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& yr 2004 Ki fekine F “hao diced Tip mind di ‘lider mera He ae sn Iti adc ao va scare eda = a dt tee eerste ta / Curse - hisredia Dee Tors oa thetoria L 22 Briode Aerie rac o gal ye ae pest \ O que é a Histéria? "Nese capitulo, quero tentar responder a pergunta que The 4 tulo, Para fazer iso, vou de inicio examinar 0 historia € na teoria; depois, examinar 0 que ela na pcs: ‘por fim, junta teora pritca em uma defiiglo ~ uma etn ceca e itGnica, constuida metodologicamente -, ‘que expero ser abrangente o bastante para proporcionar 4 ‘oe? um razodvel conhecimentonlo apenas da “questo da ‘istra", mas também de alguns dos debates e pesgdes que 4 rodeiam. DA TEORIA No nivel da teora, gostaria de apresentar dois argumen- tos. O primeiro (que esbogo neste parigrafo e desenvolvo «em seguida) € que ahistéria constitu um dentre uma série de discursos a respeto do mundo. Embora esses dicurses nio triem o mundo (aquela coisa fisca na qual aparentemente tivemos), eles se apropriam do mundo e The dio todos os signficados que tém. 0 pedacinho de mundo que € 0 objeto (pretendido) de investigasto da historia € o passado, Ahis6- 1a como discurso est portant, numa categoria diferente 2 passado — por exemplo, a0s arquivos espanhéis. Mas, onde quer que va, sempre tert de ler/interpretar Est Jeitura no € espontines nem natura. Ela € aprendids (em vitios cursos, por exerplo) e informada (ou se, dotada de significado) por outros textos. A historia (historiografia) é um constructo linguistico intertextual, 2. Digamos que voc? este estudando pare do passado Inglés (o século xm, por exemplo) no secundério britini- ©, Vamos imaginar que voce use um renomado com- péndio: England under the Tudors, de Geoffrey Elton. a aula em que se tata de aspectos do século wm, voeé fazanowgbes em classe. Mas, para os tabalhos © 0 groe ‘0 da revsto da matéria, usa Eton. Na hora do exame, ‘escreve sombra de Elton. Ao passar, estéaprovado em hisdriainglesa, ou seja, esti qualiicado na andlise de ‘eros aspectos do “passado". No entanto sera mais acer tudo dizer que voc# passou nio em histériainglesa, mas em Geoffrey Elton — pois, nessa fase, o que é sua “leitu- '2° do passado inglés sendo uma letura de Elon? 3. Eases dois ripidos exemplos da distingto entre passado ‘e histriatalvezfagam parecer que se tata de algo sem ‘maiores consequéncias. Narealidade, porém, aquela dis tinglo pode ter efits enormes. Eis outro exemplo pars dius isso: embora milhdes de mulheres tenham vvido 1 passado (na Grécia, em Roma, na Kdade Média, na ‘Afvica, nas Américas, poucas aparecem rit histra, isto 6 nos textos de historia. AS mulheres, para citarmos uma fase, fram “escondidas da istria” ou sca, site matcamente exclidas da maiora dos relatos de histora- dores. Por conseguinte, as feministas esto agora engaja- ‘das na trefa de “fazer as mulheres volarem para 3 histo- #2", go mesmo tempo que tanto homens quanto mulhe- res vém eximinndo os consirucios de masculiniade ‘que slo coneatos a0 tema? Nesta alturt, vo? talver 2% Pare para considerar quantos outros grupos, pessous, ‘povos, clases foram e/ou sio omits das histérias © por qué; e quais poderiam ser as consequgacias se tas “grupos” omiidos dominassem 0s relatos histrios e se ‘0s grupos hoje dominantesficassem & margem. Posteriormente, diremos mals sobre a importincia e as possibilidades de tabalhar a dstinglo entre passado € hist fi, Por ora, eu gostaria de analisar outro argumento daquele parigrafo anterior (p. 24) no qual digo que precisamos en- terder que 0 passado ¢ a histéria no esto unidos um a0 ‘outro de tal modo que se possa ter uma, e apenas uma letra de qualquer fendmeno; que 0 mesmo objeto de investigagio € passivel de diferentes interpretagdes por diferentes dscur- a8, € que, até no Ambito de cada um desses discursos, hi Jmerpretagbes que vatiam e diferem no espago € no tempo. Para comecar a exempliicar isso, vamos imaginar que ppessamos ver uma paisagem inglesa atavés de uma janeta (lo toda a paisagem, pois a janela a “enquadra” muito lite- ramente), No primeiro plano, esto varia esiradinhas, mais além, outra estradinhas, ladeadas por casas; hi campos on- } dulantes ¢, neles, casas de fazenda. Na linha do horizonte,« alguns qulémetros, vemos uma sucessio de morros baixos [No plano intermedirio, uma cidadezinha com uma fei. ‘és & de um azul paid, io hi nada nessa paisagem que diga “geografi’. No cemtanto, est caro que um gedgrafo pode julgla em termos ‘geogrificos. Assim, ee pode “ler” que a tera exibe pritcas e paairBes de uso especfics; as estadinhas podem tornar-se parte de uma série de redes de comunicagio local e/0u rege oral; as fazendas ea cidade podem ser “lidas" em termos de ‘una distibuigdo populacional especfca; canas topogrificas [pcdem mapear 0 tereno; gedgrafos especializados,explicar © lima e, digamos, os tipos decorrentes de irigasto. Dessa ‘maneira, o panorama poderia via oura coisa: geograia. De | maneia'semelhante, um soci6logo poderia pegar a mesma a © se 0 objeto da iavestigago em que os historiadores trba Tham esté ausente na maioria de suas manifestagdes (pois s6 restam vestigios do passado), entio claramente hd todo tipo de limite controlando as pretensdes que os hstoriadores pos- ‘sam ter a0 conhecimento, E, nesse conciliar 0 passado com 2 histéria, surgem para mim ts campos tebricos muito proble- ‘méticos, S20 érexs da epistemologia, da metodologia © da Ideologia, cada uma das quais precisa ser explicada se quere-, mos ver 0 que &a historia. ‘A epistemologia (do grego episieme, “conhecimento”) se refere 20 campo Mloséfico das tcorias do conhecimento, Essa frea diz respeito a como sabemos 0 que quer que sea. Nesse sentido, historia integra outro discurs, a filosofia, comando parte na questo geral do que possivel saber com referén- a8 propria drea de conhecimento da histéria 0 passado. E aqui voo8 talvez ja veja 0 tamanho do problema, pois, se & ‘complicado ter conhecimento de algo que existe, enti fica ‘especialmente dificil dizer alguma coisa sobre um tema efeti- vamente ausente como é *o passado na histéria”. Portanto, parece dbvio que todo esse conhecimento € provavelmente reunstancial ¢ elaborado por historiadores que trabaliam ‘sob todo tipo de pressuposto e pressio, coisas que, € claro, ‘no atuam sobre as pessoas do passado. Nio obstante, ainda ‘vemos historiadores tentarem invocar ante nossos olhos 0 espectro do passado real, um passado objetivo sobre o qual (05 relatos desses historadores seriam precisos © até verda- dros, na acepeio mais ampla da palavra. Pois bem: acho ‘que tais pretensoes & verdade nio slo ~ e nunca foram ~ passveis de realizar-se, ¢ eu diria que em nossa atual situa- ‘0 isso ja deveria ser Gbvio, conforme argumentei no capi tulo 3, Nao obstante, est claro que acetar isso — permitr que a diivida se instale ~ afeta 0 que voc pode pensar que a histria seja, ito é, dé a voc® uma pane da resposta pars © {que a histéria € e pode ser. Porque, 40 reconhecermos que ‘do sabemos realmente, 20 vermos a hist6ria como sendo 30 - (pela logica) qualquer coisa que queiramos que ela seja (a disengao entre fatoe valor, além da crcunsncia deter hav do tantas histris, posibiliais0), nds vamos colocara ques- {Wo de como historias especificas vieram a ser elaboradas segundo um € nio outro molde, em termes nlo 36 epist- rmoligicos, mas também metodoldgicos ¢ deol6gios. Nesse ppomo, o que € possivel saber € como € possivel saber intemgem com o poder. Em certo sentido, porém,iss0 56 contece ~e tratase agora de algo que precisamos enfatizar ~ por causa da fragilidade episterpolgica da hisbria. Por- ue, se fosse possivel saber de uma vez por todas, hoje © sempre, entio nao haveria mais necessidade de eserever his- XGris, pois qual seria © propésito de um sem-nimero de his- toriadores ficarem repetindo a mesmissima coisa da riesmissima manera 0 tempo todo? A histéra (os constructs histéricos,e noo “passado e/ou futuro") parara.E, se voce acha absurda a idéia de parar a historia (ou seja, parar os historiadores), saiba que nio é: isso € parte nlo apenas do