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RESUMO
&
CRÍTICA
sobre o filme
“Os Deuses
devem estar
Loucos”
(EUA, Jamie
Uys, 1981)
Elaborado por:
Cláudia Fantasia, n.º 4711
Diogo Santos, n.º 4604
Henrique Medeiros, n.º 4703
Nelson Tremoço, n.º 4600
Tânia Henriques, n.º 4611
É uma comédia que se desenrola em torno de uma garrafa vazia de coca-cola que cai
de uma avioneta no deserto de Kalahari, em Botswana, no sul de África, e que é
encontrada por um nativo de um grupo de bosquímanos.
Este objecto completamente desconhecido pelos nativos é recebido como um
“presente dos deuses”, colocando-nos assim diante da relatividade da cultura e dos seus
significados.
O filme revela como os sentidos atribuídos ao mundo podem variar no tempo e no
espaço e de como o nosso comportamento é guiado por esses elementos da cultura
quotidiana, repleta de ícones propostos pela indústria, pela publicidade e pela
comunicação massiva.
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Um simples objecto leva-nos a uma viagem cultural, conhecer o mundo complexo de
outras culturas que existem para além da nossa. Verificam-se comportamentos
etnocêntricos, antropológicos e de relativismo cultural.
Modo de A Tribo bosquímano trata-se de uma tribo arcaica africana que tem uma
vida
vida pacata e muito feliz.
Organização Organizam-se em pequenos grupos não muito numerosos, entre 20 a 50
social
indivíduos.
Habitat Vivem isolados das restantes culturas no deserto de Kalahari,
ignorando que há outros povos para além deles.
São nómadas, porque estão dependentes do que a natureza lhes oferece
e quando o alimento se esgota nesse local têm de ir procurar outro onde
encontrem alimento, pois eles não os sabiam produzir. No Verão,
agrupam-se onde se encontra água e na época das chuvas, dispersam-se.
Habitam no centro do território, definido pela distância em que o
caçador consegue ir e voltar sem ser morto, onde têm um acampamento.
Essa área chama-se Vedkös.
Justiça Para eles não há normas e regras que têm que ser seguidas e nem têm
que obedecer a nenhuma autoridade. Assim sendo, não têm noção de leis.
Não têm também noção do direito de propriedade, porque os objectos
que utilizam vêm da natureza e como estão em grande número, são usados
sem qualquer disputa e em harmonia.
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Política Há dois chefes. Um deles, é o mais velho, porque tem mais experiência
de vida, o para eles equivale a mais sabedoria, por isso, ser idoso, é ser
sábio neste tipo de cultura, e quase todos conseguem esse estatuto. O outro
chefe é o melhor caçador do grupo, (neste caso em concreto, o Xi).
Economia A nível económico, eram recolectores, isto é, viviam apenas do que
recolhiam através da caça e da apanha de frutos e tubérculos, pois ainda
não dominavam a agricultura e a pastorícia.
Como a maioria do ano é composto por longos períodos de seca, os
animais emigram e tornam-se uma raridade, pelo que a caça é considerada
um bem de luxo, por ser muito escassa, como a água nessas épocas do
ano, e eles para beber água, captam-na do orvalho e de tubérculos. Só nas
épocas das chuvas, é que há pastos verdes e muita água para atrair os
animais, nesta altura a caça é mais proveitosa. (Notas: Segundo o princípio de
raridade: um bem tem tanto mais valor quando mais raro ele é , ex: ouro, pedras
preciosas, petróleo).
Estes têm porém uma economia de subsistência e existe uma divisão
social no trabalho entre homens e mulheres. O homem está encarregue de
caçar e ajudar a colher frutos e tubérculos enquanto que a mulher cozinha
e trata dos seus filhos.
Os materiais usados são unicamente à base de madeiras, pedra e ossos.
Educação Do ponto de vista cultural, a cultura transmite-se a nível da oralidade,
visto que não existe a escrita. Deste modo, o poder político assume uma
diferenciação a nível da oralidade.
A memória social é transmitida oralmente dos mais velhos para os mais
novos.
Religião Acreditam em deuses, logo são politeístas, e tudo o que vem do céu é
uma oferenda destes.
Quando os aviões passam, o seu barulho é interpretado como
flatulência dos Deuses ou estes teriam comido demais.
Respeitam bastante os animais e quando os matam pedem-lhes
desculpa, afirmando que a sua morte tem como fim alimentar a sua
família.
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2.2) Caracterização dos Tswana
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fica independente dos factores da natureza e o espectro de fome diminui.
