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Prowigao Uratica: Sandra Siqueira — Tel: ms-7145 Composte © imprown ma TNGRAF — Indice Grifices Lida. BOLETIM DO MUSEU NACIONAL NOVA SERIE RIO DE JANEIRO, RJ-BRASIL ISSN_0080:3189 ANTROPOLOGIA Ne 39 AGOSTO DE 1983. ALIANCA E CASAMENTO NA SOCIEDADE MODERNA: SEPARACAO E AMIZADE EM CAMADAS MEDIAS URBANAS * Gilberto Velho ‘Museu Nacional — Rio de Janeiro I — Cada vez mais a antropologia tem procurado definit as caracteristicas da sociedade moderna contemporinea, Dentro de sua tradigdo, esta tentativa tem como referencia contrastiva as sociedades tribals ¢ tradicionsis. Entre os diversos aspectos que sio. tomados’ cefetuar este contraste hé um de especial importincia e que fundamental para o desenvolvimento deste trabalho. Trata se da ‘questo do cédigo da alianga, de sua existéncia ¢ de sua importincia iva em diferentes sociedades ¢ eulturas, Embora LéviStreuss seja © principal expoente ¢ articulador to6rico deste problem (ver LéviStrauss espec. 1968 a e 6), hi todo wm vasto campo de ebete repleto de nuances em que muitos autores, de diferentes ten- déncias, aparecem, Frize-se que o tema da alianga esté imedistamente sssociado.20 da reciprocidade prineipalmente através das formmilagses de Malinowski © Mauss. Porianto, 6 pega essencial para o desen- © Trabalho apresentado a mesa redonds “Famili, Honca ¢ Serualiade”, 34a. Reuniso Amal da SBPC, Belém Par jlo do 1963, ‘Agradego as Tegsrar s pesguisn em andamento de Asa Lam Rocha de Morse, da UERGS, com guem seubsl de uavar contnto e que Poder tazer impor: ‘ante contrbuigee para o esto da separagio na sodedade brasicira, Publicado com 0s recurios do Convéalo 253-FINEP/UFRI/Musea Na- ‘onal 1 MALINOWSKI. Brosislaw — Arsonauta of the Western Pacific, Nove York, EP. Dutton, 1961. MAUSS, Marcel — “Esai sur le Don", Sociologle et Anthropotoge, Pari, PUR, i968. « volvimento de importantes teorias sobre a sociedade, sua organizago sua estrutura, © casamento, dentro do cbdigo da alianca, estabelece relagées centre grupos através de unigo de seus membros. Inclui-se e, 20 mes: ‘mo tempo, produz recipzocidade nos mais diferentes niveis da vide social. Estebelece canais de comunicagio. delimita fronteiras e ela bora identidades. Por outro lado hé uma forte énfese em trabalhos e tradigées variades sobre o caréter individualiste da sociedade moderns. Individualismo tem diversas acepcSes e, portanto, dé margem a discussGes um tanto desencontradas. Entendese aqui que significa Juma valorizagdo, a0 nivel da representagio, da ideologia, do indi- viduo bioldgico como sujeite, wnidade minima significativa da vida social (Para maiores esclerecimentos ver Dumoat, 1970 ¢ 1977). [Neste sentido, como jé escrevi em outras oportunidedes (spec. Velho, G. 1981, Cap. 1), nfo hé como falar em individualismo pure ¢ simplesimente’ mas em individualismos, desde que hé vatias ma neitas de realizar o movimento desta valorizagio. O dominio (8) onde 1 ideologia individualista vai se expressar com mais nitider e vigor 4 que a qualificaré. A construcio do sujeito pode ter como referencias bisicas 0 econdmico, o politico, a sexvalidade, o discurso, ete., com diferentes pesos e énfases (Ver Foucault, M. 1966 ¢ 1977). Sem di- ida, de aluguma maneira, esses dominios podem se articular mas, fem prinefpio, hd um f6co principal de onde se irradiam experiéncias € valores, com maior ou menor intensidade e eoeréncia. A idéia do uma psicologizagto da sociedade procura, justamente, dar conta do que setia um processo generalizado em que 0 sujeito psicoldgico passe, de fato, a ser a medida de todas 9s coisas (Ver Figueira 1978 e Duarte 1980). Nao € 0 homem econdmico ou pol tico mas o individuo portador de uma especficidade interna par. ficular — de carster, personalidade, psiqniamo, ete, que referéncia dominante em um discurso que tende a se espraiar, cul- ‘minando nas diversas correntes psicanaliticas. 