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De Tdi lal Qe rad! ors x aRUena le) Dedeealtsias Ao meu filho no amor, Marcelo Quintela, que se empenhou mais do que eu mesmo pela publicacao deste livro. A Dora Ramos e Ligia Madruga, que fizeram as corregées, bem como ao Fausto Castelo Branco e ao Reverendo Eudaldo Gomes de Almeida que ajudarama colocar as notas de rodapé, assim como contributram com sugestées. Ao Chico, que também fez sugestoes. E, sobretudo, minha gratidao a Adriana, minha mulher, que, de fato, ao reler o livro, ndo apenas fez muitas corre¢ées de contetido, mas, também, me pediu que o fizesse na forma em que esta edi¢ao agora possui. A todos manifesto aqui a minha gratidao. ...Os Meus pensamentos ndo séo os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os Meus caminhos! — diz o Senhor. Isaias 55.8 AC J, ds tltimos dias, Deus é0 assunto!Deus. Este é0 tema. Este te € o assunto. Deus tema. Deus assunto. Deus criado. Deus pensado. Deus explicado. Deus filosofado. Deus objeto. Deus de es- tudo. Deus de discussao. Deus de letras. Deus de palavras. Deus de ideias. Deus segundo o homem. Deus conforme a nossa imagem. Deus de acordo com 0s tempos. Deus segundo as Eras. Deus de dou- tores em Deus. Deus de divinos mestres em Divindade. Deus esqua- drinhado. Deus dividido em atributos. Deus feito uno pelo fragmen- tado “homo-sistematikus”. Deus ora Livre, ora preso a si mesmo. Deus do nao. Deus do sim. Deus? Deus! Deus?! Deus fora do interior do homem: Deus na “cabega’. Deus na mesa de cirurgia de ideias. Cirurgides de Deus. Deus cadaver. Deus de ontem. Deus da vida oca. Deus morto. Deus que ndo é visto no que de Deus se pode conhecer... Deus que nao é visto onde disse Ser. Deus sem Deus. Deus sem Mistério. Deus manco. Deusajudado. Deus em perigo. Deus salvo por Teologia. Deus “indegustavel”. Deus cozido. Deus temperado. Deus servido em bandejas de pensamentos. Deus preso ao tempo. Tempo no qual Deus tem que caber. Tempo no qual o Deus segundo o homem existe. Deus disputado em batalhas. Deus perdido em disputas. Deus ganho em querelas. Deus assim... Deus me livre! 1. Apresentagao 2. Glossirio 3. Introdugao: JESUS e os do Caminho .. 4. Oque esta acontecendo a alma dos cristaos de hoj 5. OCaminho da Graga para todos 6. 7. 8. 9 A Graga da salvagao.... A vida cheia de Graga ... Dois modos de conhecer a Graca de Deus . _Epara comer, nao é para conhecer 0 cardapiol, 10. A boa noticia é a manchete de hoje! 11. A Gracaea Lei do Caminho 12. A liberdade de ser no Caminho 13. OCaminho da Simplicidade 14, A loucura da Cruze o escandalo da Graga — para os cristaos. 15. O Caminho da experiéncia comunitaria, 16. Um convite a doce revolucao... 17. O Encontro no Caminho . 18. O Caminho versus a instituicao . 19. O Caminho da Graga — uma denomina¢ao evangélica light? ..... 20. O Caminho como atalho.. 21. A Esperanga como Caminho 22. O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho. 23. A Teologia e o Caminho da Gra¢ 24. Conclusio — Um s6 Caminho 7 CApresentaciie Onde abundou 0 pecado, superabundou a graga! Romanos 5:20 ntes de qualquer coisa quero dizer, em nome de Jesus, que sendo um pecador dentre todos os pecadores da Terra, nem por isso posso negar que Deus habita em mim, e que Dele re- cebo a Luz. Dou a conhecer aos meus amados irmaos que encontrei e co- nheco a nosso Senhor Jesus Cristo — Deus Conosco —, a Quem 0 Pai constituiu como meu Salvador por Sua exclusiva Graca, hoje e para todo o sempre. O contetido a seguir é uma espécie de “apresentagao” aos que chegam as Estacdes do Caminho da Graga. Nosso publico é formado por aqueles que, pela leitura do meu site (www.caiofabio.com), se identificaram com o queensino acerca de Jesus, bem como por aque- les que ja se cansaram de tanta tolice religiosa e, pela compreensao do Evangelho, querem viver a simplicidade de algo que apenas deseja ser lugar-caminho de fomento da Palavra; e no caso de nao se fazer “lugar”, ainda assim pode se fazer “caminho” no coragao e na voca- ao . Ou, ainda, por aqueles que nada sabem de coisa alguma, mas anseiam pelo Evangelho. Estes ultimos chegam apenas para crescer na Graga, e sem os vicios de doengas de “crentes amargos”. A esses companheiros de jornada dedico esse trabalho. Boa Leitura! Caio Fabio Llessdvic a Ju segue um glossdrio de termos presentes tanto no sitecomo OY nos livros. Creio que a leitura dele é auto-explicativa e pode facilitar o processo de comunicagao no que tange a terminologia. + Igreja (com I maitisculo) corresponde ao que Jesus eo Novo Tes- tamento definem como Igreja: A Assembleia dos que foram chamados a Fé, ou seja, o encontro com Deus e uns com 0s outros em torno do Nome de Jesus — 0 que faz de todo Encontro Humano, em fé, um En- contro-Igreja no qual Jesus promete estar presente, mesmo que sejam apenas dois ou trés re-unidos' por se saberem a Ele unidos! + “Igreja” (entre aspas) refere-se as representag6es institucionais do fendmeno histérico, social, econdmico, politico e culturalmente autodefinido como “igreja” — e que tem uma hierarquia (clero), sigla (denominagao), geografia fixa (prédio) e membros-sécios. Ou seja, Igreja a gente encontra no caminho. “Igreja’, a gente vai ao encontro dela ou a identifica pela placa! + Cristianismo ¢ a expressao histérica da Religido que confessa Jesus como Filho de Deus, mas cujo processo de institucionalizagao trabalha com mais freqiiéncia contra os Interesses do Reino de Deus que no sentido indicado pelo Evangelho. + Catolicismo é um derivado do Cristianismo que se vé como 0 “Reino Estatal de Deus na Terra” — tudo entre aspas. « Protestantismo é 0 movimento histérico-cristao que quase conseguiu... Mas perdeu o pré-testo, que é sempre algo pro-teste! Assim, virou apenas uma Re-Forma’! 1 Mateus 18:19-20 2 Lucas 5:36-39 ll Un sé caminko + Evangélico é 0 ente que cré no Evangelho e que cré na salvagao em Jesus, conformea Graga revelada em Cristo. Por exemplo, 0 apés- tolo Paulo era um genuino Evangélico! + “Evangélico” (entre aspas) é 0 ente que tem sua fé em Jesus mediada pela “Igreja Evangélica’, que é a autodefini¢ao coletiva dos cristaos que nem sempre confiam uns nos outros ou gostam uns dos outros. Apesar disso, s6 se enxergam coletivamente sob esse Guarda- Chuva, furado de baixo para cima pelas pontas afiadas dos guarda- chuvas menores que cada um usa para garantir sua propria protecao enquanto aniquila o que confessa como devogio: o Evangelho! « Cristo (historicamente) é um ser no Limbo, vivendo entre a Lei e a Graga; sofrendo entre o medo de Deus e o amor irresistivel que por Ele sente. + Discipulo de Jesus é 0 ser que, apesar de se reconhecer relativo, se sabe — pela fé na Gracga de Deus que gera o dom da fé — como alguém que éirreversivelmente de Jesus, e que aprendeu que 0 Cami- nho acontece na companhia de irmaos que sempre sujam os pés na jornada. Por isso lavam os pés uns dos outros em nudez, crendo que quem jd esta limpo pela Palavra® de Cristo ndo necessita lavar sendo somente os pés. « Liberdade é a capacitacao na Graca e na Verdade de poder escolher-se-deixar-levar pelo Espirito, que realiza o Bem de Deus no ser humano, conduzindo-o no Caminho Estreito que acontece, em fé — entre os pdlos da Lei e da Libertinagem —, na vereda do que é bom, faz bem, é justo e se chama vida conforme Jesus’. + Pecado é... Sou. Cada um deveria saber 0 que é pecado. De fato, cada um sabe, especialmente se nao for instruido moralmente a respeito. Somente os instruidos pela Moral é que tém pecados lista- dos’. Os da fé seguem a justi¢a do Evangelho na consciéncia, por isso sabem que sao pecado. Sabeme nio ficam neuréticos. Afinal, Aquele que nao teve pecado, Deus o fez pecado por nés*. Quem olha para o cora¢ao sabe a diferenga. 3 Joao 13:10 4 11 Corintios 3: 1 a8 ; Romanos 8 5 Colossenses 2:8-23 6 2 Corintios 5:21 12 Clessdrio «Gragaé.., Toda manifestagao do amor criador-redentor de Deus — e que se expressou supremamente no Escandalo da Cruz — e que sempre é favor imerecido, incluindo a criagao de todos os seres’. Paulo fala em Igreja mais que qualquer outro dos apéstolos. Para ele, no entanto, a igreja tem dois tratamentos: 1. Aigreja como ente espiritual que existe aos olhos de Deus como a Universal Comunhao dos Santos. E a igreja como verdade e como proposta’. 2. A igreja instituida como organismo, néo como uma empresa com uma missao de conquista. Nesse aspecto, Paulo nao fala em Corpo, membrose dons. Para Paulo, alguémera membro da igreja nao quando se filiava, mas pela sua propria insergao em Graga na comunhao do Corpo de Cristo esua mutualidade °. 7 Colossenses 8 1 Corintios 1: 9 Romanos 8:16-17; 1a 23; Efésios 2:1-10 Efésios 4:1-16 ésios 2:4-10; Colossenses 1:17-29 13 /esus é O em relacao a todas as coisas que existem. Pois todas as coisas vieram Dele e para Ele'”. Ele esteve neste tr indo, tudo é Dele", mas Ele nao era e nem é deste mundo”. Ele amou 0 amor do Pai pelo mundo", embora 0 mundo O tenha odiado™. Ele, porém, como Deus, nao se enche de citmes ante a cegueira humana", e continua amando mesmo quando julga e decreta, pois, sendo amor, tudo o que faz é amor em terapia para a vida’. Jesus é Deus. E Deus desde que Deus é Deus”. Ou seja: Ele e 0 Pai sdo Um's, e nao “se tornaram” Um. Por isso, tudo Nele é simples e soberano. Ele vem ao mundo como um anénimo e se esconde em simplicidade anénima aproxi- madamente 92% dos trinta e trés anos de Sua existéncia Histérica. E nao se importa como tamanho de nada”, e nao se aflige em posicio- nar-se bem”, e nao é estratégico segundo o mundo em nada do que 10 Jodo 1: 1- 14 11 Romanos 11: 33-36 12 Joao 8:21-24; 17:4-16 13 Joao 12:20-32; Joio 13:1; Joao 15:9-13 14 Joao 7:1-7 15 Atos 17:22-31 16 Hebreus 12: 4-8 17 Joao 13 18 Joao 1 30 19 Marcos 13:1-2 20 Joao 6:14-15 15 Un sé caminke fez’', escolhendo a via que é vista de modo inverso pelo mundo”, andando, assim, na contramao de tudo o que o homem chama facil* bom elargo; escolhendo a vereda que ninguém aprecia, que é 0 cami- nho da graca”, do perdao”, da misericérdia’*, da bondade simples e natural”, da compaixao™, da verdade conforme o entendimento” e da disposi¢do de morrer™, mas nao de matar."' O mundo, como sistema humano, é anti-Ele como Caminho, Verdade e Vida™! Ele, todavia, é 0 Caminho, a Verdade e a Vida*®, e, portanto, nao pede licenga para Ser e nem julga que, para que Ele mesmo fosse, tivesse que acontecer no palco das vaidades humanas™. Assim, sua simplicidade de encarnacao é Sua maior soberania, pois, em qualquer lugar, Aquele que E se faz Ser. Ele era desde antes de haver antes ou depois, pois Ele é 0 Alfa e o Omega*. Ele é Aquele que veio segundo a ordem de Melquisede- que™, pois Melquisedeque é aquele que se manifesta sem explicagao esem pedir licenca”. Ele é Senhor de tudo, pois decreta que todas as coisas estao sob a provisao de Sua Graca (Favor) desde antes de serem criadas, sendo 21 Joao 7:2-10; Joao 12:20-26 22 Lucas 13:22-30 23 Provérbios 16:25; Mateus 14 24 Joao 1:17; Romanos 6:14; 11:6; Efésios 2:1-10 25 Lucas 6:37-38; Mateus 6: 14,15; Colossenses 3:13 26 Oséias 6:6; Mateus 9:10-13; Colossenses 3:12 27 Salmo 23:6; Lucas 6:27-31; Colossense: 2; Galatas 5:22 28 Jo 6:14; Marcos 5:19; Efésios 4:31-32 29 Mateus 25:14-15; Marcos 4:33 30 Mateus 10:39; Lucas 14:25-27; Joao 12:24-25; 2 Timéteo 2:11 31 Mateus 19:18; Lucas 9:51-56; 18:20; Romanos 13:9 32 Joao 15:18-21; 1 Jodo 5:18-20; Efésios 2:1-2 33 Joao 14:5-6; 17:9-14; Tiago 4:4; 1 Joao 2:15-17; 5:19 34 Joao 7:24 35 Apocalipse 1:8; 21:6; 22:13 36 Salmo 110:4; Hebreus 5:1-10; 6:17-20; 7:17 37 Génesis 14:17-20; Hebreus 5:1-10; 6:20; 7:1-3, 11-28 16 Sntrodlugiios Las corde Cominle esta a razao pela qual Jesus, o Cordeiro Eterno, foi imolado antes da fundagao do mundo, de todos os mundos*. Por isso é que todasas coi- sas que vieram Dele para Ele voltarao®, pois fez a paz mediante o san- gue de Sua Cruz“, o qual foia expressao temporal e historica da Cruz eterna da imolagao do Cordeiro antes da fundagao do mundo". Ele redime exatamente como cria. Ou seja, tirando as coisas do nada ou do caos, e, além disso, criando gradualmente, com a paci- éncia de Deus. Ele nao sente necessidade de se explicar, pois sabe que as trevas nao prevalecem sobre a Luz'?. Entretanto, Ele se revela aos simples, e todo aquele que pode enxergar divindade na simplicidade discerne a Sua presenca"*. Por isso, entre nds, Ele se fez acompanhar dos que se alegravam com 0 derrame de amor que Ele fazia, e nao tinham questées, mas apenas 0 coracao carente e aberto". Do ponto de vista de Seu olhar humano, do alto da cruz, o que Ele via era derrota e deser¢ao. Nés é que julgamos que Suas Palavras ecoavam aos ouvidos de todos. Mas nao. Ele dizia coisas que, além dos executores, somente a mae Dele e umas amigas puderam escutar. E infinitamente pior do que morrer na UTI longe dos amigos que fugiram*’. E a morte do Herdeiro de todas as coisas acontecendo quase sem testemunhas. E as que testemunharam nao possuiam “va- lor histérico”. Ele venceu tudo em siléncio. Até a morte Ele yenceu e 0 Impera- dor nao ficou sabendo. 38 1 Corintios 5:7; 1 Pedro 1: 39 Colossenses 1:13-20 40 Colossenses 1:20 41 I Pedro 1: 19, 20, 21; Filipenses 2:5-11 42 Joao 1:1-9 43 Salmo 2: 119:129-130; Lucas 10:21-24; 1 Corintios 10; Fili- penses 2:5-11; Tiago 4:6 44 Mateus 5:18-22; Marcos 5:21-42; Lucas 7:36-50 45 Isaias 53:3-8; Marcos 16;33-41; Joao 19:25-30 17 Un sé caminko Assim, o caminho de Deus é silencioso e poderoso; e nao ¢ feito por maos humanas, mas por rendicéo do homem a Deus, sozinho, com ou sem companhia. Ha varios livros meus que falam acerca do ser de Jesus, de Seus modos, de Seu jeito-ser como Palavra, como Verbo Encarnado e como Chave Hermenéutica para interpretacao de Suas préprias Palavras**. No presente livro, minha inten¢ao é conduzir vocé por uma viagem que comega na revelacao de quem ¢ Jesus, se aprofunda na consciéncia de Quem Ele é para vocé e cresce para fazer sua aplicagao do significado dessa fé em Jesus na sua relagao com os irmaose com 0 préximo. Ou seja: este é um livro simples, mas que fala séria e profun- damente sobre as implicag6es do Evangelho para o todo de nossa existéncia. Sim! Porque o que as pessoas precisam saber é que se elas creem em Jesus, entdo nada pode continuar a ser como tem sido, pois se as coisas sao conforme Jesus disse que elas sao, implica que Deus € amor;” é Pai**; é Filho®; é irmao dos homens®; é Consolador*!; é a forca que acompanha afirmando e emprenhando de esperan¢a aquele que cré — ao mesmo tempo em que, se creem em Jesus, precisam admitir que os coragdes dos homens serao julgados® e as aparéncias serao desvestidas até os pordes da verdade™, pois somente os atos de amor sobreviverio”. O que as pessoas precisam saber é que se elas creem em Jesus, en- tao, elas também creem que no fim a recompensa é a de quem foi feliz 46 “Seguir Jesus, o Mais Fascinante Projeto de Vida’, “Oragao Para Viver e Morrer” e “Um Projeto de Espiritualidade Integral’, entre outros. 47 1 Joao 4:7-21 48 Joao 14:7-13 49 Mateus 3:16-17; Marcos 1:10-11; Lucas 8:21 50 Mateus 12:49-50; Marcos 5:34-35; Lucas 8:21 51 Joao 14:16-27 52 Mateus 28:18-20 53 Romanos 2:12-16; 1 Corintios 4:1-5 54 Romanos 2:16 55 1 Corintios 13: 8,13 18 Sntreducae: Gesusecsde Caminke porque era humilde e ensinavel; e porque chorou os bons choros, por- que dominou o coragao contra osimpulsos do ddio ou do descontrole, porque andou com o olhar limpo, com a vontade feita de paz, coma perseveranga fundada na justica e com aalegriaadvinda dos céus — de onde tera vindo a redencao de quem creu, até o fim de tudo™*. O que as pessoas precisam saber é que se elas creem em Jesus, en- tao devem assumir que o mundo vai acabar; a natureza vai gemer até parir algo novo; as nagées se odiarao; os povos se ajuntarao apenas para a guerra; e a maioria esmagadora amar muito mais a mentira que a verdade™. O que as pessoas precisam saber é que, apesar disso, devem ser- vir ao proximo e as causas da esperanga e da vida até o fim, mesmo que ninguém mais no mundo trabalhe para reverter 0 processo de calamidade provocada pelo homem. Calamidade esta que da Terra se avizinha®. O que as pessoas precisam saber é que se elas creem em Jesus, entao elas também creem que os vivos que crerem, quando soar a ultima trombeta, serao transformados, e, arrebatados por anjos, irao ao encontro do Senhor nos ares. Antes disso, porém, todos os que tiverem morrido, no leito da fé da graca, na ressurreigao serao levan- tados da morte. Os mortos ressuscitarao primeiro. Depois os vivos serao transformados. Assim creem os que creem®. O que as pessoas precisam saber é que se elas creem em Jesus, entao elas creem também que as coisas sao como Jesus nos disse que elas sao, foram e serao™. Se assim é, por que, entao, conseguimos nao ser nada do que dizemos crer? Ou sera que de fato nao cremos em nada do que con- fessamos com os labios? Ora, se vocé nao cré em mais nada disso, entao diga: “Eu nao creio em mais nada disso. Para mim Jesus é 0 Maximo, é meu guru, é meu poder; é o poder que me ensinaram e que funcionou pra mim’. 56 Mateus 5:1-12 57 Romanos 1:25; Joao 3:16-21 58 Mateus 24 e 25 59 1 Tessalonicenses 4:13-18 60 Mateus 24:35; Marcos 13:31; Lucas 21:33 19 Un sé caminko Certamente ainda seria mais agradavel a Deus! Na realidade, a maioria fica assim, desse jeito de nao-ser em Je- sus, apenas porque ja de inicio ndo admitem quem sao de fato. Pois, como diz minha mulher: “Se alguém nao é sincero com sua prépria Queda, como o sera com a Graga de Deus?”Por isso, aqui, desde o inicio, quero convidar vocé para saber como vocé e eu somos em nds mesmos, por mais “vestidos” que estejamos com as justigas de nossas proprias presuncoes. Pois, como esta escrito: Nao hd justo, nem sequer um. Nao ha quem entenda; nao ha quem busque a Deus. Todos se extraviaram; juntamente se fizeram imiteis. Nao hd quem faga o bem, nao hé nem um s6. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas linguas tratam enganosamente; pego- nha de dspides esta debaixo dos seus labios; a sua boca estd cheia de maldigéo e amargura. Os seus pés sao ligeiros para derramar san- gue. Nos seus caminhos hd destrui¢do e miséria; endo conheceram 0 caminho da paz. Nao ha temor de Deus diante dos seus olhos*'. (Paulo, aos Romanos) Assim sou eu, assim é vocé, assim somos nds, assim € 0 mundo. Alguém lé e diz: “Exagero! O homem nao € assim, pois sou ho- meme assim nao sou”! Este, entretanto, nunca se viu. Um cego imagina sua propria aparéncia e a de outros com muito mais exatidao do que o homem enxerga a si mesmo de modo natural. Nossa visio de nés mesmos é sempre moral e sempre vinculada ands mesmos como referéncias do que seja bem e mal em nds e fora de nés. Entretanto... Vergonha nao é Verdade; é culpa. E nem sempre a culpa conduz alguém a Verdade. Alias, est escrito que é a Bondade de Deus 0 que nos leva da culpa sem verdade ao arrependimento na verdade”. Toda-via... 61 Romanos 3:10-18 62 Romanos 2: 1-11 20 Gptecducto: Jesus ecsde Caminke Comemos do fruto da Arvore. Por isso, sentimos vergonha, mas nao abragamosa verdade. Dai... mesmo Adao ter tentando transferir a culpa de tudo para a mulher e esta para a serpente. Vergonha sem Verdade. Ora, seem lenho verde nao enxergamos a nds mesmos em Adao, por que haverfamos de pensar que os bilhées de “Ad6es” adoecidos e piorados, em estado de lenho seco como hoje estamos, ver-nos- iamos melhor? De fato homem algum aceita a descrigéo acima. Um judeu da época diria: “Jamais”. Um grego diria: “Nem 0 pior dos deuses é as- sim’. Um humanista pés-moderno dira: “Ea desgraca da culpa insu- flada pela droga da religido da idade da pedra”. Entretanto, quem fala acima nao é homem falando do homem e nem um homem falando de si mesmo, pois 0 homem que assim se visse nao escreveria jamais tal coisa; antes, a esconderia, e aquele que honestamente assim se visse, matar-se-ia. A alternativa nao existe sem revelagao na Graga. De fato quem fala é Deus. E Ele quem diz que somos assim em vista de quem fomos feitos e capacitados a ser. Sim! E Ele quem nos diz quem nao somos quando medidos ante o homem Jesus. Na realidade, por mais que uma figura como Jesus tivesse que ser vista com alegria e simpatia, o que Ele gera, apesar de todo o bem que espalha, é 0 oposto. E inegavel que Jesus divide a humanidade sempre que alguém fica cara a cara com Ele e tem que se decidir. Entretanto, o que espanta é ver que existe um Odio estranho, um ente impessoal latente na natureza humana e que odeia a Jesus assim. como o homem odeia a Vida; e tudo faz para se matar enquanto diz buscar viver... Os da sinagoga de Nazaré bem ilustram essa minha afirmagao®. Sim! Porque diante de Jesus e de Seu ensino e ousadia profética de dizer que, naquele dia, Isaias 61 ganhava seu cumprimento Nele, os da assembleia manifestaram-se com uma admiragao que os fez 63 Marcos 6:1-6; Lucas 4:16-30 21 Un sé caminko “maravilharem-se’, e, logo depois, com ddio, tentarem empurra-Lo do penhasco da cidade". E por qué? Ora, mesmo que nao queiramos admitir, temos, entretanto, que afirmar que a exposigao ao Evangelho, a Jesus e a Palavra, caso nao se faga acompanhar de fé, é insuportavel, pois nos faz sentir — quase munca ver — que somos conforme acima descritos. Foi essa revelacao que fez Pedro ser honesto com sua condigao decorrompido, brotando a necessidade de acolhimento na Graga, ao expulsar Jesus de si mesmo agarrando-o para sempre em si. “Arreda-te de mim, pois eu sou pecador” — disse Pedro®. Mas que Psicologia tem a coragem de expor 0 homem de tal forma? Ou que Filosofia? Ora, pela pior visao filosdfica, o homem seria apenas um nada, uma nausea da consciéncia-acidente. Mas 0 que se diz acima nao ¢ tao bom assim. Pois 0 que esta dito e escrito é que o homem ficou assim; e assim se mantém; de tal modo que optou pela cegueira, posto que, em seu narcisismo, desfila como um deus e se imagina como uma divindade, de tao bom que ¢, por... pagar as contas, cumprir com seus deveres sociais e religiosos e, se possivel, por evitar confusao. Eu, no entanto, sei por mim mesmo que nao ha justo, nem sequer um; que nao ha quem entenda; e que nao ha quem busquea Deus”. Sim! Sei a partir de mim mesmo que todos se extraviaram; e que juntamente se fizeram intteis. Olho para mim e vejo que nao ha quem faga o bem, nao ha nem um so. Ah! Minha garganta! Deixada a si propria é um sepulcro aberto... Ea lingua? Ora, esta é mestra em destilar engano e peconha de aspides — que fica guardada debaixo dos nossos labios. Por isso é que a nossa boca é tao cheia de maldicao e amargura. 