Foi com o passar de milhar de anos que foram descobertas as espécies
que mais facilmente se domesticavam e a domesticação progressiva vem
permitir transformação social, política, económica e cultural.
Com a domesticação dos animais, a caça perde importância. Como já se
dedicavam à pastorícia, a caça mesmo que fosse rara, já não tinha tanto
peso na alimentação, pois possuíam sempre uma reserva de gado.
Normalmente, é o gado mais pequeno que é morto para sustento da
família e o gado de maior porte só é consumido em ocasiões especiais,
como casamentos, baptizados ou rituais sagrados, onde é convidada toda a
comunidade, porque não há maneira de preservar a carne.
Verifica-se uma organização social do trabalho em que há
distanciamento entre as mulheres e os homens. Eles trabalham na
pastorícia e por isso, passam a maior parte do tempo a descansar e a
dormir; enquanto elas limpam o curral, ordenham as vacas, etc.
O que antes era oferecido (oferendas), surge agora como obrigação em
forma de imposto/ e origina o estado contributivo e consequentemente
sociedades tributárias.
Com a idade do ferro, dá-se uma revolução em vários sectores. Este
material permite desenvolver os utensílios, de forma mais robusta, útil
para tratar da terra e cultivar quantidades maiores de sementes. E como
melhor alimentação equivale ao aumento da população, o ferro leva então
a uma explosão demográfica, por melhoria de condições de vida.
Educação Os Tswana já têm instrução primária (escrita e leitura), o que os leva à
sua transformação em classes cultas e inserção na sociedade moderna,
como pode ser comprovado no filme pela chegada da professora. Podemos
constatar que se dá o interculturalismo: a professora ensina a sua cultura
aos Tswanas mas também fica mais enriquecida pois adquire
conhecimentos de outra cultura.
A educação das crianças é feita pelo irmão da mãe e este é considerado
o pai.
Religião Nesta comunidade, com a colonização verifica-se uma tentativa de
evangelização, há uma tentativa de imposição da religião na cultura de
uma determinada região. A imposição da religião e escola servem de
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algum modo, para integrar os tswana na lógica ocidental. Portanto nota-se
um acto etnocêntrico onde se caracteriza pela imposição dos nossos
costumes numa outra cultura.
Modo de Somos uma comunidade que se recusou a adaptar-se ao meio e que usa
vida
a tecnologia à sua disposição para viver. Quisemos facilitar a vida, mas ao
mesmo tempo tornámo-la complicada.
Todas as nossas acções se orientam em função do tempo, o que a
muitos gera stress.
Dispomos de meios que nos poupam no trabalho e nos facilitam na
locomoção, comunicação e produção.
Temos que nos adaptar e readaptar todos os dias e todas a horas ao
mundo que criámos, seja ele, ambiente doméstico, ambiente de trabalho,
etc.
Organização Vivemos, maioritariamente, sob a forma de famílias nucleares (pai,
social
mãe e filhos).
Habitat Devido às tecnologias e meios que possuímos, vivemos em
aglomerados de casas e infra-estruturas que desejamos.
Justiça Para que haja civismo, respeito e igualdade, orientamo-nos por regras e
leis, que se não forem cumpridas, somos punidos.
Política Temos representantes que devem interceder pelas necessidades do seu
povo.
Economia Vivemos num mundo capitalista e de consumo e para obtermos algo é
necessário dinheiro.
Educação Passamos 10 a 15 anos na escola para aprender a sobreviver no
complexo meio que nascemos e vamos complicando com a nossa
inteligência.
Religião Cada cidadão possui as suas crenças e fé.
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[3] Relação, comunicação e interacção entre as diversas culturas
Quando os bosquímanos encontraram a garrafa, pensaram que era uma oferenda dos
Deuses. Nunca a tinham visto antes e consideraram-na como algo maravilhoso, parecida
com a água mas sólida.
Fizeram-lhe vários testes e concluíram que é mais dura que os objectos duros que
conheciam (madeira, pedra e osso).
Por experiência, inventam múltiplas e variadíssimas utilidades para o seu uso: para se
divertirem, para fazerem música, para fazerem decoração de vestuário, para curtimento
de peles, preparação da comida, etc.
Como era só um objecto e muitos o requisitavam, este elemento estranho à cultura
tornou-se rapidamente num bem escasso e passado algum tempo, começou a ser
disputado e tornou-se alvo de discórdias e conflitos e originou sentimentos de posse e
inveja. Despertara a sensação de querer ter e não partilhar. A garrafa de vidro
introduzida artificialmente na vida de um grupo gera alterações na sua vida social e
suscita as mais diversas reacções. Viria assim a transformar a organização social dos
bosquímanos bem como o ambiente entre eles. Pode-se então concluir que a garrafa
perturbou a cultura e dificultou a comunicação causando um mau ambiente entre eles,
todos lutavam pela posse do bem que era raro, criando inveja, ódio e infelicidade.
