Vous êtes sur la page 1sur 24
Fernando Aurelio Zilveti Editor-chefe: Roberto Ferraz ISSN 1415-8124 REVISTA SHS aS Sao Paulo - 2014 Critica ao Dualismo entre Fato e Evento na Ciéncia do Direito Tributario André Folloni Profesor do Programa de Pi-graduasio em Direto da Pontificia Universidade Catilica do Parané- Mesrade ¢ Deusorado, Dont em Dircte do Estado pela Universidade Federal do Parand. Coordenador da Cura de Eipecalizata em Dircito Tribuuirio Empresarial Pracesual Tribuvia da PUCIPR. Advogade Resumo Este artigo pretende criticar os fundamentos e as consequencias da teoria dla incidéncia das normas tributarias baseada no dualismo entre fato ‘evento, na busca do desenvolvimento da Ciencia do Direito Tributario. As criticas dirt bases teéricas do dualismo em Pontes de Miranda e ‘Habermas; ao fato de utilizar premissas psicolégicas e sociolégicas: d pre- imissa da separacao entre dever-ser e ser; A pretensa auséncia do dever Jjuridico de cumprir normas juridicas; ao sistema de referéncia adotado; a necessidade ¢ suficiéncia de edicao de “norma individual e concreta” e a0 argumento ad hoc aie os de obrigacao € de proibicao criticada; d sua explicacio do lancamento por homo- 1; a0 formalismo © ao reducionismo que subjazem a teorias & sua o terminolégica € aos problemas que traz diante de conceitos tradicionais da Teoria do Direito. Ao final, o artigo apontara um Fao jt- rridico sem linguagem competente. Palavrascchave: cigncia do Diveito Tributario, dualismo entre fato e even- {o, tributacao, complexidade, desenvolvimento. Abstract This paper aims to criticize the foundations and consequences of the theory of the incidence of tax rules based on the dualism between fact andl event, in search of Tax Law Science development. The criticism is directed to its theoretical basis in Fontes de Miranda and Habermas; to the fact that it is based on psychological and sociological assumptions; to the premise of the separation between “ought to be” and “to be”: to the alleged absence of the legal duty to comply with legal rules; to the reference system adopted: (0 the necessity and sufficiency of editing “individual and concrete rules” and the ad hoc argument involved in it; to the concepts of obligation and prohibition adopted by the criticized theory; to its explanation to the tax assessment made by the taxpayer himself; to the formalism and the reduetionism that underlies the theory; to its terminological vagueness and the problem that it bringy to traditional concepts of Law Theory. At the end, the article will show a legal fact without competent language. Keywords: tax law science, dualism between fact and event, taxation, complexity, development. 10 DIREITO TRIBUTARIO ATUAL n® 32 Introdugao Este artigo pretende expor 0s findamentos ¢ as consequéncias da teoria da incidéncia das normas tributarias baseada no dualismo entre fato € evento, Essa teoria sustenta que 96 havera direitos e deveres quando houver a expedicao de um documento, chamado “linguagem competente” ¢ havido como “norma individual © conereta’, reduzindo o universo do Direito ao juridicamente documentado. (© artigo expord as bases tedricas do dualismo, stuas premissas, suas conclue s8es € suas consequéncias priticas, submetendo-as a criticas. Ao final, demonstra- ria inviabilidade tebrica € pratica da proposta 1. © Dualismo e suas Bases Teéricas em Pontes de Miranda dualismo entre fato e evento introduy, na tcoria do Diteito Tributario, nova compreensio do fendmeno da incidencia, até ento dominada pela concep- io tedrica de Pontes de Miranda, Para esse autor, a incidéneia ovorre quando da realizagio conereta, no mundo dos eventos empiricamente apreensiveis, de fato que corresponda a alguma hipdtese normativa. A norma que prevé essa hipétese, enlo, incide sobre 0 fato, juridicizando-o, © dai irradiam-se efeitos jurfdicos. Esses efeitos sio relacies juridicas entre sujeitos de direito, criando deveres ¢ di- reitos correlatos, Segundo essa concepcio, direitos e deveres juridicas s6 existem no interior de relacées jurfdicas, ¢ tais relagdes $6 nascem, concretamente, quan- do ocorrem fatos jurfdicos, Antes do fato jurfdico, nao existe direitos subjetivos ¢ nem deveres acometidos it sujcitos. O fato juridico & uma causa, ¢ 0s seus efeitos ‘io o surgimento de direitos e deveres, que s6 aparecem enquanto eficicia do Fato, Juridica’. Essa nogio de causalidade permanece no dualismo entre fato e evento: inva- riavelmente, em qualquer espaco e tempo onde houver alguém com direitos ¢ deveres, envolvido em uma relagio juridiea, isso serd efeito da ocorréneia de um fato juridico. Mas, no dualismo entre fato e evento, 0 “fato juridieo” ja nfo € mais ‘© mesmo. Eis aqui a novidade: o fato juridico deixa de ser a ocorréncia concreta, que se da no plano da facticidade, no mundo da vida eoncreta dos sujeitos, para sera descricio lingufstica desse fato, documentada em um suporte fisico, a partir do qual o imtérprete “constréi” uma norma juridica “conereta’, Fato juridico, ago- ra, € linguagem. “Concreta” € a norma que, em seu antecedente, descreve uma ocorréncia passada, © nio uma ocorréncia hipotética - 0 que seria proprio dis normas “abstratas", O fato ocorrido no mundo da vida concreta, chamado de “fato jurfdico” por Pontes de Miranda, € renomeadlo “evento”. A deserigio do evento em linguagem € 0 “fato”. Aparece o dualismo: o antigo fato juridico torna- se “evento”, restando o nome “fato juridico” para denominar outra realidade, pretensamente linguistiea’ MIRANDA. Francisco Cavalcanti Pontes de. Tntado de Diviteprivado V. |, ed, Rio de Janeiro: Borsoi, 1951, pp. 6-19: VILANOVA, Larval, Camis eleto no Delo 4° ed, Sid Pals RT, 2000, p. 54; VILANOVA, Lourival. “A teoria do Dizeto em Pontes de Miranda’. Eseries us vs fesfcas.V. 1. Sao Paulos Axis Mural Met, 2008, p. 410, CARVALHO, Pauio de Barros. Dieta Trbatirn:fundamenton jraiiven da incidence, 9 ed S80 Paulo: Saraiva, 2013 - edigio eletronica, pp. 270-280, 10 TRIBUTARIO ATUAL #32 No mais, tido permanece o mesmo: a relacio juridica, os direitos e os deve- es, todos $6 nascem quando 0 fato juridieo ocorre. Contudo, 0 fato juridice ago- E outro, de modo que a relacao juridica passa a existir ndio mais quando ocorre “evento”, mas quando ocorre 0 “fato juridico”, isto € quando hi a descricio de 1m evento em linguagem, no antecedente de uma “norma individual e concreta’. Permanece a ideia segundo a qual s6 ha direitos deveres jurfdicos quando ocor «© 0 fato juridico: porém, agora, esses deveres ¢ direitos surgem quando houver a descri¢ao lingufstica e a “norma individual ¢ conereta’ Nessa segunda concepeio, nio ha mais a incidéncia pontiana da norma. Ocorrido 0 “evento”, nao ha fato juridico nem relagao juridica, nio surgem divei- s nem deveres juridicos. Eles s6 surgirao com a edigio da “norma individual € concreta’, Essa edigao, desde entao havida como aplicacio da norma, passa a ser confundida com a incidéncia: aplicagao ¢ incidéncia, conjuntamente, fundem-se no mesmo ato de edigio de “norma individual e concreta”. Incidéncia e aplicacio, até ento haviclos como conceitos distintos, sio findidos. O dualismo, com isso, cequipara incidéncia aplicacio. $6 haverd fato juridico com a aplicacio, s6 ha incicléncia quando houver aplicagdo: criacio de “fata juridieo”, isto 6, desericio do “evento” na “linguagem competente”. Logo, aplicar € fazer incidix. Quem apli- a, faz a incidéncia’, O dualismo pretende-se de aplicacio universal: a incidéncia seria assim em qualquer espaco-tempo, Com isso, 0 dualismo € universalizado, ascendendo ao plano da Teoria Geral do Direito* 2. As Bases Teéricas em Jiirgen Habermas Além de Pontes de Miranda, outra base fundamental para o dualismo € a distinedo, buscada em Jilngen Habermas, entre fatos ¢ eventos. Habermas ust “evento” para acontecimento ocorrido no mundo conereto, € portanto, empiricamente verifieavel; e "fato” para a versio meramente linguistica do evento, ¢, portanto, sem existéncia fisica que permitisse a verificabilidade em- pirica, Habermas busca essa distingdo nas reflexdes dle Peter Strawson. Ao expor a distincdo, 0 filbsolo afirma: “O fato de eu dizer alguma coisa &, certamente, um evento. O que eu digo nao €” (na edigio francesa consultada: "Le fait que je dise quelque chose est certainement un épisode. Ce que je dis ne 'est pas”) Qual a diferenca entre fato e evento? “Fato”, para Strawson, € a articulagio linguistica, de existéncia meramente ideal, insuscetivel de verificagio empfrica. F aquilo que se fala. Evento, por sua vez, € uma ocorréncia conereta, suscetivel de ser verificada empiricamente. & aquilo de que se fala. A diferenea é a verificabili- dade empirica. Evento, o episddio empiricamente verificivel; fato, uma articula: ‘do lingufstica que, enquanto idealidade, nao esta sujeita A verificacdo empirica. Pergunta-se Habermas’: "éCOmo se relacionan los hechos que afirmamos, con los, objetos de nuestra experiencia?” e segue: "Strawson ha vuelto a sacar a relucir en. Iie, p. 4. Idem, pA STRAWSON, Pever Frederick. Rewer de lgigee Paris: Feitions it Sel, 197, p28 HABERMAS, Jirgen, Teoria de la acin