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Publieagio de "O TABLADO” sob 0 patrocinio do Instituto Brasileiro de Edueagio, Ciéneia e Cultura (IBECC ) Av. Lineu de Paula Machado, 795 Jardim Botinico Distrito Federal Diretor responstvel: Maria Clara Machado Redatores: Virka V. Borges Vera Pedrosa, Rubens Corréa, Maria Tereza Varges Sonia Cavaleanti Vania Velloso Borges Julia Pena da Rocha Secretiirin: Wanda Torres Tesoureira: Eddy Revende Composi¢éo: Anna Letycia Colaboram néste ntimero Kalma Murtinho Barbara Heliodora PROBLEMAS PROFISSIONALIZACAO E OUTROS PROBLEMAS DE UM GRUPO AMADOR Tralaremos hoje da profissionalizagdo de “O Tablado”. Problema que se torna de interésse geral por ser o de tantos outros grupos de amadores. Dai 0 incluirmos nesta secdo Muitos nos perguntam: por que nao se profissionaliza o nosso grupo? ham que isso nos faria produzir mais. Alegam que se ha escassez de teatros no Brasil, a profissionalizagio faria do Tablado um grupo. mais estavel, mais ative. Em vez de dois ou trés espetaculos por ano, deviamos apresentar quatro ou cinco. Acham também que saindo da Gavea e nos instalando no centro da cidade, seriamos de acesso mais facil para a po- pulagio da zona Norte. Deviamos também, dizem alguns, viajar pelo Brasil, levar a outras cidades as nossas melhores producoes. Deviamos. criar o teatro permanente da crianca a pobre crianga quase ngo tem divertimento, ¢ uma ou duas pecas por ano é muito pouco, deviamos abrir um concurso de pecas para representar as melhores e, assim, incentivar os novos autores: — deviamos fazer teatro mais popular, menos restrito a classe média; — deviamos fazer uma campanha financeira e arranjar um teatro maior; — deviamos ensaiar simultancamente duas pecas para nao ficarmos tanto tempo parados; — e porque nao fundar uma escola de tea- tro no Tablado? E os nossos ‘amigos apontam também os perigos da nao profissionalizacio, sendo que o maior é a perda constante de autores. Basta que um ator ou uma atriz tenha algum sucesso para logo ser pescado por grupos profissionais. Mais ou menos 0 que acontece com os novos jogadores de futebol. A nao profissionalizacio, dizem éles —— ¢ com razao — impede que 0 Tablado forme um elenco estavel; nunca chegara a for. mar um elenco 100 %. E argumentam que se pagdssemos aos nossos atores, éstes se ligariam mais fortemente ao. grupo. Poderiamos enfim apresentar espeticulo o ano todo, fazer teatro da crianca, concurso de pecas, viajar, € talvez aumentar a nossa receita ao ponto de poder alugar teatro na cida” de ou construir um. Enfim sao conselhos e sugestées amigas, que ouvi- mos diariamente ¢ que nos sensibilizam pelo interésse que 0 nosso grupo vem despertando no publico. Com o crescimento désse interésse crescem também as nossas apreensoes ¢ responsabilidades. Para defender 0 amadorismo do Tablado, precisamos primeiro frizar que cada grupo € um caso particular. Nao se pode generalizar nem dar receitas quando se trata de grupos humanos; 0 que num pais ou cidade é valido, no outro j4 nao o é. O atual teatro Nacional da Bélgiea que nos visitou ha alguns anos, surgiu de um grupo de amadores que passou dez anos fa- zendo amadorismo. O mesmo acontecendo com o melhor grupo profissio- nal do Chile que viveu 16 anos no amadorismo. Ja 0 nosso T.B.C., depois de poucos anos de amadorismo, tornou-se o melhor grupo profissional do pais. Cada grupo tem sua historia particular, dependendo a sua profissio- nalizacdo de circunstincias e injungdes diversas. O importante é que cada diretor de grupo seja bastante honesto para enfrentar os préprios pro- blemas sem se deixar levar por pressa nem ambicdes desme: Nossas razoes: TABLADO-ESCOLA: A questio dos atores que saem para os grupos profissionais vém provar que nossas escolas ainda so insuficientes para suprir esta enorme procura de atores que ha no momento. As companhias se formam com trés ou quatro pessoas e quanto ao resto os diretores pro- curam suprir-se nos grupos de amadores, onde o teste é feito ao vivo, © 0s atores possuem certa pritica e as vézes alé algum cartaz; e nfo 6 S0- mente do Tablado que saem atores. Constantemente os. profissionais tro- cam de companhia, ora seguindo os diretores, ora atraidos por melhores papéis ou melhores salarios. Mesmo que o Tablado fosse um grupo pro- fissional éste troca-troca se verificaria, Se, por um lado, lastimamos a saida de atores mais experimentados, por outro lado, é uma oportunidade que se abre para os alunos das olas de teatro que ainda nado foram des- cobertos, e que no amadorismo terfo oportunidade de pisarem no paleo € porem em pratica 0 que aprenderam, O mesmo se dé com os novos di- retores. Onde praticar melhor do ‘que num grupo amador, com tempo, com uma equipe preparada e sem problemas financeiros? Se 0 Tablado continuar a ser, como vem sendo até hoje, um celeiro de atores e¢ diretores, e se éstes atores e diretores deixarem o Tablado com uma consciéncia mais elevada do que seja teatro, do que seja trabalhar em equipe, com a0 menos uma idéia da dignidade da profissio, — entgo vale a pena continuarmos amadores. Poderiamos obter os mesmos resul- tados se fossemos profissionais, diria alguém. Dificil, sobretudo na juven. tude, misturar idealismo com dinheiro, sem que o primeiro sofra. & muito diferente para um ator novo separar lucros de produtores e ideal artistico, Ou @le ficard eético, e s6 pensaré em si mesmo, ou -abandonara o teatro, E talvez 0 teatro tenha perdido alguém de real valor. Trabalhar com des: preendimento, trabalhar visando a um sucesso arlistico colelivo, 6 a melhor inieacdo para o futuro profissional. Numa arte facil de se transformar em escola de vaidades ¢ de exibicionismo, ninguém perde em varrer um um pouco um paleo, ou puxar uma cortina. PRODUZIR MAIS: Por vézes nos enchemos de pinico com o atraso em estrearmos uma peca. Se passamos mais de dois meses ensaiando, sem que a publicidade ou o publico tenha conhecimento de nossa vida, imediata- mente sentimos que estamos em atraso e que precisamos apressar tudo. Isto porque vivemos numa época em que tudo é feito