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| yn & UMA _ INTRODUCAO RRS OKA ciro flamarion s. | cardoso { { { { { | { | { ' OS PASSOS DA PESQUISA HISTORICA x Muitos projetos de pesquisa so redigidos por impo- sigdo institucional: institutos, cursos de pés-graduagio, ‘organismos financiadores nacionais ou estrangeiros, pro. curam julgar as propostas feitas por funcionérios, alunos, pesquisadores em busca de financiamento, etc. Assim, uma das finalidades do projeto de pesquisa consiste em con- vencer acerca da importéncia e da viabilidade do que 0 roponente deseja levar a cabo. Deve, porém, ser também ‘itil para seu autor, como instrumento de orientacdo no Processo de estudo que pretende realizar. Neste capi comecaremos por expor as caracteristicas de um pr de pesquisa em Histéria, pasando depois as etapas de funcionamento da prépria pesquisa hist6rica 1. 0 projeto de pesquisa Um projeto de pesquisa histérica completo deve cons tar pelo menos das seguintes partes: formulacdo e jus cacao do tema; objetivos; especificagio do quadro teérico; Iago das hipéteses; tipologia das fontes que sero Uutilizadas © escolhas técnico-metodolégicas; cronograma de execusdo; bibliografia, Destas partes, em nossa opi extensa redacao sao as relat ificagdo do tema € & apresentacdo das hipéteses heuristicas ou de trabalho. Com efeito,. a justi- ficagao da originalidade da pesquisa proposta exige muitas ‘vezes uma recensio ou anslise da bibliografia jé disponivel a UMA INTRODUCAO A HISTORIA n ‘ respeito, enquanto que, ao formular as hipéteses, & pre- ciso justificar a sua pertinéncia, o seu interesse, lancando mio dos elementos de que j4 se disponha a respeito do tema da pesquisa. Pelo contrério, parece-nos que nas artes relativas as opgdes te6ricas e metod6l6gicas é pre- ciso no divagar: 0 que se pede so escolhas claras, sucin- tamente expostas e bem vinculadas ao tema que seré de- senvolvido. Identificagao do problema a pesquisar: jormulagdo e deli- ‘mitacdo do tema de pesquisa — Esta parte do projeto deve conter a formulacdo do tema, sua delimitagdo no tempo, no espago ¢ como universo de anilise (isto 6, 2 definicio do que “entra” ¢ portanto do que nfo entra no estudo a ser empreendido: em outras palavras, a especifi- cagéo dos fatores pertinentes ao estudo); e a justificacao do tema. ‘Quals sto os ertérios que presidem a selegio de te- © que portanto servem © tema escolhido? Acreditamos (ios: 0 de relevincia, 0 de viabi- lidade, 0 de originalidade e 0 do interesse pessoal (em cordem decrescente de importincia) © tema a pesquisar deve ser relevante, ou seja, im- relevancia social ¢ o da relevancia cientifica. Lucien Febvre afirmou certa vez que a Hist6ria € a0 ‘mesmo tempo ciéncia do passado e ciéncia do presente: € a forma pela qual 0 sua sociedade, e deve sente (¢, assim, auxiliar a preparago do futuro). Isto significa que a escolha de temas de pesquisa histérica deve estar atenta as prioridades sociais do momento que se vive. Por outro lado, existe também a relevncia cientifica: a cigncia histériea, como as demais, evolui, e em cada tapa redefine os objetos, conceitos, prioridades e possi- “ CIRO FLAMARION S. CARDOSO bilidades. E evidente que isto deve ser levado em conta quando se selecionar um tema a pesquisar. E verdade, também, que as vezes se estabelecem “modas” cientificas Cuja relevancia € duvidosa (citemos como exemplos as manias de Althusser ¢ Foucault no Brasil em anos re- Cepies): € preciso saber responder seleivamente is pres- s6és do meio académico, descartando a tentagio a aderir @ modas que no fundo tém pouca consisté Temos, em seguida, 0 critério de viabilidade. Nao asta que um tema scja vélido e interessante. E preciso, também, que seja possivel pesquisé-lo com os recursos a que se tem acesso. © eritério de viabilidade se refere a recursos huma- ‘os, financiamento e recursos materiais, a0 tempo dis. Ponivel para realizar 0 trabalho. Por recursos humanos entendemos 0 nimero de pes Guisadores € a sua formacdo teérico-metodolégica e téc- nica. Ndo 0 mesmo escolher um tema a ser desenvol- vido por um historiador isolado, ou por uma equipe de historiadores. Ndo € possivel abordar um tema relative a Pregos, salérios © niveis de vida se nfo se dispde de co- nhecimentos econOmicos e estatisticos adequados (a nfo Ser, naturalmente, que esteja previsto um periodo de trei- namento acelerado e pertinente), Aqui aparece um problema freqliente, no Brasil, quanto as dissertagbes de Mestrado: a ambicao desme- dida. E perfeitamente aceitével um tipo de ambicéo: o Ge transformar o exercicio de pesquisa que é a dissertagéo numa verdadeira tese, bem trabalhada ¢ fundamentada. Porém, 0 que acontece com fre dor novato escolha temas que ultrapassam em muito as. suas capacidades reais no momento. muito melhor uma ‘monografiaséria, aberta &teoria e a generalizacéo, do que uma teméti mal realizada. ambiciosa teoricamente e muito vasta, mas Quanto ao financiamento € aos recursos materiais, trata-se de um fator de selecéo e também de delimitacio, * UMA INTRODUCAO A HISTORIA 1% Verbas abundantes, acesso a boas de assistentes © de secretaria, possl computador e de consultorias em estatistica, abrem cami- hos que nao € possivel trilhar em outras condiges. Ser ‘ou nao bolsista, ter ou nao os meios de arcar com des- pesas relativamente grandes de microfilmagem ou cépias Xerox, por exemplo, podem ser fatores de peso. E eviden- te, porém, que para o historiador o que mais conta, neste ponto, € a existéncia ¢ disponibilidade de uma documen- abundante e adequada ao tema proposto, conidicio te, mas necesséria, para o éxito da