2 Var, ene outros: SINMEL, G.—- “A Metpole © s Vida Mental", In Velho, Otévio Guilherme (Comp.), © Fendmeno Urbano. Rio. Zabar, pp. 1328, 1967, ‘WIRTH, Lasis — “0 Urbanitma’ como Mado de Vs", In Vethor Otte Gauilectas (Comp.). O Fendmeno Urbano, Rio, Zabas, pp. 31-122, 198), ASCH, Custopher — The ge of Narcsim, Norton, New York, 1978 TI — wniverso de camades médias ds Zona Sul do Rio de Jansiro que ven pesquisando hi varios anos 6 intensamente pica. nalizado’ (Ver, por ex., Velho G. 1975, 1976 © 1981). Nio 56 boa parte dos individvos i se submeicu e diferentes tipos de terapis de base analitca como as categoisis e 0 discurso psicenalitice impreg: am set cofidiano, de manna mui eet menoe conaitenta, A olor do indviduo pasa, portato, por um madelo picclogizanto quando no ‘psianalitsg propriamente dito. Assim, existe uma forte énfase na “descoberta de si mesmo”*, na “liberasio das ropressies”, na “busca da autenticidade”, focalizando sempre as possibilidades de realizagao e/eu expansio de uma individuslidade sceta como premises, Ea pert deste panorama, em que configura-se um ethos, for- temente marcado pela psicologizagéo, que procurarei retomar a pro- Dlemética da aliangs e, particularmente, do matriménio’, © casamento, pelo menos para ot setores mais modernos da sociedade contemporines, é caracterizado como sendo uma escolha ‘eciproca, beseada em critérios afetivos, sexuais e na nogio de amor. Mais uma vez a idéia do sujeito atuando, operando e optando 6 do: minante. No entanto, hé que nuangar este quadro em se tratando de sociedades e grupos sociais especificos, mesmo aqueles considerados como mais modsmos, ao nivel do senso comum. Por exemplo, no iverso estudado hi varios casos evidentes da importincia crucial das familias de origem na efetivacio de certos matriménios, facili: tando ou ctiando obstéculos a sua realizacso, A exprestdo “fazer gosto" por mais que soe antiquada e/ou tradicional faz parte da ‘experiéncia de individuos que se casaram, pela primeira vez, hd der, ‘quinze, no méximo vinte anos. Assim, pais e parentes podiem “néo fever gosto” pelo casamento de uma filha com um homem de status social considerado inferior ou de um filko com ima moga cio voce: Dulétio soava menos convencional. Geralmente a opinido, aceitago ‘ou rejeipdo por parte das families foi, pelo menos, uma referéncia fundamental para 0 cassmento, mesmo no caso dos chamados casais TAs expresites aspoadas sto extradas dos dscurso do univero investigedo. 5, Comesel a examinar esa qussizo em minbs tee de goutoramento Nobres {t-dnjon — Um Estudo de Tévionr + Mierargui, USP, 1973. Mat rete, Fecentemente, 0 tema por considerilo relcvante para a compreensio ‘mudangas ciltorais sigificalivaa no univeso de camadas median Urban modernos* que yalorizam fortenente 0 aspecto intransferivel_da cescolha pessoal. A questio é saber até que ponto, em grupos socials ‘como o investigado, 0 estabelecimento do vinculo matrimonial, sua cstebilidads © eventual término é assunto das familias de origem e como se delineiam as relagtes sociais neste contexto, FFica claro que, na grande maioria dos casos encontrase a di- ‘mensfo da alianga enfatizada em diferentes instincias, Estio em jogo ‘dentidade, interesses e valores de grupos que se vineularam através. de dois de seus membros. No caso de haver fils, hé também netos, sobrinhos, etc, Registrese que além do casamento propriamente dito (eligioso ou civil), rituais como eniversérios, batizados, Natal, entre ‘outros, s80 ocasides de encontro dos dois grupos. Troca de favores de presentes, apoio na busca ou na melhoria de emprego, todo um sistema de expectativas € gerado, envolvendo