rapidamente visan- do sempre a um sucesso também rapido. Nao basta produzir bem. Temos que produzir muito. A televisio é a maior prova disso. Tudo é feito na hora. Ao mesmo tempo que 0 autor concebe a pega, o diretor dirige, o ator representa, os técnicos filmam, € 0 publico vé. Dinamismo maior nao po- dera existir. Prevalece o “tempo 6 dinheiro”. Séa estranho, antiquado € fora de moda ficar meses preparando uma peca ou um ator. Soa esira- nhissimo passar 6 anos apenas como amadores. Estamos na época de plan- tar feijao que nasce uma semana depois. Ninguém quer plantar jacaranda. Este vive muito mas custa demais a nascer, e isto irrita, atrasa nao sei o que, na evolucio de nfo sei o que, na inexplicavel pressa coletiva. Nao & sémente o pitblico que sente a necessidade de produzir mais e mais. Dentro do grupo também sentimos as vézes esta sensacio de que estamos atrasados. Sensacao que alivia durante a época de espetaculos e que volta a ficar tensa durante os longos ensaios. Essas reacées podem acabar com qualquer teatro, sobretudo o de amadores. Ninguém parece pereeber que o produzir mais para gente de pouca experiéneia, implica em produzir menos bem. E que para produzir muito e bem é necessario uma perfeita harmonizagao de técnica e de vida, enfim de aprendizado arlistico e humano, ¢ isto também sé se obtem com'o tempo. & preciso que os grupos amadores sintam esta exigéncia de formacio técnica e moral mais forte do que a necessieade (justia) do sucesso. & preciso terem forca para néo resistirem & tentacao da aventura. Um grupo amador que se langa a0 profissionalismo antes do tempo comete uma aventura. Aquéle que vai depois de um longo aprendizado apenas comeca uma nova etapa de sua vida-artistica A EQUIPE DO TABLADO: Outra razio para a nfo profissionalizacao do Tablado é a formacio interna da equipe de trabalho. Os elementos principais do Tablado nao sao os seus atores, aquéles que aparecem, ou melhor so os atores também, mas enquanto trabalham na subsisténcia do grupo: costureiras, conira-regras, sonoplatas, tesoureira, eletricista, bilhe. teiros, porteiros, publicistas, maquiadores, datilografos, pintores, — enfim uma enorme equipe eminentemente amadora, sem falar no pessoal do Pa- tronato da Gavea, onde funcionamos como em casa, atrapalhando os tr; balhos normais da instituicao, invadindo salas e usando 0 telefone o dia intero. Para que téda essa gente fosse paga como merece, no tempo que precisamos para produzirmos bons espetaculos, precisariamos de muito dinheiro € isto nés nao temos. Com pouco dinheiro, teriamos que dispen- sar a metade do grupo técnico e entio nao seria 0 mesmo Tablado Resta-nos dizer que nfo planejamos nada. Nem mesmo a 3° peca de uma temporada. Pode ser que no préximo ano tenhamos mudado até de opi- niago. O Tablado vem se desenvolvendo nestes 6 anos naturalmente, sem estudos antecipados, sem programas. Apenas procuramos, segundo o nosso temperamento, viver o mais honestamente possivel tim ideal de teatro porque cremos que o teatro pode fazer bem a nds mesmos, 0 que é a melhor maneira de fazermos bem aos outros. Que buscamos aqui ¢ ali, nos livros, nos exemplos, nos consélhos, e sobretudo na pratica a melhor maneira de harmonizar teatro e vida. Gostariamos, como desejam nossos amigos, de fazer teatro permanente da crianca, viajar pelo Brasil, de dai mos mais espetaculos, de fazermos teatro popular, de nao tirarmos as pecas de sucesso de cartaz, de botar ar refrigerado na sala... ete. ele Se nao logramos fazer tudo isto ¢ porque somos limitados e a nossa qua- lidade talve térmos consciéncia de nossas limitacdes. M. CG. M peca, Chapeuzinho Vermeiho, de Maria Clara Machado encenada fie | | NOSSA CAPA — Vania Veloso Borges, no papel de “Coelha” na | pelo Tablado em 1956. 03 AMADORES Entrevista com Louis JOUVET Louis Jouvet recebeu-nos no seu camarim do teatro Ateneu, alguns momentos antes de uma representacao de “Don Juan”. E, enquanto se aprontava para entrar em cena, ja com as botas e 0 gibao preto do primeiro ato, o grande ator ia emitindo suas opinides sébre o teatro amador. — Uma entrevista sdbre 0 teatro amador? Mas é um mundo!. Jouvet com esta observacdo desarmou-nos e néo nos sentimos com co- ragem de fazer-Ihe as perguntas que tinhamos cuidadosamente preparado. — Fico muito contente de ver o teatro amador tomar vida nova, Du- rante muito tempo foi negligenciado sem razao. Ai, entao, arriscamos uma pergunta: P. "Antes de sua estréia como ator profissional havia grupos amadores em atividade? Participou de algum déles? R. Havia 0 tradicional teatro de patronato, com o seu autor inevité- yel, Courteline. Nunca fiz teatro amador, embora tenha tomado parte na fundacao do Teatro de Arte. Nao havia, porém, a proliferagdo de amadores que se observa hoje em dia. P. Quais, na sua opinido, as causas desta proliferacio? R. Provavelmente, a depresséo psicolégica decorrente da guerra e do apés-guerra. Desde 1940, a atividade teatral desinteressada tornou-se para muitos a razdo da vida, 'a oportunidade de esquecer, a distracéo, no sentido Jatino da palavra. Nos proprios campos de prisioneiros foram montados es- petaculos que contribuiram para a formagdo nao sé de atores e autores, mas, © que € primordial, de espectadores. Ja em outros paises, como a Bélgica, os Estados Unidos e a Inglaterra, as organizagées de amadores tém, de longa data, uma importancia prepon- derante, dificilmente concebida na Franca. P. © com satisfagdo, portanto, que 0 senhor observa a atividade dos amadores? R. Sem diivida alguma... Desejava mesmo que o movimento atual tivesse, na historia do teatro, a importancia que tiveram o Teatro de Collé- ges, no século XVI e o Teatro de Sociedade no século XVIII. (Quem falava aqui era o Jouvet presidente da Sociedade de Histéria do Teatro). Como nao ignoram, se o teatro na época classica teve téo grande acolhimento junto a0 publico, foi porque éste ptiblico ja tinha sido formado, e por atores @ au. tores ainda no profissionalizados, P. Como 0 teatro amador foi quem preparou o caminho para o teatro Profissional, ndo seria util pO-los em