romance 1984, por exemplo, mas também da Europa dos anos 30~a épocae ohugar mas imediatos que fzeram George ‘Orwell considerar aquela idea. ortanto,afragilidade epistemologica permite que a inter- pretgbes dos historadores sejam multiplies (um 56 passado, ‘uios historidore), Mas o que torn a historia to fgil em termos epistemologios? Hi quatro respostas bisicas Bi primeiro lugar (€ agora eu recoro bastante aos argu- _imertos de David Lowenthal em seu livto The past a foreign country) nenhum historiador consegue abarcare asim rec Perara otalidade dos acontecimentos passados, porue @ “con tetico" desses acontecimentos ¢ praicamentelimitado. Nao & Possivel relatar mais que uma fracio do que jé ocoreu, € 0 relaio de um historiador nunca comresponde exatamente 20 pasado: o simples volume desse timo inviabilza a histia {otal A maior parte das informagdes sobre 0 passado nunca foi regiarada, € a maior parte do que permaneceu & fugiz. a Em segundo lugar, nenhum rlato consegue recuperar 0 passado tal qual ele era, porque o passado sio acontecimen- tos, situagdes et, e lo im relat. J& que 0 pasado passou, relatos s6 poderio ser confrontados com outtos relatos, nun- ‘cacom o pasado, ulgamos a “precsio” dos relatos de hisio- Tiadores vied-ot as interpretagdes de outros historiadores, © tio existe nenhuma nazrava, neahuma histra “verdade- fa", que, 20 fim, nos possible confrontar todos os outros relitos com ela — iso, no existe nenhum texto fundamen- talmente “coro” do qual as outras intexpretagées sejam apenas variagbes,o que existe sio meras variagdes. O crtico Cltural Steven Giles resume bem esse aspecto, quando co- tmenta que o passado € sempre percebido por meio das ci- imadas sedimentares das interprtagbes anteriores e por meio dos hibits ecategorias de “leitun desenvolvids pelos dis- ‘cursos interpreativos anteriores e/ou ata. Esse insight tam bbém nos possibilta afirmar que tal manera de ver a8 coisas torna 0 estudo da hiséria (o passado) necessriamente um cestudo da historiograia (0s histoiadores); por conseguint, a hhisoriografia passa a ser considerada ndo um adendo 20 es tudo da hisGria, mas a propria maria constitinte desst ‘dima, & um campo a0 qual volarei no capitulo 2. Por en- ‘quanto, vamos 2 tercerarazio para que a histria se most Essa rando € que, nlo imporando o quanto a histéria seja autenticada, amplamente accita ou verficive, ela est fadada a ser um constructo pessoal, uma manifestagio da perspective do historador como “narrador’. Ao contrrio ‘da meméra direta (que em sij# € suspeita, a histéria de~ ppende dos oho eda vor de outemy vemos por intermédlio {de um intrprete que se interpde entre os acontecimentos passados ea letura que deles fazemos.£ claro que, confor Ie diz Lowenthal, histra esertateduz a liberdade logica ddo hioriador para escrever tudo que Ihe der na tela, pois ‘0s permite o aceso as suas fones. No entanto, 0 ponto de 2 vista € as predilegdes do historiador ainda moldam a esco- Tha do material, € noss0s proprios constructos pessoais de- terminam como o interpretamos. © passado que “conhece- os" € sempre condicionado por nossas proprias visdes, ‘nosto proprio “presente”. Assim como somos produtos do passado, assim também 0 passado conhecido (a historia) & ‘um artefato nosso. Ninguém, no importando quio imerso testeja no passado, consegue despojarse de seu conheci- mento e de suas pressuposigdes. "Para explicarem 0 passi- do, 0s historiadores vio além do efetivamente registrado ¢ formulam hipéteses seguindo os modos de pensar do pre- senie’, diz Lowenthal. “Maitland nota que somos modernos ‘e que nossas palavras e pensamentos s6 podem ser moder- fnos. Segundo ele, a é tarde demais para sermos ingleses medievais\." Portanto, existem poucos limites & inluéncia de discursos interpretaivos que procuram recuperar 0 pas- ssdo pela imaginagio. “Vejam, diz 0 poeta russo Velemir Khlebnikov em seus Decretos aos planetas, “0 ol obedece & ‘minha sintaxe."” Vejam, diz o historiador, 0 passado obede- ‘ce 4 minha interpretagio, £ possivel que isso pareca um