Vous êtes sur la page 1sur 4
Historia Por que proibir a realizacdo de um documentéi Tradi¢éo Guarani 1? Paranapua - Fortale Tatiana Cantadori de Almeida/ José Dionisio de Almeida Hé uns seis meses, 0 indigena Didaco Jexaca Fernandes elaborou 0 projeto baseado no edital de numero 14 do Proac em 2010, da Secretaria de Cultura do Estado de Sao Paulo, propondo a realizado do documentério: “Fortalecimento da Tradicdo Guarani”. O projeto foi aprovado pela Secretaria da Cultura do Estado; 0 dinheiro depositado na conta do proponente e a partir de ent&o, demos inicio a todos os procedimentos para as filmagens que aconteceriam na Aldeia Paranapué, localizada no Parque Estadual Xixové-Japur. A presenca dos indigenas na 4rea encontra-se sob judice, através de uma aco proposta pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Sao Paulo contra a FUNAI, solicitando a retirada dos indigenas por se tratar de drea de preservaco permanente, que dura cerca de oito anos. A justica determinou a permanéncia até que sejam concluidas todas as pericias na area. Desta forma, a equipe de producdo entrou em contato com a direcdo do Parque Xixovd solicitando a entrada da equipe de filmagens, producao e dire¢do, para o dia 17 de fevereiro. Comunicamos também a Funai (Fundacao Nacional do Indio). Para nossa surpresa, quatro dias antes, através de e-mail, a direcdo do parque nos informou que no autorizaria a entrada da equipe para as filmagens. Este projeto: "Fortalecimento da Tradicéo Guarani”, como jé dissemnos, foi proposto para ser realizado na Aldeia Paranapua, localizada no Parque Xixova-|apui e que é composta, hoje, por aproximadamente 16 familias, sendo mais de 1/3 criancas e adolescentes. Os indigenas chegaram a este lugar no inicio de 2000, Desde entdo, este grupo indigena vem batalhando e lutando para ficar na terra, que por direito Ihes pertence, j& que antes dos portugueses chegarem aqui, ern 1500 (descobrimento do Brasil) e 1532 (inicio da colonizacao), nés tinhamos, no litoral de So Paulo, do qual Sao Vicente faz parte, entre 5 mil e 7 mil indios, isto segundo vérios historiadores. Lutam também pela sua sobrevivéncia e sustentabilidade, porque, em fungao do proceso judicial, existe a proibicao do plantio, um dos fatores principais da Tradic&o Guarani. A alegacao é que isto destréi o meio ambiente, como jd dissemos Para sobreviver, a comunidade comercializa 0 seu artesanato nas feiras de arte e eventos culturais; também apresentam a danca e a miisica, outros dos elementos fortes e importantes da sua cultura Além disto, em fung&o do processo, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, através da direcao do parque, tenta impedir qualquer projeto que tenha por finalidade a melhoria das condicées e da qualidade de vida dos indigenas, desconsiderando até os direitos da crianga e do adolescente, impedindo, a todo custo, que se dé inicio & escola indigena, determinada judicialmente, conferindo o direito & educacdo diferenciada consubstanciada na Constituigdo Federal e Estatuto da Crianga e do Adolescente, o que, infelizmente, sé foi conquistado hé menos de um més. Para a determinacdo da criagao da escola indigena, a Secretaria de Educacdo do Estado de Sao Paulo precisa enviar materiais compativeis com a educacao bilingUe e diferenciada, mas soubemos que os indigenas continuam tendo problemas para a entrada no parque desses materiais e a merenda escolar das criangas. Além disso, o professor indigena nos disse que est fazendo especializacdo em educacdo ambiental e pretende passar seus conhecimentos para a comunidade, o que nunca foi feito por parte dos profissionais que trabalham na drea e contestam a permanéncia dos indigenas na regio. Uma questo bastante interessante deste processo é que a direcdo do parque e a Secretaria de Meio Ambiente dizem que a presenca dos indigenas no parque causa danos ambientais. O paradoxo e 0 tragicémico desta afirmativa é que esta "preocupacao coma destruicdo do meio ambiente”, sé tem validade da porteira do parque para dentro, pois, da porteira para fora, nds podemos observar, ao longo da Rua Saturnino de Brito (rea do entorno), centenas de edificagdes nas encostas do morro e a beira-mar, como também varios lixdes, inclusive um a menos de 10 metros da porteira. Outra questo é que, diariamente, chegam materiais pldsticos entre outros materiais, vindo do mar na Praia de Paranapué, o que foi constatado quando estivemos nas gravacoes. Alias, a porteira nao