comunicatva: complements yeti proves, 1 ed Trad ‘Gio de Manuel Jiménez Redondo. Made Catecra, 2001, p. 117 de linguinigne Untrodugio de Judith Milne R DIREITO TRBUTARIO ATUAL n? 32 su discusién con Austin la diferencia entre hechos y objetos de la experiencia sucesos tratada ya por Ramsey..” Em seguida, conclui: “En cambio, las cosas y sucesos, las personas y sus manifestaciones, es decir, los objetos de la experiencia son aquello acerca de lo que hacemos afirmaciones o de lo que enunciamos algo; aguetlo gue afirmamos de los ‘objetos, es un hecho cuando tal affrmacion esta justificada, Los hechos. tienen, pues, un status distinto de los objetos. (..) Con los objetos hago experiencias, los hecho los afirmo; no puedo experimentar hechos ni afirmar objetos (0 experiencias con los objetos).” Portanto, umt “lero” € algo que nfo poxte ser experimentado, diferentemen- te de um objeto, ou um “sueeso". que pode. Habermas’ expoe: “AL afirmar un he- cho me puedo basar en experiencia y referirme a objetos. Y si los abjetos de nuestra experiencia son algo en el mundo, entonces no poemos decir igwalmen- te de los hechos que sean ‘algo en el mundo’” Nao podemos dizer, dos fatos, que sejam algo no mundo, como sto os eventos, porque aquelas articulacdes linguisti- cas no sio objetos da experiencia, Karl-Otio Apel’ retoma a questao: “A mi parecer, dificilmente se puede discutir el argumento de Strawson acerca de que el hecho de que César era asesinado en el Senaddo no sea idén- tico al suceso que tuvo lugar en el ao 44 aC. y del cual se tuvo experien- cia, El hecho de que (.) que se puede afirmar y negar en el discurso, no es algo en el mundo de la experiencia. No es localizable ni datable, sino que pertenece, en cierto modo, al ambito logico-lingiistico que pertenecen también las “proposiciones en si’ - verdaderas 0 falsas - de Bolzano, las ‘ideas’ de Frege, las propasiciones (las lekia de los estéicos) y las entidades popperianas del ‘tereer mundo’” ‘Veja-se: um “fato” nao € localizavel nem datavel, porque pertence somente ‘a0 Ambito logico-linguistico. Nao € algo no mundo da experiéneia como qual se possa ter contato empirico. Apel vale-se, ento, em suas palavras, da "(.) distin- Gién de Strawson entre sucesas experimentables y heckas ofirmables en enunciados J”, Acontecimentos, eventos, so experimentiveis; fatos, nio: sio apenas afir~ :maveis. Tércio Sampaio Ferraz fr.", fundaco na mesma disting#io, escreve: “'Fato! nilo é, pois, algo concreto, sensfvel, mas um elemento lingiistico capaz de organi ‘av tuna situagao existencial como realidade”, O fato nao € algo suscetivel de ex- perigncia sensorial e nao tem coneretude. Porém, 0s textos do dualismo entre fato e evento, supostamente fundados na dlistincao habermasiana, emprestam, a documentos empiricamente verificéveis, a condicio de fato juridico tributario: deckaragoes do contribuinte, recibos de paga ‘mento etc, Esses documentos seriam linguagem competente, capazes de consti- tuir um evento enquanto fato porque o descreveriam em linguagem, ¢ 0 fato & ‘uma lingagem. Mas, se € um documento, uma certido, uma guia de pagamen- Hen, © APEL, KarlOwo. Teoria dela verdad y ica det discern, Paidos, 1008, p88. Tides, p89. FERRAZ JR, Tércio Sampaio, Itraducdo a etudo do Divito - Wenicn, devin, dwinagia, 9 ed ‘io Paulo: Atlas, 2001, p. 274 raducio de Norberto Smily, Barcelona: [DRETO TRIBUTARIO ATUAL 0 32 to, um recibo, entdo nao € uma perimentacio empirica, nao da son-habermasianos, Ao contrari de de experiencia concreta. O « Direito Tributario é tratado com conde, supestamente, os dualista Exigir-se, do evento, que se competent, para que se constit vento, outra ocorréncia empiri ‘gem habermasiana) 0 evento o¢ ato administrativo, guia de lang ‘guaigem competente) nfo & um | “cosas” ou “sucesos” empiticam bermas, Apel e Tércio, na ever a, a petigio, a certidao, 2 owe cago Maso “hecho mentavel, apenas uma idealidac Ora, ser insuscetivel de verifica son. € exatamente 0 contrario ¢ Jenguagem competente: se este fia uma prova, nem um docur: Gualismo chama essa prova de mente que seja prova, isto é em um evento. A linguagem com Habermas, Apel e Tércio, nao ¢ exento reduz toda a realidade verificiveis. Reduz a realidade ‘que, em rigor, no aparecem 1 sequer seria correto chamar € em linguagem habermasiana, 3. A Premissa Psicossociol6gi Na visio dualista, as previ sos correspondents nao si0 st norma “geral e abstrata” seria conduta. Para tal, seria precis premissa, entio, envolve uma ‘outra socioldgica a cficacia. i missa demanda considerat & tcoria dualista, estariam exclui ‘CARVALHO, Paulo de Barros. De 2013, p. 5. CARVALHO, Paulo de Barros. D 2008, pp. HI e169. RIBUTARIO ATUAL n® $2 um recibo, entio ndo é uma articulagio logico-linguistica insuscetivel de ex mentagio empirica, no datavel nem localizivel, como sio os “fatos” straw n-habermasianos, Ao contrario: Sio “eventos, coisas no mundo da possibilida de experiencia concreta, O que € tratado como “fato” pela teoria dualista no Vireito Tributévio € tatado como “evento” na doutrina strawson-habermasiana ile, supostamente, os dualistas buscam fundamento, Exigir-se, do evento, que seja provadlo em linguagem escrita, em documento ompetente, para que se constitua como fato, significa, ao contrario, criar outro ento, outra ocorréncia empiricamente verificivel. Tanto € “evento” (na lingua gem habermasiana) o evento ocorrido, quanto a prova, 0 documento - sentenca, yadministrativo, guia de lancamento - empiricamente verifieavel. O “fato” (lim guagem competente) niio € um fato, & um “evento”, porque esses documentos sa0 cosas” ou “sucesos” empiricamente verificdveis. Na distingio de Strawson, Ha- nas, Apel e Tércio, sito eventos ¢ nio fatos. A sentenca, o ato administrativo, a ‘ova, a peticao, a certidao, a guia de IPTU; em sumra, a linguagem competente ndos sfio “algo”. Mas o “hecho” strawson-habermasiano nao seria “algo” experi- nntdvel, apenas uma idealidade Tinguistica, insuscetivel de verificacao empirica Ora, ser insuscetivel de verificagao empirica, ser “hecho” em Habermas ¢ Sraw- son, € exatamente o contrario da prova do evento, 0 contrério do documento em nguagem competent: se este fosse insuscetivel de verificacdo empirica, nao se- ia uma prova, nem um documento, nem uma “linguagem competente”. Mas, 0 ualismo chama essa prova de “fato”, para contrapor ao evento, € exige exata- iente que seja prova, isto é, empiricamente apreensivel"', Seu fato, em realidade uum evento. A linguagem competente, se confrontada a concepgaie de Strawson Habermas, Apel e Tércio, nao € um fato, mas um evento, O dualisma entre fato e evento reduz toda a realidade, social ou jurfdica, aos “sucesos” empiricament verificaveis, Reduz a realidade aos “eventos”, niio aos “fatos” (habermasianos) = que, em rigor, no aparecem na teoria dualista, Sob esse ponto de vista, alias. sequer seria correto chamar essa doutrina de “dualista’, pois no ha dualismo: em linguagem habermasiana, s6 ha “eventos’, nfo hd “fatos 3. A Premissa Psicossociolégica Na visio dualista, as previsoes em normas juridicas ¢ a ocorréncia dos even- tos correspondentes nao sio suficientes para criar direitos e deveres juridicos. A norma “geral e abstrata” seria insuficiente para motivar ou obter alteragbes de conduta, Para tal, seria preciso a edicao de “normas individuais concretas”. A premissa, entio, envolve uma questo psicoldgica - a motivacao da conduta - € ‘outa sociols sto é, a realizagao da conduta!®, Sustentar essa pre missa demanda considerar a conduta e sua motivagdo - que, de acordo com a tworia dualista, estariam excluidas das preocupacoes da Ciéncia do Direito, a qual CARVALHO, Paulo de Bartos. Derivucnepsitioto na Diteto Dributéria, V1. So Palo: Noeses, CARVALHO, Paulo de Barros. Diveito Tritutir inétode, 2° ed. Sd0 Paulo: Noeses, 2008, pp. 14 e 18 DIREITO TREUTAR( ATUAL 9°32 eT BETA 36 caberia manifestacéo a respeito de normas; as ages humanas concretas sto Qe orm excluidas pelo corte metodol6gico". oe Sustentar que a norma abstrata geral é insuficiente para “motivar” condu- saimenns. © tas demandaria apoio consistente em teorias sociologicas e psicologicas. O jurista, | iene caso tenha interesse em incluir problema da motivacio na sua teoria, precisa mpi 2 otra trabalhar de forma interdisciplinar, buscando elementos de conviccio nessas ou om ae thot tas ciéncias. Seria, certamente, uma providéncia interessante, 10 sentido da os complexificago do discurso juridico. Porém, esses aportes nao sio buscados. A Come o ds afirmacao pela insuficiéncia das normas abstratas e gerais para a motivacio de mem 2 creer condutas ¢ arbitraria, despida de fundamento, Seem = Esse pressuposto psicossocioldgico, contudo, € fundamental para a teoria seni cbr: dualista: se ele for falso (0 que nao se sabe) ou arbierario (0 que certamente 6), nao poe aoe existe razdo para sustentar s6 haver aplicacio e incidéncia com a edigio da “nor- ie" ES ma individual e conereta’. ‘Toda a teorizacio dualista é arquitetada sobre esse Sie beers oe ‘pressuposto indemonstrado. Sem que essa premissa seja findamentada, desapa- ea ue > rece 0 