tanto pottico. Poranto, talsez possamos ilustrar com um exemplo mais simples esse ‘argumento de que as fontes impedem a liberdade total do historiador e, 20 mesmo tempo, nao fixam as coisas de tal mado que se ponha mesmo fim a infinita interpretagdes Eis o exemplo: existe muito desacordo sobre as intengOes de Hitler ap6s ele ter conquistado o poder e sobre as casas ‘da Segunda Guerra Mundial. Nesse campo, uma discordincia de longa data e muito famosa se deu entre A. J.P. Taylor € Hugh Trevor-Roper. Ela no se baseava nos méritos desses| dois historiadores ingleses. Ambos eram muito experientes, ambos tinham “habilidades', ambos sabiam ler documentos (e,no caso em pauta, 0s dois freqientemente liam os mes- mes). Apesar disso, um no concordava com 0 outro. AS- sim, embora as fontes/acontecimentos possam simplesmen- 2 6 te imped ques digs ido que se qua, cles amb no Implieam que se deva sequins Uniatnerpetayze "A ues rates ads acim para facade eptemo- igen da trae basta na dea Je que sts & menos qu opssado~u ss ta de que es hina tes cosepem recupearrigments Mas qua st0 ‘em enfatzar que, gags 3 possbdade de ver cosas em ‘etospecto, os de cra manel sabemos na sobreo pa Sao do que ws pessoas que viva Ao unio pase do em tees modemos © sir conccnentos que aves to eavessem dpoivel antes, oioradordescobre no SS quelotenqueto sobre o pasado, mas tine recone tu coiss que, ates, nunc exverum contd como ll Asim, a pesoas¢ formacBes soc lo expats cm Process que 96 podem servis fetoxpectvaet, er {Kano document otros vein do prsado so radon seus propos fangs orga pas lst, px exe Plo, um pedo que nem remetamefte tam isd fara sews autores, Conlorme di Lowenthal, to iso € ine, Seve A hase sve eo ds a. Be a {0 exageaatpectos do pasido “0 tempo €escorao: ot ‘ees, sleonado eel 2a esuia a {es simpli, ro pars sere eso pen oy co ‘tecimentos, mas para |...] darthes significado. ‘to rons mais cnptico press a erat nara Ava pars dar forma 4 tempo a0 expag.“O felat]pode 2 cr apenas na ula Coats da oun rare pode parecer ser apenas 0, posal tod o significa sei Expugido dele, dado que as narauvas enim on ne os e minimizam o papel das roptuas, Lowen conc {ues relatos histo tal como os concen pacer fis abrangentese perceptivs do que 0 passdo nos dl aor pa ee , Poran, so os mies epstemolicosprncipis (oes bem conhecios).Es o al de mo pio ou M perficial, € voo# pode ir além e ler Lowenthal e os outros. ‘Mas agora pretendo seguir adiante. Porque, se esses so os limites epistemolgicos para o que se pode saber, entio eles briamente se interelacionam com as maneiras pelas quais os histortadores tentam descobrir 0 maximo possvel. E, tanto ‘nos métodos historiogrificos quanto na epistemologia, ndo existe um procedimento definitivo que se possa usar por ser ele o correto; os métods dos historiadores slo sempre to frageis quanto as suas epistemologias. ‘At aqui, sustente que a hist6ria € um discurso em constan- te vansformagio construido pelos hstoriadores e que da exis- tncia do passado ndo se dedu uma interpretaglo nica: mude © thar, desloque a perspectiva, e sugisio novas interpreta- {90cs. No entanto, embora os historiadores saibam de todas esas cosas, a maiora parece desconsideri-las de caso pensi- «doe se empenha em alcancar a objetividade e a verdade mes- ‘moassim. Eessa busca pela verdad transcende posigdes ideo- logicas e/ou metodologicas. ‘Assim, naquilo que (de certo modo) poderfamos denomi- nar direita empircista, Geoffrey Elton (em The practice of ‘bicory) afiema no inicio do capitulo sobre pesquisa: “O estu- do da histra equivale a uma busca pela verdade”.” E, em- bom aquele mesmo capitulo se conciua com uma série de ressalvas (o historiador sabe que o que esti estudando é real, [mas] sabe que nunca conseguiré recuperar todo o real [Lal ele sabe que © processo da pesquisa e reconstiuig2o his- {Gra nfo termina nunca, mas também esti conscio de que {sso no torna seu trabalho ieal ou legtimo", € dbvio que luis adverténcias no afetam seriamente aquela antiga “busca pela verdade". No que (também de certo