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INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA

Escola Superior de Educação de Beja


Curso de Licenciatura em Educação e Comunicação Multimédia
1º ano/ 1º semestre
Comunicação e Cultura
Docente Prof. Dr. José Orta

RESUMO
&
CRÍTICA

sobre o filme
“Os Deuses
devem estar
Loucos”
(EUA, Jamie
Uys, 1981)

Elaborado por:
Cláudia Fantasia, n.º 4711
Diogo Santos, n.º 4604
Henrique Medeiros, n.º 4703
Nelson Tremoço, n.º 4600
Tânia Henriques, n.º 4611

Beja, 30 de Novembro de 2009


Resumo & Crítica n.º 4
“Os Deuses devem estar loucos”
Um filme de Jamie Uys, de 1981, que aborda dificuldades de comunicação,
choque cultural e aprendizagem de novos costumes.

Questões a observar, discutir e abordar sobre o filme:

1) Diferenças entre as três culturas (duas arcaicas/ primitivas e uma


contemporânea) presentes no filme, em diversos aspectos: linguagem,
comunicação, costumes, tradições, organização social, política, etc.
2) Importância do tradutor linguístico e cultural;
3) Relativismo cultural.
4) Etnocentrismo.

Diversidades culturais, comunicacionais e incapacidades de comunicar quer linguisticamente e quer


culturalmente

[1] Resumo do filme

É uma comédia que se desenrola em torno de uma garrafa vazia de coca-cola que cai
de uma avioneta no deserto de Kalahari, em Botswana, no sul de África, e que é
encontrada por um nativo de um grupo de bosquímanos.
Este objecto completamente desconhecido pelos nativos é recebido como um
“presente dos deuses”, colocando-nos assim diante da relatividade da cultura e dos seus
significados.
O filme revela como os sentidos atribuídos ao mundo podem variar no tempo e no
espaço e de como o nosso comportamento é guiado por esses elementos da cultura
quotidiana, repleta de ícones propostos pela indústria, pela publicidade e pela
comunicação massiva.

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Um simples objecto leva-nos a uma viagem cultural, conhecer o mundo complexo de
outras culturas que existem para além da nossa. Verificam-se comportamentos
etnocêntricos, antropológicos e de relativismo cultural.

[2] Caracterização das diversas culturas presentes no filme

Neste filme, encontramos três culturas distintas: os bosquímanos, os tswana e a


sociedade contemporânea dita civilizada.

2.1) Caracterização dos bosquímanos

Modo de A Tribo bosquímano trata-se de uma tribo arcaica africana que tem uma
vida
vida pacata e muito feliz.
Organização Organizam-se em pequenos grupos não muito numerosos, entre 20 a 50
social
indivíduos.
Habitat Vivem isolados das restantes culturas no deserto de Kalahari,
ignorando que há outros povos para além deles.
São nómadas, porque estão dependentes do que a natureza lhes oferece
e quando o alimento se esgota nesse local têm de ir procurar outro onde
encontrem alimento, pois eles não os sabiam produzir. No Verão,
agrupam-se onde se encontra água e na época das chuvas, dispersam-se.
Habitam no centro do território, definido pela distância em que o
caçador consegue ir e voltar sem ser morto, onde têm um acampamento.
Essa área chama-se Vedkös.
Justiça Para eles não há normas e regras que têm que ser seguidas e nem têm
que obedecer a nenhuma autoridade. Assim sendo, não têm noção de leis.
Não têm também noção do direito de propriedade, porque os objectos
que utilizam vêm da natureza e como estão em grande número, são usados
sem qualquer disputa e em harmonia.