contacto, como acontece, por exemplo, no “Concurso Oficial das Companhias Estreantes"? R. Sim... E ai Jouvet faz uma pausa. Pessoalmente, sé acho que éste confronto tenha importincia na medida em que cria uma emulacao stuc davel. Mas éste concurso mostra a vontade dos poderes publices de ajudar os atores, autores e diretores jévens, 0 que ¢ de grande importancia, Gosta, Tia que @ste auxilio tivesse 0 vulto que atinge nos Estados Unidos e na Riess P. [Sera preciso estabelecer uma diferenca entre amadores e profis. sionais? R. Porque? O amadorismo é uma etapa. Mais cédo ou mais tarde, os glementos de valor passam-se para o profissionalismo, e multas vocasdes falsas desencorajam-se, Basta citar 0 exemplo do grupo “Filhos de Familia” que Moliére fundou ao deixar 0 colégio. Q que desagrada ¢ ver amadores “macaquearem” os profissionais, 1e- vando pecas ja aprovadas pelo pitblico, j4 “classicas”. Nao ha utilidade nes. te tipo_de representagées. des, © piiblico a que se destinam, e 0 lugar que ocupam no conjunto do movimento teatral RB. Com toda razéio. Sdo poucos os autores que se animam a confiar @s guas Pecas inéditas aos grupos jovens. No entanto, seria excelente opor- tunidade para po-las 4 prova. O problema do repertorio ¢ da propria exis. téncia do teatro nao profissional, talvez pudesse ser resolvido no dia em que O5 autores © considerassem nao apenas como uma fonte de renda que’ se envergonham de declarar, mas como um meio de montar e submeter ao pitblico as novas pecas, que os profsisionais, no estado atual das coisas, nao podem ou nao querem fazer. “Faltam dez minutos”, avisa 0 auto-falante. Saolt#s £ preciso dar aos grupos amadores facilidades materiais: locais apropriados, ¢, particularmente, dinheiro. Cabe, entre outros, as municipa. Iidades compreendé-lo, P.O, senhor acha que Centros Regionais de Arte Dramitica e pu- blicagoes que versem 0 teatro tenham utilidade? R. De certo, pois contribuem para a formagdo de um clima favoravel a9 livre desenvolvimento de uma arte teatral de valor e A educacso do B0sto e do piblico, a criagdo de um publico competente e exigente, “um publico de talento”. Seria bom, que, seguindo éste critério, os conservatérios das provin- cias procurassem fazer mais do que apenas formar jovens atores, que ter- miman © curso sem o menor valor dramético, ignorantes das menores exi- géncias da profissao. “Faltam cinco minutos” P. _Uma ultima pergunta. O senhor teme, como disseram, que o de- senvolvimento do teatro amador prejudique os profissionais? R. Quanto mais amadores houver, melhor. Haver, quem sabe, al- gum risco. Mas para o bem do teatro, é preciso corré-lo. -E enquanto nos despediamos de Louis Jouvet, ouviamos ao longe a miisiea que inicia o primeiro ato de “Don Juan” Traduzido de “Cahiers d’art dramatique” de janeiro de 1948. O nosso teatro ainda ndo esté na fase de pensar na posteridade, ndo adquiriu ainda o direito de se enxergar como documento histérico. Esla- mos no momento de consirucao, vivemos no presente ¢ para o presente. Ora, 0 problema porventura mais cruciante entre nés é 0 da criacdo de uma consciéncia teatral, essa qualquer coisa vagd e indeterminada que ante- cede e prepara a aco, compreende, por exemplo, desde 0 conhecimento preciso de como se ilumina um palco até a discussdo respeito da natu- reza eslélica do fenémeno teatral. No teatro, a revolucao literdria sendo a mais profunda, é sempre a iil- dima a se fazer. O teatro como o cineme, nao depende $6 de inspiracdo mas de wm conhecimento técnico que ndo se adquire sem uma certa intima convivéncia. — Para se escrever bem teatro, é necessirio nascer e crescer dentro de bom lealro, recebendo as. primeiras licdes e as primeiras influén- cias na idade em que se deve recebé-las: na adolescéncia. ..mas hd ainda na grande arte de representar, outro elemento indispen- stvel: a inteligéncia do texto. Teatro ndo é 36 delirio e transporte. Como iéda forma literdria, é também mensagem de inleligéncia, mensagem que deve chegar intacta até os auditérios. Em arte 9 que custi mais-é a rentincia de nossa personalidade, & adesdo completa e momentinea a pontos de vista alhetos — Para qite! obra de arle nasca em iéda a sua independéncia é preciso que os infér- preles tenham @ humildade de se apagar como 0 autor jd se apagara ao eriar as personagens, ao relirar da sua substineia aquelas crialuras estra- nhas ¢ com vida aulénoma que constiluem, por isso mesmo, a propria negagao déles. Em teatro, cada gesto, cada inflexdo podem visar dois propésitos dif renles: um ode servir o texto, outro-o de proporcionar ao alor uma ex bicdo de virluosismo O teatro, arte essencialmente hibrida, confluéncia de tédas as arles, nunea pode dar-se ao lueo de alimentar ilusdes de pureza. Pureza aonde, nessa unido equivoca entre fatores literdrios e faléres plasticos, entre el mentos kumanos e ndo humanos? Todos os tedricos interessados em uni- ficar 0 teatro, acabam sempre ds vollas com anlinomias irredutiveis: a do homem, elemento de trés dimens6es, opondo-se a paisayem pintada do ce- nario; a do ator, com sua personalidade viva e imprevisivel, sujeito a fa- thas, imperfeicdes, caprichos, resislindo ds idéias do encenador, ao seu desejo de ordem estélica imutdvel. Tais cogilagdes s6 lerminam, em geral, com o sacrificio injusto de um dos dois elementos antagonislas: 0 ator, por exemplo, ¢ substituido por um “super-marionelte” da mesma substdneia ¢ tdo disciplinado quanto o cendrio. Conseguiu-se afinal a unidade ledrica mas jd nao temos teatro propriamente dito. Teatro puro é teatro nao existente e ndo hd desmentido mais completo a teorias da pureza que a tra- gédia grega, Jusdéo da literatura, da arquilelura, da danea e da misic Uma obra de arte, julga-se pelos resultados, nd@o pelas intencdes. No nosso teatro, tal atilude, a tnica correta artisticamente, quase nao é po: sivel. Estamos prézimos demais uns dos outros, ligados afetivamente a volta dessa planta fragil, o teatro, que é preciso proteger e cuidar, Cada érro dos outros repercute em nés como se fésse nosso. Néo chegamos a ser nem mesmo espectadores: somos cimplices. E essa sensacéo de soli- dariedade, parece-nos, que induz muitos criticos, depois de cerlo tempo de exercicio da profissdo, ao excesso contrario, isto é, a uma benevoléncia mais ou menos indiscriminada, Como nao falar bem de quem estd lutando pelo teatro no Brasil? Também faria 0 mesmo, talvez, se acreditasse que a palavra tem 0 dom de transfigurar a realidade, isto’ é, se acredilasse que 0 elogio gera por si s6 o progresso. Infelizmente penso exalamente 0 con. trdrio. A critica, subjetiva por natureza, muito pouca coisa tem a oferecer de sdlido, de seguro — que ofereca, ao menos, a sua sinceridade, tnico valor que pode ser sempre absolula e total. DO LIVRO DE D&CIO DE ALMEIDA PRADO, “APRE, ‘ATRO BRASILEIRO MODERNO’ ENTACAO DO LIVRARIA MARTINS, EDITORA. TEATRO NO SECULO DE OURO ESPANHOL Os séculos XVI e XVII foram os chamados séculos de ouro da litera tura espanhola. © periodo mais brilhante € o que compreende os tiltimos 30 anos do século XVI e os primeiros 30 do século XVII. Foi esta a época das geracoes de Cervantes, Lope de Vega e Quevedo. Do ponto de vista do teatro, foi a grande época classica da Espanha, aquela em que o teatro nacional atravessou um pericdo cuja importancia é comparavel 4 do da Grécia antiga, da Inglaterra Blizabetana e da Franca classica. Na Espanha, como nos outros paises curopeus, 0 teatro formou-se nas Igrejas. Os primeiros espetaculos eram ceriménias ¢ textos littirgicos, sendo 08 cOnegos, didconos © sub-diéconos os primeiros atores. A introducdo cada vez maior de elementos profanos nas representacoes religiosas — frases e ates satiricos — teve como resultado a. proibicdo de qualquer -representa- ao teatral dentro das igrejas. Passou, entao, do interior para o exterior dos templos e dali para os palacios dos priineipes ¢ para os mosteiros. Durante todo 0 século XVI, o drama religioso continuou a ser culti- vado sob a forma de Autos Sacramentais, mas i& contando com notaveis ai- teracdes e com a intorducao de elementos completamente alheios a Igreja. Ao lado désse teatro religioso, coexistiram algumas formas de teatro pro- fano, como a égioga pastoril, farsas cémicas, pegas alegoricas e até textos imitados do teatro italiano. Alias, a influéneia italiana na formacao teatral da Espanha foi muito grande, assim como o foi na Franca e na Inglaterra As situacoes mais caracteristicas da comédia italiana, como as cenas no- turnas, com a inevitavel confusio de personagens no escuro, foram ha- bituais nas comédias de Capa e Espada. Rste primitivo teatro, 4 medida que se popularizou, foi deixando os palacios aristocraticos e os mosteiros, como jé havia deixado o interior das igrejas, para se localizar nas pracas piblicas e finalmente nos. patios das ¢asas. Aos poucos foram sendo construidos locais fechados lateralmente, de- nominados “corrales”. Os “corrales”, no inicio, nao tinham teto, e as ja- nelas das casas vizinhas, quando altas, eram aproveitadas como “torrinhas”, © quando baixas, como “aposentos” (correspondente a nossos camarotes) © patio (a nossa platéia), era o lugar mais barato ¢ ali o povo assistia aos espetaculos, de pé. S6 os homens podiam entrar no patio, e, constituindo © elemento mais barulhento da asssiténcia, eram chamados de “mosquetei- ros”. As mulheres ocupavam uma galeria alta, “la cazuela”, no fundo do teatro, em frente do paleo, Mste se erguia pouco acima do nivel do chao ¢ néle costumavam sentar-se alguns homens, de costas para os atores. Os cend- rios cram os mais simples possiveis, e as mudancas de lugar anunciadas pelos proprios atores oui “cémices”. Na Espanha, desde o século XVI, era permitido as mulheres trabalhar como atrizes, coisa que na Inglaterra so oeorreu depois da Restauracao, e na Alemanha a partir do século XVIII As representacdes teatrais davam-se aos domingos e duas ou trés vézes por semana. Logo antes da Quaresma — periodo em que os “corrales” permaneciam fechados — havia espetaculos diariamente. Comecavam as 2 horas da tarde, no inverno, e as 3, no verao. Primeiro, havia uma espécie de prélogo, em verso, onde eram explicadas as cenas que iriam: ser apre- sentadas @ onde se faziam alusoes aos acontecimentos do momento. Seguia- se a “comédia”, propriamente, dita, que constava de trés atos ou jornadas. Nos intervalos, representavam-se alguns “entremeses”, que cram pecinhas curtas e engracadas, a0 mesmo tempo que se cantavam e dancavam musi- cas da época, Muitas vézes os atores eram os proprios autores, como oca- sionalmente 0 foram Juan de Enzina, Gil Vicente, Lope de Rueda, Pedro Navarro e outros. LOPE DE VEGA (1562-1635). Foi o autor mais fecundo e mais repre- sentativo do Século de Ouro da Espanha, Com éle, sofreu o drama tradi- cional radicais mudangas, deixando de respeitar as unidades de tempo, lu- gar © acao, e sendo criado novo estilo poético. Lope de Vega produziu mais de duas mil pecas e em sua obra estdo representados todos os géneros dra- maticos conhecidos até entdo: o religioso com os “Autos Sacramentais”, as pecas abordando temas do Velho e do Novo Testamento, vidas de santos e Iendas piedosas; a comédia alegérica, baseada na mitologia oriental, grega € romana; as pegas inspiradas em livros de cavalaria, em lendas e costumes de outras nagoes; toda a historia da Espanha, com suas lendas e recorda. ges mais ou menos conhecidas, e, finalmente, enorme nimero.de comédias de costumes, comédias aristocraticas, de Capa e Espada e populares, Exemplo de seu teatro religioso é 0 Auto Sacramental “El viaje del Alma”, e também “Lo fingido y verdadeiro”, “La Buena Guarda’ , Inspira- dos em lendas piedosas. Suas comédias herdicas mais conhecidas sao: “El Alcalde de Zalamea”, “El Caballero de Olmedo”, “El Castigo sin Venganza”, “Fuente Ovejuna”, “El Mejor Alcalde del Rey”, etc. Entre as comédias de costumes, podemos citar: “El Acero de Madrid”, “La Dama Boba”, “El Perro del Hortelano”, “La Moz del Cantaro”, etc. Foi durante a vida de Lope de Vega que se edificaram os dois “cor- rales” mais antigos de Madrid, assim como os principais de Valenca, de Sevilha, de Barcelona, de Granada