiental e a subnutrigio, fatores que feralmente aparecem associados. Quanto ao primeiro “specto, jf analisado anteriormente, € digno de nota que f populagdo da Capital servida pela rede de égua passou ¢61", em 1950 para 56%, em 1973, enquanto a atendida pela de esgoto manteve-se estivel em torno dos 3 onjunto dos municipios da regido, no entanto, 1971, 35% da populagdo era atendida, ao passo que, g {ro anos apés. a proporgdo cai para 30%,,.” No que sere- fere 4 nuttigio ¢ desnecessirio fazer grandes elucubra- Bes: “nas classes de rendas mais baixas, o consumo de flimentos, além de diminuir quantitativamente, consti tise de alimentos de qualidade ou tipos inferiores, de mmenores pregos.(..) Com a diminuigdo do poder aquisi- tivo (queda do salirio real) as classes mais pobres tém suas condigdes de alimentacdo sensivelmente prejudica- Gas. A desnutrigio pode ser causa direta de morte, € fatuar como fator preponderante e agravante de doencas infecciosis, aumentando a taxa de mortalidade infantil: 52", da populagio da Capital e 73% da dos demais mu- Oc etetti tece neste eb pn ae es Pen aa none ue no unin pane pct TRIP {sie sn pe to sean yor Fo ur an Boe Dep Il Wade Btn do nado 0 Pol 2 ese Meera Dates mapa tahoe {$35 joie 62.9 tor com 19/71 de 6083, imino de wm ano « mea. 4s (asi) QUADRO Ne3 MUNICIPIO DE S40 PAULO: GASTOS EM ALIMENTACAO E PROPORCAO DOS GASTOS [EM ALIMENTOS POR CLASSE DE RENDA, Aicipios da regido sto subnutridos”. "© quadro das con- digdes de saide € ainda agravado pelo fato de parte con- Siderivel dos trabalhadores nfo contar com os benef da Previdéncia Social, Deixando de lado os 490 mil tra- balhadores auténomos da Grande Sio Paulo em 1972, uja imensa maioria nio tem earteira de trabalho, e to- ‘mando-se to-somente os assalariados, verifica‘se que ilo mais de 70", possuia sua carteira de trabalho asi ‘da. Quando se considera apenas o estoque masculino ~ pois a mio-de-obra feminina é em boa medida can ta part as atividades domésticas remuneradas ~ pporcio dos que nio tém a carteira assinada € de 20% ‘Alem desses, 40%, dos que procuraram os ambulat6- Fios € postos do INPS em 1974 deixaram de ser atendi- dos, o que corresponde a 4 milhdes de consults. T tuagdes indicam um quadro bastante claro da vulner Tidade em que se encontram mesmo os empregados regis- trados quando ocorre desemprego, doenca ou acidente de trabalho, trilogia que marca a trajetéria de consideré- vel parcels daqueles que s6 tm a sua forca de trabalho para assegurar a sobrevivéncia Neste particular & também sintomiético o acentuado aumento dos acidentes de trabalho que ocorrem no Bra- Sil. © Estado de Sdo Paulo, longe de fugir & regra, con- entra grande proporgdo de acidentados: 712,000 em 1973, 780.000 no seguinte, 0 que corresponde a cerca de quarts parte da forca de trabalho registrads, cifra que fganha sua real significagdo quando se tem em conta que hha Franga ela étrés vezes inferior.” Novamente, parece viivel inferir que por detrés desies recordes de escala Tora. NEBR 0 as » my mn Lows = 8 3 g 3 g 1 200382 M6 581 66 GIB 67 TH os sas asa cone oe cae le nn ee nS nese wmaoet ruaeateetaaeti es ese ec 2b caise fee CLASSES DE RESDAPAMILIAR Sr a ee emcee pire mice a mundi esto o soe abuso com gue o capital tm sub- tetido os trabalhadores no proceso produtvo: de qu 4.000 acidentes na insta pala, cas causa fo fam pesquisadas em deales, 2% foram devidos fa thas humanas,enquanto que no restate. “houve uma condicio insoguraiolada ou associtda como oigem do scien Mn mesmo oy aienesimputadon aes umanas decorem de prosesios de maior envergadura Dentro da fibrica, esto atsociados 4 monotoni dos ‘estos repettivos da produgdo parilizada, que requer fenglo conceatrada, pues meméri, nenhuma ime. magdoe geralmente grande esforgo fic através dan jor. nadas de trabalho prolongadas em que o itm de produ. Gio €extremamente aeleadot efor da fabric liganse fo tempo de deslocamentos, aubnutriglo e a proprio nivel de slide, processos que redundam, em ultima end lise, naintens Tadiga do pear, = Tanto os dados sobre 0 proces de trabalho como os referents As condigdes de vida rvelam um agrava mento da stuaclo das Tamas tabathadoras de Sto Paulo. claro que nem todos forem igualmente ating os. © coniderdve acimulo de iuecasregistrado tam bm chegou a benefcar certs exratoe da laste opert- Fi de modo expeil os segmentosespecalizados que, om o desenvolvimento e diversifeasio do pargue fabri onteguram aumentar seus nivel sblaraec participa, 2 re enor Ll Freedom ean no Is rns eu i pea pete wo ainda que timidamente, dos beneficios da sociedade in: dustrial io obstante a situagdo de pobreza e a crescente eterioragio das condigBes urbanas, para muitos que vvém de outras regides do Brasil a