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Sociedade as Citucias Antigas f A Nuvem Sobre o Santudario Karl Von Eckhartshausen Sociedade sag Ciencias Antigas A NUVEM SOBRE 0 SANTUARIO OU ALGO QUE NAO SUSPEITA A ORGULHOSA FILOSOFIA DE NOSSO SECULO POR KARL VON ECKHARTSHAUSEN BIOGRAFIA DE KARL VON ECKARTSHAUSEN Autor de “A Nuvem sobre 0 Santudrio”! e “Das Forgas Migicas da Natureza”, nasceu no castelo de Haimhausen (Baviera) em 28 de Junho de 1752, e morreu em Munique em 13 de Maio de 1803. Filho ilegitimo do conde Karl Von Haimhausen e de Maria Anna Eckart, a filha de seu intendente, levaria 0 nome de seu pai e um sobrenome inventado que retine os sobrenomes paterno materno: Eckartshausen. Por conta de uma infancia bastante desafortunada e por causa de seu nascimento pouco convencional, o jovem Karl Eckartshausen nao receberia o titulo de nobreza até acabar seus estudos universitérios, podendo chamar-se entao Karl Von Eckartshausen. Recebeu uma educacdo esmerada € seguiu com proveito seus estudos, tornando-se um dos escritores mais fecundos de toda Alemanha € uma das figuras mais importantes, da teosofia cristd. Dotado de uma sensibilidade fora do comum, sua vida se viu influenciada desde sua mais tenra infancia pelo magico, pelo sobrenatural. Sabemos que, a partir dos sete anos teve sonhos © experiéncias muito importantes para sua vida interior, cuja interpretagao Ihe seria proporcionada por sonhos posteriores. Como escreveria ele proprio a outro grande tedsofo, Kirshberger, “a luz que brilha nas trevas me proporciona o conhecimento das coisas ocultas”. A luz foi precisamente uma de suas obsessdes, & qual dedicou opiisculos inteiros’. Em “A Nuvem Sobre © Santusrio™ nos explica que “assim com a luz exterior nos ilumina pelo caminho da nossa peregrinagao, a luz interior nos ilumina pelo caminho da salvagao”. Podemos, pois, falar de uma ““Teosofia da Luz”, inclusive de uma “Filosofia da Luz”, baseadas em sua experiéncia e em seu contato com a realidade transcendente. Nesta obra, “A Nuvem Sobre o Santudrio”. Eckartshausen afirma categoricamente que “mediante a luz o mago encontrar sabedoria e forga” e que “a luz que conhecemos neste mundo caido é s6 um reflexo, um empréstimo dos sentidos e pode conduzir a0 conhecimento ou A cigncia, mas nunca a sabedoria” Para Eckartshausen, a “luz fisica percebida pelo homem nao é a verdadeira luz, mas unicamente um simbolo de nossa patria celeste” Em 1770, Eckartshausen matriculou-se na Universidade de Ingolstadt, dirigida por jesuitas, onde permaneceu por volta de trés anos. Em 1774, depois de alguns estudos particularmente brilhantes, obteve 0 Absolutorium. Em 1776, gracas as influéncias da familia paterna (seu pai era conselheiro particular do Principe- Eleitor), obtém 0 posto honordrio, mas escassamente remunerado de Conselheiro Palaciano, estreitamente relacionado com as atividades do tipo juridico &s quais se dedicaria a partir de 1779. Nesse mesmo ano casou-se com Genoveva Quiquérez, de origem obscura, que faleceria ao cabo de dois anos. Em 1781 casa-se de novo, com Gabriela Von Wolter, filha de Johann Anton Von Wolter, médico pessoal do Principe-Eleitor, Karl Theodor e diretor da faculdade de Medicina da Universidade de Ingolstadt. Em breve nasce o fruto desse matrim6nio, Sophia Teresia Gabriela. "A Nuvem sobre 0 Santuério (1802). Existem, pelo menos, trés tradugdes espanholas diferentes deste texto extraordindrio, Recomendamos a de Joan Mateu Rotger, A Nuvem sobre o Santudrio, Cartas Metafisicas, Ed, Obelisco, Barcelona, 1992, 2 Todos estes dados biogrificos foram tomados do excelente trabalho de Antoine Faivre, Eckartshausen et la Théosophie Chrétienne, Ed. Kliensieck, Parfs 1969. Trata-se, sem dtivida, do melhor livro que se escreveu sobre 0 te6sofo alemao. Die neuesten Entdeckmugen iiber Licht, Wairme und Feuer, Munich, 1798. “K. v, Eckartshausen, A Nuvem... Op. Cit. p. 13. 4 Em 1777, Eckartshausen foi admitido na Academia das Ciéncias de Munique, da qual foi membro assiduo até o ano de 1800, ¢ onde apresentou um grande nimero de conferéncias. O diretor da sega0 hist6rica da Academia, Ferdinand Von Sterzinger, se interessava, como Eckartshausen, pela magia e pelos fendmenos ocultos. Nesta mesma academia realizou toda uma série de experimentos fisicos ¢ alquimicos que influenciaram de modo decisivo suas obras. Entre 1780 e 1783, se dedicou especialmente a seu trabalho como jurista, no qual tentou plasmar seus ideais humanitirios, especializando-se em Criminologia. Como escreve seu bidgrafo, Antoine Faivre’: “Estas atividades 0 influenciaram profundamente; em vez de endurecer seu coracdo, desenvolveram sua piedade, fizeram dele um defensor dos fracos e dos oprimidos”. Sua produgdo literdria daquela época esteve estreitamente vinculada com seu trabalho. Um dos muitos opisculos que por aquele tempo fez imprimir levava por titulo “Das origens dos delitos e da possibilidade de evité-los”. Em 1780, Eckartshausen ingressou no “Colégio da Censura” e, a partir dai, trabalhando como censor, se encarregaria especialmente da revisio de obras sobre Direito e Literatura. Trés anos depois, a Corte Ihe ofereceu o posto de “Arquivista Secreto”, emprego bem remunerado que, enquanto Ihe solucionaria seus problemas econémicos, Ihe atrairia no pouca inveja. Em 1786 publicou uma obra intitulada “Da organizacao pratica e sistematica dos Arquivos Principescos em geral”, Seu trabalho como censor e como arquivista, a0 qual dedicaria a maior parte de seu tempo, Ihe permitiu, entretanto, ler muito e enriquecer-se culturalmente. A partir de 1788, ano em que publicou seus “Esclarecimentos sobre a Magia”, a producio literéria de Eckartshausen centrou-se, sobretudo em temas esotéricos. No entanto, o teatro ocuparia um lugar proeminente dentro de sua obra; escreveu, publicou e estreou com certo éxito varias obras neste género. Ao mesmo tempo em que empreendeu uma busca do tipo filoséfico, Eckartshausen se entrega também a experimentos de cunho prético em campos como a fisica e a alquimia. Em 1798, por exemplo, publicou um tratado sobre “As descobertas mais recentes sobre o Calor e 0 Fogo”, que Ihe tomou dois anos de experiéncias priticas. Em 1799 publicou um artigo que nao se atreveu assinar, no qual pretendia reduzir todas as ciéncias a. um principio universal “que permite descobrir em todas as artes e todas as ciéncias 0 que até entio 86 havia sido considerado como 0 efeito do acaso”. Neste escrito, Eckartshausen demonstra que 0 principio da matéria € indivisfvel e incorruptivel. Para ele, todos os fendmenos da natureza se produzem por sintese e andlise da luz. A sombra também é matéria real, suscetivel de ser concentrada até tornar-se palpavel. No seu livro “A Nuyem sobre o Santuério” ele assegura que “a escuridio ¢ a luz so verdadeiras substancias”. Alguns anos antes, tinha construido uma maquina que permitia relacionar os odores com as cores, gragas a qual se descobriu que existia uma analogia entre as cores, as idéias, os odores e as paixdes. Tanto essa maquina como suas investigagdes neste campo Ihe atrairiam também problemas e inimizades, ja que se levantou a tematica de que “queria introduzir na Academia questdes de Teosofia e de Cabala” Pouco depois, publicou outro polémico artigo intitulado “Novas descobertas sobre a incorruptibilidade das coisas, a conservagio e a perpetuacio dos seres”, no qual afirma ser capaz. de separar a matéria luminosa dos corpos. S Bckartshausen, Op. Ci 5 Contudo, a obra mais famosa de Karl Von Eckartshausen no aparecerd até uns poucos anos antes de sua morte: “A Nuvem sobre o Santuério ou algo que nio suspeita a orgulhosa filosofia de nosso séeulo”, que alcancaria um grande éxito e logo seria reeditada e traduzida para vérios idiomas. Até aqui vimos de forma geral como era o personagem exterior € piblica de Eckartshausen. No entanto, o realmente importante € o Eckartshausen secreto, o membro da Comunidade luminosa de Deus, da “Escola da Via Interior” “dispersa por todo o mundo, mas governada por uma verdade e unida por um iinico espirito”.* Dela, obviamente, nao se pode falar sendo de dentro; mas © que quer que desejemos averiguar do Eckartshausen secreto e da Via Interior 0 encontraremos em suas obras. E de reconhecer que € dificil, com os poucos dados dispontveis, fazer-se uma idéia da extraordinéria importncia deste Mistico Alemfo. Talvez se possa suprir esta falta repassando algumas das idéias principais que deixou em seus escritos. Eckartshausen € um espirito inquieto, a quem tudo interessa: escreveu poesias teatro, novelas € ensaios. Com toda certeza ele mesmo traduziu, ao menos parcialmente, muitos dos textos nos quais, baseia suas exposicdes. Em seus numerosos ensaios, desenvolve um completo sistema cosmogénico, escreve paginas admiraveis sobre Deus e 0 Homem, se interessa pelo mundo dos espiritos e nao se envergonha de confessar que esté em contato com eles € que Ihes deve nao poucas inspiragdes. Por outro lado, também avisa dos perigos que comporta este tipo de intercdmbio. Contudo, 0 que realmente interessa a Eckartshausen, sua grande preocupagio, é a religiio. Em “A Nuvem sobre 0 Santudrio’7 escreve que “a religido esti destinada a reunir nele (0 templo) © homem com Deus” e “a religido consiste neste Unico e grande mistério da redengdo, que se nos revela de uma maneira ‘meramente simb6lica em todas as cerimdnias e representagdes religiosas”. A grande erudigo do autor engloba todas as disciplinas, profanas esotéricas e sua pena toca brilhantemente quase todos os temas. Em “Das Forgas magicas da Natureza” cita profusamente as, Sagradas Escrituras* e se apéia nelas. Comega apresentando um tema apaixonante para muitos, como é a magia, para acabar falando do que realmente Ihe interessa: a religio, como se a verdadeira finalidade deste livro fosse revelar os arcanos desta tiltima, Eckartshausen cita Bacon de Barulamio que afirmava que “s6 um fildsofo superficial se permite desprezar a religiao”. Ele escreveu este breve tratado para mostrar aos que buscam a verdade que existe uma completa harmonia entre 0 espiritual e 0 fisico. KARL VON ECKARTSHAUSEN E A MAGIA A linguagem do texto abaixo é uma linguagem técnica, dificilmente compreensivel para 0 no iniciado, mas que impacta por sua simplicidade e inspiragdo. Eckartshausen tem um ponto de vista muito particular da magia, uma visto que nao parece pertencer a nenhuma escola em particular. Para ele, a magia é, antes de tudo, uma forga. Uma forga que tem seu efeito no interior dos seres € que funciona por atragio, por afinidade, por ressonncia, permitindo manifestar o interior no mundo exterior. Mas, a0 mesmo tempo, a magia é “uma obra interior na qual se pe em jogo o natural € 0 Bekartshausen, Op. Cit. p.38. Bekartshausen, Op. Cit, p.54. "Em suas Noites misticas, p. 269 Munich, 1791, Eckartshausen escreve que «a regeneragdo é a transformaco do homem-animal em homem-espirito» recuperando-se assim a dignidade perdida ¢ que “a revelagdo nos ajuda a reencontré-la”. 6 sobrenatural” e “a cada operagdo magica corresponde um prévio despertar do espirito”®. A agdo da magia € possivel gracas ao mais fino e sutil dos ares, o éter. Este € 0 maior mistério da magia natural: “O éter é como um espelho onde se reflete tudo”. Contemplando-o © mago tem acesso 4 onisciéncia, Este “Ser dos Sees”, como 0 chama Eckartshausen, é “uma forga circular que atua em sete facetas cada uma das quais remete a outra..”.. Poderfamos dizer que o éter é a forga que move as forgas, 0 espfrito astral que esté por cima e em situagio de analogia com as sete forgas astrais, as forgas invisiveis da Natureza. Estas forgas astrais dependem de uma capacidade humana que é a imaginagdo criativa, capacidade de ordem transcendente que nao se deve confundir com a fantasia ou a alucinagdo. Esta capacidade no se pode desenvolver mediante a ingestio de drogas ou narcéticos; antes ao contririo, eles podem influencid-la de maneira nociva sensio que pela prética da mais alta espiritualidade. A imaginagao criativa é uma Einbildungskraft, ou seja “uma faculdade capaz de criar uma imagem a partir de outras, de assimilar, de unit”. © mago trabalha sobre esta imaginagdo criativa através do desejo. Este 6, de certo modo, a semente do objeto desejado. Se esta semente é plantada na terra conveniente e & oportunamente regada, 0 mago obteri o fruto desejado. Mas, de maneira geral, o homem comum s6 deseja de um modo inconsciente, sem ter uma idéia clara e precisa daquilo que aspira, e mais que desejo, seu querer deveria chamar-se “capricho”, A Vontade pelas coisas divinas ¢ algo que 0 homem perdeu, a0 menos parcialmente, com a queda, mas que pode ir recuperando pela prética constante das virtudes, da oragio e da fé. “O espirito astral estd sujeito 8 Vontade do ser humano e pode fazer-se ativo e tangivel mediante a Vontade humana” Eckartshausen explica que “existe uma faixa ou Ambito no qual o ser humano pode entrar em contato com o Espirito universal; neste Aambito, o espirito humano e o Espirito universal formam um *Continuum. Quando se conhece esta “faixa” e se permanece em contato com o Espirito universal, © desejo pelo divino do mago se realiza” MACROCOSMOS E MICROCOSMOS Para Eckartshausen, todo 0 visivel est intimamente ligado com o invisivel por leis eternas, pois, ambos constituem uma cadeia tnica, pela qual, na pura inteligéncia suprema nao ha nem “encima” nem “embaixo”, nem “dentro” nem “fora”. Ele coincide com outros tedsofos cristiios como Boehme € Louis Claude de Saint Martin para quem “os seres vivos imitam, em sua estrutura, © mundo astral em sua totalidade: o que esta encima é como o que esta embaixo” Todas as coisas esto ligadas entre si por lagos invisiveis € nao evidentes. Inclusive a menor coisa tem sua importincia, j4 que esté em relagdo com 0 todo. A menor mudanga pode produzir os maiores transtornos: nisto radica a efetividade e o perigo da operatividade dentro da espiritualidade. “O mundo visivel, com todas suas criaturas, nao ¢ mais que a figura do mundo invisivel; o exterior € a assinatura do interior... O interior trabalha constantemente para manifestar-se no exterior”. Os espiritos da Natureza obedecem a Vontade do mago porque “Macrocosmos e Microcosmos estio unidos”. “Tudo 0 que esté no interior, assim como a maneira como atua, se manifesta no exterior” ° Em suas Aclaracdes sobre a magia, IV-99, Munich, 1788, nosso autor opina que “O espirito de Deus em uma alma regenerada, essa é a verdadeira magia”. A HUMILDADE E OS SIMBOLOS O estudo dos simbolos ¢ indispensével na Espiritualidade dada & harmonia existente entre os seres € as coisas Divinas. Segundo Eckartshausen, 0 estudo dos simbolos permite compreender com 0 coragao 0 que poderia estar vedado a inteligéncia, “O corpo humano nos proporciona exemplos preciosos de uma analogia nao s6 poética, sendo real e fundada sobre fatos: 0 homem que sobe por uma encosta, inclina a cabega, aquele que desce, pelo contrério, a levanta. Isto significa que a humildade € necesséria para aquele que quer subir € que 0 orgulhoso realiza 0 contrério de um progresso”."° © homem pode aleangar 0 conhecimento das verdades superiores gragas aos simbolos deste mundo, pois 0 corpo visivel é 0 simbolo ou a sombra do invisfvel. O homem é um Microcosmo que esta em relagdo exata com o espirito do Macrocosmo. “Toda forma é a letra viva de um alfabeto; na natureza podemos ler como em um livro aberto o amor, a verdade ¢ a sabedoria de Deus”. A leitura dos simbolos nos elevara até as formas primordiais desta escritura. Mas 0 acesso compreensio dos simbolos, vedado a inteligéncia, 6, sobretudo “um caminho do coragaio” e um das portas de entrada para a Via Interior. ADAO: 0 HOMEM Uma parte importantissima do pensamento de Eckartshausen parece centrar-se num tema que se repete em praticamente todos seus ensaios: 0 homem. De fato, Adio era o ponto central, o rei da Criagdo. O homem atual, caido ¢ exilado, embora tenha perdido as prerrogativas adamicas, conserva a necessidade do estado luminoso do primeiro pai. Eckartshausen sabe ver mais além das aparéncias ¢ intui o singular destino do homem, sua ignorada grandeza. “O primeiro homem era um grande mago que caiu e perdeu sua sabedoria”, escreve. Por isso a magia, entendida como ele a entende é antes de tudo é o meio de reunir religiosamente 0 homem com seu Criador. Criado & imagem e semelhanga de Deus, o homem esté destinado a uma felicidade semelhante de seu Criador. No paraiso, o homem tinha um Corpo de Luz, um corpo “constituido por energia concentrada da luz e dos elementos, antes que estes elementos fossem destrogados pela queda” Segundo Eckartshausen, esse corpo estava composto por trés partes de luz e uma de matéria. Por outro lado, o homem era livre: sua liberdade consistia em permanecer ligado ao Criador ou afastar- se Dele. Ao se afastar por causa da concupiscéncia, o ser primordial, 0 homem de luz, cai no mundo imperfeito da matéria. Este estado é comparado por Eckartshausen a um envenenamento: “A doenga dos homens é um verdadeiro envenenamento; 0 homem comeu do fruto da arvore em que dominava © prinefpio corruptivel e material e se envenenou ao desfruté-lo”."! Seu corpo, constituido por energia luminosa concentrada, no tinha que alimentar-se mais que de alimentos incorruptiveis, de alimentos luminosos, mas provou o alimento perecivel, com 0 que se tornou perecivel e mortal. O homem esta na terra para alcangar o mais alto grau de felicidade, mas no no tempo, sendo na eternidade, No entanto, neste mundo, pode encontrar “o ponto a partir do qual se extraviou” " Esclarecimentos sobre a magia, Op. Cit., IV-318. " Eckartshausen, A Nuver..., Op. Cit. p. 95. 8 As imagens que Eckartshausen utiliza para explicar este mistério da queda e da regeneracio sio, as vezes, comovedoras: “O homem é semelhante a um fogo concentrado ¢ encerrado em um invéluero grosseiro; esté separado do fogo primordial ao qual aspira unir-se”. “Temos que queimar o invélucro que nos recobre de modo que este fogo nio se reduza a uma simples faisca. Entio consumiré tudo 0 que é impuro, modificaré 0 corpo, o fara receptivo a Deus..”