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Política Há dois chefes. Um deles, é o mais velho, porque tem mais experiência
de vida, o para eles equivale a mais sabedoria, por isso, ser idoso, é ser
sábio neste tipo de cultura, e quase todos conseguem esse estatuto. O outro
chefe é o melhor caçador do grupo, (neste caso em concreto, o Xi).
Economia A nível económico, eram recolectores, isto é, viviam apenas do que
recolhiam através da caça e da apanha de frutos e tubérculos, pois ainda
não dominavam a agricultura e a pastorícia.
Como a maioria do ano é composto por longos períodos de seca, os
animais emigram e tornam-se uma raridade, pelo que a caça é considerada
um bem de luxo, por ser muito escassa, como a água nessas épocas do
ano, e eles para beber água, captam-na do orvalho e de tubérculos. Só nas
épocas das chuvas, é que há pastos verdes e muita água para atrair os
animais, nesta altura a caça é mais proveitosa. (Notas: Segundo o princípio de
raridade: um bem tem tanto mais valor quando mais raro ele é , ex: ouro, pedras
preciosas, petróleo).
Estes têm porém uma economia de subsistência e existe uma divisão
social no trabalho entre homens e mulheres. O homem está encarregue de
caçar e ajudar a colher frutos e tubérculos enquanto que a mulher cozinha
e trata dos seus filhos.
Os materiais usados são unicamente à base de madeiras, pedra e ossos.
Educação Do ponto de vista cultural, a cultura transmite-se a nível da oralidade,
visto que não existe a escrita. Deste modo, o poder político assume uma
diferenciação a nível da oralidade.
A memória social é transmitida oralmente dos mais velhos para os mais
novos.
Religião Acreditam em deuses, logo são politeístas, e tudo o que vem do céu é
uma oferenda destes.
Quando os aviões passam, o seu barulho é interpretado como
flatulência dos Deuses ou estes teriam comido demais.
Respeitam bastante os animais e quando os matam pedem-lhes
desculpa, afirmando que a sua morte tem como fim alimentar a sua
família.

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2.2) Caracterização dos Tswana

Organização Os Tswana, por impulso das actividades económicas, reorganizaram-se


social
socialmente. Trata-se de uma comunidade segmentária-linhageira, porque
se organizam em clãs segmentados.
Clãs são famílias alargadas em que há uma relações de parentesco com
o mesmo nome, algumas são patriliniares e outras matriliniares mas
também há bilaterais, enquanto que família alargada é parentesco possível
de 2 ou mais gerações.
Existem duas classes sociais distintas nos Tswana: clãs aristocráticos e
clãs não aristocráticos; e estes distinguem-se pela riqueza de territórios
que permitem melhores colheitas e melhores pastagens para gados bem
como pelo poder económico. Esta diferença social fez aumentar as
diferenças sociais entre cada clã.
Apesar desta comunidade se organizar em diferentes clãs, estes são
Exógamos o casamento só é possível entre elementos de clãs diferentes,
pelo princípio de incesto.
Com a idade do ferro e o ensino da religião, surge uma nova classe
social privilegiada constituída por sacerdotes e ferreiros.
Habitat São uma comunidade sedentária, porque já desenvolvem as actividades
agrícolas e da pastorícia, a domesticação de plantas e de animais, levaram
o homem a ficar junto do dómus (casa). Uma colónia de África do Sul.
Justiça Têm autoridades superiores (polícias e juízes) e leis pelas quais se
regem, provenientes da cultura ocidental.
Política Na sua estrutura política, são os mais velhos, os sacerdortes e os
ferreiros que mandam e têm poder para dirigir a família alargada.
Economia Ao contrário dos bosquímanos, já não estão totalmente dependentes da
natureza, porque começaram a transformá-la. Ao dominar a natureza,
possibilitou-lhes disporem de uma reserva alimentar a nível proteico e de
cereais - fruto da agricultura e da pastorícia.
Os cereais têm uma duração de três anos quando armazenados, o que
lhes assegurava alimento mesmo em anos de mau tempo ou menos bons a
nível da agricultura.
Com o domínio de natureza, há um passo em frente no domínio social,

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fica independente dos factores da natureza e o espectro de fome diminui.
Foi com o passar de milhar de anos que foram descobertas as espécies
que mais facilmente se domesticavam e a domesticação progressiva vem
permitir transformação social, política, económica e cultural.
Com a domesticação dos animais, a caça perde importância. Como já se
dedicavam à pastorícia, a caça mesmo que fosse rara, já não tinha tanto
peso na alimentação, pois possuíam sempre uma reserva de gado.
Normalmente, é o gado mais pequeno que é morto para sustento da
família e o gado de maior porte só é consumido em ocasiões especiais,
como casamentos, baptizados ou rituais sagrados, onde é convidada toda a
comunidade, porque não há maneira de preservar a carne.
Verifica-se uma organização social do trabalho em que há
distanciamento entre as mulheres e os homens. Eles trabalham na
pastorícia e por isso, passam a maior parte do tempo a descansar e a
dormir; enquanto elas limpam o curral, ordenham as vacas, etc.
O que antes era oferecido (oferendas), surge agora como obrigação em
forma de imposto/ e origina o estado contributivo e consequentemente
sociedades tributárias.
Com a idade do ferro, dá-se uma revolução em vários sectores. Este
material permite desenvolver os utensílios, de forma mais robusta, útil
para tratar da terra e cultivar quantidades maiores de sementes. E como
melhor alimentação equivale ao aumento da população, o ferro leva então
a uma explosão demográfica, por melhoria de condições de vida.
Educação Os Tswana já têm instrução primária (escrita e leitura), o que os leva à
sua transformação em classes cultas e inserção na sociedade moderna,
como pode ser comprovado no filme pela chegada da professora. Podemos
constatar que se dá o interculturalismo: a professora ensina a sua cultura
aos Tswanas mas também fica mais enriquecida pois adquire
conhecimentos de outra cultura.
A educação das crianças é feita pelo irmão da mãe e este é considerado
o pai.
Religião Nesta comunidade, com a colonização verifica-se uma tentativa de
evangelização, há uma tentativa de imposição da religião na cultura de
uma determinada região. A imposição da religião e escola servem de