motivo para sustentar que a norma abstrata ¢ geral nao incide sozinha, come fee demandando um ser humano que edite a “norma individual ¢ concreta”. gee ai — 4. A Premissa da Separacio entre ser e dever-ser ox x = ‘Uma segunda premissa que sustenta a teoria clo dualismo entre fato © even= eee mews to é a seguinte: nio se tansita livremente do mundo do dever-ser para 0 mundo cages do ser, da esfera das normas para o dimbito das condutas'"', Essa afirmagao € ad- ie 3 mitida may nao € posta a prova. Arbitrariamente, a doutrina sustenta que nao se transita do mundo do de- ver-ser para o mundo do ser ¢, por isso, as normas abstratas ¢ gerais nao tocam materialmente a conduta. Daf a necessidade de que, delas, extraiam-se “normas individuais e concretas’, tarefa a ser realizada pelo ser humano. Ele criara, a0 edicar a “norma individual © concreta’, o dever e 0 direito, que antes nao havia; cle criara a relagio juridica, faré a incidéncia, porque as normas juridicas nao icidiriam por sua propria forca. O sujeito do verbo incidir nao seria a norma, mas ser humano!. No entanto, nenhum fundamento para essa afirmagao é oferecido, Auséncia do Dever Juridico de eumprir Normas Juridicas Suponha-se um exemplo: conforme os pressupostos do dualismo, a norma abstrata € geral que protbe dirigir a 200 Km/h nao incidiria por forga prépria. Como sem incidencia/aplicacio nao ha direitos e deveres, as normas do Cédigo dle Transito nada proibem. O mesmo valeria para todas as normas, de todas as leis ou constituigdes: elas nada profbem, permicem ou obrigam. O'ser humano precisaria criar a “norma individual ¢ concreta’ © GARVALHO, Aurota’Tomazini de Cero de varia geval de Divila:oconsvuctviomalgic-seméntice. So Paulo: Noeses, 2008 431 "* CARVALHO, Paulo de Barros. Divelo Tribuuiria:fimdoments javidices da incidénca, # ed. So Paulo: Saraiva, 2012 -edicao eletronica, pp. 43 e 467, © CARVALHO, Aurora Tomazini de. Cass deforia geval do Dinca consreetivisme ligica-semsutico, ‘Sto Paulo: Noeses, 2008, p15, ITO TRIBUTARIO ATUAL n? 32 Que norma é essa? No Direito Tributario seria lancamento; no exemplo dado, deveria ser a multa de transito, Seria multando que 0 guarda proibiria, fi nalmente, 0 sujeito de dirigir a mais de 200 Km/h. A partir da multa, ele estaria proibido:; antes, nao. Porém, ocorre, de fato, situacdo diversa: o ato administrative impée a obrigacio de pagamento de um valor, nao impoe a proibicio de dir em alta velocidade. Esta imposta pela norma abstrata € geral, ¢ por nenhuma outra. Como o dualism afasta a ideia de incidéncia necessiria ¢ automatica, mas continua a entender que s6 ha relacio juridica quando ha o fato juridico, agora transmudado em linguagem competente, precisa concluir que, antes desse fato, nenhuina obtigagao, permissio ou proibicio existiria. Antes da linguagem com- petente, nada existiria para o mundo do Direito, nenhum efeito juridico seria crificado”, E dizer: sem a aplicacao concreta, que se reporta a um Faro pasado, ro haveria nenhuma obrigacio de dirigir dentro dos limites da lei. E essa obri- gacio, criada pela multa, remete-se A ocorréncia anterior, mas nao juridiciza eventos futuros: depois da multa, jé volta a inexistir qualquer obrigacio jurfdica de respeitar os limites de velocidade, até que venha nova linguagem compe O transito é exemplo encontrado nos textos que explicam 0 dualismo. Sus- centa-se que, quando alguém atravessa um sinal yermelho, surge, para ele, um Jever de pagar multa, Mas esse dever seria unicamente de “ordem moral, ética ou religiosa’: sem lingtagem competente, © dever juridico ainda nfo teria aparecido libidem, p. 415). Novamente, nenbuma prova disso € produzida. Tudo fica entre- sue ao “sistema de referencia” - expressio-chave, uma especie de salvo-conduto para permitir qualquer afirmacao arbitraria, 6, Sistema de Referéncia Dizer que ha deveres moras, éticos ou religiosos seria, outra ver, sair do campo proprio de cogitacdes da doutrina: se a competéncia da Ciencia do Dire: to, como sustenta o dualismo, é restrita para tratar de normas positivadas, nao The caberia falar sobre deveres éticos, moras on religiosos. Chega a ser curioso que a douttina mais restritiva das possibilidades do cientista do Direito, a doutrina do dualismo, cogite com tanto desprendimento de quest6es sociolégicas, psicologi- cas, étieas, morais ¢ religiosas. Seja como for, a premissa fundamental € que de- veres jutridicos nao existem quando hd apenas normas abstratas € gerais. Por se sao jurfdicas as normas que prescrevem esses deveres, 0 que ¢ indisputado, é surpreendente dizer que os mesmos deveres, postos em normas jurfdicas, nao (0 juridicos, mas de outra ordem (moral, ética, religiosa). Por que s6 ¢ Direito 0 que esta documentado? Porque sim. Porque esse €0 “sistema de referéncia”, elei- to arbitrariamente © carente de qualquer fundamento tebrico - salvo um “giro linguistico” todo proprio, que sustenta, sem paralelo conhecido em nenhum campo do conhecimento humano, $6 haver realidade onde houver linguagem expressada, CARVALHO, Autora’Tomarini de, Gererde aria gerade Dirtooconsrucivomo ligie-seméntio Sto Paulo: Noeses, 2008, p. AL DIREITO TRBUTARIO ATUAL 1? 32 Nas atividades didrias, em muitos momentos, os sujeitos reconhecem a exis- téncia de obrigagoes que decorrem de normas juridicas, cumprindo-2s ou nao. O sujelto que estaciona em local proibido, ¢ vé a placa com um “E” riscado, se co- nhece a lei, sabe que esta a cometer um ilfcto; diante disso, pode sair dali, em busca de uma vaga onde seja licito estacionar: Se o fizer, cumprira a obrigagio ‘que sabe ter em funcao da lei: nao ficar estacionado onde € proibido. Nesse caso, funcionou, foi eficaz; foram atingidos os objetivos previstos por quem definiu aquele local como de estacionamento proibido. O Direito funcionou sozinho. Ni sgném aplicou nenhumna multa, ninguém documentou nenhum fato, ninguém a fou € mandou 0 motorista deixar a vaga: nao ha qualquer “linguagem competen- tc, Mas uma obrigagao posta em lei foi cumprida. Sempre que alguém observar uma norma ea cumprir, o Direito certamente tera, sem qualquer sombra de dti- Vida, atuado, funcionado, sem necessicade de burocrata 2 expedir comprovante, recibo ou nota fiscal. A proibigao de estacionar ja existe; o sujeito que retira seu carro do local proibido pode faré-lo em cumprimento a essa proibicao. Porém, 0 dualismo nega que a obrigacio de cumprit uma norma juridica seja uma obrigae ao juridica, © dever decorvente de uma norma juridica nao seria juridico. Pelo menos nnio o decorrente da norma abstrata e geral; 0 dever decorrente da “norma indi- ‘vidual € concreta’, esse sim, é juridico. A “norma individual e concreta” é norma Juridica que gera efeitos juridicos; a norma abstrata ¢ geral, diferentemente, seria ‘norma juridica que geraria efeitos no juridicos, apenas morais, éticos ¢ religio- sos. Isso esvazia de juridlicidade quase todo o Direito, que se torna moral, étiea ou religido. A propria edicao da “norma individual e concreta” é uma conduta entre- gue a sorte da moral, da ética € da religido. O juiz tem a obrigacdo de proatar a sentenga? Juridica nao, porque antes da sentenca nao ha “norma individual © conereta’. Tem obrigacao, se tiver, apenas de ordem moral, ética ou religiosa. O mesmo vale para 0 administrador piilico e para o proprio cidadao. Como nem a moral, nem a ética e nem a religiao impoem sancoes pela via estatal, 0 juiz pode- ria, livremente, deixar de sentenciar. Seria o fim do Direito, pelo fim da coercibi lidade © peta institucionalizacao do arbitrio subjetivo. O sistema de referéncias ‘mostra-se, no minimo, gravemente inconveniente, Além de inconveniente, o sistema de releréncia contraria textos expressos de lei, O juiz tem obrigacio juridica de prolatar sentenca, sem “norma individual ¢ conereta” (art. 126 do Gédigo de Processo Civil; 0 administrador tem obrigacao Juridica de fazer 6 lancamento tributario, também sem “norma individual € cone creta” rt, 142, pardigrafo tinieo, do Cédigo Tributario Nacional); o sujeito passi- vo tem obrigacao juridica de declarar ¢ antecipar o pagamento a fiscalizacio, igualmente sem linguagem competente (art. 150, caput, do Cédigo Tributario Nacional); un empréstimo, mesmo sem recibo, havendo tradicio, gera efeitos juriicos fart. 579 do Cédigo Civils se uma acao nao € proposta centro do prazo prescricional, desaparece 0 direito jurdico 20 recebimento da acdo pelo j ‘mesmo sem sentenca que 0 declare (art. 295, IV, do Cédigo de Processo Civil). E assim por dliante. Esse sistema de referencia & posto, pela teoria dualista, & margem de qual- ‘tica, Quem pretender critici-lo, & imediatamente, acusado de nfo com- MO TRIBUTARIO ATUAL a? 32 preender que trabalha em outro sistema de referéncia, de modo que sua oposica sera sempre improcedente - ou, no minimo, equivocada, A critica, com isso, jf std repelida a priori, tornando despiciendo superi-la”. E sempre possivel oa mento wf fige: onde se identificam obrigacées juridicas, decorrentes de normas juridicas, surge a correcto, a sustentar que essas obrigagdes nao sio jurfdicas 1 sentido préprio, o do sew sistema