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O PONTO RISCADO: DEMARCANDO O SAGRADO Na Umbanda, o ponto riscado € comumente descrito como um desenho feito com giz'* ou pélvora, com o propé- sito de convocar uma determinada entidade para vir A Ter- ra. O poder do espirito é graficamente representado por li- nhas retas, cfrculos, espirais, flechas, ondas, estrelas, setas e cruzes. Cada espirito tem o seu diagrama magico. O pon- to riscado encontra os seus equivalentes na firma", da reli- sido cuban chamada Alo ou Regala de Mayombe; na eseri- ulada anaforuana, desenvelvida pelo pov se sus descendentes cubanos; nos diagra. dos no Haiti eem Nova York para invocar escritaideogrética adinkara, desenvolvida pelo povo akan de Gana e da Costa do Macfim, Todos esses diagramas, ou assinaturas de espirtos, bem como 0s pontos riscados da Umbanda, tém sua matriz comem no cosmo- ‘grama congo chamado genericamente dikenga, do qual as- similaram a simbologis da cruz, o uso de efreules, linhas paralelas ¢ ransversais No Brasil, hé quem associe os pontos riscados com algum simbolismo secreto da Cabala, ou até com alguma misteriosa escrita védiea desaparecida. Olga Gudolle Cacciatore registra “signos-de-salomio, coragées, estre- las’ como elementos néo-africanos do simbolismo dos pontos riscados, E bem verdade que a estrela poderia ter sido incorporada pela Umbanda a partir do pentagrama cabalistico, no entanto, podemos encontrar muitos desenhos e esculturas da arte do Congo, atestan do a existéncia desse simbolismo anterior & chegada do primeiro africano ao Brasil, e antes mesmo de 1482, ano ‘em que os portugueses “descobriram” a “Bti6pia Ociden- tal", primeiro name com que batizaram a regiao do antl- go reino do Congo, Nessa mitologia milenar, a estrela simboliza 0 véo da alma, e nada mais signficante para repre- sentar 0 pove do Congo em terras americans. E interes sante notar que a estla negra sob o eéu branco foi, du- rante séculos, a bandeira nacional de reino do Congo. Este ponto riscado do “Povo do Congo" fala por si. (Ponto Riscedo nimero 1) 156 Dandara¢ Zeca Ligifro Robert Farris Thompson estudou os pontos riscados da Umbanda e pondera sobre a sua simbologia na consagrago do ritual: “Emborao seu lado exterior assemehe-se as signas da herdldica ocidental, no nivel mais profundo daestruturs, ‘les se alinham aos do Congo, Dessa forma, a étea do chlo na qual eles sero desenados precisa ser muito bem vacrida consagrada, estabelecendo um espayo ‘cosmogrético come o originado no Velho Mundo (a Afri a): ongarnga & convocado depois que o assistente verre fo terreiro, sobre o qual ele enlfo desereve uma figure, ‘como num tabuleiro para adivinhagao. Neste espago, solugdo para o problema do cliente pode ser visualirads pelo nganga ¢ pelo Inquice, Isto, precisamente, a fun: do € a agdo dos ponios na Umbanda. No Congo, 0 ‘aganga estremece com o espitite ¢ revela 05 insights do Inguice em termos de palavras e recetas, Na Umbanda, pretos-velhos e caboclos manifestados a partir do ponte, Jnspiram as pessoas viras com suas vozes ¢ Wises. © ga rantem aos pobres¢ problemaéticos wma chance de trazer (9s seus problemas aos icones feitos de carne ¢ argue Como alares que dio vazes, a sacerdotes possuidos ro ‘clam antidotes ¢ resolugé dicina de rolacionamento,"=! ‘compond assim uma me Inicingéo A Umbanda 157 Em seu texto altamente elaborado, Thompson conclu, como resultado de suas pesquisas nos dois continentes, ques fangBo do ponto tlscado no Baal ena Altica & quate ¢ mts ‘ma, Observando a simbologia da cosmogonia Congo vere- ios com esses mesmos simbolos so rearticulados no Nove Mundo, recriados no ambiente americano por meio de lin- ‘Buagens vivas, estabelecidas pelos descendentes de afticanos, afticano