64 Lucas 4: 28,29 65 Lucas 5:8 66 Salmo 14:2-3; Romanos 3:10-12, 23 22 rsusecsile Caminke Sn trcdugiio E quando olho para o meu caminho e para o caminho humano, como posso eu negar que nossos pés sao ligeiros para derramar san- gue e nao para socorrer ao proximo? Assim, como posso também negar que o que me habita ea todos os humanos — vide a Humanidade, o mundo — é caminho de des- truigao e miséria? Sim! E possivel negar que nds nao conhecemos o caminho da paz? Ou negar que nao hé temor de Deus diante dos nossos olhos? Quem disser que nao é assim tanto nunca conheceua Deus como nao entende a profundidade do mal que emana até de nossas melho- res virtudes. Ora, digo isto nao para esmagar. Pelo contrario: mataria eu a mim mesmo? Esta nao é minha intengao! Digo o que digo apenas porque sei que onde abundou o pecado, superabundou a Graga™”. Entretanto, sem consciéncia honesta de quem se é sem a Graga, jamais se provara a abundancia da Graga que nasce de tal reconhe- cimento®. Sem este primeiro passo nao da nem para iniciar a falar sobre 0 significado de nossa tao grande salvacao. Entretanto, isso me leva a dizer que ao falar de Jesus nao estou falando dos “jesuses” que habitam a imaginacao dos “cristaos” como se fossem Jesus mesmo. Digo isto porque a “converseira” sobre Jesus nao tem fim. E 0 Jesus papo. Eo Papo Jesus. £0 Jesus do Papa. Ea papa Jesus. E 0 Jesus Papa. E 0 Papa de Jesus. £, enfim, tudo papo furado... Logorréia é 0 nome dessa doenga venérea da lingua que fala, fala, fala; que pinga de tanto falar, mas nunca gera nada além de mastur- bacao de palavras, num derrame de sémen contaminado pela freqii- éncia ao bordel das idéias prostituidas. Mas se vocé quer falar sério, ser honesto, sem autoengano, sem autoprotegao, sem autoajuda contraa verdade, sem auto - 14 pra nada, 67 Romanos 5:20 68 Nos livros “O Enigma da Graca” e “Sem Barganhas com Deus’, falo extensa- mente no tema. 23 Un sé caminko entao leia as afirmagoes de Jesus por mim transcritas abaixo, todas sobre “mundo” numa perspectiva de sistema maligno (nem sempre este é o sentido do termo; e ai reside grande confusao) e as responda de coragao. Ao final vocé saberd o que Jesus de fato significa para vocé e 0 que a Palavra Dele importa em sua existéncia. E, se alguém ouvir as minhas palavras, e ndo as guardar, eu nao 0 julgo; pois eu vim, nao para julgar 0 mundo, mas para salvar 0 mundo®. Pergunta: Se vocé lesse isso e nao soubesse que foi Jesus quem falou, o que vocé, como religioso, diria de tal pessoa? Ainda um pouco, eo mundo nado me verd mais; mas vés me vereis, Porque eu vivo, e vds vivereis”. (Joao 14:19) Pergunta: Vocé de fato aceita a ideia de que a vida com Jesus s6 se faz visivel no mundo pelo amor, e que sem amor nada de Deus € visto? Ecré que a verdadeira vida com Deus acontece na existencialidade, no cora- ¢40, e nao no palco das apresentagées de “fe”? Vocé prefere, no fundo do coragao, que o mundo perceba vocé ou que Deus saiba vocé? Perguntou-lhe Judas (nao 0 Iscariotes): O que houve, Senhor, que te has de manifestar a nds, e nao ao mundo’!? Pergunta: Vocé nao acha que a pergunta de Judas é idéntica 4 pergunta de um marqueteiro religioso? Afinal, quem quer Jesus como relaciona- mento? A maioria 0 quer como ajuntamento poderoso e influente. Um Jesus Global-Grupal é melhor do que 0 Jesus Intimo? 69 Joao 12:47 70 Joao 14:19 71 Joao 14:22 24 Gptecducto: Jesus ecsde Caminke Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; eu nao vo-la dou como 0 mundo a da. Nao se turbe o vosso coragéo, nem se atemorize”. Pergunta: Se vocé de fato cresse nisso sua vida seria tao fragil e levada por todos os ventinhos de brisas de contratempo? Entao, por que vocé nao comega a crer ea confiar? Seo mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vés, me odiou amim®. Pergunta: Por que vocé acha que crente tem a expectativa de ganhar o mundo e de fazer da “Igreja” a consciéncia moral da sociedade? E por que tudo o que a “Igreja” faz é provocar o ddio do mundo ao querer mandar nele ao invés de provocar o dio do mundo apenas por curar eacolher os que o mundo quer que morram e desaparegam? Se fosseis do mundo, 0 mundo amaria o que era seu; mas, porque nao sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é queo mundo vos odeia”™. Pergunta: Vocé acha que poder diante do mundo significa poder diante de Deus? O mundo odeia Jesus eo discipulo tanto mais quanto o disci- pulo seja como Jesus? Se é assim, por que entao essa vontade de ser “amado pelo mundo”? E quando ele [o Espirito Santo] vier, convencerd 0 mundo do pe- cado, da justia e do juizo™. Pergunta: Vocé acredita mesmo nisso? E se acredita, por que, entao, vocé tenta tanto ser o “Espirito Santo” de seu proximo ao invés de ouvir a Voz do Espirito para vocé? 72 Joao 14:27 73 Joao 1 74 Joao 15:19 75 Joao 16:18 25 Un sé caminko Em verdade, em verdade, vos digo que vs chorareis e vos lamen- tareis, mas o mundo se alegrard; vés estareis tristes, porém a vossa tristeza se converterd em alegria”’. Pergunta: A Ressurreigao de Jesus é para vocé uma “certeza” histérica e uma “doutrina crista” (apenas), ou é 0 fator que energiza a sua exis- tencialidade com forga e poder e que converte tristeza em alegria todo dia? Tenho-vosdito estas coisas para queem mim tenhaispaz. Nomundo tereis tribulagoes; mas tende bom animo, eu vencio mund Pergunta: Vocé acredita que possuir consciéncia acerca da inevitabilidade da dor e da tribulagao é 0 que poe vocé no caminho no qual vocé aprende a ter paz em Jesus, e paz acima das circunstancias da exis- téncia? E se é assim, por que tanta revolta? Ora, alguns dizem que nao entendem o que Jesus queria dizer. Mas, de fato, naoé verdade. O dificil éadmitir que nao se quer mesmo viver o Evangelho, nao porque nao se compreendam as palavras de Jesus, mas, sim, porque nao se deseja render a vida 4 Palavra de Deus para a pratica da existéncia que conduz a Vida. Entretanto, essa questéo de nao se compreender o que Jesus esta dizendo foi por Ele mesmo abordada: Por que nao compreendeis a minha linguagem? E porque nao po- deis ouvir a minha palavra”®. Assim, para quem deseja debater com a verdade, eu digo que a verdade é mais simples que a simplicidade. “Por que nao compreendeis a minha linguagem? E porque nao podeis ouvir a minha palavra!” Ora, no contexto do evangelho de Joao, capitulo 8, tudo comeca comacena da mulher flagradaem adultério, a qual é salva do apedre- 76 Joao 16:20 77 Joao 16:33 78 Joao 8:43 26 rsusecsile Caminke Sn trcdugiio jamento por uma unica resposta-pergunta de Jesus. Naquela ocasiao eles entenderam a linguagem de Jesus. Entenderam em si mesmos, a partir do que criam sobre si mesmos. Sem “fé” ninguém entende linguagem alguma. Depois, entretanto, Jesus lhes diz coisas que so poderiam ser dis- cernidas a partir do pressuposto de que Jesus nao era louco, mas Deus. Sim, porque 0 que Jesus diz sé cabe entre o doido e Deus. Ele diz coisas de Si mesmo que sao inconcebiveis. F acusado de fa- zer autopropaganda, ea isso responde que Moisés dissera que se hou- vesse duas testemunhas toda palavra se firmava como verdadeira, e conclui: “Eu falo a verdade porque meu Pai dé testemunho de mim®”. “Quem ¢ teu pai?” — perguntam eles. Resposta: Se conhecésseis a mim, conhecerteis também a meu Pai*;e, assim, questiona todo o pressuposto da percepgao deles. A fi- nal, Jesus era visivel e perceptivel; porém, para Jesus havia um “Eu” que eles nao conheciam, o qual, sendo conhecido, era equivalente a conhecer Seu Pai. Mas quem ousaria suspeitar que Ele nao era louco, masa propria Luz-cidez? Quando indagado acerca do que dizia edo queintentava ao dizer que nao seria mais achado entre eles depois de um tempo — se era porque Ele se suicidaria ou porque iria ensinar aos gregos na disper- sao —, Ele apenas diz: Vés séis cé de baixo; eu sou Id de cima". Assim, quanto mais explica “em verdade, em verdade” menos é entendido. Pois era impossivel compreender a linguagem sem crer na palavra Dele. Assim, Ele diz: “Por que nao compreendeis a minha linguagem*? E porque nao podeis ouvir a minha palavra’ 79 Joao 8: 14a 18 80 Joao 8:19 81 Joao 8:23 82 Jodo 8:43 27 Un sé caminko Ninguém jamais entender nada do Evangelho a menos que creia na Palavra de Jesus, em razao de poder ouvi-la, dando razio a Deus a priori. E quem tem tal disposigdo, a menos que seja tocado por uma revelacao de amor divino? E quem tera tal insight se jd nao tiver 0 coracao propenso a sim- plicidade da linguagem do amor? Se nao for assim, a Linguagem de Jesus é incompreensivel até para o mais refinado tedlogo ou fildsofo. No entanto, quando alguém pode ouvir a Palavra, entao passa a compreender a linguagem; e tudo fica mais que claro. Vocé compreende essa linguagem? Jesus éa linguagem. Jesus Deus. Deus Jesus. Jesus Filho. Deus Pai do Filho. Filho de Deus. EleEle (nao Eles) = Um. Se essa equagao entra em nds por revelacao, entao a linguagem é compreendida, pois a Palavra foi ouvida e crida. Somente a fé que ouve, e ouve crendo, é que capacita a entender a linguagem de Jesus, que é a linguagem de Deus. Do contrario, como os judeus de entao, a gente pensa que Ele esta saindo para viajar ou para se suicidar®. Quando, porém, se compreende a linguagem de Jesus, passa-se a discernir quais sao os temas da Vida e quais sao os enganos de temas que a existéncia chama de vida. Sim! Pois em Jesus — nos evangelhos — nds temos os temas por Ele propostos — que eram Sua agenda —, os temas propostos pelos homens — que eram suas angustias e/ou tentagdes e duvidas — e temos os temas que Ele se nega a responder, e, menos ainda, a propor. Entretanto, mesmo quando a resposta a uma proposta seria para Jesus como 0 langar pérolas aos porcos, ou ainda algo como ideolo- 83 Joao 8:21-22 28 Gptecducto: Jesus ecsde Caminke gizar a Palavra — ainda que nao tratando da proposta, é possivel ver por que Ele nao a respondeu, ao mesmo tempo em que é possivel saber o que Ele pensava, nao o expressando apenas para nao fazer de algo topico um dogma para os incautos ou um motivo de acusagao desnecessdria dado aos abutres. Assim, os temas de Jesus sao os de sua mensagem declarada e espontanea. E 0 Sermao do Monte bem expressa quais sao esses ele- mentos esséncia da agenda do Evangelho de Jesus™. Nos didlogos com as multiddes ou com os religiosos (de todos os pedigrees), vemos as respostas que Ele julga fundamentais, e que, em geral, carregam os elementos mais proximos da compreensao humana, mesmo quando era uma disputa dos fariseus ou escribas dos sacerdotes, buscando algo a fim de 0 acusarem™. Nos didlogos com os discipulos, ha tanto 0 que Ele propée como também o que eles criam como problema ou circunstancia da vida para a qual a Palavra de Jesus tem sua diregao sempre®. Até mesmo o tema da Vinda do Filho do Homem, conquanto seja uma proposta Dele, Nele sempre é tratada de passagem, como certeza para além da 6bvia claridade do sol. Quando, porém, o tema “escatolégico” (uiltimas coisas) é ampliado, é porque os discfpulos curiosos perguntam sobre o fim de tudo aquilo”. No mais, Ele forga a pensar, a sentir, a intuir, a abrir-se 4 revela- 40, a comparar as coisas com a natureza das coisas ecom a natureza humana também, e, sobretudo, Ele sempre da a chance de que a his- t6ria-pardbola-da-vida fale por si mesma aos de coragao avido pela verdade do reino®. Ele as explica — as pardbolas — apenas quando duvidas aparecem, e nesse caso tal extensao explicativa acontece ape- nas na do Semeador € na do Joio e do Trigo**. Nas demais, os fatos da vida se impuseram como ilustracao vivida do que estava aconte- 84 Mateus 5:1 a 7:29 85 Mateus 12:9-14; Marcos 3: 86 Mateus 19:23-30; 24:1 a 25:46 87 Mateus 13:24:3; Marcos 13:3-4 88 Mateus 13:34-35; Marcos 4:10-13, 34, 35 89 Mateus 13:1-30, 36-43; Marcos 4:1-20; Lucas 8:4-15 uucas 6:6-11; 11:53,54 29 Un sé caminko cendo no coracao dos circunstantes, de tal modo que as explicagdes eram eles proprios”. Dos temas tdpicos, o que Ele mais menciona é 0 dinheiro”’. Seja como dentincia de seu poder corruptor™, seja até como ilustragéo em pardbolas — para o bem e para o mal—, seja no desfecho da historia do Evangelho, quando é por dinheiro que Jesus é traido”. Ele nao fala nada de questOes morais. Diferentemente de Joao Batista, Ele nada tem a dizer acerca dos bacanais dos Herodes e das orgias dos romanos. Também nada diz dos publicanos, meretrizes e pecadores sem que seja mediante parabolas de amor e perdao”. Sua pior descrigao de tais situagSes acontece quando Ele diz que o prédigo judeu foi cuidar de porcos (0 que era ofensivo aos judeus) e disputava ba- bugens com eles. Mas isso tudo para trazer 0 rapaz de volta para o abrago do Pai’. Nele também nao vemos traumas. Ele bem que poderia falar da “matanga dos inocentes”” — quem resistiria se isso fosse sua histé- ria mais primitiva? —, de Seu exilio no Egito”, da visita dos magos”, da vida em Nazaré™, do pai, da mae, dos irmaos, dos amigos, de tudo. Mas Ele nao toca nesses assuntos jamais. Ele nao tinha “teste- munho” a dar. Ele era 0 testemunho. E 0 testemunho do Paia cada dia era confirmado Nele de todos os modos no dia chamado Hoje. Ao contrario: houve coisas para as quais Ele nao sé nao levou quase ninguém consigo para que fossem vistas; mas, além disso, 90 Mateus 13:10-23; Lucas 8:9. 91 Mateus 4:8-10; 6:19-21, 24; 13:44-46; 21:33-41; Marcos 10:17-31; Lucas 18:18- 30; 19:11-27 92 Mateus 28:11-15; Lucas 16:19-31 93 Mateus 25:14-30; Lucas 16:1-17, 94 Mateus 26:14- 16; 27:3-10; Marcos 14:10-11; Lucas 22:3-6 95 Mateus 21:31 96 Lucas 15:11-32 97 Mateus 2:13-18 98 Mateus 2:13-23 99 Mateus 2:1-12 100 Mateus 13:53-58; Marcos 6:1-6; Lucas 4:16-30 5 30 Sntrodugito: Jesusecsde Caminke proibiu as testemunhas de relatarem 0 que haviam visto até que Ele ressuscitasse dos mortos'”' — e pediu que fosse assim até no caso dos outros apéstolos, os que nao tinham presenciado 0 ocorrido, como a Transfiguragao, por exemplo. De temas politicos explicitos Ele nao tratou. Entretanto, denun- ciou-os mediante ilustragGes sarcasticas, irénicas e mordazes'”. Ou seja, Ele fez cartoons; charges de imagens-histérias. Fez isso de modo sutil, como quando diz que 0 centuriao romano tinha mais fé que qualquer judeu que Ele tivesse encontrado na vida'", ou quando, por exemplo, elege um Samaritano para herdi da historia da bondade solidaria'™. Sua manifestagao politica mais explicita esta na dentin- cia ao fermento de Herodes e dos fariseus, que era a hipocrisia'’. No mais, nao entra em rota de colisao com Roma, nao aceita a polémica sobre o que era de Deus e 0 que era de César, embora com toda fineza diga que Deus esta acima de César', nao se empolga com a possi- bilidade de mediar uma questao de bens de familia e heranga (ao contrario: nega-se a fazé-lo)'”, e quando denuncia politicamente, dirige sua denincia a politica feita em nome de Deus, no Templo e entre os “representantes” da “divindade”'™*. O que Ele faz 0 tempo todo é dizer que o homem — qualquer homem — pode viajar da pocilga para a heranga do Pai Celestial’. O que Ele faz o tempo todo é dizer que o homem pode ser infini- tamente melhor do que é, e que nés podemos vir a nos parecer tanto com Deus que a vida se torne sem ansiedade e sem guerra''’. 101 Mateus 8:4; 16:20; Marcos 8:30; Lucas 5:14-16; 102 Mateus 20:25-28; Marcos 10:42-45; Lucas 13:31-35; 14:7-24; 22:24-305 Joao:19:10-11 103 Mateus 8:10-13 104 Lucas 10:25-37 105 Marcos 8:14-21 106 Mateus 22:15-22 107 Lucas 12:13-21 108 Mateus 12:1-14; 21:12-17; Marcos 11:15-19; Lucas 19:45-48; Joao 2:13-25 109 Lucas 15:11-32 110 Mateus 5 a7 31 Un sé caminko O que Ele faz o tempo todo é dizer que o homem pode amar, e nunca odiar''; vencer pelo amor e pelo perdao, e nao pela espada e pela opressio''?; e conhecer 0 amor como poder que vence tudo, mesmo quando quem ama morre'’. O que Ele faz o tempo todo é dizer que o homem pode viver sem saber por que uns morrem antes e outros depois'; por que uns sao vitimas de calamidades (como aqueles que tiveram seu sangue mistu- rado com oferendas de dio no altar)""* e outros estao ao lado e nao sao “apanhados” "*; ou por que uns veem e outros nao!”; ou por que uns padecem e outros apenas riem!"; ou por que a casa cai e mata a familia boa, enquanto a casa rebelde da festa durante o enterro do Lazaro"; ou por que alguém nasce eunuco —sexualmente disfuncional ou “in- vertido” —', ou cego, ou aleijado, ou qualquer coisa’. Sim, para Ele nada havia a saber sobre isso como questao essen- cial em relacao a Deus, pois a vida que confia no amor do Pai sabe que Ele cuida de todos, e que tem gloria para todos'”. O que Ele faz o tempo todo é dizer que o homem pode amar a Deus ea seu proximo como a si mesmo". E diz que se assim fosse, Ele mesmo reuniria todos os homens, de todas as “Jerusaléns’, e os poria sob Suas asas, como a galinha ajunta seus pintinhos'*! 111 Mateus 6:14-15; 18:21-22; Marcos 11:25-26; Lucas 17: 112 Joao 15:9-17; Romanos 231-39; 13: 113 Romanos 5:8; 1 Joao 4:16-21 114 Joao 21:20-23 115 Mateus 5:10-12; Lucas 6:22-23; Joao 12:23-15 116 Jodo 8 117 Mateus 13:10-23; Marcos 4:10-20; Lucas 8:10 118 Lucas 6:20-23 119 Lucas 16:19-31 120 Mateus 19:12 121 Joao 9:12 122 Joao 9:3 123 Mateus 22:37-40; Marcos 12:28-34; Lucas 10:25-37 124 Mateus 23:37; Lucas 13:34 32 Sntrodugito: Jesusecsde Caminke Mas ha os que preferem eleger para a vida os temas que Ele nao propése fazerem delesa agenda de Deus, sem saberem que cumprem os desejos homicidas daquele que é mentiroso e pai da mentira'”. Sea agenda é de Deus, é divino-humana (como vimosem Jesus). Sea agenda é humana, é divina em sua real e necessdria humanidade (como vimos em Jesus). Mas sea agenda nao vem denenhuma dessas duas fontes-propostas, entao saiba: ela pode ser confessada em nome de Deus, mas 0 proponente é 0 diabo; ¢ acerca dele Jesus diz: “Eia! Vamo-nos daqui; pois ai vem o Principe deste mundo; e ele nada tem em mim”, O que se faz mais necessario hoje é tirar uns certos “jesuses” do que se diz sobre Jesus. Pois Jesus nao é 0 Gadareno, que diria: “Jesuses é0 meu nome, pois somos muitos” ””, A maior marca de Jesus era a simplicidade esmagadora de Seu ser. E isto o diferencia dos “Jesuses” e seus “temas” religiosos. Ora, a cada dia mais me impressiona a simplicidade de Jesus em relagao a tudo, Ele negou-se a tratar de quase tudo 0 que a Filosofia e a Teologia tratam com avidez. A origem do mal Ele simplesmente desprezou em qualquer que sejaa explicagao “metafisica” Simplesmente disse que o mal existe. E 0 tratou com realidade dbvia'®. O problema da dor foi por Ele tratado com as maos, nao com palavras e discursos'””. As desigualdades sociais foram todas reconhecidas, mas nao se vé Jesus armando qualquer a¢ao popular contra elas’. 125 Joao 8:41-59 126 Joao 14:30 127 Marcos 5:9; 1-20 128 O modo como Ele tratou de centenas de temas acerca do bem e do mal que Lhe foram trazidos no apenas em palavras, mas em situacdes concretas, dé teste- munho dessa resposta de Jesus a dor e a calamidade com agao de amor e compai- xo, e néo com filosofia. 129 Joao 12 130 Mateus 26:6-13; Marcos 14:3-9; Joao 12:1-8 33 Un sé caminke Seus protestos eram todos ligados a perversao do coragao, mas nunca se tornavam projeto politico ou passeatas ou bandeiras'™. A “queda” nao é objeto de nenhuma especulagao da parte Dele. Bastava a todos ver as conseqiiéncias dela”. Sobre a morte, Sua resposta foi a paz e a vida eterna. Jamais tentou justificar 0 Pai de nada. Apenas disse que Ele bom e justo, Mandou lutar contra os poderes da hipocrisia e do desamor, mas nao deu nenhuma garantia de que os venceria na Terra’. Sua grande resposta a catastrofe humana foi a promessa de Sua vinda, e nada mais'**. Nunca pediu que se estabelecesse o Reino de Deus fora do ho- mem, mas sempre dentro dele”, pois fora, o reino, por ora, era do principe deste mundo’. Nao buscou ninguém com poder a fim de ajudar qualquer coisa em Sua missao. Adulto, foi ao templo apenas para pregar aquilo que acabaria com 0 significado do templo como lugar de culto'”. Fez da vida o sagrado, e de todo homem um altar no qual Deus éservido em amor", Chamou o dinheiro de “deus” '', mas se serviu dele como sim- ples meio. 131 Mateus 23:1-36 132 Mateus 19:3-12; Marcos 10:2-12; Lucas 16:18 133 Joao 5:24-47 134 Jodo 12:26-28 135 Mateus 6:5-8; 16-18 136 Mateus 24:19-31; Marcos 13:14-27; Lucas 21:20-28 137 Lucas 17:20-21 138 Jodo 14:30-31 139 Mateus 12:6-8; 24:1-2; Lucas 21:5-6 140 Lucas 10:25-37 141 Mateus 6:24; Lucas 16:13 142 Lucas 8:2-3; Joao 13:29 34 Sntrodugito: Jesusecsde Caminke 43 44 Pagou imposto' amor ao proximo!*. A morte, para Ele, nao era a mesma coisa que é para nds. Morrer nao era mau", Viver mal é que era mau”, Em Seusensinos Ele sempre parte do que existe como realidade e nega-se a fazer qualquer viagem para aquém do dia de hoje. Para Ele,o mundo se explicava pelasacées dos homens e prescin- dia de anilises, pois tudo era mais que 6bvio. Nao teologizou sobre nada. E quase todas as Suas respostas aos escribas e tedlogos eram feitas de questées sobre a vida e seu significado agora, e sempre relacionado ao que se tem que ser e fazer’. Quando indagado de onde vinha 0 “joio’, Ele simplesmente diz: “Um inimigo fez isso..”