modo) poderiamos chamar de cesquerda marxsta, EP. Thompson escreve em A miséria da ‘eoria: “Jt faz algum tempo |...J, a concepg20 materialist da fugit d apo murssa. Mesmo nests dias poucas dca. 08 sans tem si conserves apne aque sch avangas do conbeciment'" Emon Thee fens que te no quer dcr que tl concn feel deport Gi’ ce ean ste oe ft 5 maqulo que (ind de ceno moda) poderiamos cons: © sen emp, A Mar cee be ature bstary 0 ue ele denomina a “mensio wifes dos cats histrogrios" as para Marwick cece S20 cad niom posura decligca do hitonaen ae 10), ein na natura das provas presenta pec {oriadores se v8em “forcados pela imperfeicio de suas fontes 4 eben um grav maior de nerprcagso pesca anes Sendo, Marwick arguments gue € taba doc hic deserve "sveras eps ntodlogen” pera oes possam ed sas inervengds “moras” Marois une, ese al uma conesio com thon exc “inise enone Sore, ie calcio ston ioe pore ner. no auer caer que ela nio wa regis not vee ‘muito estritas”. = SR BS Poe Meu argumento € diferente. Para mim, o que em éhtima Se pein eerretagto ett pars alm do metodo Sa Provas — estd na ideologia. Porque, embora a maioria ‘dos historiadores concorde que um método rigoroso ¢ in. Leff, Hemter.... Ou vocé prefere os empiricistas modernos, as ferinisas, a escola dos Annales, os neomarxisias, os neo- estlistas, os econometritas, os estruturalstas, os pés-estrutu ralistas ou mesmo 0 préprio Marwick? J& ctamos 25 possibi- lidades, e trata-se de uma lista curtinhal A questio € que, ‘mesmo se conseguirmos fazer uma escolha, quais seriam os ‘ritrios? Como poderiamos saber qual méiodo nos conduz- ‘a 20 passado mais “verdadeiro” Claro que cada um desses ‘métodos seria rigoroso, ou sea, sistematico e coerente, mas ‘le mbém remeteria sempre a seu proprio quadro de rele. rncias. Isto, ele poderia nos dlzer como apresentar argu ‘mentosvilidos segundo suas diretvas, mas, dadas todas aque- las opg6es para tanto, o problema de discriminar de alguma ‘maneira enlze 25 escolhas simplesmente teima em nio ser resclvido. Thompson € rigoroso, mas Elton também. Com base em que vamos escolher? Em Marwick? Mas por que ele? ‘Acaio ado serd provavel que, no fim de conta, escolhamos ‘Thompson (por exemplo) porque gostamos do que Thompson faz-com seu método? Gostamos de suas razdes para trabalhar coma histéria — pois, se outros fatores no intervierem, pelo ‘que mais faremos nossa escolha? Resumindo: é enganoso falar do método como 0 camiaho para verdade. Ha uma ampla gama de métodos, sem que exisa nenhum critio consensual para escolhermos dentre eles, Com freqdéncia, pessoas como Marwick argumentam que, no obstante todas as diferencas metodolégicas entre “empircistas ¢estruturalistas (por exemplo), eles estdo de acor- do ro fundamental. De novo, porém, as coisas ndo slo as- sim. 0 fato de os estruturalistas chegarem a extzemos pars cexplicar com muita mindcla que nao sio empircistas ~ mais © fat de terem formulado suas abordagens especificasjusta- ‘menie para diferenciar-se de todo mundo ~ parece ter sido lum tnto desconsiderado por Marwick et al Agora, quero tratar rapidamente de apenas mais um argu ‘meno referente wo método, um argumento que aparece com a freqUéncia em textos introdutérios sobre a “natureza da his- \Gria". Ele se refere a conceitos e & o seguinte: twlo bem talvez as diferengas metodologicas ndo possam ser elimina, sem a uma historia que, de algum modo, surgi por gerao 2pontinea.) E ndo € 36 isso: com bastante repularidade, tals ‘conceitos sto chamados os “alcerces” da historia. Tratase de coisas como, por exemplo, tempo, prova/corroboragio, ‘empatia, causa ¢ efeto, continuidade © mudarica ete [Nao vou argumentar que nio se devam “trabalhar” concei- 0s, mas me preocupo com o fato de que, quando se apre- sentam esses conceitos especificos, tém-se a forte impresed de que eles so mesmo Sbvios e eternos consttuem os ‘componentes bisicos ¢ universais do conhecimento histr- €0. No entanto, isso € irénico, pois uma das coisas que a abertura das perspectvas historiogrifica para horizontes mals, amplos