do Congo interagiu com as novas formas culturais que encontrou no Bratil de modo bastante flexvel ‘como jé havia feito, anteriormente, na Africa, Durante os séculos de convivéncia com outras etnias como os pigmeus, legendérios habitantes das florestas da Africa Central, eo: san, grupos habitantes das savanas ao sul de Angola e norte da Africa do Sul, eles sempre mantiveram lagos de troca de Produtos e constante intereémbio cultura ‘A.cosmogonia Congo é magistralmente simbolizada pelo dikenga. {Ponto Riscado nimero 2) O dikenga tem o seu modelo desenhedo a partir de uma cruz dentro do efreulo ixo vertical, a “linha de poder", conecta simbolicamente Deus acima. O dikenga marca também 0s quatro momen- tos do sol — o alvorecer, o meio-dia, © poente e a meia- noite (quando ele esié brilhando no outro mundo). Bsses ppontos séosinalizados por pequenos cfrculos no final decada brago da cruz, espelhando o imortal progresso da alma, 158 Dandara e Zeca Liiéro Suas cruzes denotam encruzithadas ou fronteiras entre este mundo ¢ 0 mundo dos espiritos; eo circulo retrata a rbita césmica da alma: nascimento — vida — morte — renascimento, Uma figura humana coma cabega em for- ma de sol reflete a mesma visio da alma luminosa, Um losango, algumas vezes com uma cruz interna, ou com lo- sangos ou trifngulos em suas extremidades, €outra varian- te do dikenga. 0 losango de cima, as vezes, & representa- do saltando ostensivamente para fora do corpo da figura ‘Um réptilanfibio, novamente composto de losangos, cruza a linha entre a terra e gus, evocando © nascimento da alma, transversal na encruzilhada do dikenga. A espiral € ‘outro sfmbolo para a jornads sem fim da alma — dat a importante ligago com as conchas marinhas, usadas para enfeitar 0§ timulos, A concha & chemada de zinga, em 4quicongo, homénimo de “longa vida’. Na Umbanda, os pontos riscados dos pretos e pretas-velhas so 0s que mais retiveram os elementos tradicionais da iconografia do dikenga (Ponto ndmero 4) Na simplicidade do ponto de Vows Mombaca, adikenga parece emergir das éguas da Calunge, onde a posigéo mais oculta do sol, Musom, ainda nfo € 160 Dandara e Zeca Ligiéro nascimento, forga integral, ocaso » renascimento. As quatro ‘quinas do diamante contama mesma histéria seguindo a mes- ‘ma seqiiéncia, Entre os modelos des cosmogramas do Congo, documentados em colegdes de arte do Congo do século, XVIF, a presenca do sinal do dikenga pode ser claramente percebida. (Pontos Diversos Verticais do Congo — nimero 3) + @® 4 ~ “Be By ¢ © Iniciagho A Umbenda 159 visivel, enquanto as outras extremidades (Kala, Tukula Luvemiba) aparecem acima da superficie, desfazendo qual- quer divida sobre a origem cultural desse ancestre. Os ou. {tos trés pontos riscados expressam magistralmente a mes. ‘ma simbologia, corroborando seu sobrenome “Calunga”. (Ponto nimero 5) AK +r +. No ponto riscado de Vows Catarina ds Calunga”, ve mos no centro da estrela o caracol, Zinga, enquanto uma Jonga linha vertical encontra a linha da Calunga no topo da estrela, mostrando que esta pertence ao plano espiritual. A cconstelago de esirelas¢ cruzesem sua volta relembra a tra- jet6ria do Sol, (Ponto ndmero 6) Essa mesma trajetsria se repete no ponto de Benedito da Calunga, que tem o seu cixo Iniciagdo a Umbanda 161 ceruzado por uma flecha € um tridente, representando 0 po- tencial energético do eeboclo (Nlecha), combinado com o de Exu (tridente) no plano espisitual,o que parece indicar que esse ¢ um espirto que nio deve ser relacionado nas eate- gorias familiares de av6 ou tio. (Ponto mimero 7) Sua cor- respondente feminina, Benedita da Calunga, tem sobre a sua propria encruzilnada um ramo de vegetal, indicanda 9 seu trabalho coma flora medicinal. As ts cruzes dir da cruz