\referindo-se ao diabo'. Pregaa Palavra, e nao tenta controla-la™. Deixa “a terra frutificar 151 ', mas nunca cobrou nada de ninguém™, exceto de si mesma’, como dissera Vé pessoas crerem, mas nao tem nenhuma fixagao em fazé-las suas seguidoras fisicas e geograficas'”. Nao tem pressa'", embora saiba que o mundo precisa conhecer Sua Palavra'*. Cita as Escrituras sem nenhuma preocupagao com autores, con- textos ou momentos historicos'*. 143 Mateus 17:24-27 144 Mateus 5:42; Lucas 6:35 145 Mateus 22:39; Marcos 12:31 146 Joao 11:25-26 147 Joao 12:23-28 148 Mateus 8:18-2. 5:29-32 149 Mateus 13:27-28 150 Mateus 1. :1-9; Lucas 8:4-8 151 Mateus 13:8; Marcos 4:8; Lucas 8:8 152 Mateus 13:18-23; Marcos 4:14-20; Lucas 8:11-15 153 Mateus 13:24-30 154 Mateus 13:36-43 155 Marcos 12:10; Lucas 4:4, 8, 12; 24:25-27; 32:44-49 1-8; 12:38-42; 15:1-20; Marcos 2:1-12; 15-17; 7:1-23; Lucas 35 Un sé caminko Arranca certezas da Palavra baseadas em um verbo “ser” — alu- dindo ao fato de Deus ser Deus de vivos e nao de mortos, pois “para Ele todos vivem”"™, Ensina que a morte é 0 fundamento da vida, e tira dela o poder de matar, dando a ela a forga das sementes que, ao morrerem, dao muito fruto’”. Eassim Ele vai. A questdo é que Ele segue como o Vento’; e a maioria nao segue nada pela fé, mas apenas em razao de certezas e segurancas palpaveis'”. Assim, 0 modo de Jesus ser tanto é 0 que pode atrair irreme- diavelmente o discipulo, como também é aquilo em razio do que a pessoa que nao deseje render-se a Ele havera de odia-Lo, ainda que seja por “associagao”. Mas aquele que é Dele, esse sempre deseja saber como segui-Lo. Dai vir sempre a pergunta: “Como é ser discipulo de Jesus?” Ora, é simples e terrivel. E é tao terrivel justamente porque é tao simples; e gera tanto esforco justamente por isso, pois nada ha tao dificil quanto a simplicidade, nem que demande mais esforgo que descansar no descanso. A tendéncia natural da alma humana é para oferecer os mes- mos sacrificios de produgao prépria de Caim. Em Caim nasceu a religido. E é no espirito da oferenda autojustificada de Caim que ela é praticada'"'. E dificil nao oferecer nada a Deus. E muito dificil apenas confiar que o sangue de outro cobriu vocé. E loucura para os gregos e intelec- tuais; é escandalo para os judeus e para todos os religiosos'™. 58 156 Mateus 22:29-33; Marcos 12:24-27; Lucas 20:34-38 157 Jodo 12:23-25 158 Veja, no evangelho de Marcos, as muitas vezes em que se diz que Jesus estava indo, saindo, mudando para outro lugar, atravessando fronteiras, cruzando... Ou seja, tais passagens revelam a dindmica hebreia de Jesus. 159 Joao 3:8 160 Mateus 4:18-22; 19:27-29; Marcos 1:16-20; 10:21, 22, 28; Lucas 5:11; 18:28-30 161 1 Jodo 3:11-12; Judas 11-16 162 I Corintios 1:18-25 36 Sntrodugito: Jesusecsde Caminke Para ser discipulo de Jesus a pessoa tem que renunciar ao “si- mesmo” '*, Ora, isso significa desistir de si mesmo como “produgao” de algo que comova Deus. Negar o “si-mesmo” é abandonar a presungao da persona. Negar a si mesmo é 0 que se tem que fazer para que 0 “eu” seja alcangado, e, em seu estado mais verdadeiro, possa ser atingido pelo amor de Deus'™. Negar a si mesmo é deixar toda justi¢a propria e descansar na justiga de Deus, que, antes de tudo, é justiga justificadora’®. Negar a si mesmo é abandonar a presungao de agradar a Deus pela imagem e pelas produgées préprias'®. Quem quer negar asi mesmo? Se alguém quiser, entao tome a Sua cruz. Cruz? Que cruz? Ora, a unica. A minha cruz sera sempre me gloriar na Cruz.'”. Alguém diz: “Mas nao sobrou nenhum sacrificio para mim”? Osacrificio é aceitar que o Sacrificio foi feito e consumado'®. Alguém pensa que isto é facil? Sim, tente apenas e tao-somente confiar que esta pago e feito. Ou seja, glorie-se exclusivamente na Cruz'®. Tente crer que Jesus é suficiente, nao como chefe de religiio, mas como 0 Cordeiro que tira 0 pecado do mundo todo'”. ‘Tente rejeitar todo pensamento de autojustificagao toda vez que vocé se vir tentado a se explicar para Deus e para os homens'”'. ‘Tente apenas confiar na unica Cruz, e, assim, levar a sua cruz, que é andar pela fé, nunca tendo justica propria senao a justia que vem de Deus’ 163 Mateus 10:37-39; Marcos 8:34-37; Lucas 14:33 164 Mateus 10:39; 16-22; Marcos 8:35; Lucas 9:24 165 Filipenses 3:7-11; Romanos 4:6-13; 5:12-21; 10:4; 2 Corintios 5:21 166 Lucas 18:9-14 167 Mateus 16:24; 168 Jodo 19:28-30 169 Galatas 6:14 170 Joao 1:29, 35-36 171 Romanos 3:21-31; 10:4 172 Romanos 3:21-31; 5:1-21 Marcos 8:34; Lucas 9:23; 14:27 37 Un sé caminko Tente, e vocé vera como todos os seus sentidos se revoltarao, como todos os seus instintos se ericarao, e vocé se sentira inse- guro, como se a Lei do Reino fosse a da Sobrevivéncia dos mais Aptos. Sim, porque nos sentimos seguros no sacrificio de Caim, embora ele nada realize diante de Deus. E nos sentimos muito inseguros na hora de praticar na vida o sacrificio de Abel. Jesus disse “Esta Consumado”. E a nossa alma, em si mesma, per- gunta: “O que mais eu devo fazer”? Jesus tera que repetir Seu sacrificio todos os dias outra vez'*? Ou terei eu de oferecer alguma coisa a mais'“? Ora, se a pessoa consegue desistir do “si-mesmo” e tomar a sua cruz, entao Jesus diz que esse tal vai poder segui-Lo'”*. “Segue-me” — € 0 convite. Eai? O que acontece? Fica tudo resolvido? E claro! Esta tudo resolvido! Eu, agora, é que preciso aprender a usufruir do que j4 esté consumado. Assim, tendo ja tudo consu- mado em meu favor, caminho para experimentar o que ja esta feito e pronto!” Ecomo éesse caminho? Como se faz para seguir Jesus? Ora, ande apés Ele como Pedro... e os outros. Odiscfpulo é um ser em disciplina. Disciplina ¢ 0 queo discipulo vai aprender. Que disciplina? A dos centurides? E claro que nao. A disciplina que o discipulo vai aprender é amor'”, 173 Hebreus 7:26-28 174 Salmo 116:12-14 175 Mateus 16:24; Marcos 8:34 176 Filipenses 3:12-16 177 Galatas 5:6 38 rsusecsile Caminke Sntrodlugiios Assim, no caminho, o discipulo cai'”, levanta-se'”, chora'*’, questiona'"', se oferece para 0 que nao deve'*’, ambiciona ser maior", mais amado™, mais devotado'*’, mais, mais... e, entao, vai aprender enquanto cai'**, enquanto erra'*’, enquanto sugere equivo- cadamente', enquanto acerta’**, enquanto nega'”', enquanto corta orelhas'*', enquanto quer fazer fogo cair do céu'”’ e enquanto pensa que sabe, sem nada saber’. Ocaminho do discipulo é igual ao caminho dos discipulos no Evangelho, e acontece do mesmo modo. E sé sera discipulado se for igualmente acidentado, exposto, aberto, equivocado, hu- milde, capaz de aceitar a repreensao do amor e apto a aprender sempre, sem jamais acreditar que se terminou qualquer coisa antes que se ouga: “Vem, servo bom e fiel; entra no gozo do teu Senhor’. Ocaminho do discfpulo nao esta escrito em manuais e nem em cartilhas de igreja. Nem em tabuas de Pedra’. Ocaminho do discipulo é todo o chao da existéncia’*’. 179 Mateus 14:31 180 Mateus Marcos 14:72; Lucas 22-62 181 Mateus 13:10; 17:19; 19:25-26; 24:3; Marcos 10:26; Lucas 8:9; Jodo 9:1-3 182 Mateus 16:21-23; Marcos 8:27-39; Jodo 18:10-11 183 Lucas 9:46-48 184 Joao 21:20-23 185 Joao 21:11 186 Mateus 14:28-31 187 Mateus 16:23 188 Mateus 16:22 189 Mateus 16:16-17 190 Mateus 26:69-75; Marcos 14:66-72; Lucas 22:54-62; Jodio 18:15, 18, 25-27 191 Mateus 26:51-52; Marcos 14:47; Lucas 22:50-51; Jodo 18:10-11 192 Lucas 9:54-56 193 Joao 13 194 II Corintios 3:1-5 195 Mateus 10:22 39 Un sé caminko O discipulo é forgado a sé aprender a viver'”’. E ele nao precisa ter medo da vida, pois é na vida que ele vai seguir a Vida'”. No caminho do discipulo 0 mar se encapela, as ondas se levantam € os ventos sopram'*, Por isso, o discipulo muitas vezes tem medo, grita, vé coisas, interpreta-as de modo errado — “E um fantasma”””! Seguindo Jesus 0 discipulo esta sempre seguro, mesmo quando pede o que nao deve, e mesmo quando muitas vezes deseja o que lhe faz mal”. No caminho ele vé deménios sairem™ e dificultarem a saida’ julga e é julgado e aprende que nao pode julgar*”; afoga-se*, é er- guido e caminha sobre as aguas’”’; vé maravilhas*"’; encara horro- res...”°” Mas adiante dele esta Jesus”! Para ser um discipulo de Jesus, a pessoa tem que ficar sabendo que o Evangelho nao sao quatro livros acerca do que aconteceu entre Jesus e alguns homens e mulheres muito tempo atras. Sim! O disci- pulo tem que saber que se trata da Palavra como espirito e vida.” Para ser um discipulo de Jesus, a pessoa tem que ficar sabendo que o Evangelho esta acontecendo hoje, do mesmo modo, na vida dela. E precisa saber que as coisas escritas no Evangelho sao apenas para a gente ficar sabendo como é que acontece na nossa prépria vida2"?, 196 Mateus 7:14 197 Mateus 10:31; 14:27; 28:5; Marcos 6:50; Lucas 2:10; 12:4-32 198 Mateus 7:24-27; Lucas 6:46-49 199 Mateus 14:26-27; Marcos 6:49-50. 200 Mateus 20:20-28; Marcos 10:35-45 201 Mateus 17:14-21; Marcos 9:14-29; Lucas 9:37-42 202 Mateus 17:19-23; Marcos 9:28-32 203 Mateus 7:1-5; Lucas 6:37, 38, 41, 42; Romanos 2:1-16; 14:13; Tiago 4:11-12 204 Mateus 14:30 205 Mateus 14:29-32 206 Mateus 14:33 207 Hebreus 11:36-40 208 Mateus 14:27. 209 Joao 6:63 210 Joao 20:30-31 28:20; Marcos 6:48-52 40 Sntreducae: Gesusecsde Caminke O Evangelho so é Evangelho se for vivido hoje. Nao com a pre- tensdo de dizer que seremos como Jesus. Mas pelo menos com a de- claracao de que seremos como os discipulos, e que adiante de nds, de todos nds, esta o Senhor. Ora, se tais verdades entrarem em vocé e vocé as agasalhar com fé, entao o resto da viagem deste livro é para vocé, tanto como indivi- duo quanto como membro do Corpo de Cristo, e, sobretudo, como ser humano vivendo neste planeta no Tempo do Fim. 41 Onue est acontecentot alnades ciistiiertiye ? Comamos e bebamos, que amanha morreremos! — Paulo, ironi- zando a desesperanga crista 4 £d primeira carta enviada aos cristéos em Corinto, na Gré- “cia Antiga, o autor faz uma gravissima declaracao ao aler- tar que se a nossa esperanca em Cristo se limita apenas a esta vida, entio, apesar de dizermos que cremos em Cristo, ainda assim somos os mais infelizes de TODOS os homens da Terra”"'. Veja: ele nao falava dos homens, mas, entre eles, de “nés’, de nossa esperanca feita religido sem transcendéncia, sem amor pelo eterno, sem alegria no invisivel. Portanto, o cendrio existencial que Paulo pintava era o de cris- taos sem esperanca ou com a esperanga confinada por algo como a teologia da prosperidade. Tal teologia nao celebra a eternidade, mas apenas a temporalidade dos sucessos humanos mensuraveis pelas quantificagées materiais. Para a teologia da prosperidade, 0 maior poder da ressurreigao de Jesus é a ressurrei¢ao de negécios e a resti- tuigao de finangas dos falidos 7. Paulo esté afirmando que é possivel haver pessoas que confessam que creemem Cristo, mas confinam sua relagao com Jesus apenas aos horizontes deste mundo. Elas O veem apenas como um poder; um mestre-de-resultados; um Cristo para consumo social, psicoldgico, comunitério, magico-imediato para ser acionado como solugao para as questitinculas desta existéncia. “Jesus” é uma massa energética de 211 1 Corintios 15:1-28 212 2 Timéteo 6:3-12 43 Un sé caminko natureza psico-religiosa, que da as pessoas a magia necessaria para que nao vivam sem crenga, 0 que para muitos é algo indispensavel. Essa foi uma crenca comum no primeiro século, quando havia uma horda de falsos apéstolos, obreiros fraudulentos, profetas e mes- tres*?, Todos afirmavam um Cristo 4 feitura do paganismo da época, e que se relacionava com os homens dependendo da generosidade deles para com esses “seus” supostos “representantes”. Mesmo na tentativa de confinar a esperanga somente a esta existéncia, esse nao seria o “produto” do Evangelho, que propée frutificar ainda que a videira nao floresca. O contentamento em qualquer circunstancia, produzido pela Palavra, é o poder de Deus que nao se transforma em mercadoria. Sim, a tal declaragao de Paulo sobre os cristaos se tornarem os mais infelizes de todos os seres humanos tem um contexto muito claro. De fato, 0 apéstolo estava lidando com uma comunidade perdida en- tre a fé que ouviram dos discipulos de Jesus, os assédios dos cristaos judaizantes (que queriam fazer um mix entre Jesuse Moisés), a sedu- ¢4o dos gnésticos ea volupia dos milagreiros oportunistas — sempre (e todos) desejosos de cativar o interesse “dos de Corinto” para 0 seu proprio “mover-movido-de-ganancia”. O fato é que entre tantas loucuras, que iam desde legalismos ju- daicos tornados obsoletos em Cristo até a submissao burra a tudo 0 que se dizia em nome de Jesus (nao importando se o que se ensinasse fosse 0 oposto do que Jesus viveu e ensinou), nao havia nada dife- rente do que se tem hoje! E Paulo prossegue fazendo outras assertivas. Entretanto, a mais forte delas, para a existéncia presente, é aquela que afirma que a Res- surreigio de Jesus é 0 fator de transcendéncia sem o qual 0 espirito humano nao tem razao para viver, especialmente depois de ter dito que cré em Cristo. Paulo é claro: Se Cristo ndo ressuscitou, comamos e bebamos, que amanhé morreremos! Fica tudo sem razao de ser, porque tudo que é na FE é em funcao da esperanga de transcender a propria morte! 213 2 Corintios 11:1-20 Cyue esti acentecendetalma des custiasheje? Desse modo, Paulo revela-nos uma categoria existencial desgra- gada, a saber, a daqueles que “creem em Jesus” como instrumento de manipulagao dos destinos DESTA vida, numa esperanga oca, tosca e de curta validade que esta destituida de reais referéncias a Segu- ranca Eterna de pertencer a Ele! Assim, se tudo vai bem, o céudesceu a Terra; entretanto, se algo vai mal, é a alma que desce ao Inferno: “Onde foi que eu errei”? Esse tal “Cristo de Corinto” € como 0 “Jesus” pregado nos cultos cristaos de hoje! Ora, entre nds, quase que invariavelmente, o que se tem é essa crenga num Cristo que é o Despachante dos Crentes que dao ordensa Deus, conforme a diabdlica “Teologia da Prosperidade” eseus filhotes confessionais — e que nada mais sio que ensino de de- ménios. Sim, ninguém duvide: A desgraga da Teologia da Prosperi- dade é que ela transformou os cristaos em discipulos de um “Cristo” que nao éJesus*", E 0 Cristo da primeira casa, da segunda casa, da casa com pis- cina, da casa de campo. E 0 Cristo do primeiro emprego, do melhor emprego, da primeira empresa, das muitas empresas e das vitérias sobre sdcios inconvenientes. Esse “Jesus”, além disso tudo, ainda fun- ciona como Cupido em problemas amorosos! O problema é que a Verdade demanda verdade na pessoa; caso contrario, a propria Verdade a precipitard no abismo de um panico existencial difuso, mas que se torna angustia inexplicdvel, um dia, quando ela perceber que poder até ter tudo, mas nao tera NADA*". Esse “Cristo”, que apresenta esperanga apenas para esta vida, somente torna a existéncia muito pior. Como diz Pedro, melhor é viver sem consciéncia, como um pagao, do que uma vez que se tenha conhecido a Palavra da Verdade, vir a troca-la pela mentira do “deus- do-imediato”™®, Esse “Senhor e Salvador” serve apenas para as con- quistas perversas e para os ganhos malandros e magicos, conforme entre nds se vé sendo pregado! Esse “Cristo” é 0 diabo! - Creiam-me! Porque quando um filho morre, desse “Cristo” nao se tem consolo; quando o marido se vai, 214 Joao 1 ; Gilatas 1:6-9; 1 Timoteo 4:1-2 215 Lucas 12:13-34 216 2 Pedro 2 45 Un sé caminko “Dele” nao se tem carinho, sé culpa; quando um parente adoece e nao é curado, “Dele” sé se tem juizo contra aquele que, pela fé, nao con- seguiu a cura; e quando se peca feio, “Dele” nao se tem perdao, mas apenas uma longa e infindavel peniténcia. E tudo isso tendo em vista nao perder as conquistas materiais ou amorosas obtidas até entao. Diz-se que se “volta para o final da fila”! Todos os lideres desse “Cristo” sé sao fortes e veementes quando a vida nao demanda a paz que excede a todo entendimento””; do con- trario, morrem de anguistia. Todos os lideres desse “Cristo” tém um medo desgragado de morrer. Sim. Eles temem terrivelmente a morte, pois sabem que terao de prestar contas de suas perversGes contra a verdade. Sim! Eles nao tém a esperanga da Gléria de Deus *"*, nao sio filhos da Eternidade, nao celebram a ressurrei¢éo como Esperanga enem tampouco aguardam novo Céu e nova Terra nos quais habita justiga?®. O céu Deles é a prosperidade do mundo! Quem tiver duividas acerca do que digo, aguarde e vera que esse ir- remediavel déficit de esperancga induzira a grande anguistia, quetomara tais cristaos em pouco tempo, quando cairem as ultimas mascaras. Entao, havera muita gente se entregando ao Nada, ao Vazio, a Promiscuidade, ao Medo, ao Panico, Depressao, e ao Cinismo! Falar-se de Cristo, mas sé ter esperanga para esta vida é algo muito pior do que ser ateu. Sim! Bem-aventurados 0s ateus, pois, honestamente nao criaram um “Cristo-Mercadoria’. A alma destes esta sob melhores cuidados espirituais do que a daqueles. A tais “cristaos’, Pedro diz: “Melhor lhes teria sido jamais terem dito que conheceram o caminho da verdade”! Veja a “questao evangélica”. Em décadas passadas, ainda era pos- sivel ser Evangélico entre os “evangélicos’, pois, de fato, o fendmeno ainda era somente o da existéncia de sementes das perversdes que vieram a corromper quase que por completo 0 “meio evangélico”. A coisa ficou muito mais feia ainda! 217 Filipenses 4:1-9 218 Romanos 5:1-11 219 2 Pedro 3 Cyue esti acentecendetalma des custiasheje? Todavia, ha algo acontecendo. Sim! Nem tanto porque as pes- soas estejam, pela Palavra, entregando-se a Verdade, mas, sobretudo, porque estado sendo espancadas pela verdade das praticas abusadas desses “ambientes da Fé”, e entao, ja nao conseguem mais dar tanto crédito 4 mentira desavergonhada. Uma hora cansa! Portanto, tais pessoas (e sao milhGes aqui no Brasil) esto vazias, e, dealgum modo, estao se tornando cinicas... E claro que todos os dias ha desesperados entrando no engano. Ora, se eles vao 4 Macumba, nao tém por que resistir ao convite para enriquecer rapido num “Templo Lotérico Maior” qualquer ou em alguma de suas “agéncias lotéricas” espalhadas por todo o pais. Isso sem falar nas “Casas de Cambio” que aplicam em menor escala 0 jogo que tao bem aprenderam com os inventores das regras. Entretanto, os discipulos desse Evangelho “David-Cooperfiel- diano” estao perdidos e sem saber 0 que buscar. Oestrago que é feito em razao de alguma faléncia aqui ouali, por mais forte que seja, nao necessariamente os empurra para fora da fé. Masa perversao sistémica, virulenta, constante, diuturna e midiatica contra 0 espirito do Evangelho tem o poder de anestesiar a alma de milhées. E 0 que aconteceu entre nds, tornando o Evangelho 0 “evan- gelho” do dinheiro, da insinceridade e do abuso de poder Oresultado é esse que todos podem ver! Uma imensa horda de fiéis esta deixando de ir as “igrejas”, e, en- quanto isso, tomados pelo vazio ou pela descrenga, dizem que sao de Jesus, mas, cada vez mais, vao vivendo com raiva de “Deus’, pois transferem o engano dos homens para a conta divina. E, interiormente, com ou sem palavras, dizem: “Deus as favas! De que me adiantou? $6 perdi tempo. Fui enganado!” Assim, por tal decep¢aoe segundo os milhares de cartas recebidas, ha “evangélicos” “tirando o atraso” em casas de swing, em casos extra- conjugais, viajando a esmo pela Internet, vivendo em chats cheios de “evangélicos” desejosos de “soltar a franga’... Também estao em todos os esquemas de lavagem de dinheiro, de exploragao ilegal de madeira edo meio ambiente, de contravencées e de trapacas politicas. O que esta acontecendo com a alma dos discipulos de Jesus hoje? 47 Un sé caminko Ora, o que antes era orgulho, arrogancia e surto de superiori- dade, agora se transformou em indiferenga impressionante, em ci- nismo equivalente, e em mornidao incomparavel. Quem, todavia, for discipulo de Jesus, por mais chocado que fi- que com esse retrocesso “evangélico” 4 Idade das Trevas, nao desani- mara, enem se tornara cinico. Ao contrario, nao perdera mais tempo com 0 que ja morreu, deixando que os mortos se ocupem de tal fu- neral, e, enquanto isso, olhard para cima, exultaré no Espirito e saira para pregar e viver o Evangelho™®. Faré de todo banco um pulpito, de cada esquina uma Catedral, de cada mesa um encontro de alegria com a Boa Nova e de todo relacionamento humano uma chance de comunhao fraterna ou de anuncio bondoso da Graga de Deus". Ao contrario de ser uma palavra de dentincia, esta é uma palavra de animo e de consolagao. Portanto, volte a ler os evangelhos e a meditar na Palavra. E nao se esconda. Do jeito que as coisas estao, a maioria dos que desejam ser do Evangelho precisam romper com os dogmas de morte e juizo proclamados por aqueles que profanaram o sangue da Nova Alianga ?2, que pisaram sobre a Cruz de Cristo e transformaram a pregacao da fé em negocio... Um “bom negécio” *! E para esses tais “cristdos’, que se flagraram sob a condicao exis- tencial da desesperanga e do cinismo que impermeabiliza 0 coragio como protegio, que escrevemos este texto. A Doce Revolugao é para vocés! E também para os “meninos da fé” que esto com 0 coragao todo depositado genuinamente na busca de Deus, sendo, todavia, levados como ondas para ld e para cd, por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que induzem ao erro com asticia. Sim, é para os que estao confusos, por que: 1) Pensam que se algum milagre acontece é por poder do mi- lagreiro, nao levando em considera¢ao os magos do faraé 220 Lucas 9:57-62 221 Lucas 10:1-24; 2 Timoteo 4:1-5 222 Mateus 26:26-29 223 2 Timoteo 6:3-10 48 Cyue esti acentecendetalma des custiasheje? (que também sabiam fazer varas se transformarem em ser- pentes) e nao levando a sério Mateus 7:16-24, onde Jesus diz que milagres, curas e exorcismos acontecem pelo Seu nome apesar do milagreiro ser um “desconhecido” para 0 proprio Jesus. 