Oh
Brasileiro nao
gosta de ler?
20 €a primeira vez que falo nesse assunto,
‘0 da quantidade assustadora de analfabe-
tos deste nosso Brasil. Nao sei bem a cifra
oficial, ¢ no acredito muito em ciffas off-
ciais. Primeiro, precisa ser esclarecida a questao
do que & analfabetismo. B, para mim, alfabetiza
do nao é quem assina o nome, talvez embaixo de
tum documento, mas quem assina um documento
que conseguiu tere... entender. A Imensa mato
tia dos ditos meramente alfabetizados no est
nessa lista, portanto so analfabetos — um dado
‘melanedlico para qualquer pats civilizado. Nem
sempre um povo leitor interessa a um governo
(alo de algum pats ficeional, pois quem Ie é
informado, e vai votar com relativa
Iucider. Ler ¢ escrever faz
poo
g
A meninada precisa ser
seduzida. Ler pode ser
divertido e interessante,
pode entusiasmar,
distrair e dar prazer™
Sempre fui de muito
Jer, nao por virtue, mas por
que em nossa casa livro era
objeto cotidiano, como 0 pao e 0
Ieite, Lemibro de minhas avés de li-
‘ro na io quando mio estavann lidan-
do na casa, Minha cama de menina ¢ mocinfa era
cembutida em prateleims. Crianga insone, meu
conforto nas noites intermindveis era acender 0
abajur,estender a mao, e ali estavam os meus ami-
208. Algumas vezes acordei minha mae esquecen-
doa hora e dando risadas com a boneca Emilia, de
‘Monteiro Lobato, meu fdolo em crianga:fazia mil
anes e todo mundo achava graca.
E a escola no conseguiu estragar esse meu
amor pelas historias ¢ pelas palavras. Digo isso
com um pouco de ironia, mas sem newhuma de-
preciagio a0 excelente colegio onde estudei,
quando crianga e adolescente, que muito me
wa.ser Preparou para o mundo maior que cu conheceria
‘ese saindo de minha cidadezinia aos 18 anos. Falo
da impropriedade, que talvez exista até hoje (e
que nao era culpa das escolas, mas dos progra-
mas educacionais), de fazer adolescentes ler os
lssicos brasileiros, os romnticos, seja o que
for, quando eles ainda nem im o prazer da lei-
{ura, Qualquer menino ou menina se assusta 20
ler Macedo, Alencar e outros: val achar enfado-
nnho, nfo val entender, nfo val se entusiasmar,
Para mim esses programas cometem um pecado
Indsico ¢ fatal, afastando da leitura estudances
ainda imaturos.
‘Como ler é um habitoraro entre nés, ea meni-
nada chega ao colggio achando livro uma coisa
qusse esquisita, ¢ eitura uma chatice, talvez ela
precise ser seduzida: pereebendo que ler pode ser
divert, interessante, pode entusiasma, distr
dar prazet. Eu sugiro crOnicas, pois temos grandes
cronistas no Brasil a comegar por Rubem Braga e
Paulo Mendes Campos, aém dos vivos como Ve-
rissimo e outos tamtos. Além disso, cada uin deve
descobrir 0 que gosta de ler, e val gostar, talvez,
pela vida afora, Nao preciso que todos amem
(0s elissicos nem apreciem romance ou
poesia, Hd quem gostede ler sobre
‘esportes, exploragtes, via-
‘gens, astrondutiea ou astro-
noma, histéra, artes, com-
Puragllo, sea o que for.
‘0 que € preciso € ler
Rovista serve, jornal & éti-
‘mo, qualquer coisa que 10s
faga exercitar esse 6x20 wo
esquecido: 0 eérebro, Lendo
4 gente aprende até sem sentir,
‘eresce, fica mais poderoso.e mais
force como individuo, mais inte-
‘grado no mundo, mais curioso, mais
ligado, Mas para isso & preciso, pri-
miro, alfabetizarse, ¢ nto s6 If pelo
‘ensino médio, como
primeiros, mas por construire a base do que se-
‘ems, faremos e aprenderemos depois, Ali nas
ce aatitude em relagao a0 nosso lugar no mundo,
escothas pessoais ¢ profissionais, pela vida ato:
‘a. Por isso, esses primeiros anos, em que se
aprende a ler e a esctever, deviam ser estimulan-
1@s, frmes, fortes e eficentes (nto perversamen-
te severos). J se faz um grande trabalho de lei-
{ura em muitas escolas, Mas, naquelas em que
com 9 ou 10 anos 0 aluno ainda nfo usa com
naturalidade a lingua materna, pouco se pode es-
perar. E no ha como se queixar depois, com a
eterna reclamagao de que brasileiro ndo gosta de
Ter: essa porta nem Ihe fo aberta
22] ROE AGOSTO am | va