.. “Esta alquimia é facilitada pelo fato de que existe, no mais secreto da natureza fisica, uma substncia pura que pode ajudar-nos a liberar a alma divina encerrada em nds: esta substincia é a esséncia paradisfaca que a queda do homem encerrou na matéria grosseira e que desde entdo enlanguesce sob suas cadeias”. Para Eckartshausen, 0 homem “é © objeto mais importante do mundo. As duas ordens de conhecimento nas quais participa fazem dele como uma drvore cuja raiz € 0 espirito: 0 tronco e os galhos as faculdades; a folhagem, as palavras; as flores, a Vontade; o fruto, a virtude. Ai da drvore que nio da frutos!” A QUEDA EA REDENGAO tema da queda & um dos que trata mais prolificamente, sobretudo nas obras relacionadas com a magia e 0 esoterismo, Vejamos, por alto, quais eram suas idéias a este respeito, Antes da queda, 0 homem era sibio, pois estava unido A sabedoria: depois deste funesto acontecimento foi separado dela. Criado para a contemplagao e 0 gozo espirituais, Adio, dispondo da liberdade" que Deus Ihe havia dado, quis gozar dos bens materiais que Ihe estavam submetidos, para isso ele necessitava de um corpo mais grosseiro, Isto nos indica que tudo, inclusive a queda, tem um sentido providencial. Como assinala Louis Cattiaux em sua “Mensagem Reencontrada” (XXV-44): “A queda do homem tem uma finalidade ivinamente elevada, que ¢ a aquisi¢do de um corpo baixo e sua glorificagdo em Deus” No jardim do Eden, Adao era feliz. Sua felicidade consistia em contemplar as energias da Unidade e em gozar, participando delas, da energia divina original. Esta idéia de “gozar” que esta totalmente de acordo com a etimologia hebraica do Eden, que significa “voluptuosidade”, merece talvez um breve comentario, No latim, ‘gozar’ é fruor (dai vem a palavra ‘fruigo’). De fruor provém fructus, “gozo, prazer, deleite, usuftuto’, e também ‘fruto’ Na simbologia crist@, o fruto representa a palavra, Em um antigo texto cristo, a “Epistola a Diogneto™! pode-se ler: “Aqueles que amam verdadeiramente a Deus se tornam um paraiso de delicias. Uma drvore carregada de frutos, de vigorosa seiva, cresce neles ¢ sfio ornados com os frutos mais ricos”. E em outro texto, esta vez um delicioso fragmento de um discreto autor do Século de Ouro espanhol, a “Visién Delectable” de Alfonso de la Torre, referindo-se aos profetas: “Aqueles que tém em sua vida a visio de Deus em sua fruigdo, na qual so a alegria e 0 gozo tao grandes, que exceto aquela (visio de Deus), todas as coisas do mundo Ihes parecem um pouco de Jodo”, Lembremos que, precisamente falando de profetas, o Evangelho segundo Mateus (VII-16) diz “por seus frutos os conhecereis”. Sacerdote da divindade, mago verdadeiro, Adio tinha recebido o conhecimento da ordem das coisas € sua miss4o era colocd-las no lugar que Ihes correspondia. Deste modo, o primeiro homem fazia a ponte entre a matéria e 0 espirito; era o coadjuvante de Deus. Era “uma criatura intermedidria que religava 0 mundo espiritual com o mundo sensivel” "= Em seu livto Sobre os hierdglifos mais importantes do coragdo humano, Eckartshausen assinala que “a liberdade de Adio consistia em permanecer ligado & Unidade ou afastar-se dela” " Citado por Jean Dani¢lou en Les symboles chrétins primitifs, Ed. du Seuil, Parts, 1961, p. 39. 14 Sobre os Mistérios mais importantes da Religido, p. 83, Munich, 1823. 9 ‘A queda é, para Eckartshausen, “um envenenamento”. O primeiro efeito deste envenenamento foi que “o principio incorruptivel (0 que se pode chamar corpo de vida, assim como a matéria do pecado é corpo de morte) cuja expansdo constituia a perfeigdo de Addo, se concentrou no interior e abandonou o exterior ao dominio dos elementos”. Deste modo, 0 homem caido perdeu a capacidade mégica ficando o mundo exterior fora de seu dominio, As consequiéncias naturais desta perda de luz, diz Eckartshausen, “foram a ignorancia, as paixdes, a dor, a miséria e a morte”, Revestido de um corpo imortal, Adao nao tinha porque ter conhecido a morte. Mas nosso primeiro pai pecou, sendo o pecado antes de tudo “um pecado de egoismo”. “O egoismo ¢ obra de Licifer e a causa da queda de Adio” Apesar da queda adamica, o jardim do Eden nfo desapareceu, mas “esta cheio de cardos ¢ espinhos”. Apesar de que nossos sentidos afastarem-se dela, existe uma forca luminosa que imanta nosso centro até a Unidade. Todo o segredo consiste em saber desperté-la de um modo harmonioso e equilibrado. 0 SENSORIUM As forgas divinas operam num érgio conereto. “Quem conhece esse rgdo e sabe a maneira de apropriar-se dele ou entrar em contato com ele, possui o poder sobre a natureza inteira”. “Deus expressa um sol espiritual que religa 0 finito ao infinito. Este sol € 0 6rgio da onipoténcia; os persas © chamavam Ormuz, os judeus Jehova, os gregos Logos”. “Este oraio é a natureza imortal e pura, a substincia indestrutivel que vivifica tudo e leva a mais alta perfeigéo e felicidade; 0 primeiro homem foi criado a partir desta substancia que ¢ 0 elemento puro”, Este paragrafo impressionante, que alude a0 mistério eucarfstico (a Sagrada Forma é redonda, como o disco solar), é sem diivida reveladora de uma liberdade espiritual que situa Eckartshausen acima das formas e acima dos dogmatismos. Eckartshausen fala também de “um azeite de ungo que renova o homem”. Este azeite, que reside no mais profundo da matéria fisica, é chamado “Electrum, 0 elemento divino, o érgio ou vehiculum do espirito de Deus, 0 vestido de ouro da filha do rei”. Este “Electrum charmal aetherum é 0 Verbo fisico e glorioso, 0 corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo”, Ele 0 descreve como “um azeite verdadeiro, luminoso e incombustivel: aquele que é ungido com ele depois de uma preparacio suficiente, se converte em um verdadeiro rei e em um sacerdote de Deus; 0 Espirito Santo atuard através dele e Ihe mostrard tudo”. Este prinepio vivifica o que esté morto e desenvolve a luz que esta enterrada em nés, dissolvendo o “gliiten’ do sangue. A REGENERAGAO © homem é um ser cafdo em um mundo tenebroso, separado da luz original, e a aceitagio inteligente e humilde desta realidade & a base para vencer 0 orgulho que nos cega e para voltar a reencontrar nosso estado glorioso. Mas, como fazé-lo? Como comegar? Eckartshausen se revela como um grande mestre quando diz que “A orago é 0 primeiro passo que nos conduz a regeneragao”, “A regeneragdo é um renascimento, uma transfiguragdo que nos assegura a paz com ns mesmos € com a natureza inteira”."* «Mais préximo da animalidade que do espirito” o gliten «constitui a matétia do pecado; seus efeitos variam segundo o modo em que € modificado pelas excitagdes sensiveis», “Esta substincia € também a causa da ignorincia e produz putrefacdo”. 's Esclarecimentos sobre a Magia, Op. Cit., IV-16. 10 “A possibilidade de recuperar nosso corpo luminoso reside sempre em nds como uma semente pronta para germinar” Existe, na natureza fisica “uma substincia pura que pode ajudar-nos a liberar a centelha divina encerrada em nés, esta substincia & a esséncia paradisfaca que a queda do homem encerrou na matéria grosseira e que desde entdo enlanguesce sob suas cadeias” 16 O segredo da regeneragdo consiste em fazer desaparecer a casca que mantém prisioneiro 0 coragio, divino: esta € a construgo do templo no qual Deus, a natureza e 0 homem estardo unidos para sempre “A verdadeira ciéncia real e sacerdotal é a ciéncia da regeneracdo, quer dizer, a reunido de Deus com o homem caido”."7 “Construir o verdadeiro templo € destruir a miserivel cabana adamica e substitui-la pelo templo de verdade; é desenvolver em nés 0 sentido interior a fim de que o principio metafisico incorruptivel supere o principio terrestre” 1® A regeneragio nao se refere s6 ao homem: abarca a natureza inteira, que ele arrastou em sua queda “A natureza aspira a sua restaurag2o: espera com nostalgia 0 momento no qual a humanidade alcangaré a mais alta perfeigao” Aoragho A caracteristica principal do estado caido do ser humano 6 a separagio. Neste mundo estamos separados da unidade, do centro, de Deus. Como escreve Eckartshausen, “Um espago intermediario se interpde entre nds ¢ o objeto de nossa busca; a oragdo elimina este espaco”. Vimos que a oracdo era 0 primeiro passo que conduz a regeneracio. Mas, 0 que € a oragio? De onde procede? “A verdadeira oragio, ndo provém da sinagoga nem do magnifico templo cristo, mas do coragio do homem”. Uma vez purificado, este é sem diivida lugar onde se produz a fecundagao de que fala 0 grande cabalista cristo Pico della Mirandola. Em uma oragao dirigida a “luz etema”, aquela que brilha nas trevas, mas que elas nao percebem, Eckartshausen pede “que sua propria Vontade abdique a fim de que seu coragao se converta num lugar santo e que a divindade se expresse de novo nele, como em todos os demais homens separados de Deus em razio da queda”, esta forma, a oragdo, 0 didlogo na intimidade do coragdo entre a centelha divina do homem e Deus, deve ser comecado através do estudo das Sagradas Escrituras, que € 0 meio mais eficaz para que possa realizar-se em nés, a Vontade de Deus, como sugere a mais famosa e também a mais magica das oragdes “O Pai Nosso” Verifica-se como € bela a Criago © ainda mais seu Retorno, dali que os grandes Mestres Tluminados, Santos e Homens de Deus, passavam horas bebendo o néctar da Sabedoria Divina. Porque a Gloria e Sabedoria do Pai Eterno sio infinitas. As Sagradas Escrituras dizem: “a Fé move montanhas”, Portanto, se o homem trabalhar convicto do que esta realizando, poderd ter a certeza de que a “obra seré realizada” FIM DA BIOGRAFIA ' Esclarecimentos sobre a Magia, IV-73. "A Nuvem, p. 99. "A Nuvern, p. 30. u A NUVEM SOBRE 0 SANTUARIO POR KARL VON ECKHARTSHAUSEN PARA MEDITAR ANTES DA LEITURA DAS CARTAS ‘SI OCULUS TUUS FUERIT SIMPLEZ TOTUM CORPUM TUUM LUCIDUM ERIT. (Lucas, Cap.11, v.34) A visio intema do homem € a razio, POTENTIA INTELLECTIVA MENS... Se essa visto interna do homem é iluminada pela luz divina, é ela, ent2o, o verdadeiro sol interno pelo qual todos os objetos vém ao nosso conhecimento. Enquanto a luz divina no houver iluminado essa visio nosso interior viverd nas trevas. A aurora de nosso interior comega quando essa luz aparece. Esse sol da alma ilumina nosso mundo interno intelectual do mesmo modo como 0 sol extemno ilumina o mundo. Da mesma forma que os objetos do mundo fisico vao-se tornando visiveis, aos poucos, com a chegada do sol no amanhecer, acontece também com 0 aparecimento do sol e os objetos espirituais do mundo divino, jé que o racional vem & nossa lembranga. Assim como a luz externa nos ilumina pelo caminho de nossa peregrinacio, a luz interior também 0 faz pelo caminho da salvagio. Porém, assim como a visio extema do homem esté exposta a diferentes perigos, a visio interna também 0 esté. Essa visio interna deve conservar-se incdlume, pura e inalterdvel; pode entdo elevar-se, como a visio externa, rumo ao céu; e da mesma maneira que a visio externa pode examinar o firmamento, as estrelas e 0 sol também a visio interna pode ver todo 0 céu, os anjos e o proprio Deus, SIGNATUM EST SUPER NOS LUMEN VULTUS TUL PS. 4 OSTENDAMOMNE BONUM TIBI, Ec. 6,33. Como € grandioso 0 destino que o homem tem em seu interior! Seu espirito pode elevar-se até os anjos e as inteligéncias; pode aproximar-se ao trono da divindade € ver em si proprio todas as magnificéncias do mundo divino, espiritual e fisico, AVERTE OCULUM TUUM, NE VIDEAT VANITATEM. Retira tua alma, tua visio interna de todas as coisas que nfo sto de Deus, fecha-as & noite de erro e do preconceito, e nao abras sendo ao sol do mundo espiritual. R Esse sol do mundo espiritual € Jesus Cristo, pois assim como o sol exterior, toma tudo susceptivel de ser conhecido no espirito e ativo no coragao; pois a sabedoria e 0 amor sfo suas forgas e a razio €.a vontade do homem, seus 6rgiios. Preenche as forgas com a sabedoria e a vontade com 0 amor. SOBRE 0 DESENVOLVIMENTO DAS FORGAS HUMANAS Quanto mais érgdos tiver um corpo para a recepeJo, maiores so o desenvolvimento e a propagagio de diversas influéncias € certamente sua existéncia seré mais rica e perfeita pois haverd mais capacidade vital. Porém, varias forgas podem dormir em nés enquanto nao tivermos érgios apropriados para elas, evitando assim que elas possam agir em nés. 6rgao é uma forma na qual uma forga atua, mas toda a forma consiste na direg4o determinada de suas partes para a fonte atuante. Organizar-se para a ago de uma forga quer dizer, simplesmente, dar as partes uma forma ou situagdo tal que a forga possa atuar nelas... Isto significa estar organizado Mas, da mesma maneira que, para um homem que no tem érgdos para a luz, olhos, por exemplo, a luz nao existe na realidade, enquanto aqueles que tém 6rgios desfrutam dela, assim muitos homens no podem desfrutar de alguma coisa da qual outros podem desfrutar. Quero dizer com isto que um homem que possui os 6rgaos prdprios para ouvir, ver e degustar esté de tal forma organizado que um outro homem que nao os possui, ndo esté, e por isso no ouve, nfo vé nem sente o gosto de determinadas coisas como o primeiro. Assim, neste caso, todas as explicagdes seriam intiteis, pois misturarfamos sempre idéias que recebemos através do préprio érgdo particular com as idéias do outro e somente poderiamos degustar ou compreender algo na medida em que tal chegasse mais perto das prdprias sensagdes. Como recebemos todas a nossas idéias através dos sentidos e todas as operagdes de nossa razio so abstragdes ¢ impressOes sensfveis, existem muitas coisas sobre as quais nao podemos ter qualquer idéia porque ainda nfo temos a sensagao dessas coisas. S6 aquilo para 0 que temos um érgao torna- se sensivel para n6s. Por isso, para 0 desenvolvimento das forgas superiores nao podem dar aos outros homens, que ndo esto organizados para tanto, qualquer idéia, ou talvez possam apenas dar alguma idéia obscura da verdade superior. Assim, todas as nossas discussdes e nossos escritos servem de pouco. Os homens devem primeiro organizar-se para a Verdade. Mesmo se escrevéssemos in-félios sobre a luz para os cegos isso no faria com que eles a compreendessem melhor. Deve-se dar-Ihes primeiramente 0 drgao da visio para poderem perceber a verdade. Agora a pergunta é: Qual é 0 "6rgdo da verdade”? O que é a capacidade da verdade no homem? Respondo: E a simplicidade do coragdo, pois a simplicidade coloca 0 coragio numa situagio conveniente para receber com pureza 0 raio da razao: e este organiza 0 coragdo para a recepgao da luz. PRIMEIRA CARTA 13 nosso século 6, de preferéneia a qualquer outro, © mais notavel para o observador imparcial e sereno. Por toda parte existe fermentagdo tanto na alma como no coragdo do homem; encontra-se a cada passo 0 combate da luz e das trevas, de idéias mortas e idéias vivas, da vontade morta e inerte com a forga viva e ativa; se vé por todo lado, enfim, a guerra entre 0 homem animal e 0 homem espiritual que desperta. Homem natural!... renuncia as tuas iltimas forgas; até teu proprio combate revela a tua natureza superior que repousa em teu seio. Pressentes a tua dignidade, tu a sentes mesmo; porém tudo é ainda obscuro ao teu redor e a Kimpada da tua débil razao nao € suficiente para iluminar os objetos aos quais deverias aspirar. Diz-se que vivemos no século das luzes ¢ seria mais justo dizer que vivemos no século do crepiisculo: aqui e ali, 0 raio luminoso penetra através da nuvem das trevas, mas ele nao ilumina ainda com toda a sua pureza nossa razio e nosso corago. Os homens nao estio de acordo sobre as suas concepgdes: sabios disputam; e onde hé disputa, nao existe a luz nem se conhece a verdade. Os objetos mais importantes para a humanidade so ainda indeterminados, Nao se esté de acordo nem sobre o principio da razo, nem sobre o principio da moralidade ou do mével da vontade. Isto prova que, mal grado estejamos na grande época das luzes, ainda nfo sabemos bem o que ela representa em nosso cérebro e em nosso coragao. Seria possivel que nds soubéssemos tudo isto mais cedo, se no imagindssemos que temos j4 a flama do conhecimento em nossas méos, ou se pudéssemos langar um olhar sobre a nossa fraqueza e reconhecer que ainda nos falta uma luz mais elevada. Nés vivemos nos tempos da idolatria da razio, depositamos uma tocha sobre 0 altar, proclamamos em altas vozes que a aurora esté despontando e que por toda parte o dia aparece realmente, e deste modo 0 mundo se eleva cada vez. mais da obscuridade a luz e a perfeigao, pelas artes, as ciéncias, gosto refinado ou mesmo por uma perfeita compreensio da religifo. Pobres homens! Até onde haveis exaltado a felicidade dos homens? J4 existiu um século que tivesse custado tantas vitimas como o presente? Existiu um século no qual a imoralidade e 0 egoismo tenham predominado mais do que neste? Conhece-se a arvore pelos seus frutos. Insensatos'... Com © vosso falso raciocinio... obterieis a luz com a qual quereis esclarecer 0s outros? Sera que todas as vossas idéias ndo sio tiradas dos sentidos, que no vos dio qualquer verdade mas somente os fenémenos externos? Tudo aquilo que dé o conhecimento no tempo e no espago nao € relativo? Tudo aquilo que nés podemos chamar verdadeiro, ndo é apenas uma verdade relativa?... Ndo se pode achar a verdade absoluta na esfera dos fendmenos externos. Assim sendo, vosso raciocinio ndo possui a "Essencialidade” mas somente a aparéncia da verdade e da Luz; assim é que, quanto mais esta aparéncia aumenta e se expande, mais a "Esséncia da luz" decresce no interior, e © homem se perde na aparéncia e tateia para atingir as fantdsticas imagens, despidas de realidade. A filosofia do nosso século eleva a fraca razdo natural & objetividade independente; atribuindo-Ihe mesmo um poder legislativo, isentando-a de uma autoridade superior. Toma-a aut6noma e a diviniza, suprimindo entre Deus e ela toda relagdo, toda comunicagio, e esta razio deificada, que no tem outra lei que a sua prépria, deve governar os homens e torné-los felizes!... As trevas devem expandir a luz... A pobreza deve dar a riqueza!... Ea morte deve dar a vidal... A verdade conduz os homens a felicidade... Podeis vés dé-la? 4 O que, vés chamais verdade é uma forma de concep¢iio vazia de substincia cujo conhecimento foi adquirido externamente, pelos sentidos; o entendimento coordena-os por uma sintese das relagdes observadas em ciéneia ou em opinides. Vs ndo tendes absolutamente verdade material, o principio espiritual e material é para vés um Niimero. Retirais das Escrituras e da tradigio a verdade moral, te6rica e pritica; mas como a individualidade € 0 principio de vossa razio, e 0 egofsmo 0 mével da vossa vontade, nao vedes a vossa luz interior, a lei moral que governa todas as coisas, ou a rechagais com a vossa vontade. E até 1d que as luzes atuais foram conduzidas. A individualidade sob 0 manto da hipocrisia filosofica, é a filha da corrupgio. Quem pode afirmar que 0 sol esté em pleno meio dia, se nenhum raio luminoso alegra a terra e nenhum calor vivifica as plantas? Se a sabedoria no melhora os homens e 0 amor ndo 0s torna mais, felizes, bem pouca coisa se fez ainda para o todo. Oh! Se o homem natural ou © homem dos sentidos pudesse simplesmente perceber que o principio de sua razo € 0 mével de sua vontade so somente a individualidade, e que por isso mesmo, ele devia ser extremamente miserdvel, procuraria um princfpio mais elevado no seu interior, & aproximar-se-ia da tinica fonte que pode saciar a todos, porque ela é a "Sabedoria na sua propria esséncia" Jesus Cristo é a Sabedoria, a Verdade e o Amor. Como Sabedoria, Ele é 0 prinejpio da razdo, a mais, pura fonte do conhecimento. Como Amor, Ele é 0 principio da moralidade, © mével essencial e puro da vontade. O Amor e a Sabedoria engendram o Espirito da Verdade, a luz interior, esta luz ilumina em nés os objetos sobrenaturais e os torna objetivos. E inconcebfvel observar até que ponto o homem cai no erro quando ele abandona as verdades simples da fé, e a elas opde a sua propria opiniao. Nosso século procura definir cerebralmente o prinejpio da razdo e da moralidade, ou do mével da vontade; se os senhores sdbios estivessem atentos, veriam que estas coisas encontrariam melhor resposta no coragdo do homem mais simples, que em todos os seus brilhantes raciocinios. O cristo pratico encontra este mével da vontade, principio de toda imoralidade, objetiva e realmente no seu coragdo e este mével se exprime na seguinte formula: "Ama a Deus sobre todas as coisas e ao teu préximo como a ti mesmo”, O amor de Deus e do préximo € 0 mével da vontade do cristdo; ea esséncia do proprio amor é Jesus Cristo em nds. Assim é que o principio da razdo é a sabedoria em nés; e, a esséncia da sabedoria, a sabedoria em sua substincia é ainda Jesus Cristo - a Luz do Mundo. Assim, encontramos nele 0 principio da razdo e da moralidade. Tudo 0 que eu digo aqui