2) Pensam que a Unidade no Corpo de Cristo é um acordo ma- fioso de siléncio ante o que é mau e que nega o espirito do Evangelho, engolindo blasfémias cometidas pela manipula- ¢ao-em-proveito-prdoprio do nome de Deus contra o povo, como se Deus fizesse parte de alguma corporagao ou quadri- Iha. Dai a neutralidade, a passividade e a cumplicidade que obscurecem o entendimento ™*. 3) Pensam também que tudo o que ¢ falado atras de um pulpito vira Palavra de Deus oriunda de um “ungido” intocavel que transforma qualquer frase de efeito em ordculo”’. E depois combatem a “mesa branca dos espiritas” quando, de fato, eles sao 0 povo do “pulpito branco”, que é um espiritismo sem transe, mas cheio do transe da arrogancia e interpretagoes biblicas “convenientes”. Tudo isso porque, de fato, tal meninice religiosa se revela, prin- cipalmente em nao se saber fazer disting4o entre 0 nome “Jesus” e a Pessoa de Jesus, o que faz com que celebrem um “Nome” que nao tem correspondéncia com a Personalidade que o possui, com Seu ensino ecom Sua pratica, conforme as narrativas dos evangelhos. A esses irmaos, pedimos que considerem a béngao de simples- mente... pensar”, 224 Efésios 4:7-24 225 Mateus 7:15-27 226 Hebreus 5:12-145 Tiago 1:5 49 falodos “Graga”: proveniente do latim “gratia”; tradugao da palavra grega “charis”. Significado: graciosidade, benevoléncia, favor ou bondade. Ve apostolo Paulo, em suas cartas e discursos, usou o termo cha- ~~ ris 133 vezes, e em todas elas sempre com o significado de “favor livremente concedido”, especialmente para se referir ao que Deus fez POR nés em Jesus Cristo, bem como ao que Ele faz EM nés pelo Seu Espirito. O QUE SE FALA AGORA SOBRE GRACA? Para uns ela é uma “doutrina’. Para outros ela é uma “fungao di- vina”. Para alguns ela é “aquilo que nos salva’. Ha ainda aqueles para os quais ela é a “nossa chance de barganha” com Deus. Para outros é um tema “legal”, bom, humano, generoso... E haa maioria, que fala na Graga como “seducao evangelizadora” Para todos esses, a Graga nao serve para nada em suas vidas cotidianas, sendo apenas um “papo de crente’”. Os que pensam na Graga como uma “doutrina” nao sabem que ao torna-la qualquer coisa, mesmo uma “doutrina’, a convertem numa espécie de Lei da Graga Escrita, a Lei Aristotélica de Moisés, visto que, neste caso, ela nao é nada parao ser além de uma definigao intelectual. Um idolo da mente”. Os que tratama Gra¢a como uma “fungao divina” veem-na como algo que se parega com um “6rgao de Deus”, assemelhando-se a uma 227 1 Corintios 51 Un sé caminko espécie de figado divino, ou Seu pulmao, ou Seu coragao, ou Seus rins... Como se uma cirurgia estivesse tentando mostrar a consti- tuigdo interna da Anatomia Divina. Uma obra de exumagio teolé- gica do ser de Deus, como numa necropsia: “Vejam: aqui temos Seus atributos de Justiga, e, no exato oposto, Sua Graga. Aqui do outro lado, pingamos Sua Santidade, e logo acima estao os olhos da Sua onisciéncia!” **, Os que pensam na Graga como uma “chance de barganha” com Deus véem-na como se fosse uma oportunidade para apresentar um caso a um Rei. No entanto, nesse caso, a Graga é uma “oportuni- dade”. O resto, porém, fica por conta da malandragem do crente-sti- dito quanto a aproveitar a chance na “mesa de negocia¢Ges do Rei” e apresentar uma proposta, fazer um acordo ou um sacrificio. E 0 que Graga é para esses tais: a chance de sentar-se 4 mesa de “negociacées” com Deus. Ouseja: a Graga seria apenas uma lobista coma prerroga- tiva de secretaria de Deus, podendo definir quem consegue o direito de se assentar na mesa das santas negociagoes™. Para aqueles para quem a Graga é um tema “legal”, bom, humano e generoso, ela é apenas um sentimento, uma escolha pelo que é hu- mana e politicamente correto entre os liberais da Terra. E um tema bom para um livro, para um best-seller agradavel de ler. E “sadio’, é mais “humano’, é mais “cult”. Gera uma espécie de posicionamento cristao belo e correto, porém, pouco para além dai. Nesses casos, para ser “cult”, ela nao pode ser nem Loucura e nem Escandalo™"! Para quem a Graca é uma “sedugao evangelizadora’, ela é uma estratégia, é 0 que se deve dizer aos que “ainda estao fora da igreja’, os quaisainda nao foram presos pelas forgas da Religiao Crista. Mas logo depois que a pessoa é “lagada’, a Graga é esquecida, ou vira doutrina, ou fungao divina, ou é aquilo que seduz o aflito ou garante a oportu- nidade da barganha na mesa de negécios do Reino de Deus™!. Quando eu comecei a falar em Graga explicitamente nao como doutrina, nao como fungao divina, nao como “oportunidade” de bar- 228 Romanos 11:33-36 229 Oséias Mateus 9:10-13 230 1 Corintios 1:17-30 231 Mateus 23:1-24:14 52 OCaminkoda Graca pala tedes ganha, nao como um tema teoldgica e politicamente correto, e muito menos como “sedugao evangelizadora’, milhares estranharam... Isso ha apenas trés anos e meio. Recebi milhares de cartas meacusando de ser “liberal”, exagerado ou provocador; de estar desconstruindo antigos esquemas teolégicos ou de estar “autojustificando” meus pecados. Acusam-me de estar expondo “conclusées recentes e circunstanciais’, talvez em razao de que creiam que nos tltimos anos eu tenha precisado mais da Graca de Deus do que antes, ou, quem sabe, mais do que eles precisam. Eu, todavia, insistia em que ela nao é doutrina, mas uma cons- ciéncia espiritual, fruto do entendimento do significado da Cruz, cuja realidade nao foi uma invengao divina para “remediar” a Queda ou uma espécie de remendo de pano novo em veste velha**, Antes de tudo, a Graga equivale ao Conhecimento Experiencial de Deus. Uma Graga que é sé logorréia religiosa, enfeite de uma mensagem ou qualquer outra coisa que nao seja a experiéncia de Deus na vida, nao é Graga! A Graga gera o fruto da paze inicia 0 processo de transformagao do ser; e, sobretudo, da a pessoa a certeza da Confianga, a qual éa demonstracao mais palpavel da Graga na experiéncia humana em Deus. A Graga nao apenas é melhor que a vida *. Sem a Graga nao ha vida’, O Deus DA GRAGA E A GRAGA DE Deus .«. pelo precioso sangue, como de Cordeiro sem defeito e sem macula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, ANTES da fundagao do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vos... Primeira Epistola do Apéstolo Pedro 1:20 As Escrituras revelam que houve Redengao de toda a Criacao antes de qualquer coisa ter sido criada, pois o Cordeiro de Deus foi sacrificado antes da fundagdo do mundo*®. Entao, toda a criagao é 232 Marcos 2:21-22 233 Salmo 63 234 Efésios 2 235 1 Pedro 1:17-21; Apocalipse 13:8 53 Un sé caminko graca divina, posto que NADA é sua propria causa, visto que tudo procede de Deus e nada O precede. Se nada havia, entao tudo o que ha é Graga. Pois, se o que nao E passa a SER por um ato de vontade de Quem £, entao, tudo o que dai decorre é Graga, pois somente a Graga fornece o material que a inexisténcia necessita para existir: Amor doador e criativo. Deus é Amor** porque Amar éa Sua Vontade Essencial de Ser e Criar. Amor é 0 motor de qualquer existéncia. Amor é0 mantenedor da vida. Nenhuma energia vibrou no Cosmos antes do Amor. O Uni- verso, portanto, é um derrame césmico de Graca*”! E se a Criagao evoluiu para complexos estagios de desenvolvi- mento e diversidade, mesmo isso é Graga aos olhos de quem cré que ha um Ser Criador e Mantenedor de tudo que ha — a Pessoa que é Deus de Eternidade a Eternidade — 0 Senhor™®. Alids, um Deus que nao fosse Graga nao criaria coisa alguma, pois oato de chamar a existéncia aquilo que nao existe para que venha a existir é uma decisao de Favor, visto que Deus nao criou para se fazer acompanhar no Universo. Afinal, um Deus que se entrega como garantia de Sua propria criacao antes de realiz4-la é mais multiforme em Seu Amor do que se pode imaginar, assim como chocantemente diversas sao as criaturas que fez e as inconcebiveis variaveis de todos os Seus atos criadores*”. Se a Graga vem antes de tudo — o Cordeiro imolado antes da criagao do mundo —, entao pode-se ver nas variedades da criagio uma analogia da multiforme Graga de Deus, que se faz crescer em adaptabilidades infindas, posto que a Forma nao é a Vida, porém a Vida tem muitas formas e evolui de modo pertinente ao crescimento da vida. Os aplicativos da Gracga em relagao aos homens sao, no minimo, tao variados quantas sao as variedades das criaturas criadas. 236 Joao 4:1-21 - 5:4 237 Efésios 3:8-19 238 Salmo 90 239 Eclesiastes 3:1-11; J 38:1 - 42:6 Pela Graga sois salvos, por meio da fé, e isso nao vem de vis, é Dom de Deus, nao vem de obras, para que ninguém se glorie! Carta de Paulo aos Efésios 2:8-9 mesmo principio resumido acima se aplica a tudo que con- cerne a Deus e a criagao em sua forma “consciente” — a dos humanos — incluindo a chamada “Salvagao”. Salvagao é termo relacionado a redengao eterna da Culpa que nos desencontrou do Amor de Deus e nos trans-tornou em seres es- piritualmente irreconcilidveis. Condigao a que, essencialmente, de- signou-se Pecado. E todos pecaram! — é um grito nas Escrituras*"° e na propria histéria humana! Sim, nds nao temos nenhum tino natural para vivermos entre- gues a Ele em confianga. Espiritualmente, o que se tem é que simples- mente nds esquecemos 0 caminho de volta para Casa. Portanto, somos salvos pelo favor de Deus, por Sua total inicia- tiva, por Sua vontade de que os homens cheguem ao pleno conheci- mento da Verdade*"'.E se é favor, nao decorre de nenhuma forma de “pagamento” divino ao comportamento humano™’. No texto biblico citado acima, se lé que tal Salvagao também é mediante a fé. Contudo, até a Fé é Graga de Deus, visto que nenhum de nés arregimenta em si mesmo tamanha confianga que o faca viver 240 Romanos 3 241 1 Timéteo 2:1-6 242 Isaias 55 55 Un sé caminko em paz com Deus. Tal fé é nossa, porém nao nasce em nds do ‘nada’ e nem nos ¢ inata, mas é fruto do trabalho do Espirito Santo na consci- éncia humana. Poisnossa inseguranga nos remete naturalmente para a necessidade de fazer alguma forma de “barganha com Deus” e nao para a fé que apenas confia. Assim, o proprio ato de crer é, também, uma dadiva de Deus™’. Portanto, a Graca é dom de Deus, recebido por fé, pela revela- ¢ao da Verdade, que é Cristo Jesus, manifestada através da Sua en- carnacao, morte, ressurreicao e ascensdo acima de todas as coisas. E foi Ele quem estabeleceu que, por Sua Graga, se pode ter Vida, tanto nessa existéncia como na Eternidade! Perceba essa sintese na segunda carta do Apostolo ao seucompanheiro Timoéteo, no capitulo 1, versiculos 9-10. A leitura das Epistolas de Romanos e Hebreus, por exemplo, nos afirma de modo repetitivo que a Remissao decorre da fé que se cen- tra no que Jesus ja realizou por todos os homens. Sim, quando Ele bradou “Esta Consumado!”, declarava que todo o trabalho para a salvacdo estava feito e toda divida contra nds estava cancelada; nao pelo homem, mas por Deus*", que estava em Cristo reconciliando 0 mundo consigo mesmo™. Assim, nao somos salvos pela Lei, nem pela Moral, nem pela Etica e nem pelas Obras de Caridade. Todas essas coisas sao boas, mas nao sao elas que realizam nossa salvagao. Pois se assim fosse, ninguém precisaria de um Salvador, bastando, para tanto, que fosse- mos os salvadores de nds mesmos. ... aqueles cujos nomes nao foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundacao do mundo. Apocalipse 13:8 Uma questao subliminar quase sempre resulta das declaragoes acima: “E aqueles que nao receberam tal informacao salvadora? Que destino eterno terao?” A questo tanto diz respeito aos que viveram num tempo anterior a Cristo como aqueles que vivem em lugares e 243 Romanos 12:1-3 244 Colossenses 2:6-15 245 2 Corintios 5:14-21 56 ” (> t > A Graga da Seloasize regides nos quais a informagao nao se fez circular. Como se processa asalvagao Deles? Ora, nada diferente do que se disse até agora: No que tem relacdo com 0 tempo que antecedeu a chamada plenitude dos tempos”, na qual Jesus encarnou-se, viveu, morreu é ressuscitou, 0 que nao se entendeu ainda é que a Redengao do Homem €é anterior a Criagao do Homem. Logo, a Cruz é anterior a crucificagao. Explicando: 0 Sacrificio que tira o pecado do mundo ** foi realizado na Eternidade, fora do tempo-espaco, e a crucificagio foi sua manifestacio histérica ante a Humanidade. A crucificagao foi o cenario de um fato que, em Jesus, aconteceu o tempo todo. Alias, antes de qualquer tempo ou Era. Ea Cruz da Eternidade se fez Cruz na Historia. Ele tomou sobre Si as dores do existir antes de elas existirem. E Ele as fez Dele antes de elas existirem para nés**. ‘Tudo comegou com a Cruz. Ea consumagao de todas as coisas é a Cruz. E por causa da Cruz Eterna que tudo ja Esta Feito ainda que nada tenha acabado aqui! Portanto, qualquer ser humano que tenha vivido antes de Cristo, ao fechar os olhos aqui no Tempo, “acordou” na Eternidade diante do Cordeiro que foi morto e agora vive”. Afinal, Abraao, o pai da fé, viveu e foi justificado, tanto quanto nds, antes da cruz histérica ter sido levantada. Deus estava em Cristo reconciliando consigo 0 mundo, nao imputando aos homens as suas transgressoes... Segunda Carta de Paulo a Igreja em Corinto 5:19 Eno que tange aos nao-alcan¢ados pela pregacao do Evangelho — os chamados “povos nao-evangelizados”—, deve-se dizer aquilo de que os evangelistas ja se esqueceram: nao somos 0 veiculo ex- clusivo do testemunho da Salvagado aos homens”*”, Deus fala onde 246 Efésios 1:3-14 247 Joao 1:29-34 248 Isaias 52:13- 249 Apocalipse 5:1-10 250 Salmo 19; Romanos 10 e 11 57 Un sé caminko quer, como quer e pelo que quer que seja. Quanto a nds, pregar o Evangelho é 0 resultado natural de, 4 semelhanga de Pedro, termos respondido “eu te amo’, quando Jesus nos comissionou para o amor. Afinal, o Sacerdécio de Jesus, 0 Salvador de todos os homens, mas especialmente dos fiéis**', é segundo a Ordem de Melquisedeque *», pois, sendo Ele também o Cordeiro imolado antes da fundagao do mundo, derrama Graga e Virtude sobre a Humanidade desde sem- pre. Esempre fazendo em razao de que a Redengao precede aCriagao em todos os sentidos, visto que o Cordeiro se deu pela Criagao antes de qualquer coisa ter sido criada. O Big Bang da Criagao foi a Cruz Eterna do Cordeiro do Amor de Deus. Entao alguém pergunta: “Por que entao anunciamos a Palavra do Evangelho como Caminho Unico de Salvagao?” Ora, anunciamos 0 Evangelho porque ele é 0 poder de Deus para a salvagao de todo aquele que cré*’. Também anunciamos a palavra do Evangelho porque somente ele pode dar sentido a vida humana neste mundo, sendo, portanto, o tnico preventivo contra a autodes- truicao humana. Além disso, anunciamos 0 Evangelho porque amamos os ho- mens e desejamos que todos conhegam a Graga que decorre da fé no amor de Deus**, Sim! Anunciamos a Palavra porque é tanto uma ordem como também um privilégio sermos embaixadores de Deus no mundo, rogando aos homens que se reconciliem com Deus*®. De fato, anunciamosa Palavra da féa todos os homens porque nada ha de melhor e mais seguro nesta vida do que confiar de tal modo no amor incondicional de Deus por nds (Graga) que se possa andar sem a fobia da morte e sem medos de juizos finais. Quem cré nisso anda em paz, vive em paz e morre em paz! E quem nao ficou sabendo, nem por causa disso esta perdido. Isso porque Deus nao fez e nao faz nada que, sendo Dele, dependa dos homens para fazer bem aos homens”. 251 1 Timéteo 4:10 252 Génesis 14:17-20; Salmo 110:1-4; Hebreus 5:1-10; 6:17-7:22 253 Romanos 1:16-17 254 1 Timoteo 2:1-6 255 2 Corintios 5:18-20 256 Isaias 65:1; Salmo 67; Salmo 72 58 A Graga da Seloasize Deus é Deus ea Obra é Dele, e Sua Igreja tem o santo privilégio de participar! Por conta disso, é impossivel chamar de Igreja aquilo que cos- tumo chamar de “igreja’, que éa antitese do Chamado, pois sabendo que pregar a certeza da salvagao liberta o povo, os “homens de Deus na Terra” apregoam a incerteza da salvacao justamente para man- ter o povo dependente da validagao da salvagao pelo autodesignado “cartorio celestial”, que tem a arrogancia de dizer quem é, quem nao é, quem esta, quem esteve e quem perdeu. Masa Graga é 0 Amor de Deus agindo em nosso favor por sua pro- pria iniciativa, dando-nos livremente o seu perdao e a sua aceitagao in- condicional, de uma vez por todas e sem revogagao nenhuma, ja que a Alianga feita no Seu sangue é sempre Nova: ultima, definitiva e Eterna. Assim, quem nao soube que a divida ja estd paga e que Deus jase reconciliou com os homens, até que venha a saber, sofre; e, freqiien- temente, entrega-se, pelo medo, a toda sorte de crencas que deman- dam obras, sacrificios, esforgos pessoais, e virtudes que assegurem um “melhor acerto de contas entre o homem e Deus”. Masa Palavra do Evangelho, quando crida, acaba com tal escra- vidao e mergulha a pessoa na paz com Deus, podendo assim descan- sar de suas obras para efeito meritdrio. Ora, Deus ja se reconciliou com o mundo, O mundo é que ainda nao sabe disso! Se soubesse, também seria outro! Dai a religiao realizar o mais inadequado esquema de selecao de “salvos e alcangados’, que é aquele no qual sé entram os contabiliza- dos no censo interno, na membresia ao “lugar”. O “Rol de Membros” determina a “listagem” escrita no Livro da Vida! Santa estupidez! Essa praticanao se concilia com a Verdade em Cristo, pois vemos que Jesus via quem era quem, e quem desejava o qué em relacao a Ele*”. Conforme os convites de Jesus para o caminho, podemos saber que nem todos tém vocagao para a “caminhada comunitaria’. Outros a fazem solitariamente. Outros nao sentem nem mesmo a necessi- dade. Alguns nao tém o alcance para certas ambigoes do espirito. E muitos nao se fariam bem se navegassem no mesmo barco da fé 257 Joao 2:23-25; 10:1-16 59 Un sé caminko com Pedro, Tiago e Joao, por exemplo, pois ha gente tao perdida de simesmo que, ao ser liberta por Jesus, sé volta a si quando volta para os seus, como bem ilustra 0 caso do Gadareno**! Todos tém, todavia, para seu melhor bem, que conhecer Jesus. E se alguém diz té-lo conhecido, esse nao pode mais continuara existir como se Dele nada soubesse. Pois o que entra no coragao so se faz verdade quando se encarna e quando se torna confissao da boca ao todo da vida”. 258 Marcos 5:1-20 259 Mateus 7:21-23; Romanos 10:8-13 60 A rida chetade Geaca Nisto conhecemos 0 Amor: que Cristo deu a Sua vida por nos; e devemos dar nossa vida pelos irmaos. Primeira Carta de Joao 3:16 Graga, todavia, nao ¢ apenas algo para se crer, mas, sobre- tudo, algo para se viver. Assim, nao apenas somos salvos pale Graga, mas também para uma vida de Graga, que se manifesta como uma existéncia na qual a consciéncia do perdao gera um es- pirito de misericérdia em relagao ao préximo; e isso tudo fundado numa percep¢ao apenas: aqueles que receberam Graga, esses sao fi- lhos dela, e praticam-na como amor e misericordia. Veja a Parabola do Credor Incompassivo, descrita no Evangelho segundo Mateus 18, e vocé vai perceber como a base de tudo é uma s6: como fui perdoado de Graga, devo também em Graga perdoar, pois o Espirito da Graga me leva a fazé-lo. Nao somos salvos pelas obras, para que ninguém se glorie, mas somos salvos para boas obras*®,e isso paraa gloria de Deus. Desse modo, a Graga gera uma vida cheia de obras que nada mais sao do que frutos naturais dela mesma. A Graca é a semente e as obras sao o fruto; e esse fruto é Amor; do qual todas as demais virtudes derivam. Dai, podemos afirmar que a fé em Jesus é a fé no amor. Amor de Deus por nés. Fé na possibilidade do amor de nds pelos outros. E fé que 61 Un sé caminko vem dacerteza que nos ¢ dada por Jesus, a Palavra Encarnada, de que o amor vence até mesmo a morte, e gera ressurrei¢ao de mortos”". A Biblia fala de muitos chamados “atributos” divinos. Ela diz: Teu Deus é Deus de Justica. Ou entao: O Israel, teu Deus éSanto. Ou ainda: Teu Deus é Misericordioso. No entanto, em todas essas “defi- nig6es” fica claro que em Deus ha também aquele “atributo”, embora tal atributo nao confine o ser de Deus. Todavia, somente em Joao, ja nas suas correspondéncias finais, se diz: Deus é amor. Desse modo, caminhando do complexo parao simples, Joao che- gou aquela uma sé coisa que Jesus disse que é a “equagao” de um sé elemento essencial a vida: Amor”. Por isso, quem ensina o Amor de Deus ensina tudo; afinal, Jesus disse que o resto é conversa para erguer os meninos, em sua dureza de coragao e sua tragica vocagao suicida, incapazes de escolher o caminho excelente, que é amor™™. Tal Entendimento, sobre nds derramado, s6 se mantém se esse Entendimento for praticado*, visto que € somente pela pratica que as coisas se enraizam em nds, que somos caidos e destreinados para o bem™™! 261 Joao 6:28-40; 11:1-46; Romanos 8:31-39 262 Lucas 10:25-42; 1 Joao 4:7-21; 5:1-5 263 1 Corintios 13 264 Romanos 12:9-21 265 Romanos 7 62 Deis mederdeseconhecer a@ Gracade Dew Nada nos pée neste caminho do amor se a pessoa nao receber: 1) Uma revelagao da Graga no coragao, e a acolher para si, dando razao a Deus, admitindo que dela necessita. Isso pode acontecer de modo tranqiiilo, via reflexao espiritual™. 