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algum modo, para integrar os tswana na lógica ocidental. Portanto nota-se
um acto etnocêntrico onde se caracteriza pela imposição dos nossos
costumes numa outra cultura.

2.3) Caracterização da sociedade contemporânea, dita civilizada (a nossa)

Modo de Somos uma comunidade que se recusou a adaptar-se ao meio e que usa
vida
a tecnologia à sua disposição para viver. Quisemos facilitar a vida, mas ao
mesmo tempo tornámo-la complicada.
Todas as nossas acções se orientam em função do tempo, o que a
muitos gera stress.
Dispomos de meios que nos poupam no trabalho e nos facilitam na
locomoção, comunicação e produção.
Temos que nos adaptar e readaptar todos os dias e todas a horas ao
mundo que criámos, seja ele, ambiente doméstico, ambiente de trabalho,
etc.
Organização Vivemos, maioritariamente, sob a forma de famílias nucleares (pai,
social
mãe e filhos).
Habitat Devido às tecnologias e meios que possuímos, vivemos em
aglomerados de casas e infra-estruturas que desejamos.
Justiça Para que haja civismo, respeito e igualdade, orientamo-nos por regras e
leis, que se não forem cumpridas, somos punidos.
Política Temos representantes que devem interceder pelas necessidades do seu
povo.
Economia Vivemos num mundo capitalista e de consumo e para obtermos algo é
necessário dinheiro.
Educação Passamos 10 a 15 anos na escola para aprender a sobreviver no
complexo meio que nascemos e vamos complicando com a nossa
inteligência.
Religião Cada cidadão possui as suas crenças e fé.

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[3] Relação, comunicação e interacção entre as diversas culturas

1º acontecimento: um tripulante de uma avioneta que sobrevoa o local, onde os


bosquímanos vivem, lança uma garrafa de Coca Cola – símbolo universal da moderna
civilização de consumo final de século.

Quando os bosquímanos encontraram a garrafa, pensaram que era uma oferenda dos
Deuses. Nunca a tinham visto antes e consideraram-na como algo maravilhoso, parecida
com a água mas sólida.
Fizeram-lhe vários testes e concluíram que é mais dura que os objectos duros que
conheciam (madeira, pedra e osso).
Por experiência, inventam múltiplas e variadíssimas utilidades para o seu uso: para se
divertirem, para fazerem música, para fazerem decoração de vestuário, para curtimento
de peles, preparação da comida, etc.
Como era só um objecto e muitos o requisitavam, este elemento estranho à cultura
tornou-se rapidamente num bem escasso e passado algum tempo, começou a ser
disputado e tornou-se alvo de discórdias e conflitos e originou sentimentos de posse e
inveja. Despertara a sensação de querer ter e não partilhar. A garrafa de vidro
introduzida artificialmente na vida de um grupo gera alterações na sua vida social e
suscita as mais diversas reacções. Viria assim a transformar a organização social dos
bosquímanos bem como o ambiente entre eles. Pode-se então concluir que a garrafa
perturbou a cultura e dificultou a comunicação causando um mau ambiente entre eles,
todos lutavam pela posse do bem que era raro, criando inveja, ódio e infelicidade.
O chefe da tribo, Xi, ao observar os malefícios daquele objecto, “Coisa má”, nas
relações entre os vários membros da sociedade, decidiu devolvê-lo aos Deuses para
resolver a discórdia e voltarem à sua vida sossegada. Em primeiro lugar, lançou-o aos
céus, mas devido à força da gravidade, o objecto voltava sempre à terra. Na segunda
tentativa, a garrafa caiu em cima da cabeça de um miúdo ferindo-o e o Xi decidiu
enterrá-lo num terreno afastado do acampamento; mas os animais através do cheiro a
sangue conseguiram descobrir a garrafa e desenterra-la e certo tempo depois, o objecto
fora encontrado pelas crianças. Como última tentativa de desfazer a garrafa, de trazer de
volta a felicidade à tribo, decidiu ir pessoalmente entregar o objecto aos Deuses, mesmo