existia antes da permanéncia dos indigenas, e desta forma, 0 livre acesso permitia que o local fosse utilizado por pessoas que ali entravarn para os mais variados fins. So dois pesos e duas medidas para a mesma questo. Entretanto, todos que conhecem um pouco de cultura indigena sabern que os indios vivern em harmonia com a natureza; que onde eles esto presentes, a natureza se preserva, isto porque, eles sé se utilizam do necessario para a sua sobrevivéncia e possuem conhecimento tradicional que proporciona 0 plano de manejo; se existem pessoas capazes de conservar e preservar o meio ambiente, estes so os indigenas. Outro ponto que precisamos lembrar, principalmente aqueles que nao entendem os direitos dos povos indigenas, a terra é que estes esto hé mais de 2000 anos no Brasil e antes do descobrimento eram aproximadamente 5.000.000 de indigenas, e tudo era uma grande floresta, inclusive aqui no litoral. Com a chegada do portugués, deu- se inicio & destruicdo de todas as matas, florestas, areas de mangues € ao processo de genocidio dos povos indigenas que hoje sao em torno de 600 mil em todo Brasil e aproximadamente 700 em nosso litoral. Onde foram construfdas as nossas cidades? Onde moram os no- indigenas, nao é no local das antigas matas e florestas? Quern destréi e destruiu 0 qué? Por que foi necessério que o legislador determinasse 4reas para a preservacao permanente do pouco que restou das nossas matas? Seré que ao legislar sobre as areas de preservacao levou-se em conta que existe, em nosso pais, uma cultura diferenciada que sobrevive somente nesses locais? Para poder realizar o filme documentério sobre a cultura indigena, comegamos entao a fazer uma série de contatos para tentar resolver © problema: conversamos com a direcdo do parque, que manteve a negativa; conversamos com o Secretario de Meio Ambiente do Estado de Sao Paulo, através de sua assessoria, que nos disse nao se posicionar porque a érea estava sob judice; conversamos com outras autoridades que nos orientaram a fazer o filme fora do parque ou em outra aldeia, por fim, recorremos a Ultima alternativa que nos restava: a justica federal, especificamente a juiza responsdvel pelo processo litigioso da questo fundidria, que emitiu a autorizacao judicial para a realizacao do documentério. No dia 17 de fevereiro, na parte da manha e com a autorizacao da Juiza Federal, nos dirigimos a0 parque com a equipe de filmagem e para a nossa segunda surpresa, havia na porteira um parecer da Procuradoria de Justica do Governo do Estado de Séo Paulo desconsiderando a autorizacao da juiza e proibindo a nossa entrada. Mais uma vez comecamos outras tratativas e nos reportamos 4 FUNAI e a Juiza Federal, que, mantendo sua decisao, reafirmou a autorizacao para nossa entrada e realizacao do documentério Por fim, com a determinagdo da Justiga Federal, conseguimos fazer as filmagens necessérias para a produgdo do documentério. Nesta convivéncia mais de perto com os indigenas da Aldeia Paranapu, pudemos perceber a relacao simbidtica dos indigenas com 0 meio ambiente, e que a tiltima coisa que fariam seria a destrui¢ao do local, pois € deste ambiente que depende a sua sobrevivéncia como povo e como cultura. Um relato que nos marcou foi ter ouvido que, ao perguntar para um indigena se ele sabia que eles estavam errados de estar em uma reserva florestal, ele respondeu que talvez ele nao estivesse certo, mas errado mesmo talvez fosse o fato de estarem vivos. Pudemos perceber como este povo vem conseguindo sobreviver ao proceso de dizimacdo imposto pela nossa sociedade genocida e excludente, através da preservacdo da sua cultura e identidade: misica, danga, alimentac&o, mitos, rezas, ritos etc, que vao passando de geragao em geracdo de forma oral: 0 que poderd ser conferido no documentério que sera lancado e divulgado em breve Para nés, da produgao e direcdo do documentério, foi uma grande experiéncia que nos faz cada vez mais admirar este povo e nos colocar & disposigao e ao seu lado na luta para que possam recuperar suas terras, conquistar seus direitos, conferindo as condigdes e a qualidade de vida que todos os seres humanos devem ter e para que © seu povo e a sua cultura se mantenham vivas por outros milhares de anos Até o langamento do documentério!!! *Tatiana Cantadori de Almeida - Bacharel em Direito Gestdo Qultural, produce e direcdo *José Dion/sio de Almeida - Historiador Gestdo Qultural, produce e direcdo

Vous aimerez peut-être aussi