de referéncia. Mesmo resultantes de normas juridicas, nao sio juridicas. No sistema dle referencia, sio éticas, morais, religio- sas. \ introdugao da hipotese ad hoc € um estratagema convencionalista: evita 0 falseamento, imuniza a teoria A critica mas, ao mesmo tempo, despe-a de raciona~ lidade ou cientificidade Mesmo 0 desafio, para que alguém apresente um fato juridico sem lingu: gem competent, é restrito ao sistema de referéncia adotado. Sob a aparéncia de Gientificidade, baseada na abertura ao falseamento empirico, 0 que s¢ tem é uma inmunizacao a priori contra qualquer experiencia em sentido contrario. A teoria fica imune a critica. E, imune a critica, a cleicdo do sistema de referéncia torna-se um dogma de fé, Esta propria argumentacdo estard, certamente, sujeita & seguin te objecao: mas os textos de lei citados nao contam, porque nio fazem parte do sistema de referencia eleito, € trazé-los ao debate s6 prova que 0 autor da eritica no compreende que esti em outro sistema de referéncia. O direito positive nio se encaixaria no sistema de referéncia eleito, ¢ leva-lo em consideragio seria fruto de incompreensio. Entretanto, a imunizacio a priovi contra qualquer objec’ garante forca ao dualismo; ao contrario, enfraquece-o enquanto argumento cien tiie Ostextos do dualismo suscitam a ideia de sistema ce referencia com base em Albert Einstein e a relatividade do conhecimento a um sistema dle veleréneia. Se fosse assim, o conhecimento seria absolutamente arbitrério ¢ incontrolavel, uma {e7 que seria sempre possivel postular novos sistemas de referéncia e novas verd des. Mas uma das contribuigoes fundamentais de Einstein foi, precisamente, con- siderar a relatividade ¢ superé-la. Bertrand Russell” ensina como a teoria rela idade “(..) esté inteiramente empenhacla em exchuir o que € relativo e chegar a uma formulacao das leis fisicas que nao dependa de maneira alguma das circuns tancias do observador”. Relatividade nao é 0 mesmo que relativismo e uma verda- le nao € tao correta quanto outra a depender, exclusivamente, de algo como um sistema de referéncia arbitrariamente escolhido pelo cientista 7. Necessidade e Suficiéncia da “Norma Individual e Conereta” Para a teoria dualista, sempre € preciso uma “norma individual e eoncretal para que haja incidéncia, Essa “norma” seria a tinica capaz de alterar as condutas CARVALHO, Aurora Tomazini cle. Curse ora era do Dinita oconstrucivsmo tgio-veminico, Sin Paulo: Noeses, 2009, p.A16 BORGES, Jose Souro Maio. Cifnci itis: sobre o mando jevdice¢outes mundes, Recife: Fandaio de Catura Cidade do Recife, 1994, pp. 156-157 BORGES, José Souto Maio. Cifnca eis: bre o mundo juridica routs manda, Recife: Fundaio de Caltura Cidade eo Recife, 199%, RUSSELL, eriran, ABC da rrlotiuinds,"Tradugio de Maria Lasiea X. de A. Borges. Rio deo wees Jorge Zaha, 2005, p, 18 DIREITO TRIBUTARIO ATUAL nt 32 humanas. O processo de positivacio do Direito culminaria em uma norma termi- nal que “fere a conduta”. ‘Que significa ferir a conduta? Uma possibilidade seria “tocar materialmente a conduta’: seria necessario o processo de positivacio gerando a “norma indi dual e concreta” porque, sem ela, o Direito nao atingiria a conduta humana con- ‘ereta ¢, com ela, sim. Admitir isso implica negar premissa segundo a qual o dever- ser nao toca o plano do ser. A “norma individual e conereta” esti no plano do dever-ser, la mesma forma que a norma “geral e abstrata”. Se uma nio cria obri= {gacio, porque nao toca a conduta materialmente, a outra também nao o faz. Se vale a premissa segundo a qual nao se transita, livremente, sem solugio de con iiuidade, do dever-ser das normas para o ser das condutas, a “norma individual ¢ concreta” € tio insuficiente quanto para a incidéncia quanto qualquer outra, € iio ha razdo para sustentar sua necessicade, Por outro lado, se a “norma indivie dual e conereta” transita para o plano das condutas, 0 dever-ser encontra 0 ser; entio, desaparece o motivo pelo qual a norma abstrata ¢ geral seria incapaz desse transito, nao sobrando razao suficiente para dizer que a norma abstrata e geral, sozinha, seria insuficiente para a ineidéncia juridica. Tanto num easo, como no outro, desaparece qualquer fundamento para a incisiva reivindicacao da “norma individual e conereta”. Em certos textos, a “norma individual ¢ concreta” no se comunica com 0 mundo do ser. O processo de positivacao, no maximo, impée ao sujeito da conde ta uma carga maior de motivagio, ajuda a formar “um crescente estimulo para que 0s comportamentos sejam modificados”™. Se é assim, passar do dever-ser ao ser, algo que a norma “geral ¢ abstrata” nao pode fazer, também nig ¢ feito pela “norma individual e conereta”. Por outro lado, admitir uma “carga maior” de motivagio na “norma indivi- dual e concreta” é admitir alguma carga de motivagio na norma “geral ¢ abstra- ta", Além de depender, novamente, da premissa psicoldgica (motivacio de conde tas) € sociolégica (adogao de condutas), esse raciocinio suprime qualquer motivo para day, “norma individual e conereta’, a primazia no criar obrigages, proibi- {es ou permissoes, ou em impelir A concreta modificacéo da conduta humana, em contraposicio ay demais normas. Mesmo porque “(..) 0 direito, com sew apa rato coativo, sempre representou ta motivacao muito forte para se obter a trans- formacao dos comportamentos sociais”™. 8.0 Conceito de Obrigacio e de Proibicdo O dualismo sustenta que as normay abstratas € gerais sdo insuficientes para criar obrigacdes, proibicdes ou permissoes, isto é, para modalizar deonticamente aconduta, Uma afirmacao como essa depende de se clefinir previamente 0 que € ‘uma obrigacao, uma proibicio ou uma permissio, 0 que nao ¢ feito, CARVALHO, Paulo de Barvos. Divito Tribusdia:fmdamenis juvdizns da incidence, 9 ed, So Paul: Saraiva, 2012 -edigio eleronica, p. 4 Tien, poAB, Wen, TARIO ATUAL a? 32 1-se que a doutrina dualista siga a proposta tedrica kelseniana porque em seus textos infirm essa pressuposicio exceto a necessidade de "norma al e conereta” para modalizar deonticamente uma conduta. Se, em Kel gacio existe se houver sancio pela conduta oposta, entao ja ha obriga lecorrem diretamente das normas abstratas e gerais. Imagine-se uma geral © abstrata” que prescreva que, dada a ocorréncia de um "evento" surgiré o dever de pagar um tributo, antecipadamente a qualquer fisca- Se 0 Sujeito passivo nio fizer o pagamento no prazo, antes de qualquer jo, estard sujeito a sancio, pela falta do pagamento, Se ha sancio pela agamento, & porque havia a obrigaclo de realizar a conduta contraria: car o tributo, Essa obrigacio € prévia & sangio. Antes da “norma individual e conduta ji estava modalizada como obrigatéria; se nao estivesse, 0 io autorizaria a edicio dessa “norma individual e concreta” sancionado- anto, para abandonar a nocio segundo a qual a norma abstrata ¢ geral ja za a conduta, o dualismo teria que explicar 0 que autoriza a sancio, se no isamente, a norma abstrata e geral adicionada ao fato ilicito a ela subsumi- < amplamente, precisaria explicar o que “causa”, juridicamente, a edicdo mas individuatis e concretas” Isso, contudo, nao € feito. Lim acontecimento como aquele tomado como exemplo - 0 estacionamento, Jo - est, para o dualismo, entre os meros eventos do mundo social, que nao idicos porque nao foram relatados pela linguagem juridicamente compe- Nio teria havido a conversio do juridicamente irrelevante em juridicamen- clevante. Se 0 sujeito for sancionado porque estacionou no local proibido, é ‘estacionar”, prévio & “norma individual e conereta”,o ilfeito que, jurid , autoriza a edigo dessa norma, Se ha um ilicito, € porque houvera rela~ dica, cujo dever, que a integra, fora desrespeitado, E se ha uma relagio ca, s6 pode ser - diz.0 dualismo - porque jé houve incidéncia da norma jur Em outras palavras: jé ha realidade juridicamente relevante, dispensada ndo os pressupostos pontianos mantidos pelo duallismo, se jé ha proibi- ada, a autorizar a edigio da “norma individual e concreta” que aplica ji existe relacio jurfdlica: logo, ocorre incidéncia mesmo sem comprova~ mental, ha fato jurfdico sem linguagem competente, hi proibiczio sem na individual e conereta’, Por outro Angulo: se ha obrigaco ao agente de sito de editar a “norma individual ¢ concreta” ao verificar 0 “evento” ilcito, & ja a um dever prévio, a ele acomerido, e que se coneretiza diante do ill- Evio A multa e nela documentado. Se ja ha esse dever de multar, ja hd re~ aridica, E se jé existe relacio juridica, € porque ja ocorreu incidéncia. Mas smo sustenta que esse dever, do agente, no € juridico, apenas moral, ético, sso, Se ele descumprir 0 dever, pode ser sancionado pelo Estado de acordo + prescribes jurfdicas aplicaveis - mas isso, para o dualismo, ¢ insuficiente conhecer esse dever como juridico, Continua somente ético, moral, reli- SSALLEN, Tarek Moysés, Revogacdo ew watérie tributéra, Sto Paulo: Noeses, 2005, p. 60. 