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Gregorio Baremblitt organizador Grupos Teoria e Técnica = = mS ao = td a Es = =] 9 = = ri Ss s BIBLIOTECA DE PSICANALISE E SOCIEDADE Colegio IBRAPSI — GRAAL Vol. a2 1 GREGORIO BAREMBLITT organizador IBLICTEC. FACEMED FALENIBL GRUPOS: TEORIA E TECNICA graal |BRAPSI nee Capa: Ferdy Carneiro Producao Gréfica: Orlando Fernandes SCopwright by Gregorio Baremblitt e demais citados no indice deste livro. Direitos adquiridos para a lingua portuguesa por EDICOES GRAAL LTDA. Rua Hermenegildo de Barros, 31-A — Gloria 20241 Rio de Janeiro — RJ — Fone: 252-8582 Impresso no Brasil Printed in Brazil is 3* ReimpresBagistro_ YO44 Data 2B /o Bes 1a) Aquisijio Lenngom Data Biblioteca_Foce-cnidk i Ficha catalogrifica CIP-Brasil. Catalogaao-ne-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ Baremblitt, Gregorio. B229g ‘Grupos: teoria ¢ técnica / Gregorio Baremblitt, Felix Guattari, Maria Beatriz Sé Leiti. — Rio de Janeiro: Edigdes Graal, 24 edigdo, 1986. yn D (Biblioteca de Psicanilise ¢ sociedade: Bibliografia 1. Dinmica de grupo 2. Psicanalise de grupo 1. Guatta- i, Félix II. Leitio, Maria Beatriz de S4 III. Titulo IV. Série. CDD — 616.8915 158.2 | 82.0022 DU — 615.8516 BIBLIOTECA FACEMED INDICE Gregério Baremblitt 1 — A maneira de prélogo e de introduce... Gregério Baremblitt + 2 — Notas estratégicas a respeito da orientacdo da dindmica de grupos na América Latina ...-. 2... Félix Guattari 3. — A propésito da terapia familiar 2.002.222... Paulo Viana Vidal — Projeto de trabalho sobre o conceito de grupo na obra de Guattari e Deleuze 0.2... ee Alicia Celia Cadermatori — Algumas reflexdes sobre a dinfmica em grupos de mu- Iheres “sadias” em situaglo de gestacéo Eduardo Losicer ‘6 — Grupos (fantasmas) no hospital ... se Antonio Lancetti 7 — Para uma reformulagio da experiéncia grupal ...... Roberto Fernando de Carvalho 8 — Grupos: 0 que se passa neles? o que so? .... 11 39 13 83 Priscila Melillo de Magalhies 9 — Simtese critica da teoria dos grupos em George La- passade ees veeeeeeeeneee seteeadesees ‘Diana Laura Salzman 10 — Didier Anzieu — Notas para uma leitura de sua teoria Maria Beatriz Sé Leitio 11 _ Conceito de grupo em Grimberg, Langer ¢ Rodrigue 107 127 137 Maria Beatriz Sa Leitdo 12 Bion: considleragdes a respeite dos grupos --. 147 Dionysia Rache de Andrade 13 — 0 grupo — como o entende Bauleo ......-....--- 159 Osvaldo 1. Saidon 4—0 operative de — Guia Termino- Iéeico. pare a consirucao de uma Teoria Critica dos Grupos. Operatives veceesteeses+) 1OOA8E Vida Rachel Kamkhagi 15 — Horizontalidade, verticalidade, © transversalidade em UPS oes eseewrese a eeceeaeesteeerepenees BOS A MANEIRA DE PROLOGO E DE INTRODUCAO Esperamos que se evidencie, desde a capa até a tiltima pagina deste livro, que 0 mesmo € resultado de uma tareja realizada por wn movimento coletive. Tanto os autores quanto o organizador somos imegrantes do IBRAPSI (Instituto Brasileiro de Psicandlise, Grupos @ instimigoes) do Rio de Janeiro ¢ de Sao Paulo. Entre as muitas coisas que nos unem, esté nossa confianca na possibilidade de aplicar « teoria psicanalitica, (moditicada ¢ combi- nada com outros recursos conceituais), instrumentando téenicas de ‘operagto em pequenos grupos, em estabelecimentas e instituigaes. a servigo do péio progressisia da mudanca social. Como locatizar e datar o inicio de nossa corente, escola, orien- taco ou como se queira chamar? Teremos direito a crer que se inicia com nosso trabalho junto 00 pioneiro Pichon-Riviére? Haveré comecado no rigor materialista que aprendemos ao lado de Bleger? Na nossa andtise de grupo com Rodrigué? Nas nossas super- visdes com M. Langer? Na iniluéncia atual dos institucionalistas? ,_,Comecou com a pequena epopéia do Grupo Plataforma Argen- fino? Com a Federagio Argentina de Psiquiatras? Com 0 Centro de Docéncia ¢ Investigacdo dos Trabathadores Argentinos da Sade Mental? Com a EPFSO (Escola de Psicologia Freudiana e Socio- ‘@idlise de Buenos Aires)? Ou com a EPSO de So Paulo? Como ferd incidido na nossa histéria 0 CEP (Centro de Estudos Psicanali- ieos de Rosério), ou 0 CEP de Tucumén, ou 0 CPS (Centro de Psico- logia Social) de Montevidéu? Serd que pode haver injluido em algo © Circulo Psicanalitico Independente do México? Tradigdo jd extensa de uta em cujo processo teriamos que dar lugar a Bauleo, a Kesselman, a Pavlovsky, a R. Paz, a Matrajt, a Dangeio, 2 Debrasi, a Rocitchner, a Jankelevitch, ¢ J. C. Volao- vich.... Ea tantos outros aos quais néo podemos aqui jazer justica. O que é de certo é que nossa linka apenas artificialmente pode ser dada como se iniciando no dia em que Luis Fernando de Mello Campos, Chaim Katz © o que redige estas linhas resolvemos organi- ar 0 Primeiro Simpésio Internacional de Psicandlise, Grupos e Insti- tuigdes no Rio de Janeiro, a partir do vero de 1976. Tal evento constituiu (segundo muitos opinam) 0 fato mais im- portante acontecido no Brasil para uma abertura critica da psicandlise. Naguela oportunidade, os amigos brasileiros e estrangeiros que nos acompanharam (9 melhor da vanguarda em saide mental do mundo), foram tio inumeraveis quanto inesqueciveis. Dentre eles, mencionaremos apenas 0 querido e recentemente perdido Franco Basaglia. Pouco depois, se fundou o IBRAPSI, com a qjuda de um grupo grande de companheiros, disciputos meus, brasileiros e argentinos. Nosso propésito era criar uma organizaczo que nos permitisse subsistir, investigar, aprender, ensinar, prestar servicox e publicar, inspiradas em quatro principios tundamentais: cientificidade, inter- disciptinaridade, ampliacdo. da formacdo e da assisténcia a setores cada vez maiores da populacao, articulacio com as préticas das for- gas vivas da sociedade onde trabathamos. A tareja era, as veres, supreendentemente dificil. Porém, ié cestévamas acostumadas. Outros certamente a continuaraio ¢ alguém a escreverd, algum dia. ‘Aos dois anos da sua inauguragio, » IBRAPSI prossegue sua faina, eu diria que implacavelmente. Cinco turmas em formacio, uma Clinica Assistencial, varias in- vestigacdes, e o jornal Sigmund nos alentam @ continuar: ‘Nao é por acaso que este nosso primeiro texto publicado trata de diversas conceituarées, aplicagdes e avaliandes da “dindmica gru- pal’. © trabalho em grupos é nosa principal arma e, porque ndo 0 confessar, também nosso hobby. Quem percorrer estas paginas, encontrard provavelmente diversos niveis de maturidade tedrica, lend formulacdes incipientes ow, inclus:- ve, contraditérias entre si. Testemunhos nio de ecletismo, mas sim de miituo respeito e abertura em nosso pensamento. Contudo, sem- pre se poderd seguir 0 fio condutor dos principios antes citades, que ‘nos identificam acima de nossas diferencas. Tratamos de inctuir artigos que, sem deixar de trazer proposi- ses originals e criticas, comportam também sinteses claras ¢ simples Gos autores mais significatives no panorama atual da dinémica de ‘eupos. Intentamos assim produzir um livro itil ndo upenas para ‘os “iniciados”, mas igualmente para os principiantes. Renunciamos @ agradecer a todos aqueles que nos possibilitaram este resultado. Permitir-nos-emos uma especial mengao a Félix Guat- tari, cujo escrito inédito incluimos por gentileza da sua tradutora. Teualmente agradecemos a pesto de Moisés Kendler que possibilitou aa edigao do livro e a ajuda de diversos companheiros tradutores revisores. Para concluir: sabemos que os grupos, embora ainda nao te- nham atingido a eficiéncia (baseada muma cientificidade convincente), impuseram sua inegével cfiedcia (cuja avaliacdo jd € possivel fun- dando-se numa leitura praticada com recursos tedricus de certa con jiabilidade}, assim como numa severa autocritica social. Oferecemos aqui nossas elaboragbes © experiéncias. Nos ¢ nos- sos clientes as consideramos operativas e interessantes. Somos eminentemente grupalistas. Podemos deixar de sé-lo. Grecério F. BAREMBLITT ‘Organizador NOTAS ESTRATE ‘AS A RESPEITO DA ORIENTACAO DA DINAMICA DE GRUPOS NA AMERICA LATINA Gregério Baremblitt Dedico este trabalho a0 movimento dos TSM argentinos. 1 Convenhamos denominar dindmica de gmmpos uma difundida, complexa e variada corrente contemporanea de: a) Saberes teérico-metodotégico-réenicos, formalizadas ou ndo, sob a qualidade de corpos “cientificos”, doutrinas, ideologias pré- ticas etc.. ___b)_ Priticas socisis, profissionais ou nfo, de prestacdo de ser- vigos. c) Agentes praticantes © usuérios. 4) _Instituigdes produtoras, reprodutoras ou reguladoras, orga- nizadas em estabelecimentos. ©) Movimentos politizados e ideologizados que exercem um poder © propagam crengas etc.. & a) _concordemos em reconhecer um relative comego cronolé- gico para esta orientacio no quase inicio do sécule, por exemplo il cont as experiéncias de Pratt, em 1905. Obviamente, pode-se eq- contrar uma infinidade de antecedentes histér © capitulo de historia em Lu Dindmica de los Tapani, (Talvez corresponda lembrar os grupos auogestives wa Tuguslavia). a) Considerando-se campo da vida social de onde se origina Gants, predominantemente praticada. a dindmica grupal dispoe de tres areas principais de geracéo e ago. A saber: 1 medere (na Gual 5 técnicas grupais so. empregadas com finalidades psicopro- féticas e psicoterapéuticas), a pedagogia (procedimentas ‘grupais de gnsino) € a sociologia (psicossociolagia dos pequenos grupos na in- b) Tendo em vista suas fontes epistemol6gicas (extremamente intrincadss), pode-se tracar o segninte panorama sintésce Say danwiana, Kleiniana, “psicolégica do ego” e, ultmamecie ie caniana, Existe uma base fenomenolégice-existencial, apoiada em Sartre, Buber, Binswanger, Merleau-Ponty, Scheler. etc, Exe uma base psicodramitica cujo pilar central &, indubitavel mente, Moreno. Existe uma base empirista, pragmatista, que reine a pedagogia democritica de Dewey com 0 comportamentismo social de Mead ¢ também de enumeragzo. Unicamente enquanto tentative de colocar algumas balizas neste panorama, assinalamos. Bion, Ezrisl, Foulkes, Anthony, Balint. Schilder, Taylor, Bach, Gibbs, Cartwright (Uma linha francesa: Anzieu, Kaes, Lebovici, M. Pagés, R. Pagés, Lapassade, ete. Bins linka argentina: Pichoa-Rivitre, Grinberg, Langer, Rodri- 08, Bleger, Bauleo, Ullos, Usandivaras, Pavloveky, ele Como se sabe, as misturas © combinagies entre tendéncias so inceccritive’s, a tal ponto que se pode afirmar que ni ence Ge” Géncia alguma que nfo haja incorporado elementos teGricos onsen, cos das outras. i) Nas stimas décadss, a evolugdo da dinimica de grupos se aricula © desemboca no surgimento de outras correntes, fue c as Tu2ior importincia caracterizar: as psicologias-peicoterapias ‘hstitacie: Tentes fe eSoloeias-psicoterapias de massa. (Algumas dessas con. rentes foram chamadas de “Potencial Humano™ ) Estes dois fenémenos representam conseqiigncias teérico-téeni- Fas Us ,orientagdes epistemolégico-cientifico-operativas clades ny resultam da utilizagao das mesmas, de forma paid © setorizads, por parte dos aparethos ideolSpicos jurdion, politicos dos estados capitalistas ou por vastos setores “Colne, Flos” de diferentes sociedades contemporineas. b) Entendemos por _psicologias-psicoterapias institucionais Tclaerenmtasdes te6rico-operativas surgidas nos Estados Unidos, Inglaterra, Argentina © Franga, respectiva e suceivinene nos EULA, partir da famosa ergologia ou psicofisiologia do pupalho, que complementa o taylorismo, passando pouco depoe pela Pyicossoccologia das relagies humanas na indistria (eajo pioneiro foi Elton Mayo), se desenvolve a profusa ¢ confuse Psicossociologia das 12 Na Inglaterra. por intermédio da articulagdo entre a psicanélise Kisisiana © ‘diversas concepcdes sociolégicas anglo-savés, Eling tacaues clabora uma psicologia institucional que considera 4s ian ‘uisdes como sistemas de defesa contra as ansiedades inconeicnt’ Ne Argentina, estranho ponto de encruzilhada das meis diversas siicntacdes, Pichon-Rividre e seus discipulos: Bleger, Ullos, Beaks. Malfé, Baremblitt, etc, incursionam a partir de diferentes Angulos no ambito institucional médico, pedagSgico e empresarial, orquestrando dle mancira muito peculiar recursos extrafdos das escolis forte ricanas e inglesas, mas igualmente de Politier, de Bachelant , final- dat aaa? freudo-marzisimo e do materialismo histérico. A’ partis at, estas idéias © préticas se difunslem pela Américe Lating inane especialmente no Uruguai © Brasil, sempre vinculadas # un enfogue Na Franga, tendo inicio com ox trabalhos espontineos ¢ Praticos de Tosquelies, sc desenvolve uma importame corcente instituciona- lista em psiquiatria, pedagogia e empresa, sendo que se pode mare, Larret'e Sus Principals representates, ‘Ours, Vasquez, Lapassade, Lourau, Mendel, R. Pagés, M. Pagés. M. Lobrot, Gusteari me patolégicos, desviantes, marginais, sub-normais, delinguentes ou cok, Wersivos; quer como socialmente integrados, simplesmente idiowr, craficos (mulheres, criancas, ancifos, negros ete); quer iadkown nados (por exemplo, populacSo urbana em geral) E redundante ilustrar que, entre os miétodos mencionados, os natalide ee oes $80 35 campanhas de altabetizacso, de controle Co nite aS CORTE 0 alcoolismo € a drogadicedo, a peiguiaine nome xologia. ais disciplinas teriam ido infiirando em primeiro lugar a psiguiatria clissica, asilar e repressiva, para transformé le em Psico- terépica, posteriormente a medicina inteira (tornade. psicossomitica, cérico-visceral, ov “da pessoa”), para depois avangaicm, sob wit # moral sexual cultural (como psicomedicalizagdo das diferengas). @) _Constantemente, como resposta contestetitia ou altemativa 3g Eunprego das correntes anteriormente referidas em prol do controle social, sttgem movimentos, geralmente grupalistas ou muliindg, si fut Daradigma seria (reconhecendo como antecedentes ‘una sééie de Intas juridicas pelos direitos dos presos, dos internados etc.) 4 antipsiquiatria. Iniciads pelos psiquiatras ingleses Laing « Cooper, € continuada por uma ampla gama de experiéncias tebrico-pragma- Be ergnte 3 “Elinicas,Tivres” nos E.U.A., a5 terapias fecineic, aplicades 3s massas de: medicalizacio, psiquiatricasio e psicologiza- $f0 das felacses sociais, entre os quais figuram: Szas7, Goffe s Eiht: Bos EWA, lich no México, Foucault, Caste, Deleuze Guattari, Passeron © Bourdieu na Franga, Basaglis, Berlinger ¢ Gentis na Itélia, etc., ete. terapia gestaltista (de Perls), a Rogers), a andlise transacional 5 a) Adotando uma conhecida iérmula classificatéria utilizada Por Grinberg, Langer e Rodrigué. digamos que, na histéria das técnicas grapais, apés um periodo inicial de psicoterapia pelo grupo (aso de mecanismos de sugestio e identificacio tipo alcoslatras ano. nimos)_paulatinamente se foi impondo uma modalidade no. grupo (psicanalise individual de cada membco na presenga dos demais), até se generalizar, nos ambientes de usuarios, a psicoterapia do grupo (psicandlise do “Snconsciente grupal, composto de fantasmas concer, nentes 20 grupo enquanto unidade). Se bem que scja verdade que os modelos e procedimentos psico- dramaticos, “humanisticos", " comportamentistas, biologistas ou socicantropolégicos, assim como os cibernéticos, nunca deixarem de ser empregados, acreditamos poder afirmar que, pelo menos até 1960, as combinagdes destas escolas com as psicanaliticas © 9 auge mesmo das psicanaliticas dava ao freudismo ortodoxo uma comside. rével hegemonia nesse campo. Tal predominio ocorria nos cirealos de usuarios das grandes cidades da América do Norte ¢ do Sul ¢, um pouco menos consideravelmente, na Europa. O universo de clientes (que € notavelmente Timitado para qualquer sistema psico- terapico) era bastante restrito, devido a uma complexa superdeter minacgo, bastante Sbvia, que no estudaremos aqui. Desde aquela época até agora, se produziu uma notivel ampliacdo do referido Universo de usuétios, que esté relacionada com o proceso descrito em 4, bec. 7 Muito sumariamente expostas, algumas das causas deste auge se devem a: transformacées na produgo de necessidades e demandas. aumento des padrées de consumo e do poder aquistivo das camadas baixas ¢ médiss da pequeno-burguesia assim como do proletariado especializado urbano nos capitalismos metropolitanos: exploso de- mogréfica © migragdes imternas do campo para as cidades nos capi- talismos dependentes; tecnologizacao geral da luta de classes. erise das ideologias religiosas, dos rituais e dos valores em geral. como produto ca passazem plena para a domindneia econtmica no capita- lismo monopolista; crise institucional da familia muclar