2) Ou,entao, pode-se levar uma grande “cacetada’ davidacomo disciplina, tendo, assim, que conhecer 0 perdao sem auto- justificagao ou justicga propria. Entao, o individuo, caso nao se endurega, aprenderé o significado do Dogma do Amor; e isso porque tera de prova-lo como perdao de Deus paraa sua vida DQ pois disso, a fim de nao se tornar um “Credor Incompas- sivo”, tera ele mesmo que aprender a perdoar o proximo e a jamais buscar maquinar nada contra ele; visto que é no exercicio do perdao que o amor se faz exercitar no coragéo humano**. Do contrario, para esses que nunca conheceram o amor de Deuse nunca acharam que “precisaram” de Graga (pobres coitados!), a nao-expe- riéncia da Graga sera morte-em-vida; sim, uma existéncia de zumbis comportamentais da religiao, da moral ou da libertinagem. Assim, seja mediante a revela¢ao/descoberta que ilumina o en- tendimento ou pela via do “tranco’, da correcao e da santa disciplina de um Deus de Amor, que faz intervencées na nossa histdria pessoal, a unica realidade que nos pode salvar de nos tornarmos estatuas fa- 266 Atos 8:26-39; Atos 10 267 Atos 9:1-22; 1 Corintios 15:1-11 268 Mateus 18:21-35 63 Un sé caminko lantes é a rendigao 4 Graga, 0 que é sindnimo de rendigao ao amor de Deus. Muitos me escrevem buscando solugées para suas dificuldades de amor e conciliagao. Eu, porém, sou apenas mais um irmao an- dando e aprendendo, no caminho, o que seja 0 Caminho sobremodo excelente do amor, Assim, nao é um especialista quem fala, mas ape- nas um homem que também quer ser maduro em seu amor. Alids, quem acha que ja é maduro no amor? Ora, este tal esta morrendo e nao sabe, visto que 0 amor jamais acaba também no que tem a nos ensinar! Chara comet, niioé fara conheceto- caldfuo O castigo que nos traz a Paz estava sobre Ele; e sobre as suas pisaduras fomos sarados. Tsaias 53.5 A Evangelho é 0 chamado para a viagem de cura da existén- ~~ cia na Graga de Deus. Viagem essa que comeca agora e sé termina quando nasce o homem conforme a imagem de Cristo, 0 homem refeito em Deus na Eternidade. Mas 0 Bem do Evangelho é para HOJE! Estou afirmando isto porque as pessoas pensam que salvacao é apenas um levantar de maos que supostamente sinaliza o fato de nds “aceitarmos Jesus’. Quem “aceita Jesus” ainda esta colocando algo em sua vida, dando permissao para alguma coisa entrar em sua existéncia. A questao é que a salvacao implica o caminho oposto. Ela vem de eu entrar na Vida de um Outro: Aquele que por mim morreu e ressuscitou. Isto é “estar em Cristo”. Vocé pergunta: “E que diferenga isso faz”? Ora, faz toda a diferenga. Acomegar do fato de que somos salvos da ideia de uma salvacao estatica e paralisante. E essa salvacao estatica que gera o mal dessa presungao que hoje nos acomete. Somos os salvos mais doentes da Terra! Somos os salvos em quem nao é possivel enxergar salvagao, mas no maximo “declaracées de salvagao”. Vou explicar: Pela Graga eu sou e estou salvo para sempre. Mas é pela mesma Graga que eu caminho na dire¢ao de minha Total Salvacao. 269 2 Corintios 5:14-19 65 Un sé caminko A verdadeira salvagao faz a gente entrar na paz. Dai em diante acaba-se o medo em relacao a Deus ¢ inicia-se o caminho da pacifi- ca¢ao da alma — de onde vem a nossa cura progressiva””’. Oalvo do Evangelho é gerar seres humanos cada vez mais sadios dealma e espirito. E essa é uma realidade que sé nos acontece quando estamos na paz. Dai para frente, a jornada é toda terapéutica. Mas nao ha cura enquanto pender sobre nds a culpa do pecado. Ninguém é curado enquanto existe como culpado. Ninguém cresce no caminho da cura enquanto caminha na fobia do pecado””. Assim, a grande questao da vida ja nao é 0 pecado, masa vida. Quem vive de pensar, ver e falar do pecado é aquele que ainda esta profundamente doente. Interessante isso. Nos evangelhos, quem mais fala de pecado é a religiao, nao Jesus. Jesus fala em pecado sob duas perspectivas: 1. Como dentncia aos religiosos: curiosamente tais discursos se dirigem aos que sé falavam em pecado — 0 dos outros”. 2. Como uma realidade sobre a qual Ele traz Graga: e também. € interessante que aqueles aos quais Ele disse estao perdoados os teus pecados sao justamente aqueles acerca dos quais a re- ligiao dizia: “Este é pecador”?. A religiao fala de pecado. Jesus fala de perdao de pecados. E fala de pecado aqueles que denunciam o pecado sem enxergarem que quanto mais falam no assunto mais doentes em sua presungao de nao serem pecadores eles se tornam?”. Desse modo, a questao do perdao dos pecados éa primeira a ser resolvida — e para sempre —, a fim de que se possa crescer no dom da salvacao como satide humana. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundancia’, disse Ele. 270 Filipenses 2:12-16 271 Mateus 12:28-20; Joao 14:1-27; Romanos 5:1-5 272 Mateus 23:23-28; Joao 8:1-11 273 Lucas 7:36-50; Joao 9:1-34 274 Lucas 18:9-14 275 Joao 10:10 66 by y ; Cfarccomer, nitotpara conkecero cardipio Se a compreensao do Evangelho nao nos levar até ai, ficaremos falando de pecado a vida toda e nos agarrando nervosa e neurotica- mente a Salvacao, mas sem jamais usufruirmos seu primeiro bem, que éa paz com Deus”; e sem jamais podermos crescer em sua pro- messa, que é a vida abundante, comecando aqui na Terra. Mas quando a existéncia vai se mostrando tao aflita como a de qualquer outro ser humano da Terra, e quando o “beneficio espiri- tual” nao se manifesta como amor, alegria, paz, bondade, pacién- cia, mansidao e dominio proprio, mas como infelicidade, amargura, ansia persecutoria, juizos e frustrag6es, entao a honestidade manda perguntar: O que esté errado? E o Evangelho que nao é verdade? Ou serd que eu, na verdade, é que nao vivo, em verdade, o Evangelho? Tem gente que pensa que o Evangelho é 0 corpo de doutrinas da igreja e seu modo de entender 0 mundo. Tem gente que pensa que o Evangelho é a igreja, de tal modo que ele mesmo é capaz de se referir ao crescimento da igreja no pais como 0 “crescimento do Evangelho”. Um “Evangelho” que seja um pacote de crencase doutrinase uma “embalagem de Deus” serve muito a criacao de um espirito religioso, que se arroga ser melhor nao por causa do Bem que realize, mas em razao da suposta superioridade dos valores de conduta apregoados. Porém, eu vim para que tenham vida, e vida em abundancia ja- mais poder ser substituido por eu vim para que vocés fiquem sa- bendo qual é 0 conjunto da verdade e, assim, sejam superiores aos de- mais homens ignorantes. Eounico modo deaferigao da verdade do Evangelho sé acontece na vida. Nao é de um manual de condutas que vem 0 crescimento da fé, mas de um modo de ver, de ser, de valorizar, de desvalorizar, de reagir, de agir conforme principios e de enfrentar a existéncia. Averdade do Evangelho nao acontece sé porque alguém ganhou uma discussao teolégica contra um herege, mas sim pelo resultado da prépria existéncia, se é plena de vida, conforme a justica, a pazea alegria no Espirito Santo”. 276 Romanos 4:18-25 - 5:1-2 277 Romanos 14 67 Un sé caminko Assim, aquele que se entrega a Jesus nao recebe um pacote de explicagdes, mas aceita seguir porque foi convencido pela experién- cia do bem do Evangelho, que tocou o individuo de alguma forma, fazendo-o provar que o Senhor é bom’ Portanto, tal pessoa nao fica preocupada em “entender Deus Sua felicidade esta em que Deus a entende*®. Assim, ela caminha sem querer saber 0 que Deus esta planejando, mas apenas o que Jesus prope como caminho. E, para ela, cada coisa nao é passivel de uma explicagdo, mas sim de uma resposta propria. Desse modo, se impotente, ela ora; se abastada, ela agradece; se visitada pela calamidade, ela confia no bem oculto no amor de Deus; se é objeto de persegui¢ao, ela exulta; se milagres acontecem, ela se alegra; se nao acontecem, ela se entrega ao milagre da confian¢a’*"... Nao € toa que Paulo diz que é a bondade de Deus que conduz ao arrependimento*. Sim, no Evangelho, tudo o que se estabelece como genuino e duradouro decorre da experiéncia da bondade de Deus. E, portanto, a experiéncia de Deus como bem para o ser aquilo que muda a mente, que provoca a metandia, que gera o arrependi- mento — a mudanga de mente e, por conseguinte, de caminho. A “Queda” se consumou na experiéncia, nao na especulagao acerca da verdade ou da mentira, do bem oudo mal. Tomou do fruto e comeu — é0 que se diz. Assim foi como primeiro Addo, e muito mais é assim concernentemente ao segundo Adao, Jesus: Quem comer tem a vida... quem de mim se alimenta, por mim viverd*®... Ora, assim como 0 pecado se fez consumar pela experiéncia, as- sim também o bem do Evangelho se faz conhecer pela experiéncia da fé, e que da acesso ao fruto da Arvore da Vida. Tomaie comei! — é assim no Evangelho. 2279, 278 Salmo 34 279 1 Corintios 2:10-16 280 Jeremias 29:11; Salmo 139 281 Filipenses 4:10-19 282 Romanos 2:3-4 283 Jodo 6:22-69 284 Apocalipse 2:7 68 hoa noliiata manchetedehege! Hoje, se ouvirdes a Sua voz, nao enduregais 0 vosso coragao. Carta aos Hebreus 4:7 GC /,Evangelho éa Boa Noticia do Reino de Deus. O Evangelhoéa ~~ certeza de que Deus se reconciliou com 0 mundo, em Cristo, € que agora os homens podem se desamedrontar, pois foi destruido aquele que tem o poder da morte, a saber, 0 diabo; bem como foram libertos aqueles que estavam sujeitos a escravidao do medo da morte por toda a vida, conforme esclarece o autor da carta aos cristaos he- breus, no capitulo 2:14-15. Jao “evangelho” que nada realiza hojee transfere tudo para océu, para © porvir, é como 0 espiritismo kardecista, que transfere para 0 passado as causas das fraquezas de hoje ou os inforttinios e limitagdes desta vida. No espiritismo, tudo é baseado no passado. Em um passado que se teria vivido, mesmo que dele nao se tenha nenhuma meméria. E 0 “evangelho” sem vida e sem Boa Nova para Hoje alimenta sua exis- téncia das recompensas do céu em contraposicao as desgracas desta vida, produzindo nao esperanga, mas conformismo e aliena¢ao. Ora, conquanto o Evangelho carregue a promessa da Gloria Eterna — como ja foi explanado introdutoriamente —, que éa razao de nossa esperanga, se, contudo, tal Evangelho nao fizer bem a vida Hoje, ele nao é nada, e muito menos a Boa Nova. No kardecismo, a esperanga de hoje é buscar existir num estado de caridade humana e de busca de conhecimentos acerca dos modos de se promover o “desenvolvimento espiritual”. J4 no “evangelho” sem Boa Nova para Hoje, o que se diz é que a garantia de salvagao é 69 Un sé caminko a fidelidade a freqiiéncia a “igreja” — isso se a pessoa “se segurar” e nao fizer nada “muito errado’, pois se fizer, ainda que Deus 0 perdoe, os discfpulos do “evangelho” sem Boa Nova haverao de se tornar 0 proprio cumprimento da Lei do Carma, pois nao perdoam ninguém que, depois de “iniciado’, erre de modo verificavel. Assim, nesse caso, nao se paga por erros de uma existéncia pas- sada, mas de qualquer que seja 0 passado da presente existéncia — isso se a pessoa cometer 0 erro depois do “batismo’, ou seja, depois de ser “membro da igreja’. O Evangelho de Jesus nao é apenas o beneficio da consolagao antea morte! Nao! Seo Evangelho entrar na pessoa, mesmo 0 Paraiso fica menos importante do que ouvir Jesus dizer: Hoje mesmo estards comigo... Isso porque, de fato, nao ha Paraiso sem Jesus, mas onde Jesus esta, ai ha Paraiso. Dai o Paraiso importar muito menos do que arelacao com Ele*”’, Assim, o Evangelho nao é para o céu, mas para a Terra. Quem precisa de Boa Nova no céu? LA tudo isto ja nao €. La é 0 cumpri- mento absoluto e pleno de todas as promessas presentes também na Boa Nova. Mas a grande Boa Nova do Evangelho nao é 0 “céu’, mas sim 0 perdio”®, a reconciliagio””, 0 descanso ** e a paz®, usufruindo plenamente Sua Presenga na eternidade que ja é. 285 Joao 8:31-36 286 Joao 1:29 287 2 Corintios 5:18-19 288 Mateus 11:28-30 289 Joao 14:27 70 oh. Graca tale: Portanto, irmaos, temos plena confianga para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu isto é, do seu corpo. Hebreus 10:19-20 OG Graga e somente a Graca é e sempre sera a base do nosso \ relacionamento com Deus. Todavia, os cristaos se conver- tem a Jesus num dia e no dia seguinte tentam bancar sozinhos, por esforco proprio, as transformagées que julgam serem decorrentes dessa conversao, buscando o melhoramento comportamental que a justifique ou mantenha. Chamam isso de “Santidade pessoal” ou “Santificagao””. Nao percebem que adotam, entao, um “outro deus”, pois se 0 relacionamento com Deus depende da santidade do cristao, logo, o amor de Deus é condicional”". Aqui comega o esgotamento espiritual da maioria. Estabe- lece-se uma nova base para o crescimento cristao. E isso, inevi- tavelmente, vai falhar! Vai falhar sempre! Nenhum passo rumo a qualquer maturidade espiritual pode ser dado senao no caminho dessa Graga. Ja esta evidente que a vida dita “crista” que acontece fora do chao da Graga de Deus sé gera doengas espirituais, psi- coldgicas e existenciais. Gera religido, mas nao sedimenta a paz de Deus. Gera mudangas comportamentais, mas nado renova o 290 Joao 15:3-5; Efésios 2: 291 1 Joao 4:16-19; Romano Filipenses 1:6; Colossenses 2:18-23 11 71 Un sé caminko homem interior. Pode gerar novos habitos, mas nao assegura um novo cora¢ao. Santidade pessoal é fruto da entrega ao Amor Incondicional do Pai, e nao uma nova base. Ao contrario do que se propée, a “santidade’” dos cristaos sé ali- mentaa carne, pois tal esforgo de desempenho para Deus foca a espi- ritualidade no pecado e nao em Deus, e produza obsessao de vencer por conta prépria 0 pecado que habita em mim, segundo Paulo. E, entio, a certeza da culpa nos deita nos bracos do pecado (Leia Ro- manos 7, em especial os versiculos 5-8). Como a forga do pecado éa Lei*”, fica estabelecido um ciclo infeliz: 0 cristao opta pela hipocrisia para sua aceitagao no meio “santo”, opta pela performance para se destacar nesse meio, e prefere obedecer a uma lista de regulamentos comportamentais para que fique “quite” com sua consciéncia reli- giosa, que é paga, ameninada, orgulhosa e meritdria, por ser toda fundamentada em Justiga Prépria®’. A Lei da Graga inverte os polos da Etica Religiosa, muda a dire- cao da espiritualidade. Veja que eu sou aceito para poder ser melhor, nao sou melhor para poder ser aceito™*! Uma vez interiorizada, a Conversao remove uma montanha in- findavel de culpas que foram abolidas em Cristo; nao s6 as culpas decorrentes das ages praticadas, mas a culpa propria da minha es- sencialidade, porque eu sou pecador por natureza. Eo que sai do meu coragao que me contamina. Nao veio de fora de mim. E 0 pecado que me habita, conforme Paulo diz em Romanos 7:7-25. Sendo assim, o Pecado que esta abolido é 0 Pecado que eu SOU, e nao s6 0 que eu FACO. Assim, santidade vem de sentir-se em paz na Graga, quando entendo, pela FE, que 0 que sou em Cristo é 0 que vale; isso para que eu possa ir sendo 4 medida que cresgo*’. Portanto, santificagao é 0 apelido do crescimento da consciéncia na Graga dentro de nés. 292 1 Corintios 15:56 293 Filipenses 3:8-9 294 Efésios 295 2 Corintios 5:14-21 296 2 Corintios 3:18 -7 72 A Gragaéaleide Caminke Por que isso parece diferente do que chamamos santidade no meio cristao? Porque no meio cristao a visdo de santificagao nao é biblica; ao contrario, é pag e cheia de justi¢a propria. Sim, 0 que chama- mos de “santificagao” é exatamente aquilo que os fariseus ensina- vam: ser zeloso da lei ou de uma lista de comportamentos, ainda que se saiba que se tornar um perfeito cumpridor da lei nao tem valor algum””. Agora olhe para Jesus e veja o que é Santidade: Santo, para Jesus, é aquele que nao julga o préximo**; que anda mais de uma milha com o inimigo; que da a capa para cobrir o frio do ad- versdrio™”; que nao passa ao largo quando vé um homem caido na estrada*”; que dé 4gua com amor aos irmaos como se fosse 0 proprio Jesus quem bebesse; que veste o nu, abriga o drfao, acolhe o desamparado, abre a alma ao faminto, e nao se esconde de seu semelhante™. Sim, para Ele, 0 santo é quem cré; é quem busca a verdade e a humildade, enquanto o pecado é a incredulidade*”. Santidade, para Jesus, é simplicidade e gratidao. E, conforme Je- sus, 0 santo é alguém livre para amar... Quanto mais santo se é, mais voltado se fica para o proximo e menos egoista se torna o Ser. Por qué? Ora, porque aumentando a consciéncia na Graga, aumenta, na- quele que recebeu de Graga, a vontade de doar Graga. Desse modo, aGraga opera a Lei do Amor. Quem recebeu perdio perdoa; quem recebeu graca derrama gra¢a; quem nao foi julgado, porque Jesus foi julgado em seu lugar, nao julga™’. A Lei da Graga, portanto, é 0 Amor e a Sintese do Evangelho pregado por Jesus, que ensinou a Graga de Deus 0 tempo todo sem, contudo, nunca ter se valido do termo. 297 Filipenses 3:4-8 298 Lucas 6:37 299 Mateus 5:38-41 300 Lucas 10:25-37 301 Mateus 25:34-40 302 Jodo 10:22-38 303 Romanos 12:9-21 73 Un sé caminko Mas, em Cristo, temos a Lei da Graga para os humanos: le. Amaa Deus coma plenitude de teu ser*". 2°, Amao teu préximo como a ti mesmo*. 3°. Ama teu préximo fazendo a ele tudo aquilo que tu mesmo queres que os outros fagam a ti®”*. 4°. Jamais facas ao teu proximo aquilo que tu mesmo nao queres que seja feito a ti”. 5°, Séjusto com a Justiga que faz o bem e que é capaz de perdoar oerro*®, 6°. Sé misericordioso conforme a misericérdia que tu queres receber de Deus e dos homens’. 7°. Ségrato em todas as coisas de acordo com a consciéncia que tens de que nada te é devido, posto que tudo que és e tens te foi dado*”’. 8°. Sé cheio da fé que age pelo amor e que realiza o fruto da jus- tiga, que é paze alegria no Espirito Santo*". 9°. Perdoa sempre e sempre serds perdoado, posto que assim confirmas com atos a fé que tens de fato acerca de que tudo Esta Consumado, pois quem perdoa também esta confes- sando que cré na Cruz’. 10°.Admite 0 pecado, abra¢a o perdao, levanta-te, anda e segue o verdadeiro Amor*"*! Esta é a Lei da Graga conforme o ensino do Evangelho. Ora, tal Lei nao vem de fora, mas nasce dentro, e nao é algo que se alcance por 304 Mateus 22:36-38 305 Mateus 22:39-40 306 Mateus 7:1-12 307 1 Pedro 3:8-9 308 Jodo 7:24 309 Lucas 6:27-38 310 1 Timéteo 6:6-8; 1 Tessalonicenses 311 Romanos 14:17-18 312 Mateus 18:21-35 313 Mateus 9:1-13; 1 Joao 4:7-21 74 A Gragaéaleide Caminke esforcado-esforgo, mas sim com o supremo esforgo-da-entrega que se traduz em Confianga Total na Graga de Deus. Na Lei da Graga, a obediéncia amorosa é gerada pelo descanso, e nao o descanso pela obediéncia®". Isso é santidade, conforme Jesus. Na Lei da Graca, as obras sucedem a fé, embora a fé que nao pro- duza obras de amor esteja morta. Na Lei da Graga, o trabalho é confiar e descansar no que Esta Feito, pois é dai que o ser capta sua energia para realizar eficazmente aquilo que é Lei do Amor. Assim é 0 Caminho-Lei-da-Graca! Bem-aventurado aquele que © segue em confianga. Ora, isto é verdade de sempre. Mas hoje, se praticado, é pura revolugao! O que pode haver de mais divino que o amor, e, ao mesmo tempo, tao pouco escolhido quanto ele? O que pode haver de mais dura- douro e eterno que 0 amor, e que seja mais rejeitado do que ele? Que ha que possa ser antes do amor, e, apesar disso, possa ser deixado tao para depois quanto ele? Assim, a Porta é Estreita porque ela leva para o caminho do amor. E nada ha que os nossos instintos mais aborrecam do que o amor. Quem esta disposto a perdoar sempre? Quem devolve o mal com o bem? A maioria foge. E muitos praticam o mal apenas para nao serem importunados. Nao querem se envolver com a bondade e a misericérdia, pois sabem que todo aquele que se deixa enlagar nas re- des do amor e seus frutos certamente saberd que 0 amor tudo sofre**. E os preguicosos existenciais tornam-se maus porque tém preguica de amar. Esta éa trilha mais escolhida; so muitos os que andam por esse caminho, pois ele é largo. Se alguém nao quiser ser molestado, nao cometa nenhuma bon- dade e nao se vicie nela. A trilha menos percorrida é o Caminho do Amor. Nele se entra pela “Porta Estreita’, e poucos sio os que se deixam seduzir pelo encanto do amor pela vida, que é também paz 314 Romanos 4:4-6 315 1 Corintios 13 75 Un sé caminke e alegria simples. E muito estreita a vereda do contentamento. E a maioria se sente otaria quando anda por ela’!®. Contudo, quem preserva sua vida do Bem a perde, mas aquele que a doa no infimo espaco de tempo dessa existéncia se preservara paraa vida eterna”. 316 Provérbios 4:10-18; Mateus 7:13-14 317 Marcos 8:34-37 76 Vinde a mim, todos vs que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coragao, e encontrareis descanso para vossas almas. Jesus de Nazaré ¢ YX Graga é 0 convite de Deus a crescermos como Gente ainda Ot nesta vida. Veja: Quando meus filhos eram meninos, eu os tratava com lei, embora a graga do amor fosse a razao das regras. Mas a medida que foram crescendo, ia ficando claro para eles que 0 tempo da “tutela paterna” estava cessando: fui deixando-os mais li- vres, visto que a estacao da “consciéncia propria” estava pronta para se abrir em frutos de autocompreensao. Paulo diz que a Lei foi um tutor, um escravo a servigo da infanti- lidade da consciéncia. Quando, porém, veio a plenitude dos tempos — a idade para se ficar adulto —, Deus enviou 0 Seu Filho e nos deu a Nova Alianga, inscrita na mente e no coracao, a fim de que deixdssemos de ser criancas em estado debildide de tutela permanente e nos torndsse- mos homens, com consciéncia propria*'’. Esta é a Vontade de Deus: nos tornar a semelhanga do Seu Filho Jesus Cristo**! Crescimento espiritual nao é outra coisa senao nos tornarmos parecidos com Aquele que agora vive em nos. Ele vive em nds para crescermos! E crescer pressupé6e ser livre e consciente. 