O chefe da tribo, Xi, ao observar os malefícios daquele objecto, “Coisa má”, nas
relações entre os vários membros da sociedade, decidiu devolvê-lo aos Deuses para
resolver a discórdia e voltarem à sua vida sossegada. Em primeiro lugar, lançou-o aos
céus, mas devido à força da gravidade, o objecto voltava sempre à terra. Na segunda
tentativa, a garrafa caiu em cima da cabeça de um miúdo ferindo-o e o Xi decidiu
enterrá-lo num terreno afastado do acampamento; mas os animais através do cheiro a
sangue conseguiram descobrir a garrafa e desenterra-la e certo tempo depois, o objecto
fora encontrado pelas crianças. Como última tentativa de desfazer a garrafa, de trazer de
volta a felicidade à tribo, decidiu ir pessoalmente entregar o objecto aos Deuses, mesmo
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que isso lhe custasse a própria vida. Para ele era necessário ir ao fim do mundo e jogá-lo
para fora do planeta.
Fora assim o primeiro contacto entre os bosquímanos e um objecto da civilização
dita civilizada.
No final do filme, chega ao pico de uma montanha com vista para uma paisagem
verde imersa em nevoeiro. Segundo os seus significados e valores, seria o local onde os
deuses moravam e foi aí que se desfez da garrafa.
Não se questionou que para além daquela garrafa havia mais objectos da civilização
moderna, cuja influência na sua vida tenderá a aumentar.
Por outro lado, e não pondo de parte o tripulante da avioneta que atirou para fora a
garrafa de coca-cola, há que afirmar que foi uma atitude de desrespeito à natureza, para
não falar em irresponsabilidade.
2º Acontecimento: O chefe bosquímano cruza-se pela primeira vez com uma mulher da
civilização moderna no início da sua jornada para se desfazer da garrafa
O chefe bosquímano ficou surpreendido ao ver pessoas de cores muito claras, e deu-
lhes a atribuição de Deuses, desconhecendo que havia outros povos de seres humanos
para além do seu povo e por ignorância tomou atitudes etnocêntricas. Entregou-lhes
então a garrafa, mas como eles tinham comportamentos que lhe eram estranhos e
recusaram-se a recebê-la, imediatamente concluiu que não eram deuses.
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4º Acontecimento: O chefe bosquímano mata um animal do rebanho dos tswana
No meio do seu percurso, o chefe bosquímano avistou diversos animais num campo
e matou um deles para consumo próprio. Contudo, não sabia que estes animais eram
objectos de posse de um povo, porque desconhecia a domesticação de animais bem
como a noção de posse.
É de referir que: para uma sociedade bosquímana, os animais pertencem à sociedade,
não há sentido de posse/ propriedade e quando fazem comida partilham com todos;
enquanto que para uma sociedade tswana, há sentido de propriedade e têm animais.
As autoridades da cultura tswana decidiram então levá-lo a tribunal e acusá-lo de
crime, impondo as suas regras. O chefe bosquímano não entendeu o que se passou nem
a comunidade tswana percebeu que ele agiu segundo a sua cultura-
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6º acontecimento: chefe bosquímano assume as funções de técnico em assuntos
biológicos como pena
Para que o chefe bosquímano não passasse a pena na prisão, o tradutor ajudou-o e
conseguiu com ajuda do Sr. Andrew, que ele cumprisse a pena como técnico em
assuntos biológicos, assunto que o chefe domina, devido à sua intensa relação com a
natureza.
Apesar do tradutor linguístico e cultural partilhar a mesma cultura dos juízes e
polícias pertencentes à cultura que julgou o Xi, teve uma atitude diferente: tentou evitar
que o Xi fosse condenado por critérios, leis e condições de uma cultura em que ele não
está inserido. A isto se chama um comportamento de relativismo cultural porque os
conhecimentos que ele tinha das duas culturas fez com que ele conseguisse que o Xi
cumprisse a pena em prol da comunidade tendo ele evitado que o Xi ficasse preso, meio
esse em que o Xi era incapaz de se adaptar, visto que ele não vive no espaço confinado
entre 4 paredes e vive diariamente em contacto com a natureza.
Nesse período, em que o Xi assume o papel de técnico, aprende diversos
conhecimentos sobre a cultura ocidental e ensina conhecimentos sobre a sua cultura –
existe aqui uma manifestação de interculturalismo.
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