pesquisa. Finalmente, 0 tempo: a extensfio de um projeto de- pende basicamente do tempo de que se pode dispor para realizé-lo em todas as suas fases. © critério da originalidade se refere a que cada ati- vidade conereta de pe: deve contribuir com algo novo a0 corpo do saber. O citado critério pode ser cum- prido de dois modos diferentes: 1) trabalhando-se sobre temas ainda no pesquisados, 0 que permite preencher ‘unas do conhecimento; 2) ou voltando a pesquisar as jf estudados com documentagao radicalmente reno- vada, partindo de bases tedricas ou metodolégicas dife- rentes, ou rebatendo teses anteriormente accitas. © Siltimo critério € 0 do interesse pessoal. O pes- quisador tem melhor rendimento 20 trabalhar acerca de assuntos que lhe interessam pessoalmente. Convém, pois. ro projeto de pesquisa, especificar a natureza e a origem do interesse pessoal sobre 0 tema que se propds. Os objetivos do projeto — Um segundo item do projeto de pesquisa deve ser o enunciado dos objetivos da mesma, Estes podem ser de varios tipos: cientificos; pedagégicos; outros: 0 projeto de Histéria pode ser parte de outro ‘maior, no qual intervém soci6logos, antropélogos, gedgra- fosetc., ou pode estar voltado para algum tipo de atua- sie posterior (embora isto ocorra raramente em Histéria). s objetivos devem ser expostos brevemente € com muita clareza. E preciso que mesmo um néo especialista, a0 Ie-los, entenda 0 que o autor se propée. 6 CIRO FLAMARION S. CARDOSO © quadro teérico e as hipéteses de trabalho — Todo pro- ccesso de pesquisa parte de uma base tedrica implicita ov explicita, Evidentemente, € muito melhor explicitar 0 quadro te6rico utilizado, pois sobre o que fica implicito walquer tipo-de controle, Como a nde bastante das escolhas de algo muito importante. ibém, que no se espera que 0 autor do projeto tenha a obrigacio ou @ pretensio de “dar aula” de teoria a quem eventualmente deverd julear viabilidade de tal projeto. O que se pede € que o pesquisador formule clara € sucintamente suas ‘opoées em matéria de teoria, ligando-as ao tema a pes- quisar e as hip6teses. 105, no capitulo anterior, que a hipétese cons- {rumento mental mais importante no processo . Age como um critério de pertinéncia, que ‘a0 pesquisador decidir que documentos ¢ que Deve notar-se, sua modificagio ou abandono, Assim, quada de hipéteses e a justificago des senciais para que ée pesquisa seja fecundo. As hipéteses devem ser formuladas com clareza e concisio: no © conseguir, revela uma falha no manejo da base tedrica da qual se quer derivar tais hip6teses, ou que o Proprio tema ou os fatores pertinentes no estio clara- ‘mente delimitados. Uma vez formuladas, as hipéteses de- vem ser devidamente justificadas. Os problemas especificos do uso de hipéteses de trabalho em Hist6ria seréo dis- cutidos adiante, neste mesmo capit Fontes e metodologia — Ne 6 uma lista de font pertinentes & pesqui as fontes primérias ou d realizar cabalmente a coleta de dados, & preciso proceder ‘a uma sondagem da documentagao priméria ¢ secundétia (ou indireta) disponivel. Se se quiser, pode-se tomar hip6- ee UMA INTRODUCAO A HISTORIA n tese por hipétese e, para cada uma, explicitar 0s tipos de fontes que servirdo A sua verificacio. ‘Quanto & metodologia da pesquisa, depende funda- mentalmente da modalidade de tema que se escolheu, da teoria de que se parte € das hipSteses, além da conside- ragio de qual é a documentagao disponivel. Também aqui, ndo se trata de uma exposicéo erudita acerca dos diversos métodos que serio empregados (incliindo os aspectos raticos ou técnicos), e sim de uma especificagio breve como se pretende verificar as hipdteses que foram jormuladas, partindo da manipulacao dos documentos disponiveis. Seré preciso, sem divida, referir- -se tanto a opcdes metodolégicas amplas quanto a técnicas bem definidas, mas em forma breve e pertinente. Cronograma de execucao — Consiste na especificagio do tempo (em meses) que tende empregar em cada fase do processo de pesquisa posterior & claboragio do projeto. O melhor é elaboré-lo na forma de um quadro. (Ver 0 quadro n° 1). Bibliografia — Deve conter no s6 05 aitigos ¢ livros pertinentes ao tema, mas também aqueles que forem ui zados como pontos de apoio tesricos ¢ metodolégicos. (© melhor é dividir as obras em grupos segundo categorias 4 a ordem ‘que © incluam); 4) secgdes temiticas especificas (quantas forem necessérias) 2. As primeiras fases do processo de pesquisa: da selecio do tema A elaboracio do projeto ‘Ao tratar da elaboragio do. projeto de pesquisa, ‘mencionamos os critérios de selegio do tema a pesquisar. QUADRO 1: Cronograma de um projeto de pesquisa (supondo-se @ duragéo total de dols anos epds a elaboragio do. projetol~ ‘Ano 2 Ano ° = < = * < 5 = ra a ls 3 = < i z a Ez = = = i} og ila a *|_ ane 323 Fal alae’ 2 S88) 3355) 832/3| 235 3 5 s|s5a8le2 rd 2 S22/8328/528/2/8s¢ elie Eel UMA INTRODUGAO A HISTORIA 79 Agora trataremos de alguns aspectos priticos desta questo. A escolha de um tema comeca quase sempre com 0 interesse por um campo de estudos, uma problemética ampla e ainda mal definida, despertado por leituras pré- vias ou mesmo por experiéncias pessoais diversas. Nesta etapa, o pesquisador poderd dizer coisas tais como: “eu acho que a natureza do Estado imperial brasileiro tem sido mal interpretada ist as leituras, nfo 36 as que se referem direta ou mesmo indiretamente proble- mética ou periodo que desperta o seu interesse, como pertinentes. Deverd, ao mesmo tempo, comecar a fazer sondagens documentais nos arquivos e bibliotecas (orien- tando-se, eventualmente, pela constatacdo dos tipos de fontes usados