burguese, impessoalizagéo geral das relagdes socizis: incremento da tensio social devido & guerra politico-ideolégica inter © intca-nacional; crescimento da subversio, da marginalidade e da delinquéncia: pro- Pagacao de uma contracultura contestatéria dos valores dominantes do sistema (especialmente nos E.U.A. e Europa) © referido aumento do niimero de usuarios das técnicas grupais seguramente atinge os grupos manejados sobre bases psicanaliticas, mas € sensivelmente mais acentuado no caso das outras orientagdes, b) Tratemos agora de reconstruir, de forma super-esquemé- tice, © processo social de nascimento,’ crescimento, proliferagio, concorréncis. recuperacio e/ou desaparecimento das correntcs pace, ogico-psiquidtricas. A imencdo é, mum primeiro momento, atalicar © processo em geral, para depois abordar seu desenvolvimento dest gual em diversas formagoes coonémico-sociais, nas suas. diferentes classes, camadas de classe e setores de camadas de clasce. quamo aos costumes) pelo aparelho psiqh so em manter uma ordem precaria, afetada pelas lutas sindicais ¢ Pela criaeau dos paises socialistas. “Emprego repressive diteto dos aparelhos ideoligicos, reforgamento d= uma ideologia conservadore § qrdicionalista na familia, na igreja, na escola e nos meos de ifusio de massa (estruturas remanescentes do feudalismo nio ques, tionadas a fundo pela revolugéo burguesa). A contestago (na area que nos interessa especialmente a see, entre outras formas, através da psicanlise como uma ideo. ia tesrico-pritica disccetamente enérgica. embora comtraditira e parcial. de: critica do consciencialismo que mantém uma rel fencional com a razio instrumental do capitalisma incipiente: eriine da moral sexual cultural genitalista © reprodutora: critica do cereus e 8 & & da Kesislagio penal; critica da pedagosia repressiva © do went Sianeli: extica da psiquiatria organicista, fenomenoligice, Sasifcetsria, formalist, heredogenetista e tepressivar citer a medicing positivistan ista; critica da familis nuclear como ins- fuusie no conflituase. da religiio enquanto “neurose ubsociea ng 2° Periodo: Evolucio do capitalismo para sua fase superior, Gultiaecional e imperialista, Necessidade de incremente reprodu- Sto emplia idade de reduzir © orcamento estatal, afeiado Fos Somidas armamentisias: exigéncia de ripida recuperacio da increas trabalho: necessidade de abertura de novos mercadee eo Srementar 0 consumo nos antigos; necesidade de rectus A qUe considera a psicandlise unilatersimente como um poder bascudo numa cientifizagio da lo sen. ‘nos parece 139 engentons quanto 7 sistemas repressivos para que se adequem & liberalizacio propi as efeitos anteriormente referidos. 32 Perodo: Capitalismo “planetério” imtegrado (estado de coleboragio ¢ equilibrio entre os diversos capitalismos multinacio- nais, capitalismos de Estado, social-capitalismos, social-imperialismos, ¢ capitalismos comunitéries). Tomemos esta expressio de Guattari, nio sem restricdes. Os sistemas de controle social se modernizam, apelando para os seguintes movimentos: articulagdo entre os servicos de satide men- tal estatais e privados, com assessoramento dos primeiros peles segun- dos e subvencionamento, pelos orgaaismos estatais, das segundos. Reprofissionalizaco dos movimentos contestatétios em saide mental e recolocacio destes sob 0 controle juridico-corporativo cor- respondente. Definicdo do estado de saiide como patolégico ¢ transformagio dos conilitos econémico-politico-idealigicos em problemas de psico- profilaxia ¢ psicoterapia. Criacio de movimentos ¢ formacio de comunidades artificiais regidas por uma ideologia humanista, hedonista, fideista, espontaneis- ta, sensitivista, imediatista, pacifista, ecumenista ¢ discretamente con- sumista. Nela, se misturam o cientificismo positivista ¢ a eficdcia répida, maciga e acritica do comportamentismo com a beatitude exté- tica, inanista, contemplativa © ndo diretivista das psicologias existen- ciais, zen-budistas, sensualistas etc. A psicandlise, tanto como pratica técnica individual elitista, cara e prolongeda, como enquanto procedimento ampliado através das intervengies ¢m crises, das psicoterapias de objetivo ¢ duracdo limi- tados, da terapia de casel. de grupo, de comunidade terapéutica, de hhospital de diz, de psiquiatria de setor. de psicoprofilaxia etc., é complicada e dificil. Continua a exigir um pesado preparo para os féenicos que a realizam ¢ condigdes de certo rigor para o sev exercicio. < Por outro lado, € acusada de ser demasiado verbal ou intelec- tualista, austera e abstinente, poueo penctrante em certo sentido € de resultados priticos dificilmente avalidveis, por outro, Como ideologia capex de ser inscrita doutrinariamente a nivel de comunicasio de masses sob a forma de estilo de vida, nio € 2. Tudo isto matisado por periods de pré-guevra, guetta © pés-guer!> Speeriatistas com as cons necosidades grupalistss de siestramenta, reabihte 5» 18 funcional, pois contém, tanto mas suas deformacdes adaptacionistas quanto na versio freudiana origindria, diferentes facetas que 2 tor- nam: seja pouco populista e enforizante (demasiadamente respeitosa da tcoria, interessado na racionalidade dos afetos, defensora da liber dade do descjo, mas cética em relacdo a seus resultados etc., ete.). ‘Seja suspeitosamente inclinada a se associar a0 marxismo, tal como aconteceu com escola de Frankfurt, com Reich ou com o movi- mento Plataforma Internacional”. c) Estes processos macrossociais_ transcorrem, obviamente, transversalizando movimentos institucionais que afetam a micropoli= tica das organizagdes profissionais de especialistas a que nos referi- mos.em 1, a. As associacdes psicaniliticas oficiais, gue durante um extenso periodo pioneiro mantiveram uma estratura fechada, cuida- dosa quanto 2 herenca freudiana e defensiva frente aos ataques das forces tradicionalistas persistentes no cepitalismo incipiente, acaba- fam se abrindo (com deformacies ou nie) & demanda social que o rescimento capitalista Ihes apresentava. De qualquer forma, 0 cha- mado “crescimento em circulos concéntricos” (um de seus aspectos mais importantes foi, indubitavelmente, as aplicagdes analiticas em grupos) foi encarado pelas associagiies psicanaliticas com cautela e asticia. A incursao dos analistas de prestigio nos hospitais, escolas ¢, inclusive, nos meios Ge comunicagao de massa, fol deixada por conta da iniciativa pessoal de cada um deles © até mesmo foi fre- queatemente descstimulada, através de sutis recursos de doutrina~ ‘Mento de divi ov mecanismos institucionais de perda de status. Todas as vezes que as associagdes psicanaliticas no conse- Quiram impedir esse movimento de secularizacdo da anilise, acabaram decidindo “acompanhé-lo", e formersm assim “Sociedades Psicanz- Wices de Grupo” paralelas © sempre formal ou subrepticiamente ‘subsidifrias suas. Estas agéncias jamzis obtiveram o poder, o pres- Mgio, o lucto nem a produtividade das institvigdes “mes”. Tanto o Procedimento grupal quanto os anslistas dedicados a esta especialida- de como os usuarios da mesma sempre foram vistas como “cidaddos ‘segunda categoria” por relagio aos monstros sagrados, os didatas, € 20s consumidores da bem cotada anilise individual. Alguns analis- fas inquietos ¢ talentosos, que foram pioneiros em termos da investi- ‘Eis4o em técnices grupais, acabaram por abandond-las. frente x la pressio, ou continuaram a praticé-las de mancira enver- Bomhada, cvitando. por exemplo. publicar coisa alguma a este Fspeito, 2, ,Apesat disso © como jarsio. < como vulgata distorcida que adota pera ° jars 10 walgata distorcida que sot 19 4) Neste estado de coisas, sobrevém, na ordem da especifici- dade institucional “psi", dois acontecimentos importantes. 9, -moviniento psicanalitico, com reagio adulteraglo dos prineipios capitais da orientacio freudiana, perpetrada prevalente- mente. pelas escolas norte-americanes: culturalismo ¢ psicologia do ego; € igualmente a burocratizaco da técnica e da formagio de analistas, implantada por todas as associagdes psicanaliticas sem exce- co alguma, comeca e se aperfeicoa durante quase trinta anos a escola de Jacques Lacan. Por outro lado, a difusio macica de outras correntes rivais criticas da psicandlise (tais como as que foram reiteradamente carac- terizadas mais acima) faz com que compitam vitoriosamente contra esta a nivel do recrutamento de alunos, clientes © adeptos, © que disputem com ela 2 hegemonia até mesmo no plano da sua popula- rizagio enquanto doutrina inspiradora de um modo de vida. Frente a estes dois capitais acontecimentos, a psicandlise oficial seage adotando uma série de medidas cuja proporcfo varia conforme © pais em causa. Em primeiro luger, notando que esto fadadas a perder a luta pela infiltracdo das instituigdes, (tanto pelas caracteristicas de maior penctraco que possuem os outros movimentos, que respondem mais inescrupulosamente & demanda e que, de alguma forma, reivindicam mais abertamente determinadas conquistas liberalizantes Tegitimas. . quanto porque sua expansio € apoiada econdmica e politicamente pelo capital internacional), as associacdes psicanaliticas se setiram ara o espaco vedado dos seus feudos burocriticos. Embora tentem algumas medidas de permeabilizagao, a autorizag3o do ingresso de psicdlogos, por exemplo, a fascistizagao da sua regulamentacao inter- e da re-elitizacio. Sua oferta aponta assim para um universo de consumidores Pequeno, mes selecionado e de muito maior poder aquisitivo, 0 das oligarquias industriais, financeires e agrarias. Conscientes da propria decadéncia teérica e improdutividade heuristica, clas procuram recuperar o lacanismo, 0 que conseguemt sem dificuldade, cultivando 0 hermetismo do estilo ¢ 0 uso sofisticn as ciéacias formais que caracterizam esta linha do pensamento psi- canalitico francés. A armacdn de uma “nova” teoria, de aparéncia a0 mesmo tempo esotérica € cientificista (efeito que também pode ‘set obtido gracas a alumzs formulzetes de Bion), devolve as corpo- ragdes uma capacidade de emissso bibliogrdfica taticamente neces- 20 sitia, pois deve se unir 20 restricionismo estatutario que se adequa bem 205 requisitos de um posicionamento aristocgiti i e FACEMED 8) Tudo 0 que foi exposto anteriormente, permite efetuar livre- mente 0 esboso de um panorama geral do estado atual da dindmica de grupos. entendendo-se por isto © conjunto que procuramos definir no ponto 1, itens a, b, c,d, e. Hoje em dia, quase todas as correntes “psi” possuem uma rami- ficacSo grupal por cujo intermédio trabalham no plano da prevengao, diagnéstico, tatamento, acompanhamento, “operatividade". “encon- tro” etc, etc. A. psiquiatria ortedoxa raras. vezes resiste a algum tipe de incorporacio das técnicas grupais e, na sua tual orientago tecno- erética, consegue combinar com um “éxito” razoavel suas antigas armas de internacdo, contencaa, psicodrogas © procedimentos biol6- _gicos com os procedimentos grupais do hospital de dia, os da preven- ‘go ¢ higiene mental, 2 psiquiatria comunitéris, « de setor. a de lerrit6rio, a medicina psicossomatica, a psicologia médica, a terapia scupacional. 0 servigo social ete., etc.', Naturalmente, dentro do quadro da sua organizagio estatal e em complexa colaboracéo com a iniciativa privada, esta quase hhomogeneamente a servico do controle social ¢ da chamada produgao caipitalista de bens de salvagao ou reparacdo, atendendo a preser- vagio da ordem constituida e & reproducéo do sistema de producio. foi dito, a pedagogia moderna de 1.°, 2° e 3.° grau, ‘assim como os dispositivos de informacSo propedéuticos e educacio- Gals disseminados no seio da familia, ou a planificagdo estrutural desta, as diversas atividades de dovtrinagio teligiosa, proselitismo Politico-ideolégico, producto industrial e agréria, pesquisa de merca- do, criagao de demands, induso 20 consumo, instrusio militar, puni ‘S40 ou reebilitago penal etc., etc., etc, so “feitos em grupo”. b) As teorias técnicas que inspiram tamanha diversidade pe stieasies obedecem as modalidades detalhadas em 3, 6, ¢ em A bibliografia que detatha os fundamentos te6ricos ¢ o instru- ‘Mental téenico deste caleidoscépio de orientagdes jé foi reiterada- a 4 Obviamente isso. ocorre muito pouso, como veremos, © na. estita Sependtocin das. pecoliardades polices de cade comjuature 21 mente reconhecida como incrivelmente abundante, Nao é menor a quantidade de escritos criticos gue tomaram o grupalismo como objeto de um trabalho de desmascaramento ideoldgico, questiona- mento tedrico, refutasio técnica ou dentincis econémico-politice. De todos eles, os que nos impressionaram como mais valicsos so: dois severos artigos a respeito de grupos de J. B. Pontalis, no sea livro A Pricandlise depois de Freud, um extraordinario livro de F. c R Castel e A. Lowell, La Société Psychiatrique Avancée*, especial- ‘mente nos seus capftulos VI © VIII. Boa parte do que zqui escre- vemos se bastia na Ieitura dos mencionados textos, com os qu: entretanto, mantemos algumas discordancias cuja exposicio nos servi #4 pare a articulaggo de algumas idgias provisorias « respeito do tema deste trabalho. ©) _ Os artigos de Pontalis efetuam ums explorago da mode! thea teorica através da qual se procurou realizar até hoje @ explicagao da fenoménics grupal. Expondo agora répida e nfo textualment Pontalis, com um rigor que caracteriza todo psicanalista de respei tavel formago freudo-lacaniana, observa que os recursos coaceituais das teorias sobre a dindmica grupal sto rudimentares. Traduzido e ampliado para um discurso epistemolégico materialista-racionalista, tal como o enunciaria a escola althusseriena, o protesto de Pontalis poderia ser exposto dizende-se que as concepgdes sobre grupos 530, de maneira geral, ideologias tedricas, corpus de nogdes quer empi- ristes-descritivos, quer biologists, quer familiaristas, microssociolo- gistas, formalistas, funcionalistas, literdrios, cinematogrificos ou tea- trais. Quando tais modeles séo_utilizados na leitura do que acontece Ro grupo, no se consegue sendo consolidar preconceitos ou repetir frases feitas € opinides e, portanto, reconhecimentos-desconheci- mentos. Estes mitos te6ricos repetiriam frequentemente 0 idedrio «: tineo que o grupo compartilha a respeito de si proprio. Talvez estas fepresentacdes até mesmo comecem a fazer parte da imagindria gru- Pal, 4 forca de serem repetidas, difundidas e até mesmo empregadas pela linguagem interpretativa Pontalis observa que a eficdvia técnica que se atribui aos grupos € utépica, na medida em que nao existe uma teoria convincente através da qual poderiam ser avaliadas as transformagtes grupais Assinala que as razdes pelas quais se convoca grupos ¢ se opera com eles represeatam, mais convicedes moris ou politicas e configu- rages dades de fato, na vida social, que decisdes prescrites por um 5. Editora Vores, Petnipolis, 6. Editora Gastel, Paris, 1979, 22 saber, a respeito da dinfmica profunda do psiquismo grupal. Basica- mente nio estaria determinado o lugar do grupo no universo simb6lico. Lembra que atualmente <6 se maneja de aproveitavel, 2 respeito do inconscienie grupal, 2 concepsao freudiana, (expressa em “Psicc- logia de Grupo e Andlise do Ego"), de que a massa identifica o lider ou um trago do mesmo com o seu ideal do ego e de que, desta forma, se produz um vinculo coletivo entre os respectivos aparelhos psiquicos dos integrantes. Tal vinculo seria de ordem imagindria e talvez apenas Bion haveria retomado este niicleo de conhecimento ¢ 0 incorporado a um aproveitamento Kleiniano, para formular sevs Pressupostos bisicos, estruturas inconscientes compartilhadas que o psicanalista inglés teria consegnido detectar e classificar. © autor insiste em que toda compreensao do que acontece num ‘grupo requer a localizagdo deste no tecido da sociedsde e uma arti- culacdo entre as estruturas desta e as estruturas inconscientes desco- bertas pela psicandlise. Afirma que nada de convincente foi feito a esse respeito. Assim criticadas, determindss idéias proclamadas pela dinfmice de grupos, como as do “grupo como totalidade indivisivel diferente de um conjunto de individuos": do “grupo como campo de relacdes interpessoais” onde sie desempenhadas “papéis", “liderances", que Preenchem “fungdes” orgunizadas através de “normas e padroes”, determinando posicdes de “status” historiadas numa “cultura gro. pal” elc., etc., etc., nic passariam de puro nominalismo. O mesmo ‘se daria com a importincia conferiéa 4 condicio de “naturais”, atri- buida aos grupos de tarefa (ou operatives), ou a de “artifciais", ‘atribufda aos grupos convocados para que se centrem nas vicissitudes Sus prépria constituigdo © funcionamento. Finalmente, o autor se pergunte se o grupalismo nio seria sim- Plesmente uma respostz a uma demanda social, ¢ suas “teorias” um Conjunto de racionalizacbes justificadoras. Como se nota, a critica de Pontalis (sintetizada por nés inten- Sionalmente) se centra na falta de um critério testico de cientifici- Para a dindmica grupal, por comparacao so que poderia infor- ‘MAE 2 prépria psicandlise “individual” 4) 0 referido livro de F. e R. Castel « A. Lowell (admirdvel Pelo que tem de sistemitico ¢ euxaustivo) situa a dinémica grupal, ‘Bas suas versdes clissicas ¢ atuais (juntamente com todas as oulras Praticas psi), no quadro da estrutura e processo sécio-politico-ccond- ‘Mico-ideoldgico norte-americano. Define tal formaco econémico-politica como sociedade “libe- ral” avancada que teria, entre suas caracteristices primocdiais, a de transfigurar os conflitos resultantes do sistema de exploracio ¢ domi- aco capitalista (tanto sob 0 classico aspecto da luta de classes ‘quanto provenientes de todas as outras contradicies nas. relagdes sociais que a irracionalidade do sistema acirra) em problemas de normalidade-anormalidade ow satile-patologia, Por meio desta manobra, se conseguiria relegar, para uma ttime instincia o mais distante possivel, o emprego dos mecanismos de forga do controle social. Criar-se-ia deste modo um imenso dispo- sitive médico-psicolégico de vigilancia e preservacio da ordem consti- tuida, que preveniria, detectaria © reformaria a marginalidade, = delingiiéncia e a subversdo em estégios muito incipientes, empregando ‘uma violéncis disfarcada compativel com as exigéncias juridicas de “democracia” ¢ as livres-empresistas da producdo e do mercado. Montar-se-ia deste modo uma vasta organizacao repressiva, dotada das ceracteristicas da grande empresa, n2 qual os servicas de controte social sf comprados segundo as leis do mercado, € a cuja eficdcia contribui centralmente a conviceao, por parte dos agentes e clientes, de serem funciondrios © beneficiérios de uma nobre tarefa. Por outro lado, o sistema esté preparado para produzir ¢ regular 2 dissidéncia de tal modo que favorece seu surgimento sob condigdes manipulivels ou a assimila, legalizando-a e até mesmo comerci zando-e, na medida em que aparece de maneira nfo prevista. Desta forma, no caso especial das téenicas grupais, 0 texto mostra como diversas correntes grupalistas, tais como as mencions- das em 4, a, b ec, oriundas da marcha dos movimentos contesta- térios norte-americanos, se inspiravam e procoram realizar prizcipios © objetivos certamente revolucionirios. Tentava-se- 1) _ Desprofissionalizar o exercicio de qualquer campanha de auxilio Aqueles que, por diversos motivos, dela necessitam, escapan- do-se deste modo da supervisdo juridica das corporagdes. Il) Rechacar o emprego de categorias diagnésticas, evitando- se desta forma qualificar diversas peculiaridades como doencas, 0 que prefixa a superioridade do operador, enquanto representante de ‘uma maioria “sadia”. TIT) Eliminar a remuneraco dos servigos, com prestadores © usnérios se mantendo gracas a ftindos obtides através do trabalho em comum ou de fontes favoréveis. IV) Garantir aos movimentos a maior permissividade sexual © Tespeltar seus hibitos socialmente condenados, na medida ivo/grupo com a demande, transferenca ¢ cura na’ pisteapia iat ‘Uma vez sumarizada ¢ psicoterapia i ional, delinea- ’ psico tituci i ‘Rogdes centrais do livro de Gusta: S _, Transformacdes de ai 4 _de oposigao entre fentasma de emia lecaniana do fantasms #20 Gromeain Gc. ‘como méquina desejante ¢ nezligenciamento 43 b) Oposigao entre grupo-sujeito e submetido, 0 grupo como ageate colletive de enunciagéo © a nogéo de sujeito em psicandlise. c) A nogda de transversalidade © 2 superacdo das perspec~ tives sobre 2 relagdo homem/mundo como relagdo representativa ou expressiva. “O problema nio consiste em ser isto ou aguilo no homem, mas antes num devir-inuwna- no, mum universal devir-arimal: ndo se tomar por besta, mas desjazer a organizacZo humana do corpo, atravessar esta og aquela zona de in- tensidade do corpo, cada um descobrindo as zo- nas que sao suas € ox grupos, as popwlagdes, as es- pécies que a3 habitam. Por que ndo ser médi- co me tiraria o direito de falar sobre a medici- na, se falo dela como um cio?” (G. Deleuze) Um livro é uma aréquina que corts © metamorfoseia fluxos, guar- dando sempre desta forma uma relacdo com a exterioridade, com outros textos e aconlecimentos. Sua importancie ndo deriva. pois, do que significa, do que pretenderia dizer, mas de como funciona £ com que pode funcionar, das conexdes e intensidades que ¢ capaz de estabelecer com 0 passar para outros disponitivos: préticas, amo- Fes, transgressOes, outros escritos, Consegtientemente, a prépria leitura deve considerar a obra co- mo instrumento a ser empregado numa determinada estratégia, ¢ néo como bela tonalidade a ser reconstituida, ressignificada. No caso do Antiédipo, o texto mesmo barra uma leitura de tipo universita- que © considerasse como palavras presen um Urvater ausente: como re(a)presentar, circunscrever um vuleanico, cujos diversos fluxos obedecem a velocidades © intensida- des diferentes, um fivro-maquina que, conectado com as multiplici- dades de um sem niimero de outros escritos, scompanha sempre suas linhas de fuga, numa desterritorializecao constante, Portanto, mais que procurar expor © conctito de grupo na obre de Deleuze e Guattari, tentaremos pontuar as sucessivas transform:- ses porque passaram nogies como as de grupo-sujeite, grupo-sub- 1._Este tabsiho € 2 primeira parte de um texts que atordari = noc% Bripo ma obra de Gustiari e Deleuze. No entanto, pode ser lide aio nomamente. 44 0 grupal ¢ 0 individual, © social e 0 psiquico etc. ‘Como tais nogdes foram gestadas primeiramente tendo por base a chamada psicoterapia institucional, abordaremos ligeiramente esse ‘movimento psiquidtrico que. surgindo apés # Segunda Guerra Mun- Gisl, reuniu em tomo da critica as estruturas dos antigos manicd- ‘mos franceses, quase 120 cronificantes quanto as dos nossos. pré- ‘prios depésitos de loueos, figuras como F. Tosquelles, J. Oury, 0 ‘proprio Guatteri e outros. Conforme seu préprio nome indica, tal corrente concebe o ‘eeito terapéutico como efeito institucional ¢ née como ato (médico ‘ou psicanalitico) cronometrado ¢ localizado, opondo-se desta forma ‘tanto & despética legiferacio asilar, que acrescenteria A alienagao ‘mental uma alienacdo sécio-instjtucional, quanto 4 entrada do dis- ‘positive psicanalitico cléssico na ‘instituigdo (diva, contrato etc.) A nivel tedrico, 2 psicoterapia institucional recolhe, de_man: ‘fa bastante eclética, contribuigdes provenientes do sartrismo, do freu- do marxismo, do lacanismo etc. © que se explica em gran- ‘parte pela auséncia de formulagdes que déem conta daquilo com ue se deparou este movimento: ao se definir como terapia na e instituicdo, precisou também se definir sociologicemente, con- ‘© que é institui¢ao, quais suas relagdes com o Estado, ete. E conceitua a instituicio como uma série de estruturas elabo- adas através de uma constante atividade instituinte, que teria por bjetivo preservar as finalidades que os terapeutas institucionais con- 89 sstabelecimento psiquidtrico: a) casializar polidirecio- a8 trocas, os fluxos de informagoes ¢ contatos, de modo _-® Possibilitar 2 formacéo de vinculos transferenci miltiplos ¢ a ee do insulamento que caracteriza o manicémio tradicional; ) eriar sistemas de medicao através da quebra das relaces ima aa de instauracio da fungdo de tereeiro cm todos os pontos @@ tessitura institucional a da andlise permanente do estabelecimento ¢ da deman- 8 (© do desejo) dos grupos que dela participam, tal producao da - itstituico, concebida enguanto conjunto transfinito, ou scja, um Tocal que, embora pressionz os acontecimentos que nele tecebe determinagies dos vetores sociais. Falando Slaramente, 0 coletivo é uma resultante de forgas, cada grupo, 45 cada estruturn dele faz parte enquanto forca que se distribui se- undo determinados gradientes. De acordo com a terminologia lacaniana que a psicoterapia ins- titecional emprega, 0 coletive também se epresenta como lingua- gem, como baleria de significantes, como Outro. Propie assim sere cquiparagio entre a relagao coletivo/grupos ¢ individucs ¢ 2 Felagdo Outro/sujeito, com a intengio de fundamentar @ trabalho Snalitico pela inslituigdo: assim como © sujeito enderega a sua de- ‘nanda para o analista, que ocupa lugar de Outro, o grupo dirige a sia para o colelivo. No entanto, nao ha um individuo ou grupo que exerga, de mancira fixa, 2 funeao analitica: qualquer sujeito ou Grupo, em qualquer momento ou Tugar, pode produzir um feito Ee verdade, pode servir de “analisador”, para empregar um termo forjado por Guattari Retomando o que dissemos mais acima, para que este trabslho analitico seja vidvel, € necessirio que o coletivo jamais se apre- seate como um Outvo absoluto, uma maquinaria que, fora do con- frole da maioria dos grupos, os submetesse, como ocorre nas piré- mides de dependéncia dos asilos, que privilegiam um estilo de de- manda que leva a uma tegredida esteréotipie fantasmética © 2 ume cobturacdo do desejo. Segundo a psicoterapia institucional, tais so as premissas para que a fantasmitica erupal e individual, matéria-prima do, trabalho Wiiitico, posse receber a ado ‘iransformadora: do significante do Seletvo a, partir duma rela¢ao ttansferencial em que @ demand Seja disletizada, de forma a que o descjo possa emergir ¢ se =. gajado no trabalho e na linguagem, numa dimensio sublimatsrie enfim. Em suma, trata-se de abrir um esparo para a palavra do low co através de reexame do investimento social (em todos os. senti: Gos da expressio) efetuado sobre o analista. © que deveria, Pot Soa vez, levar 20 guestionamento do estatuto que a sociedade, cof Hie ao louco. Porém, devido a certa fobia 20 campo sociel Re fardon do lecanismo, 2 psicoterapia institucional se centra mais. pscotico que no “doente mental”, assim como nepligencia slat?” Frente os contedidos sociais que sua palavra veicula. Comparativamente, pode-se dizer que a psicoterapia insttuct™ nal configura uma pratica oposta ¢ complementar 3 de om Basaality por exemplo. Em nome de um marxismo trogloditice, este So Funde alienacdo mental e social, recalcande a singularidade do oe co. Jé 2 psicoterapia institucional, embora a preserve, SC fibers © Jouco, continua a trancafiar a loucura. agora em nome dos mate mas € da gramética transformacional de Saumjan. 46 Contudo, na medida em que tais psicoter nat que tais psicoterspeutas abandon: fem téeaico do. analista tradicional pela. convivéncia com fume instituicao, tiveram que se defronta i s do politico ¢ da politics, abrindo desta forma callien pices “a pesquisa ¢ 2 experimentacéo sobre as relagdes entre incons- e © instituicdo, descjo © hist6ria, ‘Quem melhor explorou este campo foi psicandlise e Transversalidade ae aes ee 1955 ¢ 1970), comece por estender o objeto de andlise ¢ in- producio do objeto institucional em geral (escola, fé- tido etc.), enquanio a psicoterapia institucional focalizava idades d¢ controle grupal de um modo especifico de ins- gio, a produgio do estabelecimento psiquidtrico. ot assim, em Pricandlise ¢ Transversalidade, as bases ‘nova disciplina, a andlise institucional, que visaria precise tudar ¢ intervir sobre as relagdes reais (objetivas e subje- instituintes) que os grupos sociais mantém com se deve ao fato deste livro recolher as marcas analitica © politica, do exercicio de psicanélise ae centro da psicotcrapia institucional, ¢ de militincia em di- s politicas: pela primeira vez desde Reich, pré- ¢ pritica analitica se intercomunicam num mesmo su- m clivagem do czo (ativista nas reunides do partido, ana- p consuitério) ou totalizac’o apressada (psicanalise diuida afirma G_ Deleuze eo no preficio, tal entrecruzamento abre I) Sob qual forma introdusir a politica na teoria e prética psicanalitica (uma ver dito que. de qualquer jon, politica esté no préprio inconsciente)?; 2) Seria pos- e de que modo, introduzir a psicanilise nos grupos revoluciondrios?: 3) De que maneira con- € formar grupos terapéuticos especificos, cuja influ- (Gat exsria sobre os grupos poltticos e, iguaimente, so- ‘bre as estrururas psiquidtricas © psicanaliticas?” * Guesties so ebordadas principalmente através da opo- Supo-sujeito e grupo-submetido, entre fantasma de gru po-sujs . ya de gru- individual, © da gestacao do conceito de transversa- Poychanalyse ct Traneversalité, preticio, Ea. Maspero, Paris, 1974, 41 fidade. Como estas nodes séo interdependentes e recebem for- mulagses diversas através do livro, por mais que tentemos perq rilas em separado precisaremos muitas vezes proceder de manci a recorrente, sendo em espiral ou mesmo ziguezague. ‘Comecaremos pela mudanca de perspectiva que Guattari ope- ra por relegio & psicoterapie institucional. Fiel 20 lacanismo, es- ta toma como modelo, para pensar 6 grupo, o problema da inte gragio de um corpo biolégico, o de um fururo sujeito, com a lin- gvagem gue recebe do outro, campo que suporta e alualize primeiramente as figuras parentais. J4 Guattari parte do grupo, que toma como dado absolutamente prévio, légica ¢ metodologica mente, ao individu, cuja constituicio inclusive dele dependeria. Como assinsla o autor, “Toda uma tradicio filoséfica teve que seguir imensos desvios para a partir da res cogilans individual, ts. quecer total ou parcialmente 2 res publica. Sc é verdade que o individuo é 0 irredutivel suporte da enunciacéo da palavra, o grupo nao deixa de continuar © depositario e 0 iniciador de tode linguagem e de toda eficiéncia dos enunciados* E, para Guattari, ndo existe o grupo em geral, abstraido des suas determinggdes concretas. Cada subjecividade’ grupal ganhs: sua consisténcia de certa ordem de fantasmas, interditos, resistén- cias, do predominio da pulséo de vida ou de morte na sua eco- nomia pulsional. da articulaedo entre enunciagée e enunciado, da relacdo entre subgrupos © com os outros grupos. “E tal tip de incesto, em tal grupo, que me levard a morrer de vergonha”*, Frisemos agora o aspecio da relacdo com outros grupos, pois © grupo nao ¢ tomado com uma série fechada, mas sim que pode se abrir, enquanto cadcia significante pura‘, a todas as outras <¢- Ties significantes do socius econdmica, politica, artistica, cientifi- ca etc, A questio consiste, portanto, em saber se 0 grupo € sujeito da cadeia significante que enuncia, se € agente coletivo de enun- siagdo, ou se € perpassado por um discurso possuidor de normas Ge cuja produgao nao participou: se € grupo-sujeito ou submetido, Para user a linguagem da teoria, Hdem, p. 90. “Reflexes para Filésofos sobre a Psicoterapia. nxt tecional”. 4 Hem, ibidem, p. £9. 5. Lambremos as propriedades do significame Iacaniano: unidsde d= este, puramente diferencial, ¢ articulada segundo as les duma orden. 