no é uma extravagincia hiperfisica, é a realidade, a verdade absoluta que cada um pode comprovar experimentalmente, desde que receba em si o princfpio da raziio e da moralidade, Jesus Cristo, como sendo a Sabedoria e 0 Amor essenciais. Mas a visio do homem dos sentidos é profundamente inapta para captar a base absoluta de tudo aquilo que é verdadeiro, 0 transcendental. Mesmo a razio, que nds queremos elevar hoje sobre 0 trono como legisladora, € tao somente a razio dos sentidos, cuja luz difere da luz transcendental, como a fosforescéncia do fogo- fatuo difere do esplendor do sol. A verdade absoluta ndo existe para o homem dos sentidos mas somente para 0 homem interior ¢ espiritual, que possui um sensorium préprio; ou, para dizer mais precisamente, que possui sentido interior para perceber a verdade absoluta do mundo transcendental; um sentido espiritual que 15 percebe 0s objetos espirituais tio naturalmente em objetividade, como o sentido exterior percebe os objetos exteriores. Este sentido interior do homem espiritual, este sensorium de um mundo metafisico ndo 6, infelizmente ainda conhecido de todos, é um mistério do reino de Deus. A incredulidade atual para todas as coisas onde a razio dos nossos sentidos ndo encontra ponto de objetividade sensivel, é a causa que nos faz. desconhecer as verdades, as mais importantes para 0 homem. Mas, como poderia ser de outra forma? Para ver, € necessario ter olhos; para ouvir, ouvidos. Todo objeto sensivel requer seu sentido. Assim & que 0 objeto transcendental requer também seu sensorium, - e este mesmo sensorium esté fechado para a maioria dos homens. Desta forma, 0 homem dos sentidos julga o mundo metafisico como 0 cego julga as cores, e como o surdo julga o som. Existe um principio objetivo e substancial da razdo e um mével objetivo e substancial da vontade. Estes dois conjuntos formam 0 novo principio da vida cuja imoralidade, é essencialmente inerente. Esta substincia pura da razio e da vontade reunidas é 0 divino e o humano em nés; Jesus Cristo, a Luz do mundo, que deve entrar em relago direta conosco para ser realmente conhecida. Este conhecimento real é a fé viva onde tudo se passa em espirito e em verdade. Assim, deve existir necessariamente para essa comunicagdo, um sensorium organizado e espiritual, um 6rgao espiritual e interior, susceptivel de receber essa luz, mas que esté fechado na maioria dos homens pela espessura dos sentidos. Esse Grgdo interior é 0 sentido intuitivo do mundo transcendental, ¢ antes que esse sentido de intuig20 seja aberto em nés, no podemos ter nenhuma certeza objetiva da verdade mais elevada. Este 6rgdo foi fechado por conseqiiéncia da queda, que atirou © homem no mundo dos sentidos. A matéria grosseira que envolve esse sensorium interior é uma catarata, ou véu que cobre a visio interior, tornando a visio exterior inapta a visio do mundo espiritual. Esta mesma natureza ensurdece nosso ouvido interior, de maneira que no ouvimos mais 08 sons do mundo metafisico; ela paralisa nossa lingua interior, de maneira que nds nao podemos mais nem mesmo balbuciar as palavras de forga do espfrito, que pronuncidvamos outrora pelas quais nés governévamos a natureza exterior e os elementos. A abertura desse sensorium espiritual é 0 mistério do Novo Homem, o mistério da Regeneragio e da unio do mais intimo do homem com Deus; é a meta mais elevada da religido aqui em baixo, desta religido cuja finalidade mais sublime é de unir os homens a Deus em Espirito e Verdade. Podemos facilmente perceber por meio disto, porque a religio tende sempre & sujeigd0 do homem material. Ela age assim porque quer tornar o homem espiritual dominante, a fim de que o homem espiritual ou verdadeiramente racional governe 0 homem dos sentidos. O fil6sofo sente também esta verdade; seu etro somente consiste em ndo conhecer 0 Verdadeiro principio da razio e querer colocar em seu lugar a sua individualidade, sua razao dos sentidos. Como o homem possui em seu interior um 6rgdo espiritual e um sensorium para receber o principio real da razio ou a Sabedoria divina, e © mével real da vontade, ou 0 Amor divino, ele possui também no seu exterior, um sensorium fisico e material para receber “a aparéncia” da luz e da verdade. Como a natureza exterior nio possui a verdade absoluta, mas somente a verdade relativa do mundo fenomenal, assim também a razio humana no pode mais adquirir verdades inteligiveis, mas somente a aparéncia do fendmeno que apenas excita nela, para mével de sua vontade, a concupiscéncia, no que consiste a corrupgdo do homem sensorial e a degradagao da natureza. sensorium externo do homem & composto de matéria corruptivel, enquanto que o sensorium interior tem por substrato fundamental, substincia incorruptivel, transcendental e metafisica, O primeiro & causa de nossa depravagdo e nossa mortalidade; 0 segundo & o principio de nossa incorruptibilidade e imortalidade. Nos dominios da natureza material e corruptivel, a mortalidade esconde a imortalidade e a causa de nosso estado miserdvel é a matéria corruptivel e perecivel. Para que 0 homem seja libertado desta angiistia, é necessério que o princfpio imortal e incorruptivel que 16 esta em seu intimo se exteriorize e absorva 0 princfpio corruptivel, a fim de que 0 invélucro dos sentidos seja destrufdo e que © homem possa aparecer na sua pureza original. Este invélucro da natureza sensivel uma substincia essencialmente corruptivel, que se encontra em nosso sangue, forma as ligagdes da carne e escraviza nosso espirito imortal a essa carne mortal. E possfvel romper mais ou menos esse envoltério em cada homem e em conseqiiéncia conceder a seu espfrito, uma liberdade mais ampla, para que ele chegue a um conhecimento mais preciso do mundo transcendental. Hé trés graus sucessivos de abertura em nosso sensorium espiritual, O primeiro, apenas nos eleva a0 plano moral e © mundo transcendental, af age em nds por impulsos interiores, chamados inspiragdes. O segundo grau, mais elevado, abre nosso sensorium para a recepgdo do espiritual e do intelectual, e o mundo metafisico age em nés por iluminagGes interiores. O terceiro e mais alto grau - 0 mais raramente alcangado - desperta 0 homem interior por completo. Ele nos revela o Reino do Espirito e nos torna susceptiveis de experimentar objetivamente as realidades metafisicas e transcendentais; daf todas as visdes sio explicadas fundamentalmente. Assim sendo, nés temos no interior, 0 sentido e a objetividade, como no exterior. Somente os objetos e os sentidos sio diferentes. No exterior, existe 0 mével animal e sensual que age sobre nés, € a matéria corruptivel dos sentidos sofre a agdo. No interior, é a substincia indivisivel e metafisica que se introduz em nés, e o ser incorruptivel ¢ imortal do nosso espirito recebe suas influéncias. Mas, em geral, no interior, as coisas se passam tio naturalmente como no exterior; a lei € por toda parte a mesma. Portanto, como 0 espirito, ou nosso homem interior tem um senso completamente diferente e uma outra objetividade do homem natural, no devemos de maneira alguma surpreender-nos que ele seja um enigma para os sdbios do nosso século, que nao conhecem estes sentidos, € nfo tiveram jamais a percepgao objetiva do mundo transcendental e espiritual. Eis af porque eles medem o sobrenatural com a medida dos sentidos, confundem a matéria corruptivel com a substincia incorruptivel, e seus julgamentos sio necessariamente falsos sobre um assunto para a percepco do qual eles no possuem nem sentidos nem objetividade, e, por conseguinte, nem verdade relativa nem verdade absoluta. No que concerne as verdades que anunciamos aqui, temos que agradecer infinitamente a filosofia de Kant. Kant, incontestavelmente, provou que a razdo em seu estado natural, nao sabe absolutamente nada do sobrenatural, do espiritual e do transcendental, e que ela nada pode conhecer, nem analiticamente, nem sinteticamente e que assim sendo, ela nao pode provar nem a possibilidade nem a realidade dos espfritas, das almas e de Deus. Isto é uma grande verdade, elevada e benéfica para os nossos tempos; é verdade que So Paulo j4 a havia estabelecido (primeira epistola aos Corintios Cap. I, V. 2-24); mas a filosofia paga dos sibios cristdos soube ignord-la até Kant. O beneficio desta verdade é duplo. Primeiramente, ela pOe limites intransponiveis ao sentimento, a0 fanatismo e A extravagdncia da razio camal. Em seguida poe na mais resplandecente luz a necessidade € a divindade da Revelacdo. O que prova que a nossa raz’io humana, em seu estado obtuso, nao tem nenhuma fonte objetiva para o sobrenatural sem a revelagdo; nenhuma fonte para instruir-se de Deus, do mundo espiritual, da alma e da sua imortalidade; de onde se segue que seria absolutamente impossivel sem revelagdo, saber ou conjeturar algo sobre essas coisas. Por isto nés somos devedores a Kant por ter provado nos nossos dias aos fil6sofos, como j4 0 havia sido desde muito tempo em escola mais elevada da comunidade da Luz, que "sem Revelagio, nenhum conhecimento de Deus e nenhuma Doutrina sobre a alma seriam possiveis". Por isso, é claro que uma revelagio universal deve servir de base fundamental a todas as religiGes de mundo. Assim, segundo Kant, esté provado que o mundo inteligivel é inteiramente inacessivel a razio "7 natural, € que Deus habita uma luz na qual nenhuma especulagio da razio limitada pode penetrar. Desta forma o homem dos sentidos ou homem natural ndo tem nenhuma objetividade do transcendental; daf, a revelago de verdades mais elevadas lhe € necesséria e por isto também a fé na revelago, porque a fé Ihe di os meios de abrir seu sensorium interior, pelo qual as verdades inacessiveis ao homem natural, Ihe podem ser perceptiveis. E perfeitamente plausivel que com os novos sentidos, possamos adquirir novas realidades. Estas realidades, j4 existem, mas nés ndo as distinguimos porque nos falta 0 érgdo da receptividade E assim que, embora as cores existam, 0 cego nao as vé; 0 som também existe, mas 0 surdo nfo o escuta. Nao devemos procurar a falta no objeto perceptivel mas no 6rgdo receptor. Com o desenvolvimento de um novo 6rgio nés temos uma nova percepe%o, novas objetividades. O mundo espiritual ndo existe para nés porque 0 6rgdo que o torna objetivo em nés ndo esti desenvolvido. Com 0 desenvolvimento deste novo érgio, a cortina levanta-se imediatamente, o véu, impenetrivel até 0 momento, é rasgado, a nuvem a frente do santudrio € dissipada, um novo mundo surge num relance para nds; as vendas tombam dos olhos e nés somos, no mesmo instante, transportados da legido dos fendmenos para a da verdade. S6 Deus é Substincia, Verdade absoluta, Ele s6 € aquele que Fe nds somos aquilo que Ele nos fez. Para Ele, tudo existe na unidade; para nds, tudo existe na multiplicidade. Muitos homens nao tém a menor idéia deste despertar do sensorium interior como também no a tém para o “objeto” verdadeiro e interior da "Vida do Espirito”, que no conhecem; nem sequer pressentem de nenhuma maneira. Dai, ser-Ihes impossfvel saber que se pode perceber o espiritual e 0 transcendental e que se pode ser levado a0 sobrenatural, até A visio. A verdadeira edificagdo do templo consiste unicamente em destruir a miseravel cabana adimica e construir a templo da divindade; isto é, em outros termos, desenvolver em nés 0 sensorium interior ou 6rgao que recebe Deus; depois deste desenvolvimento, © principio metafisico e incorruptivel reina sobre o principio terrestre € o homem comega a viver, no mais no prinefpio do amor prdprio, mas no Espirito e na Verdade de que ele é 0 templo, A lei moral passa entdo a ser amor ao préximo e, © amor mais puro, enquanto que ela nfo é para 0 homem natural, exterior dos sentidos, sendo uma simples forma de pensamento. E 0 homem espiritual, regenerado no espirito, vé tudo no ser do qual 0 homem natural tem somente formas vazias do pensamento, 0 som vazio, os simbolos e a letra, que so todos imagens mortas, sem 0 espirito interior. O fim mais elevado da religido é a unido mais fntima do homem com Deus, ¢ esta unido ja & possivel mesmo aqui embaixo, mas ela ndo o é senao pela abertura de nosso sensorium interior e espiritual, que torna nosso coragao susceptivel de receber Deus. Af esto os grandes mistérios dos quais a nossa filosofia ndo duvida, e cuja chave no pode ser encontrada entre os sfbios de escola, Contudo, sempre existiu uma escola mais elevada, a qual este dep6sito de toda ciéncia foi confiado, € esta escola era a comunidade interior e luminosa do Senhor, a sociedade dos Eleitos que se propagou, sem interrupgo, desde © primeiro dia da criagdo até aos tempos presentes. Seus membros, é verdade, estio dispersas pelo mundo, mas eles estiveram sempre unidos por um espirito e por uma verdade, e nfo tiveram jamais sendo um s6 conhecimento, uma Gnica fonte de verdade, tum senhor, um doutor e um mestre, em que reside substancialmente a plenitude Universal de Deus, € que os iniciou, Ele s6, nos mistérios elevados da natureza e do Mundo Espiritual. Esta comunidade da luz foi denominada em todos os tempos a Igreja invisivel e interior, ou a comunidade, a mais antiga, da qual nés vos falaremos mais detalhadamente na préxima carta. SEGUNDA CARTA E necessério, meus carissimos irmaos no Senhor, dar-vos uma idéia pura da Igreja interior, desta "Comunidade Luminosa de Deus", que esti dispersada através do mundo; mas que é governada pela verdade e unida pelo espirito. Esta comunidade da luz existe desde 0 primeiro dia da criagio do mundo, e sua existéncia permanecerd até o tiltimo dia dos tempos. Ela a sociedade dos eleitos que distinguem a luz. nas trevas, separando-a em sua esséncia. Esta comunidade da luz possui uma escola na qual o préprio Espirito de Sabedoria instrui aqueles que tém sede de luz; e todos os mistérios de Deus e da natureza so conservados nesta escola, pelos filhos da luz. O conhecimento perfeito de Deus, da natureza e da humanidade, so os objetos do ensinamento desta escola. E dela que todas as verdades vém ao mundo; ela foi a escola dos profetas € de todos aqueles que procuram a sabedoria; e é somente nesta comunidade que se encontra a verdade e a explicago de todos os mistérios. Ela é a comunidade mais {ntima, e possui membros de todo o universo, eis as idéias que se podem ter dela. Em todos os tempos, 0 exterior tinha por base um interior do qual nao era mais do que a expresso e o plano. Assim 6 que, em todas as eras, existiu uma assembléia intima, a sociedade dos eleitos, a sociedade daqueles mais capazes para a luz € que a procuravam; esta sociedade intima era chamada o Santuério interior ou a Igreja interior. Todos os simbolos, ceriménias € ritos que possui a Igreja exterior, correspondem a letra da qual o espirito e a verdade se acham na Igreja interior. Portanto, a Igreja interior € uma sociedade cujos membros estio espalhados por todo © mundo, mas ligados intimamente pelo espfrito do amor e da verdade, ocupada sempre na construgio do grande templo para a regeneragio da humanidade, pela qual o reino de Deus hé de se manifestar. Esta sociedade reside na comunhao daqueles que esto mais aptos para receber a luz, ou dos eleitos. Estes eleitos estio unidos pelo espfrito e a verdade e o seu chefe & a propria Luz do Mundo, Jesus Cristo, 0 eleito da luz, 0 mediador tinico da espécie humana, o Caminho, a Verdade e a Vida; a luz primitiva, a sabedoria, 0 tinico "meio" pelo qual os homens podem retornar a Deus. A Igreja interior nasceu logo apés a queda do homem e recebeu de Deus, imediatamente, a revelagio dos meios pelos quais a espécie humana caida seria reintegrada na sua dignidade, e libertada de sua miséria. Ela recebeu 0 depésito primitivo de todas as revelagdes e mistérios; ela recebeu a chave da verdadeira ciéncia, tanto divina como natural. Mas, quando os homens se multiplicaram, a fragilidade e fraqueza inerentes a espécie impuseram uum culto exterior para ocultar a sociedade interior e encobrir, pela letra, o espirito e a verdade Porque a coletividade, a multidao, 0 povo, nao eram capazes de compreender os grandes mistérios interiores e constituiria um perigo demasiado grande confiar © mais santo aos incapazes, encobriram as verdades interiores nas cerimOnias exteriores e sensiveis, para que © homem, pelo sensivel ¢ 0 exterior, que € 0 simbolo do interior, se tornasse gradativamente capaz de aproximar-se mais das verdades intemas do espirito. Mas a esséncia sempre foi confiada aquele que, no seu tempo, tinha mais aptiddes para receber a luz; © somente esse era o possuidor do depdsito primitivo como Sumo sacerdote do Santuério. Quando se tornou necessério que as verdades interiores fossem simbolizadas nas ceriménias exteriores, por causa da fraqueza dos homens que nao eram capazes de suportar a vista da luz, 0 culto exterior nasceu, mas ele foi sempre o tipo e © simbolo do interior, quer dizer, 0 simbolo da verdadeira homenagem feita a Deus “em espirito e verdade" A diferenga entre 0 homem espiritual e 0 homem animal, ou entre o homem racional e o homem dos sentidos, obrigou as formas exterior e interior. As verdades intemas ou espirituais mau 19 envoltas em simbolos e cerim6nias, para que 0 homem animal ou dos sentidos pudesse despertar e ser conduzido, pouco a pouco, as verdades interiores. Portanto, o culto exterior é uma representacio, simbélica das verdades interiores, das verdadeiras relagdes do homem com Deus, antes e apds a queda, no estado de sua dignidade, de sua reconciliagdo e de sua mais perfeita unido. Todos os simbolos do culto exterior esto construidos sobre estas trés relagdes fundamentai cuidado do exterior era a ocupagio dos sacerdotes, e cada pai de familia estava, nos tempos primitivos, encarregado deste oficio. As primicias dos frutos e as primeiras crias dos animais eram oferecidas a Deus; os primeiros simbolizando que tudo o que nos alimenta e nos conserva vem Dele; € 0s segundos simbolizando que 0 homem animal deve morrer para dar lugar a0 homem espiritual e racional. A adoragdo exterior de Deus ndo deveria jamais separar-se da adoragio interior, mas como a fraqueza do homem leva-o facilmente a esquecer o espirito para agarrar-se 3 letra, o Espirito de Deus despertou sempre, entre todas as nagdes, naqueles que tinham as aptiddes necessérias para a luz, e serviu-se deles, como seus agentes, para espalhar por todo 0 mundo a verdade e a luz, segundo a capacidade dos homens a fim de vivificar a letra morta, pelo espfrito e a verdade. Por estes instrumentos divinos, as verdades interiores do santuério eram levadas as nagdes mais, longinquas, e modificadas simbolicamente, segundo os habitos, capacidade de cultura, clima e receptividade. De maneira que 0s tipos exteriores de todas as religides, seus cultos, suas ceriménias € seus livros santos, em geral, tém quase claramente por objeto as verdades interiores do santuério, pelas quais a humanidade seré conduzida, somente no devido tempo, a universalidade do conhecimento da verdade tinica. Quanto mais o culto exterior de um povo permaneceu unido a0 espirito das verdades interiores, mais a sua religiio foi pura; quanto mais a letra simbélica se separou do espfrito interior, mais a religido se tornou imperfeita, até 0 ponto de degenerar, entre alguns, em politefsmo, quando a letra exterior perdeu completamente seu espfrito interior e nio restou mais de que 0 cerimonial exterior, sem alma e sem vida. Quando os germens das verdades mais importantes puderam ser levados aos povos, pelos agentes de Deus, Ele