20 DIREITO TRIBUTARIO ATUAL n? 32 gioso. O dever estabelecido por norma juridica cujo descumprimento gera conse- quéncias juridicas (sancio juridica) nao € juridico: € moral, ético ou religioso. O fato de o sujeito estar estacionado em local proibido tanto tem consequen- clas juridicas que, a partir desse fato “estacionar’, leve ser aplicada sangao. Se 0 local nao foxse proibido, se ndo houvesse norma a qualificé-lo como tal, ndo po- deria ser aplicada qualquer sangio. Mas, estando proibido, deve ser a sangio. E porque deve ser a sancio? Porque o fato € juridico; nao fosse juridico, a sancao jjuridica nao poderia ser. Juridico, e no meramente social: fato social é tanto es- {acionar onde é proibido quanto estacionar onde néo ha qualquer norma. Qual a diferenga? Juridica: onde ha proibigio por lei, estamos diante de uma ilicitude juridica. £ a proibigao que torna o fato ilicito, nao a eventual multa. Nao é a mul- {a que eria o ilicito: €o ilicito que cria a possibilidade da mula, ¢ dela é pressu- posto. Se o ilfcito nao fosse jurfdico, apenas moral, ético ou religioso, nao caberia a ca, apenas uma peniténcia religiosa, uma censura social, ou um arre- {erno (em sentido kantiano). E porque o ilicito € juridico que deve sera multa, Portanto, antes da mutta, antes da “Tinguagem competente”, 0 Jjuvidico jf ocorrera, e, precisamente porque ocorrera, o agente deve multar. Se jd 1a ilfeito, a impor a aplicacao de penalidade, um ilicito eriado pela norma jurfd a, é porque ja ha incidéncia, Nesse caso, a “linguagem competente” % deve vir porque honvea incidéneia criando 0 dever de emitiela; na falta da ineidencia, essa Tinguagem € que sera ilicita, ¢ podera ser anulada, Logo, quando se sustenta que s6 ha efeito juricico quando hi incidéncia, emtao nao € a “Tinguagem competen- te” que causa a ineidéncia, mas, inversamente, é a incidéncia que “causa” a possi bilidade de linguagem competente. - 9. Lancamento por Homologagao A inconsistencia tedrica fica clara na tentativa de explicacao do langamento por homologacao". Nesses casos, ocorrido o fato gerador, 0 sujeito passivo tem 0 ever de antecipar o pagamento do tributo (GEN, art, 150, caput: “O langamento por homolog ‘corre quanto aos tributos cuja legislacdo atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade admi nistrativa (..”). O sujeito passivo, entdo, ocorrido 0 fato gerador - fato juridico - tem o dever de antecipar 0 pagamento. Ja esta obrigado, e 0 sujeito ativo ja tem rédito: “O pagamento antecipado pelo obrigado nos termos deste artigo extingue ‘0 crédito, sob condi resolut6ria da ulterior homologacdo ao lancamento” (CIN, art. 150, pardgrafo 1°), Ja hd fato juridico, incidéncia e relagio jurtdica; nao hou- vesse, nfo existiria 0 “dever”; aquele que paga nao estaria a isso “obrigado”. Para o dualismo, porém, & ato de declarar e pagar que faz surgir a obriga- 10 parao sujeito passivo. Antes do pagamento antecipado, nao haveria obt alguma, pela falta de “norma individual e concreta”. O sujeito nio est juridiea- mente obrigado a realizar o pagamento antecipado; ao realiza-lo & que, finalmen- te, sua obrigacio de pagar surgiu; mas, ai, nao precisa cumprir essa obrigacao, © COSTA, Adriano Soares da. Tiare da incécin da nara jraiica: erica oo ventsme Bingistce de Prulo de Barros Caveat, DIREITO TRIBUTARIO ATLL n° 32 porque ji fez © pagamento... No dualismo, essa sua obrigacio, de antecipar 0 pPagamento, s6 surgiria no momento em que o pagamento foi anteeipado: a obri- gacio de antecipar o pagamento nao existiria até que o sujeito passivo antecipas- seo pagamento. Nao haveria nada de juridico a impelir o sujeito passivo a ante- cipar o pagamento, Sendo assim, de nada serve o Direito, que faleceria, tornan- dowse absolutamente inefetivo”. Mas o que impele o sujeito passivo a anteci pagamento é, fundamentalmente, 0 fato de estar juridicamente obrigado a isso. E porque esta juridicamente obrigado que ele deve fazer a declaracao e pagar. A obrigacio antecede a declaracao, por impossibilidade deontolégica do comrario. E, accitando-se Pontes, se esta juridicamente obrigado, € porque esta numa rel cio juridiea; e, se esta numa relaco juridica, € porque hi incidéncia anterior. E porque norma incidiut antes da declaracao e do pagamento. Ao emitir suas declaracies, 0 sujeito passivo deverd seguir os comandos le- gais; relatar em linguagem competente é cumprir os deveres legais. A contradligio fica clara porque a doutrina dualista admite que contribuinte esté obrigado a formalizar 0 erédito tributario, que dever seguir os comandos da lei wibutaria®, Dizer “dever seguir os comandos da lei” equivale a dizer “dever cumprir uma obrigacéo juridica’. A conclusao, decorréncia inevitivel da dout i adotada, no particular, pelo dualismo entre fato e evento, € a seu’ dever quando houver incidéncia, e se 6a incidéncia se houver fato juridieo, fato Juvidico e dever existem antes da linguagem competente, antes da “norma indivi- dual e concreta’, Quando 0 dualismo sustenta que as declaragdes so entregues em cumpri- ‘mento aos deveres estabelecidos em lei, fatalmente reconhece que as normas abs- twatas © gerais, prescribentes dos “deveres instrumentais”, sio suficientes para alterar as condutas dos sujeitos passives. A propria construcio do dualismo, a0 sustentar 0 dever de declarar © pagar, nega suas premissas. E, ainda: se esses “deveres” surgiram, e devem ser cumpridos, s6 pode ser porque a norma que prescreve nesse sentido incidiu, houve fato juridico, sem linguagem competente, € dat surgit' 0 “dever instrumental” a ser cumprido, de editar essa linguagem. A nao ser que se contorne essa aporia dizendo-se que esse “dever instrumental” surge sem incidéncia, o que fulmina os pressupostos pontianos do dualismo. Dizer que essas relagdes juridicas - obrigacoes, como a obrigacao tributaria + no existiam, juridicamente, ¢ que s6 passaram a existir quando foram cumpri= das, € inverter o fendmeno da incidéncia do Direito, sem rigorosamente nenbum sganho para a ciéncia jurfdica, Ao contrério, provocam confusio conccitual forte- mente danosa. Incrementam a babel terminol6gica que assola o Direito Tributa- rio no Brasil. Por isso, além de incorreta, e de descansar em bases arbitrarias e ‘empiricamente incomprovadas, €, também, uma teoria pragmaticamente inade- ama. Reincidénciatibuldsin: teain pric, Sho Paulo: Quarter Latin, 2003. p88. Juliana, Caso de Divito Comuniari:insttices de Ditelto Comunitri cmpardae Unido Europa € Meveovl. 2 ef, Sao Paulo: Saraiva, 2008, pp 22-25. © CARVALHO, Palo de Barros. Giose de Divito Trbutiso. 19° ed, Soo Paulo: Saraiva, 2007, pp. 468-470; CARVALHO, Paulo de Barvos. “Obrigagao iibutirias definigbes,acepoes, esta interna € lites conceptuais. Jnteresse Pac n-19, ano 10, Belo Horizonte, maiojjnbo de 2008, pp. 226-227, 2 DIREITO TRIBUTARIO ATUAL »* 32 quada, Provoca desacertos e desencontros, ao invés de proporcionar progresso a Giencia do Direito™. O dualismo entre fato e evento est na contramio da evolugio da filosofia da linguagem e do giro lingufstico, cujo interesse epistémico, historieamente, ca- minhou da sintaxe para a semantica e, em seguida, para a pragmitica’. Essa evolucao nao se manifesta na doutrina dualista. Quando se insere esse dualismo no discurso doutrinirio, separando o linguistico do extralingufstico ¢ expulsan- do 0 ihtimo do campo juridico, retorna-se & sintaxe pura, Tratar a Tinguagem como autorreferencial, éxcluindo da realidade tudo aquilo que nio é contado em palavras, longe de atender aos reclamos da virada linguistico-pragmtica da filo- sofia contemporanea, € caminhar na contramo da historia: quando, em outros ‘campos, avanca-se em direcio 4 pragmatica, integrando-a aos demais planos de estado da linguagem, 0 Direito Tributdrio mantém-se na sintitica pura. 10, A “Norma Individual e Concreta” Produzida pelo Sujeito Passive Aatribuigao do carter de “norma individual ¢ concreta” ao recibo de paga- ‘mento também é argumento ad foc, No dualismo, a “norma individual € conere- ta” que constituiria o fato juridico tributario em linguagem competente € 0 ato administrativo de lancamento tributario", Mas, nos casos em que ha a obrigacto de antecipar 0 pagamento, nao ha ato administrative, inexistindo a “norma indi- vidual e conereta’. Isso mina a pretensio de universalidade do dualismo entre {ato e evento: € um caso, empiricamente verificével, em que a obrigatoriedade do pagamento do tributo surge, tinica ¢ exclusivamente, em fingio da norma tribu- ‘dria abstrata e geral e do “evento” a ela subsumido, sem linguagem competente sem fato juridico no sentido do dualismo, Fica, também, falseada a’premissa segundo a qual as normas abstratas € gerais sio insuficientes para motivar condu- (as: a norma abstrata e geral motiva a conduta de pagar € o pagamento é a con- formagio da conduta a norma que o impoc. ara salvar a teoria, 0 dualismo vale-se de um argumento ad hoe: equipara 0 documento produzido pelo sujeito passivo, quando do pagamento, a uma “norma Juridica individual e concreta’, Nos casos em que € feita a antecipacio do paga- ‘mento pelo sujeito passivo, o recibo - ou a declaracao, ou a nota fiscal, ov a guia de recolhimento que acompanham o pagamento - funciona como “linguagem competente” ¢ € transformado, pela doutrina, em “norma juridica individual € concreta™, Como esses documentos nao so normas juridicas, traté-los como se fossem € apenas um expediente «ad hic para salvar a teoria dualista do falseamen- to, além de arbitrario. Nenhuma norma juridica ha com a edicao desses documentos. Norma pres- creve condutas, mas o documento produzido pelo sujeito passive nao prescreve conduta alguma. O sujeito passivo nao prescreve, asi préprio, a obrigacio de © BORGES, juliana, Cars de Dorit Comaitiosnstncies le Direto Comunitariocompavade: Unido Evaopria¢ Mereosul, 2 ed. Sa0 Paulo: Saraiva, 2009, pp. 33-33. APEL, Katl-Otto. Transfermacdo da floofia, V2 00 pres da comunidade de conunicagie. Trae “dugae de Paulo.Asior Soci. San Paul Loyola, 2000, p. 204. CARVALHO, Paulo de Barros, Cars de Dist Tibutin, 19.6. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 432, Baidem, poAT. DIREITO TRIBUTARIO ATUAL n* 32 23 Pagar tributos. O documento que emite nao € norma, porque no contém ne= ‘hum imperativo, nenhum comand, nao tem bilateralidade atributiva, nenhum enlace entre hipétese € consequéncia impondo relacdo juridica, nen caracteristicas que normalmente se atribuem &s normas. Mas, sem qualquer ex- plicacao que contorne essa auséncia de imperativo coercitivo, 0 documento 6, ar- bitrariamente, convertido em uma “norma juridica individual e concreta’, para salvar a doutrina do falseamento. Chamar o documento produzido pelo sujeito passive de norma juridica sub- erte a Teoria Geral do Direito e o Direito Tributiio. No plano da Teoria Geral do Direito, nao se pode dizer que o documento produzido pelo sujeito passive seja norma juridica. No 0 é porque nao impie nenhuma obrigagao, porque nenhum imperativo ou comando. Se fosse, seria uma norma que nao poderia ser descumprida, porque emitida, justamente, quando do cumprimento do dever de produzi-la. Uma norma impossivel. Além disso, seria uma norma desprovida de qualquer sangio, porque nao impoe obrigagzio, ja que a norma surgiria quan. do a obrigacao precedente - moral, ética ou religiosa, nao juridica, na pretensio dualista - fosse adlimplida, No plano do Direito Tributirio, nao se pode dizer que » documento produzido pelo sujeito passivo seja a “norma individual e concreta’, que criaria 0 dever de pagar o tributo. Porque, se fosse, seria norma produrida pelo sujeito passivo que obrigaria a si proprio. Algo como um contrato de Direito Privado. Mas o dever jurfdico de pagar tributos, assim como o de declarar, nao surge da manifestacao de vontade do sujeito passivo, c sim da lei, ou da “legisla- sao wibutiria”, conjugada a ocorréncia do fato - “evento” - nela previsto (CF, art 150, 1: CEN, art. 3% art. 118, pardgrafos 1° © 2% art, 114 e art. 115), Ter-se-ia uma norma juridica que nada obriga, wma norma jurfdiea que sur fe quando a obrigacio que criaria ¢ extinta, uma norma jurfdica que nao admite descumprimento, ¢ uma norma na qual é incabivel qualquer sangio. O recibo de pagamento, a nota fiscal, a declaracio, claramente, nao sio normas jurfdieas, A norma individual e concreta” $6 € norma se admitido um conceito de norma to- talmente novo, ¢ sem nenhuma clas qualidades comumente atribuidas normati- Vidade: cogencia, coercibilidade, sangio, vontade ete. Para tanto, uma nova teoria da norma juridica deveria ser produzida e sustada, mas isso sequer é esbocado. Sem fundamento nem proveito algum, chamar o documento produzido pelo sa- jsito passivo de “norma jurédica individual e concreta” ¢ criar uma hipotese ad hoe para salvar a teoria. Um recurso epistemologicamente ilegitimo®. Acaso fosse (, seria apenas para os casos em que hd documentacio, deixando inex plicados os casos em que nao ha documentagio, em que nao hé a “linguagem competente’. uma das procede 11. © Excesso de Formalismo ¢ de Reducionismo Outra premissa que sustenta 0 dualismo € a de que o Direito se reduz a um sistema de normas. Essa premissa é imprescindivel para a conclusio segundo a POPPER, Karl. The lagi of eientifedncacery Londres: Routledge, 2002, p. 20: POPPER, Katt Gonpetnvase nfutacos. Tradugio de Sérgio Barth, » ed. Brasilia: UNB, 1982. p. 6. 24 DIREITO TRIBUTARIO ATUAL n? 32 qual € necessaria a Hinguagem competente™. Reduzir 0 Direito & norma sempre {oj afirmado como um artificio metodoligico de reducao de complexidades®. No entanto, com o dualismo, converte-se em uma afirmacdo ontolégica: Direito € além de norma, mas inclusive menos que norma, pois 6 € norma escrita, documentada, formalizada: mesmo uma pessoa que masce mas nio € re- gistrada nao tem direitos, Uma audiéncia no frum, uma sustentacéo oral num tribunal, uma peti¢io em um processo, um voto veneido em um julgamento, nada disso faria parte do munclo do Direito, pois nada disso € norma. Aparece af 0 carter extremamente formalista dessa teoria. Tio formalista que até 0 cumpri- mento de uma norma juridica € algo juridicamente irrelevante: cumprir a lei deixa dle ser algo relevante para o Direito. F por isso que o documento emitido no ‘momento em que a lei é cumprida precisa ser - arbitrariamente ¢ ad hoe - equipa- rado a uma “norma individual e conereta’: porque, se nao o fosse, também ele nao seria juridico, porque s6 normas formam a realicade do Direito. A doutrina dualista usa, como exemplo, o nascimento de uma crianga ma Gida, mas ainda nfo registrada, nada existe para o Direito. O nascimento, por si 86, nido & um fato juridico, nao cria direitos nem deveres. Para a ordem juridica, no existe esse “centro de imputacio de direitos e deveres” que 6 a crianga nasci- da, O sujeito que nasce e nao é registrado nao €sujelto de direitos, nao adquiriu ainda a dignidade juridica. Depende do cartordrio para tornar-se um sujeito de direitos apto a receber tutela estatal. $6 os untacdlos pela certicao cartoraria € que terio dignidade suficiente para ter direitos. Para a doutrina dualista, apenas pat= tir do documento emitido pelo oficial do cart6rio - arbitrariamente convertido ‘em norma juridica - é que “o recém-nascido aparece como titular dos direitos subjetivos fuundamentais (ao nome, a integridade fisica, a liberdade etc, -oponi- veis a todos os demais sujeitos da sociedade””. Inclusive a dignidade da pessoa Jumana é reservada aos registrados: “Deve ser respeitada a dignidade da pessoa humana, mas (..) 0 nascimento (..) juridicamente nada significa (..) a pessoa sur- ge com 0 registro € (.) € justamente a esta pessoa quee a Constituigao da Reptibl- a garante a prerrogativa de dignidade.”™ S6 o registrado seria, juridicamente, uma pessoa merecedora de dignidade. Admitindo-se que $6 ha fato jurfdico quando juridicamente comprovado, somente com a prova, a certidao de nascimento, a crianga passaria a existir en- quanto sujeito de direitos. Porém, ndo hd af nenhuma norma juridica, Cairia por ‘de, “Mlancjamente tribute e estado de divcte: fray & lei, ve- PAULA JUNIOR, Aldo deo al Dterpretagia vextada de diet, So CARVALHO, Paulo de Barros, Divito Trbubivie:fundameoto jrviicos da incidéncia. ed. Sto Paulo: Saraiva, 2012 edo cletronia, p. 32. |ALHO, Paso de Barros. Cus de Divi Tribute, 19 ed, So Paulos Saraiva, 2007 p. 391: ian Del Padre. “Inadmissbilidace de preva obida por meio ete: sig han irio€ le leis mo tempo". fn: PAULA JUNIOR, Aldo de ral. Inerpetao eestada de drei. Si0 Paulo: Noeses, 2006, p. 204, MENDONCA, Christiane. nig-cunuattodade do ICMS. Sao Paulo ‘Quartier Latin, 2005, p. 22, CARVALHO, Paulo de Barros. Divito Tibutivia:fndamenta juridicos da incincia. * ed. Sio Paulo Saraiva, 2012 « ediezoeletronia, p. 54. Thidem. pp. DIREITO TRIBUTARIO ATUAL 1? 32 25 terra o dualismo; haveria um caso de fato juridico sem norma juridica concreta, “Todavia, para salvar 0 argumento, recorre-se a hipétese ad hoc ¢ axbitréria segun- doa qual a certidao de naseimento € norma juridica. Nao ha norma juridica al- guma; ha uma certidio de nascimento, Mas ela tem que ser, em um argumento «ud hoc, equiparada a uma norma. A consequéncia, inaceitével, desumana e antijuridica, que surge é a seguin- te: antes da certidao, a crianca nao tinha direito a integridade fisica, nem a liber- dade, nem & vida, nem a dignidade, e ninguém tinha o dever de respciti-los. O nascimento com vida, por si 56, nio € fato juridico, e nao gera dever juridico nem dlireito subjetivo. Precisa-se da certidao, Conclusio: pode-se matar a crianga, tor- turiéla, abusé-la sexualmente, jogé-la pela janela, porque ela no tem nenhum clireito, ¢ ninguém tem dever algum em face dela. Toda a realidade nao transcri- ‘ana linguagem juridicamente competente, em “norma individual e concreta”, no tera reconhecimento juridico. \ crianga sem a certidio nao é reconhecida pelo Direito, Em termos juridicos, é um nada, Nao far jus a qualquer protecio estatal ou juridica, A protegao a integridade fisica, social e psicolégica da crianca ¢devolvida & moral e a religido, Num mundo complexo, com diversidade cultu~ ral, moral e religiosa, 0 Direito cumpre a relevante funcio de diregio de condutas € de realizagao de valores em sentidos comuns, que, conquanto possam ser con- vergentes, independem da moral ou do sentimento religioso individual, atuando, inclusive, contra eles. O