e de outras capitais. Alguns géneros dramaticos inferiores se desenvolveram durante sua vida, como a “Loa”, espécie de introducgo ao drama que iria se seguir: “E] Entremés”, ja citado, peca curta que encerrava geralmente espetaculo, ou que era representada num dos intervalos e que veio com Cervantes a adqui- rir forma definitiva: “El Baile” e “La Jécara”, poesia cantada que deu ori- gem & “tonadilla” do século XVIII Como continuadores de Lope, temos: TIRSO DE MOLINA (1571-1648), cujo verdadeiro nome era Fray Ga- briel Téllez, e que, por sua fecundidade e pelo valor total de sua obra, ¢ 0 que mais se aproxima a Lope. Tirso de Molina foi o criador de uma das mais célebres personagens da literatura universal — 0 “Don Juan” DON JUAN RUIZ DE ALARCON (1580-1639), que, embora menos fecundo que os dois anteriores, deu as suas comédias fal perfeicao de forma e tal sentido moral, que, ficou conhecide como “o classico de um teatro ro- mantico” DON GUILLEN DE CASTRO (1569-1631), autor das célebres “moce- dadas del Cid”, as quais, adaptadas por Corneille, constituiriam a primeira tragédia do teatro classico francés DON PEDRO CALDERON DE LA BARCA (1600-1681), em cujas maos os Autos Sacramentais tomaram novo impulso, quase chegando a constituir um novo género dramético. Utilizando figuras alegoricas, tornou_represen- taveis conceitos teolégicos, pensamentos filosdficos e dogmas cristéos, Qs autos mais caracteristicos de sua obra foram: “El Gran Teatro del Mundo”, “Los encantos de la Culpa”, “La Cena de Baltazar”, e “La vida es Suefio” Calderén refez também algumas pecas de Lope, como “El Médico de su Honra”, “El Alcalde de Zamalea” e “El Maestro de Danza”. Escreveu algumas “Zarzuelas”, género novo que surgiu pelo predominio da misica dramatica nas representacdes teatrais, e foi autor de “entremeses” e “bailes” Com a morte de Calderén, comecou a decadéncia do teatro espanhol, como consequéncia da decadéncia politica e militar do pais. Dilui-se a inspiracdo nacional, e as obras surgidas sdo apenas imita- des de pecas de Lope, Tirso ¢ Calderén, Além disso, a perseguicéio dos moralistas contra os abusos que se cometiam nas representagoes ocasiona- tam o fechamento paulatino de teatros importantes em Sevilha, Valenca, Pamplona, Cordoba, com a destruicéo dos edificios e a proibicao de qual. quer tentativa de reconstrui-los. As pessoas timoratas comecaram a aban- donar os espetaculos, as companhias decresciam, cessando, por conseguinte, todo e qualquer estimulo ao autor teatral. A guerra da Sucessao transfor- mou-se em guerra civil e durou treze anos, acabando de arruinar a nacdo. Finalmente, as novas doutrinas literarias francesas foram postas ao alcance de todos, em boas traducdes, nos jornais, nas obras didaticas e sa- tiricas. Essa expanséo trouxe novas formas. de dramaturgia, Chega, déste modo, 0 Século de Ouro ao fim de suas experiéncias teatrais, tendo criado definitivamente a verdadeira tradicéo classica es- panhola. S-C. “Fenho 0 teatro por coisa muito sé- ria e as minhas féreas por coisa muito insuficiente; penso que as qualidades ne- cessérias ao autor dramatico desenvol- vem-se e apuram-se com o tempo e 0. trabalho; cuido que é melhor tatear para achar; € 0 que procurei e procuro fazer”, MACHADO DE ASSIS 0 TEATRO E O DIRETOR Ha quem considere facilmente o diretor como um intruso. Ora, éle foi criado por uma necessidade: ¢ o produto natural da evoluedo do teatro contemporaneo. O ator nao mudou. Se Talma, Rachel ou Moliere voltassem a terra, provocariam em nés 0 mesmo entusiasmo que inspiraram aos seus contemporaneos. O fator novo é a importancia assumida pelo cendrio. O “décor” das pecas classicas era neutro, isso & inexistente. O cendrio de hoje tornou-se com ou sem razio — um elemento essencial do espetaculo, ao mesmo tempo que os acessorios, a iluminacdo, o ritmo da representacao. Durante 0 periodo de transicao, 0 equilibrio désses elementos foi deixado ao acaso. As vézes, um encontro fortuito produzia um conjunto feliz, mas na maioria dos casos as roupas contrastavam com o cenério, 0 cenario com 0 espirito intimo do texto, etc... Foi necessdrio que uma nova personagem se apoderasse de todos ésses elementos e os fizesse convergir a um resultado premeditado. Onde o caso ditava as leis, o diretor introduziu a composicao, a unidade que caracteriza a obra de arte. Néste ponto, éle é um criador, como qualquer outro artista, © momento de criacio do pintor opera-se em dois tempos: 0 colocar as cores sObre a tela, e recuar para julgar o efeito produzido. O ator esta privado desta segunda fase, e é 0 diretor que se encarrega dela. Nao tenho nenhuma idéia preconcebida sdbre a direca’o. Procuro abordar cada nova peca que vou montar com um espirito absolutamente virgem. A propria peca inspirar-me-& os elementos que serviréo a sua “mise-en-scene”. O nosso objetivo é sémente de ajudar o pensamento do autor a revelar-se, da maneira mais perfeita possivel, ao espectador. Sem divida, posso ter uma maneira pessoal de iluminar certo canto do cenario, que distingue a minha “mise-en-seéne” da de um colega — mas éste fato é proprio de toda e qualquer interpretacdo. Quando se trata de obras do repertorio classico, todo diretor procura dar relévo A caracteristica que The parece essencial. E uma linha diretriz, mesmo contestavel, nao deve ser pre- ferida 4 anarquia? Georges Pitoef © DIRETOR E O ATOR squecemos muito frequentemente que o teatro é feito para o publi- co. Pode-se suprimir a ribalta, os cendrios, os méveis, mas néo se pode suprimir 0 publico. preciso eserever para’ éle. O autor @ 0 dono do teatro. O ator nfo pode senfo dar vida as in- vengoes do autor; o diretor nao pode animar outro conjunto a nao ser aquéle que foi previsto pelo autor. Téda a substancia, repetimos, é dada pelo autor, Ora, hoje em dia da-se 0 contrario. Os autores parecem’ ter perdido 9 contacto com o teatro, quer dizer, com 0 piiblico: violaram a hierarquia da cena © entregaram os destinos do teatro ao ator e ao diretor. Bles pro prios séo responsdveis pela importancia exagerada, as vézes abusiva, do di