parentes. Mesmo mais istantes, como primos, cunhados, concunhados, ete, importante observer’ que este tipo’ de aliange envolve née 86 parentes como: Redes de socielibidade so fortalecidas ou criadas através de doin inuividuos. Sem dvidas, ha os casos notorios de afastamento de pessoas que nfo se dio bem com um dos cGnjuges. Isto € mais provavel de ocorer com o antigo ou com 0 parente distante do que com 0 parente préximo quando os lagos © obrigesbes costumeiramente apresentam uma carga bem maiot. De qualquer forma, delineis-se um conjunto novo, reunindo parentes © amigos dos dois membros do casal, definindo uma rede de relagGes socials, com novos paptis, tipos de solidariedade ¢ situagdes de socialit lidade. Assim, a itmi do marido pode tomarse amiga de sua nova cunhada, como podem desenvolver-se Iacos antes inexistentes entre pessoas que mal se conheciam, com novas intercestGes e ruzamentos na rede. As festas so ocasifes privilegiadas pare essas observacées, com rituais de incorporasio e integrasio progressiva dos dois grupos. Pode-se argumentar que, em alguns casos, jd existia hasicamente um _grupo pois 0s esposos, companheiros, ete, jé exam membros de tm. Conjunto bem definide. Mas mesmo quando & este o caso hé um reforgo, através do casamento, e uma maior legitimagao dos lagos. Amigos podem tomarse cunhidos, compadres, conetmhedos, co-so- 110s, adicionando caracteristices novas a8 relagies pré-enistentes, Hé Ver on wabsthon de Maria Laine Meilborn: “Compromisso de. Moderi- dade" "Casal vanguarda e individuaiono, PPGAS, Museu Necional, Sat, 1980 ¢ "Notas para um estudo sobre cals: a Hidlldsde em questo. PPGAS, Maseu Naclonsl, dati, 1981. cessos de pessoas tornaremse sécias em diferentes tipos de empreen- ddimento, Por outro lado, os fithos de irmios, primos ¢ amigos passam 2 freqlientarse, crescem juntos, vio at mesmas festas, 20 mesmo pponto na praia, passam fins de semana juntos, etc. Estabelece-se, com isto, um convivio com intimidade. No universo em paute os amigos podem ser 10 ou mais sigificativos do que os parentes, termos de freqincia de contato, apoio cotidiano e compartilhar de \ificaldades. Isto nfo significa que pais e inmfos, principalmente, nfo participem de manelra relevante na vida dos cassis. Isto fica mais evidente quando hi necessidade de algum tipo de suporte fi- ranceiro por parte das familias de origem. Casais jovens, em etapas iniciais de suas trajet6ries profissionais, com filos pequenos, de- ppendem em virios planos do apoio dos pais © sogros. Nio so di- nheiro mas roupas, presentes de todos os tipos, fecilidades © tempo pera tomar conta ‘das criangas sf0 parcialmente supridos pelas fa- ‘ilies, particularmente pelos pais, E interessante verificar que o fato de ter filhos marca um importante momento do cielo doméstico, fazendo com que, geralments, haja vina reeprenimagdo com @ femilia ‘de origem. # bom lembrar que, em muitos cesos, houvera um afas- famenio nem sempre amistoso ema nome de liberdade, desrepressio, independéncia, autonomie. Em certas hist6rias de vida hé momentos de rompimento radical e rejeicio dos lagos ¢ compromissos fami: liares. O casamento, implica, obviamente, em um afastamento, mar cado rituslmente, das familias de origem. Este processo pode ser vivido de maneira mais ou menos conflitiva. Com © passar do tempo fe com o nascimento de filhos, ainda na prépria gravidez, hé uma reaproximagSo e, paralelamente, um estabelecimento de maiores con- tatos entre as families de marido e mulher. Mesmo no havendo filhos definese, de qualquer forms, um conjunto novo de relapses sociais, com conatos novos ou mais intensos entre individuos que tem papéis socisis redefinidos. II] — A crise conjugal e 2 separagio alteram drasticamente este conjunto ¢ a rede de telegbes constituidos