318 Galatas 3:19-29 - 4:1-7 319 Romanos 2 Corintios 3:13-18; Efésios 4 77 Un sé caminko Sendo assim, o grande “problema” da Graga é a liberdade que ela gera. E liberdade é apavorante, nos deixa sem chao, da vertigens na alma. Ninguém quer liberdade, porque ela nos obriga a andar com as proprias pernas, concede-nos a béng¢ao de pensar, sentir, discernir € nos julgar — ou seja, nos faz seres autoconscientes. Tornamo-nos capazes de olhar para dentro, de crescer como gente, de repensar valores, de conhecer a nés mesmos, de caminhar por principios e nao por regulamentos, de escolher o bem e rejeitar 0 mal por nés proprios™®. Consciéncia pressup6e a preexisténcia de liberdade. F tal liberdade s6 se manifesta em plenitude quando debaixo da Graga, pois é somente nela que se perde o medo de ser, pois, nenhuma condenagao ha! O problema é que a maioria das pessoas pensa que liberdade induz ao erro. Nenhum erro poderia ser maior! A Graga nao é com- pativel com a entrega da vida a pratica do pecado e da iniqiiidade! Liberdade e Santidade nao sao antagénicas entre si: “Continuaremos nés a pecar para que a Graga aumente” »? A liberdade da Gracaest4 a favor da santidade e nao contra. Quem é santo é também livre, pois nao existe Santificacao sem liberdade! Em resumo: Santidade é saber viver todas as coisas que sao li- citas, tendo discernimento do que convém e o que edifica a propria vida eado proximo™®. O santo viverd pela fé. Ou seja: em confianga nao em si, mas no Amor de Deus. E toda conquista interior que lhe aconteca nao é seu mérito, mas Graca de Deus sobre ele; e sobre tais conquistas ele nao fica alardeando coma boca, visto que, se sao verdadeiras, elas serao percebidas pelo fruto da vida, em amor e misericérdia*. O santo nem percebe que é santo, enquanto 0 reli- gioso precisa que os outros percebam sua “santidade’, e para tanto ele trabalha, conforme sempre se vé nos choques de Jesus com os fariseus e “mestres” de Seu tempo™. 320 Hebreus 5:13-14 321 Romanos 8:1 322 Romanos 6:1-23 323 1 Corintios 10:23-31 324 Mateus 12:33 325 Mateus 6:1-8,16-18 78 A tiberdade de ser Caminko Portanto, o Caminho da Graga nao cria o espago da libertina- gem, mas tao- somente o da Liberdade de Ser, sem os medos que decorrem das neuroses provocadas pela Lei ou pelas listas religiosas de “podes-e-nao-podes”. A libertinagem é 0 polo oposto do legalismo, e ambos nascem da glorificacao do egoismo e fazem sempre muito mal ao individuo e ao proximo com ele. Liberdade em Cristo nao serve para dar ocasiao 4 carne — 0 culto ao umbigo — **, mas para nos colocar a servi¢o do bem de todos na vida! Ninguém se esquega de que a Fé que nos libertou se manifesta em nds pelo Amor™”’! Do contririo, tal fé ja nasceu morta! Sou acusado por alguns de pregar uma vida livre para pecar. Mas saibam: prego a Palavra que afirma que o homem é livre para ficar livre do pecado se caminhar na liberdade do Evangelho da Graga, 0 qual sempre nos poe diante do Caminho sobremodo excelente, que é0 Amor, ante o qual nao ha Lei***, posto que o amor projetaa simesmo para além da Lei de Moisés, pois ele se submete a Lei do Espirito e da Vida. Quem segue a Lei da Vida sabe (ou vira a saber) que 0 pecado pode secara alma e tirar dela a alegria de ser de Deus”. O que os cristaos precisam entender com urgéncia é que nao ha melhor lugar para conhecer nossa propria verdade senao no solo seguro da Graga de Deus, onde nada pode nos separar do Amor de Deus*®*! Ha somente aceitagao e renovagao! Primeiro se percebe tal qual se é*'; depois, o Espirito promove seus frutos em nds, enchendo a vida de paz, alegria e amor*”. Mas, paradoxalmente, os cristios tém medo de se enxergar como gente. Desse ponto em diante, a maioria confunde descanso e paci- ficagao com vagabundagem existencial. Ha pastores e mestres que, embora convencidos, nao pregam 0 caminho da Graca por medo de 326 Galatas 5:13-23 327 Efésios 3:14-19 328 Galatas 5:22-23 329 Salmo 51 330 Romanos 8:35-39 331 Isaias 6:5-7; Tiago 1:23-25 332 Efésios 5:8-10 79 Un sé caminko que os cristaos vivam vidas anarquicas. E assim negam a Verdade —o que se torna um crime maior do que abusar dela! Sim, sera que porque tem gente que s6 quer se sentir melhor ao contrario de me- Ihorar,a Mensagem de Jesus é punida? E porque o ouvinte a perverte cinicamente que a Palavra da Boa Noticia do Amor Incondicional de Deus é censurada como culpada? Nao se engane: crescer em entendimento e experiéncia da Graca de Deus demanda esforgo de fé e busca disciplinada de desenvolvi- mento interior, que é fruto de auto-exame, tarefa que seria insupor- tavel sem um coragao pacificado pela Graga. Quem pode ser trans- formado a partir do medo da condenagao**? A ameaga, a inseguranga e a puni¢ao — comuns nas pregacées dos pastores do medo — nao aperfeigoam coisa alguma, pois acen- tuam a consciéncia de pecados sem remoyé-los completamente, exi- gindo os constantes sacrificios e votos que os cristdos tanto se orgu- ham de oferecer. Basta uma leitura atenta do capitulo 10 de Hebreus para isso ficar bem claro! As conseqiiéncias da falta de liberdade de Ser-Sendo estao ai, bem diante de nds. $6 nao vé quem nao quer! Pois, para correspon- der o quanto antes 4 norma massificada, as pessoas artificializam o agir de Deus, operando em si mesmas uma “transformacao de oca- sido’, uma conversao para fins eclesidsticos, uma supressao de tudo que choca a religiao, uma espiritualidade de “fachada’, mas que seja compativel com a média comunitaria. Essa falsificagao do lavar regenerador e renovador do Espirito da conta de instituir mudangas para fora do ser, exclusivamente com- portamentalistas, baseadas no fazer, e medidas pelo desempenho, a priori, dentro dos muros da “igreja’. E tudo isso sem seu correspon- dente interior de crescimento na Graga e na Verdade. E a figueira sem frutos, mas adornada pelas folhagens que camuflam a nudez, propria do outono da vida". Fora do Espirito e do ambiente de Gracga, quem se percebe as- sim nao se reconhece, e se assusta, se escandaliza, se choca, se culpa, se penitencia. Quando finalmente “surta” e se sente sem qualquer 333 Romanos 7:18-25, 8:1-6 334 Salmo 1:1-3; Mateus 21:18-20 80 A tiberdade de ser Caminko identidade em Deus, se afasta ou é afastado do seu meio religioso, porque o que “sobe” das profundezas da alma é como um vulcdo em erup¢ao por muito tempo reprimido, nao tratado, negligenciado! O cristao, entao, nao sabe por que “depois de tanto tempo de evange- lho” o que habita seu interior sao as mesmas raivas, angustias e es- cravidées de outrora, mas agora travestidas de “santidade exterior’; e existem os mesmos bichos vociferando rancores e preconceitos, s6 que agora legitimados pela interpretacdo adaptada da Biblia, que esconde o crente sob plumagens triunfalistas: a raga cheia de méritos por ser eleita uma nagao “santarada’, um povo que “se acha” por ser designado propriedade exclusiva de Deus. Habilidosos em ocultara verdade do Ser, seguem sem qualquer compreensao de que tudo que se manifesta carrega a interven¢do da luz**! Portanto, na comunidade dos discipulos nao carregamos ilu- sdes! Nao estamos esperando ninguém virar anjo, nem levitar a 10 centimetros do chao, nem ser levado pela carruagem de fogo de “san- tidades” que nao conseguem viver neste mundo*®. Ao contrario, posso afirmar que meu esforco pessoal é na ten- tativa de nao me chocar com mais nada, posto que nao ha nada que vocé tenha feito que, ao menos em potencial, nao exista em mim também*”, Nao lidamos com robés, nem com supercrentes ufanis- tas, nem nos interessamos por comportamentos performaticos s6 para dar a sensacao de que tudo esta sob controle na comunidade “vigiada’. Diante disso, fica aqui declarada a base de qualquer aconselha- mento: Esta suspenso 0 “direito” de se escandalizar com 0 que quer que seja verdade sobre vocé. Prefiro caminhar com vocé a partir de suas lutas e temores do que fingirmos que nao trazemos essas coisas embutidas no cerne de nossas tribulacées e dramas de vida. O Caminho, portanto, esta aberto a todos! Somos “devedores” a homens, mulheres, adolescentes e jovens de todas as tribos; pros- titutas, homossexuais, bissexuais e transexuais; fiscais de tributos, empresirios, estudantes, politicos e donas de casa, ateus, catélicos, 335 Efésios 5:13-14 336 Jodo 17:15 337 Romanos 3:21-27 81 Un sé caminke espiritas e esotéricos, ricos e pobres, intelectuais e broncos, casados, descasados, solteiros, amasiados, juntados, separados, divorciados, vitivos**. E a todos quantos se encontram carecidos da Gloria de Deus porque nao conhecem, em seus coragdes, a conversio que 0 Evangelho realiza por meio da fé, através da Graga de Nosso Senhor Jesus Cristo — unico mediador entre Deus e os homens**! .. Ide para as encruzilhadas dos caminhos e convidai para a Festa a quantos encontrardes. E, saindo aqueles servos pelas estra- das, reuniram todos os que encontraram, maus e bons; e a sala do Banquete ficou repleta de convidados. A Pardbola das Bodas, Mateus 22:9-10. 338 Mateus 21:32-32; Tiago 2:1-13 339 1 Timoteo 2:1-6 82 Nao tema, cré somente! Jesus, ao chefe da Sinagoga (i desespero do homem religioso, especialmente do cristao ou (= do judeu praticantes, é 0 mais intenso e forte desespero que o coracéo humano ja experimentou. Isso porque esses dois credos religiosos sio aqueles que propdem a salvagéo humana como obra de justica propria, especialmente de natureza moral. Everdade que qualquer cristao doutrinado que leia essa afirma- ao imediatamente dira que isto nao é verdade quanto ao Cristia- nismo, e, especialmente, nao é verdadeiro em relagao ao Protestan- tismo, em razao de que o arcabougo doutrinario da Reforma postula a salvacao pela fé na Graca de Jesus. Todavia, todos sabem que a doutrina é esta, mas que, na pra- tica, isto nunca foi verdade para a “igreja’. Sim, porque se prega essa salvagao pela fé apenas como argumento alentador na chegada do “novo-crente” Porém, no dia seguinte ao da “Decisao de ser Crente’, o individuo ja comega a ser doutrinado na salvagao e na santificagao moral e auténoma, realidades essas que cada um tem que conquistar a fim de se manter no posto da salvagao pela via de sua irrepreensi- bilidade moral**", Assim, inicia-se falando 0 Evangelho como seducio, e, uma vez feito 0 prosélito, imediatamente ele é transformado num cristao fariseu*". 340 Mateus 20:1-16; Galatas 3:1-11 341 Mateus 2. 83 Un sé caminko 32 O que segue sao barganhas e mais barganhas com Deus*”’, acres- cidas de um estado perene de inquietacao, nervosismo e culpa — medo de cair. Ou, entao, no caso de o individuo estar se sentindo “bom” o suficiente para agradar a Deus pelas suas proprias obras e pela sua propria moral, surge um ser arrogante e insuportavel para a normalidade do convivio humano. Assim nascem 0s crentes, tanto os neuréticos pela culpa e pela barganha quanto o crente “santarado’, que trata com raiva e com in- veja aqueles aos quais acusa de serem pecadores. Sim, porque nesse caso 0 espirito de juizo e acusagao é proporcional a inveja que se tem da liberdade ou do “pecado” do outro. Ou, ainda, um terceiro grupo decrentes, que nao tém inveja do pecado, mas sofrem da prepoténcia da “retidao”. Tenho muita pena desses grupos, mas especialmente dos que ficam neuréticos pelo peso das acusagdes que vém dos crentes fa- riseus. A leitura de Mateus 23 nos mostra que, para Jesus, esses tais eram seres profundamente danosos quando estabeleciam contato com outros seres humanos, sempre com a vontade obstinada de desconstruir a individualidade do outro, fazendo deste um clone do crente-boneco-fariseu. “Ai de vos...” — foi o que Jesus repetidamente disse a eles, aos fabricantes de “crentes em série”. Minha angustia tem a ver com 0 estado mental adoecido que esses cristaos-fariseus multiplicam e aprofundam a cada novo “dis- cipulo” que fazem. Toda hora atendo “discipulos” desses “cristaos-fariseus” e, quase sempre, eu os encontro surtados de culpa, medo, débito e panico de maldigao, visto que para se amoldarem a forma dentro da qual sao postos a fim de se plastificarem nos moldes “legitimados” pela “religiao dos bonequinhos movidos a corda’, tais pessoas precisam matar a si mesmas, aceitando como novo “eu” a caricatura humana proposta pela “igreja”. Nao ha alma humana sensivel e sincera que aceite tais coisas e que nao adoega seriamente. Ora, faz anos que digo isto, bem como faz muito tempo que atendo pessoas sofrendo dos males existenciais 342 Eclesiastes 9:2; Mateus 5:33-37 84 ACaminkeda hmplicidade produzidos pela religiao. No entanto, nos ultimos anos, a “porteira da alma” se abriu, e a boiada dos angustiados saiu numa corrida atro- pelada buscando aos pinotes de angtistia um pasto de liberdade. Mas 0s vicios mentais incutidos pela religido sao os mais difi- ceis de serem removidos e tratados. Isto porque, quando vocé ensina as pessoas acerca da Graca de Deus, a questao que invariavelmente chega é a mesma: Mas como pode ser tao simples? Nao hd mais nada a fazer a nao ser confiar que jd esta pago e viver apenas nesta fé? — é © que me perguntam. A pedra de tropeco dos crentes é 0 Evangelho de Jesus™*. Sim, sao os “crentes” os que terao mais dificuldades de crer que é apenas crer. O que vejo prevalecer entre os cristaos é a mentalidade do “dificil”, a consciéncia paga de Naama *' e os mecanismos de cura sempre carre- gados de “correntes e campanhas’, todas baseadas em barganhas coma divindade, sendo que tal pratica ¢ desavergonhadamente chamada de “sacrificio’. Para esses nunca havera descanso, nem paz enemaalegria que vem da seguranga que se arrima na fé simples e convicta. Na caminhada, as pessoas revelam que nao entendem como, ao terem passado a apenas aceitar a simplicidade do Evangelho de Jesus**, crendo que esta tudo feito e pago™’, que a vida com Deus é simples e que o andar com Jesus é sereno*’, tudo comegou inexplicavelmente a mudar para 0 bem em seus coragdes™*. Mas alguns estao tao viciados na barganha com Deus e nos muitos e intermindveis sacrificios de presenga a todos os cultos, células, campanhas, atividades e muita mao-de-obra dedicada aos lideres da “igreja’, que nao conseguem nem mesmo crer que o bem que lhes esta atingindo é verdadeiro; pois, para tais pessoas, “nao é possivel que seja sé isto”. ‘Todavia, é simples mesmo! E bem-aventurados sao aqueles que nao tropegam na Pedra de Tropeco e nem na Rocha de Escandalo, que 343 1 Pedro 2:1-10 344 2 Reis 5:1-12 345 1 Corintios 2:1-5 346 Efésios 2:11-15 347 Mateus 11:28-30; 1 Jodo 5:3 348 2 Corintios 5:17 85 Un sé caminko éJesus*”, e nem na total simplicidade de Seu Caminho, que ¢0 nico Caminho de Paz paraa vida. Quem nfo cré, que faca seu proprio caminho pelos infindaveis labirintos da religiao... Eu, todavia, me agrado de todo 0 coragao no que Jesus ja fez por mim, perdoando todos os meus pecados, justificando-me perante anjos, deménios e homens, dando-me a chance de andar com tran- qiiilidade e paz entre os homens, com o coracao pacificado na con- fianga no amor de Deus, de cujas maos ninguém e nem coisa alguma pode me arrebatar*®. Quem cré tem. disse Jesus*". Sim, quem cré tem tudo. Quem nao cré, todavia, pode ter tudo — igreja, moral, credo, dogma, sacri- ficios, barganhas, etc.—, porém nao tera nem paz e nem descanso, visto que paz e descanso apenas habitam a fé simples, que nao per- gunta: “Quem subird aos céus”? (isto é: para trazer Jesus a Terra pela encarna¢ao); e nem tampouco diz: Quem descera ao inferno? (isto é: para dar uma ajudinha a Jesus na ressurreicdo dos mortos) *”. E porque nao acreditam no Caminho da Simplicidade proposto por um Deus que abriu mao do status divino e assumiu a forma de um servo humilde de coragdo que os homens se entregam as infin- daveis barganhas patrocinadas pelos Lideres Fariseus. Esses tais, nao contentes em se fazerem filhos do inferno (conforme Jesus disse) **, ainda desejam corromper a alma de muitos, criando seres atormen- tados pelas chamas das culpase acusagées do inferno, negando a eles achance de viverem em liberdade no amor de Deus™™. Portanto, saibam todos: sem fé simples e pura, posta em Jesus, confiante no Evangelho da Graga, nao ha nem paz, nem alegria, nem espontaneidade diante de Deus, e, sobretudo, nao ha satide de alma para viver a vida como Vida, e nao como tormento sem fim. Ora, quando éassim a religido se torna a ante-sala do inferno! 349 Lucas 7:23; Romanos 9:30-33 350 Joao 10:1-17, 27-30 351 Joao 5:24, 6:47 352 Romanos 10:6-11 353 Mateus 23:15 354 Mateus 23:13 86 ACaminkeda hmplicidade Logo, ser discipulo de Jesus é simples, mas nada ha tao dificil quanto a simplicidade, nem que demande mais esforgo que descan- sar no descanso, pois essa nao é a tendéncia natural da alma hu- mana®®. E dificil nao oferecer nada a Deus. E muito dificil apenas confiar que o sangue de outro cobriu vocé*™. £ loucura para os gregos e intelectuais; é escandalo para os judeus e todos os religiosos*”. Para ser discipulo de Jesus a pessoa tem que renunciar ao “si - mesmo”. Ora, isto significa desistir de si mesmo como “produgao” de algo que comova Deus. Negar a si mesmo é¢ deixar toda justiga propria e descansar na justiga de Deus, que, antes de tudo, é justica justificadora. Negar a si mesmo é abandonar a presungao de agradar a Deus pela imagem e pelas produgées proprias. Quem quer negar-se a si mesmo**? Sealguém quiser, entao, tome a sua cruz. Cruz? Que cruz? Ora,a unica. A minha cruz sera sempre me gloriar na Cruz*®. Alguém diz: “Mas nao sobrou nenhum sacrificio para mim?” Sim! O sacrificio é aceitar que o Sacrificio foi feito e consumado*”. Alguém pensa que isto é facil? ‘Tente apenas e tao-somente confiar que esta pago e feito. Tente crer que Jesus é suficiente, nao como chefe de religiao, mas como 0 Cordeiro que tira o pecado do mundo todo. Tente apenas confiar na unica Cruz, e, assim, levar a sua cruz, que é andar pela fé, nunca tendo justi¢a propria, sendo a que vem de Deus. Tente mesmo, e vocé veré como todos os seus sentidos se revol- tarao, e como todos os seus instintos se erigarao em inseguranga. Jesus disse: “Esta Consumado” E a nossa alma, em si mesma, pergunta: “O que mais eu devo fazer?” Jesus tera que repetir Seu sa- crificio todos os dias outra vez? Ou terei eu de oferecer alguma coisa amais*". 355 Hebreus 4:10-11 356 1 Jodo 1:7; 1 Pedro 1:18-21 357 1 Corintios 1:18-25 358 Lucas 9:23 359 Galatas 6:14 360 Jodo 19:28-30 361 Hebreus 9:24-28 87 Un sé caminko Ora, se a pessoa consegue desistir do “si - mesmo’, e tomar a sua cruz, entao, Jesus diz que esse tal vai poder segui-Lo. Quem me segue ndo andard em trevas*?! “Segue-me”— é 0 convite. E ai? O que acontece? Como é esse caminho? Como se faz para seguir Jesus? Ora, ande apés Ele, como Pedro e como os outros. Odiscipulo é um ser em disciplina. Disciplina é 0 queo discipulo vai aprender. Que disciplina? A dos centurides? E claro que nao. A disciplina que o discipulo vai aprender é a disciplina do Amor*. O caminho do discipulo hoje é igual ao caminho dos discipulos nos evangelhos e acontece do mesmo modo. O discipulo s6 sera discipulado se for igualmente acidentado, exposto, aberto, equivocado, humilde, capaz de aceitar a repreensio do amor e aptoa aprender sempre sem jamais acreditar que se termi- nou qualquer coisa antes que se ouga: “Vem, servo bom e fiel; entra no gozo do teu Senhor” **. Assim, nocaminho, 0 discipulo cai, levanta, chora*”, questiona**, se oferece para o que nao deve*’, ambiciona ser maior, menor, mais amado, mais crido, mais usado, mais devotado, mais, mais, e, en- tao, vai aprender enquanto cai, enquanto erra, enquanto sugere equi- vocadamente*”, enquanto acerta*”’, enquanto nega, enquanto corta orelhas*”', enquanto quer fazer fogo cair do céu*”? e enquanto pensa que sabe sem nada saber™*. 365 370 362 Joao 8:12 363 Hebreus 12:4-11 364 Mateus 25:14-23 365 Mateus 26:69-75 366 Mateus 16:21-23 367 Mateus 13:27-29 368 Marcos 10:35-3;) 369 Lucas 9:28-33 370 Mateus 16:13-18 371 Mateus 26:48-52 372 Lucas 9:51-56 373 Mateus 16:5-12 Lucas 9:46-48 88 ACaminkeda hmplicidade Ocaminho do discipulo nao esta escrito em manuais e nem em cartilhas de igreja.O caminho do discipulo é todo o chao da existén- cia. O discipulo é forgado a sé aprender se viver. No caminho do discipulo o mar se encapela, as ondas se levan- tam e os ventos sopram. Por isto, o discipulo muitas vezes tem medo, grita, vé coisas, interpreta-as errado — E um fantasma™'! Seguindo Jesus, o disc{pulo esta sempre seguro, mesmo quando pede o que nao deve e mesmo quando muitas vezes deseja o que lhe faz mal. No caminho ele vé deménios sairem e nao sairem*” julga e ¢ jul- gado e aprende que nao pode julgar™®; se afoga; é erguido e caminha sobre as Aguas; vé maravilhas; encara horrores... Mas adiante dele esta Jesus*” Para se ser um discipulo de Jesus a pessoa tem que ficar sabendo que o Evangelho nao sao quatro livros acerca do que aconteceu entre Jesus e alguns homens e mulheres, ha muito tempo. Para se ser um discipulo de Jesus a pessoa tem que ficar sabendo que o Evangelho esta acontecendo hoje, do mesmo modo, na vida dele. E precisa saber que as coisas escritas no Evangelho*® sao apenas para ficarmos sabendo como é que acontece na nossa propria vida, que é o cenario do discipulado. Eadiante de nds, de todos nds, esta o Senhor. Portanto, numa Estagio do Caminho da Grag¢a vocé encontrarao que Jesus encontrava pelo caminho — ou seja, GENTE! Gente quase sem problemas. Gente com problemas. Gente com muitos proble- mas. Gente atolada em problemas. Gente-problema. Gente solucio- nadora de problemas apesar de serem perseguidos por problemas. 374 Mateus 14:22-33. Ora, a “exposicdo” ao Evangelho tem o poder de re- novar a mente dos discipulos. Todavia, isso é um proceso; e cada um est em uma etapa inta da mesma Jornada de Fé. E todos estao juntos! 375 Mateus 17:14-20 376 Lucas 6:37 377 Mateus 28:20; Joao 10;:2-4 378 Joao 20:30-31, 21:25 89 Un sé caminko Gente se casando. Gente que chegou descasada e se recasou. Gente que vivia traindo e parou de trair. Gente que ainda trai. Gente que se encara. Gente que mente e nunca se encara. Gente que muda. Gente que ouve, ouve, gosta, mas nao muda. Gente madura. Gente infantil. Gente que entendeu. Gente que esta entendendo... Gente que nao entendeu nada ainda. Gente que vai la e supostamente anda conosco por interesses de todas as ordens... Gente que logo vé que é vista em sua dissimulagao. Gente que aceita a verdade. Gente que gosta de tudo até que a verdade as moleste. Enfim, gente é o que somos. Mas, no Caminho, somos gente que prossegue desejosa de encontrar maisda Graga, a fim de aproveita-la, mesmo que muitas vezes seja dolorido. 