2 Gadeis significante, cnjos arranjos produzem efeitos de sentido. Ou, no dizt gf Eacan, anéis cujo colar esté soldsde ac anel de um outro colar fat0 48 Tal distincdo € graduada por um coeficiente, o de transversa- Tidade, que justamente tem 2 ver com = margem de aberiura do ara Os outtOs grupos, as outras séries sociais. Mais con, eretamentc, 2 nogae de transversalidade procura oferecer ums es. Gria ao classico dilema entre o Cilas da verticalidade buco. Gis ¢ © Caribde de horizontalidade atomizante. Dilema que Guattari conheceu, na sua pritica politica, sob a forma da ‘oposiczo, entre centralismo ¢ espontaneismo, e, na sua pritica em La Borde, sob a forma da oposicdo entre identificacio 20 louco (tipo anti, psiquiatria) © postura normativizante. Portanto, um grupo pode ou no se tomar sujeito dos seus enunciados e pritices conforme o afinco com que procura perceber, ‘elomar ¢ retrabalher, na formulagéo do seu projeto e da sue lei, © entrecruzamento de redes significantes em que se situa Devido a esta rent cin a exterioridade, as totalizagdes do “Papo-sujeito sio sempre abertas, passiveis de refazimento, de con. Arontagio com 2 falta de sentido, com o que o grupo assume a sua a plenitude, a sua propria torte. J4 o grupo-submetido se do Sobre si mesmo, se imagina unico e imortal, s6 podendo “rec @ morte paranoicamente, do exterior, do mesmo exterior / que recebe suas determinacdes ¢ sua palavra. _No entento, um gfupo-sujeito pode se tomar um grupo-sub- bs © vice-versa. Trata-se mais de pontos de referénci: i ‘tupo-sujeito sempre pode preferir, ao fervilhar da criatividade a imisténcia da perspective de dissolucdo, um enclausuramenta enguanto um grupo-submetido, devido- a conjunturas ©/ou grupais, pode chegar a uma palavra verdacleira. Eridentemente, numa sociedade como a nossa, marcada por ‘Producio de instituigdes alienadas, a irrupgdo de um ‘srupo-su- se dé ula vec que cle descoagula as relagdes 0% melhor, a blocos retificados de significantes, a redes sie tipo obsessivo ou parandico, obliterando’ xsim a ‘ia subjetividade gropel. E quem diz ruptura signifi- estamos nos referindo criatividade institucional dos co. de Paris ¢ dos sovietes da Rissia de 1917, @ oposicao entre fantasma de grupo e individual, foi a psicoterapia institucional, que emprega uma nogdo de 49 fantasma, 2 Iscahiana, que precisaremos portanto expor. com o i tuito de fundamentar melhor tanto nossos préximos desenvol mentos te6ricos quanto os anteriores. Segundo tal concep¢io, o fantasma é uma encenagao imaging . tia, onde © sujeito esta presente, que figura mais ou menos disfar- ¢ is 0: ei cadamente a tentativa de realizagao de um desejo. Pode ser des- “0”, pois € dessa conceituacao ‘ ce que parte Guattari quando crito, por exemplo, através de uma frase tipo “Uma crianca é es- fine, come objeto da andlise institucional, a paca ao aan pancada“, que Freud descobriu como terceiro avatar, em sujcitos institucional. femininos, duma fantasia de flagelacdo cujas primeiras tapas se- SPrecieamos 2 : ‘iam °O pal expenca uma cranga que eu oddo." © “Meu pai me ee funciona nos dois senscoe sno inte que, segon- te”. E Lacan apresenta uma formula do fantasma cujos elementos tentaremos precisar: $00, onde f € 0 sujeito (barrado) do incons- ciente, © um sinete que significa “desejo de” e 0 € 0 objeto causa Gin eseys uutentica como tal, como sujeito Quanto 20 sujeito, caso nos lembremos que se trata de um * ui. nem ser confundido, com nenhum ou- cenério com nuiltiplas entradas, onde ele pode ocupar diversos Iu- 4 Ddivikann * Condicao de possibilidade de toda particulari- geres, concluiremos que se trata de um nao-eu, de um sujeito em a fading. fntanto, caso examinemos mais detidamente as etapas da Quanto 20 objeto do desejo, € sempre o substituto metonimico Ae Dos serve de referencia, chegaremos a um invariante, de um objeto perdido, que Lacan tematiza como “objeto pequeno 0”, tanto para opé-lo @ “grandeza” do Outro quanto para salien- tar sua alteridade por relac3o ao sujeito, seu cardter de limite do jogo identificatério: para um sujeito que sé existe no nao-ser da Tinguagem, hd uma separacdo, impossivel de ser obliterada, entre Tal diferenciacio poderia ser lida como © que representa e a Coisa, separacdo escavada pelo fato mesmo 0 », Iugar do varivel, das particulari de que demande, de que precise significar a necessidade. t ordem da estrutura, dos invariantes Deste modo, 0 objeto “o” é um objeto-resto (seio, cibalo, voz, eo © gxemplo, © agente fustigador serviria ‘de olhar ete., no que se aproxima dos objetos parciais de K. Abcaham imeginedigroe Tepresenta uma figura de pai ou M. Kiein, mas sem a reieréncia a uma globalizagdo) de que ° “0 Pal simbélico, j& que inflinge sujeito se imagina cortado como de uma parte de si mesmo, de seu possuidor. O nos leva sua imagem especular. Em conseqiiéncia, sua recuperacio levarit % ict, 0 falo © sujeito a restaurar o narcisismo primario, 0 zero pulsional: 0 de ta sejo € justamente essa tentativa de transgredir a ordem da lingo gem, cuja Iei é a falta, para “passar para o outro lado do espelho”y ara esse fascinante outro que quero ser. Mais profundamente, como o infans se identifica com $0? ai ‘imagem vista no espelho apenas quando sua mie o olha sorrind FIG dos Ecrits, Ed. Seuit, 1972, ‘attigo “Subverso do Sujet quando ele adota pois uma perspectiva ideal escolhida no Out*® Deni. tae: Distingso = 4 .C., em que = teferida fantasia §. “Uma. Crianga € Espancads", volume XVI das Obras Complet® Spm 78H, 808 0 ponto de visa da Tose fale oy Ed. Imago, Rio de Janeiro. cs meee 50 Acreditamos que foi esta oposicio entre componentes estiveis ¢ instaveis do fantasma que 2 psicoterapia institucional utilizou pa ra afirmar que os fantasmas de grupo sao essencialmente simbéli- cos, mesmo que comportem elementos imaginérios, enquanto os individuais tenderiam ao especular. Pois, para tal corrente, os fan- tesmas de grupo resultariam da decantacdo dos aspectos imaginé- tivs dos fantasmas individuais, da redue3o destes sua ossatura simbélice O que hes daria a possibilidade de circular entre os grupos & mancira de moeda de troca e de servir de suporte para a sua fantasmatizacio. Por isto, falam em fantasma de grupo ¢ nao do grupo, como Bion, que solipiciza a grupalidade. Devido & perspectiva grupalista que adota, Guattari inverte e radicaliza a oposigao. Agora, é 2 moeds do faatasma individual que deriva da “individualizacio” da moeda de troca_grupal, da confluéncia entre os dados imaginérios. corpéreos, do individvo © © significante grupal. Conseqientemente, num grupo que se apresente como cadeia significante aberta, sempre em relacéo de troca e produgao com ou- tres grupos, © imagindrio dos seus membros estard constantemente em Aeque, pois uma articulacdo significante, se traz em si poten- cialmeate fungées, ado prescreve papéis. Se, a nivel da parte ima- gindria do fantasma, 0 sujeito se acha descubjetivado por relaczo a0 devaneio, em que ocupa um luger central, em que é eu; a ni- vel da parte simbolica se encontra assubjetivado. Mais concretamente, seria um grupo cujos integrantes, como o significante, “flutuariam”, passariam de um papel para @ oulfo, nic Procurando suturar esta alternancia e evanescimento através do rictus burocratico, Para usar uma comparacio, se trata de algo semelhante 20s “grupos em fusdo” de Sartre, fonte de muitas idéias de Guattari Analisends 2 tomada da Bastitha, Sartre dao exempio de como alguém evitou uma debandada diante do inimigo ao “mostrar con olhos comuns” um abrigo. Segundo o filésofo, stuou sem ser li der, como um mero indicedor daquilo que se impunha, De mancira inverse, ocorrem dois efeitos principais quando os sujeitos cunham sua imagem na moeda de troca grupal, a subordi« fam aos seus dados corporais, sob o pretexto da organizacio, da eficdcia etc. Primeiramente, os papéis se tormam fixos e se cri talizam, as relagdes de poder se verticalizam. Em segundo luset- © gtupo sc fecha sobre si mesmo, se torna um corpo, um falo im gindrio: um grupo-submetido, em sintese. Posteriormente, Guattari abandonou esta contraposi¢io entre # Primazia do simb6lico no grupo ¢ do imagindrio no individuo. 4% 52 ia © a simbolicidade grupal. Dizemos. imagindria ache anulando © proprio ponto de partida adotado, de corte se, palista. Além do que, na primeira versio guattariana do f En na p versio a lo fantasma di ope Dio Gigure algo tho capital para a reflexo de Lacan quanto Porque @ objeto o- Isto provavelmente se deve a0 emprego unions ae —— reo i ds oposicdo entre geral/particular, sem referéacia 4 nocdo de a somo suporte 0 proprio grupo, sob a forma de um Zepresentaria um: objeto instituido pretensamente eterna & pair, as tradigdes grupais etc.). Ele serviria de tele uo Se ‘Ponto de convergéncia para o imagindtio voletive =provesso que levaria 0 grupo a se corporificar, a se eeine: parlalmente, a se territorializar: sor rartids Gctilio cic, ee E, como o “somos iguais @ Hitler” nao Pde em circulacas ’ circulacggo uma ‘mas uma imagem, toda diferes Se transforma em alteri- € wansladada seja para o “sabotador interno” ou pa- Erupo, inimigo porque outro. Izualmente n3o he nen apne entre os membros do grupo, uma vez que a Spenas um signo do recalque da subjetividade grupal. Mig eetPO-Sujeito, que se estrutura como uma linguags om o conjunto do discurso histor Sa gue Gustiari faz equivaler a0 objeto “ S40, 0 instituir enquanto resto “caido’ “@ Mesma do instituide (numa linguagem mais simple Nelembra que 0 pudim fo; fabricado, quence on Pry Deste modo, caso lembremos que © objeto “o” ¢ o limite do especular ¢ 0 ponto de partida de toda simbolizacio (de toda me- tonimizacZo/metaforizacao), 0 grupo sujeito se caracterizaria por ‘nndo se “colar”, néo se simbiotizar com 2 institui¢ao, posto que haveria entre ambos o que Guattari denomina “vaciiolo”, um es paco de transi¢ao que seria 0 espaco da fungio-analisador. Dai que o objeto-suporte do grupo-sujcito seja dito ~tradicio- nal”, pois Winnicott forjou o conceito de objeto transicional justa- mente para pensar a gradual constituicdo, em todo ser humane, des- de o vinculo simbidtico mac-filho, de uma area que se situaria en- tre a alucinae3o onipotenie € a percepedo objetiva, entre a reali- dade interna ¢ a externa, a rea do jogo ¢ da criatividade. ‘Transpondo isto para o que nos interessa, o grupo-sujeito exis- tiria entdio como tal gracas a uma 4rea intermédia de simbolizegio ¢ producie, de questionamento do instituido, de formulacdo de al- temativas ¢ de transformacio. Pelo contrério, « grupo-submetido, como afirmamos anteriormente, permaneceria numa posicao de de- manda frente 2 um objeto instituido em que depositaria a sua pri- pria onipoténcia. E aquilo que gurantiria essa passagem do mundo da demanda para a “o" do desejo seria a transversalidade, que leva o grupo percepefo da finitude do institcido e da sua propria, assim como a castracdo, a nivel do sujeito, significa a percepgio de que ele © ‘© Outro esto marcados pela falta. 5 Contudo, tal correlacdo tem mais um valor de esclarecimen- to, pois, na verdade, o discurso de Guattari jé funciona, aqui. no limite do discurso psicanalitico, uma vez que pretende coneclar Giretamente, com um éxito que discutiremos depois, aparelho p: quico © instituisio, hist6ria, Diversamente de um W. Reich, por exemplo, néo procura re- velar 0 pai como Iugar-tenente, representante do patria: o incons- ciente investiria, sem necessidade de medizoSes, os objetos do cam- po social. © que, abrindo um perénteses, também se opde av atual Diefe que, sob o precexto de uma leitura estrutural do Edipo, fala numa a-histérica “fune3o do pai”, ignorando que sO ha pai inst Para tal concepeio, ainda vale 2 critica que Lévi-Stcauss fez 4 antropologia funcionalista: dizer que uma canoa ¢ um tran satlantico cumprem 2 mesma fungio, n#o passa de um traismo. Como afirma Guattari, “Estou persuadido — a experiéncia das neuroses er vves € das psicoses o indica de maneira formal — que, mais além do ego, o sujeito se acha disperso pelos quatro cm" classe. as guetras se tornam os it se se ton os instrumentos da ¢ Ac de si mesizo™ * ue Em suma, o conceit de transversalidade recolhe trés linhas ae és linhas de ' 1) Uma tentativa de articular diretam istri a) ¥ articular ente desejo e histé [¢e suestionar 0 reralque (ou preslusio?) do politico na pi and "Hise e a falta da nocio de subjetivis e ‘ Be sks yelividede no marxismo @ nos grupos 2) A formulacée de um conceito el. grup: que, a nivel grupal, re ‘© homélogo da castracio a nivel individual, mas referidy a estratégia politica e nZo aos modelos miticos (Edipo, Narciso, ) que a psicandlise revitaliza em fungdo do seu panto de par. ida, que nao ¢ uma constelagio social conereta, mas x difel tra em direcdo ao tercciro de,uma monada primeiramente aber- ‘apenas para o Outro da denfands. Com o que, a psicanilise por fornecer modclos de integrasfo a uma sociedade que no ‘05 possui. jd que s6 reconhece uma lei, a lei do valor, em fun- jda qual retoma ou abandona os modelos identificatérios dispo- 3) Uma tentative de escapar a0 fantasma Im te ; que ronda os gru- fevoluciondrios desde x degenerescéncia da revoluggo de 1917: entre © espontaneismo snarcdide, facilmente esmags- fepresséo ¢ inibider do trabalho politico de organizagio ¢ s40, ¢ a burocratizacéo disciplinar que rege o PCUS € BIBLIOGRAFIA és livros jé citados, foram utilizados, principalmente, 0% seguintes G. © Guatiari, F. 0 Antédipo, Ed. Imago, 1975, Rio de Joneizo Qs Quasro Conceitos Fundamenseis da Puicandiise, ES. Zahar, Rio 3. A Pricandiise depots de Freud, Ed. Veaes, Petr6polis, D. 0 Brincar € A Realidade. EA. Imago, Rio de Tanciro. 4. attigo em Enface Aliené, Ed. Plon, Paris. RF Anilise Instinucional, Ed. Vozes, Petrépolis Porchanalise et Transversaiité, p. 154, artigo “O Grupo ¢ a Pessoa” 55 ALGUMAS REFLEXOES SOBRE A DINAMICA EM GRUPOS DE MULHERES “SADIAS” EM SITUAGAO DE GESTACAO Alicia Celia Cadermatori frio sobre minha experiéncia tecapéutico ov meramente in- Pessoas chamadas “psiquicamente sadias” em estado ar-me algum nome, sou psicoterapenta, Em conseqiiincia, iho em escrevo num espaco ut6pico, alheio as contradi, Jealidade. Ainda que nao exclusivamente, a preteaszo da assim como a destes pensamentos, € critica, no sen E patgundo alguns, entidade factual integrada por um ,¢ essoas, caracterizével tio somente por sua ‘co-partici- forno de algo vagamente denominado propésito on obje- dean: instituigdio psicossocial ou articulagéo peculiar esejantes constitutiva do socius em certas formagses 37 dugdo do “bem estar”. “Registra” quer dizer aqui, smultaneamen- ‘te: racionaliza, impugna ¢ prospestiviza seu greu de satide. Situagdo de Gestacdo: estado processo bio-sécio-desejante que é habitualmente semiotizado através de esterestipos como: gravider (idéia de wcarretar um peso), “embarazo” (idéia de incomodids. ge) '. procrisgio. (iéia nifstico-taumstirgica de gecacdo ex-nihi- lo) ou re-producao (idéia de elsboragho de um fac-simile, uma cS. pia, uma réplica ou um retoro da identidade como igualdade) Podemos propé-la de outra forma, como produc (conceity de construcao de uma diferenca) de individuos, agentes, sujcitos dos processos bio-sdcio-desejantes, Efetuands um recxams sst6rieo: nos defrontamos cum Jeu: escatolégicos secularmente formulados, tais como “Pariraés com dor” que guarda uma unidade de sentido cruel, primitivo ¢ eterno com © “Ganhards © pao com o suor do teu prOpzio resto". Amos ana. temas que sclam a expulsio de um paraiso jamais possuido, mas ado como perdiée apenas para ser re-prometido wo prego ds su. bordinesio « uma determinada ordem que se pretends como tnica, “Concebido no pecado original”: divida infinita, agravada pelo mactirio do messias assassinado, que coloca no mito das origens um ‘contrato leonino que convertera toda producdo em pagamenio sem- pre atual de um compromisso “passado” assinado por ninguém, Ou entdo: hipostssiz de uma fungdo que privilegia uma possibllidade produtiva feminina e a torna prevalente ou excludeate para um mercado n0 qual (devido 20 excesso de forca ‘de trabalho ou & eco- nomia de eseassez) sempre cecé uma mereadoria de segunda cate- goria, assim como a artesi que.a fabrica. E claro que sob 2 de manda de uma estratégia da qual ndo participa nem como classe nom como sexo. ‘Sublimacao de uma fungSo (no sentido pitsgérico, biblico, dar- winiano ou qualquer outro) que nao possui uma palha sequer de sublime mais além do horzonte de opgies © de aproveitamento do produto (basta lembrar 2 guerra, a miséris, a mortalidade in- fantil, 0 analfebetismo etc.). Em sums, no meu cntender se trata de eferuar uma verdadeire intervencao institucional (no sentido de Lourau, Lapassade 08 Guattari) num conjunto de seres contemporancos, numa conjuntura vital onde possuem um elevado montante de possibilidades de pro stiar rinocerontes (no dizer de fonesco) & imagem ¢ semelhang® cert: Foberaxo em castelhaso significa tanto grasides quanto entarse? S58 quilo que a lei da massificacao © a sujeigio impdem o seu gr Encruzilhada esta na qual também podem dispor de alguma tiva de se tornarem um grupo-sujcito artifice de singulari- finicas, simulacros originais ¢ irrepetiveis. Autodeterminaco deve poder incluir as mais nobres < valentes decisdes, tais co- a do ndo ser mae ow ser outa mde, on serem mies de outros, ser mac de outro modo, de outra “coisa” etc. ‘Na minha experiencia, o trabalho sobre transversalidade pro- desejante de um desies grupos homogéneos oferece brechas, vertentes, inhas de desbloqueamento e diversificagao dos sx0s altamente vidveis. Isto a partir simplesmente da confronta- o de subje‘ividades que comecam @ encontrar, na similitude do ‘pathos, © primeiro indicio para suspeitar dz acio das mais am- e compartilhades determinacces. Em principio (¢ esta afirmacéo nao implice forosamente or temporal) trabaliamos a problematica edipica sobre a linhs da tigdo € nas chaves dos trés registros, mas com certas peculiar Estas so 0 resultado de minhas preocupagies para ou pds 7 Por mais incipientes que ainda se achem. Com licenca poética: vemos 0 grupo como © espago nuclear ‘gema facetada atravessada, em todas as diregdes, pelos flu- antes ¢ sociais. Formase nele uma reticula de fecilita- resisténcias, de Tinhas de fuga ou comsisténcia que integram ‘configuracoes, mapas funcionais de intensidades. Formas 0 Sdo mais que estados de densidade, fluidez ou coagulagao, Garam no tempo. Estes ou opacificam 0 ambito grupal ¢ o A recepedo passiva ¢ repetida, a reflexao de feixes his- te dominames, através dos quais o sistema se re-produz, @ intervencio agita. permeabiliza. recanaliza um sincicio modo, 105 0 de gestantes como gestando-se "Tecldo grupal que se di forma, na tarefa de realizar elo compartilhado, através da des-construgao do. preconcei- 9 de que a sua finalidade central estaria predestinada a ser © privada. Grupo plasma germinative que desenvolve, en- Possibilidades originais da sua bateria sécio-desejantes, a ca- de fabricar sew de “ter filhos”, 0 que equivale a grupo um filho-Srfio*. ‘Talvez estard assim mais perto No melhor valor deleuziano’ de palavra, e por selsgfo a fliagde fa do grupo. 