atrevés do cassmento que agora se desfaz, Nao 86 at duas familias de origem — avés, frmfos, cumhados, tos, primos, ete, mas os amigos do casal sofrem 1 consoqiiéneias do evento, havendo, forgosamente, uma recstruti- aco e remapeamento do campo social. Pessous que tinham relagGes de parentesco por afinidade deixam de ter. Quem era cunhedo, con- ceunbado, sogro, genro, mora, etc., passa & categoria de ex-parente De algumna manera, tratese de uma alianca desicita, Ume vez mais, hhavendo filhos, hé maiores probabilidades de se manicr nfo s6 al: 5 tipo de contato, mas a necessdade da permantncia de lagos de- Scoperasso, oa devida, alisrados, Ito nl0 exclul a cxistioria de rompimentés.drésticos com as pessoas deixando de se ver literal sent Un dot con rgitados € do um eal, com da fos, © pale a mic ao separareme, depois de seis anos de ma Finca nator te ver ie dose el de quatro anos da separagio. Agem como intermediérios parents, finigot ou empregados como eloe imprescindivels em funpto das criangas, B um caso limite mas ndo é felado, Ou seja, pessoas que fe encontravam com fegulardade e freqlentavam unas ao casas das cutrar, deizam de ae ver. Isto pode ser um movimento deliberado fo apenes circunstancial, Mas, de uma forma ou de outra, © com fumio de relagoes que hava se consttudo, tendo como fco'o casa, se desfaz com a sua separagio, Isto nfo impede que relagées indi- vidualizadas potsam se manter. Mas a fissto do conjunto, preva ‘mente existente, € um fato indiscutfvel. Em casos de seperasao con fituosa, com acusagées de infideidade, violenia, desonestidade ete. estabeleceme verdadeiras fecgies, Hé situapoes em que um dot tnembros do canal € colosado como um verdadeiro réu mas sempre haverd um setor, por menor que sje, do conjunto anterior que the serd slidério, Em caso desi tipo, o cadter dramdtico da sparégfo fica mais Mlagrante, embora eszja sempre. presets, Ha. confronto entre atores, uma disputa por legitimidade, presigio, estime e reco. ‘hecimento sociel A responsabildade pelo’ racasso do casamento- bom pai, a boa mie, 0 marido ea esposa, Si0 epresentadas.versoes, interprtagtes so cotejadas. O boato, a intriga, a inconfidéncia perpassam a antiga rede, Grando clivagens ¢ ecentuando diferengas de ponto de vista, Nao é incomuim chamada “epidemie” quand, om periodos Emitados © concentrados de poucos meses, separase alte proporcio dos casals do conjunto estabelecido através de anos de interagdo. Em determi nados momentos parece estabelecerse forte solidariedade entre as mulheres versus os homens, mas nem sempre isto sconisce. Amigos de sexo diferente podem esieitar sua relogio, dando margem a com jeeturas sobre a. sua netureza, No univers estudado, canstituido por Pessoss de nivel universitério, cosmopoits, pode haver grande vr FHapdo no grau de toleréncia a amizade heterossexusis. Fm situasBes de crise e separagéo gerase, muitas vers, a expectativa de que os amigos do homem devam evitar sua ex-mulher. Trata-se de situecdo perigosa que pode acentuar ainda mais 0 procssso do fissio. Depols 6 de alguns meses de uma separaglo pode-se tragar um mapa social bastamte diferente, nio +6 como resultado das fissdes e facgbes, como do contato com outras redes sociais e conjuntos ands os ex-cdnjuges, ceventualmente, podem buscar novos espagos ¢ contatos, Fazer novas amizades, restabelecer antigas, explorar outzos ambicntes parece ser tum processo bastante tipico de uma sociedade metropolitana, alta- mente diferencia, que permite um campo de manobre malor do ‘que sociedades tribais, camponesas, tradicionais. £ ror af que o indi vidualismo do habitente da grande metsépole encontra base, esti, rmulo e espago para expresséo. Nao se trata da existincia de compar’ timentos estanques. Pelo contério, a diferenciagio implica na