em trabalhos semelhantes que toma como modelo), verificar a possibilidade de entrevistar pessoas — no caso de se tratar de tema muito recente ou a0 qual se liga uma tradicdo oral persistente —, pedir conselhos a historiadores ou eruditos locais que jé tiverem experiéncia na rea especifica de estudos de que se tratar. E através estas atividades variadas que o pesquisador acabaré iden- tificando uma lacuna no conhecimento, ou uma diferenca de opiniéo com estudos anteriores, o que Ihe permitiré finalmente a formulagdo de um tema precisd de pesquisa, itando-o no tempo, no espaco € como universo de anélise (definigdo dos fatores pertinentes) Pierre Vilar recomenda trés critfrios de delimitago de temas ou casos a estudar: 1) no espaco: o ideal seria um universo de andlise dotado de personalidade geogritica, de homogeneidade; 2) no tempo: € preciso definir um ‘corte temporal que englobe o process pesquisado, mas 0 CIRO FLAMARION S. CARDOSO também suas condigées prévias e suas conseqiiéncias mais préximas; 3) no quadro institucional: a unidade de estudo pode nao ser definida s6 ou principalmente por critérios politico-institucionais, mas a necesséria homogeneidade das fontes torna desejével um quadro institucional sélido, atra- vvés da determinacio de como se geraram os documentos & serem utilizados. (P. Vilar, Crecimiento y desarrollo, Barcelona, Ariel, 1976, pp. 36-37.) Definido © delimitado o tema, vimos no capitulo anterior que o passo seguinte num processo de pesquisa cientifica € a construgo do modelo teérico, ou seja, a definigio do quadro teérico em funcao do qual sero enun- ciadas hipéteses de trabalho, ou heuristicas, que se " procurard depois comprovar. ‘Nossa experiéncia de docente em curso de pos-gra- Guago nos ensina que a elaboracdo de hipéteses € a Gificuldade maior com que se debatem os pesquisadores principiantes brasileiros na Grea dos estudos historicos. ‘Quais serdo as razies de tal fato? Uma primeira razio pode ser 0 domfnio ins das teorias de que se quer partir. Isto tem de ser corti j& que a formulagio de hipéteses depende em primeiro Tugar da opefo teérica. Por exemplo, em Histéria Econd- mica, uma mesma temética geral ou periodo dard lugar a hipsteses profundamente diferentes se se.partir da teoria marxista num caso, ¢ da neocléssica em outro. O proprio fato de no saber ligar as hipéteses relativas a um tema ‘conereto & teoria pode ser indicio de que 0 conhecimento ‘que se tem desta & ainda unicamente formal, imperteito, exterior & prética cientifica efetiva. E verdade que, tio caso das ciéncias socials, a imperieic4o que se constata nos processos ¢ resultados da construcio tedrica agrava ainda mais este aspecto da questo. E nossa opinido, no entanto, que as causas principais da dificuldade que sentem os estudantes de pés-graduacéo ‘no manejo de hipéteses se ligam &s conseqliéncias gerais de um ensino universitério freqiientemente inadequado no nivel da graduacio. UMA INTRODUCAO A HISTORIA a Em muitas instituigdes de ensino superior, as modali- dades do ensino secundério se prolongam nas salas de aula, universitérias. Paralelamente a uma formagio’ metodolé- gica em geral deficiente, trata-se de “transmitir” aos estu- antes unicamente uma massa de conhecimentos ou iiifor- magées, cada elemento da qual € formulado de maneira tal que da a impressio de ser uma verdade incontestével, adquirida para todo o sempre. Pelo contrétio, achamos ‘que 0s cursos de graduago em Histéria, muito mais do que terem a pretenstio — impossivel de cumpric ¢ de fato ‘nao desejével em si — de “esgotar” os conhecimentos hist6ricos por reas cronolégicas (Hist6ria Antiga, Medie- val, Moderna, Contemporanea), geogréficas (Histéria da América, Histéria do Brasil) ou teméticas (Hist6ria Eeo- némica, Hist6ria das Idéias), deveriam orientar-se a per- guntas como estas: como sio atingidos 0s conhecimentos nnas pesquisas com fontes primérias levadas a cabo no campo de que se estiver tratando no momento? Que impli- cagdes tém as modalidades de fontes e métodos utilizados ali para o tipo e os graus de seguranca dos conhecimentos adquiridos? Que controvérsiss podem ser constatadas nas explicagdes, nos niveis teérico-metodol6gicos? Como, a partir de qué, os especi da Grea examinada estabe- lecem as suas generalizacoes explicativas? Tudo isto, natu- ralmente, acompanhado da leitura e debate da historic gratia especializada pertinente (¢ nfo de manuais de segunda mio). Mas nossos cursos de graduacio em His- t6ria raramente funciona assim. Muitos professores, por sua preparacdo ou interesse, se concentram em “expor” conhecimentos — ou alguma versio deles. Nestas condi- Ges, de nada serve multiplicar, ao mesmo tempo, cursos de “historiografia", nos quais também no se faré em escala consideravel o que deixou de ser feito onde era devido: Jer os especialistas no sentido de aprender, nao s6 nem principalmente 0 que afirmam (suas teses par- ticulares), mas como trabalham, que teorias manejam ¢ como 0 fazem, que dificuldades encontram no seu esforgo de pesquisa, etc, SR a 2 CIRO FLAMARION $. CARDOSO Nosso estudante dé graduacéo ndo tem, normalmente, acesso a ensino deste tipo. Como esperar, entGo, que de repente © sem problemas possa ser arrancado & aprendi- zagem livresca e repetitiva que conheceu desde os sete anos de idade? Como querer que formule — ou seja, invente — hipéteses através de umm esforco criador pessoal? E evidente que nao o sabers fazer. Tal habilidade depende de uma cultura histérica efetiva, baseada em anos de leitura raciocinada de modelos, de obras vistas no como fontes de dados e sim como modelos de como fazer (ou ‘como nao’ fazer) Nao é possivel “ensinar” a formular hipsteses. Quan- do muito, podem ser indicados alguns pontos acerca de pasos preliminares aconselhaveis ou necessérios, e expos- tas algumas recomendagtes. HA trés passos prévios indispensdveis & formulagao de hipéteses no quadro de uma pesquisa: 1) ordenar € classificar os dados j4 disponiveis; 2) a partir dai (e de conhecimentos de tipo te6tico e metodolégico), decidir que elementos ou fatores seréo levados em conta nas hipéteses; 3) sondar a documentagdo a ser utilizada poste- riormente para comprovacdo. Quanto A propria formulagio, aconselhamos ter presente o seguinte: 1) procurar adquirir alguma formado em Légica, com’ o fito de tomar-se capaz de exercer um controle légico sobre as conjeturas, eliminando inconsisténcias, incoeréncias, erros seménticos de enunciacdo (proposighes, tautolégicas, por exemplo), ete.; 2) definir todos os termos incluidos nas hipoteses; 3) evitar as hipdteses negativas: estas slo indetermi- nadas e portanto pouco fecundas (slo consideradas verda- deiras se nada demonstrar que séo falsas), enquanto as proposigées afirmativas sugerem algum nexo ou proprie- dade real a pesquisar, sendo portanto frutiferas; UMA INTRODUGAO A HISTORIA 83 4) as hipéteses explicativas nfo devem ser emuncia- dos de contetido empirico sobre wm fator ou varidvel: devem referir-se a nexos entre fatores ou variéveis (exem- plo: em lugar de uma afirmacio do tipo “a producio x aumentou no periodo y”, dirse- “a variaglo da pro- dugdo x no perfodo y deveu-se & incidéncia dos fatores a, b, c.....n” — em cada caso, especificando as formas de ligagao e incidéncia); 5) sempre que possf deve-se procurar a aproxima- ‘do a anunciados de tipo legal (0 que é uma boa maneira © seu caréter geral’e freqiiéncia, uma hipétese muito longa ou complicada pode ser utilmente subdividida em vérias, as vezes em uma principal e outras subsidiérias; 7) a Historia 6 o estudo da dinamica das sociedades humanas no tempo: as hipéteses deverio refletir isto, buscando definir as mudancas qualitativas e/ou quantita~ tivas constatéveis no lapso de tempo considerado, embora sem esquecer as persisténcias e as resisténcias @ mudanca; 8) as sociedades humanas nfo de elementos desconexos, ¢ sim isto deve ser considerado ao formula peito de algum nivel da realidade social. Neste ponto, dispondo ja das hipéteses de trabalho — que comandam em grande medida as escolhas técnico- metodol6gicas — & que se torna possfvel a redagio de um projeto formal de pesquisa. Ao prepard-lo, pode ser uma precaugio interessante — com a finalidade de testar a verificabilidade das hip6teses enunciadas — elaborar, para ‘uso pessoal, um quadro em trés colunas: na primeira serio escritas, uma a uma, as hipéteses; na segunda, para cada hipétese, serdo especificadas as fontes disponiveis; e, na terceira, se explicaré de que modo tais fontes sero tra- ipoteses a res- a CIRO FLAMARION S. CARDOSO balhadas com o fim especitico de tratar de verificar a hipdtese em questo. 3. A fase de documentagio ou coleta de dados Fas soas ec factuais, uma vez formuladas as hipsteses © deduzidas conseqtiéncias particulares compro- vaveis das mesmas, 0 pesquisador passa a planejar € executar — mediante observacdes, comparacbes, expe- rigncias — a prova das hipéteses, cujas conseqiiéncias particulares deverio ser verificadas, e, através de tal veri- comprovadas ou néo. Nesta fase, de alguma ma- "0S que serio criticados, 8, processados ¢ interpretados. ‘Na pesquisa histérica 0 modelo geral é 0 mesmo. Como, porém, na maioria dos casos seré i 0s fatos e processos estudados por intermé taco disponivel, as fontes assumem neces: papel importante, ‘pois a elas esto ligadas as possibili- dades da anélise do processamento dos dados, ¢ em geral delas depende a contrastagzo das ee de modo em que foi preservada e transmitida, hist6ricas as redagSes que nos chega- los de barro, paredes de monumentos, ete.; objetos materiais diversos como recidos perceptiveis através da fotografie aérea feita em certas condigses, etc. Mencionaremos duas das classificagbes mais usuais das fontes hist6ricas. A primeira distingue as fontes pri- ‘mdrias ou direta das secundérias ou indiretas. A segunda UMA INTRODUGAO A HISTORIA 85 a primeira a mais, — qué, no caso dos is quanto durante 0 préprio periodo estudado — sio as que surgiram como decorrén- cia difeta do tema pesquisado, 0 que no ocorre com as secundérias. Por exemplo, se estamos estudando historica- mente a agricultura brasileira do século XIX, os assenta- ‘mentos cartoriais que contém inventérios de fazendas, 0 texto da lei de terras de 1850, dados de producao compi- Iados na época, so fontes primérias; livros e artigos sobre © tema em estudo serao tratados como fontes secundérias. E verdade, porém, que quando as fontes primacias foram Perdides, as secundirias mais préximas tornam-se pri- fonte priméria, devido a que a documentacéo de primeira mao que compulsaram se perdeu hé muito tempo). A distinggo entre fontes primérias e secundérias tem cardter epistemol6gico ¢ metodolégico, indicando i tias sio a base principal de uma verdadeira pesquisa, ~ ‘cuja pretenséo seja contribuir com conhecimentos novos a um campo dado de estudos. A fase de coleta de dados & a mais longa do processo de pesquisa, e também a que apresenta maiores perigos, ‘na forma de atrasos possiveis © até’de esforgos imiiteis. Trataremos desta questo tendo em conta unicamente a circunstancia majoritéria entre historiadores: as pesquisas apoiadas em fontes escritas. Os arés problemas fundamentais para o historiador sio: 1) a localizagdo dos