devia ter feito era justamente historcizar a propria Nata ver que todos relatos histcos no so pion neiras do tempo e do espago e, assim, ver que os conceitos historiogréficos ndo sto alicerces universs, mas expresses localzadas e particulars. € facil demonstra a historicizagio ‘no caso dos conceites “em comum" ‘Num artigo sobre novos desdobramentos no campo da histéia, 0 pedagogo britinico Donald Steel ponderou de que ‘aneira certos conceitos se tornaram “alicerces", mosttando ‘que, na década de 1960, cinco grandes conceitos foram iden tfieados como elementos constitutivos da histéria: 0 tempo, winnie patent sie cee itreeceeteeneal raises sates Sauna Sosenonn eee pee peepee yee Saar aie a merece eee lees tah ian wsavucear mage oie Entei eres yen Sette oar mean rat fiaaesiereresecsn pee Loe iomieeesaeminge cece es ae erent casteetara SER rei ce set name Seen trina Same cn ae et Scores sees Scena enna Seema Soran ra cee iene pr raat epee Sree areas eee Soc Ns en See roe cae ager Seameeperesn mens musiatee eee peor peered Soest ne ae Tei arenes Se ee eereiel ne Roget amen Sateen 9 alheias 3 hiséra propriamente dita ~que aquela Pistéria seria um veiculo para expressar determinada posig20 ‘com objetivos propagandisticos. Ora, essa disting2o entre a “historia ideol6gica” a “histria propriamente dita" € inte- ressante porque implica, ¢ é esta sua intengo, que cenas| hhistérias (em geral as dominantes) ndo sto de modo algum ideologicas, nem expressam visdes do passado que sejam alheias a0 tema, Mas j4 vimos que 0s significados dados as histéries de todo tipo slo necessariamente isso mesmo — sig nifiados que vém de fora. Nao signficados intrinsecos do ‘passado (nto mais do que a paisagem jf tinha em si os nos- 1508 significados antes de os termos colocado la), mas signifi- cados dados 20 passado por agentes exteros, A hisGria nunca se basta; ela sempre se destina a alguém. Por conseguinte, parece plausivel que as formasdes s0- ais especificas querem que seus historiadores expressem ‘coisas especificas. Também parece plausivel que as posicDes ‘predominantemente exprestas serio do interesse dos blocos| Sominantes dentro daquelas formagBes sociais (nao que tis posigoes surjam automaticamente € depois sejam assegurs- ‘das para sempre, ponto-final, sem sofrerem nenhurma contes- taglo). © fato de que a histéria dita seja um. ‘constructo ideolégico significa que ela esté sendo constante~ ‘mente retrabalhada e reordenada por todos aqueles que, em diferentes graus, so afetados pelas relagdes de poder — pois (0s dominados, tanto quanto os dominantes, t&m suas prOpri- as versbes do passado para legtimar suas respectivas priti- ‘cas, versdes que precisam ser tachadas de impropriase assim ‘excluidas de qualquer posiglo no projeto do discurso domi- nnante, Nesse sentido, reondenar as mensagens a serem trans- ‘mitidas (com freqUncia, o mundo académico chama de *con- trovérsias” muitas dessas reordenagdes) ¢ algo que precisa ‘ser continuamente elaborado, pois as necessidades dos do: ‘minantes e/ou subordinados estlo sempre send retrabalhadas ‘no mundo real A medida que eles procuram mobilizar pes ” a historia ‘assim, nesta altura, fica claro que responder & pergunta so qpe € 2 histéria?” de modo que ela sea realist exté em Sgubeatufla por esta outra: “Para quem € a histria” Ao fazet~ nos 0, vemos que a histéra ests fadada a ser problensit- ‘Gy pols se tata de um termo e um discurso em Iitigio, com ‘liferentes significados para diferentes grupos. Uns querem ‘ma histéria asséptica, da qual o cbnfito © a angiista este}am ttuseates, outros, que a histrla leve & passvidade; uns que~ erm que ela expresse um vigoroso individualism; outros, estrategiase tticas para a revolug20; outros pode ser diferente daqt ce Petia tcl ver que a sta de usos da hist ¢ infin, {ann pela gica quanto pela pric, Aina, que aspeco te sae com que oor pusessem concordat Ge Ura {efor toda’ Permia que ev ste esses comentris com tim ipido exemple pio ES, Orwell exceveu que quem conc © pretente cone opassado e quem cotrola 0 