proli- feragio de coatextos, dominios e situagdes com un certo grat de fluidez. O mimero de individuos néo € o importante mas sim © rmuk tiplicidede de alternativas contextuss. IV — Com tudo isso, coloca-se 0 problema de verficar 0 esta- tuto de um e6digo de alianga na sociedade conterporénea e, mais particularmente, sua pertinfrcia pera a compreonsio do ethos ¢ da ‘visio de mundo de grupos o segmentos especificos, Talvez 0 universo’ ppesquisado seja um caso limite dentro da sociedade brasileira mas, ‘de qualquer forma, levanta questses gersis sobre easamento, familia, parentesco e amizade na grande metrSpole’. O fato de ser um seg. ‘mento de camadas médias, com alguma especificidade, pode ajudar 4 explicitar a tensio entre individualizarse e incerporarse ou set englobado. A alianga entre os grupos reletivamente prectria se com- pparada com outras sociedades estudadas por antropclogos. & instével f cheia de ambigtidades. Obviamente, o dominio a linguagem do tem um papel determinante, comparivel a0 de socie- nfo podendo, no entanto, ser simplesraente descartedos pois, como se viu, tm alta significagio na construgso da identidade individual. Esta é elaborada a partir da propria diferenciago da s0- ciedade modems metropolitana, com sua heterogeneidade e mltiplos dominios. Isto se acentua, em se tratando de um segmento com grande mobilidade, apoiado por forte ideologia individualista. As* pessoas criculam mais por diferentes regides mores do que uma 5 Ver “Pacandline ¢ Cassments’, de Jane Rosso ¢ Tania Coelho doe Santos am! Familia, Pecologia « Sociedade, Camps, RJ, 138 6 Yer o cltsico texto de Robert E, Park “A Cidade: Sugetses para.» Iavesiengio. do comportamento humana no meio uiba:o", fy Velho Ot ‘io Guilherme (Somp.), O Fendmeno Urban, Rio, Zale, pp. 29:72, 1967 7 pequena classe média ds Zona Norte do Rio de Jeneiro ou # msioris dos grupos de baixa renda, Essa camada média intelecivalizada, pei- cologizads, de Zona Sul conta com recursos materiais e simbélicos que permitem que sua identidade dependa menos da familia ou de ‘uma rede de vizinhanga como grupo de referéneia mais exclusivo, interessante yerificar como ficam as pessoas separadas que passam a viver, tendo ou néo filhos, sds — sem marido ow mulher. Da mesma forma, € importante registrar um ndmero nio desprezivel de adultos soltei#os — homens © mulheres que, simplesmente nio se casam. Se hé mutes situacGes de pessoas separades que tormam 2 se casar, duas, irés ou mals vezes, encontra-se também a opcio de nfo voltar 2 situagéo matrimonial ow jamais tla, Neste gltimo caso, em principio, no hé filhos, embora encontrem-se algumas mies solteiras que, deliberedamente, optam por engravidar mesmo sem perspectiva de casamento. © feio 6 que claboramse estratégins de sobrevivéncia, baseadas ‘em crengas, valores que permitem a constituiggo de identidade, no passando pelos mecanismos clissicos de alianga, A ideologia indivi ‘dvalista, como se manifesta neste sogmento, permite ao individuo mantere, enguanto membro de uma rede de sociabilidade, que pode inclur sue famfia de origem mas que se centr, basicamente, em toro a amizade enquanto valor. Nao crvio que a amizade, de al- guma maneira, substitue 0 parentssco, Parece-me que a importincia dos amigos gira em torno da especificidade da vida dos segmentos imals dividuatizados-na-sociedade’metropolitana modems. A_valo- flzagio © a possbilidede de escolha reforgam a auio-percepsi0 do {ndividuo Nom o parentesco, nem a religifo englobam ses indi viduos que circulam entre diferentes dominios e insttuigges. A pré- pria possibilidade de cesarse, separarse © tomar a se casar esti asiociada a essa experitncia sGciocultural. Mas o casamento, mesmo nas situasdes mais vanguardistes, implica em um tipo de compro- misso diferente. do da