acervos.documentais; 2) evitar a dispersio e a perda de tempo; 3) manter um controle per- ‘manente e total sobre os materiais acumulados, mediante uma organizacdo eficiente da coleta de informacio. © pritneiro ponto da enumeracio acima tem a ver com 0 que 0s historiadores tradicionais chamavam de 86 CIRO FLAMARION S. CARDOSO “heurfstica” (cf. 0 cap. II, parte 1). Alguns cursos de graduagdo em Histéria de nosso pais se esforcam no senti- do de treinar os estudantes no uso de arquivos e biblio- tecas, mas isto nem sempre ocorre. Ao comecar uma pes- quisa, convém lancar mo de todos os recursos dispo- niveis para a localizagdo da informagao pertinente dispo- fhivel. Os mais Sbvios consistem na leitura das notas de referéncia € listas de fontes ¢ bibliografia que constam de obras sobre o tema de pesquisa ou relacionadas com cle, no uso dos catélogos e fichérios de arquivos e biblio- tecas, na consulta dos repertérios documentais e biblio- ‘réficos publicados, na busca em coletdneas de fontes rimérias impressas ¢ em revistas — como por exemplo ‘0s boletins dos arquivos — que habitualmente publicam documentos, Mas convém também, com freqiiéncia, recor- rer a certas pessoas: os arquivistas e bibliotecérios so as vvezes competentes © experientes, historiadores e “erudi- tos” que jé pesquisaram na érea podem dar bons con- selhos © as vezes grande ajuda. No Brasil, ¢ em geral na América Latina, acontece com alguma freqténcia que © historiador, previamente & sua coleta de dados, deva realizar trabalho de arquivista, pondo em ordem mate- isis ndo classificados e até salvando documentos em perigo de préxima destruicdo. Iniimeros pesquisadores tiveram experiéncia deste tipo, que no deixa de ter 0 seu encanto e interesse, em arquivos privados, eclesiésti- cos, cartoriais, etc. Para evitar a dispersio e a perda de tempo, uma primeira regra importante & nfo entrar plenamente na fase de coleta de dados antes de dispor de um tema bem delimitado, e de hipsteses de trabalho claramente formu- ladas, j& que estas iiltimas so as que garantem critérios de pertinéncia & pesquisa, através dos quais se torna pos- sivel selecionar as fontes ¢ dados efetivamente titeis para (© que se pretende fazer. Deve-se também refrear o im- pulso de querer ver muitos documentos, ou muitos tipos de documentos, a0 mesmo tempo. Isto pode ser itil na fase de sondagem das fontes € estabelecimento das priori- a UMA INTRODUGAO A HISTORIA a7 dades de consulta destas, mas depois, a0 comecar a coleta de dados propriamente dita, o melhor é esgotar em ordem cada tipo ou série de documentos. ‘Outra coisa necessétia € resttingir a c6pia textual das fontes. Na maioria dos casos os documentos devem ser resumidos, reservando-se a cGpia para passagens to significativas que eventualmente serio incluidas entre aspas no texto final do trabalho. Quando se justificar por alguma razio o desejo de contar com a totalidade de textos Iongos, o melhor € microfilmé-los ou usar foto- cépias. E 0 que acontece, por exemplo, no caso de séries estatisticas considerdveis: copié-las significa perder muito ‘tempo, além do forte risco de enganar-se na cépia. ‘Um caso especial, mas cada vez mais freqtiente no trabalho dos historiadores, & 0 de fontes que repetem em forma estereotipada segundo um padrao regular: assenta- mentos paroquiais de batizados, matriménios ¢ ébitos; assentamentos cartoriais de testamentos ou partilhas; for- mulérios de alfandega, etc. Neste caso, 0 melhor é pla- nejar, de acordo com as caracteristicas especificas da fonte em questio, folhas ou fichas especiais de coleta. Estas, se bem feitas, permitem ganhar tempo, pois so reproduzidas por impressio ou mimedgrafo, € 0 pesquise- dor se limitaré a preencher as lacunas nelas previstas. (Ver um exemplo nas Figuras 1 € 2.) Tratemos agora do controle que, em todo momento, deve ser exercido sobre os materiais que vio sendo acummulados na fase de coleta de dados, ¢ terminam for- mando, as vezes, verdadeiras montanhas de papel. £ claro que nfo se pode confiar apenas na meméria para a locali- zagio de uma dada peca de informacao répida e eficiente- ‘mente, quando se tem alguns mithares de folhas ou fichas. ‘A solugo consiste em organizar racionalmente todo 0 material coletado. Para tanto, duas regras bisicas: 1) dis- por de um plano de classificaco; 2) elaborar os tipos pertinentes de fichas ¢ folhas de coleta. Como estabelecer um plano de classificacio, se a0 comecar a fase de coleta 0 tema pesquisado ainda néo é s(oor89W1 ep 2pepID) up! 9) 2p Ies2u20 oayszy,, op sanbynd 2p owoy op opuounoog — | winktg a 5 PQee =~ & we Ge Pel] RRS EE (QR eH] |) SUF nN 3 % p | Bae RELL Na) } er lf Or g 3 3 poy & niga 2p PIATHOSAL is} Zo BE gs Figura 2— Folha de coleta de dados para trabalhar com documentos como o reproduzido na Figura 1. IMPOSTO SOBRE O PULOUE Localidade: San Miguel el Grande, México Folha ns: 12 Data Contribuinte ‘Soma paga Observagies pesos | reales | granos a 05.12.1795. Julién Davila «| 6 6 Obs: © pulque € bebida de grande consumo popular no México. Estamos supondo que o caso da Fig. 1 €o primeito desta folha; na coleta, seria seguido por outros (cada caso ocupando uma linha). 