retor. Nasceu, déste mal, uma formula barbara: “a reteatraliza¢ao do tea- tro”. ‘Traduzindo numa linguagem mais clara: o diretor ensina aos atores 0 que éles nao sabem mais: as regras do j6go teatral Ponho tédas as minhas foreas ao servico de uma arte que amo, e considero o teatro como um transhordamento da imaginacao dentro da vida que arranea os séres a si proprios. E a nossa época precisa de uma arte exal- tante — como o deve ter sido a cena grega — que nos possa consolar de uma época dificil, mas riea em evolugdes de téda espécie. Charles Dulin (Do livro “L'Essence du Théatre" de Henri Gouhier — Edit. Plon, Traducso de J. M.) JOGOS DRAMATICOS ALGUMAS IMPROVISACOES COM PALAVRAS Para desenvolver a imaginagio e o sentido das pausas e das inflexdes 1 — 0 GALO MORTO No meio do grupo coloca-se qualquer objeto para representar um galo morto. Inicia-se entao, um desfile de pessoas de determinado tipo, que se manifestaréo, com algumas palavras, diante do galo morto. Cada tipo devera representar uma profissio que ser descoberta pela assisténcia, con- forme sua maneira propria de se expressar. Por exemplo: 0 Matematico: — ao passar pelo galo, vendo-o diz: “Morreu o: galo. Vé-se logo que, apés ter feito um-Angulo de 45 graus, com 0 pescogo, tom- ou por terra, depois de haver tracado nesta superficie uma. circunferéncia de meio metro, ou seja, de 50.cm. de diametro”. O cantor de radio: Morreu o galo. Cococococoré, hoje o galo morreu! e assim por diante! gramatico: Considerando sob o ponto de vista légico, observamos que o galo nesta oracao é sujeito; morreu, predicado. Mas se consideramos a oracao sob 0 ponto de vista gramatical, 0 galo ¢... ete 0 pintor: Sea plumagem verde e vermelha déste galo nao fosse atin- gida pelo rubor do sangue, que maravilhosa combinacao daria com o cinza do chao... etc.. 0 filésofo: Afinal para que serve a vida? etc. etc. € assim por diante, num desfile de profissdes, desde a cozinheira até o pa- dre, passando pelo veterinario, 0 macumbeiro ete 2 — PALAVRAS SOLTAS Dar aos alunos 5 palavras: Por exemplo: desmaio — susto — men- digo — coragem — lua. Dividir os alunos em grupos e fazé-los inventar uma historia onde terao que encaixar estas 5 palavras. SO as palavras dadas poderao ser ditas, o resto devera sémente ser representando por gestos © sentimentos. Por exemplo: “inventemos uma historia com as cineo palavras dadas. Dois alunos representam ladroes (pelos gestos, pelas atitudes) que vao assaltar uma casa. Um esta com receio e o outro diz: CORAGEM. Con- tinuam a caminhar; de repente olham para o céu e dizem: LUA; © s0 escondem, como se a claridade da Iua os denunciasse. Depois continuam, ¢ mostram que estéo perto de uma casa. De dentro da casa, uma senhora ouve o barulho, e, pé ante pé, vem ver de que se trata. Finge que abre a porta. Surge um dos ladrées e finge que é mendigo. A mulher diz: MEN- DIGO? O outro ladrao surge de revélver em punho, a mulher desmaia. Um Jadrao diz: DESMAIO? O outro responde: SUSTO. Esta é apenas uma ma- neira de usar as cinco palavras dadas numa historia, Podem ser inventadas outras nistérias com as mesmas palavras, fazendo com que os alunos sem bastante da imaginagao e sobreutdo saibam colocar bem a palavra dentro de j0go dramatico, com inflexdes e pausas certas. As palavras podem ser cada ver mais dificeis, podendo também se fazer uma variante com peque. nas frases em vez de palavras sdlias, 0 que torna o jogo mais fac bor exemplo, as pequenas frases podem ser: Automdvel velho — cair debaico da mesa — moga com fome — arvore baixa — ser vadio, etc., ete 3 — INFLEXAO Dar uma série de frases, como, por exemplo: “# noite. O céu esté estrélado. A festa vai se acabar. Tudo esta misterioso. Tenho fome” Repetir esta mesma série com diversos sentimentos, mudando naturalmente as in- flexoes. Os sentimentos bodem ser bastantes opostos, ou quase idénticos, para dificultar o exercicio: orgulho — mentira — sono —- avareza eae sago — displicéncia — enfado — vaidade — dér de estomago — médo horror — paixao — fome — cinismo, etc., etc. As frases podem ser tiradas de pegas, ou podem também ser feitas por dois alunos, em forma de didlogo. 4 — PREGOES Fazer os alunos repetirem a inflexio dos pregées de rua, Por exem- plo 0 dos compradores de coisas usadas, 0 dos “camelots”, dos vendedores de za. Existem pregoes somente conhecidos por uma ou outra regiao. Fazé-los deseobrir os pregdes do Norte do Brasil, os das feiras, ete. EXERCICIOS PRATICOS DO COMEDIANTE JEAN DOAT A QUEDA Exercicios prdticos do comediante A queda serd oblida por um re- laxamenio progressivo de cada uma das partes do corpo (come- eando pela parte mais diretamen- te ligada a essa queda: pés — no caso de um passo em also; ca- beca, no caso de estado de em- briagués) Seja qual jér a parte do corpo que comece por estar “morta’, 0 resto deve continuar até que obte- nrhamos um relaxamento absoluto, preparando, assim, uma queda sem apreensao. Visualmente, a sensagdo de que- da, jé deve ser perceptivel ao es- pectador O relaxamento, para 0 come- diante, néo deve significar um abandono de espirilo, porque de- verd preparar uma segiiéncia de movimentos conscientes. Para cvilar uma queda dolo- rosa, esta deve ser do mais bairo possivel. A primeira junta ird se Hlexionar, depois a segunda, até qeu © corpo caia por terra. Entdo, seid qual {6r a parte do corpo que, VISUALMENTE, pelo relaxamento, principie a dar a sensacéio de queda, 0 mecanismo é 0 mesmo: © tornozélo se dobra, depois 0 joelho toca 0 chao (fig. 1), em Seguida os quadris (fig. 2), final- mente, os ombros. O movimento deve ser executa- do uma s6 vez, num ritmo regular e continuo, rolando por terra, sem choques, cada uma das partes do corpo Verse-d, na lerceira parte destas nolas, por que é necessirio que o corpo caindo, gire sempre — nas diferentes posicoes que descreve - em térno do eixo, e no mesmo sentido, 0 que é muito importante. Para um preparo, seria bom se executdssemos ésses exercicios da forma mais lenta possivel (em “camera lenta"). O monitor po- derd deter 0 exercicio num deler- minado momento ¢ verificar se 0 