90 Vhucuwada Cupeo esctindaleda Geaca— fit on hibition Meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em v6s; pudera eu estar presente convosco e falar em outro tom de voz; porque me vejo perplexo a vosso respeito! Paulo, aos cristéos na Galdcia 4:19-20 2D /) or conta do pouco que foi dito até aqui, a Graca é hoje a mais escandalosa de todasas mensagens cristas! No entanto, tam- bém éa tinica que existe! Fa loucura da Cruz! E.0 mais “louco” disso é que nada disso deveria ser louco para nése nem fonte deescandalo, posto que essa mensagem seja o proprio Ensino e Vida de Jesus. E 0 espirito do Evangelho! Mas, incrivelmente, estranhamos a Graga de Jesus, nos assustamos com ela e aceitamos um enredo de perversdes da Mensagem que é muito mais assustador que qualquer Loucura! Sinceramente, quem nao percebe que atualmente nosso Cristia- nismo é, quase sempre, a repeti¢ao dos mesmos contetidos contra os quais Jesus, os profetas do Antigo Testamento, Paulo, os apéstolos e a Palavra se Jevantam nas Escrituras”*? Hoje as pessoas se convertem a “igreja’, nao a Cristo! E por essa razao que os contetidos do Evangelho de Jesus esto tao adulterados entre nds. E pior, parecemos estar com os sentidos embotados para esta percepcao, de modo que o que hoje se vé é uma caricaturizacao de Jesus. O Jesus que nos foi apresentado é um composer do Jesus da “igreja’, o qual é moldado para ficar “parecido” com o grupo religioso ao qual a pessoa pertence. Portanto, 0 Jesus da “igreja’, na maioria das sZ 379 1 Timéteo 1:1-7 91 Un sé caminko vezes, é uma fabricagao feita para validar as teses do grupo. E tal “Je- sus” nao faz nada de bom ou de mal que qualquer outro condiciona- mento mental, psicoldgico e cultural também nao realize. A leitura que fazemos do Evangelho é uma adaptagao. E é também num “Jesus de terceira ou quarta mao” que a maioria das pessoas cré*"! Posso asseverar, com convic¢ao e tristeza, que na igreja evangé- lica atual, primeiro a pessoa tem que ser salva do Jesus inventado. Pri- meiro precisa ser salva do Jesus dos “evangélicos” a fim de conhecer o Jesus do Evangelho. E exagero tal dedu¢ao? Entao, permita-se uma reflexao honesta. E se Paulo estivesse presente num ano eleitoral no Brasil? Se visse e soubesse de todas as negociacdes de almas-votos que sao feitas em Nome de Jesus? E se assistisse pela televisao a venda de todos os sig- nificados cristéos em objetos de energia espiritual paga? E se visi- tasse uma “igreja” e assistisse as filas de pessoas para andarem sobre sal grosso ou para mergulharem em aguas tonificadas do Jordao e a passarem pela Cruz de Jesus a fim de ganharem um carro zero, como pagamento pela sua crenga? E se ele soubesse agora que a fé é um sacrificio que se expressa como dizimos, como troca de béngaos por dinheiro, “sacrificados” no altar-bolso dos pastores, em longas novenas e correntes as mais mirabolantes? O que enojaria Paulo seria ver pastores oferecendo 0 “sangue do Cordeiro” a fim de ungir a casa de tras para frente e da frente para tras. O “Sangue do Cordeiro” nao é mais 0 que Jesus fez na Cruz, mas passou a ser um fetiche, uma magica de bruxos, uma blasfémia, um estelionato satanico dos simbolos de uma Verdade coma qual nao se brinca impunemente*. A carta aos Hebreus foi escrita por muito menos! O escritor dela diria que estao brincando com fogo ardente e consumidor, e cruci- ficando o Filho de Deus nao apenas uma segunda vez, mas todos os dias — fazendo de Jesus um produto de troca**”. Sim! Aquilo que custou 0 alto preco de Seu sangue, para que nos fosse gratuito, agora 380 2 Timoteo 4:1-4 381 Hebreus 10:28-31 382 Hebreus 6:4-6, 7:26-27 92 A heucuada Cup ec scindale da Glaga—paracs csilies é mercadoria a ser vendida pelos camelds do engano, em repetidos sacrificios e indulgéncias™! Admira-me que estejais passando tao depressa Daquele que vos chamou na Graga de Cristo para outro evangelho... Paulo aos Galatas 1:6 Meu Deus, e se Paulo visse?!... Sim, se Paulo nos visitasse? Que epistola nos escreveria? Veria aturdido o regresso da fé evangélica aos tempos dos cultos feitosa Baal e as imagens de escultura. Aquele tempo onde nem som- bra ainda havia das sombras das coisas que haviam de vir — coisas que, inclusive, perderam a simboliza¢ao em razao de Jesus haver sido o cumprimento de todas elas™. Ser evangélico, para o Apéstolo, significava ter compromisso de fée vida com 0 Evangelho de Jesus**. Hoje, ser “evangélico” é perten- ceraumainstitui¢ao religiosa que roubou o direito autoral do termo ese utiliza dele praticando um terrivel “estelionato” de simbolos, his- torias, mensagens e ilustragGes. Hoje, de maneira geral, quando um evangélico “evangeliza’, ele o faz a fim de que a “igreja” cresca como poder visivel. Ou seja, “evan- gelizacao” significa crescimento numérico sob o pretexto de salvar as almas do inferno. Quando Paulo evangelizava, isso significava levar as pessoas & consciéncia da Graga salvadora de Jesus e da possibilidade da expe- riéncia da liberdade-salvadora, tanto na vida pessoal como também na comunitaria. O resultado, portanto, nao é o surgimento de um numero a mais para as estatisticas celestiais, mas uma nova criatura que 0 Espirito da Graga, em Cristo, faz nascer no Novo Homem***! Desse modo, se Paulo estivesse vivo hoje, provavelmente, ele nos diria que nds ainda nado somos convertidos, pois voltamos atras e aderimos aos contetidos que negam a Cruz de Cristo”! 383 2 Corintios 2:14-17 384 Colossenses 2:6-17; Hebreus 8:8-13 385 Filipenses 1:27 386 2 Corintios 5:14-18; Efésios 4:17-24 387 Hebreus 10:32-39 93 Un sé caminko A doutrina do Purgatorio é uma verdade existencial para todos os cristéos — incluindo os protestantes e evangélicos! E por qué? Ora, dizemo-nos “salvos” pela Graga na chegada. Dai em diante, so- mos “santificados” pela Lei (ou por nossas Listas, 0 que é a mesma coisa na inten¢ao). Porém, tal “santificagao” anula a Graca, pois, se a justiga vem pela Lei, Cristo morreu inutilmente™. “Se é pela GRACA, ja nao é mais pelas obras; se fosse, a GRACA ja nao seria GRACA **”, entio ficamos num purgatério existencial sobre a Terra, pois nem nos tornamos verdadeiros filhos da Gragae nem nos entregamos aos rigores da Lei com honestidade. Ao contrario, fazemos 0 malaba- rismo de tentar conter 0 Vinho da Nova Alianga nos odres da Antiga, que se tornaram extintos e obsoletos*””. Assim, nao usufruimos nema satide nem a paz que vem da Graca e, tampouco, conseguimos viver pela Lei. Ou seja, vivemos em per- manente estado de transgressao e culpa. E quanto mais nds existimos nesse “purgatério’, mais orgulho- 80S, raivosos, arrogantes e mal-humorados nos tornamos, pois, no coragao temos consciéncia de que nao somos nem uma coisa nem outra: nem Gente da Graga e nem tampouco 0 Povo da Lei*". Jesus, porém, nao veio ao mundo para criar um Circo, em al- guns casos; uma Penitenciaria, conforme outros; um Hospicio, como acontece cada vez mais, ou um Estado Soberano como o Vaticano Catélico e os “vaticaninhos” dos outros grupos cristaos. Em Cristo, nao temos que ser pré-condicionados por nada que nao seja o fundamento dos Apéstolos e Profetas, cuja Pedra Angular responde pelo nome histérico de Jesus de Nazaré. Quanto a igreja crista, sabemos que ela nao deixara de crescer em numero e em poder terreno. Nao. Seus templos estarao cheios e seu fervor religioso pode até aumentar. Mas saiba que esse nosso Cristianismo nao teré qualquer mensagem do Evangelho a pregar para as proximas geracdes (com suas complexidades psicolégicas e espirituais), a menos que se converta radicalmente a Graga, nao 388 Galatas 2:21 389 Romanos 11:6 390 Hebreus 8:13 391 Apocalipse 3:14-22 voesctindale da Gracga— para csersilies A beucurada Crap como uma doutrina-teolégico-moral, mas como a esséncia de nossa relagao com Deus, com 0 proximo e com o nosso préprio ser! Nossa esperanga é a possibilidade de que Ele ainda venha a ge- rar consciéncias libertas do medo de ser e podendo experimentar a Graga de viver em Cristo, sem os temores que hoje sao tao bem administrados pela “igreja’, na sua obsessao de ser a “conquistadora” do mundo e de seus poderes — incluindoalmas humanas —, embora nao ajude as pessoas a terem uma alma para gozar a vida em Deus e Deus na vida, ainda na Terra, pois 0 “Jesus” da “igreja” veio para que tenhamos medo, e medo em abundancia! 95 OCaminheda capfrewinta comupitiiéa, sequence fans Eu Sou o Caminho. Jesus /termo Ekklesia sintetiza de forma impressionante o ser Igreja de Jesus: Sao os chamados para fora. No entanto, na histéria crista preponderou o caminho inverso que torna os discipulos em gente “chamada para dentro”, chamada para deixar o mundo, para sé considerarem “irmos” os membros do “clube santo” ea nao bus- carem relacionamentos fora de tal ambiente. Mas, lendo o Evangelho, é dificil conceber que Jesus sonhasse com aquilo que depois nés chamamos de “igreja”. Quem pode ouvir 0 ensino de Jesus, com toda sua desinstalagao, com toda a sua mobilidade, com toda énfase na igualdade de todos, com toda denuncia aos poderes religiosos e com toda a pertinéncia a vida — fosse para curar a mente, 0 corpo ou 0 espirito™”; fosse para anunciar a destruigdo do Templo como lugar de Deus™; fosse para “beatificar” samaritanos*”' e “demonizar” religiosos sem coragao**? — eainda assim imaginar que Jesus tenha qualquer coisa a ver com 0 que nés chamamos de “igreja’, seja aquela que se abriga em Roma, sejam aquelas que tém tantas sedes quantos pastores, bispos e apés- tolos megalomaniacos existirem? 392 Mateus 9:1-13 393 Marcos 1 Joao 4:19-24 394 Lucas 10:30-37; Lucas 17:11-19 395 Mateus 23:13-35 97 Un sé caminko Nao se vé Jesus tentando criar uma comunidade fixa e fechada, como também nao percebo, em Seu espirito, qualquer interesse nesse tipo de reclusao comunitiria. Por isso, o termo igreja perdeu seu significado original, e, pelo uso milenarmente pervertido, a expresso ja nao é util para designar a jornada individual e comunitaria dos discipulos de Jesus. De fato, a idéia de igreja ficou tao possessa de outros significados que usar © termo fala da antitese do que se desejaria expressar, conforme o Evangelho. Jesus nao plantou igreja em nenhum chao que nao fosse 0 do coragao das pessoas™*. Igreja, de acordo com Jesus, é comunhdo de dois ou trés em Seu Nome e em qualquer lugar”. Igreja, de acordo com Jesus, é algo que acontece como encontro com Deus, com 0 proximo e coma vida, no caminho do Caminho. Para Jesus, o lugar onde melhor e mais propriamente se deve buscar o discipulo é nas portas do inferno, no meio do mundo™! Nesse Caminho, as maiores demonstragées de fé vem de fora da religido. Vém de publicanos como Zaqueu**” e de meretrizes como a pecadora que ungiu Seus pés". Vem da mulher samaritana’”', do centuriao romano™, da mulher siro-fenicia"” e do ladrao da Cruz. Percebe-se que tanto “malandros arrependidos” quanto “réus con- fessos” podem encontrar seu repouso. Portanto, Seus discipulos sao treinados a espalhar sementes, a salgar, a levar amor, a caminhar em bondade ea sobreviver com dig- nidade no caminho, com todos os seus perigos e possibilidades em 396 Lucas 17:20-21 397 Mateus 18:20 398 Mateus 10:16; Joao 17:15-23 399 Lucas 19:1-10 400 Lucas 7:36-50 401 Joao 4:1-42 402 Mateus 8:5-13 403 Marcos 7:24-30 404 Lucas 23:39-43 98 OCaminke da eyperiinciacomaniléria segunile Jesus 405 aberto“”. Com deménios, tempestades, competi¢oes entre si, certe- zas satanicas, exageros desnecessarios, medo de trair, frageis certezas de jamais trair, traigao explicita, negacao e morte! E, além disso tudo, vé-se que no Caminho com Ele os ventos ces- sam, as ondas se abrandam, as Leis do Universo sao relativizadas", os deménios sabem quem Ele é e quem nos somos Nele*”! Jesus é 0 Caminho em movimento nos caminhos da existéncia. E Seus discipulos sao acompanhantes sem hierarquia entre eles“*. No mais, existem as multidoes, as quais Jesus organiza apenas uma vez, eisto a fim de multiplicar paes. De resto... Elas vém e vao... Ficam ou nao... Voltam ou nunca mais aparecem... Gostam ou se escandali- zam... Maravilham-se ou acham duro o discurso... Mas Jesus nada faz para mudar isso. Ele apenas segue e ensina a Palavra, enquanto cura os que encontra. Nao! Jesus nao pretendia que Seus discipulos fossem mais ir- miaos uns dos outros do que de todos os homens. Nao! Jesus nao esperava que o sal da terra se confinasse a quatro dignas paredes de um Saleiro Comunitario””. Nao! Jesus nao deseja tirar ninguém do mundo, da vida, da socie- dade, da terra, mas apenas deseja que sejamos livres do mal. Nao! Jesus nao disse: Eu sou o Clube, a Doutrina e a Igreja; e nin- guém vem ao Pai sendo por mim. Assim, na assembléia dos chamados para fora'"', todos se encon- tram com o irmao de fé e também com o préximo que nao tem fé, e todos sao tratados com amor e simplicidade. Em Jesus, o discipulo é apenas um homem que ganhou o enten- dimento do Reino e vive como seu cidadao, nao numa “comunidade paralela’, mas no mundo real. 405 Lucas 10 406 Lucas 8:22-25 407 Atos 19:13-16 408 Lucas 22:24-27 409 Marcos 12:28-31 410 Mateus 5:13 411 Hebreus 13:10-14 99 Un sé caminko A COMUNIDADE “DO CAMINHO” No livro de Atos dos Apéstolos, um dos modos de designar a Igreja como comunidade dos discipulos era chama-la de “o Cami- nho’,e os discipulos, de “os do Caminho*””. Portanto, tal designagao € anterior ao tempo em que os cristaos vieram a ser “oficialmente” nomeados “cristaos”. Paulo é 0 apéstolo em razao de quem essa designacio de “o Ca- minho” mais aparece em Atos. No inicio, ele perseguia “os do Cami- nho”; ou, como ele também diz, “... para levar presos os que eram do Caminho’, ou ainda “... este Caminho, ao qual chamais de seit: Ora, a designagao “o Caminho” é, no meu modo de ver, aquela que melhor expressa 0 espirito do Evangelho como movimento hu- mano no mundo. E por qué? Primeiro, porque Jesus é 0 Caminho. Segundo, porque 0 chamado da fé é “hebrew”, e ser hebreu é ser alguém do caminho, da viagem, da peregrinacdo, como foi Abraao, o hebreu - o Pai da Fé. “Hebrew” vem da raiz da palavra que expressa oato de cruzar, de atravessar, de seguir em frente. E terceiro, porque, historicamente, um dos maiores problemas da Igreja foi o fato de que ela deixou o mundo e, assim, deixou de ser Caminho no chao da Terra. Por conta disso, logo a palavra “igreja” passou a designar algo geografico, fixo, estatico e imutavel, e perdeu assim sua vocagdo ca- minhante e, por essa via, tornou-se cada vez mais uma estrutura que vive de sua propria institucionalizagao. No entanto, a designacao “o Caminho” propée que a Igreja seja a comunidade dos que se retinem para adorar, discernir a Palavra e ajudar-se mutuamente, mas que nao se fecham num ambiente e nem. chamam o ambiente fisico de “Igreja’, posto que Igreja, de fato, é um movimento de discipulos queandam no Caminho enquanto trilham a Fé no chao desse mundo, como gente boa de Deus na Terra! Portanto, a referéncia paulina aos “do Caminho” é, provavel- mente, a melhor designagao para traduzir o espirito livre, desinsta- 412 Atos 19:8-9, 23; 24:14-16 100 OCaminko da esfe wéncia comunildriasegunile Jesus lado, peregrino, ajustavel aos tempos e aos desafios da jornada que o Evangelho prope aos discipulos de Jesus. O Caminho em Cristo, conforme as narrativas dos evangelhos, é mais que um lugar ou um “clube de iluminados”. Trata-se de um movimento de subversao existencial do Reino de Deus na Terra. Por esta razao, o Caminho da Graga ¢ feito de gente desafiada a assumir seu papel de sal que se dissolve e some para poder salgar; de fermento que se imiscui na massa e desaparece a fim de subverter com a vida do reino*'’; de pequena semente que se torna grande e generosa arvore que a todos acolhe'"; de Casa do Pai para os Filhos Prédigos e também para os Irmaos Mais Velhos para que se alegrem com a Graga do Perdao*'*; e um ambiente espiritual no qual até o “administrador infiel” possa se “consertar’, e, assim, tentar fazer 0 melhor do que restou''’. No Caminho, todos sao irmaos e ninguém é juiz do outro. As- sim, ajudam-se, mas nao se esmagam uns aos outros, posto que no Caminho todos caem e se levantam; todos enfraquecem, mas nao desanimam; todos sao humanos, e com humanidade sao tratados, conforme 0 Dogma do Amor. Eo mesmo Dogma nao permite abusos de uns para com os ou- tros, posto que o Caminho é de Graga e Perdao, e nao a espinhenta vereda da disputa, da supremacia e do abuso; pois a Graga jamais sera a Graxa dos descomprometidos! Jesus nunca quis fundar uma religiao"”. Essa foia razdo pela qual nada foi mais danoso para a genuina fé do que terem-na feito tornar- se uma religiao entre as demais. Seguir Jesus é aceitar o seu modo de ser, é assumir como vida as Suas palavras e é dar testemunho do Evangelho nao como uma “estratégia de evangelizacao” (proselitismo e marketing), mas como a natural vocagao da Vida em Cristo"*. 413 Lucas 13:20-21 414 Lucas 13:18-19 415 Lucas 15:11-32 416 Lucas 16:1-12 417 Joao 18:36 418 Romanos 8 101 Un sé caminko O MODELO DO CAMINHO O que ser, entao, que o Senhor tinha em mente quando disse aos seus discipulos que permanecessem em Jerusalém até que do Alto fossem revestidos de poder’? Jesus determinara que o poder do Espirito os fizesse sair em de- sassombro pelo mundo, pregando a Palavra da Boa Nova, ensinando singelamente os discipulos a serem de Jesus em suas proprias casas eculturas. Desse modo, se teria sempre um movimento hebreu, crescente, progressivo, livre, guiado pelo Espirito, e completamente semelhante ao que eles haviam vivido com Jesus durante o Caminho, naqueles trés anos de estrada em que construiram o Evangelho ao ar livre, nas praias da Galiléia, nos desertos da Judéia, nas passagens por Samaria, nas terras de Decapolis e nos confins da Terra. Tudo o que Jesus queria era que os discipulos continuassem dis- cipulos e que os apéstolos fossem os servos de todos, sem haver al- guém maior nem menor, e muito menos um lugar mais santo ou um centro de poder. O que sei é que Jesus esperava que tudo quanto Ele havia dito an- tes acerca de como se deveria proceder, de cidade em cidade”, fosse agora vivido como uma agao continua, num fluxo ininterrupto, num vai-e-vem constante, e como um poder que nunca tivesse um trono, nem uma cidade santa, nem um vaticano. Alguém, com razao, diria que tal projeto nao seria possivel, visto que ninguém consegue viver sem um centro de poder. Entretanto, parece que ainda nao se discerniu que o convite de Jesus é contrario a toda légica de poder, e nao propée nada que nao seja Hoje, e que nao obriga ninguém a pavimentar o futuro de Deus na Terra mediante a construgao de alguma coisa duradoura™. O que os cristaos precisam saber é que Jesus nao era cristao, e que tampouco quis Ele fundar o cristianismo, nem mesmo teve interesse em algo que se assemelhasse 4 “civilizacao crist@’, conforme nds a conhecemos do ano 332 de nossa era até hoje. 419 Atos 1:4, 8 420 Lucas 10:1-20 421 Lucas 21:5-6 102 OAaminkodacy cia comunilériasegunide Jesus Xx Na realidade, quem entendeu o Evangelho e seu significado sabe que o “cristianismo” se tornou uma perversao da proposta de Cristo, transformando o Evangelho puro e simples numa religiao, com dogmas, doutrinas, usos, costumes, tradi¢Ges imutaveis e muita barganha com os homens, em franca e paga manipulacao do nome de Deus. Um ateu famoso nao esta errado ao afirmar 0 ébvio: “A religido agrava e exacerba os conflitos humanos, muito mais do que 0 tribalismo, o racismo ou a politica” (Sam Harris — Carta a uma Nagao Crista). O poder dos discipulos, paradoxalmente, esta em nao ter poder. E o convite para que se morra a fim de que se tenha vida é também para a igreja, que é ansiosa para mandar na vida e controlar o mundo. Assim, pretendendo “salvar” a sua vida neste mundo, a igreja nao sé perde a sua propria vida, mas deixa de ganhar o mundo. Para Jesus, o duradouro era justamente aquilo que nao se poderia pegar, nem fixar, nem pontuar, nem ser objeto de visitas turisticas, dada a permanéncia sucessiva do arbitrio caracterizado pelo cheiro da urinas dos mandoes. O que Jesus queria era uma multidao de seres-sal-e-luz se es- palhando pela terra, e se diluindo em sabores e luzes que so seriam sentidas, mas jamais se tornando em Salinas ou em Usinas de luz crista a serem visitadas pelos curiosos**. Ele esperava que os discipulos fossem como o Mestre, e que aqueles anos de Caminho nao ficassem cristalizados nas paginas dos registros dos evangelhos, mas que se tornassem um modo de ser da- queles que O seguem. Jao Reino de Deus é como o fermento escondido... Até que in- vade e permeia toda a massa da humanidade... Sem ninguém saber como! E sem que ninguém possa dar gloria a mais ninguém, senao ao Pai que esta nos céus. Alias, a proposta de Jesus é tao extraordinaria que a vontade de aparecer nao pode resisti-la. O sal, por exemplo, foi usado por Jesus como ilustragao desse “desaparecimento” da Igreja na terra. Ele as- socia 0 sal ao sabor, e nada mais. O sal tem que ter sabor, senao ja nao 422 Mateus 5:13-16 103 Un sé caminko presta para nada! E para que o sal salgue e dé sabor, de fato, ele tem que se dissolver nos elementos que recebem o seu beneficio. O sal s6 salga quando morre como sal visivel e se torna apenas gosto, pre- senga, tempero, realidade e bem, embora ninguém possa dizer onde ele esta, podendo apenas dizer: “Ele esté na panela. Mas onde”? Ja a Luz do mundo — “vés sois”! — deveria ser a acéo continua da bondade e da misericérdia, de tal modo que os “de fora’, ao rece- berem os beneficios da luz, pudessem discerni-la como boas obras, e, assim, eles mesmos agradecessem a Deus pelos filhos da miseri- cérdia que Ele espalhou pela terra. Entretanto, o que Jesus propde como simplicidade total logo deu lugar as complexidades regimentais e aos centros de poder. Mesmo dizendo “tal nao é entre vés”— referindo-se ao poder de governar dos reis e autoridades —*, o que se criou desde bem logo foi aquilo que era comum, nao o que era completamente incomum. No cristianismo, Deus tem Seus representantes fixos e certos na terra —o clero, seja ele catdlico ou protestante —, tem suas doutrinas e dogmas escritos por concilios de homens patrocinados por reis e tem na sabedoria deste mundo seu instrumento de elaboracao légica de Deus: a teologia. Desse modo, no cristianismo, “Deus” nao passa de uma “potes- tade religiosa” e de um poder mantido pelos homens, posto que se acredita que, sem 0 cristianismo, Deus esta perdido no mundo™. O mundo conheceu 0 cristianismo, mas nao teve muita chance de conhecer o Evangelho conforme Jesus e segundo as dinamicas livres e libertadoras do Caminho, narradas nos evangelhos, nas quais o unico convite que existe é para seguir Jesus. O Brasil, por exemplo, esta cheio de cristianismo™ e, paradoxal- mente, quase morto do Evangelho. O Caminho nao é uma reforma! Mas, ea Reforma? Para que serviu, entao? Qualo fruto dela hoje? Diante do exposto, talvez nao seja a hora de propor uma Nova Re- forma, tal qual alguns tém idealizado? 