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que isso lhe custasse a própria vida. Para ele era necessário ir ao fim do mundo e jogá-lo
para fora do planeta.
Fora assim o primeiro contacto entre os bosquímanos e um objecto da civilização
dita civilizada.
No final do filme, chega ao pico de uma montanha com vista para uma paisagem
verde imersa em nevoeiro. Segundo os seus significados e valores, seria o local onde os
deuses moravam e foi aí que se desfez da garrafa.
Não se questionou que para além daquela garrafa havia mais objectos da civilização
moderna, cuja influência na sua vida tenderá a aumentar.
Por outro lado, e não pondo de parte o tripulante da avioneta que atirou para fora a
garrafa de coca-cola, há que afirmar que foi uma atitude de desrespeito à natureza, para
não falar em irresponsabilidade.

2º Acontecimento: O chefe bosquímano cruza-se pela primeira vez com uma mulher da
civilização moderna no início da sua jornada para se desfazer da garrafa

O chefe bosquímano ficou surpreendido ao ver pessoas de cores muito claras, e deu-
lhes a atribuição de Deuses, desconhecendo que havia outros povos de seres humanos
para além do seu povo e por ignorância tomou atitudes etnocêntricas. Entregou-lhes
então a garrafa, mas como eles tinham comportamentos que lhe eram estranhos e
recusaram-se a recebê-la, imediatamente concluiu que não eram deuses.

3º Acontecimento: O Xi chefe bosquímano contacta pela primeira vez com veículos da


civilização moderna.

O chefe bosquímano divertiu-se imenso ao contactar com as modernas tecnologias da


sociedade ocidental e atribuiu-lhes poderes mágicos, dando também ao carro a mesma
atribuição de Deus.

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4º Acontecimento: O chefe bosquímano mata um animal do rebanho dos tswana

No meio do seu percurso, o chefe bosquímano avistou diversos animais num campo
e matou um deles para consumo próprio. Contudo, não sabia que estes animais eram
objectos de posse de um povo, porque desconhecia a domesticação de animais bem
como a noção de posse.
É de referir que: para uma sociedade bosquímana, os animais pertencem à sociedade,
não há sentido de posse/ propriedade e quando fazem comida partilham com todos;
enquanto que para uma sociedade tswana, há sentido de propriedade e têm animais.
As autoridades da cultura tswana decidiram então levá-lo a tribunal e acusá-lo de
crime, impondo as suas regras. O chefe bosquímano não entendeu o que se passou nem
a comunidade tswana percebeu que ele agiu segundo a sua cultura-

5º acontecimento: intervenções do tradutor linguístico e cultural na comunicação entre


as diversas culturas

Se o conhecimento antropológico depende da viabilidade de uma tradução entre


culturas, e se essa tradução pressupõe a coerência daquilo que é traduzido, o Xi e a sua
cultura só será compreensível se as suas acções, afirmações e crenças forem coerentes
entre si e não contraditórias.
Por este motivo, o tradutor linguístico e cultural teve bastante importância na
comunicação entre as diversas culturas, porque não só traduzia a língua como também
tinha em conta a diversidade de cultura do emissor e do receptor nas mensagens que
traduzia.
No filme, pôde-se observar diversas dificuldades na tradução da mensagem da
civilização moderna para a civilização dos bosquímanos, porque não partilham os
mesmos conhecimentos e conceitos, Exemplos disso são o tempo e o conceito de
culpado. Quando se quis dizer ao chefe bosquímano que teria que estar preso durante
três meses para cumprir a pena, o tradutor viu a sua tarefa complicada, porque os
bosquímanos não têm noção do tempo ao contrário da sociedade moderna e não têm o
conceito de culpado nem de preso, pelo que seria impossível transmitir de forma
entendível esta mensagem a um bosquímano.