corpo (nesse delerminado momen- lo) esld numa posicdo estética ou, enldo, se esld em desiquilibrio. SABER LEVANTAR-SE DO CHAO Um aluno, cujo corpo seja leve, deita-se no’ chao. Fique na pla. léia, depois peca-the que se levan- fe. Fuca-o parar quando estiver numa posicdo ridicula ow simples- mente feia. Ei-lo, entéo, sem gra- oq e fazendo ésse exercicio vinte vézes. Com mais forte razdo, se seu corpo fér desajeitado, | os misenlos rijos, as juntas enferru- jadas. Enirelanto, ndo se trata de pe- dir ao aluno que seja atleta ou dancarino. Ja disse que ésses exercicios tém como finalidade Por o corpo em dependéncia da vontad: E necessério apenas um pouco de raciocinio para veneer isso Deitar-se no chao, levantar-se, sem qualquer esférco, sem ser feig ou ridiculo e conseguir a vitoriosa posi¢da de homem-em-pé, ¢ tudo isso sem deixar de falar’ (se for 0 caso). Tomemos como exemplo. um aluno deitado de costas, os pés vol- fadox vara o fundo do paleo. Um soldado que se deitow. Chamam- no (lado do proscénio). Coloca-se de quatro, tevanta a cabeca com espanto (fig. 1). Depois, fazendo um movimen- fo’ brusco, por-se-d de joelhos, frente ao piiblico.... “& um poueo gordo. Afroniando o equi- librio ergueré uma das covas ¢ apoiar-se-d num dos joethos. En- fao, mais um esférco:” inclinando para frente 0 busto, erguerd 0 pe- sado assento. Ei-lo, enldo, apés violenta batida com’ os pés, satis. feito e esbaforido. Nosso aluno que torne a deitar- e na mesma posicdo; vou ensind- lo a levantar-se sem muito esférco e bem. Os principios sao: ~~ dividir ao méximo o esférgo fisico; ~- girar em térno de seu pré- prio eixo, sempre na mesma direcao, ~ obedecer a um delerminado ritmo, ndo se relardando nos movimentos dificeis; em qualquer ponto do movi mento estar em pleno equ lbrio ty Das costas, rolar sébre um dos ombros. Estamos de lado 2. 0 esférco continua do om- bro ao cotovelo 3. 0 brago 86 ergue 0 busto, do colovélo @ méo. Enquanto isso, os joeihos dobram-se Primeira seqtiéncia: fig. 2, po- sicdo de cécoras. Notemos que 9 busto voltou-se imediatamen- te para os espectadores (0 jégo de cena é um chamado do pros cénio) 3 . 4. 0 movimento de virada continua no mesmo sentido. O comediante coloca 0 péso do corpo sdbre © joelho esquerdo, enquanto @ perna direita, sem péso do corpo poder ir livremente para a fren- le. Segunda seqiténcia, fig. 3 5. | Sem especificar a “delida’, © esfdrco ird concentrar-se, enlio, na perna direila que ird erguer 6 corpo, cujo péso ndo é mais sus- tentado pela perna esquerda. Esta Esses sdo principios gerais, ele- mentares, que servirdo a boa exe- eugio do exercicio. O mesmo exercicio iré servir ao aluno deitado (pés para o piblica ow paralelos & rampa) ‘Sao apenas exemplos Para se levantar, estando deita- do, com os pés para a platéia, o comediante senta-se bruscamente, erguendo 0 busto frente ao pi blico. Ao mesmo tempo, terd enco- thido as pernas — uma paralela ao chdo, outra perpendicular. Para erguer-se, serd necessdrio que dé uma volta (no poderd er- guer-se inteiramente, de frente, sem dispender muito esfércoy. usando o braco e a perna direita como “pivot”, (cada vez que o corpo girar, serd a parte interna que servird de “pivot” quem de- verd suportar 0 péso do corpo. O outro lado serd utilizado pelo es- férco de propulsdo) conseguird er- quer o assento pelo esférco da perna esquerda e apoiar-se no Joetho Levantar-se-d como no caso an- terior (fig. 1,2, 3 e 4) Deilado, paralelo @ rampa (fig 1), 0 comediante ergue 0 busto ¢ lanea 0 brago direito. para a es- querda. O busto seque 0 movimen- to. O corpo gira sébre 0 braco ¢ € @ perna esquerda que suporta, entdo, 0 corpo. Estard, assim, frente ao piblico (fig. 3). O bra. ¢o, ¢ depois, entdo, a perna esquer- receberé 0 corpo, em pé. Terceira seqiiéneia, fig. 4 6. Depots o corpo iré colocar- “se sdbre as duas pernas aR da, irdo fazer com que 0 corpo se erga (a direita) fig. 4. A perna direita se aprontar ‘para re- cebé-lo. ap wah Notem bem que o esférgo recat sempre nos bracos e pernas (bra- go direito e perna esquerda; braco esquerdo e perna direila.-) A fh A finalidade désses exercicios e estabelecer uma-espécie de _gesto, para uso do comediante. Gramé- fica elementar, que cada um dos alunos, por conta propria, deverd precisar e complelar EXPRESSOES ARTISTICAS E JOGO DE FISIONOMIA © ator deve aprender a demonstrar, a apresentar, um rosto que in- dique a expressio desejada; deve demonstrar pelo jogo de fisionomia a per- sonagem inspirada pelo texto e criada pela obra teatral. © expectador deve a todo momento constatar a exatidio desta “ima- gem” de Marco-Aureélio: “Vejo teus pensamentos eseritos na tua fronte”. As palavras parecem ter menos importancia que o pensamento que as acompanha. Na Antiguidade, na Idade-Média, nos Tempos Modernos, os pensadores, artistas, sAbios, tentam encontrar relacdes entre 0 fisico e 0 moral. Esta citacio de Adamanto aplica-se tanto 20 teatro como ao cinema: “A natureza, mesmo quando a béca esta fechada, se exprime pela fronte ¢ olhos”. E aquela de Montaigne, traduzindo Aristételes, resume a arte dra- mitica: “Leio, as vézes, entre dois belos olhos, ameacas de uma natureza maligna © perigosa”. E incontestavel que o rosto é 0 espelho de nosso mecanismo psico- logico. O ator que exprime os diferentes estados de espirito, alegria, dér, até mesmo o relaxamento, ’ deve conhecer as grandes linhas da mi- mica e seus poderosos servidores: os musculos cuticulares da face Suas contragdes determinam as ex- pressées de alegria, de repouso, de tristeza, para sd citar as princi- pais; sao suficientes para exterio- rizat a mente, De todos os misculos do corpo, os do rosto — (cuticulares) e mis- culos dos globos oculares — sao os menores e os mais delicados, isto 6 quanto menor um misculo, mais fraco € 0 influxo nervoso suficien- te para contrai-lo. Assim, éles capazes de res- ponder rapidamente, desde os me- nores incitagdes nervosas, as dife- renciagées da vida psiquica. Outras _caracteristicas déstes misculos s&o assinaladas. 1°) Dispostos ao redor de orifi- cios da face, olhos, nariz, boca, dilatam e fecham és. tes orificios. 