escolheu um povo determinado para erigir um simbolo vivo, destinado a mostrar como Ele queria governar toda a espécie humana em seu estado atual, e conduzi-la 4 sua mais alta purificagdo e perfeigdo. Deus proprio deu a seu povo a sua legislago exterior religiosa; e, como signo de sua verdade, entregou-lhe todos os simbolos e todas as ceriménias que continham a esséncia das verdades interiores e grandiosas do santuério. Deus consagrou essa igreja exterior em Abrago, deu-lhe os mandamentos por Moisés, e assegurou- Ihe sua mais alta perfeigdo pela dupla missio de Jesus Cristo, no principio, vivendo pessoalmente na pobreza e no sofrimento, e depois pela comunhao de seu espirito na gloria do ressuscitado. Mas, como 0 préprio Deus deu os fundamentos da Igreja exterior, a totalidade dos simbolos do culto exterior formou a ciéncia do templo, ou dos sacerdotes daqueles tempos, ¢, todos os mistérios das verdades mais santas ¢ interiores, tornaram-se exteriores pela revelagio. O conhecimento cientifico deste simbolismo santo, era a ciéncia de religar Deus ao homem cajfdo, e daf a religidio recebeu seu nome como sendo a doutrina que liga o homem, separado e afastado de Deus, a Deus que é sua origem. Vé-se facilmente por esta idéia pura do nome religidio em geral, que a unidade da religiao esta no santudrio intimo, e que a multiplicidade das religides exteriores nao pode jamais alterar nem enfraquecer esta unidade que é a base de todo exterior. A sabedoria do templo da antiga alianga era governada pelos sacerdotes e pelos profetas. O exterior, a letra do simbolo, 0 hierdglifo; eram confiados aos sacerdotes. Os profetas tinham a seu cuidado o interior, 0 espirito e a verdade, e sua fungo era a de conduzir sempre os sacerdotes da letra ao espfrito, quando Ihes acontecia esquecer 0 espfrito e agarrar-se 2 0 letra. A ciéncia dos sacerdotes era a do conhecimento dos s{mbolos exteriores. A ciéncia dos profetas era a posse pritica do espirito e da verdade destes simbolos. No exterior a letra; no interior © espirito vivificante. Existia também, na antiga alianga, uma escola de sacerdotes e uma escola de profetas. A dos sacerdotes ocupava-se dos emblemas e a dos profetas das verdades, que estavam encerradas sob os emblemas. Os sacerdotes estavam de posse exterior da Arca, dos pies da proposigio, do candelabro, do mand, da vara de Aario, e os profetas estavam de posse das verdades interiores e espirituais que eram representadas exteriormente pelos simbolos dos quais vimos falar. A Igreja exterior da antiga alianga era visivel; a Igreja interior era sempre invisfvel, devia ser invisivel, e entretanto governar tudo, porque somente a ela estavam confiados o poder e a forca. Quando 0 culto exterior abandonava o interior, caia, e Deus provava por uma continuidade das mais notiveis ocorréncias, que a letra nfo pode subsistir sem o espirito; que ela somente é dada para conduzir a0 espirito, tornando-se initil e mesmo rejeitada de Deus, se abandona sua finalidade Assim como o espirito da natureza se espalha nas profundezas mais estéreis para vivificar, para conservar e para dar desenvolvimento a tudo que Ihe € susceptivel, assim também o espirito da luz se espalha no interior de todas as nagdes, para animar completamente a letra morta pelo espirito vivo. E assim que encontramos um J6 entre os idélatras, um Melquitsedek entre as nagGes estrangeiras, um José entre os sacerdotes egipcios, e Moisés no pafs de Madian, como prova palpavel de que a comunidade interior daqueles que so capazes de receber a luz, estava unida pelo espirito e pela verdade em todos 0s tempos e entre todas as nagdes. A todos esses agentes de luz, da comunidade interior e tinica, uniu-se 0 mais importante de todos os agentes, 0 proprio Jesus Cristo, no meio do tempo como um rei-sacerdote; segundo a ordem de Melquitsedek. Os agentes divinos da antiga alianga no representaram sendo as perfeigdes particulares de Deus; no decorrer dos tempos uma ago poderosa devia produzir-se, que mostrasse de uma s6 vez. todo em Um. Um tipo universal apareceu acentuando a completa unidade, abrindo uma nova porta e destruindo a numerosa servida0 humana. A lei do amor comegou quando a imagem emanada da propria Sabedoria mostrou a0 homem toda grandeza de seu ser, revigorou-o de todas as forgas, assegurou-Ihe sua imortalidade e elevou seu ser intelectual, para tornar-se o verdadeiro templo do Espirito. Este agente maior de todos, este Salvador do mundo, este regenerador universal fixou toda a sua atengdo sobre esta verdade primitiva, pela qual o homem péde conservar sua existéncia e recobrar a dignidade que possufa. Em suas humilhagdes, implantou a base da redengo dos homens e prometeu cumpri-la completamente por seu espirito. Ele mostrou também num perfeito esbogo aos seus apéstolos, tudo o que devia se passar um dia com seus eleitos. Ele continuou a cadeia da comunidade interior da luz, entre seus eleitos, aos quais enviou o Espirito da Verdade, e confiou- Ihes 0 dep6sito primitivo mais elevado de todas as verdades divinas e naturais, em sinal de que eles nfo abandonariam jamais sua comunidade interior. Quando a letra e 0 culto simb6lico da Igreja exterior da antiga alianga passaram em verdade pela encamago do Salvador, e foram atestados em sua pessoa, novos simbolos se tornaram necessirios para o exterior, que mostrassem segundo a letra, a realizagio futura ou integral da redenco. Os simbolos e os ritos da igreja exterior Cristi foram dispostos segundo estas verdades invaridveis € fundamentais, e anunciaram coisas de uma forga e importincia que nfo se podem descrever, nem foram reveladas aqueles que conheciam o santuério interior. Este santudrio interior permaneceu sempre invaridvel, ainda que o exterior da religidlo, ou seja, a letra recebesse no decorrer do tempo e circunstincias diferentes modificagdes, e se afastasse das verdades interiores, que s0 as que podem conservar o exterior ou a letra. O pensamento profano de querer atualizar tudo o que é cristio, e de querer cristianizar tudo 0 que € politico, modificou 0 edificio exterior e cobriu com as trevas e a morte o que estava no interior, a luz e a vida. Daf Py nasceram as divisdes e as heresias: 0 espfrito sofistico queria explicar a letra embora jé tivesse perdido 0 espirito da verdade. A incredulidade levou a corrupgio ao mais elevado grau; até se procurou atacar 0 edificio do cristianismo em suas primitivas bases, confundindo o interior santo, com 0 exterior que estava sujeito as fraquezas e 2 ignordncia dos homens frgeis. Assim nasceu o defsmo, que engendrou 0 materialismo e viu como uma fantasia toda unio do homem com as forgas superiores; € por fim nasceu, parte pelo entendimento e parte pelo coragio, 0 atefsmo, iltimo grau de decadéncia do homem. No meio de tudo isto, a verdade permaneceu sempre inquebrantével no interior do santuério. Fiéis a0 Espirito da verdade, que prometeu jamais abandonar a sua comunidade; os membros da Igreja interior viveram em siléncio e em atividade real e uniram a ciéneia do templo da primitiva alianga ao espirito do Grande Salvador dos homens, espirito da alianga interior, esperando humildemente 0 grande momento no qual o Senhor os chamaré, e reuniré sua comunidade para dar a toda letra morta a forga exterior e a vida. Esta comunidade interior da luz é 0 conjunto de todos aqueles que esto capacitados para receber a luz dos eleitos, e é conhecida sob 0 nome de "Comunhao dos santos”. O depésito primitivo de todas as forgas e de todas as verdades foi confiado em todos os tempos a esta comunidade da luz; que s6 ela, como disse Sa0 Paulo, estava de posse da ciéncia dos Santos. Por ela os agentes de Deus foram formados em cada época, passaram do interior ao exterior, e comunicaram o espirito e a vida a letra morta, como j4 dissemos anteriormente. Esta comunidade da luz foi em todos os tempos, a verdadeira escola do Espirito de Deus; e, considerada como escola, tem sua Cétedra, seu Doutor; possui um livro no qual seus discipulos estudam as formas e os objetos dos ensinamentos e, finalmente um método de estudo. Ela tem, também, seus graus pelos quais 0 espfrito pode desenvolver-se sucessivamente e elevar-se sempre cada vez. mais. O primeiro grau, 0 menor, consiste no bem moral pelo qual a vontade simples, subordinada a Deus, é conduzida ao bem pelo mével puro da vontade, quer dizer, Jesus Cristo, que ela recebeu pela fé. Os meios dos quais o espirito desta escola se serve so chamados inspiragdes. O segundo grau consiste no assentimento intelectual, pelo qual a compreensio do homem de bem que esta unido a Deus, é coroada com a sabedoria e a luz do conhecimento; e os meios pelos quais 0 espirito se serve para este grau so chamados iluminagdes interiores. O terceiro grau, enfim, e 0 mais elevado, € 0 completo despertar do nosso sensorium interno, pelo qual 0 homem interior alcanga a visio objetiva das verdades metafisicas e reais, Este é 0 grau mais elevado onde a fé se transforma em visdes claras e os meios pelos quais 0 espirito se serve para isso so as visOes reais. s 0s trés graus da verdadeira escola de sabedoria interior, da comunidade interior da luz. O mesmo espitito que aperfeigoa os homens para esta comunidade, distribui também os graus, pela coagao do proprio candidato, devidamente preparado. Esta escola da sabedoria foi em todos os tempos, a mais secreta ¢ a mais oculta do mundo, porque ela estava invisivel e submissa unicamente a diregi0 divina, Ela ndo esteve jamais exposta aos acidentes do tempo nem as fraquezas dos homens. Porque nela no houve, em todos os tempos, senio os mais capazes que foram escolhidos pelas suas qualidades, e 0 Espirito que os escolheu nao podia errar. Nessa escola se desenvolveram os germens de todas as ciéncias sublimes que foram primeiramente recebidas pelas escolas exteriores, e, af revestiram-se de outras formas verdadeiras algumas vezes tomadas disformes. Esta sociedade interior de sdbios comunicou, segundo o tempo e as circunstancias, as sociedades exteriores, seus hierdglifos simbélicos para tornar © homem exterior atento as grandes verdades do interior. Porém, todas as sociedades exteriores s6 subsistem enquanto esta sociedade interior Ihes comunica seu espirito. No momento em que as sociedades exteriores queriam emancipar-se da sociedade interior e transformar o templo de sabedoria em um edificio politico, a sociedade interior 2 retirava-se e nelas ficava somente a letra sem 0 espftito. Assim & que todas as escolas exteriores secretas da sabedoria foram somente véus hieroglificos, a verdade mesma permaneceu sempre no santuério para que niio pudesse ser jamais profanada. Nesta sociedade interior 0 homem encontra a sabedoria, e com ela tudo; no a sabedoria do mundo que no é senZio um conhecimento cientifico rodeando 0 invélucro exterior, sem jamais tocar 0 centro onde residem todas as forgas; mas a verdadeira sabedoria, assim como os homens que a ela obedecem. Todas as disputas, todas as controvérsias, todos os objetos da falsa prudéncia do mundo, todos os idiomas estrangeiros, as vas dissertagdes, os germens intiteis das opinides que propagam a semente da desuniao, todos os erros, os cismas ¢ os sistemas, dela estio banidos. Nao se encontra ali nem caldnias nem maledicéncias; todo homem é honrado. A sitira, 0 espirito que gosta de se divertir a custa do préximo, so ali desconhecidos, e somente se conhece o amor. A calinia, este monstro nio levanta jamais entre os amigos da sabedoria, sua cabeca de serpente 0 respeito miituo é ali observado rigorosamente; ali ndo se nota as faltas do proximo nem se Ihe fazem criticas sobre defeitos. Caridosamente conduz-se 0 viajante a0 caminho da verdade, procura-se persuadir, tocar 0 coragio que est em erro, deixando a punigdo do pecado & clarividéncia do Mestre da Luz. Alivia-se a necessidade, protege-se a fraqueza, rejubila-se da elevagao e da dignidade que 0 homem adquire. A felicidade que é 0 dom do destino nao eleva ninguém sobre o préximo; somente se considera feliz aquele ao qual se apresenta a ocasido de fazer 0 bem a seu préximo, e todos estes homens, que um espirito de verdade une, formam a Igreja invisivel, a sociedade do Reino interior sob um chefe tinico que é Deus. Nao se deve imaginar que esta comunidade representa qualquer sociedade secreta que se retine em certos tempos, escolhendo seus chefes e membros e propondo-se a determinados fins. Todas as sociedades, quaisquer que sejam nfo vém sendo depois desta comunidade interior da sabedoria; ela nfo conhece quaisquer formalidades, que sio a obra dos homens. No reino das forgas todas as formas exteriores desaparecem, Préprio Deus € 0 chefe sempre presente. O homem mais perfeito de seu tempo, o primeiro chefe, no conhece por si mesmo todos os membros; mas no instante em que para a finalidade de Deus se toma necessirio esse conhecimento, ele os encontra certamente no mundo para agir em direcZo a essa finalidade. Esta comunidade nao tem absolutamente véus exteriores. Aquele que é escolhido para agir perante Deus é 0 primeiro, apresenta-se aos outros sem presunciio, e € recebido por eles sem inveja. Se € necessério que verdadeiros membros se unam, eles se encontram e se reconhecem sem dtivida alguma. Nao pode existir nenhum disfarce, e nenhum gérmen de hipocrisia ou dissimulagio sobre os tragos caracterfsticos desta comunidade, porque sio fora do comum. Si0 arrancadas a mascara ¢ a ilusdo, ¢ tudo aparece em sua verdadeira forma. Nenhum membro pode escolher um outro; 0 consentimento de todos é requerido. Todos os homens sio chamados; os chamados podem ser escolhidos, se eles se tornarem aptos para a entrada, Cada qual pode procurar a entrada, e todo homem que esté no interior pode ensinar ao outro a procurar a entrada. Mas enquanto no se estiver preparado nao se alcanga o interior. Homens no preparados ocasionariam desordens na comunidade, e a desordem nao é compativel com 0 interior. Este interior expulsa tudo aquilo que nfo € homogéneo. A Prudéncia do mundo espreita em vao este Santuério interior, em vo a malicia procura penetrar os grandes mistérios que af esto ocultos; tudo & hierdglifo indecifravel para aquele que nao esta preparado; nada pode ver nem ler no interior. Aquele que jé est4 preparado junta-se & corrente, muitas vezes Id onde menos pensava, ea um elo do qual nem supunha a existéncia. Procurar alcangar a maturidade deve ser o esforgo daquele que ama a sabedoria. Nesta comunidade santa est4 0 depésito original das ciéncias mais antigas do 23 género humano com os mistérios primordiais de todas as ciéncias e técnicas conduzindo & maturidade. Ela é a tinica e verdadeira comunidade da Luz em possessio da chave de todos os mistérios ¢ conhecendo 0 intimo da natureza e da criagio. Ela une as suas forgas as forgas superiores e compdem-se de membros de mais de um mundo. Estes formam uma repiblica que ser, um dia, a mie regente do universo inteiro. TERCEIRA CARTA A verdade que se encontra no mais {ntimo dos mistérios, é semelhante a0 Sol; s6 € permitido ao olhar da dguia (a alma do homem capaz de receber a luz), fixé-lo. A visio de outro qualquer mortal € ofuscada e a penumbra o envolve na prépria luz. Jamais a sublime "qualquer coisa” que esté no mais {ntimo dos santos mistérios se ocultou ao olhar da guia, daquele que ¢ capaz. de receber a luz. Deus e a natureza nao tém mistérios para seus filhos. mistério existe somente na fraqueza do nosso ser, incapaz de suportar a luz, e ainda sem preparo para vislumbrar em toda sua pureza a verdade nua. Esta fraqueza é a nuvem que cobre o santuério; 0 véu que oculta o Santo dos Santos. Mas, para que © homem pudesse recuperar a luz, a forga e dignidade perdidas, a divindade amante abaixou-se & fraqueza de suas criaturas e escreveu as verdades os mistérios interiores e etemnos, no exterior das coisas, a fim de que 0 homem pudesse elevar-se por elas, até o espfrito. Estes textos sio as cerimOnias ou o exterior da religido, que conduz ao espfrito interior de unidio com Deus, ativo € cheio de vida. Os hierdglifos dos mistérios so também partes destes textos; eles so os esquemas € 08 desenhos das verdades interiores e santas, que cobre 0 véu estendido sobre o Santuério. A religifo e os mistérios se unem para conduzir todos os nossos irmaos a uma verdade, ambos tém por finalidade uma transposigGo, uma renovacdo de nosso ser. Os dois t8m por fim a reedificagdo de um templo no qual a sabedoria habite com 0 amor, Deus com o homem. Mas a religiio e os mistérios seriam fenémenos inteiramente inuteis, se a Divindade nao Ihes houvesse dado os meios efetivos para alcangar seus grandes fins. Ora, estes meios sempre tém estado no Santuério mais interno; 0s Mistérios esto destinados a construir um templo a Religido, e a Religido esta destinada a reunir nele os homens com Deus. Tal é a grandeza da religido e esta tem sido a alta dignidade dos mistérios de todos os tempos. Seria ultrajante para vés, irmaos intimamente amados, se pudéssemos pensar que nio tivésseis “jamais” contemplado os santos mistérios em seu verdadeiro ponto de vista, que 0s representa como 0 tinico meio de conservar na sua pureza e sua integridade, a doutrina das verdades importantes sobre Deus, a natureza e © homem. Esta doutrina estava encerrada na santa linguagem dos simbolos © as verdades que ela continha, tendo sido traduzidas pouco a pouco entre os profanos na sua linguagem comum, tornaram-se cada vez mais obscuras € mais ininteligtveis. Os mistérios, como sabeis, irmaos carfssimos, prometem coisas que serdo sempre a heranga de um pequeno niimero de homens; mistérios que no podem ser vendidos nem ensinados publicamente, silo segredos que s6 podem ser recebidos por um coragdo que se esforga para adquirir a sabedoria e © amor e aonde a sabedoria e 0 amor jé tenham sido despertados. Aquele no qual esta chama santa foi despertada, vive completamente feliz, contente com tudo e sente-se livre até na escravidio. Ele vé a causa da corrupcao humana e sabe que ela é inevitavel. Nao odeia nenhum criminoso, deplora e procura levantar aquele que cai, chamando para si ao que se extraviou; ndo extingue o pavio que bruxuleia e de maneira alguma acaba de quebrar 0 canigo envergado, porque ele sente que, apesar de toda corrupcao, nada existe corrompido em sua totalidade. 