passa con- Srente nada, Mas © ponto € que a8 pessoas agem como se Teglimassem.) Portanto, elas sentem 3 ide de enrai- zat Oe procuado Ce achado, que 0 passa Se Dredispbe sustentar incontvelsnarrativas) por mulheres, Ficpros grupos regionais, minoras diversas etal Esses passt- “ dos so usados para explicar existéncias presentes € projetos| futuros. Remontando um pouco mais no tempo, veremos que ‘a dasse trbalhadora também procurou enralzar-se mediante ‘uma uajet6ria elaborada em termos histéricos. Remontando ‘ainda mais, a brguesia descobriu sua genealogia e comevou 1 claborar uma historia para si (e para outros). Nesse sentido, todas as classes e/ou grupos escrevem suas respectivas auto- Diografias coletivas. A historia & a maneira pela qual as pes- soas eriam, em parte suas identidades. Ela € muito mais que {um mOdulo no curriculo escolar ou académico, embora pos- ‘Samos ver que 0 que Ocorre nesses espagos educacionais| tem impordincia crucial para todas aquelas partes diversa- ‘mente interessadas, ‘Mas seri que nlo estamos cientes disso o tempo todo® Nao fica dbvio que um fendmeno “legitimador” tio imporante como Ga histona tem raizes em necessidades e poderes reais? Acho ‘que sim, mas com uma ressalva: quando o discurso dominant Se refere 20 constante processo de reescrita da hist6ria, ele © faz de manciras que sublimam aquelas necessidades. Ai, 0 ‘discurso dominante produz a an6dina reflexio de que toda fgeraglo reescreve sua propria histrla. A pergunta, entretanto, @ como € por qué. E uma resposta possivel, 2 qual Orvell alude, € que as relagdes de poder produzem discurss ideol6- ficos do tipo “a histéria como conhecimento" (por exemplo) ‘gue, em termos de projetos conflantes de legimitimacao, si0 ecessdrios para todas as partes envolvidas. “Agora, vamos concluir a exposiglo sobre 0 que a historia € ra teoria. Argumentel que a hist6ria se compoe de episte- ‘mologia, metodologiae ideologia. A epistemologia mostra que ‘nunca poderemos realmente conhecer o passado - que a dis- ‘repincia entre 0 passado ¢ 2 histOria (historiografia) € “ontologica, ou seja, esti de tal mancira presente na naturezat as coisas que nenhum esforgo epistemoldgico, no importa do qudo grande, conseguil elimini-la. Os historadores ela- pboram modos de trabalhar para reduzir a inluéncia do histor- @ dor iterpretativ, desenvolvendo métodos rigorosos que eles {entam universlizar das mais variadas maneiras, mas sempre pretendendo que, se todos seguissemos esses méiodos, um Efcerce de habilidades, conceitos, rtinas € procedimentos ‘poderia permitir chegar 4 objetividade. No entanto, existem fhultas metodologias, 0s suposos “alicerces concetuais” sio de construglo recente e parcial, ¢ eu argumentei que as dife- engas que vernos esto I porque a historia € basicamente um ‘dscurso em itigo, um campo de batalha onde pessons, clas- suas interpreta- bes do passado para agradarem a si mesmos. Fora dessas Fressdes, nlo existe hist6ria defintva. Todo consenso (tem- Foritio) 36 & alcangado quando as vozes dominantes conse fuer silenciar outras, seja pelo exercicio explicito de poder, ‘=p _pelo ato velado de inclusio e/ou anexagio. Ao fim, a historia € teora, e a teoria€ ideologia, ea ideologia € pura & simplesmente interesse material A ideologia penetra todos 0: ‘spectos da historia, af inculdas as priticas cotdianas para ‘produzirhistéras naquelasinsttugdes que, em nossa socieda- Ai, sto destinadas principalmente ata propésito ~ em especi- dl.as universdades. Agora, vamos olhar a histria como parte desse tipo de pritica. DA PRATICA ‘Acima, eu acabel de coneluir que a historia fo, & € serd produzida em muitos lugares e por muita razbes diferentes, Erque umm desses tipos de historia € a profisional, ou seja, a produzida por historiadores que (em geral) slo assalartados no mais das vezes)trbalham no ensino superior, especial- ‘mente nas universidades. ‘Em The death ofthe past." o historiador J. H. Plumb des- creveu tal hiséria profissional (8 Elton") como 0 processo de tentar estabelecer a verdade do que aconteceu