amizade. Seria muito interessante aprofundar cm termos de andlise de ethos, a nogdo de amizade colorida que im- plica em relagées afetives ¢ sexusis que nfo constituem um casa {mento mas quc nfo se exgotam em encontros isolados. Este tipo de relagio que parece ser cada vez mais valorizado no universo inves: tigado se caracteriza pela do cohabitasso, por uma relative inde- pendéncia econdraica ¢ financeira e uma forte ideolopia de liberdade fexual. A autonomia do individuo e sua liberdade aparecem como valores bésicos. No caso das mulheres este tipo do situacéo pode evar 2 uma tensio permanente com sua familia de origem que sempre procura exercer algum tipo de controle social. Néo se pode ‘maginar que a problemética da honra nfo exista neste universo ¢ o comportamtento moral e sexuel das mulheres ¢ f6c0 privilegiado para evidenciar ist’. O bom nome da fame, o zelo pele moral ¢ inte ~-atidade dos filhos so alguns argumentos acionados nesta busca. de eontrole. F importante lombrar, mais uma vez, que deveita« alianga ‘mt o-ftin do casamento, tende a aumentar a dependéncia em 1e- lasao & famfia de origem. No caso da mulher que fica com os filhos, jsto se torna mais agudo. De qualquer forms, homem ou mulher, © separado ou 0 soltiro encontram espago neste vniverso para a elaborasfo de uma identidade, apoiados em outros dominios como| © trabalho que, sem dévida, € dos mais signifiativs. A rede de| amigos e a socibilidade por ela permitida fornecem outras alterna | tivas que, no quatro da grande metripole, associadas as opgoes do | espayos © coniextos dferenciados possibilitam um campo de manobra | maior e mais rico do que em sociedades de pequena escala ou em / cidades do interior. Os projetos individuais se vabiizem através de formas de reciprocidade regidas por normas tslver mais ambiguas ‘mas com um variado leque de alternativas, Existem amizades dura. douras mas o importants ¢ que_podem fazerse ow desfasense. Ou, Scie, se-os Tagot cnire amigos ni obedzcem a padres zigidamenta ~ delinidos' de trocas © ‘brigesses, hd maiores “potsibiidades de esta-_¢ belecer novas relagdes que subsituam, completed iampliem.as te oele-unlvens Ga Tania © do parentesco em —eetal..onde_ 0 cédigo da alianca se expressaria com maior nitidez ‘A athizade a0 pode sex definida aepativamente ou como comple- Senta aos lage de a se do tim tipo de de espe ade Bhfasé na liberdade de excolha individual. # evidente que hé uma relaggo entre a possibilidade de ~ fepararce © a mobilidade e plasticidade do’ dominio ca amizade, — ‘A separasdo de casais cada vez mais frequente e 0 maior nime?o de adultos vivendo sozinhos sponta, no vaiverso pesquisado, para diferentes formas de sociabilidede © construgio da identidade tocil. Sem divide, estamos diante de mudangassignficstvas, tanto a0 nivel ds prética como das representagées, no focantz a relasa0 40 individio com a sociedade em que so insere. B wma quertio a ser verificeda, empiricamente, a extensio e profundidade ‘dessa: trans: ormagées. 7 Bim termos de sociedade brasileira uma contribuigSo rlevante para’ a! problemutica da honra 8 0 amigo de Lulz Tulel de Arsefo "Em Nome ‘be Mie", Em: Perspectivar Antropoldgicas da Mulher If, Zar, Jy 1983 9 BIBLIOGRAFIA ARAGAO, L., 1983 — “Em Nome da Mae”. Em: Perspectivas Antropoligicas da Muther TIT, 31 pp., Zahar, Rio de Janeiro. DUARTE, L.F., 1980 — “O Culio do Bu no Templo da Razso”, dati, 38 pp., PPGAS, Museu Nacional, Rio de Janeiro. DUMONT, L., 1966 — Homo Hierarchicus, 386 pp., Gallimard, Pais » 1977 — Homo Aequalis, 270 pp., Gallimard, Pacis. FIGUEIRA, S., 1978 — Individualismo Psicandlise, tee de mes. trado, Depto. de Psicologia, Pontificia Universidade Catslica do Rio de Jancizo, 292 pp., PUC, Rio de Teneo. 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