central reforgam a idéia do seu alto nivel de esp situalidade O transplante das culturas bantas para 0 Novo Mun do se deu de forma indiscriminada e heterogénea duran- te todo o perfodo da escravidio, Suas préticas culturais, foram sempre perseguidas, sofrendo sob o peso da proi- bigdio e de dolorosas sangdes, Muitos estudiosos no mundo inteiro tém procurado analisar como essas cultura per- sistiram nas Américas, mesmo apés suas constantes trans- formagGes e novas fusées. Edie James, sacerdote de Palo Mayambe ¢ babalaé iorubé em Nova lork, dé o seu depoi mento, 1682 Dandara e Zece Ligiéro Bo en, s espa eSRF2S2B8 2eas S3Bgeo2 338 gars Feefoag FZ > Zaggoc™ Bee SLBSern zs *™s38708 BEF BSeaease woe &®oocon & a cog oO RBaae ese Fea rears es a3 8 838sa5e 78% BaeaZbSS2 of82 oaepee3S 28s ez S S558 oe eneixyese 2 & 2 eo 5 Pos & 823 328 eo Bae 86s 2888 3 & os @EASBee REE EzeoRmes ge e@s5 See Par 3 Bae 3 & O88 82 O Bo osPSage es % E°R3e°S Bag 31222850 228 a . 2 a ¢ 9,59RRB 2 FRR a2eCgas sek ee 59885 4288 8 = 2 a RBRef ERE FB SRZ8a%R SEB RAB 20 B saga SxbB°e FR BOB & ®BOCS os gs $ 2 a| OSes 53 $eo | ap ojdwiaxa eSerotU juodsa oJuaWIdINs O 9 O8UOD OI! JOYOW O ‘1SkAg ON ‘OulayUIP 9 Odwa} ap so]UAUNSAAUT SIOA 2 oaug, 'No Congo, & claro, a tradigio mfgica quicongo era uma parcela de toda uma cultura, atuando como uma parte integrada em toda a maquinaria dessa cultura. Por outro lado, aqui, € em todos os lugares no Novo Mundo, no existe da mesma forma aquela cultura, Portanto, os me: canismos, as razGes pelas quas as técnicas magicas fo ram elaboradas,jé io existem mais. Entio, las desen volveramn uma existGncia individual, bseada no individuo «nao na sociedade. A criayio do Inquice (o altar ou os. artefatos mégicos) pelo nganga (sacerdte) € um exem- plo disso. O sacerdote atua quase que isolado da soci: dade. Entio, voc® comeya a tera idéia de que: “Eu sou 0 centro da sociedade, e meu trabalho © minhes atividades so aqueles que criam a soviedade. Estou trabalhando para mime me colocando dentro da sociedade, ou igno- rando-a completamente. Eu estou me colocando na po- sigio em que eu desejo estar.” E essa nosdo de autopo- sicionamento torna-se a perspectiva da tradigéo Congo na América Isso, & claro, coloca a tradigho Congo-em oposigae direta a certos aspectos da tradigéo iorubs que, con trariando algumas crengas populates, 6 essencialmente ‘uma religiéo devosional, uma religiao de condeseendén cia com as informagies abtidas através da adivinhagio, mais do que uma religiio que promove a tomada de decisses préprias, Enido, o sistema Congo, aqui, desde ‘que © seu objeto jé ndo mais existe, ornou-se agora um sistema ligado & natureza pessoal do individuo que © pratica ~" Essa diferenciacdo entre os dois sistemas, Congo e ‘otubé, é ainda pouco discutida no Brasil, ondea imbologia do Congo ainda nao foi suficientemente analisada, embora, Iniciagdo @ Umbanda BER ESERES 8 3 een 8383 3 ESusgselea8 >8 S8a2 585 Be 2 3 SSS aes Be E 2EBS8BSockROoS ES ae So Siade pees SF secoasFoses 8 sess egses B a a eomo4a20 PBRTVERSSF OG aesSetasias ¥ oe res SSS SBS gmae se os B85 5 f2o823 > SeS&SRLeS RASS 2 grees; e Elo $3°5 £880 2> BEISESF SS g on Bre, 6 a8 8 Sees ek Sew e e@2 = 52 ¢ a EokPoa SS Segre Rsg°RS FS se P2ZaSeseBese eaRBSt3252 2256 &sS a8 oss: SScCRRE SER nec Eeaas Bg SRaoos BeSen85 08a EZR e Sea he s S8SSp 5258 8 ck ES REAR SSS egbBoaen bs = Se2ees se ,28 Zeoeles sar eos s aeoghogsgees a S 2S S2rseg2 3222 SP ome TB SR Ss 165 Pied a woods BUSOU BU SOpIzBa} LUBIO} ‘JOZI9A a1Jalg Nowysid “81 OWOD ‘anb elUja BIsap soudau ap sodnas sod awojiun Stew opous ap ‘g]qwopueD ap seseo seu OPwII90A 10 "aNIOI Puaisis O Bf ‘sleq O Opo} asenb we ajueseid as-aujuOdUa

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