90 CIRO FLAMARION S. CARDOSO conhecido a fundo? Tal plano, de fato, pode ser simples sem grandes pretensoes. i tir uma classificacéo légica — de preferéncia temética e no apenas cronolégica — dos dados que sero reco! Ora, mesmo numa fase inicial do processo de pesquisa, ‘sto no 6 muito dificil, desde que se disponha de certa sendo aperfeigoado pouco a pouco. Imaginemos que o tema da pes do café no Vale do Paraiba no século XIX (se se tratar de uma tese de Mestrado, aqui um exemplo para clasificaglo da informagéo coletada ‘A expansio do café no Vale do Paraiba (século XIX) 1. Contexto histérico geral e antecedentes 2. Fatores da produgso a. terra b. mio-de-obra e relagies de producso © comercializagéo 2. dados acerca da produgéo © dos rendimentos ssportes ras da comercializacio de café ado quanto 20 café acto da expansio cafesire na vide do pais De fato, a identificagio, ordenamento e hierarquiza- $0 de fatores pertinentes levados 2 cabo forgosamente UMA INTRODUCAO A HISTORIA 1 como passo prévio & formulacio de hipsteses, 0 quadro tebrico pelo qual se optou, deverdo ajudar b smos agora do fichério documental bibliogréfico, ¢ das fichas de_contetido. Em primeiro lugar, € preciso elaborar, para cada documento de arquivo, fonte priméria impres de bibliografia, uma ficha documental ow bi 2 de Medicio e Tombo Execugdo de Posseiros. Lugar @ data: ‘Autor ou responsavel Figura 3 — Ficha documental de idemtiicagao, CONRAD, Robert Figura 4 — Ficha bibliogrdfica de identificacdo. @ CIRO FLAMARION S. CARDOSO as notas de referéncia do trabalho no qual os resultados da pesquisa sero apresentados; 2) servem para elaborar a lista de fontes e bibliografia do mesmo trabalho; 3) per- it necessério, voltar a localizar rapidamente um documento ou publicagio para nova consulta. Estas fichas devem ser elaboradas em forma semelhante as que encontramos nos catélogos de arquivos e bibliotecas. No caso dos textos impressos, as fichas devem conter 08 dados basicos que idemtificam 0 livro ou artigo, mas 6, ndo sao fichas de con- © pesquisador deveré escolher algum em obras de Histéria ¢ usé-lo consis- Prevéem miiltiplos caso resenga ou no de um compila- ivos; anénimos, etc.) e podem ser variados quanto as normas gréficas (uso s6 de virgulas, de pontos € virgulas, de tracos, pontos e virgulas; indica sd0 dos autores na ordem normal de grafia dos seus nomes, ou fazendo 0 sobrenome preceder a0 nome, etc.), Se a obra tiver sido consultada em biblioteca, a ficha de ‘dentificago devera conter 0 nome (ou sigla) desta © 0 mimero de classificaco do volume. No caso de documentos de arquivo, devem constar da ficha de identificagio todos os dados que identificam 0 documento e permitem aché-lo e solicité-lo: nome do ipressa ou mimeografada na qual serio preenchidas as lacunas previstas. No fichério do pesquisa de identificacio poderio ser usando-se em cada divisio a ordem alfabética dos sobre. rnomes dos autores. As fichas documentais serdo classifi- -cadas por arquivos, e para cada arquivo segundo os siste~ UMA INTRODUGAO A HISTORIA 98 éries, ramos, etc.). © livro, artigo ou documento manuscrito deve tratado como unidade quando se deseja avalié-lo ou crit ser precis ou de pesquisa). Em outras palavras, a menor unidade de informagao no processo de pesquisa seré a ficha temé- ificagdo, ¢ sim em folhas m6veis do que no il chamamos, nfo muito adequadamente, de “fich4- Uma ficha poderé ocupar mais de u © cabegalho seré repetido em todas, ¢ as diversas folhas serfo numeradas). As folhas devem ser usadas s6 de um lado. (Ver as Figuras 5 ¢ 6: correspondem ao documento e livro das Figs: 3 e 4; as indicagbes relativas ao plano de classificacao se referem ao exemplo que demos, “A expaii- so do café no Vale do Paraiba”.) A ficha analitica consta, em primeiro Tugar, de um eabecalho que traz, A esquerda, uma ‘mida (a identificagéo completa acha-se, ficha de identificacdo correspondente), & direit ‘sG0 da parte do plano em que a ficha serd classificada Ihe corresponde nessa parte), no tados: convém, entéo, escrevé-las a lépis. A parte inferior icha de leitura fica reservada as observagées: corre- CIRO FLAMARION S. CARDOSO Marques de Oliveira © Vireira e quantos outros dela se achem, despelarem o terreno do dominio © posse do Suplicante, verificado e legalizado jida medico e Tombo, julgada por sem oposieao com a pena de se indo aquele prazo 20 despejo judicial 3¢ entrar 0 suplicante em sua € intelra posse como por direito the compete.” pela sent — 0 procurador do Baréo declara ‘dos posseiros, ndo fazem jus 2 ela ma f6 zag. Observagses: Ver 2+ fichas n° 30 © 31 para casos semelhantes. Figura 5 — Ficha documental de conteddo. UMA INTRODUGAO A HISTORIA Conrad _Diferentes atitudes em Plano: 2.b rolagdo & escravidéo Ficha a? sno Império {eproximadamente em 1880) . 158 — No conjunto, © movimento contra a escravidéo era mals forte nas areas urbanas pp. 157/ 158 — *No Brasil, como um todo a escravatura era mais, motivacSo econémica de uma atitude préescravista Observactes: Cf. 2 tese de leménia Lima Martins acerca do tr escravos na Pr Figura 6 — Fiche bi 96 CIRO FLAMARION S. CARDOSO lagdes com outros livros e documentos, ou com outras fichas de conteddo, element jtica interna ou externa, © outras anotagdes que o historiador quiser fazer. Por fim, © centro da ficha — a maior parte da sua superficie — fica reservado para o resumo, pardfrase ou cépia entre aspas — ou combinacdes destas modalidades — do texto fue estiver sendo trabalhado, ou melhor, da parte do ‘mesmo que for pertinente ao tema da ficha, segundo 0 ‘titulo desta; & esquerda so indicadas as péginas ou os {lios correspondentes. 