423 Mateus 20:20-28 424 Atos 17:24-28 425 Mateus 7:21-23 104 OCaminko de eyper cia comunilériasegunide Jesus Nao! Reformar a religiao é ainda remendo de pano novo em veste velha ***! Buscar reformar o cristianismo nada muda, visto que ape- nas se adia o comprometimento radical que o Evangelho requer! O Evangelho nao propoe uma religido, mas um Caminho Exis- tencial! A Reforma Protestante elegeu 95 teses, arrancou os idolos do lu- gar do culto eos retirou da devogao dos fiéis, aboliu o papado, acabou com boa parte do clero conforme a formatagao catélica e afirmou que a Graca, Cristo, a Escritura e a Fé eram os “pilares” sobre os quais a igreja deveria ter seus fundamentos. No entanto, a Reforma seguiu se utilizando dos mesmos métodos de estudo e interpretagao biblica, criando seus préprios credos, dogmas, doutrinas e leis morais. A Re- forma transformou-se num Catolicismo que fez Dieta. De fato, a coragem que se demanda desta geragao é bem maior do que aquela que levou camponeses oprimidos pelo papado de Roma a Reforma Protestante. Digo isso porque, naquele caso, a mudanga nao era radical. O Evangelho permaneceu “aprisionado” a Religiao; ea coragem revolucionaria para se viver 0 processo continuo de con- versao e de nao-conformagao com este mundo é aquela que se deixa levar pelo vento do Espirito e caminha pela Fé em continuo processo de transformacao*’. A REVOLUGAO DO EVANGELHO, Diferentemente de uma reforma, nds cremos numa Revolucao do Evangelho. A Revolugao sé incluira os cristaos se eles tiverem a coragem de desistir do cristianismo e abragar o supremo e seguro risco de apenas andar conforme a revelagéo da Graca de Deus em Cristo, pela fé, visto que a promessa é que o proprio Espirito sempre havera de nos conduzir a toda Verdade*. A Revolugao do Evangelho nao se atém anenhuma preocupagao com construgao de coisa alguma. De fato, o grande problema sempre teve a ver com a necessidade de seguranca que as pessoas dizem pre- cisar — 0 que a religiao ficticiamente oferece — e que as impede de 426 Lucas 5:36-39 427 Joao Romanos 12:2 428 Joao 16:13 105 Un sé caminko apenas andarem pela fé no que Jesus ja fez e consumou por todos os homens, dai a perplexidade e a inseguranga de ser dos do Caminho. Se quisermos algo sério de verdade, temos que saber que isso demandara de nds uma volta humilde e sem tradigées para a Pala- vra, isso a fim de sermos completamente lavados das tinturas com as quais 0 cristianismo pintou a fé para nds. Sei que o que digo éverdade segundo o Evangelho, mas também sei que tal fé é incompreensivel para as mentes viciadas no cristia- nismo como religido™”, e sei que é desinstaladora demais para aque- les que vivem do negécio clerical cristao*”. O que creio, portanto, é que hé um “Basta”! de Deus em processo de eco no ar... O Reino é Dele. A Igreja é Dele. O Povo é Dele. E Ele mesmo havera de nos surpreender! Quem, todavia, deseja “Reformar o Sinédrio’, e pensa que esta € nossa intengao, nao nos procure; pois “reformar 0 Sinédrio” é so- nho de fariseu; sonho esse que Jesus nunca sonhou; por isto mesmo nunca fez nada a respeito! Nao adianta brigar contra a Potestade da Religiao. Ela se alimenta da briga contra ela. Sim! O édio a alimenta ea rejeicao a fortalece em seus ddios. Quem, porém, desejar 0 Novo, entio, se quiser ajudar, que nao faca mais nenhuma barganha com a religiao crista e, em contrapar- tida, que se entregue de coragdo ao Evangelho de Jesus. Que viva conforme a simplicidade da fé que confia que Tudo esta Feito, e que nao sobrou tarefa complementar e vicdria a ser realizada por mais ninguém, nem pela igreja. O prego queas pessoas pagam pela submissao aos mandamentos de homens é absolutamente inconcebivel'. Esta é a razao por que a maioria doscristaos tem apenas “apologia” doutrindria para fazer em defesa da fé, mas nao é ela mesma a grande apologia do Evangelho pela demonstracao natural de uma existéncia livre e pacificada no amor de Deus. 429 1 Corintios 2:14 430 1 Timsteo 6:3-6 431 Tito 1:10-14 106 OCaminke da esxperiincia comunildriasegunde Sesus Agora, posio o machado na raizde toda drvore*, chegouo tempo de ser ou nao ser; de abragar o Evangelho, ou, de uma vez, assumir que somos apenas filhos de um hibrido, de uma “frankensteinizacao” que monta pedacos da revelacao conforme a necessidade moral, so- cial, politica, econdmica e conforme o curso deste mundo". Desse modo, sei que sou uma voz quase solitaria no deserto. Mas na hora em que milhares e milhées que assim crerem passa- rem a viver livres conforme o Evangelho, entao, sem pai, sem mae e sem fundador, a revolucao se estabelecera: sem sede, sem geografia, sem dono, sem tutor e sem reguladores da fé. Isso, todavia, sé sera real e genuino se Jesus for tudo e se o espirito do Evangelho da Graca se tornar a unica Lei da Vida. 432 Lucas 3:7-9 433 Efésios 2:1-2 107 Wn conuttecdocerevdliigio O REINO E SIMPLES! Ga texto a seguir expressa de modo simples o sentido de andar na pureza e na leveza do Evangelho. Artigo 1° Fica decretado que agora nao ha mais nenhuma conde- nagao para quem esta em Jesus, pois o Espirito da Vida em Cristo"! livra o ser humano de todo o pecado."*. Artigo 2° Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive os sbados e domingos, carregam consigo o amanhecer do Dia Cha- mado Hoje, por isso qualquer pessoa tera sempre mais valor que as obrigages de qualquer religiao**. Artigo 3° Fica decretado que a partir deste momento havera vi- deiras, e que seus vinhos podem ser bebidos; olivais, e que com seus azeites todos podem ser ungidos; mangueiras e mangas de todos os tipos, e que com elas toda pessoa pode se lambuzar“”. Pardgrafo do Momento: ‘Todas as flores serao de esperanga, pois todasas cores, inclusive 0 preto, serao cores de esperanga ante o olhar de quem souber apreciar. Nenhuma cor simbolizar4 mais o bem ou o mal, mas apenas seu pré- prio tom, pois o que dai passar estara sempre no olhar de quem vé"™. 434 Joao 1:29 435 Romanos 8:1-2 436 Lucas 13:10-17 437 Isaias 65:17-25; 1 Corintios 3:21-23 438 Lucas 11:34-36 109 Un sé caminko Artigo 4° Fica decretado que o homem nao julgara mais 0 ho- mem, e que cada um respeitard seu proximo como o Rio Negro res- peita suas diferengas com o Solimées, visto que com ele se encontra para correrem juntos 0 mesmo curso até 0 encontro com o Mar. **” Pardgrafo que nada para: O homem dara liberdade ao homem, assim como a aguia da li- berdade ao seu filhote para voar*®. Artigo 5° Fica decretado que as pessoas esto livres e que nunca mais nenhuma serd diferente de outra por causa alguma. Todas as mordagas serao transformadas em ataduras para que sejam curadas as feridas provocadas pela tirania do siléncio. A alegria do ser hu- mano ser 0 prazer de ser quem é para Aquele que o fez e para todo aquele a quem encontre em seu caminhar". Artigo 6° Fica ordenado, por mais tempo que o tempo possa me- dir, que todos os povos da Terra serao um so povo, e que todos trarao as oferendas da Gratidao para a Praga da Nova Jerusalém“, Artigo 7° Pelas virtudes da Cruz fica estabelecido que mesmo o mais injusto dos homens que se arrependa de seus maus caminhos tera acesso 4 Arvore da Vida, por suas folhas sera curado e dela se alimentara por toda a eternidade*®. Artigo 8° Esta decretado que pela forga da Ressurreigao nunca mais pessoa alguma apresentara a Deus a culpa de outra, rogando com édio as “béngaos” da maldigao. Pois todo escrito de dividas que havia contra o ser humano foi rasgado, e assustados para sempre ficaram os acusadores da maldade™. Pardgrafo unico: Cada um aprender a cuidar em paz de seu proprio coragao*®. 439 Lucas 6:37-38; Romanos 14:10 440 2 Corintios 3:17 441 Isaias 58:6 442 Apocalipse 21:21-26 443 1 Jodo 1:9; Apocalipse 22: 444 Colossenses 2:13-14 445 Romanos 14:10-12 5 110 Un eonvitecdece evolugio Artigo 9° Fica permanentemente esclarecido, com a Luz do Sol da Justiga, que somente Deus sabe o que se passa na alma de uma pessoa’. Portanto, cada consciéncia saiba de si mesma diante de Deus, pois para sempre todas as coisas sao licitas, e a sabedoria sera sempre saber 0 que convém*”. Artigo 10° Fica avisado ao mundo que os tinicos trajes que ves- tem bem o homem diante de Deus nao sao feitos com pano, mas com Sangue; e que os que se vestem com as Roupas do Sangue do Cordeiro estéo cobertos mesmo quando andam nus“*, Paragrafo certo: A unica nudez que sera castigada sera a da presungao daquele que se pensa por si mesmo vestido*”. Artigo 11 Fica para sempre discernido como verdade que nada é belo sem amor, e que o olhar de quem nao ama jamais enxergara be- leza alguma em nenhum lugar, nem mesmo no Paraiso ou no fundo do Mar‘. Artigo 12 Esta permanentemente decretado 0 convivio entre todos os seres; por isso, nada é feio, nem mesmo fazer amizades com gorilas ou chamar de “minha amiga” a sucuri dos igapés. Até a “comigo-nin- guém-pode’ esta liberta para ser somente a bela planta que é. Pardgrafo da vida: Uma unica coisa esta para sempre proibida: tentar ser quem nao seehl, Artigo 13 Fica ordenado que nunca mais se oferecera nenhuma graca divina em troca de nada, e que o dinheiro perder4 qualquer importancia nos cultos do homem**. Os gazofilacios se transforma- 446 Salmo 139:1-6, 23-24 447 1 Corintios 6:12 Hebreus 10:19-23; Apocalipse 7:13-17 13 448 1 Joao 1: 449 Mateus 22: 450 Mateus 6:22-: 451 Romanos 12:3 452 Isaias 55:1; 1 Joao 4:7; 1 Corintios 13 lll Un sé caminko rao em bats de boas recorda¢es; e todo dinheiro em circulagao sera passado com tanta leveza e bondade que a mao esquerda nao ficara sabendo 0 quea direita fez com ele”. Artigo 14 Fica estabelecido que todo aquele que mentirem nome de Deus vomitara suas proprias mentiras, e delas se alimentard como o camelo, até que decida apenas glorificar a Deus com a verdade do coracio™. Artigo 15 Nunca mais ninguém usaré a frase “Deus pensa..., pois, de uma vez e para sempre esta estabelecido que o homem nao sabe o que Deus pensa*”. Artigo 16 Estabelecido esta que a Palavra de Deus nao pode ser nem compradae nem vendida, pois cada um aprendera que a Palavra é livre como 0 Vento e poderosa como 0 Mar***. Artigo 17 Permite-se para sempre que onde quer que dois ou trés invoquem o Nome em harmonia, nesse lugar nas¢a uma Catedral, mesmo que esteja coberta pelas folhas de um bananal*”. Artigo 18 Fica proibido o uso do Nome de Jesus por qualquer pessoa que o faca para exercer poder sobre o seu proximo, e esta- belecido que melhor que a insinceridade é 0 siléncio. Daqui para frente ninguém dira “O Senhor me falou para dizer isto a ti’, pois Deus mesmo falaré a consciéncia de cada um. Todos os homens e mulheres que créem serdo iguais, e ninguém jamais demandara do proximo submissao, mas apenas reconhecera o seu direito de livre- mente sere amar", Artigo 19 Fica permitido o delirio dos verdadeiros profetas, e to- das as utopias estao agora instituidas como a mais pura realidade*®. Amém! 453 Mateus 6:2-4 454 Jeremias 27:11-32 455 Isaias 55:8-9; Romanos 11:33-34 456 Atos 8:14-24 457 Mateus 18:20; Atos 17:24 458 Hebreus 8:10-11 459 Atos 2:17-18 112 Consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e ds boas obras. Nao deixemos de nos congregar, como é costume de alguns. Aos Cristaos Hebreus 10:24-25 G& que estou dizendo? Que nada valeu a pena? EF claro que nao! ~~ O que estou dizendo € que o mundo ainda nao acabou, e que a cada nova gera¢ao os discipulos de Jesus tém, outra vez, a chance de viver o Evangelho assim, simples e puro, leve e livre, dissolvido em sabores sentidos, mas sem sede fisica de poder e sem qualquer mandao entre nds. A histéria nao acabou ainda e a luz do mundo pode brilhar no mundo, nao como uma agio oficial daigreja, mascomo fruto da bon- dade misericordiosa de cada discipulo que nao queira ser um agente especial da igreja, mas apenas um filho do Amor de Deus solto nesta terra e irmanado com todos quantos puder caminhar para melhor ainda servir! “E nao nos reuniremos mais”? E a pergunta angustiada de alguns. E claro que nos reuniremos sempre! Mas tais encontros nao tem por objetivo centralizar as forgas, organizar as agées de poder, co- ordenar a produgao dos “frutos” e “divinizar” a visdo e a pregacao do “método”, mas apenas renovar as alegrias da fé e da esperanga, fortalecer o amor e devolver as pessoas a vida com a simplicidade do sal e da luz. Ou seja: com sabor e boas obras‘. 460 1 Tessalonice: 113 Un sé caminko De minha parte, quero apenas ver os discipulos de Jesus cres- cendo em vida com Deus, em amizade clara e respeito uns para com os outros e em satide relacional na vida. Gente descomplicada e des- viciada de “igreja” e livre dos estilhacos das guerras fratricidas, e, assim, comprometidas com plantar sementes por onde for". O “ajuntamento” a que chamamos igreja deve ser esse encontro, essa estacao, esse lugar de bom animo, adoracio e ensino. O ideal é que tais encontros gerem amizade, e que pela amizade as pessoas se ajudem; e nao apenasem razao de um espirito magénico-comunitario ouainda porque se deu alguma contribuigao financeira no lugar. Nao. A verdadeira igreja nao tem sdcios ouassociados. Tem ape- nas gente que se reuine e ajuda a manter tudo aquilo que promove a Palavra na Terra. O que promove o Evangelho deve ser sustentado e mantido com propésito apaixonado, e 0 que nao promove o Evange- lho nao deve receber nossa energia e atengao. Portanto, nao se trata de um movimento “sacerdotal’, intimista e fechado, mas sim de um andar profético, continuo e aberto, que tem nosalegrado muito, pois, dentre tudo, estamos também reapren- dendo a chance de termos amizades nao-pagis entre nés. Isso porque no meio cristao, em geral, existe a forma de ami- zade mais paga possivel. As amizades cristas sao pagas! Como assim? Que forma de amizade é esta? E aquela que ama moralmente. Amar moralmente significa amar enquanto a pessoa se comporta “como a gente’, e nao necessariamente como GENTE. Se ela for diferente ou se tornar diferente, ou mesmo tiver um comportamento diferente, mesmo que tal coisa seja apenas na area particular e privada, nesse dia tal pessoa perder todos os seus “amados’, pois era amada apenas moralmente. Para esses, 0 irmao € 0 igual e 0 proximo é aquele que é parecido com eles. Ora, Jesus mandou amar até o inimigo, quanto mais o diferente’! Além disso, Ele disse que amar os que nos amam e tratar bem os que nos tratam bem é apenas um comportamento pagio, posto que é assim que qualquer pagao, minimamente, trata um ao outro“. 461 Marcos 4:26-28 462 Mateus 5:43-45 463 Mateus 5:46-48 114 Oxcneentec no Caminke Jesus considerou que deveriamos buscar amar e ser amigos do jeito do Pai Celeste, que é bom para com maus e bons, e derrama Graga sobre todos. Acontece que entre os cristaos, em geral, nao se alcanca nem mesmo 0 nivel pagao. A sociedade paga é capaz de aceitar e defender o diferente, mas a igreja nao é. E enquanto este “pequeno detalhe” for assim, os cristaos nao terao o respeito da humanidade, posto que até os barbaros os superam no trato de uns para com os outros. A meu ver, no dia em que prevalecer 0 modelo do Caminho, conforme Jesus no Evangelho, a vida vai arrebentar em flores e frutos entre nés e no mundoa nossa volta; e as pessoas serao sempre muito mais humanas e sadias. Mas jamais antes desse dia! E nisto posso dizer que profetizo sobre a certeza das certezas, pois é conforme a Palavra de Jesus. Porque, se continuar a prevalecer o modelo de “igreja” tal qual aqui tem sido denunciado, jamais se tera nada além do que se teve nesses tltimos dois mil anos... Nada diferente disso! E para isto... para esta coisa, nao tenho mais nenhuma energia para doar. Mas paraa vida como caminho oferego meu coragao mais jovem do que nunca! PARA ONDE CAMINHA O CAMINHO DA GRACA? O vento sopra onde quer, nao sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é todo o que é nascido do Espirito. Essas palavras de Jesus parecem nos apavorar! E por qué? Porque ninguém quer ficar sem saber para onde vai! E ninguém quer, de fato, confiar a vida a Deus. Por que videntes e astrdlogos tém tanta popu- laridade? Ora, é porque todo mundo quer saber o futuro, enquanto todo mundo tem medo do futuro! O justo, porém, viverd a cada dia apenas pela Fé **! A questio, no entanto, nao é saber para onde se vai. A unica coisa que interessa é a Quem estou seguindo"*. Ora, nesse caso, nao se 464 Joao 13:35 465 Hebreus 10:38 466 2 Timoteo 1:12 115 Un sé caminko trata nem mesmo de buscar seguir algo visivel, mas de se deixar levar pela leveza do intangivel, sem medo, e com total confianga. Hoje em dia ninguém mais quer seguir o Vento, se é que algum dia ja se aceitou isto. Uma mente religiosamente estruturada acaba por tentar “sistematizar” 0 Vento, o Espirito ea Vida. O interessante é que Jesus é o Caminho, e segui-lo é a propria cer- teza de “para onde se esta indo’, pois 0 alvo da jornada é Vida no Pai. “Vos sabeis o caminho...”” — disse Jesus. Eles responderam: “Como saber para onde vais, sem saber 0 caminho”? Todos conhe- cem a resposta: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, e ninguém vem ao Pai senao por mim” *”, Ora, é aqui que mora a angustia da alma religiosa. Depois de mi- lénios de treinamento para pensar no Caminho como Conduta, na Verdade como Doutrina e na Vida como Performance, quem ainda sabe intuir a simplicidade das palavras de Jesus? E pior: depois de pensar no Caminho como um “projeto”, na Verdade como um “sistema” e na Vida como um “modo de ser” con- forme a religiao, quem pode ainda entender 0 significado do cha- mado de Jesus? E mais desgragadamente ainda: depois de pensar no Caminho como 0 “Pacote da Salvagao’, na Verdade como a “Certeza dos Cren- tes’, e na Vida como uma “Longinqua Eternidade’, quem consegue ainda discernir a concreta subjetividade do chamado de Jesus Hoje? Es6 para concluir: depois de anos confundindo 0 Caminho com uma “Estrada Institucional’, a Verdade com a “Teologia” e a Vida com a “Disciplina da Igreja’, quem ainda pode, apenas de leve, per- ceber o convite de Jesus para segui-Lo no Caminho, sendo levado pelo vento, seja andando em Verdade no ser e experimentando a Vida na vida? Nao! A gente quer um mapa, um sistema, uma estratégia, um pla- nejamento de curto, médio e longo prazo. A gente quer saber como acontecera: “Qual a estrutura que nos governara? Quais os sistemas que nos conduzirao? E quais os objetivos concretos a serem declara- dos? E que organizagio tera”? 467 Joao 14:4-6 116 Oxcneentec no Caminke Para mim, se discirno com alguma corregao o Evangelho, o es- pirito é outro. Jesus nunca organizou muita coisa, a nado ser chamar doze homens para estarem mais proximos Dele“, reunir a multidao em grupos a fim de repartir 0 pao*”, e enviar alguns antes Dele a fim de fazerem preparativos especificos‘””. No mais, nada mais! “Nao andeis ansiosos...** émais que 0 ministério.” “Nao vos preocupeis com o que haveis de falar, pois o Espirito vos concedera™...” “Eis que vos envio como ovelhas para 0 meio de lobos"..” Elhes deu NADA como armadura, exceto a simplicidade do po- der que vem da Graga. Tudo que diz respeito ao Evangelho que surge coma pretensao de ser uma organizacao ja nasce moribundo. A vitalidade do Evangelho esta em se deixar conduzir pelo Espirito, conforme a verdade da vida ea vida na verdade. Portanto, para mim, o melhor governo é 0 menor possivel; o me- Thor modo é0 mais simples; a melhor forma é aquela que serve a vida; eo melhor meio é aquele que vai sendo! Eu creio que a sabedoria do Caminho é deixar que o vinho de- signe o odre e deixar que o pano determine a melhor veste para ele. E mais: é saber que o Vinho Novo sempre havera de demandar, a cada momento ou geragao, 0 odre apropriado; e que a Veste Nova havera de ser combinada com 0 feitio que lhe for préprio. Assim, as formas servem 4s esséncias, e nao 0 contrario! Para andar no Caminho tem-se que desistir do modelo industrial, ou da montagem em série, ou da franquia, ou do modelo pré-fabricado, ou de toda fixidez de formas, com suas Constituigdes e Regimentos, sejam escritos ou subentendidos, visto que todas essas coisas 6 ser- quanto ao vosso ministério, poisa vida 468 Marcos 1:14 469 Lucas 9:11-17 470 Marcos 14:12-16 471 Mateus 6:25 472 Joao 14:26 473 Mateus 10:16 117

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