539 ue tolerar certo grau de orfandade para os fillios, dito isto no sen- tudo de uma maternidade coletiva. ‘Teatamos, muito assistematicamente ainds, re-programiar ime economia politica do desejo utilizando um variado arsenal de téc- nicas. Nao se trata exclusivamente de interpretar-pontuar. nem tampouco de dramatizar ou descontrsir as couracas carseteriolé cas, Trate-se de inventar constantemente as técnicas de convive cia que surjam da dinamica grupal, posta sob a orientagéo geral de desinstitucionalizar e re-lanear o processo na direcio de uma busca de novos recursos préprios. Estes surgem a partir do desbloques- mento de cada forma coagulads pela pulsio de morte (atuande vés das inércias narcisicas, como a entidade estéril “mulher-objeto erético”) ou acelerada 0 infinito pela antiproducéo (a prolificidade bestial da “mulher-esposa-mie"). ‘Tentos estes sintomzs reconhe- cidos, como outres, que Bauleo denominou “os sintomas da saiice” (e que poderiamos resumir como a instituicio de “Mie-és6-uma"), sio efeitos conseqiientes de dispositivos universais, € verdade, mas talver nao inevitavelmente repetiveis. Sobrevoemos aqui escabroses questdes. E certo que uma mie chege @ concepeao (no miltiplo sentido da palavra) movida pela decepedo de registrar, junto com a castracio materna. (que ela com- partilha), 0 pénis paerno, 2 condicéo de objeto do desejo mater- no. Descobrindo ndo ser o falo, cla se encaminhou para aquele que supostamente o tinha. Sucessivss posiergagies a levaram, da instalagdo do seu Edipo positive, até A exogamia, através de <érie substitutiva das equacoes simbélicas. Dai 2 afirmativa de que ela se normalizaria entrando ¢ tendendo 4 uma sida assintétice. Sempre em torno da premissa universal do pénis e da falta que iré distribuir as diferencas. 0 vario se normativizaria drasticamente. sainde devido 20 medo ds perda daquilo que supervaloriza narci- sicamente € que pode faltar, pois existe algoém que no o tem. De tudo isto, resullam as cléssicas © tio atacadas assimetrias, da légica edipica, assim como a teoria que as explicita. A mulher aria consigo 0 estigma de uma resolucao que nunca finds. Por ‘Sua vez, 0 varlo suportaré o destino de assimilar « aporia patems: “Faca 0 que digo © n80 0 que faco, senao. ..”, A teoria freudiana produz, neste ponto. a mais curiosa das mu tiplicacdes conceituais. © Edipo: se reprime, se desloca, se de> Gi, naufraga, se resolve, sc supera, se clabora... ou... 0 que? Pode-se concluir dai que toda mae serd félica ou reivindicativa, © que nunca viverd o suficiente para que se demonstre o contrario? 60 ___Seré que todo filho & narcisista, por melhor interditad que ja? Ser que todo pai é parendico, uma vez que. a rigor, histo- amente nzo existe outra lei do que aquelz que 2 totalidade dos encamam? Ser que um pai, que tal é por medo a castra~ ¢ A homosserualidade, no pode senfo engendrar um filho seja perverso, pois a desconfianga patema © o ressentimento gierno Ihe indicam aquilo que a proibic3o the nega? Famoso Bind que apenas. pode ser explicado e resolvido desde slgo acl. Essa dramatica formal remele a interrogscdes que emos desenvolver ¢ as quais n3o sabemos ainds certamente co- 3 responder. Regressio infinita da estrutura, ecbaroeda para ¢ nio dar entrada a esse outro do Outro que & a histéria? For ta da idéia, que sempre se corrompe 20 se realizar? Constatacio primeira: todos somos rinocerontes. Apenas nos s@4o mais ou menos. Devido a isto, existem psicoses puer- Devido a isto, existem filhos-falos psicSticos, perversos ou Devido a isto, (entre outras razdes, é Claro) existem espontneos, parios disiociacos “psicossomiticos”, mortali- ‘infantil precoce “sem causa ceria", agalaciote “psicégena” gremos aqui a enumeracdo, apenas porque esta seria intermind- comecaria gradualmente a passar, destas formas tipicas © no- "405 miltiplos modos de matricidios e filicidios, figurados ou institucionalizados pelo socius. Escapa 20 0880 limitado falar aqui dos efeitos dz miséris em geral e da subnutri- particular, da ineficiéncia ou incxisténcia ou eficiéncia do aparelho de assisténcia médico-psicolégica 20 menor, auséncia de uma plsnificacdo familiar como parte de uma demo- Facional, ds cducagio repressiva que ocorre simultaneamente pelo menos uma meno especial merecem certa Stricia e puericultura fascistas, aquelas das cesarianas desneces- u do difundido procedimento dos bercérios. Bebés neona- dos das suas mies, colocados em jaulas assépticas, dife- através de braceletes como se fossem pacotes, sujeitos 20- € a muitas outras coisas mais graves, que condu- te @ semi-hospitalismos, selembrar aqui que a diviséo entre presos comuns © pre- 0s € ums ficgo do dircito positive. Todos os encatce- inclusive os bebés, S30 presos politics Sentido inverso, temos as compensacdes burguesas da fic- E Parto sem luz, parte submarino, parto de odcoras. Aéenicas que possuem 1d 0 seu merite 61 Em ambos os casos, se trata da logica da exploraco © dom. sagio, que impregna o discurso © as prativas da insttuicéo wediee ‘onde aparece sob a forma da moda E que poderiamos falar sobre o psicoterapenta ow psiceng. lista? Filo, pei cu mée; profissional liberal ou assalariado. his. area institucional ou aprendiz de feiticeiro; no pode evitar ser, en algum grau, um rinoceronte. Convém lembrar que, no compo grupal, néo & apenas seu de. sejo (como € elegante dizer agora) o principal em jogo. Tambéry sua necessidade de subsisténcia e seu exercicio do poder detcrmi, nam a orentagdo da “cura”. Em que medida cle € instrument de reprodugio do sistema € algo que ainda ndo sabemos avaliar may que, certamente, tem alguma possibilidade de superaczo. ‘Uma intervencdo do tipo da que tentamos deve inclu no procedimento. Na sua prética, ele também se decompoe (come subgrapo operador) no prisma grupal. Contudo, particule soe tante desta fissio critica, possui o direito, o dever © certos recur: sos para poder determiner, em graus variveis, simultaneamente a sua “posi¢ao” © a sua “velocidade’. Ov, para felar em metéforas microfisicas, pode, em certa me dida imprevisivel, escolher seu papel de agente reprodutor ox ‘rans formador (o filho como revoluczo em obra, obra revolucionéria co mo filho) no processo de producéo de homens. POS (FANTASMAS) NO HOSPITAL Eduardo Losicer 2 residente, como todes os dias (um pouco atrasado), 2 de clinica médica. lo se preparava para tomar o primeiro caié, aparece @ € atitude imperiosa, the “informa” que, novamente, e do leite 34 bombardeou os plantonistas ¢ enfermeiras 6 ipo “a dor no cedeu com > " e “quando vao deixé-la ir ente solic um suspire resignado. Enquanto apressava- uma vez, fazer @ revista da historia clinica para ver modificar a medicacao, chega a pensar em vor al- demais Um gesto de alivio e triunfo modi- 10 quando uma idéia the ocorre: lembra que existe um @ psiquiatria no hospital. Com atitude resoluta, dirige-se Dede wma foie de interconsulta, e excreve: “pactente s, internada para estudos, par presumivel colopatia, apre- hiper-ansioso". Entrega a fotha & enfermeira e vai, tomar seu caté. tias depois, o pedido de interconsulta chega ao servico de servigo este que pode ser bastante curioso... para to- que chegarem a reparar nele (0 que, & preciso admi- hada fécil, uma vez que se tata de um servico cercado € excondido no undo do hospital). Ai, é recebido Psiquiatra encarregado, 0 qual, logo depois de tomar seu ao setor de clinica médica e pede para falar com 0 Por acaso, este se encontrava ali por perto, e inaugurado com as seguintes palavras: “‘o que voc 63 achou do caso?". Primeiro espanto, quando o psiguiatra the di “ainda néo a vi. Queria, antes, que voce mé falasse da Decent Entre perplexo e indignado, o clinico comeca a revitar tute lembrave da presumfvel patalosia clinica do leito 34. 0. puigité 1a, que apenas conseque entender a metade de semelhanie weet so, pergimta: “desde quando ena paciente Ihe parecen ansinnts Nesta cena facilmente imagindvel, verificou-se um choq 0 se desviou do curso “normal” ds rotina médica do hosplil * um servic de psiquiatria no hospital geral; hé um psiquiatra que nae jesponde como qualquer outro colega especialista diante de tin edie fle parecer. Frente a cones prlineros esvi0s, oporie aint ‘que poderiamos chamar de primeira resistencia, z 1 que um ‘motives de sua ansiedade a incertexa no diogntstico’ ©” perplexidade quando volta a escutar 0 psiquiatra (que nao havia pa. par isso, considera conveniente pedir Promtas as chapas que pediu, para comprovar o diaendsticn, dar al- 8% muradila para tratamento ambulatorial ¢... encerrar o caso. Mas, desta vez, facilmente como na oportunidade anterior. Faz-selhe prevente 0 reconhece uma inegdvel curiosidade em saber como o psi- ia resolver 0 casc. Como se isso jé nao bastasse, uma ill- toma-o de assalto, idéia essa que 0 faz sentir-se ingénuo 2: "... e se ele for um psicdlogo?... terd entendido vise do que eu the disse?...” Psiquiatra de manicémic, psiquiatria no hospital, a psicandlise, ja, 0 médico, a loucura,... Todas essas instituicdes no- ene se chocaram numa simples cena proposta como essa. £ ‘esperar, ento, que novos conflitos e portanto novas resistén- ‘eparecam... Assim como também novas perspectivas, Nao € casual que seja um residente um dos personagens que jam essa cena. Profissional recém formado, podemos imagi- ‘tanto impresnado pelos brasdes da medicina e psiquiatria tra- ‘como timidamente permedvel as contradicées com que sta cotidiana o enfrenta. “Yale pena, ento, determo-nos um pouco para refletir acerca las que chamamos de instituigées, para depois voltarmos a0 o de batalha” no qual elas se enfrentam, sem pretender, com muar a andlise acabada que esse tema exigiria: ficariamos s¢ isso fosse entendido sé como um marco esquemitico ial do tema que nos ocupa. ‘comecar: a medicina € um campo de aplicagio tecnold- de disciplinas cientificas distintas (biologia, fisica, quimica, € 2 psiquiatria, como um ramo desta, também exerce sua pré- @ mesmo campo de aplicac3o, embora com méiodos e técnicas as. A despeito disso, a prética psiquidtrica foi segregada se- ente da medicina, ficando confinada aos manicémios. Pode- inhar que esta separacdo foi produto de uma espécie de pac- 2 medicina ¢ a psiquiatria como se houvesse sido reconhe- apesar de compartilharem © mesmo campo de aplicagio © a enfermidade do homem), possuem influéncias © deter- Simplificando, é a psiquiatria — dos ramos da medicina — a om maior evidéncia demonstra como a enfermidade (neste ca- 65 sigmo ideoldgico que as sustente. Nestas slkimas décadss, apa. Gem, entio, “psiquiatras adaptadores, ressocializantes, progress. erect Cheger 8 negagio de seus proprios fundamentos: a antips guiatia. Com efeito, para comprovar que esta mudanca esté se dando na prética, vamos dar uma répida olhada no que esti aconieronae esis wep eat Outros paises. Nos Estados Unidos, por exemple: dé motivo a uma séria preocupacéo. . cléncia” americana, ndo deu, aqui, provas de seus melhores resuita, dos. Na Inglaterra, por outro lado, verifica-se uma importancia cada vex maior outorgada ao “trabalho social” em indo aquilo que fenha a ver com a psiquiatria dirigida pelo Estado. Finalmente de certas regides de Itélia, t8m-nos chegado noticias de que, a partis de certas experiéncias recentes, oficialmente decidiuse, pura e san plesmente, fechar os manicdmios. Logicamente, novos recursos de controle social acodem, aptes- sados, para obturar essa fissura. A opcio € cada vez mais taxaiiva: Nao obstante, fora desses momentos histéricos de crise, ¢ vor ‘ando:a nosso comtinente — jd que o acima descrito vale pars ce 6 centros europeus afetados pela guerra — comprovamos que ma € bem distinto. Sem entrar em demasiados detalhes, afirmer que o estado de desenvolvimento das forgas produ. yas N40 demonstra que haja necessidade de recuperar force de tho. Pelo contrario, ndo seria nenhuma novidade dizer que. ‘nossa realidade econémico-social, esta forca de trabalho “sobra’. io existiria nenhum interesse em “recuperar™ 0 doen‘e ‘mas sim, aparece em seu lugar, uma necessidade de ora: ‘seu desvio: comeca-se, enldo, a psiquiatrizar o enfermo. As. tanto @ marginalizacgéo do louco, como a psiquiatrizagio do ginal, acabam por cumprir a mesma finalidade, Enquanto isso, no sitimo trecho desta bistéria, a “psicologia e peitica™ fazem sus entrada. Uma paulatina, parm macica pei pzacao comecs a ser implementada como recurso téenico alta cfetivo. Na indistria, como selecdo e treinamento de pes- Para aumenter a eficiéncia de producio; 20 ensino, como ge. psicopedagogicos, para detectar e corrigir 0 “tanstorno de uta”; nos meios de comunicaedo de massa, para melhor veicu- @ informaszo ¢ aumentar sua eficiéncia; nas empresas, ofere- recursos altamente sofisticados aos executivos que dirigem ‘estratégiz de mercado; na propagenda, detectando tendéncias de uo até criar verdadeiros dovojos de consumo," Enfime a ns ‘vida cotidiana est sendo psicologizada. E somes todos Yoltando agora 4 medicina, vemos que néo sé tem que lidar 96 psiquitras que “saem do manicémio", como também ela iz comeca a ser psicologizada, especialmente nos Ambitos pri- es de sua prética. Qualquer sanatorio que se preze deve con- entre seus quadros profissionais, no sé com psiquiatras, mas bém com psicsiogos, aparentcmente discriminados em sua fm- éenica (auxiliares do médico), porém com uma verdadeira © de sua identidade profissional. Nz propria pritica pro- liberal — 0 consultério privado — a psicologia se faz ou- Net preseste; 0 médico conta, na sua agenda de colegas 203 manda seus pacientes, além’ de psiquiatras, psicSlogos e psi- listas, comprovando-se. na maioria dos casos, uma curiosa in pela formacdo © posicéo profissional destes Um outro tema, que vamos descrever agora, merece um pari © a parte. Referimo-nos & “especial recuperacio” que se faz mental quando este nfo tem lugar nos estabelecimentos fato este especialmente comum em nosso meio. F como jROwvesse sido descoberto que, sem deixar de cumprir com o ob. Me joe Comrole socisl, © louco se transforma numa grande fon- 67 Verdadeires empreses se montam ao redot desta “matéria-pri- ma”, caja “administracao” & paga « altos precos pelo Estado. Fun- damentalmente, so duas as formas que adota este tipo de org zaco. A primeira € a do “empério”, que obtém renda de todos os servigos que prests: 0 louco € alimentado através de suas pré- prias fazendas, faz “terapia ocupacional” produzindo bens ven veis & lentamente cronificado até que, perdidas as possibilidades de recuperacdo, é confinado definitivamente nas “filiais” de repox- so, A outra éa das pequenas clinicas — que se encontram as de- zenas — as quais, com uma infra-estrutura menor, oferecem uma alternativa para convénios com o Estado, para 0 “tratamento” do psicético, Como se pode ver. 0 negécio é florescente. ‘Vejamos agora © que compete & psicandlise neste mapa em movimento. Necessitamos, para isso, de um esclarecimento indis- pensavel. A psicanélise € uma ciéncia desde que seu criador, Freud, 2 funda, no principio do século, 20 “criar” seu objeto teético pré- prio: o Inconsciente. Objeto este, formal e abstrato, que empres- ta um modelo teérico para o melhor conhecimento do objeto real: © sujeito psiquico. © conjunto da teoria cientifica conta com um método © uma técnica que permitem, seguindo rigorosas prescricies, 2 apropriago cognoscitiva de seu objeto para, no Momento da cura, conseguir a transformacao do objeto real, A partir desta definicdo, ficam marcadas as diferencas que exis- tem eatre a psicanilise ¢ a medicina — incluindo a psiquiatria co ‘mo um de seus ramos, essim como também de “outras psicologias”, que, como consegiiéncia, passam ser pré-cientificas, Nao seria a psicandlise somente um recurso técnico a ser aplicado no campo da medicina. © status cientifico que conseguiu atingir permite uti- lizar os coneeitos te6ricos dos quais ela se compde, para analisar (interpretar) dados que nfo sao préprios, unicamente, do discurso de um sujeito em situago clinica, ‘Assim sendo, a psicanilise se desenvolveu € enriqueceu com #5 contribuigées de outras ciéncias, mas, paralelamente, tem sido em clausurada em instituicdes que administram e regulam oficialment= a trasmiss3o da aprendizagem, permitindo sua “legitima pratica”- Pensamos que se pode esperar da obra freudiana um destino me Ihor e mais amplo do que aquele pretendido nesses claustros. 