4 Ele penetra num olhar firme a verdade de todos os sistemas religiosos em seus alicerces; ele conhece as origens da supersti¢do e da incredulidade como sendo as modificagdes da verdade, que ainda no atingiram seu equilibrio, Estamos certos, dignos irmios, que considerais 0 homem mistico deste ponto de vista e que ndo atribuis de modo algum, a sua “arte real", aquilo que a atividade desregrada de alguns individuos isolados tenha feito dele. E com estes principios, que sio inteiramente 05 nossos, que vs considerais a religio e os mistérios das santas escolas da sabedoria como irmaos que, dando-se as maos, tém velado pelo bem de todos os homens desde 0 seu nascimento. A religito se divide em uma religido exterior e uma interior. A religido exterior tem por objeto 0 culto e as cerimOnias, ¢ a religido interior, a adoragdo em espitito e em verdade. As escolas de sabedoria dividem-se também em escolas exteriores ¢ interiores. As escolas exteriores possuem a letra dos hieréglifos, e as escolas interiores, 0 espirito e 0 sentido. A religido exterior esté ligada a religio interior pelas ceriménias. As escolas exteriores dos mistérios ligam-se, pelos hierdglifos com 0 interior. Mas, aproximamo-nos agora dos tempos em que 0 espirito deve tomar a letra viva, a nuvem que cobre 0 Santuério desaparecers, os hieréglifos passardo a visio real, as palavras ao entendimento. Aproximamo-nos dos tempos em que sera rasgado 0 grande véu que cobre 0 Santo dos Santos. Aquele que venera os santos mistérios no se faré mais compreender por palavras ¢ sinais exteriores, mas pelo espirito das palavras e a verdade dos simbolos. Assim é que a religido nfo ser mais um cerimonial exterior, mas os mistérios interiores e santos transfigurardo o culto exterior a fim de preparar os homens & adorag‘io de Deus em espfrito e em verdade. Nao tardard que a noite escura da linguagem das imagens desaparega, a luz engendrard o dia e a santa obscuridade dos mistérios se manifestard no esplendor, da mais alta verdade. Os caminhos da luz esto preparados para os eleitos e para aqueles que so capazes de por ele marcharem. A luz da natureza, a luz da razdo e a luz da revelacZo se unirio. O Atrio da natureza, o templo da razio, € 0 santudrio da revelagio formario um s6 Templo. E assim que o grande edificio seri completamente coneluido, edificio que consiste na reunido do homem com a natureza e com Deus. O conhecimento perfeito de Deus, do homem e da natureza, serio as luzes que iluminardo os condutores da humanidade para reconduzir, de todos 0s lados, os homens seus irméos, das verdades obscuras dos preconceitos a razo pura, e dos recénditos das paixdes tumultuosas aos caminhos da paz e da virtude. A coroa daqueles que governam o mundo sera a razo pura, seu cetro, 0 amor ativo, € 0 Santuério Ihes dard a ungao e a forga para libertar o entendimento dos povos dos preconceitos e das trevas, seus coragdes das paixdes, do amor proprio é do egoismo, e sua existéncia fisica da pobreza e da doenca. Aproximamo-nos do reino da luz, do reino da sabedoria e do amor, de reino de Deus que é a origem da luz; irmdos da luz, existe somente uma religifo cuja verdade simples encontra-se dividida em todas as religides como ramos, para retornar da multiplicidade a uma religifo tnica. Filhos da verdade, ndo hé senio uma ordem, uma fraternidade, uma associagdo de homens unidos para adquirir a luz. Deste centro, o mal-entendido fez surgir ordens inumerdveis; todas voltardio da multiplicidade de opinides & verdade nica e A verdadeira associagio daqueles que so capazes de receber a luz ou a Comunidade dos Eleitos. Com esta medida deve-se medir todas as religides e todas as associagdes dos homens. A multiplicidade esté no cerimonial exterior, no interior a verdade € uma s6. A causa da multiplicidade das confrarias esti na multiplicidade de explicagio dos simbolos segundo 0 tempo, as necessidades e as circunstancias. A verdadeira comunidade da Luz niio pode ser senfio uma. 25 Todo exterior € um envoltério que cobre o interior, assim € que todo exterior é também uma letra que se multiplica sempre, mas que ndo muda nem enfraquece jamais a simplicidade do espirito no interior. A letra era necesséria, deviamos encontré-la, comp6-la e aprender a decifré-la para recobrar © sentido interior, o espirito. Todos os erros, todas as divisdes, todos os mal-entendidos, tudo o que nas religides e nas associagdes secretas, dé lugar a tantos erros, somente diz respeito a letra; tudo isso se relaciona somente com o véu exterior sobre 0 qual os hier6glifos, as ceriménias e 0s ritos sto escritos; nada toca o interior, o espirito permanece intacto e santo. Presentemente, os tempos de realizagio para os que procuram a luz se aproximam. Aproxima-se 0 tempo em que o velho deve ser ligado a0 novo, o exterior a0 interior, 0 alto a0 baixo, 0 coragdo A razo, 0 homem a Deus, ¢ esta época est reservada 4 presente idade, Nao me pergunteis, irmdos bem amados... por que na presente idade? Tudo tem seu tempo para os seres que vivem no tempo e 1no espaco; assim é que, so as leis invariveis da Sabedoria de Deus que coordenam tudo de acordo com a harmonia e a perfeigdo. Os eleitos deviam primeiramente trabalhar para adquirir a sabedoria e © amor até que fossem capazes de merecer 0 poder que a invaridvel Divindade s6 poder dar aqueles que conhecem e aqueles que amam. Durante as trevas da noite espera-se a alvorada; depois 0 sol se levanta e atinge 0 meio dia onde toda sombra desaparece ante sua luz direta. No principio a letra da verdade devia existir, em seguida veio a explicagio pritica, depois a propria verdade ¢ nao foi sendo apds ela que o Espirito de Verdade pode vir, 0 qual confirma a verdade e imprime o selo que autentica a luz. Aquele que esté ao alcance da verdade nos entenderd. E a vés, irmios intimamente amados, que vos esforgais para adquirir a verdade, que haveis conservado fielmente os hierdglifos dos santos mistérios no vosso templo, é para vos que se dirige o primeiro raio de luz, este raio penetra através das nuvens dos mistérios para anunciar 0 meio-dia e os tesouros que traz. Nao pergunteis quem so aqueles que vos escrevem; olhai o espirito e nao a letra, a coisa e nao as, pessoas. Nenhum egofsmo, nenhum orgulho ou mével de baixos sentimentos reina em nosso inedgnito. Conhecemos a finalidade do destino dos homens ¢ a luz que nos ilumina guia todas nossas ages. Somos especialmente chamados para vos escrever, irmios bem amados na luz; e 0 que dé vida A nossa incumbéncia, so as verdades que possuimos e que vos comunicaremos a0 menor indicio, de acordo com a medida de capacidade de cada um. A comunicagdo é propria & luz, onde hé receptividade e capacidade para ela, mas nfo obriga ninguém, e aguarda que queiram recebé-la espontaneamente. Nosso desejo, nossa finalidade, nosso encargo é vivificar por toda parte a letra morta e fazer retomar aos hieréglifos 0 espftito vivo; e transformar o inativo em ativo, a morte em vida; nfo podemos realizar tudo isto por nés mesmos, mas pelo Espirito de Luz Daquele que ¢ a Sabedoria, 0 Amor e a Luz do mundo, ¢ deseja tornar-se também vosso espitito e vossa luz. Até o presente, 0 Santuério, o mais interno, foi separado do Templo, e o Templo assediado por aqueles que estavam 1no exterior; aproxima-se 0 tempo em que o Santudrio interior deve reunir-se ao Templo, para que, aqueles que nele se encontram, possam agir sobre os que esto nos Atrios, até que tudo se converta em um 86 templo. No nosso santuério, todos os mistérios do espirito e da verdade so conservados puramente; ele no pode ser jamais violado pelos profanos, nem maculado pelos impuros. Este santudrio € invisivel como 0 é uma forga que se conhece apenas pela propria ago. Por esta curta descrigdo, caros irmaos, podeis julgar quem somos e seria supérfluo assegurar-vos que nao fazemos parte dessas cabecas inquietas que, no mundo profano, querem erigir um ideal de suas prOprias fantasias. Também nao pertencemos Aqueles que desejam representar grandes papéis no mundo e prometem prodigios que eles préprios no compreendem. Tio pouco pertencemos a essa classe de descontentes que 26 desejariam vingar-se de sua categoria inferior, ou que tém por finalidade a sede de dominar, 0 gosto das aventuras e das coisas extravagantes. Podemos assegurar-vos que ndo pertencemos a nenhuma outra seita e nenhuma outra associagio, que a grande e verdadeira associagio de todos aqueles que so capazes de receber a luz, e, nenhuma parcialidade, qualquer que seja ela, terminando por "us" ou por “er” ndo tem a menor influéncia sobre nds. Também nao pertencemos aqueles que se julgam no direito de subjugar tudo segundo seus planos e tém a arrogincia de querer reformar todas as sociedades; podemos assegurar-vos com fidelidade que conhecemos exatamente 0 mais intimo da Religido e dos Santos Mistérios; e que também possuimos realmente aquilo que sempre conjeturou-se estar na profundidade interna do ser, € que esta mesma posse nos dé a forca de legitimarmos nosso encargo, e de comunicar por toda parte, ao hierSglifo, 3 letra morta, o espirito e a vida. Os tesouros de nosso santuério so grandes; nés possuimos o sentido e 0 espirito de todos os hieréglifos e de todas as cerimOnias que existiram desde o dia da Criago até os nossos tempos; e as verdades, as mais internas, de todos os Livros Sagrados, com as razes dos ritos dos mais antigos povos. Possuimos uma luz que nos unge e pela qual percebemos 0 mais oculto € o mais interior da natureza. Possuimos um fogo que nos alimenta e nos dé a forga para agir sobre tudo aquilo que esté nna natureza, Possuimos uma "Chave para abrir" as portas dos mistérios, e uma "chave para fechar" 0 laboratério da natureza. Possuimos 0 conhecimento de um elo para nos ligar aos mundos superiores ¢ transmitir-nos suas linguagens. Todo o maravilhoso da natureza est4 subordinado ao poder de nossa vontade em unio com a Divindade. Possuimos a ciéncia que interroga a propria natureza, onde niio existe 0 erro, mas somente a verdade © a luz. Na nossa escola, tudo pode ser ensinado; pois nosso mestre é a propria Luz € 0 seu Espirito. A plenitude de nosso saber € 0 conhecimento da correspondéncia do mundo divino com 0 mundo espiritual, deste com 0 mundo elemental, e, do mundo elemental com 0 mundo material. Por estes conhecimentos estamos em condigdes de coordenar os espiritos da natureza e 0 coragio do homem. Nossas ciéncias sto a heranga prometida aos Eleitos ou Aqueles que so capazes de receber a luz e a prética de nossa ciéncia e a plenitude da Divina Alianca com os filhos dos homens. Poderiamos vos contar, queridos irmaos, coisas maravilhosas que esto ocultas no tesouro do Santuério, coisas tais que vos deixariam admirados e fora de vés mesmos; poderiamos vos falar de coisas de cuja concepgio, o fildsofo, pensando 0 mais profundamente possivel, esté tio afastado como a terra do sol, € das quais estamos tio proximos, como 0 esté o ser mais interior de todos da luz mais profunda, Mas a nossa intengdlo nfo € de excitar vossa curiosidade; a tinica persuasio interior e a sede do bem dos nossos irmios deve impelir aquele que é capaz de receber a luz na fonte, onde sua sede de sabedoria pode ser aplacada e a fome de amor saciada. A sabedoria e o amor habitam no nosso {ntimo, lé no reina nenhum constrangimento; a verdade de suas incitagdes é 0 nosso poder mégico. Podemos assegurar que tesouros de um valor infinito estio nos mistérios mais intimos; asseguramos, também que tal simplicidade os envolve, que permanecerio sempre inacessiveis a0 sabio orgulhoso, € ainda que tais tesouros, cuja procura traz a muitos profanos inquietagao & loucura, so e permanecerdo para nds a verdadeira sabedoria, Béngiios para vés meus irmaios, se sentis estas grandes verdades. A recuperaco do "Triplice Verbo" € de sua forga serd vossa recompensa. Vossa felicidade seri a de ter a forca de contribuir para reconciliar 0s homens com os homens, a natureza e Deus; aquele que é 0 verdadeiro trabalho de todo obreiro que nao rejeitou a "Pedra Angular". Agora nés cumprimos nosso encargo e anunciamos n a aproximago do grande meio-dia, ¢ a reunido do Santuério mais interior com 0 Templo. Deixamos © resto a vossa livre vontade. Sabemos bem, para nosso amargo desgosto, que assim como o Salvador foi pessoalmente desconhecido, ridicularizado e perseguido quando veio na Sua humildade, assim Seu Espirito que apareceré na gloria, seré rejeitado e ridicularizado por muitos. Apesar disto 0 advento do Seu Espfrito deve ser anunciado nos templos, para que aquilo que esté escrito se realize. “Bati as vossas portas e vés ndo as abristes, Chamei e vés ndo escutastes Minha voz; convidei-vos para as bodas ¢ estaveis ocupados com outras coisas” A Paze a Luz do Espitito estejam convosco. QUARTA CARTA Assim como a infinidade de ntimeros se perde em um niimero tinico que é a base de todos os niimeros ou a unidade, e como os inumeraveis raios de um circulo se reinem em um centro tinico, assim também os mistérios, os hierdglifos e os infinitos emblemas, somente expressam uma tinica verdade. Aquele que a conhece encontrou a chave para conhecer tudo de um relance, Nao hd mais que um Deus, uma verdade, um caminho que conduz a esta grande verdade. Aquele que encontrou este meio, possui: Toda a sabedoria em um tinico livro. Todas as forgas em uma tinica forga. Todas as belezas em um tinico objeto. Todas as riquezas em um tinico tesouro. Todas as felicidades em um tinico bem, Ea soma de todas estas perfeigdes € Jesus Cristo que foi crucificado e ressuscitou. Esta grande verdade, assim expressada € unicamente um objeto de fé, porém pode chegar a converter-se em um objeto de conhecimento e de experiéncia, tao pronto cheguemos a compreender como Jesus Cristo pode ser ou pode converter-se em tudo isto. Este grande mistério foi sempre objeto do ensinamento da “Escola Secreta da Igreja invisivel e interior”, e este ensinamento foi conhecido nos primeiros tempos do cristianismo com o nome de "Disciplina arcani". E desta escola secreta que procedem todos os ritos e cerimOnias da Igreja exterior, embora o espirito destas grandes e simples verdades se retirasse para o interior, e parega em nossos tempos como perdido para 0 exterior. De hé muito, j4 foi predito, caros irmaos, que tudo que esta oculto seré descoberto nos tiltimos tempos, porém, também se profetizou que nesses tempos muitos falsos profetas se levantardo, e os infiéis foram advertidos que nao devem crer em todo espirito, mas comprovar se os espfritos s40 realmente de Deus. (Epistola de $40 Joao, cap. IV, vers. V, e seguintes). O mesmo apéstolo ensina a maneira de fazer a prova, dizendo, "Eis aqui como reconhecereis 0 espitito que ¢ de Deus; todo espitito que confessa A Jesus Cristo, dizendo que Ele veio em uma carne verdadeira, é de Deus, ¢ todo espirito que O divide, isto é, que separa Nele o divino do humano, no é de Deus", dai que o espitito de verdade, suporta assim, a prova e obtém o carter da divindade quando confessa que Jesus Cristo veio da carne. Cremos que Jesus Cristo veio na came a este mundo e por isso 0 espirito de verdade fala por nds. Porém, o mistério que se expressa dizendo que Jesus Cristo veio em came é de uma grande extensdo e encerra em si o conhecimento divino humano, objeto desta instrugio. 28 Como nao falamos com novigos em matéria de fé vos serd, caros irméos, mais fécil conceber as verdades sublimes que vos vamos apresentar, visto que j4 tereis sem diivida escolhido, muitas vezes, para objeto de vossas santas meditacdes, diferentes assuntos preparatérios. A religido considerada cientificamente é a doutrina da transformago do homem separado de Deus, em homem reunido a Deus. Por isso o seu objetivo é unir a cada individuo da humanidade, e finalmente a toda a humanidade com Deus, em cuja unio, unicamente, pode alcangar a mais elevada felicidade temporal e espiritual. Assim, esta doutrina de "re-unido” € de uma dignidade a mais sublime; e como doutrina, deve ter necessariamente um método pelo qual ela nos conduz: primeiramente a0 conhecimento do verdadeiro desta reunido; e depois a0 conhecimento da maneira pela qual este meio deve ser aplicado segundo o objetivo a aleangar. Este grande meio da reunio no qual se concentra toda a doutrina religiosa, nio teria sido conhecido jamais pelo homem sem revelago. Sempre esteve fora da esfera cientifica do conhecimento e esta mesma profunda ignordncia do homem na qual havia cafdo, tornou necessiria a revelagio sem a qual no terfamos podido encontrar 0 caminho para levantarmos outra vez. A revelagio, criou a necessidade da fé nela, porque aquele que nao sabe, que nao tem nenhuma experiéncia de uma coisa, deve primeiro, necessariamente crer, se quer saber e experimentar. Porque se decai a fé, nao se faz caso da revelagdo € por isso mesmo fecha-se 0 caminho para encontrar 0 método que s6 a Revelagao contém. Como a agdo e reagdo se relacionam reciprocamente na natureza, assim se relacionam a Revelagio e a f6. Onde no hé reago, a ago cessa necessariamente; onde nao ha fé, nenhuma revelago pode ter lugar; porém quanto mais f houver, mais revelago haveri ou desenvolvimento das verdades que estdio na obscuridade, e que s6 podem se manifestar ao exterior por nossa confianga. E muito certo, que todas as verdades secretas da religido, mesmo as mais obscuras ¢ os mistérios que nos parecem mais singulares, se justificardo um dia perante o tribunal da razdo mais rigorosa, porém a fraqueza do homem, nossa falta de penetragdo com relagdo a0 conjunto da natureza sensivel e espiritual, exigiram que no nos possam ser mostrados e abertos os arcanos das mais elevadas verdades, sendo sucessiva e gradualmente. A santa obscuridade dos mistérios é devida & nossa fraqueza, e sua brilhante luz vai fortificando pouco a pouco nossa debilidade para tornar nossos olhos susceptiveis, de resistir 4 plena luz. A cada degrau que sobe o crente para a Revelagdo, obtém uma luz mais perfeita para alcangar 0 conhecimento, e esta luz se torna para ele progressivamente mais convincente, porque cada verdade adquirida da fé, se torna pouco a pouco vivente e passa a ser convicgao. Daf, a fé se funde sobre a nossa fraqueza e sobre a plena luz da Revelagdo que se deve comunicar segundo nossa capacidade, para dar-vos sucessivamente a objetividade das coisas elevadas. Aqueles objetos pelos quais a raza0 humana nao tem objetividade, so necessariamente do dominio da fé, O homem somente deve adorar e calar; mas se deseja demonstrar coisas sobre as quais nfo tem objetividade alguma, cai necessariamente no erro. © homem deve adorar e calar até que os objetos que se acham sob 0 dominio da fé, se tomem pouco a pouco mais perceptiveis em seu redor e por conseguinte mais féceis de conhecer. Tudo se demonstra por si mesmo, tio pronto adquirimos a experiéncia interior das verdades da fé, no mesmo instante em que somos conduzidos da fé & vistio, quer dizer a0 conhecimento objetivo. Em todos os tempos houve homens iluminados por Deus que possufam esta objetividade interior, completamente ou em parte, segundo tivesse lugar a comunicagao das verdades a seu entendimento ou a seu sentimento. A primeira espécie de visto, puramente inteligivel, chamava-se “iluminagio divina’. A segunda, recebia o nome de “inspiragdo divina". O sensorium interior foi aberto em diversos até as visdes divinas e transcendentais, que se chamavam enlevamentos ou éxtases, que dominava sobre 0 sensorium exterior e sensivel. Porém, esta classe de homens foi sempre inexplicdvel e devia constituir um enigma indecifrével para os homens dos sentidos, porque thes 2 falta um 6rgdo para o sobrenatural e o transcendental. Daf, nao se deve estranhar de maneira alguma que se olhe a um homem que considerou mais de perto 0 mundo dos espiritos, como um ser extravagante e até como um louco; por que o julgamento comum dos homens se limita simplesmente ao que os sentidos Ihes fazem perceber, pelo que as escrituras dizem claramente: "o homem animal no concebe o que é do espirito", porque seu sentido espiritual nao esté aberto para o mundo transcendental, de maneira que ele nfo pode ter mais objetividade desse mundo que 0 cego tem das cores. Portanto, 0 homem exterior dos sentidos perdeu o sentido interior que € 0 mais importante; ou melhor, a capacidade do desenvolvimento deste sentido, que est oculto nele, € negligenciada a tal ponto que ele mesmo nao imagina a sua existéncia, Assim, os homens materiais esto em geral na cegueira espiritual; sua visdo interior est fechada, e esta obscuridade é ainda uma consequéncia da queda do primeiro homem. A matéria corruptivel que os envolve fechou sua visio interior e espiritual, e deste