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6º acontecimento: chefe bosquímano assume as funções de técnico em assuntos
biológicos como pena
Para que o chefe bosquímano não passasse a pena na prisão, o tradutor ajudou-o e
conseguiu com ajuda do Sr. Andrew, que ele cumprisse a pena como técnico em
assuntos biológicos, assunto que o chefe domina, devido à sua intensa relação com a
natureza.
Apesar do tradutor linguístico e cultural partilhar a mesma cultura dos juízes e
polícias pertencentes à cultura que julgou o Xi, teve uma atitude diferente: tentou evitar
que o Xi fosse condenado por critérios, leis e condições de uma cultura em que ele não
está inserido. A isto se chama um comportamento de relativismo cultural porque os
conhecimentos que ele tinha das duas culturas fez com que ele conseguisse que o Xi
cumprisse a pena em prol da comunidade tendo ele evitado que o Xi ficasse preso, meio
esse em que o Xi era incapaz de se adaptar, visto que ele não vive no espaço confinado
entre 4 paredes e vive diariamente em contacto com a natureza.
Nesse período, em que o Xi assume o papel de técnico, aprende diversos
conhecimentos sobre a cultura ocidental e ensina conhecimentos sobre a sua cultura –
existe aqui uma manifestação de interculturalismo.

[4] Discussão sobre o filme e matéria abordada nas aulas

Apesar de sermos todos iguais e pertencermos à mesma espécie, verificou-se que as


culturas de diferentes sociedades, foram um obstáculo na comunicação, entre elas para
evitar estas situações tem contribuído os estudos antropológicos, o que nos tem
permitido um maior conhecimento de outras culturas.
O chefe bosquímano Xi poderá ter transparecido para nós como um ser ingénuo,
contudo, há que ter em conta que ele interpreta os seus encontros com novas sociedades
de acordo com a sua cultura e todas as suas reacções se devem ao estreito conhecimento
do mundo exterior. Na sua cultura ele é considerado como sábio e respeitado como tal,
algo que não podemos julgar, porque não faz parte da nossa cultura, mas para muitos
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pode ser interpretado como selvagem. O filme apresenta-nos diversas personagens da
comunidade civilizada que têm atitudes diferentes relativamente a outras culturas: uma
personagem que vive em isolamento devido ao seu emprego e que tem aversão à
socialização e convívio com outras pessoas, que está próximo dos bosquímanos e que
não se relaciona com eles – o Sr. Andrew Steyn e um tradutor linguístico e cultural que
sabe respeitar as diferenças sócio-culturais e que ajuda a tirar o chefe bosquímano da
prisão – Mpudi.
No filme, pôde-se observar que os bosquímanos são muito diferentes de nós no
aspecto físico, na linguagem que se caracteriza por estalidos, na forma de ver o mundo
que o rodeia, interpretando de uma maneira sui generis as situações mais banais, nas
suas convicções, nas suas atitudes e comportamentos. E foram estas diferenças culturais
a razão de não terem sido compreendidos por outras sociedades. No entanto, não é
preciso sermos de culturas diferentes para que compreender o outro seja difícil. Isso
verifica-se também na actualidade, quando o outro não partilha a nossa maneira de
estar, quando não tem a mesma visão do mundo, nem as mesmas aspirações, crenças e
expectativas. Torna-se então emergente aceitar o outro, aprendendo a tolerar as suas
diferenças para uma benéfica convivência entre todos.
No filme está incutido o etnocentrismo cultural, porque as diversas sociedades olham
o mundo tomando-o como ponto de referência a sua própria cultura e isso não é
benéfico. (ex: O chefe bosquímano não compreende nada e não há como conseguir
entender, já que na sua comunidade não têm certas atitudes, comportamentos e
conceitos; já os tswana excluem a cultura do bosquímano no tribunal, apenas se
limitando às suas leis e cultura.) O etnocentrismo conduz atitudes desastrosas para as
culturas e cultura universal, leva a guerras e alerta-nos que não aprendemos nada com a
história. Uma cultura que se considera como centro do universo, só consegue ver o
mundo a partir de uma cosmo visão, atribui aos fenómenos significados que lhe são
familiares. É necessário que o etnocentrismo cultural seja substituído pelo relativismo
cultural, onde as partes só fazem sentido e são dotadas de significado na interacção com
outros elementos da cultura.
Outro assunto a falar sobre o filme é do que a garrafa produziu de forma negativa na
comunidade dos bosquímanos: inveja, discussões, violência, tristeza e infelicidade. São
coisas que estão presentes na comunidade dita civilizada e de certa forma são uma
crítica à nossa sociedade em questão.

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