10- sistimos em que, na pritica clinica da psicanilise, procurs-se @ mo dificacdo real de seu objeto, isto é: a cura, £ Sbvio entdo que, tf tando-se de uma ciéncia, teria muito que dizer ¢ fazer no que © refere & saide e enfermidade mentais. Caberia aqui uma pergel™ ta: por que — sendo que a psicanilise tem 80 anos de desenvol¥r mento — foi “rigorosamente” aplicada somente na pritica pav® da? (apressamo-nos a aclarar que nao nos referimos ao que © 68 ece como curs-tipo, ou seja, a psicanlise individual tradicio- |. Ficamos tentados a pensar que, novamente, deu-se uma situa- i de divisio de fato, sendo, desta vez, seus pesonagens a medi. a psiquiatria ¢ a psicandlise. Porém, também este pacio apre- suas fissuras: € quando a psicanélise sai de seu reduto para praticada, com o mesmo rigor que autoriza sua cientificidade diferentes situagOes experimentais que nao somente a cléssica __- Sea psicanilise pode ser “também” legitimamente aplicada em “gutras situagtes (psicoterapia planificads, psicoterapia de grupo, juntamente com psiquiatria, no ambito do hospital pablico, s agui um bom recurso (evidentemente parcial) para ampliar fissura. De fato — como se poder perceber — utilizamos elementos que fomece a psicandlise tanto para analisar quanto \Propor formas operativas sobre as situagies eleitas como temas- desie trabalho. Isto é valido para cada vez que falemos de a partir da perspectiva da sua dindmica configurada por fato. OQ dlinico, de passagem pela entermaria, é chamado pela paciente i@ 34. Aproxima-se com um certo temor, que se dissipa ao @ paciente the pergunta, sem a ansiedade com que estava lo @ vé-la, se poderia incluir aigo na dieta que estava se- cdlculo mental: “...A diarréia parou, o estado 1 é bom’, e responde “vou acrescentar, sim, alguns alimentos”. consegue perceber um convite ao didlogo quando, sem saber Por que, quase instintivamente, faz wm jento abdo- po que niio the serve para nada, pois a hate Sy pergunta: “aquele médico que veio me ver no primeiro dia... ++. Ndo vem me ver de novo?’ Néo dd tempo para respon- Gcrescenia outro comentério: “o psiquiatra que o senhor quer falar com meu marido...", terminando com um sor- ‘serd que estou ficando doida?". O médico, tina dizer: “ndo é nada disso, jique trangiila” com 0 que © apressadamente da enfermaria, quando a paciente conse- go Be rete 9 nats Yo senor Jt viu minhas radio- @ que, resy quase COMO “air me, responds o uma desculpa: “ainda odo esse estado de coisas se vé violentamente quebrado quan- ie setuine, @ residente se intera de que sua paciente, que Pouco, teve uma crise nervosa com pranto convulsivo, Saget médico de plantao decidiu aplicar-ihe um ansioli- intra-muscular. Francamento preacupado, o residente Wnar (desta vez por telejone) o pSiquiatra, para contar-the © escutar sua opiniéo. Neste terceiro encontro, 0 psi- 69 yuiatra também se supreende ¢ comenta rapidamente que, na tarde Titerior, havia falado com o marido da pacienté, com o que decide i jesse momento. Uma hora depois, volta e encontra a m com da enjermaria, como se houvesse estado esperando. Diri- gese a ele, © pergunta: “Aquela paciente que estava no leito 20 Jado da sua...ela foi remanejada?” 0 residente faz wn gesto com 2 cabepa, querendo expressar um sim curioso pela pergunta. O psi- quatra convida-o @ entrar na sala dos médicos para conversar. © clinico, o psiquiatra, a paciente do leito 34, seu marido, a paciente do Ieito vizinho. .... Todas essas pessoas formam um gru- po. Néo s6 porque tiveram contato entre si, em diferentes momen- fos, senfo porque também suas palavras, seus “movimentos”. slo parte da dinfimica que animou nossa cena. Grupo ¢ dindmica. ‘Quem sabe dinimica grupal propria... Veremos. — Ocorre o seguinte: jd antes de internar-se, a paciente estava ansiosa porque tinha fantasias de enfermidade grave. E por identi- ficagio com a mie. Por supor que suas suspeitas vGo ser confirmades. Aso- ra, eu ndo sei xe por mecanismo de defesa dela ou o que, mas o fato é que ela afirma que ndo sabe por que foi internada, nem para que esté sendo submetida a todos estes estudos. cheio que RL explicow-the algo. Quer que eu vi — 0 quadro se agrava porque 0 marido — com quem tem cor itos — dlsse-the que a estavam internando somente para Sacer exit de sangue. Isso aumentou seu sentiment de perseguicdo. | Nov que se havia acalmado bastante depois da conversa com 0 mando, Ai, the aparecen outro trauma: parece que ela ficou muito amize 38 aciente vizinha, com @ qual conversava 0 dia inteiro, segundo disse ‘@ enfermeira. E quando, hoje pela manhd, acordou e vix que cama co lado estava vazia, teve uma crise por imaginar que 2 Pe ciente tinha morrido. Uma enjermeira me informou que a paciel ‘ainda nao havia saido do hospital, aclarei isso @ nossa paciente, a f@ partir dai comecou a se trangiilizar. Continuamas conversande , quase no final, me perguntou se ainda faltavam muitos exames 70 serem jeitos. E eu the respondi que isso ela deveria falar com voce. Voc? nao acha? — Sim, sim, claro... vou lé agora, © clinica se dirige & enjermaria com a sensacdo de que 0 susto passou, trata de gravar o nome do psiquiatra para lembré-lo, quem i sabe, em outra oportunidade, no momento em que, jé na metade do corredor, gira sobre os calcanhares e ainda consegue gritar: — Néo se esqueca de deixar o relatério. Propusemos, entio, entender como grupo © conjunto de pessoas ‘que intervieram em nossa cena, nio sé pelo contalo factual © de Inger, que deu-se entre elas, como também por considerarmos que | uma ‘dindmiea propcia © susteta, Situacdo esta especieimente propicia para que ai sejam expressos ‘a forca do desejo (inconsciente) ¢ do poder (institucional), o que ‘itd requerer de nés um esforco interpretative porque — em qualquer “tum dos casos — nada disso sera manifesto. Para organizer 0 proposto, facamos uma tentativa com as defi- Uma concepséo generalizada do que € um grupo cxige que este caracterizado como “um conjunto de individuos que interagem ‘si, compartilhando certas normas e uma terefa”, , Em nosso caso, temos ao conjunto (ainda que nfo todos jun- 8) €m interacio. A tarefa estaria em tomo de um sintoma: a de, que, por sua vez, arma o grupo ao seu redor. Quanto a har certas normas”, parece ser esse 0 ponto da definigso ‘Mais se aparta o nosso grupo. Com efeito, nfo 36 nfo ha eitago nenhuma das normas a serem compartilhadas, como tam- as normas implicitas entram em contradicée {por exemplo: O de O se deve responder a um pedido de parecer — norma — é en- endido de mancira diferente pelo médico e pelo psiquiatra: o como formular um diegnéstico é um ponto de discordancia entre — paciente, esposo, médico ¢ psiquiatra etc.). Propésito do “parecer” © continuando com as definigdes: pro- Postergar as particularizagies de nesso grupo, ¢ tenlar uma pelo lado de interconsulta. © tema relacio médico-paciente esté sendo debatido, sempre ‘Maior énfase, nos mais diversos ambitos. E isto nao é por 71 —— ae anteriormente. A tal ponto isto é assim, que 0 proprio curric Se sommmeo oo mstice wins convulsionado pela in i cadeita, como psicologia médica, que mal dissimula custo Gf jo com 0 reso das cadeiras tradicionais. A proposta de o.ocstodo é verdsdeiramente uma inovacfo, quando entendemos Ge nfo se ‘wala de mais uma especilidade téeniea, como pode- oe, ser a psicologia e a psiquiatria; propoe sim centrar as n Hentes sobre uma “relaco”, lugar este de dificil abordagem técnica. Bue selagio pressupie a existéncia de um campo dinfmico, dentro Go qual intervém néo s6 0 médico ¢ o paciente, como tembén foiot os sujeitos que interatuam num momento ¢ num lugar con- Gretos (em m0ss0 caso, num hospital geral). | ta dinimica, entio, sf0 reconhecidos fendmenos inconscien- tes ee tate a tunsierGaca contra-transferéacia, ‘scompanhadcs ide uma aprecidvel mobilizaclo de ansiedades defesas. Por outro Jado, 20 tratar-se de condulas determinadas por uma ideologiz, dinamica também € modificada conforme se inscrevam em ada un dos sujclos, as conceppies, acerca de “estar doen”. stare", “ser médico”, “ser psiquiatra”, “hospital pablico”, “estar bai so eel rificam-se nesta. sitvacio lciramente criticos verificam: a eo metal, em exrtos pontos de contato, a saber: a ccloxio Ga enfermidade no paciente, © contato do médico com os sisto- mas psiquicos, 0 encontro do médico com o psiquiatra, @ entrads do peiquiatra ‘no hospital geral... O choque entre esses “pares Gelaia zonas de enorme sensiblidade, quase como em came. viva 2 julgar pelos sintomas imediatos através dos quais se manifesta. Diante deste panorama, o trabalho de interconsulta em psiquistra, tal como o entendemos, difere muito do “parecer”, tal como trs- dicionalmente 0 considera 0 médico. a Yoltemos, agora, a nossa cena, que seri “novamente” descri- ta em sequéncias separadas arbitrariamente. 3 : , 7 Primeiro momento: € a enfermeira que 0 ingugura, 20 rar a rotina do clinico (incluindo 0 café) apresentando-he dif: culdades que, desde ji, parecem ser extrasmédicas, Por tars de sintomas pscoldgicos, 2 este primeito movimento de “dep6sita” Segue-se outro quando o clinico, renunciando a resolver por “fubituais" 9 problema apresentado (modificar algo do tratamne?- to), chame 0 psiquiatra, desfazendo-se do sintoma. a Segundo momento: Agora, é 0 psiquiatra que quebra 0 © siormal das coises, quando nio responde a0 pedido de seu colee™ 2 da “mesma forma” que se esperaria que ele o fizesse. “A medi- ina” sente-se tocada © comtra-ataca rapidamente: faz uma des- eriggo 0 mais detalhada possivel do estado patolégico do intestino da pacieate. © psiquiztra recebe o golpe, sentindo-se obrigado a recordar uma vez mais que est num hospital geral, dominio do ‘médico: entretanto, como ele também conta com seus préprios re- ‘gursos, insiste, 4 sua mancira, numa tentativa renovada de inciuir © médico no campo sobre © qual ird atuar. A resisténcia deste culmina num drastico tracar limites: “depésito” e fuga. Terceizo momento: O psiquiatra vai ver a pacieate e, esme- jo-se na sua incipiente profissio de “escutar com outro ouvido” comeca 2 funcionar como um intermediério entre ela e seu clinico. ‘De fato, os primeiros efeitos nfo se fazem esperar, ¢ a ansiedade -diminui: qui¢i 36 por haver “permitido” & paciente falar da mie, mentira do marido, e do siléncio dos médicos. Quarto momento: A diivida quanto ao disgnéstico, ou me- © siléncio que 2 eacobria, entra em jogo. Sendo o diagnés- © um des baluartes principais da pratica médica, € facil ima- ar © sentimento de debilidade que se apodere do médico quan- Rio pode “organizar” a enfermidade de sua paciente mediante sie primeiro paso. A evitasdo foi imposta, desde o principio, paciente, oscilando entre querer e no querer saber, fica & da intensidade cada vez maior de suas apreensdes.. Nosso ente, apenas denunciado este siléncio, ensaia uma saida mé. © maniaca (der valium, encerrar 0 caso). Contudo, a esta dos acontecimentos, seu compromisso jé ¢ outro: ac mesmo que sente-se invedido “pessoalmente” (2 loucura do hos- ®, @ loucura do hospital, seu proprio equilibrio), o psiquiatra comhecido, outorgando-se-lhe um primeiro e pequeno espaco. Quinto momento: O esposo da paciente entra em cena. Em para a propria paciente. Uma mentira é desfeita, dando 4 novas perguntas. ‘momento: Clinico © paciente. f insinuada ao médico psio da impoténcia de suas manobras clinicas para se co- com sua paciente (falar ou apalpar o abdémen?...). A Per seu lado, coloca sua expectativa no “chefe", 0 que as especialissimas vicissitudes da transferéncia, tal co- ta se da numa instituicfo. Poderia parecer — no minimo nioso pretender que o movimento transferencial mais impor- Ne a paciente expressa, nio tenha como destinatarios nem em 0 psiquiatra. e sim uma figura que mal conseguiu Sena: aquele médico que registrou sua fugaz passagem 3 como “o chefe”. corre que este “‘chefe”, quase mais uma fun- gio do que uma pessoa, fem um enorme peso, seja porque re. mete 20 pai infantil, ou porque remete “ao que sabe”... ¢, tan- to num quanto no outro, pode-se adivinhar a marca da onipoténcic, Sétimo momento: Paciente ¢ paciente. Unica sada do isola- mento, esta relaglo se estabeleceu desde o principio, para manter uma interlocugdo nfo ameagadora. Sua fungao é quase vital, Mantém uma identidade indispensavel. Oitavo momento: Clinico e psiquiatra. © limo encontro, Introduz-se, pela primeira vez, 0 “nossa” paciente, ‘Antes de nos despedirmos desses personagens, desejamos apre- sentar 0 psiquiatra que, por sinal, bem poderia ter sido 0 psicdlogo que tanto assustou 0 residente, sem que as coisas necessariamente variassem demasiado, Dois anos de formado, esta fazendo 0 curso de especializactio em psiquiatria e sempre esteve interessado em conhecer e dominar 0s Tecursos psicoterapéuticos, além dos utilizados em psiquiatria, que aprendeu na faculdade. Suas aspiragies quanto & formagao protissional “sistemética” em uma sociedade psicanalitiea acabaram no mesmo dia em que faveriguou as condigdes de admisséo, e os pregos da mesma. As- iste alguns cursos livres que jé the conferem suficiente gabarito para sentirse autorizado a utilizar 0 cédigo dos “iniciados” (tes Tomunha ——e vitima — do manejo que o psiguiatra faz deste co- digo & 0 clinica, quando foi alo do bombardeio terminolégico de seu recém-conhecido colega). fi evidente, por iiltimo, que suas maiores expectativas pro- fissionais esti depositadas na pritica de consult6rio privado; © nao s6 por fatores econémicos. Se bem possamos dizer que esse psiquiatra possa parecer uma ave rare", por estar trabalhando num hospital geral, © por Pre tender ampliar a bagagem formativa e terapéutica, mais, adiante tentaremos justificar porque o elegemos caracterizado desta forma. Consideramos este setor do servigo de psiquiatria num hos pital geral uma verdadeira “frente interna” que, como toda fen fofreré as vicissitudes de uma primeira linha: a série conflito-s toma-resolugio 0 caracteriza, no seu dia-a-dia. Sabemos, porém, que nfo € a tinica frente. Dentro de pid prio hospital, poderiamos, por exemplo, imaginar uma equipe psicologia trabalhando, em qualquer dos servigos dessa instituicso- 74 com independéncia da psiquiatria. Logicamente, nesses casos tam- ém se poderiam constatar os mesmos “choques"; contudo, 2 jul- yr por nossa experiéncia, aparece uma tendéncia & “assimilaggo” Mitua que se manifesta na redugio 2 uma simples colaboraeso téenica (diagnésticos, testes ¢ tratamentos psicolégicos). O psi- 6logo fica ameacado em transformar-se num recurso que o mé- died administra. Esta situagdo € corroborada quando, metaforica- mente, “o médico receita um psicdlogo”, Felizmemte, isto ocorre fm todos os casos. De outra maneira, teriamos, também aqui todos os sintomas do enfrentamenio que se faz noter entre os pro- tagonistas da interconsulta, Se continvarmos perambulando pelo hospital, rapidamente ire- mos nos deparar com outro dos tantos lugares aonde o enfrenta- “mento médico — sintoma psicolégico — psiquiatra adquire relevancia, sendo que, em alguns casos, a violéncia se torna flegrante. . As portas da sala de emergéncia se abriram com um estrondo ccaracteristico. Foi logo reconhecide pelos plantonistas mais ex- perientes e, como de costume, provocou estado de iensdo em todos ‘as principiantes. Era necessirio’ atuar rapidamente (palavra de “ordem fatal, que paira sempre em qualquer sala de emergéncia). Entra um homem com o rosto desfigurado, carregando nos bra- “¢05 uma mulher joven com as vestes em um chamativo desalinho. og fe serene. parecia somente dennaiads. Ainds dels, oe "fas