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O documento discute a literatura africana de língua portuguesa e os desafios de ensiná-la no Brasil devido ao desconhecimento e estereótipos sobre a África. A disciplina enfrentou preconceito na UFRJ, mas agora é obrigatória. Professores precisam usar muito tempo para desconstruir visões errôneas antes de ensinar a literatura, que trata de temas universais além de questões políticas.
O documento discute a literatura africana de língua portuguesa e os desafios de ensiná-la no Brasil devido ao desconhecimento e estereótipos sobre a África. A disciplina enfrentou preconceito na UFRJ, mas agora é obrigatória. Professores precisam usar muito tempo para desconstruir visões errôneas antes de ensinar a literatura, que trata de temas universais além de questões políticas.
O documento discute a literatura africana de língua portuguesa e os desafios de ensiná-la no Brasil devido ao desconhecimento e estereótipos sobre a África. A disciplina enfrentou preconceito na UFRJ, mas agora é obrigatória. Professores precisam usar muito tempo para desconstruir visões errôneas antes de ensinar a literatura, que trata de temas universais além de questões políticas.
Literatura africana: desconhecimento e preconceito Juliana Rettich fotos Marco Fernandes
Embora as razes tnicas do Brasil
sejam, em larga medida, africanas, o desconhecimento em relao ao continente faz com que proliferem vises estereotipadas e preconceituosas sobre ele. E esse um grande desao enfrentado pelo corpo docente da Faculdade de Letras da UFRJ que leciona a disciplina Literatura Africana de Lngua Portuguesa. Includa h treze anos como optativa no currculo do curso de PortugusLiteraturas, a disciplina se iniciou com a professora Carmen Tind, do Departamento de Lnguas Vernculas, tendo que Elementos da cultgura africana no acervo do Departamento de Lnguas Vernculas da Faculdade de Letras
driblar o preconceito, at mesmo
de seus colegas. Atualmente ela disciplina obrigatria na grade curricular do sexto perodo, com apenas dois tempos semanais e quatro tempos ainda como disciplina eletiva, o que, segundo a professora, muito pouco para falar da Literatura dos cinco pases do continente que tm como lngua ocial o portugus (Moambique, Angola, GuinBissau, Cabo Verde e S o To m e Prncipe). As literaturas africanas so to pouco estudadas no Brasil que h
srios problemas. Um deles a falta de
professores especializados. Tanto que o quadro da faculdade conta com apenas quatro docentes, dos quais dois so substitutos. Esteretipos Para dar conta das caractersticas dessa literatura, as professoras utilizam o mtodo de comparar a produo dos cinco pases, j que a carga horria pequena e, segundo Norma Lima, especialista em Literatura de Cabo Verde, preciso grande parte do tempo para desconstruir a viso estereotipada que os estudantes tm, para depois discutir, efetivamente, o assunto. Norma conta que nas primeiras aulas ela tem, inclusive, que levar um mapa, pois muitos no sabem onde ca a frica e alguns acham que ela um pas e no um continente. Carmen e Norma ressaltam que no raro as pessoas perguntarem se vo discutir uma literatura de tambor ou se vo falar da questo do negro ou de questes politicamente engajadas. Essa ltima caracterstica foi marcante na literatura africana dos anos 1960, como se pode ver nos poemas de Agostinho Neto, poeta angolano. Mas isso dentro de um contexto em que os pases de lngua portuguesa lutavam pela independncia de Portugal. E, aps conquist-las, muitos autores buscam aproximao do Brasil, tendo como principais inuncias Guimares Rosa e Jorge Amado. Assim, libertam-se, tambm, da imposio
portuguesa de uma literatura puramente
europia. Carmen dene isso como uma atitude de seguir o irmo mais velho (o que se tornou independente de Portugal antes deles). Porm, hoje, muitos autores da literatura africana se mostram preocupados em reescrever a sua histria, dando voz a personagens marginalizados pelo colonizador, mas tambm falando de questes existenciais, de amor, do potico e do ser humano, nas quais a cor no vai condicionar o tratamento dado s personagens, constata Norma Lima. A frica no Ensino brasileiro A curiosidade e a busca das razes tnicas e nacionais condicionavam estudantes na procura pela disciplina. Atualmente, Carmen Tind acredita que o aumento do interesse pela frica est relacionado Lei 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do tema nos ensinos Fundamental, Mdio e Superior. Isso faz com que professores busquem se especializar, o que reete no aumento do nmero de inscritos nos cursos de Extenso realizados pela Faculdade de Letras. Contudo, Carmen e Norma continuam com a preocupao em elaborar um ponto de vista sobre a frica que sirva para que os estudantes se estabeleam como multiplicadores. Minha preocupao de minimizar os esteretipos ou essa leitura preconceituosa que se tem da frica, destaca Norma.