4. Critica ¢ elaboragio dos dados Em termos de metodologia geral, esta fase pertence etapa da prova das hipéteses, na qual, realizadas jé as, ‘operagées planejadas de observacdo e experimentacdo, os dados entio recolhidos sfo criticados, avaliados, classifi cados, analisados, processados e interpretados, no sentido de tornar possivel a introduc das conclusées da prova na teoria ‘No caso da Histéria, inclui os processos “hermenéu- ticos” de interpretago e decodificacéo das fontes, ¢ em geral a critica externa ¢ interna destas, no sentido do que ‘05 historiadores tradicionais chamavam de “estabeleci- fambém, todo tipo de elabora~ necessério previamente & redacio exemplo: elaboracdo, com tais atisticas, curvas, quadros, tabelas, do trabalho dados, de operat mapas, etc.). Hoje em dia, os aspectos quantitativos da critica e elaboracio dos dados so cada vez mais comuns em Histé- ria. Assim, especialmente em Hist6ria Demogréfica, Eco- sentido de Hist6ria da estrutura e dos mas também em outras éreas de pes- depois de avaliar a confiabilidade, a consisténcia e as virtualidades dos dados numéricos cole- UMA INTRODUGAO A HISTORIA 7 tados, os historiadores passem a elaboré-los estatistica- realizados os cruzamentos de variéveis exigidos pelas hip6- teses a verificar. Embora a fase de critica e elaboracdo dos dados seja logicamente posterior 4 de coleta dos mesmos, com fre- ajiéncia se desenvolve pelo menos em parte paralelamente a esta (por exemplo, nada impede que, no momento de elaborar as fichas de conte‘ido, 0 historiador j@ inclua elementos de eritica nas “Observagées). 5. Sintese e redagao A sintese histdrica — A sintese € a fase final do pro- cesso de pesquisa. Este comegon a mover-se com a loca lizaco ¢ delimitago de um problema; depois, com apoio tedrico, foram colocadas hipéteses, deduzidas conseqiién- cias comprovaveis destas, ¢ passou-se a uma longa fase de observacao sistemética (reunido de dados segundo cer- tos critérios) seguida do controle, anélise e elaboracio dos dados coletados. Em outras palivras, comeca-se com uma visdo totalizadora de um dado problema, mente deve suceder, para que seja ‘uma etapa na qual, de certa forma, predomina a reducdo analitica. “A sintese marca a volta 20 geral, agora com conhecimento pleno dos seus componentes e das relacées entre 0 todo e suas partes, e das partes entre si: 0 que permite a comprovagio, corre¢o ou abandono das hips- teses de trabalho formuladas. Evidentemente, o “geral” que € o ponto de referéncia da sintese depende do uni- verso de anélise escolhido para a pesquisa — uma cidade, ‘uma regio, um pafs, um grupo de paises, uma pardquia, ‘uma empresa, etc. —, de modo que suas dimensdes pode- ro ser extremamente varidveis. Segundo 0 caso, teremos wma “Macrossintese” ou uma “microssintese”, 98 CIRO FLAMARION S. CARDOSO A sintese depende de ambos os niveis do processo de pesquisa, o tedrico e o empirico. Em Hist6ria, pode apresentar diversas modalidades. Uma das classificagSes possiveis € a segui inteses estruturais ou funcio- rnais: dominadas pela exposigao da estrutura de ma ¢ de seu funcionamento; fiuais se procura a explicagio do Seqiiéncia cronolégica, associando-s rocuram vincular numa visdo unificada os pontos estrutural e genético. armos de tefletir sobre as bases da constru- Hist6ria, teremos provavelmente de levar em conta a cultura histérica do pesquisador, que Ihe permite esta- belecer paralelos, precedentes, comparagdes no tempo € quisa no contexto mais vasto da disciplina. Também o quadro teérico do qual se parte € a0 qual se volta — modificando-o em maior ou menor miedida — Pesquisa, tem muito ver com as operagdes si ; concepedes acerca das categorias tempo (periodizagao, manejo de diversos e miltiplos niveis de temporalidade, etc.) e espaco (Geo-Hist (ria regional, contabi- lidade nacional retrospectiva, etc.) so igualmente essen- ciais para o caréter das visbes de conjunto. Finalmente, 05 istoriadores manejam, implicita ou explicitamente, grande mimero de critérios de classificacao, ordenamento © hierarquizacdo de dads, fatos e processos, sem os quais ‘no ha sintese possivel. A redacio — O resultado de uma pesquisa se apre- senta sob a forma de texto. A Hist6ria utiliza basica- , € muito pouco — embora em forma crescente — as linguagens artificiais ([6gicas ou — eA imprecisio no uso do vocabulério. O historiador deve estar atento a este problema, tratando de definir UMA INTRODUGAO A HISTORIA 99 sentido em que emprega cada termo sujeito a controvér- ia, e também de buscar de referéncia em outras rentes de economistas. © primeiro problema que surge, ao tratar-se de por por escrito os resultados de uma pesquisa, é a elaboragéo do plano de redagdo. Quando predomina a preocup’do de sintese estrutural, 0 plano sera l6gico-sistemdtico, ou © portanto na constatacio da simultaneidade ou sucessio dos fenémenos e processos. Em Hist6ria, o ideal é conse- guir uma combinagio equilibrada de ambos os tipos de plano. Formalmente, 0 texto que apresenta a pesquisa rea- lizada deverd constar de trés introducdo, que formula o prob! © justifica em fungdo dos crité nalidade, enuncia as hipéteses e de fontes, métodos ¢ técnicas; de relevincia e origi- escolhas quanto a tipos ica, hist6rico-cronolégica ou combi- 0 plano de redagio, e que constard em geral de diversas partes e capitulos; 3) a conclusio, na qual se apresenta uma visio integrada ¢ Juma reflexio a respeito do conjunto do trabalho, e se documentagio disponivel). © aparetho de erudicéo — Numa obra de Histéria que tenha a pretensdo de ser levada a sério, néo basta afirmar coisas: € preciso comprové-las, apoié-las. Esta é | 3 100 CIRO FLAMARION S. CARDOSO ‘a fungéo do aparelho de erudicdo, que tem diversos com- ponentes. A lista de fontes e bibliografia se coloca, segundo tra- digdes académicas que variam de um pais a outro, seja no comego, logo depois da introducdo, seja no fim do volume. A sua organizagio mais usual é 1) fontes primérias manuserit nizada por arquivos © depende d cacéo de cada um deles; normalmente se usa um critério