modo eles tornaram-se cegos para tudo que diz respeito aos mundos interiores. © homem € duplamente miserével, no s6 leva uma venda sobre os olhos que the oculta o conhecimento das mais elevadas verdades, seniio que também seu coragio enlanguesce e se extenua nos liames da carne e do sangue, que o prendem aos prazeres animais e sensiveis, em detrimento de prazeres mais elevados e espirituais. E. por isto que nés estamos na escravidao da concupiscéncia, sob 0 dominio das paixOes que nos tiranizam, e apoiamo-nos, como infelizes paraliticos, sobre duas miseriveis muletas, isto é, sobre a muleta de nossa razio natural e sobre a muleta de nosso sentimento natural. Aquela nos dé diariamente a aparéncia da verdade. Esta nos faz tomar diariamente 0 mal pelo bem. Eis nossa miserdvel condigio. Os homens no poderdo alcangar a felicidade até que a venda, que impede o acesso a verdadeira luz, caia de seus olhos. Nao poderdo ser felizes sendo quando os lagos da escravidao que carregam seus coragdes se rompam. O cego deve poder ver, e 0 paralitico deve poder caminhar se desejam ser felizes. Mas a grande e terrivel lei 8 qual a felicidade ou a dita dos homens esté absolutamente unida € a lei seguinte: "Homem, que a razdo reine sobre tuas paixdes. De ha séculos que nos esforgamos reciprocamente em raciocinar e em fazer moral. Qual € 0 resultado de nossos esforgos ao cabo de tantos séculos? Os cegos querem guiar aos cegos, e os paraliticos aos paraliticos. Porém em todas as loucuras a que nos temos entregado, em todas as misérias que temos atraido sobre nds, no vemos ainda que nao podemos nada individualmente & que necessitamos de uma poténcia mais elevada que nos retire da miséria. Os preconceitos e os erros, 0 vicios € os crimes mudaram suas formas de século em século, mas, jamais foram extirpados da humanidade: a razio sem luz caminhava incerta, em cada século, no meio das trevas: © coragio repleto de paixdes € 0 mesmo em cada século S6 h4 um que nos pode curar, um s6 que é capaz de abrir nosso olho interior para que vejamos a verdade. Nao hé sen’io um que pode tirar as cadeias que nos agrilhoam e nos tomam escravos da sensualidade. Este "Um s6", é Jesus Cristo, 0 Salvador dos homens, 0 Salvador porque nos quer arrancar a todas as conseqiiéncias a que a cegueira de nossa razio e os extravios de nosso coragio, cheio de paixdes, nos precipitam. Muito poucos, caros irmaos, tém uma idéia exata da grandeza da redengdo dos homens; muitos acreditam que Jesus Cristo, 0 Senhor, somente nos resgatou pelo seu sangue derramado, da condenagio ou da eterna separagdo do homem de Deus, porém nao créem que, também quer libertar de todas as misérias daqui da terra aqueles que O sigam. Jesus Cristo é 0 Salvador do mundo, é 0 vencedor da miséria humana; resgatou-nos da morte e do pecado. Como seria tudo isto, se 0 mundo tivesse de enlanguescer sempre nas trevas da ignorincia e nos liames das paixdes? Ja foi predito mui claramente pelos Profetas, que este tempo da redengio de seu povo, este primeiro Sébado do tempo chegaria. Faz muito tempo que deviamos ter reconhecido 30 esta promessa cheia de consolo; mas a falta do verdadeiro conhecimento de Deus, do homem e da natureza, foi o impedimento que nos ocultou sempre estes grandes mistérios da f6. Devemos saber, caros irmdos, que hé uma natureza dupla, a natureza pura, espiritual, imortal ¢ indestrutivel, e a natureza impura, material, mortal e destrutivel. A natureza pura e indestrutivel existia antes da natureza impura e destrutfvel. Esta tiltima tirou sua origem somente da desarmonia e desproporgio das substincias que formam a natureza espiritual. Daf, que 86 permanega até que as desproporgdes e as dissonancias desaparecam e que tudo volte & harmonia. A idéia incorreta de espfrito © de matéria € uma das principais causas de que muitas verdades da fé ndo se nos apresentem em sua verdadeira luz. O espirito é uma substdncia, uma esséncia, uma realidade absoluta. Por isso, suas propriedades sto a indestrutibilidade, a uniformidade, a penetracio, a indivisibilidade e a continuidade. A matéria ndo é uma substincia, € um agregado. Por isso é destrutivel, divisivel e sujeita a mudangas. O mundo metafisico é um mundo existente na realidade, extremamente puro e indestrutfvel, e cujo centro chamamos Jesus Cristo, e a cujos habitantes conhecemos com 0 nome de espfritos € de anjos. O mundo material e fisico é 0 mundo dos fendmenos, nao possui nenhuma verdade absoluta, tudo quanto chamamos verdade aqui, 86 € relativo, nao é mais que a sombra da verdade e nao a propria verdade, tudo é fendmeno. Nossa razdo capta aqui todas as suas idéias pelos sentidos, portanto, elas sio sem vida, completamente mortas. Tiramos tudo da objetividade exterior, e nossa razo assemelha-se a um macaco que imita em si, mais ou menos, o que a natureza Ihe apresenta. Assim, a simples luz dos sentidos € 0 princfpio de nossa raz3o inferior, a sensualidade, a inclinagio para necessidades animais, é 0 mével de nossa vontade. Nés sentimos, é verdade, que um mével mais elevado nos seria necessdrio; mas até agora ndo sabfamos buscé-lo nem podiamos encontré-lo. Aqui, onde tudo é corruptivel, nao podemos procurar nem o prinefpio da razio, nem o principio da imoralidade, nem 0 mével da vontade. Devemos buscé-lo num mundo mais elevado. LA onde tudo é puro, onde nada esté sujeito a destruigdo, ld reina um Ser que é todo sabedoria e todo amor, e que pela luz de Sua sabedoria pode chegar a ser o verdadeiro principio da razio, e pelo calor de Seu amor, o verdadeiro principio de moralidade. Portanto, 0 mundo ndo ser e no pode chegar a ser feliz sendo quando este Ser real, que € 20 mesmo tempo a sabedoria e o amor, seja recebido integralmente pela humanidade e chegue a ser nela tudo em todos. O homem, caros irmaos, € composto da substincia indestrutivel e metafisica, e da substincia material e destrutivel, de maneira que, aqui neste plano, a matéria destrutfvel tem como que aprisionada a substdncia indestrutivel e eterna. Duas naturezas contradit6rias esto contidas no homem. A substncia destrutivel nos sujeita sempre a0 sensivel; a substincia indestrutivel procura libertar-se das cadeias e busca a sublimidade do espitito. Dai deriva 0 combate continuo entre 0 bem e 0 mal; o bem quer sempre absolutamente a razo e a moralidade; 0 mal conduz continuamente ao erro e & paix4o. © homem encontra-se num combate continuo entre o bem e o mal, entre 0 verdadeiro e o falso; triunfa e é vencido; tio pronto se levanta como cai nos abismos; procura levantar-se e vacila de novo. Deve-se buscar a causa fundamental da corrupgio humana na matéria corruptivel de que estio formados os homens. Esta matéria grosseira oprime e dificulta em nds a ago do prineipio espiritual, e esta é a verdadeira causa da cegueira de nosso entendimento e dos erros de nosso coragao. Deve-se procurar a fragilidade de um vaso na matéria de que 0 vaso é formado. A forma mais bela possivel que a terra é capaz de receber, sempre resulta frégil porque a matéria de que est formada é perecedora. Por isso, é que nossa pobre humanidade nao deixa nunca de ser frégil, apesar de toda nossa cultura exterior. Quando examinamos as causas dos impedimentos que mantém a natureza Be humana em uma degradagio to profunda, se encontram todas na matéria grosseira, na qual sua parte espiritual esta submersa. A inflexibilidade das fibras, a imobilidade dos humores que desejam obedecer as excitagdes refinadas do espirito, si como as cadeias materiais que 0 amarram, ¢ impedem em n6s as fungdes sublimes das quais ele seria capaz. Os nervos e a fluidez de nosso cérebro somente nos proporcionam idéias grosseiras e obscuras que se derivam dos fendmenos e no da verdade; e como nao podemos, no interior de nossa poténcia pensante, opor para equilibrar representagdes bastante vigorosas & excitagdo violenta das sensagdes, exteriores, resulta que sempre somos arrastados pela paix; e a voz da razao, que fala suavemente em nosso interior, 6 apagada pelo ruido tumultuoso dos elementos que sustém nossa méquina. Os materiais grosseiros que constituem 0 homem material e que formam a estrutura do edificio inteiro de sua natureza, é a causa deste desfalecimento que tem as forgas da nossa alma em sua fraqueza e imperfeigGo continuas. A paralisia de nossa forga pensante, em geral, é uma conseqiiéncia da dependéncia em que nos tem a matéria grosseira e inflexfvel; matéria que forma os verdadeiros liames da came, e as verdadeiras fontes de todos os erros e mesmo do vicio. A razio, que deve ser legisladora absoluta, é uma perpétua escrava da sensualidade, Esta se erige em regente e serve-se da razo que enlanguesce em seus lagos € presta-se a seus desejos. Esta verdade tem-se sentido de hé muito; sempre se tem pregado com palavras... A razio deve ser a legisladora absoluta... Ela deve governar a vontade e nfo ser governada por ela. Os grandes e os pequenos sentiam esta verdade; porém to pronto se punham a pritica, a vontade animal subjugava logo a razao e, em seguida, a razo subjugava por algum tempo a vontade animal, © € por isso que, em cada homem, a vit6ria e a derrota entre as trevas e a luz eram alternativas, e este mesmo poder e contra-poder recfprocos so a causa da oscilagao perpétua entre o bem e 0 mal, entre © falso e 0 verdadeiro. Se a humanidade deve ser conduzida a verdade e ao bem para que obre de acordo com as leis da raz4o e segundo as indicagdes puras da vontade, & imediatamente necessério dar a razo pura a soberania sobre a humanidade. Mas, como pode isto acontecer quando a matéria da qual cada homem & formado, é mais ou menos disforme, bruta, divisivel e corruptivel, e esté constituida de tal maneira, que toda nossa miséria, dor, doenca, pobreza, morte, necessidade, prejuizos, erros e vicios, dependem dela, e so as conseqiiéncias necessirias da limitagdo do espirito imortal em seus liames. Nao é a sensualidade que impera quando a razio esté agrilhoada? E no se encontra ela aprisionada quando o corago impuro e frégil expulsa de todos os lados seu raio puro? Sim, amigos e irméos, af esté a causa de toda a miséria dos homens; e, como esta corrupgdo se propaga de homens a homens, pode ser chamada, com raz, sua corrupgio hereditéria. Observamos em geral que as forgas da raziio nfo atuam sobre 0 coragdo sendo com relagdo & constituigao especifica da matéria de que 0 homem esté formado. Assim é extremamente admirvel quando pensamos que o Sol vivifica esta matéria animal segundo a medida de sua distincia deste corpo terrestre, que a torna to apta para as fungdes da economia animal, como para desfrutar em um grau mais ou menos elevado da influéncia espiritual. A diversidade dos povos, suas particularidades em relagio ao clima, a multiplicidade de seus caracteres e de suas paixdes, seus costumes, seus preconceitos e usos, ou mesmo suas virtudes e seus vicios dependem unicamente da constituigao especifica da matéria de que esto formados, e na que 0 espirito aprisionado obra de maneira diferente. Sua capacidade de cultura se modifica segundo esta constituigao, e de acordo com ela se rege também a ciéncia, que ndo modifica cada povo senfo enquanto tem matéria pensante, susceptivel de ser modificada, no que consiste a capacidade de cultura prépria de um povo, que por sua vez, depende em parte da gerago e em parte do clima, Em geral, encontramos por toda parte 0 mesmo homem fraco e sensual, que s6 tem de bem em cada regio, aquilo que a sua matéria sensivel permite & sua razio de predominar sobre a sensualidade, e de mal na mesma proporgio que a sensualidade pode ter de predominancia sobre 0 espfrito mais ou 32 menos aprisionado. Af residem 0 bem e 0 mal de cada nagio como 0 de cada individuo isolado. Encontramos no mundo inteiro esta corrupgdo inerente & matéria da qual os homens sio formados. Por toda parte existe a miséria, a dor, a doenga e a morte; por toda parte existem as necessidades, os preconceitos, as paixdes e os vicios, somente sob outras formas e modificagdes. Do estado mais inferior da natureza selvagem, o homem entra na vida social, primeiro pelas necessidades; a forga e a astiicia, faculdades principais do animal, o acompanham e se desenvolvem, sob outros aspectos. As modificages destas tendéncias animais fundamentais sao inumerdveis; e 0 mais alto grau de cultura humana que até o presente o mundo adquiriu, ndo conseguiu sendo colorir com uma capa mui ténue estas inclinagdes fundamentais do homem animal. Isto quer dizer que nos temos elevado do estado animal bruto até o mais alto grau do animal refinado. Mas este periodo era necessério; porque com sua duragdo comeca um novo periodo, ou seja, ap6s as necessidades animais desenvolvidas, comeca o desenvolvimento da necessidade mais elevada da luz e da razao, Jesus Cristo nos gravou no coragdo, com mui belas palavras esta grande verdade, de que se deve buscar na matéria a causa da miséria dos homens mortais e frdgeis pela ignorincia e as paixdes. Quando Ele disse: “o melhor homem, aquele que mais se esforga para chegar a verdade, peca sete vezes por dia", queria dizer com isto, que no homem mais bem organizado, as sete forgas do espirito estdo ainda to fechadas, que as sete agdes da sensualidade o dominam cada dia segundo seu modo. Assim & que, 0 melhor homem est exposto aos erros e as paixdes. O melhor homem é fraco e pecador; 0 melhor homem nio ¢ livre, no esté isento da dor e da miséria; o melhor homem est sujeito & doenga e A morte; e porque tudo isto? Porque tudo so conseqiiéncias necessérias, das propriedades de uma matéria corruptivel, da qual ele é formado. Assim sendo, no pode haver af esperanga de unma felicidade mais elevada para a humanidade, enquanto este ser corruptivel e material forma a principal parte substancial de sua esséncia. A impossibilidade em que se encontra a humanidade de se poder langar por si mesma verdadeira perfeigio € uma constatagdo cheia de desespero; mas, ao mesmo tempo, este pensamento é a causa, plena de consolagao, pela qual um ser mais elevado e mais perfeito se cobriu deste invéluero mortal ¢ frégil, afim de tornar imortal, o que era morta e indestrutivel o que era destrutivel, ¢ nisto deve-se procurar também a verdadeira causa da encarnagao de Jesus Cristo. Jesus Cristo é 0 ungido da Luz, é 0 esplendor de Deus, a Sabedoria que havia safdo de Deus, 0 Filho de Deus, 0 Verbo real pelo qual tudo foi feito e que era no principio. Jesus Cristo, a Sabedoria de Deus que opera todas as coisas, era como 0 centro do Paraiso do mundo da luz, era 0 tinico érgio real pelo qual a forga divina podia comunicar-se; e este érgdo é a natureza imortal e pura, a substincia, indestrutivel que tudo vivifica © conduz a mais alta perfeicao e felicidade. Esta substincia indestrutivel é “o elemento puro” no qual vivia © homem espiritual. Deste elemento puro, no qual s6 Deus habitava, e de cuja substincia foi criado 0 primeiro homem, este separou-se pela queda. Pelo gozo do fruto da érvore do bem e do mal, envenenou-se de tal sorte, que seu ser imortal se retirou para o seu interior ¢ © mortal cobriu 0 exterior. Desta forma desapareceu a imortalidade, a felicidade e a vida; e a mortalidade, a infelicidade e a morte f oram as conseqiiéncias desta mudanga. Muitos homens nao podem fazer uma idéia da Arvore do Bem e do Mal; esta drvore era 0 produto da matéria castica, que ainda estava no centro e na qual a destrutibilidade ainda tinha a superioridade sobre a indestrutibilidade. O gozo demasiado prematuro deste fruto que envenena e rouba a imortalidade, colocou Adio nesta forma material sujeito & morte. Caiu, entre os elementos que ele anteriormente governava. Este acontecimento infeliz foi a causa de que a imortal Sabedoria, © elemento puro e metafisico, se cobrisse com o invélucro mortal e se sacrificou voluntariamente para que suas forgas interiores passassem ao centro da destruigao e pudesse conduzir pouco a pouco, tudo o que é mortal & imortalidade. 3 Assim como aconteceu de um modo inteiramente natural, que © homem natural se tornou mortal pelo gozo de um fruto mortal, do mesmo modo aconteceu naturalmente, que © homem mortal pudesse recobrar a sua dignidade precedente pelo gozo de um fruto imortal. Tudo se passa de um modo natural e simples no Reino de Deus; mas para reconhecer esta simplicidade, € necessédrio ter idéias puras de Deus, da natureza e do homem; e se as verdades mais sublimes da fé estio ainda para nés envoltas em impenetréveis trevas, a causa est em que até agora haviamos separado sempre as idéias de Deus, da natureza e do homem. Jesus Cristo falou com seus amigos mais fntimos, quando ainda estava sobre a terra, do grande mistério da Regeneragdo; porém tudo quanto dizia era obscuro para eles, ndo podiam concebé-lo ainda; assim, o desenvolvimento destas grandes verdades estava reservado para os tiltimos tempos; € 0 supremo mistério da religido na qual todos os mistérios entram como em sua unidade. A Regeneraco ndo € outra coisa sendo uma dissolugdo e um desprendimento desta matéria impura e corruptivel que tem aprisionado nosso ser imortal, e guarda submersa em um sono de morte a vida das forgas ativas oprimidas. Deve existir necessariamente um meio real para eliminar este elemento venenoso que ocasiona em nés a infelicidade e para libertar as forgas aprisionadas. Mas nfo se deve procurar este meio em nenhuma outra parte a ndo ser na religidio; porque como a religido considerada cientificamente € a doutrina da reunido com Deus, deve também necessariamente ensinar-nos a reconhecer 0 meio para chegar a esta reunifio. Acaso Jesus e Seu conhecimento vivificante no so objeto principal da Biblia e 0 contetido de todos os desejos, de todas as esperancas e de todos os anelos do cristo? Nao recebemos de Nosso Senhor e Mestre, durante todo o tempo que andou entre seus discipulos, as mais elevadas solugdes sobre as mais, ocultas verdades? E quando 0 Divino Mestre, estava com eles, em seu corpo glorioso, apés sua ressurreigdo, ndo thes deu a mais alta revelagdo referente & Sua pessoa, € ndo os conduziu mais, profundamente ao conhecimento da verdade? Nao realizaria o que disse em sua prece sacerdotal? Joo, 17, 22, 23: "Eu Ihes dei e comuniquei a gloria que vés me destes, a fim de que eles sejam um, como nés somos um neles, ¢ eles comigo, a fim de que sejam perfeitos em um". Como os discipulos do Senhor nao podiam conceber o grande mistério da nova e iiltima Alianga, Jesus Cristo Ihes transmitiu aos ltimos tempos vindouros que presentemente se aproximam, e disse: "Naquele dia em que Eu vos comunicarei Minha gloria, vés reconhecereis que Eu estou em Meu Pai, vés em Mim, e Eu em vos". Esta alianga é chamada a Alianga da Paz. E’ entio que a lei de Deus seré gravada no mais recdndito de nosso coragdo, reconheceremos todos o Senhor, seremos Seu povo ¢ Ele sera nosso Deus. Tudo j4 esta preparado para esta possessio atual de Deus, para esta unido real com Deus, ¢ ja é possivel aqui em baixo; e o elemento santo, a verdadeira medicina para a humanidade é revelada pelo Espirito de Deus. A mesa do Senhor esté servida, e todos esto convidados; 0 verdadeiro pio dos Anjos esté preparado, como esta escrito: "Vos the haveis dado o pio do céu". A santidade e a grandeza do mistério que encerra em si todos os mistérios, nos ordena aqui calar, € no nos est permitido send fazer mengo de seus efeitos. O corruptivel, 0 destrutivel é consumado em nés e coberto como incorruptivel ¢ o indestrutivel. O sensorium interior se abre e nos une com o