fixagdo na Grande Sio Paulo representou uma melhoria econdmica e social ‘Mas esta questo nio pode ser exagerada pois, em dl ‘ma instdncia, é do mesmo processo que advém a total ex- cluso econdmica e soc imentada por crescente ontingente expulso das reas rurais. Ademais, em vista a queda do padriio de consumo bisico € vidvel supor (ue, se para muitos perdura a imagem que "a vida me- Thorou", tal auto-avaliagdo € decorrente de uma impre silo de participagdo que se dé mais ao nivel simbdlico do {que no real, fruto de uma dindmica inerente & sociedade de massas que forja através dos meios de comunicagdo faquilo que pode ser designado de “mercado de ilusbes": 0 mundo das vtrines, da televisio, dos painéis publi trios onde os que subitam servem de exemplo e esperan- ‘ga para aqueles que s6 podem consumir na fantasia osu cesso do estilo de vida daqueles que venceram. ‘Na realidade, o erescimento econdmico recente f {jou uma sofisticada sociedade de consumo cujo acesso é altamente restritive. O fulero dinimico da expansio i dustrial dos dltimos 15 anos centrou-se nos artigos de Consumo durivel de luxo e teve necessariamente de se apoiar nos estreitos cireulos de renda media e alta, a quem, efetivamente, 0 crescimento econdmico bene Siou, Os estratos inferiores do s6 foram excluidos, ‘como também pagaram um alto prego pelo aumento de riquezas ‘Apontou-se que a légica da acumulaglo imperante hi sociedade brasileira tem levado a dilapidaglo na forga de trabalho. Do ponto de vista empresaral, em que 0 li- tro € 0 objetivo miximo, esta logic € impecivel, Porém cli ndo prevalece apenas para as empresas privadas, Isto ‘ocotze também com os financiamentos piblicos na cons- ‘rugio civil: €elucidativo mostrar que 80%, dos emprésti- ° mos do Banco Nacional da Habitagio foram analiza ddos para os estratos de renda média e alta, 20 mesmo tempo que naufragavam os poucos planos habitacionais voltados para as camadas de baixo poder aquisitivo. E contrastante neste sentido que as pessoas com até4sald- ios minimos constituam 55% da demanda habitacional ‘40 passo que as moradias colocadas no mercado pelo Sistema Financeiro de Habitacio raramente incluiam familias com rendimento inferior a 12 salérios. O que ‘corre no setor da construgdo acontece também no pla~ no urbano. Jé se disse que 0 poder pblico andow a rebo- {ue dos loteamentos privados. Quando finalmente o pla- no vidrio passou a ser pensado na escala da cidade, de al guns anos para ci, poder-se-ia pensar que o interese co- letivo prevaleceria. No entanto 08 vastos investimentos com a abertura de novas avenidas, vias expressas e eleva- dos tém em vista principalmente 0 aumento vertiginoso da frota de velculos particulares, cujo indice de utliza- io € baixo (1,2 passageiros por veiculo) em detrimento dos transporte coletivos de que se serve a maioria da po- pulagio, Na realidade, as “necessidades socias, numa situa- gio em que as reivindicagdes e protestos coletivos esto bloqueados, sio instrumentalizadas em fungio das "ne- cxssidades da acumulacio”. Assim os investimentos, nos uais € preponderante a participacio estatal, visam & lubrificagdo da engrenagem econdmica, e 0s problemas, vividos pela populagdo 56 se transformam em problemas, ppblicos na medida em que so compartilhados pelas ca ‘madas dirigentes, Para ilustrar a questio dos problemas piblicos pode-se tomar, por exemplo, a poluiglo ou a meningite, quests que tim sido objeto de preacupasio do poder Piblico. Sem menosprezar a dimensio do problema, pode-se dizer que a poluigdo do ar, malgrado localizar-se mais acentuadamente em dreas fabris, nfo deixa de afetar a todos. Exist, obviamente, ntida correlaglo entre pobre 0 24 meningite. NUo obstanteo veus ser sletivo, fre pode afetara todos ou pelo menos atemor dos. transito também de certa forma afeta a todos Masa subnute lentes de trabalho nada tém de “democriticos". Associam-se nitidamente com a po- Pulagio trabalhadora,e seus danos, apesar de enormes, parecem susciar um alarme eujo eo0 € bem menos extr- ene. Aparece como problema secundirio porque nfo Giretamentevivenciado pelos grupos dirigentes eporaue 48 camadasdiretamenteafetadas no possuem formas de Inigiativa. para transformar o “seu problema num probleme’ coletivo" isto que est na raiz do aumento da pobreza e na deterioragio das condigdes urbanas, fendmenos que pulderam se efetua deforma to mareantena medida em Que fi forjado um rigido esquema de controle das inicia- {has populares. E claro que a dlapidacto de trabalhadores ea de- predagio ecoldgica ou urbana podem refleti-se no pré- rio processo de expansio do capital na medida em que Iimplicarem na canaizagdo de recursos que poderiam set

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