decrescente de relevincia (ou de abundancia) em rela- ‘cdo ao tema pesquisado, para a distribuicdo interna desta parte; 2) fontes primérias impressas: separando-se as que tém forma de livros dos folhetos, jomais © periédicos, e usando-se uma classificagio alfabética em cada subdi 3) bibliografia propriamente dita, na qual se distin ‘guem: 1) os instrumentos de trabalho (dicionérios, reper- ibliogréficos e documentais, etc.); 2) as obras de carter teérico-metodolégico, ou usadas em tal carter; 3) obras gerais sbes especificas por especializagio te- mitica. Em cada subdivisio da bibliografia, os artigos € livros serdo ordenados.alfabeticamente segundo os sobre- nomes dos autores.” Evidentemente, em certos casos teré de haver outras divisées, relativas por exemplo a fontes arqueolégicas, coleta de tradicio oral, entrevistas, iconografia, Quando for possfvel, uma lista de fontes ¢ bibl fia fica muito valorizada 20 elaborar-se comentérios — que podem ser curtos — relativos aos contetidos, orien taco teérico-metodolégicas, divergéncias historiograicas, eic., ¢ também & pertinéncia de cada elemento documen- tal ou bibliogréfico para a pesquisa realizada. ‘© componente mais importante do aparelho de eru- digo sio as notas. Estas podem ser elaboradas de acordo com diversas modalidades, mas as obscrvagies a respeito serdo restringidas 20 tipo que achamos mais aconselhével, as notas de rodapé ou de pé de pégina. O printipio destas consiste em colocar no texto um nfimero, quando se quiser seguinte: UMA INTRODUGAO A HISTORIA 101 fundamentar algum dos seus desenvolvimentos ou afirma- g6es, reproduzindo-se 0 mesmo niimero na parte inferior da mesma pagina, seguido das referéncias bibliogréficas e/ou documentais pertinentes. Nestas notas, a primeira vez que aparece um documento manuscrito ou um texto publicado, reproduz-se a totalidade dos seus dados de identificago (tirados da ficha documental ou bibliogré- de identificago correspondente), além das paginas ov ios usados nesta nota de que se trate no momento (para se recorre a ficha de conteido pertinente); em segui- a0 voltar a aparecer em notas posteriores, sfo usadas certas abjeviaturas para evitar perdas de tempo e espaco com repetigoes supérflues: op. cit., idem, ibidem, ete; € preciso aprender a dominar o emprego de tais abrevia- turas. As notas de rodapé podem ser classificadas funcio- nalmente em: 1) notas de referencia, as mais importantes, {que servem para apoiar afirmagdes 5 2) notas de referéncia cruzada, também relevantes, que remetem 0 lei- tor 2 outras partes do mesmo texto, ou a outras obras, com 0 fito de evitar repeticdes e também para contrasta~ it ivas de opinides (estas notas come- ) motas de complementaco 20 ceurtas, pois caso contrério que este tiltimo tipo de wveria estar no préprio texto; se se trata de longos extratos documentais para apoio do texto, € muito melhor organizar anexos documentais no final do capitulo ou do volume. Outra questo é saber em que niimero fazer as notas de rodapé. Se forem numerosas demais, interrompem a ura a cada passo; mas se forem muito poucas, retnem numa s6 entrada as referéncias relativas a um longo desen- volvimento, € 0 cada element mente apoiando no texto. A experiéncia ensinaré a atingir notas contém é importante, 102 CIRO FLAMARION S. CARDOSO um certo equilibrio aceitavel. Em alguns casos a nota é obrigatéria. Por exemplo, ao ser citada entre aspas, no texto, uma passagem de uma fonte manuscrita ou biblio- gréfica, a referéncia respectiva deve constar imediatamente, Os anexos e pecas -aiivas evitam longas citagdes entre aspas incorporadas ao texto ou as notas. Nos traba- IWfos onde se procede & quantificagio, é aconselhével publi- car em anexo a tir que outros his feitas ao processar E fregiente que um texto de Se forem numerosos, surge io do volume: onde colocé-los? vezes so reunidos no final do ‘capitulo ou do volume, ou mesmo num volume separado unicamente axéfico. Por fim, um trabalho de extensio considerdvel justi- indices: 0 indice habitual de partes de personagens hi ce temético. Sem obra longa pode ser de uso diffcil, sobretudo quando quem @ consulta estiver interessado s6 em certos aspectos bem definidos. 6. Conclusio: cada vex mais uma ciéncia Num estudo da servidio © dos sistemas senhoriais a leste do rio Elba, J. Rutkowsky formulou a seguinte ‘explicagio: UMA INTRODUCAO A HISTORIA 103, (1) Lei: Se e apenas se a facilidade de vender a produ- Go agricola co-ocorre com uma forma de servidao agravada, desenvolve-se a economia que associa o regime senhorial ¢ a serviddo, (2) Condigéo inicial: Nos Tempos Moderno: a leste do Elba foram marcadas pel venda de produtos agricolas e por vada de servidao. (3) Bieito: A economia que associa o sistema senhorial ¢ @ servidio desenvolveu-se durante os Tempos Mo- satisfaz os requisitos do esquema de a conhecido como modelo de Hempel dentemente do seu valor especitico, pa- rece-nos que os historiadores tendero no futuro por caminhos diversos, a uma formalizacio e explicitasio crescentes de hipsteses, explicagées ¢ formulagées legais, ‘© que s6 pode donstitui jento da maior importancia se se pretender coroar 0s diffceis e longos trabalhos da pes- quisa histérica com a elaboracéo de uma Historia cada vez mais cientitica, LEITURAS RECOMENDADAS ‘ux Sciences Historiques, Paris, tradugéo publicada em Portugal). 5. SOUSA, AJM. de ef iagdo & Légica e & Metodotogla da Ciéncia, So Paulo, Editora Cultrix, 1976, ZUBIZARRETA G., Armando F., La Aventura del Trabajo Intelectual, Panamé, Fondo Educstivo Interamericano, 1965

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