pessoas tentavam entrar, em vao. Foram impedidas (nao s ‘lpuma discwssa0) pelo. enfermelro, acostumato a esse tipo de tre. Diante dessa aparicio, os médicos mais experientes rela- SAwarse, ¢ coube ao acatémico 0 primeiro conta. Exe, “Adotando toda a postura “doutoral” de que joi capaz, mal pdde “Eewtar 0 acompanhante dizer que “faz mela hora que esté des- Imaiada e com convulsdes". Recebe uma negativa diante da ita de se & epilética, ¢ Ihe pede que espere do lado de fora. Dig 4 PeCieme id havia sido deitada mma maca, dentro de um Com a atitude de quem vai confirmar uma suspeita, 0 aca- nico aproxima-se do rosto da paciente, observa detidamente suas = ras, e apodera-se dele um sentimento de triunfo: as pdlpe- ‘bras da paciente estavam trémulas ee ae as intimamente ao velho médico que Ihe havia ensinado a dica, para diagnosticar um desmaio histérico. gp Sti do bor decidido, dando uma iltima olhada para os seios Paciente, que se exibiam insinuantes. Vai chamar dois colegas 75 mostrar-thes aquela cena didética, i Prtermeira, que Ihe tome pulso e pressao. ¢ procsre algum familiar para preencher os dados da ficha. is médi justamente quan- voltar com os outros dois médicos, escute, to clove para entrar no Ox, 0 SOM cavacerisico de wr corpo caindo no chéo. A enfermeira, com um tom acuse ee os oo oe Me cade aalbees desaparece- e desenvoltura do acai : ae lugar a esse conkecide temor originado pela suspeita de um erro no diagnéstico. it consegue raciocinar: “epilepsia, um caso caré nn S35 de recolocar a paciente de volta na maca, ajudads sees colegar. “Neste momento, repara aue estes comecavin: @ othéclo com wna expressao int . Trata de concerirar Se novamente na. paciente, com a qual, sente-se, agora, profurda- Imente irritado: comprova: pressio normal, pulso acelerado € sem Sinais de ter sofrido um golpe mais sério. Propde-se, resolute. mente, a fazer a paciente rear: charia-a pelo nome (que acabara de ler na ficha) aos gritos, a0 mesmo tempo que sacod cabeca violentamente. = ece sera vez da paciente, @ qual, ainda que des sede cre bruscamente a apresentar uma intensa one surpreendendo o académico ¢ seus colegas que estavam ao io, que sto vitimas de sucessivos goipes aplicados “a esmo”. ‘A partir desse momento, comepam a se suceder € superpor vérias cenas: a paciente comera @ gritar coisas desconexas, © Get démico, manijestamente nervoso, ordena & enfermeira a SS ‘que wm valium, ao mesmo tempo que o acompanhante da pé irrompe bruscamente no box, querendy suber o que ¢: acon tecendo, e quem era o médico responsdvel. fora. Em seguida, dispdese a fater um ex init iente, que parecis aetcha tuscultathe, apaipathe... 2, nesse momento, recone. te um belo corpo que, para sua irtardo, “jala” no 36 a0 Prt fisional trata, endo, de livrarse dessa sensagdo desnor pedindo & enfermeira que va chamar 0 psiquiara de plantio. # dificil encontrar um termo adequado para descrever © 1% se passa muma segio de emergéncia de um hospital. 76 Talvez pudéssemos dizer que, af, tudo € intenso. Exige do ‘médico, muitas vezes, chegar aos limites de sua resisténcia; nao 86 porque, teoricamente, tem que resistir a 24 horas de trabalho, como também, mesmo ndo hevendo nenbuma atividade concreta, eqcontra-se num estado de alerta permanente. Os principiantes véem-se obrigados 2 domesticar esse inevitével estado de tenséo em suspenso, para po-lo a servico de uma aco rapida e precisa. Trata-se de responder a situagdes que sempre se apresentam ‘com violéncia. Sejam estas a de um enfarte, um politraumatismo, uma ameaga de aborto, ums intoxicagio, um abdémen agudo ... ow um ataque histérico. Em nossa pritica, temos podido observar que os mecenismos de defesa que se implementem pare “salvar” estas situagies so, quase sempre, os mas extremios. Quando falamos em mecanismos defesa, no nos relerimos somente sos que se podem verificar individuo isolado frente 2 uma situacio que assim o exija. os também de uma verdadeira organizacao defensiva em Com efeito, comprova-se a aparicdo de mecanismos como, por mplo, negagdes maniacas, dissociacdes extremas, atuagdes _psi- ppliticas ou sidicas, fugas f6bicas, que poderiam ser entendidas roprios de uma psicologis ow psicopatologia individual, como m — nos casos em que 0 tipo de trabalho requer sua exe- em equipe — a instituicgo de certas normas que, implicite jtamente, orgznizam o funcionamento do grupo. Assim, a propria divisio de trabalho nao s6 se regula para Operatives, mas também para fins defensivos. As “hierar- que dividem cquipe nestes casos legitimam uma relacko inacio = submieio, de tal forma que, come ntma “micro ". acabam por formar “classes”... Os rituais de iniciagao violentos, como se tivessem a finalidade de 20 candidato tanto o que o espera como “quem & que © estado de tensfo encontra uma forma de ser deslo- i ipes “jogos” © “brincadeiras” que té finalidade de “divertir”, dissociar ¢ canalizar pulsdes er6 vas para cenas mais elabordveis. ’a mesma forma, esta dinimica especial de funcionamento fima alianca de solidsriedade realmente marcante. E co- YF, no mesmo sentido, mas em outra vertente, uma relacgo limidade entre individuos que, em determinadas ocasides, for- tam subgrupo, fortemente unido dentro da mesma equipe. 1 rOVATOS. ligos; exemplo: quase Componente ete, ec «ee ee ae até hoje me fazem pensar --_)- s en Caine poy ‘comegam a circular, para Tele até - 2 ae ci} ‘prova de que estes fenémencs sao parte dinami vofssio. e Me em que, uma ver fora éa sitmagéo de eoviPe ee isis relagdes, a maioria das Vezes, 580 desi eee : :videntemente, isto que foi descrito como uma pacts a pase ces aS cee cn ST relacao 2 Fe paces uma en SS com, ms « 2 ease dima caractersica stints, a Es grau e na qualidade especial siquictr éncia, e é recebido pelo iquictra & sala de emergéncia, © & 176 fe eo a oe seguintes palavras: ee a mo aoa eclata brevemente 0 a oa le oe Ne te 07 ee scm acompaan, 2 que saa antes “ e é observado er mints he, at ei mites apne i ate é dizer algumas palavras ¢ esperar dizer abe n iente parece dizer Pcmene, om Gb oe Storr com «econ Pre “um dos médicos de plantlo que. com a detido Dor in se vai demorar muito, dado Gle er no box, part sur precisar = i ntido da 2080) Nada mi ems Co sna 2 wig SOTECR IB -s COREDT) alias iquiatra € © ante, id Te BiscUsI0, eo i edepois acomparhados pela et en 0 impacto. Ha algo, nela, tio evidente como invisivel, que pro- yoca atracio, para logo em seguida provocar repulsa. A histérica seduz, sempre. Mais concretamente, neste caso atrai, solicita, exige, sem dizer uma palevra. Quanto mais perto se est dela, num momento assim, maior ‘9 isco de sair “impotentizado” ante o primero passo em falso. Esta parece ter sido a sorte do nosso académico, que entra numa cena (sem dar-se conta disso) onde a sedugdo ¢ a castragdo so “8 dois tinicos vetores. Entende-se que, quando esta cena € mon- ‘tada nos préprios dominios do médico, 0 desafio cobra caracteris- tices de verdedeire insoléncia. A impoténcia é duplamente dolo- esa © a agressdo direta, como resposts, ndo se faz esperar. © folclore do servica de emergéncia canta com “msnatea” -recomendadas para estes casos de histeria: compressdo de ovdrios, globos oculares, simulagdes de cirurgia etc.. Recordo-me es- oc de uma. Sugeria-se introdusir gelo na vagina da his +++ Curiosa forma de lograr uma “interpretagao” (denunciar ), a0 mesmo tempo que ua resposta (vocé me castra, eu ‘esftio), enviedes pelo mesmo canel em que a mensagem foi _No nosso caso, a histética é poupada destas manobras porque ‘conta com um psiquiatra, o que, devemos reconhecer, § uma @ absolutamente excepcional, j4 que nie temos noticia de ‘exisia cargo de psiquiatra com a cspecitica Fungo de atender os do servigo de cmergéncia. Este fato vem a ser paradoxal, em conta simplesmente uma estatistica cuidadose, que que 40% de todos os casos ate apresentam, de maneira mais ou menos evidente, sin- sicolégica /psiquidtrica indo, as relagdes entre medicina e psiquiatrie, do ponto das instimigses paiblicas, esto adquirindo nova fisiozomia, desde que 0 manicOmio piblico encontra-se pré- ondenado, ao tomar-se cada vez mais evidente a politica fa qual se sustenta, com suas consequéncias de isole- ‘stonificagao do doente mental. que néo existe altemativa reformuladora nem “mo- que tenha lugar dentro do marco do velho manicd- iagGo de hospitais ¢ institutos psiquidtricos montados sobre mgesems, que reflita uma nova concepcio da saide e Meeniais, assim como de seu tratamento, representa, 79 sem divide, um grande paso adiante Porém, se elegemos 0 Zmbito do hospital geral como cendrio de nosso relato, no é sim- plesmente por questdes ilustrativas, nem tampouco porque seja lugar Gonde temos acumulada maior experiéncia. Trata-se, também, de Considerar 0 hospital geral o lugar privilegiado como um passo de integracdo entre a medicina ¢ a psiquiatria Poderia entender-se, destas palavras, que consideramos 0 “psi- colégico” como um problema da medicina; como também sabemos ‘que isto poderia ser considerado uma heresia. Diante disso, s6 fos cabe insistir em que nossa apreciagio parte de uma visio de politica sanitéria, ou stja, da administracéo dos recursos destinados P satide e enfermidade a partir dos centras de poder. Nao contando com manicomlo, © que fasiainos com os mi Ihares de doeates que 0s ocupam? Ou, mais problemético ainda, ‘0 que proporiamos aos milhdes que requerem aten¢io ¢ nio tém ‘gcesso 4 medicina privade? O hospital surge aqui como opgéo: fistoricamente, em nossa sociedsde, ¢ ao hespital, que natural- mente, a populagi acorre; e continua sendo assim, apesar das tentativas de sindicalizagdo que sc tém feito da medicina, através das “obras sociais” permitidas pelo governo. Nos paises em que ‘ate problema chegou a um ponto tal que optou-se ou permitiu-se 2 criagio de services de psiquiatria em hospitais gerais, de me- neira mais ox menes ampla, comprovou-se existir uma demenda expontanea © répida destes servigos, ao poato de munca poder set foberta, nem por um aumento da oferta, uma vez que 0 cresci mento dava-se em «spiral. Permitiu também um melhor conhecimento da realidade co- munitéria particular, que correspondia a essa repifo do hospital (organlzayGes tabibadoras, de boirro, escolares, er). possibili tando uma primeira planificagio em psiquiatria comunitaris; com provouse também que esta era a melbor forma 4 qual podia ter fcesso 0 préprio psiquiatra para conhecer a “epidemiologia” ds enfermigade mental, ou seja, estar bem perto da realidade soci! que a origine, permitindo, desta forma, uma admiistracéo mai facional dos recursos. Diga-se de passagem que esta epicemio\y” ia somente poderia ser conhecida depois que o vervigo em aves tzo fosse criado, pela simples razio que, antes disso, © paciente nfo “aparecia nas estatisticas”. ‘Supondo, agora, que jd esiamos instalados esse service fe psiquiatria no hospital gezel, das dezenas de problemas que teat mos para resolver, preferimos aiender aos sefores que, por see Ge contato dircto com o médico, geram conflitos institecionais 80 escolhemos, para melhor ilustragéo, ¢ também por razdes de es Paco, 0s setores de interconsulte ¢ emergéncia. Durante anos, tsmos sido testemunhas dos singulares proble- mas que so geradcs nestes setores; , como Coescrotace 4, | singulares também deverio ser os métodos de andlise © as formas ‘operativas para instrumentar as solugdes. Para 2 andlise, resultou-nos adequado (especialmente para in- feconsulta) adotar um modelo de campo dentro do qual’ coesis: em tanto interesses ¢ confltos institucionais quanto desejos e con- fiitos inconscientes. Coerentemente, 0 madus operandi devia imple- 0s préprios que se adaptem a dindmica do grupo. Estamos conscientes de que, no que diz respeito @ métodos e téc- siear, ainda bi muito = dizer. Ajudados pelo vo da especulago, poderiamos imaginar nosso gsiquiatra de interconsulta (ou, para tornd-lo mais verossimel: 2 ‘um psiquiatra que vai entrar no hospital) utilizando outros métodos, “diferentes dos que o vimos empregar ... quem sabe, por exem- um grupo que incua 0 mé& a paciente ¢ seu ou outro que agregue diferentes médicos, enfermeiras © socigis -.. ou, ainda, ao psiquiatra de plantio traba- com os trés académicos'... ou fazeado ums sessio de familiar de “emergéncia” . A propixito dos “casos” apresentados, e como ponto final: observado que nfo aparecem nomes préptios que designem 2 um de nossos personagens. Isto no ¢ por razdes de dis- > profissional. Suced= que todas eles — a paciente, a en- a paciente vizinha, © médico, 0 scompankante, 0 psi- - — 86 existem, com seus nomes reais, na realidade das 81 PARA UMA REFORMULAGAO DA EXPERIENCIA GRUPAL Antonio Lancet: grande variedade de técnicas grupais que tem se desenvolvido ;permovimento extensivo Este auge social tio volumoso demonstra uma grande confu- fem suas teorias ¢ uma marcada anarquia em stu acionar pré- Sem divide, observando sua passagem pelo mercadu ... que p bem tem sabido conquistar, no € impossivel ceptar alguns tra- que sustentam sua prética e alguns fundamentos que mentém suas teorias. Ao enfrentar-se a vasta bibliografia sobre grupos ¢ 0 es- (08 terapeutas de grupo falar de suas cxperi¢acias sobretudo, ', “barbaras”, “muito mobilizadoras", isto 6, “assombrosas”, ‘vem a idéia de que existe um zlistamento em virios sentidos: ‘primeiro lugar dos conceitos, leia-se transferéacia, contratrans- _Tesisténcia, papéis, ideal do ego, gestalt do grupo ¢ so ‘Em segundo lugar e voltando a recorrer aos soldados, no sen- da agéo ideoldgica: melhorar as relagSes interperssoais, 26 83 relacSes familiares, a produgdo, ... ¢ em teroeiro lugar alistamento do proprio monitor, posto que um bom terapéuta de grupo, como consequéncia de seu grande treinamento, tem que ser “pronto”. Mas como nao é nossa posicdo a do arrogante que deprecie esta pritica por consideré-la a-cientifica e impura, serd preciso pois, iniciar um movimento que transite desde uma critica as ideologias grupais, Tratase de apontar as nocées fundamentais que er- ‘mam seu discarso, passando pela caracterizag3o dos fendémenos que produzem a eficécia no suceder grupal e por tltimo, através de determinados orientadores, tentar abrir uma pritica que busque ni 36 uma instancia cientifica mas que pelo menos no esteje 2 ser- vigo da reprodugio ideolégica. As nocdes que justificam Dado que nfo € objetivo do presente trabalho uma classificaczo d= todas as unidades do extenso tecido ideolégico das teorias g-u- ‘pais, me proposho apenas a apontar algumas das concepedes que © grupalismo instrumentaliza. ‘A principal delas € sem divide a do indivéduo. Em quese todes os textos, inclusive na maioria dos que se pretendem psica- snulitieos, nos deparamos com a mais paradaxal das situagées ¢ que por sua vez se constitue numa das tees centrait do presente t12- batho © que poderia ser emunciada da seguinte forma: A IDEOLOGIA DE GRUPOS E INDIVIDUALISTA Em Slavson, Kiapman, Schilder, Foulkes, Anthony. Grinberg ¢ em muitos mais poderemos encontrar expresses como “interpre- tar a0 grupo como um todo”, “técrica interpretativa do grupo”. “como gestalt”, em suma, entender o processo grupal como um movimento para “o um”, indivisivel. Estaria aqui um pélo, grup? como unidade indivisivel, e por outro lado os componentes, iso € ‘9s individuos; a dindmica grupal solda estas identidades ¢ fez. co que o grupo como tantas vezes se tem dito ¢ escrito “nao é ume soma de partes” para tomar-se uma soma de dois idénticos: © indiviguo grupo eo individuo particpante. Mas estas nogdes nao so apenss faldcias, mas sto também © principalmente para efeico de nosso interesse, operatives. 