dualismo entre fato e evento, porém, anula essa fungio Juvidiea, devalvendo a protecao individual e social as religides e as morais, red zindo drasticamente 0 Direito, a ponto de equiparaclo a quase nada. Alem de negar, precisamente, o significado hist6rico € normativo da insergio da dignida- de da pessoa humana nas constituicies editadas aps a Segunda Guerra Mundial, como reaciio aos regimes juridicos que pretendiam escolher quem € digno (os “certificadios”) e quem nio é. ‘Também nesse exemplo se percebe como o dualismo pretende impor-se ‘mesmo contra Iei expressa. Diz. o Codigo Givil brasileiro, nos seus arts. 1° ¢ 2°: “Toda pessoa ¢ capaz de direitos deveres na ordem civil”; “A personalidade civil da pessoa comega do nascimento com vida; mas a lei poe a salvo, desde a concep- Gio, os direitos do nascituro”, Mas, no dualismo entre fato e evento, o dircito po- sitivo ea pessoa humana nao importam; importante é 2 certido. Essa situacio de fato, para o dualisino, é inexpressiva juridicamente, como o sio as circunstincias materiais. O art. 116, I, do GTN, também é negado: “(..) considera-se acorrido 0 fato gerador ¢ existentes 0s seus efeitos: I- tratando-se de situagio de fato, desde ‘o-momento em que o se verifiquem as circunstncias materiais necessirias a que produza os efeitos que normalmente lhe sio préprios”. O dualismo, expressame te, sustenta que o direito positivo, ao prever que, do “fato", surjam os cleitos, esta errado, ¢ certa estd a teoria”, Assim, errada esta a realidade empirica, o diteito positive, e nao a teoria que a deveria explicar. Essa teoria permanece isolada no i da obrigacio ribuxiria" fa: CONRADO, Paulo Gesar coord). Process taduadsiounatiien. Sto Paulo: Diaktica, 2003, p43. DIREITO TRIBUTARIO ATUAL n? 32 ‘mundo supraempirico da verdade absoluta e incontrastavel. Uma teoria metatisi- ca nao ciemifica, portanto" Nio surpreende que uma teoria baseada em sucessivos cortes destinados a reduzir complexidades chegue a um formalismo t2o exacerbado que a divoreie completamente dos propésitos do Direito ocidental contemporaneo em promover adignidade de toda e qualquer pessoa, registrada ou nao. A teoria 6 baseada em cortes destinados a *isolar o direito” "reduzir ainda mais as complexidades do objeto", em uma “apologia do corte™’. O formalismo e 0 reducionismo da teoria Jjuridica tributéria sto criticados justamente pela doutrina. Enquanto o interesse Cientifico caminha para a assuncio 0 enfrentamento das complexidades, no ‘dualismo adota-se um reducionismo e um isolamento tao incisivos que, de jurial ‘co, pouco resta: apenas documentos, aos quais € licito documentar qualquer €oi- sa. 12, Imprecisio Conceitual ¢ Terminologica dualismo exacerba o problema terminol6gico no Direito Tributario, Con- ceitos fundamentais do dualismo sto tratados de forma confusa. Iso € problema- tico: as teorias cientificas devem ser formuladas em termos precisos porque ape- nas assim podem ser submetidas 2 critica racional™. fato juridico, em alguns textos, & tratado como 0 relato em linguagem competente. Em outros, o fato jurdico é aquele evento que pode ser relatado em linguagem competente. Em outros, ainda, © fato juridico € 0 proprio evento rei lizado ¢ relatado em linguagem competente. Em alguns textos, o fato jurfdico &a prova; em outros, é o antecedente da “norma individual ¢ concreta ‘O evento €algumas veres tido por desnecessirio para a incidéncia, que pole haver indepenclentemente de sua ocorréncia, inclusive em ndo havendo evento algum, desde que haja Tinguagem competente, que independ do evento que des- ‘creversi. Outras vezes, porém, a incidéncia requer a realizagio do evento, © sta transcricio em linguagem. Em outras, a versio do evento, em lingiagem compe- tente, € decorréncia daquele acontecimento. K hha escritos nos quatis os eventos previstos pelas normas abstratas e gerais s20 0 que causam o surgimento de obti= gacdes. Portanto, algumas veres demanda-se uma relacdo semantica entre a des- Crigio linguistica e o objeto descrito; outras veres, ao contririo, isso € desnecessi- FOLLONI, Anclé Cina do Dito Tribu wo Breit eta persprivas 0 ark de Jose Sento Matar Barges So Pano: Soriva, 2013, p. 285. CARVATHO, Paslode Barvon Dino Tiara: fondamentas uss da ince, 9° ed. S30 Paulo: Saraiva, 2012 ediao cetwOnica pp. 52. 54 € 209. © AVILA. Tumberto,“& doutna ¢0 Dieta Tribus" be: AVILA, Humberto (oor). Prada ‘rents do Dirte Bibra. Madi: Marcial Pons. 9012. p. 213: AVILA, Humberto, "Fangio da ‘éncia do Direto Tributaro: do formalism epistemoldgica ao estrararalismo argumentatho evs Divito Dubai tue 29 So Paulos Daleuea TBD, 2013, p. 200. POPPER, Karl. The lg often dormers, Londres Routledge, 2002, pi ‘Nos néssentidon: CARVALHO, Paulo de Barton. (xy de Dito Dbutito. 19* el So Paulo Sativa, 2007 pp, 208,120 e340 Ver amb: MOLSSALLEN, Tarek Movs. Fontes do Dieta Tuatri.2 ee Sa Paulo: Noess, 2006, p. 155: € TOME, Fabiana Del Padre prove no Divo Trbmearn S40 Pao: Noeses, 2003, pp. 7°80. DIREITO TRIBUTARIO ATUAL n 32 a rio, ou impossivel, devendo haver apenas uma relacio sintatiea entre a descricio ¢ ela mesma, em autorreferéncia linguistica”. Anorma juridica individual e conereta, as vezes, € 0 documento produzido pelo agente administrativa, isto é, produrido por um érgio piiblico. Outras vezes, € 0 documento produzido pelo sujcito passivo, isto é, uma norma de Direito Pie hiico, de Direito Tributario, que impoe o dever de pagar tributos, € produzida pelo cidadio privado. Mas, em outras passagens, a norma individual e concreta do € nem um, nem outro: € 0 significado desses documentos. E, 0 mais intrigan- tc: é um significado livremente construido pelo intérprete individual e solipsista, de modo que ha um potencial significaclo para cada intérprete, jé que significan- te © significagao estao absolutamente separados: “Entao cada um constréi o siste- ‘ma que quiser? Constréi. Cada um interpreta como quiser a Constituicao? Inter- preta’. Ou seja: 0 cardter cogente da determinacio juridica de recolher tributos 20s cofies piblicos fica na dependéncia de uma significacio livre, descontrolada ¢ individual, produzida pelo proprio contribuinte, ao seu exclusivo alvedtio, 13. Vigéncia ¢ Eficicia na Teoria Dualista A manutengio do dualismo implica abelicar de varias categorias da Ciencia do Direito, Dentre clas, a eficacia técnica, "(.) a condigao que a regra de di ‘ostenta, no sentido de deserever acontecimentos que, uma vez ocorrides no plano do real-social, tenham o condo de irradiar efeitos juridicos, ja removieos 0s obs- sdculos de ordem material que impediam tal propagacio”®. Se for aceito o dua Jismo, nenhuma norma terd essa eficécia, uma vez que nenhuma norma, nessa ‘coria, tem a condicao de irradiar efeitos juridicos quando ocorrem acontecime: tos no plano real-social. Toda e qualquer norma, no dualismo, careceria de efics A vigencia € definida como uma “(..) propriedade das regras jurfdicas que estfo prontas para propagar efeitos, (a0 logo acontegam, no mundo Fitico, os cventos que elas deserevem’: € vigemte a norma que tem “(..) a forca que Ihe & propria para alterar, diretamente, a conduta dos seres humanos, no contexto so- cal’. No dualismo entre fato € evento, nenhuma norma tera vigéncia, porque ‘senhuma esta pronta para propagar efeitos to logo acontecam os eventos € ne- ehuma altera diretamente a conduta dos seres humanos. Restam apenas normas go vigentes, aquelas que, “A despeito de ocorrerem 0 fatos previstos em sua hic potese, no se desencadeiam as conseqiiéncias estipuladas no mancamento™. Em todos esses sentidos: CARVALHO, Paulo de Barros, Cinsa de Dinsto Triburi. 19" ed. Sia Paulo: Sraiviy 2007, p. 303; CARVALHO, Paulo de Barros. “Obrigacho iibutavia: definigoes, ‘cepces,estutura interna e limites conceptiais Inlersve Plico ns 1), an 10. Belo Horizonte, 25 junho de 2008, pp. 21 ¢ 229-250; CARVALHO, Paulo de Barvos. "Guerra fiseal prin {Ss nzo-cumulatividade no TCMS™ fre PAULA JUNIOR, Aldo de tall. terpretaga estado 1. Si0 Paul: Nocses, 2006, p. 65; TOME, Fabiana Del Pade. 4 prova no Divo Ttbulé- ‘So Palos Nocees, 2003, p 2, © AS\ALHO, Paulo de Barros, “Confertncia" Ja: GRUPENHMACHER, Betina Tiger (oor) Cooperatins¢ iba. Curitiba: fart, 2001, . 56 | CASVALMO, Pato de Barros. Curio de Dinito Pubutdrio. 19” ed S40 Paulo: Saraiva, 2007, p83 Bide, pp. Si, DIREITO TRIBUTARIO ATUAL ni 32 [A cficacia social, ou efetividade, diz respeito “.) aos padides de acatamento com que a comunidade vesponde 20s mandamentos de uma ordem juries histo- ricamente dada”, sendo “(.. eficaz aquela norma cuja disciplina foi coneretamen- te seguida pelos destinatarios, satisfazendo os anseios e as expectativas do legis- Iador”. No dualismo, nenhuma norma é socialmente eficaz, porque, como nao se transita do dever-ser para o ser, nenhuma norma conduz a conluta humana a ‘uma ou outra direcio. ‘Ao Angulo pragmatico da Tinguagem juridica corresponderia o problema da motivacéo das condutas®, Como nao se passa do mundo do dever-ser para 0 do ser, € nenhuma norma & capaz de motivar comportamentos, entéo nenhuma pragmatica juridica pode haver: O conceito de norma de conduta é contraposto a norma de competéncia, Mas, no dualismo, toda norma abstrata e geral € norma de competéncia, porque impoe a eriagio de outra norma. Apenas a "norma indi- vial € concreta” seria norma de conduta, ‘Aceita a teoria do dualismo, a consequéncia € a subversio de todos esses conceitos, que precisario ser reelaborados, s¢ isso for possivel. 