2°) Possuem uma insergfo cuta- nea mével, que faz com que, partindo de um ponto fixo, atraiam em direcao a éste a parte cutanea mével. Exem- plo — o grande Zigomatico se insere pelo seu ponto fixo sdbre o 6sso malar; éle atrai_ durante a contracio, para o alto e para tras, a co- missura dos labios, seu pon- to mével. A expressio dada foi o contentamento. 3°) — Todos os mtisculos cuti- culares do rosto séo inerva- dos pelo nervo facial sensiti- vo e motor. O influxo ner- voso comanda, pelos ramos déste nervo, os atos fisiold. gicos dos miisculos cuticula- res da face. Podemos distinguir os seguintes fato: A FACE & a parte anterior abai- do craneo. © ROSTO é a parte anterior da cabeca € compreende a face e a fronte, com todos os seus consti. tuintes anatémicos, a saber (ver fig. 1): os ossos da face, cujos prin- cipais so: o frontal, a areada zi- gomatica do temporal (os pomos), © osso malar e 0 maxilar superior, constituindo o andar superior e de- limitando a cavidade orbitaria, a parte central com os ossos do na- riz e as bordas alveolares do ma- xilar superior; no andar inferior, um sé 6sso, 0 maxilar inferior, a mandibula. Os miusculos que af se inserem, temporal, pterigoideu_ interno e externo, 0 masséter so mtisculos que ajudam a mastigacdo. Exce- tuando o masséter, que é um miis- culo possante e expressivo, s6 Possuem reduzido interésse | na plastica artistica. S6 a face propriamente dita, é realmente expressiva; € composta de misculos e tegumentos, os quais sao movidos de seus pontos méveis em direcao ao seu ponto fixo, geralmente ésseo. Séo éles, miusculos e tegumen fos que constituem a fisionomia da face, conjunto de estados de alma que éles exprimem. Esta funcdo expressiva néo é a tinica. Com efeito, os —miusculos cuticulares tém duas funcées fisio- Végicas: uma de contracéo em vol- ta dos orificios (abrir, fechar a béca, os olhos, dilatar as narinas); outra sensorial, em volta dos ér- gaos dos sentidos, vista, tato, ou- vido (a atrofia dos mtisculos do ouvido entre os homens nao per- mite uma agudez como a de cer- tos cachorros treinados para éste fim). sempre possivel estabelecer li- gagdes entre estas duas fungoes. Para _resumir, diremos que as contracées passageiras, _ volunta tias, no j6go de expressio do ar- tista revelam estados de alma pas- sageiros. As contragées ligeiras, permanentes, de estados de alma ocultos, podem ser revelados pela maquilagem. Esta ultima constatacdo poder servir para estudo de tempera- mentos, mas ultrapassaria as in- tencdes désse artigo. Se “os movimentos de nosso ros- to testemunham nossos pensamen- tos”, € preciso procurar examinar © j6go muscular segundo as fei¢des do_rosto, Logo de inicio conhecer suma- riamente a anatomia de cada cuti- cular, seu ponto dsseo fixo, sua in- redo cutanea mével e a disposi- edo de seu corpo muscular. Sao em niimero de 29, para o rosto, si- métricos. Nao posusem todos a mesma importancia, segundo 0 ponto de vista expresivo. Conju- gam-se, frequentemente se opdem, para suavizar a aco dos antago- nistas. Algumas grandes exemplificar: Se contraimos um cuticular, éle deforma 0s tegumentos, forma Tugas ou pregas, em maior ou me- nor intensidade regras, para TRISTEZA Existe uma relacdo, simples, ca- racteristica para cada um dos cuti- culares. Exemplo: 0 canino desco- bre o canino; 0 frontal repuxa a pele da fronte, etc. possivel obter-se ao mesmo tempo, duas ou mais imagens ca- racteristieas, ou uma superposicao de imagens. Revelamos oportuna- mente que estas deformacoes cuta- neas da acdo da_contracdo muscu- lar, podem ser fugazes ou persis- tentes, lentas ou rapidas, leves ou fortes, duraveis, vigorosas, de in- tensidade variavel. Tudo aqui esta expresso em relacdo ao grau de mo- bilidade da face e da espécie de clitis Para simplificar, faremos uma classifieacéo dos principais muascu- los segundo as regides. OS OLHOS — Misculos das pal- pebras e dos supercilios Quatro misculos para cada lado da face: frontal, piramidal, super- ciliério, orbicular das palpebras, 1°) FRONTAL: do seu ponto tixo (extremidade da aponevrose epicraniana) éle atrai seu ponto cutaneo mével, situado na pele profunda dos supercilios, e, por conseguinte, pregueia a pele da fronte e causa as rugas desta regido. MIMICA: A contracdo do fron- tal exprime atengao, espanto, sur- présa, concentracao, paver, dor. 26) PIRAMIDAL: situado na re- gido intersuperciliaria, abaixo da extremidade interna’ do_ superci- lio, franzindo a pele da implanta- co do nariz. MiMICA: Com contracéo simul- tanea, os dois piramidais indicam agressividade, ruindade, e também inquietacao. 3°) SUPERCILIARIO: | situado na parte da arcada superciliar até a ciitis das sombrancelhas, sus- tenta-as e as franze. MIMICA: museulo que exprime muito bem a dor, terror, impa- ciéncia, raiva, fingimento, idéia fixa, 4°) ORBICULAR DAS PALPE- BRAS: comanda a abertura e o fechamento do orificio palpebral. Contribui para o escoamento das lagrimas, dilatando o saco lacrimal Os misculos da regido das som- brancelhas aumentam ou dimi- nuem a intensidade do olhar “Diafragmam” os olhos. Os movimentos das _palpebras (pestanejo) dao ao olhar mais vi- da ou tristeza, A maquilagem dos olhos é mui- to importante pela variedade de “linhas” que pode ser dada, ou pelo ref6rco do jogo de “sombras”. A maquilagem dos olhos modifica e acentua de uma maneira surpre- endente os sentimentos que ani- mam o ser; com efeito, a regiao dos supercilios pode ser um cen- tro importante da mimica. Os miisculos do nariz tém pou- co interésse na expresso artisti- ca. Assinalaremos contudo, as “narinas palpitantes”, ou peque- nas vibracoes, repetidas, causadas pelos musculos dilatadores das na- rinas. Expressdes: tentacao, dese- jo, impaciéncia, MUSCULOS DA REGIAO DOS LABIOS Dilatadores 1°) Pequeno zigomatico: Ponto fixo: osso malar. Pequeno zigomatico: Ponto mo- vel: pele do labio superior. Acio: Puxa para o alto e para trés uma parte do labio superior. Consequéncia morfolégiea: Preo- cupagae, coméco de

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