84 ‘ACE? Permitam-me recordar uma vez mais que individuo € 0 |) teério de ividir e encontraremos estes supostos. na esséncia ts teoria dos grupos operatives © em Bion através da crenca da exis. - tencia de um nicleo psicdtico central, ou seja, a situagdo depressiva Bisica patogtzica € as estruturas patoligicas sero consequéncia pe sence do ego", teoria eaunciads por Pichon-Rivigre mas é atribuivel 2 Bion © 2 todos : “Teor pes stated seus seguidores: “Teoria da en- SH. Foulkes © EJ. Anthony em sua “psicoterapie psicana- litica de grupo” que serviu de livro de cabeceira 3 muitissimos lerapéutas de grupo disse: “Na psicandlise 0 paciente € 0 tinico individuo: em sndlise de grupo o paciente € um grupo de im. dividuos. Disto se decor aie s andite de grupo deve consespviie, ina pritica, 20 tratamento de orien i eae tac psicanalitica de grupo como _ Por todas as partes se individualiza quando se faz grupo ¢ emperiéncia freudiana construix um sujeito inconsciente. funda. talmente, porque nfo é individuo, sujeito clivado conslituido sua relacio com outro. Mas sigamos nosso caminho. ‘Uma vez solidificada em sua nocéo central, a ideologia grupal Sutras como 2 de relagdes interpessosis, Slavson especial- fe considers a relacio interpessoal, que poderiamos chamar fo interindividual, como constitutiva do individuo humano, co- diria Bion “o individuo é um snimal de grupo”. Se a relacéo interindividual ¢ constituinte, pode-se concluir baste rapider que os grupos humanos so dtomos sociais © grande salto sociolégico; disse em “Psicoterapi ccna mae Sok ioe 40 de microssociologia para designar © estudo do tipo de méncia em grupos que desenvolveremos ... A prética grupal foma um micrascSpio social, atencéo... que j4 nao fard falta ' salto, com um simples passo de elidir alguns determinantes do Deninio social, poder dizer-se em termos gestaltistas que a demo- € ums boa forma. nmgit™® N0co que 0 periode ideoiigico dos pequenos grupos in € a de esteretipo, Em todas as linbas isto “coum inclusive nas dos grupos operstivos que nunciam a ope- Made como uma pesagem do esteredtipo 20 desesterestipo. # flndamentalmente esta nocéo se exacerba ne psicodrama mo- ao, Sobre isto J.B. Pontalis em Depoit de Freud, mostra ‘ronia as bondades do teatro da espontaniedade como 8s pecificamente i ‘Essencialmente ja iuto es norte-americanc. Ess it tum produe ais, como na pscandlise, de ligar o sintoma, 20 pis sado, i tural. rai sm de que individuo se neurotiza pela rigidez cul- Hiente embandeira suas Colocando em cena seu confiito o cl snsuficencias e através dos egos auniliares se des-conserva, s© cs: fur de seus papéis doentios apreendeado claro estd, novos de comportamento. A eficécia mos grapes funca se sabe muito bea porque, mat nos grupos SE OPETaM Mo- Tifieagbes, © consenso geral a respeito & que se hi menos teortss, “passam mais coisas”. so = ‘Primeirament rs st tos So- rimeit te € apesar de nao estar enuncia nos bre grupos, um dos poderes fundamentais € catértico. —_ joi de alguma mancira estabelecia cido com respeito 3 cri tica Saas ‘a Moreno, um dos artificios principays é, através dos egos auxiliares, 0 ensino de modelos de ‘comportamento. Psicologia das Massas ¢ Andlise do Exo, oes aos erupdlo- SF formolados para outra excelente restricdo; @ teoria dos sans Ninguém poderd pér em divida que ante uma siuagio novs pro vringeecjedade ¢ que gerars, Ge 2cordo com a situayso experitn See a Gepositéno, depositante, sabotador, ; A qué? Ao instrumento. : 2 troca de nants ado, com resperto ao privudrama, na troca de pands wy cam en Sia Soe p ae por um lado através de andlise dos paps se vai conduind? cs participantes das redes da referente imagem de s7uPO Cos, fo, maz 0 verdadeiro sustento é feito pelos suposios, "Ore indénci ‘emparelbamento; is0m0! de de a, de atague ¢ fuga ¢ de ° Som se posigses Kleinianas esquizoparandide © depressive, a grande a thot duz outro salto: o grupo se faz interno, ou mel © instrumento imagem de grupo conduz os participantes * * 86 dar-se 3s nogbes que eles mesmos ditaram. Ou seja que se pra- ica o instrumentalismo. Desta maneira vio-se operando modificagtes chamadas “curas” nos grupos, mas 0 cireulo ideolgico ainda nio est fechado. 4 A vida nos grupos completa sue circulagio mediante uma ferramenta que em minha opinigo € a fundamental, que € 2 ilusso que se vai fazendo de que seus integrantes vivem através dos me- canismos jé descritos de um ego individual. Alguns com mais coragem © enunciam como ego forte desestereotipado. O que se faz fondamentalmente € uma forte promocdo narcisista, os egos se reconstroem, se fortificam, se descontraem, se unificam 2 luz do ‘organismo totalizador grupal, se funde ¢ no meio da festa ima- gmaria se recolocam as neuroses sob a forma do melnoramento cas gelagdes interpescoais e a soltura do corpo na experiéncia corre- tora. |e Fe sceciitcion . inflaggo grupal se expande socialmente, reproduzindo um movi- ento operativo que poderiamos descrever da seguinte forme: Se OS supostos, logo sc instrumentaliza-os ne pritica, volta-se ‘eencontré-los ndo sem assombro na “teorizagia” ¢ assim se cir- se empiriza 0 objeto te6rico € se ideologize 0 empirico. _E dado que se reencontra na pritica 0 que se anuncia na com © salvo-conduto de que teoria ¢ pritica sempre esto ntas, se escondem as. perguntas. Se me confirmo na pritica, o que digo na teoria ou na teoria faco na prética: 0 que deixo de fazer é perguntar-me. ‘Obruram-se vérios tipos de pergustes com as noses posts > mas a mais importante € a seguinte: 0 que se faz quando se instituem grupos? Se a jun¢a0_ institucional ‘Separacdo: 0 que faz a instituicao “grupos” quando individua- 95 grupos e grupaliza os individuos? Proponho ume resposte: obturar a funcio desejante do su- oferecer um dos melhores exemplos do que Guattari chamou N30 € propésito deste texto fazer uma classificagiio exaustiva dores que abriram uma perspectiva de outro tipo de pré- 87 ‘Simplemente nes propomas a iniciar uma dimensSo insti. tuinte que parta da critica & prética ideolégica sempre velad: © tingida de cientificidade, ndo superada, pelo menos nos meios lz tino-americanos. Pelo menos constaria dos seguintes pass: 1. A contribuicdo da anélise institucional de orientagdo fran cesa (ver artigo publicado pela revista Linea n° 1 “Puntualiza, ciones sobre el aporte del analisis institucional de los pequeitos grupos” de Gregério F. Baremblitt) com o qual necessariamente se inicia um érduo caminho polémico € cheio de dividas e dificul- dades epistemolégicas. 2. A psicanilise, 0 materialismo histérico, a semiética « a epistemologia materialistas. 2. A revisdo dos textos que formularam uma tépica home morfa a do psiquismo subjetivo isto é, um aparato psiquico grupal, fundamentalmente René Kaes e Didier Anziev. Em Gitima instncia reformular a experitncia grupal significa inquietar-nos ante uma prétice que aos grupistes, devido a sua gran- de quantidade de horas-grupo, tem deixado demasiado tranquilos. Se o sujeito inconsciente ¢ um sujeito relacional, o lugar do sujeito inconsciente no grupo € sua possibilidade clinica de des sujeitamento estaria jogada em duas dimensdes transversais, (Ver Psicandlise e Transversalidade de Félix Guattati.) ‘Estar-em-grupo-supée um umbral de.castragéo em tanta senin- cia pulsional € confronta o sujeito @ lei. Entio a possibilidade de des-sujeitagao estaria jogada em con fronto com a more em dupio sentido. Na dimensio contréria & hierarquia agenciando sua prépria morte como grupo. E no entanto a circulagio famtasmética na clinica grupal se dé mum eatrecruzamento de relagdes inte-subjetivas especulativas, 3 fidade simbélica seria a da morte das imagens sempre at- culadas transferencialmente com a dimensdo institucional, operendo relagdes de reconhecimento. O que se passa neles? O que sio? Roberto Fernando de Carvalho , este artigo adotasum titulo interrogativo, Seu es po é mesmo esse: perguntar-se pelo que sé passa, para tentar ma hipétese sobre a natureza de um grupo humano. A expe- ‘pessoal, associada 4 leitura de um certo mimero de artigos, -organizando, se no um saber. pelo menos aquilo que cons- “© mécleo do que se ignora, se desconhece, se evita nomear; aquilo que desconcerta, que escapa 20 entendimento. artigos de J.B. Pontalis so utilizados, ora como inspi- Para as questdes que eu mesmo me ponho, ora como orga da discuss40 destinada a propiciar 0 delineamento esque- daquele niicleo citado. Sio eles: (a) “As Técnicas de da Idcologia aos Fendmenos”. (6) “O Pequeno Grupo ye) “Um Novo Curandeiro: J.L. 10"; Tes 1972, do francés Aprés Freud, Edi- numa edicao de 1968. © mais antigo desses ar- ©), data de 1954, sendo (b) © mais recente, datado de Nao obstante a relativa antiguidade dessas publicacdes, pen- So stualissimas na identificagao de boa parte das questdes ea spistemoligica ¢ ontoldgice referentes A psicologia dos De testo, ndo parece que essas questes tenham sido bem aS € enfrentadas até os dias stuais; menos ainda, bem Para os leitores que tém acesso 20 idioma francés, reeorrer ans textos originais publicados em: (a) Modemes, n. 108, 1954: (c), idem, 211, 10652 de Psychologie, nos. 6 a 9, 1958-1959. Malgrado a 89 boa intengio da editora brasileira, que nos pés uma traducdo re- visada 4 méo, esta é de qualidade péssima, induzindo, em muitas ocasides, 20 entendimento inverse. daquilo que pretende o autor, gcaBalar de um nimero maior de vezes onde # literalidade de Sey traducdo leiga coloca o texto inteiramente inacessivel a qual- quer entendimente A teoria dos grupos Nio é exato falar de teoria; teriamos que usar o plural 2, pelo me- hos, citar as “escolas” mais importantes: sociométrica, lewiniana tie O que importa, no entanto, € que, em qualquer caso, es Garemos falando de um conjunto de cbservagies, desericGes, pres- Tiigdes s6enicas ¢ elaboraqves webiives que nEo romper radioatmentr e'Xratuto do empirico. A convicgao central que este trabalho en- dows é a de que hi uma falicia na definiqio do objeto dessa teoria. Hé um falso problema comum a toda teoria dos erupos. - Eves o proprio grupo. A questio que interessa_essencialmente Tavamar €: a que. ov quas territGrios epistemol6gices, todos os ‘ludos de grupo ferdo que ser assimilados? Qual 0 objeto formal sehador desea teoria? Mais claramente, teoria do que serd essa? ‘A que Icito aflui a vertente dos grupos, com todo seu accrva €f- Mal? Uma questo que nem a sociologia, nem a psicologia Petia! tém enfrentado decisivamente. Que outros afluentes ests sre mlonvergindo com os grupos? Talvez a psicologia ¢ a sociologia Ee faatituisdes, a psicologia e 2 sociologia do trabalho tenbam mui- to que sportar para a demarcacio ¢ instaurazéo de ‘um novo ob- jeto, no qual os estudos até hoje realizados serio reinscritos € produzirgo um efeito, hoje inalcansavel. As conseqiigncias mais PiMdentes de uma tal caréncia podem ser encontradas nos diversos Gmpesces com que se enfrenta, atualmente, a teoria dos grup 22° ieeesga relagao com a idcologia; sua utilizgie © a apropriagas Social dos seus efeitos; sua incapacidade para resolver, tanto & aivel seg como a nivel teérico, questes como: que estabilidade ‘atibuir aos resultados alcancados pelo grupo? A. gue nivel Ee profundidade deve 0 grupo esperar eficécie?” Qual o dom io de se Suporte dialética vinculadora do grupo e seus integrantes? Uma ciéncia depurada de ideologia? io valeria a pena retomar esta antiga discusséo. ~ Sabemos. Bo qudo sobredeterminado € qualquer exercicio social, em £51 s Gientifico, De que se trata eatéo? 90 Toda pesquisa referente aos grupos, se for realmente uma pesquisa, (...) implicaria, necessariamente, uma idéia de seu funcionamento, uma representagio, ao menos aproxi mada, do que devem ser seus objetivos (...) uma idéie que funcione como conceito regulador, a respeito da socie- dade global ¢ de suas molas fundamentais. No entanto, hnéo se deve procurar, nescss verdades gerais ¢ confuses, pretexto para qualquer avaliasio como, por exemplo, pres- supostos normativos sob 0 disfarce de uma hipstese de tra- balho, ou a ideologia de um grupo social invocando a ne- cessidade de uma conceitualizacso (...); seado —e é isso 0 que frequentemente ovorre — acabar-se-ia por con- siderar como fetos “cientificamente” estabelecidos o que. nas condicdes de dependéncia tedrica e técnica em que se ee = ee existe € apenas uma ideologia compartihada’ grifo é meu). — oe resis no tito acima ¢ que Ponts (J-B-P.) v8 2 Hoe ia como componente necessariamente presente na investi , presente “nas condigies de dependéncia teérica ¢ técnica on Pn a aca ato apie ot eae lidade, se On] na incia aplificadora de fazer, dessa Tomas nese is ae su- ficiente de tods investigacio. Toda scbredeterminacio, reduzida ‘uma detemminasfo linesr ¢ direta, como a que produziu 2 genética ‘Mitchourine ¢ Lisenko, causa mais prejuizos do que a pretensa o > geared dos agentes do estabelecimento cientifico li- fas, se nio se trate de negar a idcologia, nem de fazer lao Gnico vetor normativo da investigagdo, como lidar com a gia _presenca inevitivel sem ce tornar um prosélito de seus fins? “questo, nfo sendo falsa, sofre dos mesmos males que o terri- que a suscita: tangencia uma outra questéo, que nfo pode da com clareza, © que, esta sim, poderia receber um sistemético © respostes adequadas. Provisoriamente, os adotam a postura cautelosa de “assumir” a dificuldade, expressamente, “tratar” dela no interior do prépri grupo, de que essa disposigdo preventiva acabe exorcisands sma incémedo ¢ invisivel. No entanto, nem sempre se [Gonta do arifio ¢, onde utilizam chumbo grosso € tira dis- julgem usar municio adequada e tiro de precisio. Pontalis, J. B., 4 Psicandlise depois de Freud. cap, 10, p. 195-196. 91 testavelmente, um mau emprego da psicolo- ia social, que comsste em reduir a vida socal 3 psicolo- ia. ). E por isso que pensamos que convém, de inicio, interrogar-se sobre ox pressupostos ideolgicns, te5- ricas e téenicos das experiéncias de grupo — interrozacio necessdria e permanente pera toda a pesquisa em que o ‘observador, com seu horizonte pessoal, politico ¢ social esti, manifestamente, ligada a observagdo* (0 grifo é meu). i imentaliame do deve aqui © apelo a linguagem do experimentalismo 0 fev de Albi dtnado a wang lat © pesquisndor oor fando-nos controlar as varias CP Ss ay simans oriole ee Ihab. mes negligenciamos todo resto no “controlado”. que deno- misamos ideologia e que enfeixa roda a pesquisa referents aos pequenos grupos®. (grifo meu.) es ae ode “interrogar-se, de inicio e permanentemente” seat ben ter carom, pn dees panier cate @ relagis ooo ee ee onde 36 se pode adotar una atitude preventiva, genérica, de son dagem, sem expictar em que conse esse interroga-se, nen quaa- do (logo, de inicio) nem por que (logo. permanentemente). ~ sim, garantimos que, pelo menos, poderemos dizer: fizemos o que tera possivel. Mas, nao resolvemos a questdo; apenas a com mos (¢ a protclamos). e os J.B.P., aponta para a comparagio que sé gia os ‘mo delos conceituais © as téenicas psicanaliticas, e as de grupo; A que seja, mas sah a condicio de no esquecer que avexperiéncia que impos quesides a Frevd, seatinoa 8 impé-las aos analistas, uma experiéncia singularmente oe sorientadora, aberia, problemétice; dai 2 diversidade. de modelos. © até de metiforas de Freud, cujas caracterstcas de provisério, mutivel © parcial sGo_ sempre lembradee Depende sempre de nds se o saber & um guia ou uma (gifo meu.) A seguir, Pontalis arrola os determinantes que, a seu ver. a ram o “saber” com referéncias aos pequenos grupos; sfo eles: a) A orientasgo do conjunto das Ciéncias Humanas. 'b) A orientacdo de uma sociologia avida do estudo de grupos “informais", “‘no-rigidos"", “democrsticos”, “criadores”. ©) A evolucdo da psicologia, do individual para o inter- pessoal. 4) A evolugdo de uma psicologia organizacional, encar- regada de prover respostas para o desenvolvimento democritico e humano” des empresas (D.O.), ond: © pequeno grupo fornece o material de experiencia e a referincia normativa. Finalments, fainies puupriamente 1eologicos, ligados 2 uma “concepsio de democracia que a limita 3 livre discussio: supondo-se uma concordaxcia quanto as instituigdes, entfio s8 se teria por meta moditicar as atitudes para fecilitar » cooperacio.” (grifo meu.) @ preocupacio com a origem dos estudos de grupo: se 0 conhecimento € um guie ou uma tele (comparasio com ‘Modelos psicanalitions) € saber se o conhecimento produ: uma de stitudes ou se, ao contririo, 2 necessidade de prover Yadicalmente oposta em sua origem, a psicanélise estaria, Sempre, imunizada contra um ta! efeito, nio &, desde logo. @ ele? Nao obstante as reservas, prevalece o fato de que me femos que elucidar, epistemologicamente, 2 orjgem desse ji © discurso sobre os grupos. O que equivale a reconhecer que ‘epistemolégicas e ideolégicas séo complementeres e in- Nem a psicanalise, nem a tcoria dos grupos, esté, quanto a B€ quanto a seu desenvolvimento, aci histérico-culturais. O que faz, entio, com que seu es- Spistemolégico seja distinto? A ma fé de ume, em contra pa imunidade ideolgica da outra? Sabemos bem que a © de um novo territério cientifico se dé mesmo na ruptura ‘deologia pré-cientifica que 0 antecede. Sabemos bem (e 1) que a rupture, por si s6, nao ‘assegura nenhum desenvol- auténomo, indefinido, do discurso cientifica. O zssedio cujo discurso € permanentemente “aperfeicoado” pela 93

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