no pasa rs daquela sobre a qual discusa. Ou sea, passad ¢ hiséria sto coisas diferentes. Ademais, 0 passado e a hist6ria no estio unidos um 20 outro de tal maneira que se possa ter um, € apenas uma letra histrica do passado. O passado ea his6- tia existem lives um do outro; estio muito dstantes entre si ‘no tempo € no expago. Isso porque o mesmo objeto de in- ‘vestgagao pode sr iterpretado diferentemente por diferen- tes prfticas discursivas Cuma paisagem pode ser lida/inter- Dretada diferentemente por gedgrafos, socilogos, hisioria- dores,anstas, coonomistas eta), 20 mesmo tempo que, em ‘ada uma dessas pritca, hé diferentes leturas interpretativas ‘no tempo € no espago. No que diz respeito & histria, a historiografia most iso muito bem. © parigrafo acima nlo ¢ fii. Fz um monte de afimagoes, ‘mas, a realidade, todas gram em tomo da dstng2o entre pas- sad ¢ histria. Esa dingo €, poranto, essencial. Se for com- preendida, ea © 0 debate que suscita ajudario a esclarecer 0 ‘que a histria € na teoria. Por conseguinte, vou examinar 2 afiemagdes que acabo de fazer, analisindo com alguma mincia a diferenga entre pasado € histia ¢, depois, considerando Algumas das princpais consequéncias dessa diferenca ‘Deixe-me comecar pela idéia de que a histéra, embora __seia um discurso sobre o passado, esti numa categoria dife- rente dele. Isso pode the parecer estranho, porque talvez ‘oct nilo tenha notado essa disingto antes ou, do contro, talvez ainda nio tenha se preocupado muito com ela. Uma das razdes para que iso acontega ~ ou seja, para que em geral a distinglo seja deixada de lado ~ € que tendemos a perder de vista 0 fato de que realmente existe esa dstingd0 entre a histéria—entendida como o que foi escritrregisrado sobre o passado - ¢ 0 proprio passado, pois a palavra “histo- ria" cobre ambas as coisas.' Portanto, 0 prefervel seria sem: ‘re marcar essa diferenga usando 0 termo *o pasado para tudo que se passou antes em todos os lugares e a palavra “historiografia” para a histria; aqui, historiografia” se refere » a0 escritos dos historiadores. Também seria um bom critério (@ passado como 0 objeto da atensio dos historiadores, a hisoriografla como a maneira pela qual os historiadores 0 aborclam) deixar a palavra “HistGra" (com H maidsculo) para indicar 0 todo. No entanto, € dificil livar-se do habito, ¢ eu mesmo talvez use “historia” para me referir a0 passido, 3 hisoriografia ea ambasascoiss. Mas lembre que, se e quando ‘eu fier iss0, estarelevando em conta tal distingo ~ © voce ‘Srocologon, deiogcn¢ pain ¢ ce pada, un logon epee con © ee pode ue vet ‘locaton cm clo, vem a mont ts de os ¢ shusos que so teorcamente lls, mae Que na fealiade ‘oespondem suns gana de tases de per gue exch nae imate omen cue rua dcr ge vapear do ipo donissnca/margss or sigcadoe ds ae Algumas perguntos e algumas respostas “Tendo dado uma definigio de historia, quero agora taba ta de modo que ela possa dar respostas para 0 tipo de per- sgunts bisica que freqlentemente surge com referéncia & na- {urea da histéra.J& que este € um texto curo, meus comen- trios serio breves; mas, breves ou milo, espero que as res posts que vou suger apontem tanto uma diregio quanto tima maneira para que surjam Outs respostas, mais fist ‘adas, nuangadas e adequadas. Ademais, acho que um guia como este (oma espécie de “manual bisico de histria") se faz recessirio, até porque, embora regularmente sejam le- vantadas questOes sobre natureza da historia, atendéncia € Geixi-las em aberto para que possamos “concluir por 6s tmesnos. Or, eu também quero isto, mas estou ciente de ‘Que, com muita frequéncia, os diversos debates sobre a “na- tureza da histria” slo apreendlidos de modo muito vago (sto &, pitece haver neles uma infinidade de escolhas, ou sei, indmeras ordenagbes possveis dos elementos bisicos), de fortma que permanece alguma davida econfusio, Assim, para ‘varia, eisalgumas perguntas e respostas. 1. Qual € a situaglo da verdade nos discursos historio- srificos? a

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