mundo espiritual. Somos iluminados pela sabedoria, conduzidos pela verdade, alimentados pela tocha do amor. Forgas desconhecidas se desenvolvem em n6s para vencer © mundo, a came e Satands. Todo nosso ser é, renovado, e tornado capaz de converter-se em uma morada real do Espirito de Deus. O dominio sobre a natureza, a relagdo com 0s mundos superiores e 0 g0z0 e contato visivel com 0 Senor nos so concedidos. M A venda da ignorincia cai de nossos olhos, os lagos da sensualidade se rompem, e desfrutamos a liberdade dos filhos de Deus. Nés vos dissemos 0 mais elevado e 0 mais importante; se vosso coracdo, que tem sede de verdade, concebeu idéias puras sobre tudo isto e compreendeu plenamente a grandeza e a santidade da meta a atingir, nés vos diremos ainda mais. Que a gldria do Senhor e a renovagio de todo vosso ser sejam, entrementes, a mais alta de vossas esperangas! QUINTA CARTA Chamamos vossa atengo, caros irmios, nas cartas anteriores, para 0 mais alto de todos os mistérios, "a possessio real de Deus"; € necessério que vos comuniquemos, agora, a plenitude sobre este objeto. O homem, caros irmaos, é infeliz aqui em baixo, porque é formado de uma matéria destrutivel e sujeita a todas as misérias. O individuo frdgil que € 0 corpo, o expde a violéncia dos elementos; a dor, & pobreza, ao sofrimento, & doenga, eis sua sorte. O homem € infeliz, porque seu espfrito imortal se consome nos lagos dos sentidos; a luz divina esté eclipsada para ele; unicamente, a0 resplendor faiscante de sua raz4o sensorial, caminha vacilante pelas vias de sua peregrinagio: torturado pelas paixdes, extraviado pelos preconceitos, e alimentado pelos erros, submerge-se de um para outro abismo de miséria. © homem é infeliz, porque esta doente de corpo e de alma, e no possui nenhuma verdadeira medicina, nem para sua alma nem para seu corpo. Aqueles que deveriam conduzir os outros homens, guié-los a felicidade e governé-los, sio homens como os outros, também frageis e sujeitos as mesmas paixdes, e igualmente expostos a muitos preconceitos. Assim, que felicidade pode esperar a humanidade? A maior parte sera sempre infeliz? Nao ha salvagao para todos? Meus irmaos, se a humanidade jamais é capaz de se elevar a um estado feliz, a felicidade que deseja adquirir s6 sera possivel nas condigdes seguintes. Primeiro; a pobreza, a dor, a doenga e a miséria devem tomar-se mais raras. Segundo; as paixdes, os preconceitos e os erros devem diminuir. Acaso é isto possfvel considerando a corrupgao da natureza humana, quando a experiéncia nos tem provado de século em século, que a miséria nfo faz senio mudar em uma outra forma de miséria; que as paixdes, os preconceitos os erros ocasionam sempre 0 mesmo mal; quando pensamos que todas estas coisas nao fizeram sendo mudar de forma, e que os homens, em cada século, foram igualmente frégeis? H4 uma sentenga terrivel pronunciada sobre a espécie humana, e esta sentenga & "Os homens nfo podem aleangar a felicidade enquanto nfo forem sibios". Mas ndo se tornario sdbios, enquanto a sensualidade dominar sobre a razo, enquanto 0 espirito desfaleca nos lagos da carne e do sangue. Onde esti o homem isento de paixdes? Que se mostre! - Nao carregamos todos em maior ou menor grau as algemas da sensualidade? No somos todos escravos? Todos pecadores? Sim irmaos, confessamos que somos escravos do pecado. Este sentimento de nossa miséria excita em nés 0 desejo de redengao; voltamos nossa vista para o alto, e a voz. de um anjo nos anuncia: "A miséria do homem seré retirada". Os homens esto doentes do corpo e do espitito. Portanto, esta doenga geral deve ter uma causa, ¢ a causa est na matéria frégil de que esta composto o homem. O destrutivel encerra © indestrutivel; a luz da sabedoria esté encerrada nas profundezas da obscuridade; 0 “fermento do pecado” est em nés, e neste fermento reside a corrupcao humana, e sua propagaciio com as conseqiiéncias do pecado original. A cura da humanidade s6 € possfvel destruindo em nds 0 fermento do pecado, para o que & necessirio um médico e um remédio. Mas 0 enfermo nfo pode ser curado pelo enfermo; o destrutivel nao pode conduzir o destrutivel a perfeigylo; © que é morto nao pode ressuscitar 0 que esti morto; © cego no pode guiar a outro cego. $6 0 perfeito pode conduzir o imperfeito a 3s perfeicdo; s6 0 Indestrutivel pode tornar o destrutivel indestrutivel; s6 0 que esta vivo pode animar o que esta morto. Por isso, nao se deve procurar 0 médico e o meio de cura na natureza destrutivel, onde tudo morte e corrupgiio. Deve-se procurar 0 Médico e o remédio em uma natureza, onde tudo perfeigao e vida A falta de conhecimento da alianga da Divindade com a natureza, e da natureza com o homem, é a verdadeira causa de todos os preconceitos e de todos os erros. Os tedlogos, os fildsofos € os moralistas, quiseram governar 0 mundo e encheram-no de eternas contradigdes. Os te6logos no conheceram as, relagdes de Deus com a_natureza, e por isso cafram no erro. Os fil6sofos somente estudaram a matéria o nao a alianca da natureza pura com a natureza divina, e por isso, manifestaram as mais falsas opinides. Os moralistas no conheceram a corrupedo fundamental da natureza humana, e quiseram curar com palavras, quando outros meios eram necessérios. Assim € que 0 mundo, o homem e até Deus, foram entregues a eternas disputas, as opinides destrufam as opinides, a superstigao e a incredulidade dominaram alternativamente e afastaram do mundo a verdade, em vez de aproximarem-se dela. Somente nas Escolas de Sabedoria se aprendeu a conhecer a Deus, a natureza e 0 homem, e se trabalhava desde milhares de anos no siléncio para adquirir 0 mais alto grau do conhecimento, a unigo do homem com a natureza pura e com Deus. Esta grande finalidade de Deus e da natureza, & qual tudo tende, foi representada ao homem simbolicamente por todas as religides; e todos os monumentos e hierdglifos sagrados, eram simples letras pelas quais, o homem podia reencontrar, pouco a pouco, o maior de todos os mistérios divinos, naturais e humanos; a saber: 0 meio de cura para seu estado atual e miserdvel, o meio de unitio de seu ser com a natureza pura e com Deus. Alcangamos esta época sob a guia de Deus. A Divindade, lembrando sua alianga com o homem, deu-nos 0 meio de cura da humanidade enferma, € mostrou os caminhos para elevar 0 homem a dignidade de sua natureza pura, e uni-lo com Ele, origem de sua felicidade. O conhecimento deste meio de cura € a ciéncia dos santos e dos eleitos; e sua possessio, a heranga prometida aos filhos de Deus. Tende a bondade, irmaos amados, de nos prestar toda vossa atengio. Em nosso sangue, hé uma matéria viscosa (chamada ghiten) oculta, que tem um parentesco mais proximo com a animalidade de que com o espirito, Este “gliten” é a "matéria do pecado", Esta matéria pode ser modificada diferentemente por excitagdes sensiveis; e segundo a espécie de modificagao desta matéria do pecado, se distinguem as més inclinagdes ao pecado. No seu mais alto grau de expansio, esta matéria opera a presungdo, 0 orgulho; em seu mais alto grau de contrac, a avareza, 0 amor préprio, 0 egofsmo. No estado de repulsto, a raiva, a c6lera; no movimento circular, a ligeireza, a incontinéncia, Em sua excentricidade, a gula, a embriaguez; Em sua concentricidade, a inveja; Em sua essencialidade, a preguiga. Este fermento do pecado é mais ou menos abundante em cada homem, e transmitido pelos pais aos filhos; e sua propagagdo em nés impede sempre a ago simultinea do espirito sobre a matéria. E verdade que 0 homem pode colocar, por sua vontade, limites a esta matéria do pecado, domind-la para que se torne menos predominante nele; mas nao est4 em seu poder aniquilé-la completamente. Daf deriva o combate continuo do bem e do mal em nés. Esta matéria do pecado esta em nés, forma 08 lagos da came e do sangue, pelos quais somos ligados a nosso espirito imortal, ¢ do outro as excitagdes animais. Ela & como uma atragZo pela qual as paixGes animais se prendem em nés. A reagio violenta desta matéria do pecado em nés, que nos induz a excitagao sensual, é a causa pela qual, por defeito de julgamento justo ¢ tranguilo, escolhemos de preferéncia o mal ao bem, porque a fermentagio desta matéria, origem das paixdes, impede a atividade calma do espitito, condigao de um julgamento so. Esta mesma substincia do pecado € também a causa da ignordncia, porque 36 assim como sua trama espessa e inflexivel sobrecarrega as fibras delicadas de nosso cérebro, ela impede, também a ago simulténea da razio, que € necesséria & penetragio dos objetos do entendimento. Assim, 0 falso e © mal sfo as propriedades desta matéria do pecado em nés, como e bem e 0 verdadeiro sto os atributos de nosso principio espiritual. Pelo conhecimento aprofundado desta matéria do pecado, aprendemos a ver 0 quanto somos moralmente doentes, ¢ até que ponto temos necessidade de um médico que nos administre 0 remédio capaz de aniquilar dita matéria e de nos conduzir & satide moral. Aprendemos igualmente a ver que todas nossas maneiras de moralizar com palavras servem pouco, lé onde os meios reais so necessérios. Desde hé séculos que se moraliza, e © mundo 6 sempre o mesmo, O doente nao entraré em convalescenga se 0 médico nfo faz mais que moralizar junto a seu leito. E necessdrio que Ihe prescreva remédios ; mas antes deve-se conhecer 0 estado real do doente. ESTADO DE DOENGA DA HUMANIDADE O estado de doenga dos homens é um verdadeiro envenenamento, 0 homem comeu do fruto da Arvore na qual o principio corruptivel e material predominava, e envenenou-se por este £020. O primeiro efeito deste veneno foi que o principio incorruptivel, que se poderia chamar 0 corpo de vida, como a matéria do pecado € 0 corpo de morte, cuja expansio constituia a perfeigtio de Adio, se concentrou no interior e abandonou o exterior ao dominio dos elementos. Deste modo a matéria mortal cobriu logo a esséncia imortal, e as conseqiiéncias naturais da perda da luz foram a ignorancia, as paixdes, a dor, a miséria e a morte. ‘A comunicagio com 0 mundo da luz foi interceptada, a visio interior que via por toda parte a verdade, se fechou, € a visio material se abriu ao aspecto inconstante dos fendmenos. O homem perdeu toda sua felicidade; e, neste estado misersvel, se teria perdido para sempre, sem meios de salvacdo, Mas 0 amor e misericérdia infinitos de Deus, que nunca teve outro objeto na criagdo que a mais alta felicidade das criaturas, deu imediatamente apés a queda, a0 homem degradado, os meios de salvagtio que haveria de esperar com toda sua posteridade a fim de que sendo fortificado pela esperanga em seu desterro, pudesse suportar com humildade e resignagio a sua desgraga, & conservar em sua peregrinagdo o grande consolo de que tudo o que ele tinha corrompido recobraria sua primitiva perfeigdo pelo amor de um Salvador. Sem esta revelagdo, o destino do homem teria sido a desesperag2o. O homem antes da queda era 0 Templo vivo da Divindade, e no momento em que este Templo foi devastado, o plano para reconstrui-lo foi projetado pela Sabedoria de Deus, e desta época datam os Mistérios Sagrados de todas as religides, que ndo so em si mesmos, sob mil aspectos diferentes, adaptados a circunstincias dos diversos povos, mais que simbolos repetidos e deformados, de uma verdade nica, que é: "a Regeneragao do homem, ou sua reunitio com Deus". Antes da queda o homem era bom, estava unido & Sabedoria; apds a queda, foi separado dela. E & por isso que a Revelacdo se fez necesséria, para coloc4-lo em condigdes de se unir a ela novamente. Esta primeira revelagao era a seguinte: O estado de imortalidade consiste em que o imortal penetre o mortal. O imortal € uma substincia divina que € a magnificéncia de Deus na natureza, 0 substratum do mundo dos espititos, a infinidade divina na qual tudo € vida e movimento. E uma lei absoluta a de que nenhuma criatura pode ser verdadeiramente feliz. fora da fonte de toda felicidade. Esta fonte € a magnificéncia de Deus mesmo. 37 Pela assimilagéo de um elemento perecivel, 0 homem tornou-se ele proprio perecfvel e imaterial; a matéria encontra-se por assim dizer entre Deus ¢ ele; 0 homem no é mais penetrado imediatamente pela Divindade, e por isso, estd sujeito as leis da matéria. O divino nele, que esté encerrado nos lagos da matéria, é seu principio imortal; este principio deve ser posto em liberdade, desenvolver-se novamente nele a fim de governar 0 mortal. Entio 0 homem_ se reencontraré em sua dignidade primitiva. Mas € necessdrio um meio para sua cura, e para eliminar 0 mal interno. O homem cafdo nfo pode nem reconhecer este meio por si mesmo, nem apossar-se dele, Nao pode reconhecé-Io, porque perdeu 0 conhecimento puro, a luz da sabedoria; e no pode apossar-se dele, porque este meio esté encerrado no mais interior da natureza; e ele nfo tem nem o poder nem a forca para abrir este interior. Daf serem necessirias a Revelagdo para conhecer este meio, e a forga para adquiri-lo. Esta necessidade para a recuperagio da salvagiio dos homens, determinou a Sabedoria ou o Filho de Deus dar-se a conhecer ao homem, como sendo a "substincia pura da qual tudo foi feito”. A esta substincia pura esta reservado vivificar tudo que esté morto, e purificar tudo o que é impuro. Mas para que isso se realizasse e que o mais interior, 0 divino no homem, encerrado no invélucro da mortalidade, fosse aberto novamente, e que 0 mundo inteiro pudesse ser regenerado, era necessério que esta substincia divina se humanizasse, e transmitisse a forga divina e regeneradora ao humano; era necessério também que esta forma divino-humana fosse morta, a fim de que a substancia divina € incorruptivel contida em seu sangue pudesse penetrar no mais interior da terra e operar uma dissolugdo progressiva da matéria corruptivel; para que, em seu devido tempo, a terra pura e regenerada possa ser recuperada pelo homem e nela seja plantada a Arvore da Vida; porque pelo g0z0 de seu fruto que encerra em si o princfpio imortal, mortal em nds seré aniquilado e o homem sera curado pelo fruto da Arvore da Vida, assim como ele foi envenenado pelo goz0 do fruto do principio mortifero. Isto constitui a primeira e a mais importante revelagdo sobre a qual se fundam todas as outras e que foi sempre conservada e transmitida oralmente entre os Eleitos de Deus até nossos dias. A natureza humana necessitava de um Redentor; este Redentor foi Jesus Cristo, a Sabedoria de Deus, a Realidade emanada de Deus; Revestiu-se de humanidade a fim de introduzir, novamente, no mundo a substancia divina e imortal, que nao era outra sendo Ele mesmo. Ele proprio se ofereceu voluntariamente, a fim de que as forgas puras contidas em Seu Sangue pudessem penetrar diretamente as mais intimas profundezas da natureza terrestre e reintroduzir nela o germe de todas as perteigdes. Ele, como Sumo Sacerdote e Vitima ao mesmo tempo, entrou no Santo dos Santos e, depois de haver realizado tudo © que era necessério, colocou os fundamentos do Sacerdécio Real de Seus Eleitos e ensinou-lhes, pelo conhecimento de Sua Pessoa e de Seus Poderes, de que maneira deviam conduzir, como sendo os primeiros nascidos do Espirito, os outros homens, seus irmios, & felicidade geral. E, aqui, comegam 0s Mistérios Sacerdotais dos Eleitos e da Igreja Interior. A verdadeira "Ciéncia Real e Sacerdotal” é a ciéncia da regeneragdo, ou a da reuniao do homem c: com Deus. Ela € chamada "ciéncia real” porque conduz © homem ao poder e dominio sobre toda a natureza. E chamada "Ciéncia sacerdotal”, porque santifica tudo, leva tudo & perfeigao, espalhando por toda parte a Graga e a béngGo. Esta ciéncia tem sua origem imediata da "Revelagfo verbal de Deus"; foi sempre a ciéncia da Igreja interior dos profetas e dos santos, e jamais reconheceu outro Sumo Sacerdote que Jesus Cristo, o Senhor. 38 Esta ciéncia tinha por triplice finalidade regenerar sucessivamente, primeiro 0 homem isolado, a seguir, numerosos homens, e por fim, a toda a humanidade. Sua pratica consistia no mais alto aperfeigoamento de si mesmo e de todos os objetos da natureza. Esta ciéncia nfo foi ensinada por ninguém mais que pelo Espirito de Deus mesmo, e pelos que estavam em unido com este Espirito, ¢ distinguia-se de todas as outras ciéncias porque ensinava 0 conhecimento de Deus, da natureza e do homem em sua sintese perfeita, enquanto que as ciéncias exteriores no conhecem nem Deus, nem a natureza, nem 0 homem o seu destino, com exatidao. Ela ensinou ao homem distinguir a natureza pura e incorruptivel da natureza impura e corrupta, € mostrou-Ihe os meios de separar esta ditima para recuperar a primeira. Em uma palavra; seu contetido era o conhecimento de Deus no homem, e da expresso divina na natureza, constituindo o selo da Divindade, e dando-nos os meios de abrir nosso interior para alcangar a unido com o divino. Esta reunido, esta regeneracio, era o fim mais elevado, e foi dai que © Sacerdécio tirou seu nome: "religio, clerus regenerans". Melquitsedek foi o primeiro Sacerdote Rei; todos os verdadeiros sacerdotes de Deus e da natureza descendem dele, e Jesus Cristo em Pessoa se juntou a ele, como sacerdote segundo a ordem de Melquitsedek. Este nome ja & literalmente da mais alta e da mais vasta significagdo. Melqui-Tsedek significa literalmente “o instrutor na verdadeira substincia da vida e na separagio desta verdadeira substincia da vida com 0 invélucro destrutivel que a encerra’” Um sacerdote ¢ um separador da natureza pura da impura, um separador da substineia que contém tudo, da matéria destrutivel que ocasiona a dor e a miséria. O sacrificio, ou o que foi separado, consiste no pio e no vinho, "Pao" quer dizer literalmente a substincia que “contém tudo”, e "vinho" a "substincia que vivifica tudo". Assim, um sacerdote segundo a ordem de Melquitsedek é aquele que sabe separar a substincia que contém tudo e vivifica tudo, da matéria impura; e que sabe empregé-la como um verdadeiro meio de reconciliagao e de unio para a humanidade caida, a fim de comunicar-Ihe a verdadeira dignidade real ou o poder sobre a natureza, ea dignidade sacerdotal ou 0 poder de se unir pela Graga, aos mundos superiores. Nestas poucas palavras esta contido todo 0 mistério do Sacerdécio de Deus, a ocupacio que € a finalidade do sacerdote. Mas este Sacerdécio real ndo podia adquirir sua maturidade perfeita, sendo quando Jesus Cristo em Pessoa, como Sumo Sacerdote, tivesse realizado o maior de todos os sacrificios e entrado no santuério mais interior. Aqui abrem-se novos e grandes mistérios dignos de toda vossa atengiio. Quando, segundo os decretos etemos da Sabedoria e da justiga de Deus, foi resolvido salvar a espécie humana caida, a sabedoria de Deus teve de escolher 0 meio que era, sob todas as relagdes, 0 mais eficaz para a consumagao deste elevado objeto. Quando © homem pelo gozo de um fruto corruptivel, que continha © fermento da morte, foi envenenado de tal maneira que tudo 0 que estava ao seu redor se tornou mortal e destrutivel, a misericrdia divina devia necessariamente estabelecer um contraveneno que pudesse ser absorvido do mesmo modo, e que contivesse em si a substincia que encerra e vivifica tudo, a fim de que, pelo 020 deste alimento imortal, o homem envenenado e sujeito & morte pudesse ser curado e libertado de sua miséria, Mas, para que esta drvore de vida pudesse ser plantada novamente aqui em baixo, era necessario antes de tudo que o principio material e corruptivel que est4 no centro da terra, fosse primeiro regenerado, transformado