14, Fato Juridico sem Linguagem Competente (0 dualismo, mesmo tendo pretensio de universalidade, é relativizado quan- do sustenta que as obrigagbes acessbrias sio obrigacées juridicas de produzir as “normas inclividuais e coneretas”. Admite-se, como uma peculiaridade da obriga- cao acesséria, 0 fato de existir sem linguagem competente ¢ sem “norma indivi- dual ¢ concreta”. Ao contratio das obrigacdes tributarias principais, relativas a0 tributos, que dependeriam de “normas individuais © conereta’, as obrigagies ‘acessdrias podem existir independentemente dessas normas. . ‘A doutrina dualista sustenta que as obrigagoes acessorias esto previstas em. normas “abstratas ¢ gerais” que geram deveres jurfdicos e, portanto, incidem por sis6s: “Havendo satisfacio, a propria norma individual e concreta produzida pelo sujeito passivo atestara o cumprimento do dever que fora estabelecido em carater igeral e abstrato."" Os deveres surgem - isto é, ha incidéncia e, portanto, fato juri ico sem norma individual e conereta e sem linguagem competente: “Quando 0 diploma normative indicar 6 contetilo do comportamento a ser seguido, preci- sando o objeto da prestacao, tornar-se-4 despicienda a edicéo de norma indivie dual e concreta, por parte do fisco, deixando-se ao bom juizo do administrado 0 implemento da conduta.™ A doutrina admite expressamente, como peculiarida- de da obrigacio acess6ria, existir sem linguagem competence ¢ sem norma indi vidual e concreta: “Tracalo 0 paralelo coma regrt-matriz de incidéncia, notare- mos presenga de deveres instrumentais que nao se perfazem em normas inlivi- duais © coneretas, consistindo, antes, em condutas de cardver omissivo, como 0 © idem. p84. ©» Bader, p10. 8) CARVALHO, Paulo de Barros, Divito Hibntivn,linguagew ¢ méfado, 2 ed. Sao Paulo: Nocses, 2008, p. 75; CARVALHO, Patio de Barros. Drei Tintin nsdamentsjrieios da inedenc. ‘ed. Sho Patil: Saraiva, 2012 - edigio eletrinica, p. 409. fhadem, pe AL DIREITO TRIBUTARIO ATUAL n? 32 29 dever de tolerar ou de suportar fiscalizacio. A linguagem aparecera aqui ta0- yente em caso de inadimplemento (..).” Isso implica anséncia de “fato juridi- Jinguagem competente € norma individual e concreta: “Essa peculiaridade exibe outra diferenca do dever instrumental em face da prestacao tributari aquela nao pode existir, em hipétese alguma, sem norma individual e conereta.’ A teoria do dualismo entre fato e evento encontra, entio, em si mesma, sua propria refutacao. Ora, se sto obrigagdes juridieas, so - noy pressupostos pontia- nos ~integrantes de relacoes juridicas, que surgiram com a incidencia e com fatos Jjutidicos, tudo isso sem “norma individual € concreta” ¢ sem “linguagem compe- tente”, No plano das obrigacoes acessérias, admite-se, como antes do dualismo, a existéncia de deveres juridicos, cujo descumprimento € juridicamente sanciona- vel, antes da edicio de “norma individual ¢ concreta’. Admitindo deveres juridi- cos, admite também a existéncia de relacao juridica, fato juridico e incidéncia normativa sem linguagem competente no antecediente de nenhuma “norma indi- Vidual e concreta” fato juuridico sem Tinguagem competente foi encontrado. Consideragdes Finais ‘ao ha nada para além da linguagem’. Essa proposicao pode ser verdadei- ra, a depender do problema a que se dirige. Ela nao significa, porém, nem pode ignificar, que nao haja obrigacao juridica para além dos documentos. Essa trans- posicio é indevida: nao s6 € contra-intuitiva como é refutada pela experiencia Cotidiana com 0 juridico. Ela s6 € possivel em uma visio do Direito tao reducio- nista que deixa de ser uma visio do Direito para tornar-se uma visio dos docu- rmentos juridicos. Funda-se na criaglo abstrata ¢ arbitraria de uma reatidade die versa do Direito que conhecemos e com o qual convivemos. Por isso, € uma cons- rucio intelectual que nao corresponde & realidad - se coerente, teria valor estéti- co, mas nao epistémico. O erro fundamental do dualismo nao é a proposicio-pre- rissa - “nao hit nada para além da linguagem” ~ may a interpretacao que the € conlerida © a aplicacao que Ihe € dada, ambas dependentes de um reducionismo, epistemologicamente ilegitimo, inclusive, em face do giro linguistico, A critica aqui empreendida é, por assim dizer, “interna’: trabalha no inte- rior da teoria, examinando sua coeréncia diante de seus pressupostos, implicitos © explicitos, € em face do ordenamento juridico, Outras erftieas poderiam ser feitas: & concepcao normativista do Direito, ao carter hipotético de toda ¢ qual quer norma juridica, & nogao de que é necessirio um fato (com ow sem lingua gem) para que haja direitos e deveres subjetivos - ou, em outros termos, a ideia de incidéncia -e assim por diante. Seriam criticas importantes, que vasculhariam os pressupostos mais remotos da teoria € que, caso revelassem a inviabilidade desses pressupostos, implicariam a rufna da doutrina dualista. motivo da critica é uma crenca profunda na falsidade da teoria - isto €, ma auséncia de correspondéncia entre 6 que ela afirma e a realidade - e no carter anoso da teoria ~ isto €, no fato de que ela traz mais danos ao conhecimento ju- Diem, p.AN2, 30 DIRETO TRIBUTARIO ATUAL n° 32 ridico do que beneficios. Como se vé, a propria critica depende de nao se abrir indo de alguma espécie de correspondéncia semamtica entre o que se afirma da realidade e a propria realidade, ¢ de alguma espécie de exame pragmético dos efeitos que a teoria gera no seu ambiente - ou seja, de superacdo dat absolut au- torreferéncia da linguagem. Nisso abre-se, ela propria, a refutacao. © objetivo da critica 0 desenvolvimento € 0 progresso da Ciéncia do Direi- to Tributario. Teorias cientificas no devem ser defendidas: a0 contrério, devem ser submetidas, permanentemente, a severas criticas, na tentativa incessante de ‘sua superacio por outra melhor. Se uma critica nao consegue derrubar a teoria, deve-se tentar elaborar criticas ainda mais eruciais e decisivas. Enquanto uma tcoria Gentifica nao for refutada, nao se deve descansar. © compromisso com o aprimoramento do conhecimento humano exige que as teorias cientificas nao sejam defendiclas, mas sejam criticadas com persisténcia, pelo seu proprio autor ‘ou pela comunidade cientifica™, Se a teoria boa, nao necessita defesa: sa forca seri revelada pelo insucesso da tentativa de refutacdo - até que uma tentativa st- perior seja bem-sucedida, possibilidade que jamais pode ser afastada. A ciéncia deve evoiuir e se desenvolver: nao se deve admitir comportamentos conservado~ res em ciencia, © POPPER, Karl. The logic of sintife discovery. Londves: Routledge, 2002, p xix PRETO TRIBUTARIO ATUAL ni 33 SOBERTO CODORNIZ LEITE PEREIRA © Novo Regime de Tributacio em Bases Universais das Pessoas Juridicas Provisto na Lei n° 12.973/2014: as Velhas Questoes foram Resolvidas? 4 Introducio. 2. Antigo Regime de Tributacdo em Bases Universais das Pessoas Juridicas (Anterior a Lei n? 12.973/2014) 8. O Novo Regime (Lei n® 12.975/2014) 4. Conclusdo -voltando-se as Duss Quest6es Inieiais: as Velhas Questdes foram Resolvidas? Houve, enfim, a Previsio de uma CFC Rul Referencias Bibliograficas THAIS DE LAURENTHS Novos Paradigmas para a Fducagio de Criangas Portadoras de Deficiéncia suas Consequencias no Ambito da Tributagio do IRPF 1 Introducio. 2. Da Tributacao sobre a Renda das Pessoas Fisicas (IRPF) € io Abatimento das Despesas com Fdlucacio e Satie. 3, Da Regra Especitica para as Pessoas Portadoras dle Necessidades Especiais: Equiparacio de Esducacto & Suéde. 4. Da Inconstitucionalidade do Artigo 91, Paragrafo 5°, & Fini da IN n, 1.500201. 5. Da nao Aplicacao do Artigo 111 do Cédigo Tributirio Nacional. 6, Conclusio. 7. Bibliografia. Artigos Selecionados e Premiados no Curso de Atualizacdo em Direito Tri- Sutario do IBDT MICHELL PRZEPIORKA VIEIRA Getério Espacial do ISS: Doutrina ¢ Juriyprudéncia 1. Introdugio. 2. Constituigio, Conflitos de Competéncia ¢ Lei Comple- snentar 3. Aspecto Espacial do ISS: Decreto-Iei 4065/1968. 4. Aspecto Espa- Gal do ISS: Lei Complementar n° 1162008. 5. Leasing. 6. Jurisprudéncia Posterior. 7. Anises Clinico-laboratorias. 8. Conclusio. Bibliografia. vitals CHANES DE MORAES sgilo Bancério eas Hipsteses de Quebra na Lei Complementar n. 105/201 Introdugio. Hl. Gonsensos Aleaneados. III. Principais Controvérsias. IV. Ponto Nevralgico do Dissenso. V: Hipoteses da LG, 105/2001 e os Limites 2 Azuaclo Fazendia. VI. Conclusio, Referéncias Bibliogrficas. ERRATA Nas paginas 21 ¢ 22 RDTA n° 32, leia-se as notas de rodapé n™ 27 € 29 ‘como segue, € nfo como constaram: BORGES, José Souto Maior. Curso de Dineito Commnitario: instituicies de Di- Comunitério comparnie: Unian Euvoptia e Mercosul. 2 ed. Si0 Paulo: raiva, 2009, 461

Vous aimerez peut-être aussi