e tornado capaz de ser um dia uma substancia que vivificasse tudo. Esta capacidade para uma nova vida, e a dissolugo da propria esséncia corruptiva, que se encontrava no centro da terra, ndo eram possiveis senfio quando a substancia divina da vida se envolvesse de carne e de sangue, para transmitir as forgas ocultas da vida 4 natureza morta. Isto se fez pela morte de Jesus Cristo. A "forga tinctorial", que se desprendeu de Seu Sangue derramado, penetrou 0 mais interior da terra, ressuscitou os mortos, quebrou os rochedos, e ocasionou o eclipse » total do sol, quando ela expulsou do centro de terra na qual a luz penetrou, todas as partes das trevas para a circunferéncia, e If colocou a base da glorificagdo futura do mundo. Desde a época da morte de Jesus Cristo, a forga divina levada ao centro da terra por Seu sangue derramado, trabalhava sempre para exteriorizar e tornar todas as substincias gradualmente capazes da grande desordem que est reservada a0 mundo. Mas a regeneraco do edificio do mundo em geral nfo seré a tnica finalidade da Redengao. O homem era o objeto principal que Lhe fez derramar Seu Sangue, e para proporcionar-Ihe desde jé, neste mundo material, a mais alta perfeigao possivel pela melhoria de seu ser, Jesus Cristo Se prontificou a suportar sofrimentos infindos. Ele & © Salvador do mundo, Ele é 0 Salvador dos homens. O objeto, a causa de Sua encarnagio era resgatar-nos do pecado, da miséria e da morte. Jesus Cristo livrou-nos de todo mal por Sua came que sacrificou, e por Seu Sangue que derramou por nés. Na clara Compreensio da Came e do Sangue de Jesus Cristo, reside 0 Verdadeiro e Puro Conhecimento da Regeneragao efetiva do Homem. O Mistério da Unidio com Jesus Cristo, ndo s6 Espiritualmente, mas também Corporalmente, é 0 Mistério Supremo da Igreja Interior. Chegar a ser UNO com Ele, em espirito e em verdade, tal é a suprema realizagdo que esperam Seus Eleitos. Os meios desta possessio real de Deus esto ocultos aos sabios deste mundo, e revelados & simplicidade das criangas. © filosofia orgulhosa, prosterna-te diante dos grandes e divinos mistérios inacessiveis a tua sabedoria e sem medida comum com as pélidas luzes da razio humana! SEXTA CARTA Deus se fez homem para divinizar 0 homem. O céu se unird com a terra para transformar a terra em um céu. Mas, para que esta divinizagdo e esta transformacao da terra em Céu possa realizar-se, a mudanga, a conversio de nosso ser é necesséria. Esta mudanga, esta conversio, é chamada jento”. Nascer quer dizer entrar em um mundo no qual domina a sensualidade, onde a sabedoria e 0 amor esmorecem nos lagos da individualidade. Renascer quer dizer retornar a um mundo onde o espirito da sabedoria e do amor domina e onde o homem animal obedece. O renascimento ¢ triplice: primeiramente o renascimento de nossa razio; depois, o renascimento de nosso corago ou de nossa vontade; e finalmente 0 renascimento de todo nosso ser. A primeira e segunda espécies de renascimento € 0 renascimento espiritual. A terceira espécie € 0 renascimento corporal. Muitos homens piedosos que buscavam Deus, foram regenerados na inteligéncia e na vontade; mas poucos conheceram o renascimento corporal. Este iltimo renascimento foi também concedido a poucos homens, e aqueles a quem era dado, s6 0 era com o fim de que pudessem operar como “agentes” de Deus, de acordo com os mais elevados designios, e aproximar de novo a humanidade de sua felicidade. Agora é necessirio mostrar-vos, queridos irmaos, a verdadeira ordem do renascimento. Deus que é todo forga, sabedoria e amor, opera tudo segundo a ordem e a harmonia. Aquele que no recebe a vida espiritual, queridos irmaos, aquele que ndo nasce de novo no Senhor, nao pode entrar no Céu. © homem é engendrado por seus pais no pecado original, quer dizer, entra na vida natural e ndo na espiritual. A vida espiritual consiste em amar a Deus sobre todas as coisas, e a0 préximo como a si mesmo. 40 Neste duplo amor consiste o prinefpio da nova vida. O homem é engendrado no mal, no amor de si mesmo e no amor do mundo. *O amor de si mesmo", "0 interesse proprio”, "O prazer proprio’ Eis 0s atributos substanciais do mal. O bem esta no amor de Deus e do proximo. Nao conhecer nenhum amor sendo 0 amor de todos os homens; Nao conhecer nenhum interesse seno o interesse de todos os homens; Nao conhecer nenhum prazer, nenhum bem estar sendo o bem estar de todos. E assim que se distingue o espirito dos filhos de Deus do espirito dos filhos do mundo. Trocar 0 espirito do mundo pelo espirito dos fils de Deus, é ser regenerado; e isto quer dizer despir 0 velho homem e revestir-se do novo. Mas pessoa alguma pode renascer, se nfo sabe e no aplica os prinefpios seguintes: A verdade deve ser 0 objeto da fé; 0 bem deve tomnar-se, 0 objeto de nossa faculdade de fazer ou de no fazer uma coisa. Assim, aquele que quer renascer, deve primeiro conhecer 0 que convém a0 renascimento. Deve poder conceber, meditar e refletir sobre tudo isto. Deve também agir de acordo com 0 que ele sabe, e a consequiéncia disso seré uma nova vida. Mas, como primeiro é necessério saber e ser instruido em tudo que diz respeito a0 renascimento, um professor ou um instrutor & necessério; e conhecendo-se algum, a fé nele é também necesséria; porque de que serviria 0 professor, se 0 discfpulo nao tem confianga nele? Daf, o ponto de partida para renascer, € a fé na Revelagio. Deve comegar a crer que o Senhor, 0 Filho, é a Sabedoria de Deus, que é de toda eternidade de Deus, que veio a0 mundo para tornar feliz a espécie humana. Deve crer que 0 Senhor tem todo poder no Céu e sobre a terra, e que toda fé e amor, todo bem e toda verdade véem somente dele; que o Senhor é 0 Mediador, 0 Salvador 0 governador dos homens. Quando esta fé, a mais elevada criou rafzes em nds, pensamos freqlentemente no Senhor, e esses pensamentos dirigidos para Ele, desenvolvem pela sua graca que reage em nds, os sete poderes espirituais prisioneiros, o caminho para esta realizagdo é 0 seguinte. CAMINHO DA FELICIDADE Queres tu, homem e irmio, adquirir a mais alta felicidade que te seja possfvel? procura a Verdade, a Sabedoria e 0 Amor! Mas tu nao encontrarés a Verdade, a Sabedoria e 0 Amor sengio em uma unidade, que € 0 Senhor Jesus Cristo, 0 Ungido da Luz. Procura Jesus Cristo com todas as tuas forgas, procura-o com toda a plenitude de teu coragdo. O comeco de tua ascensio é 0 conhecimento de tua nulidade; deste conhecimento resulta a necessidade de um poder mais alto; esta necessidade & © gérmen da fé. A fé dé a confianga, mas a f€ tem também suas etapas. Em primeiro lugar vem a fé hist6rica; Em seguida a fé moral; Depois a fé divina; E por fim a fé viva. A progressao é a seguinte: 4 Comega a fé hist6rica quando aprendemos a conhecer, pela hist6ria e a Revelagdo, que existiu um homem que se chamava Jesus de Nazareth; que este homem era um homem inteiramente singular, que amava extraordinariamente os homens, acumulava-os de grandes beneficios, e levava uma vida extremamente virtuosa; enfim, que era um dos homens mais morais e dos melhores, e que merece toda nossa atengao e todo nosso amor. Por esta fé simplesmente histérica da existéncia de Jesus Cristo, chega a f€ moral cujo desenvolvimento faz. com que nés adquiramos, vejamos e encontremos realmente prazer em tudo 0 que ensinava este homem; achamos que sua doutrina simples era cheia de sabedoria, e sua escola repleta de amor; que Ele tinha intengGes retas para a humanidade, e que sofreu voluntariamente a morte pela verdade. E assim que a fé em Sua pessoa sucede a fé em suas palavras, e por esta se desenvolve a fé na Sua divindade. Este mesmo Jesus Cristo que nos € tio caro em Sua pessoa, que se nos toma tio venerdvel por Sua vida e Sua doutrina; este mesmo Jesus Cristo nos diz agora que Ele € 0 Filho de Deus: Ele afirma 0 que diz. por milagres; cura os doentes, ressuscita 0s mortos, ressuscita Ele proprio da morte & permanece com Seus discfpulos para os instruir nos mistérios mais elevados da natureza ¢ da religido, quarenta dias apés sua ressurreigZo. Aqui, a f€ natural e razoavel em Jesus Cristo, torna-se £6 divina. Comegamos a crer que Ele era Deus feito homem. Desta fé resulta que temos por verdadeiro o que ainda nfo compreendemos ¢ que Ele nos ordena a crer. Por esta fé na divindade de Jesus, por este completo abandono a Ele ¢ 3 fiel observancia de Suas leis, manifesta-se em fim a fé viva, pela qual verificamos por experiéncia interior tudo 0 que haviamos crido até o presente, somente por uma confianga infantil; e esta fé viva e vivida é a mais alta de todas. Quando nosso coragdo, pela fé viva, recebeu nele Jesus Cristo, entdo esta Luz do Mundo nasce nele como num pobre estébulo. Tudo em nds é impuro, rodeado pelas teias de aranha da vaidade, coberto com o lodo da sensualidade. Nossa vontade é 0 boi que est sob o jugo das paixdes. Nossa razio 6 0 asno preso A teimosia de suas opinides, a seus preconceitos e a suas tolices. Nesta miserdvel choupana em ruinas, no lugar da habitagdo das paixdes animais, Jesus Cristo nasceu em nés pela f. A simplicidade de nossa alma é o estado dos pastores que Lhe levam as primeiras oferendas, até que finalmente as trés principais forgas de nossa dignidade real, nossa razo, nossa vontade e nossa atividade se prostemnem diante d'Ele e Lhe oferegam os dons da verdade, da sabedoria e do amor. Pouco a pouco o estibulo de nosso coragdo transforma-se em um Templo exterior no qual Jesus Cristo ensina, Mas este Templo esté repleto de escribas ¢ fariseus. Os vendilhdes de pombos e os cambistas ainda se encontram nele e devem ser expulsos a fim de que o Templo se torne uma Casa de Oragdo. Pouco a pouco, Jesus Cristo elege, para O anunciar, todas as boas forgas de nosso ser: Ble cura nossa cegueira, purifica nossa lepra, ressuscita 0 que em nds estava morto. Em nds sempre, Ele é crucificado, morre e ressuscita como vencedor glorioso. Desde ento, Sua personalidade vive em nds € nos instrui nos mais sublimes mistérios, até que finalmente Ele nos chama para a Regeneragao integral, subindo ao Céu para nos enviar o Espirito de Verdade. Mas antes do Espirito operar plenamente em nés, sofremos as transformagdes seguintes: Primeiramente, os sete poderes de nosso entendimento so desobstruidos, e depois os sete poderes de nosso corago ou de nossa vontade também o so, ¢ esta exaltagdo se efetua como segue: 2 O entendimento humano se divide em sete poderes; o primeiro poder € o de olhar os objetos fora de nés; “intuitus”. Pelo segundo poder, apercebemos os objetos considerados; “apperceptio”. Pelo terceiro poder, © que foi apercebido é refletido; "reflexio". O quarto poder € 0 de considerar os objetos apercebidos em sua diversidade; fantasia, "imaginatio". O quinto poder € 0 de se decidir sobre qualquer coisa; "judicium”. O sexto poder coordena as coisas de acordo com suas relagdes; “ratia". O sétimo poder, por fim, realiza a compreensio sintética das coisas coordenadas; “intellectus". Este ultimo contém, por assim dizer, a soma de todos os outros. A vontade do homem se divide igualmente em sete poderes, que, tomados em conjunto, formam a vontade do homem, ou so, por assim dizer, como suas partes substanciais. O primeiro ¢ a capacidade de desejar as coisas fora de si; "desiderium". O segundo & a capacidade de poder apropriar-se das coisas desejadas; “appetitus”. O terceiro € o poder de Ihes dar uma forma, de tomé- las reais, ou de satisfazer a concupiscéncia; "concupiscentia’. O quarto € o poder de receber em si as, inclinagdes sem decidir-se por nenhuma, ou o estado de paixao; “passio”. O quinto ¢ o poder de se resolver em pré ou contra uma coisa, a liberdade; "libertas". O sexto é o poder de escolha, ou da resolugdo realmente tomada; "electio". O sétimo é 0 poder de dar uma existéncia a0 objeto escolhido, "voluntas”. Este sétimo poder contém ainda todos os outros dos quais € a soma. Agora, 0s sete poderes do entendimento, como também os sete poderes de nosso coragio ou da vontade, podem ser enobrecidos e exaltados de uma maneira particular, quando tomamos Jesus Cristo, como sendo a Sabedoria de Deus, por principio de nossa razdo; e sua vida, toda Amor, por impulso de nossa vontade. Nosso entendimento esta formado de acordo com o de Jesus Cristo. 1° Quando O temos em vista em todas as coisas, quando Ele forma o tinico critério de nossas agdes; “intuftus". 2° Quando apercebemos por toda parte Suas agdes, Seus sentimentos e Seu espirito; “apperceptio”, 3° Quando, em todos os nossos pensamentos, refletimos sobre Seus preceitos, quando pensamos em todas as coisas, como Ele teria pensado; “reflexio” 4° Quando fazemos de modo com que Seus sentimentos, Seus pensamentos, Sua sabedoria sejam o objeto tinico de nossa forga de imaginacao; "fantasia" 5° Quando rejeitamos cada pensamento que nio esté de acordo com o Seu, ¢ quando escolhemos cada pensamento que podia ser o Seu; "judicium’, 6° Quando finalmente coordenamos todo 0 edi idéias e Seu espirito; "ratio". E assim que: 7° Nasceré em nds uma nova luz, mais alta, ultrapassando em muito, a raziio dos sentidos; “intellectus” io de idéias de nosso espirito de acordo com Suas Nosso corago se reforma do mesmo modo, quando em tudo: 1° Nao tendemos senio para Ele: "desiderare". 2° Nao queremos sendio a Ele: "appetere”. 3° Nao desejamos senio a Ele: "concupiscere”. 4° Nao amamos senao a Ele: "amare". 5° Nao escolhemos sendo tudo aquilo que Ele é, e fugimos de tudo o que Ele nao é: “eligere”. 6° Nao vivemos sendo em harmonia com Ele, com Seus mandamentos, Suas instituigdes e suas ordens: “subordinare”. Pelo que, finalmente 7° Nasce uma unido completa de nossa vontade com a Sua, pela qual nés no somos n'Ele e com Ele seniio um sentido e um coragdo, de maneira que o “novo homem”, se manifesta pouco a pouco em nés, a Divina Sabedoria e 0 Amor Divino se unem para engendrar 0 novo homem espiritual, no 43 coragdo do qual a fé passa a visio real, de modo que em comparagao a esta Fé Viva, os tesouros das duas {ndias no sio mais do que poeira. Esta posse atual de Deus ou Jesus Cristo em nés, 6 0 centro para o qual convergem todos os mistérios, como 0s raios de um circulo. O reino de Deus é um reino de verdade, de moralidade e de felicidade. Ele opera do mais intemo ao mais extemo dos prdprios individuos e deve espalhar- se progressivamente, pelo Espirito de Jesus Cristo, sobre todas as nagGes, para instaurar por toda parte uma ordem na qual se beneficiario igualmente o individuo e a espécie, e gragas & qual a natureza humana poderd alcangar a sua mais alta perfeigao e onde a humanidade sofredora poderé achar 0 remédio para todos seus males. Assim, s6 0 Amor e 0 Espirito de Deus vivificarfo um dia o género humano, despertando e diligenciando as forgas de nossa natureza, orientando-as de acordo com os designios da Sabedoria e fazendo entre elas reinar a harmonia. Paz, fidelidade, conc6rdia doméstica, amor dos superiores para com seus inferiores, solicitude dos empregados, para com seus chefes, amor recfproco das nagdes sero 0s primeiros frutos deste espfrito. A inspiragao do bem sem quimeras, a exaltagdo de nossa alma sem uma tensdo excessiva, a calorosa solicitude do coragdo sem impaciéncia turbulenta, aproximardo, reconciliardo € unirdo os povos humanos, tanto tempo separados e divididos, tanto tempo levantados uns contra os outros pelos erros e os preconceitos. Entdo, no grande Templo da Natureza, grandes e pequenos, pobres e ricos, entoariio louvores a0 Pai do Amor! APENDICE 0 CEU SOBRE A TERRA ou JESUS CRISTO NO CORAGAO DO HOMEM O mundo s6 seré feliz quando possuir nele Jesus Cristo. Entfo a felicidade reinaré sobre a terra, a paz e a prosperidade serdo as partilhas de todos. Quem é Jesus Cristo? Ele € 0 Amor, a Sabedoria, 0 Poder; Ele é a origem das inclinagdes puras que conduzem & iluminagio interior! Onde Ele est reside a dignidade do homem, a beatitude do coragdo purificado; Ele s6, carrega com o peso que nos tem submergidos profundamente na miséria. Onde seu espfrito reina no coragio, desaparecem desgostos sofrimentos; todos os dias passados com Ele sio dias de primavera, todas as horas so horas de delicias. Os prinefpios que reinam por Ele nao tem iguais, 0 Amor s6, € seu reino, Imaginemos a bengo que cairé sobre nds, quando a humanidade inteira, unida pelo Amor, residira em seu Templo. Os principes serdo os pais de seus povos; os sacerdotes serdo os médicos; e a Ele s6, © Grande Salvador dos Homens, nds seremos devedores desta felicidade. Todos aqueles que se evitavam ou se odiavam o Judeu e o Gentio, 0 rico € 0 miserivel, todos aqueles que esto no estado de discrdia, viverdo em harmonia miitua. Remédios esto preparados para 0s convalescentes, um fraternal afeto paira sobre 0 pobre. O faminto é saciado; o infeliz. encontra apoio; 0 estrangeiro recebe hospitalidade. A vitiva ndo chora mais, 0 6rfio nao mais se desola, cada um tem 0 que necessita, porque o Senhor tem cuidado de todos. O Espfrito e a Verdade residem no Templo; o servigo do altar celebrado tanto pelo coraga0, como pela boca, e selo sagrado da Divindade garante a dignidade do Sacerdote. A Sabedoria é 0 ornamento supremo das diademas terrestres, 0 Amor reina no Santudrio e faz do mundo um paraiso. “4 Nao se imola a nenhum dos nossos irmaos sobre sangrentos patibulos, somos ramos de um mesmo tronco e cada um é necessirio aos outros. Os cirurgides que hoje cortam arbitrariamente os membros empregardo toda sua sabedoria para conservar 0s corpos como o seu proprio. Ah! Que vejo? Que alegria que jamais meu coragao havia sentido: Cristo e Judeu, Maometano pagio caminham juntos dando-se as mos! O lobo e 0 cordeiro estio juntos no campo, a crianga brinca com a vibora, as naturezas inimigas estio reconciliadas pelo Amor. E tu, peregrino que buscas uma nova etapa, teras que dar ainda mais alguns passos sobre a Via e, entio, poderds obter a completa transformagao! J4 se inicia, pouco a pouco, a queda do Véu do Santuério Interior! Olha como o morcego e a coruja fogem ao nascer do Sol, como 0 erro, a noite e 08 preconceitos retornam & regio das sombras! A nova terra comeca, 0 novo século esta préximo, 0 Espirito de Jesus Cristo diz: “Que seja!”e, ja ¢ realmente. Ele esta 1, parece que se poderia vé-lo, Mas nao, deve permanecer invisfvel ate que caia 0 Véu. Somente, entio, nenhuma revolugio ameagaré mais a terra: Ele, a felicidade das nagdes, o Senhor, esta préximo. Embora 0 espfrito das trevas induza ainda mirfadas de homens & luta encarnigada, teré que fugir, entretanto, porque a vit6ria esta prometida ao Amor! Deus serve-se de armas estranhas quando seu povo O esquece completamente, o pecado, origem dos males, tomna-se a puni¢ao do proprio pecado! No entanto, se uma s6 lgrima cai dos olhos do pecador, a cena de dor muda, porque seu Pai esti perto! Sé Um governa tudo, s6 Um conduz tudo de acordo com os designios de Sua Sabedoria. Muitos dos que combatem por Ele, 0 ignoram com freqliéncia. Muitos no conheceram seno o que cai sob suas vistas e seus sentidos. Quando Véu se levante, que assombro para o mundo! Entio, fildsofos orgulhosos vos afastareis confundidos de Aquele em quem os sabios esperam, Ele que € vossa luz e vossa beatitude. A razdo que vés divinizais nfo € seno uma simples luz. dos sentidos: aquele que sobe pela torre de Babel ndo pode alcangar a verdade. Vossa obra ser aniquilada por Aquele que dispersa a areia a0 vento: todo erro deverd eclipsar-se diante da majestade da Fé!

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