Vous êtes sur la page 1sur 3
HUME - O problema da indugado Se quisermos ir além da experiéncia imediata ou passada, temos de raciocinar indutivamente. Estes raciocinios baseiam-se em amostras €, portanto, nos dados que a experiéncia até um certo momento permitiu recolher. Todo 0 nosso conhecimento sobre 0 Mundo deriva daqui; raciocinar indutivamente significa aprender com a experiéncia. E com base em amostras que nos sentimos autorizados, em certas circunstancias, a prever o que ira acontecer no futuro ou a fazer generalizacoes. A experiéncia passada justifica prever que o Sol ira erguer-se amanha no horizonte, tal como justitica concluir, por generalizacao, que todos os corvos sao pretos ou que o calor dilata os corpos. F, embora nao seja impossivel enganarmo-nos, a experiéncia parece confirmar que muitas destas inferéncias sao de confianca. Esta confianga, segundo Hume, baseia-se na ideia de que a Natureza € regular. Isto significa que os acontecimentos naturais obedecem a padroes estaveis: todos os corvos desenvolvem penas pretas; a agua, ao nivel do mar, passa ao estado gasoso quando é aquecida a 100 °C; uma pedra atirada ao ar acabara por cair no chao; as espécies evoluem por Seleccao Natural; etc. Os exemplos parecem nao ter fim. A actividade cientifica consistiria, alias, em grande medida, na procura dos padroes mais gerais subjacentes aos fendmenos. Segundo Hume, a confianca que depositamos nos raciocinios indutivos depende crucialmente do principio de que a Natureza é regular. Acreditamos que se pusermos a mao no fogo nos queimamos porque foi assim antes; mas isto s6 é uma boa raziio para nao voltar a fazé-lo no pressuposto de que o futuro sera identico ao passado. Do mesmo modo, esperamos que a agua passe ao estado gasoso quando a aquecemos até aos 100 *C porque foi isso que sucedeu no passado e esperamos que 0 que aconteceu no passado volte a repetirse do mesmo modo agora. Ora, dizer que os raciocinios indutivos se baseiam na ideia de a Natureza ser regular significa que esta ideia ocorre como uma premissa implicita em todos eles. Concluir que o Sol ira erguer-se amanha porque isso sempre aconteceu no passado ¢ um entimema com a segunda premissa suprimida. Se o reconstruirmos, obtemos oO seguinte: (1) Até hoje o Sol ergueu-se todas as manhas no horizonte. (2) A Natureza é regular. O Sol erguer-se-4 amanha Sabemos, por inducao, que a agua passa ao estado gasoso quan- do atinge os 100 °C. Mas como sabemos que a inducao € fiavel? Dado que a nossa confianca na inducdo se baseia na ideia de que a Natureza é regular, 0 problema é¢ como justificar este principio. Ou © principio da regularidade da Natureza é justificavel a priori ou encontra justificagao na experiéncia Vejamos 0 primeiro caso. Sera possivel justificar a priori o prin- cipio da regularidade da Natureza? Segundo Hume, nao. Mas por que razao? Segundo Hume, sé podemos conhecer a priori verdades neces- sarias. Ora, uma proposicao € necessariamente verdadeira se ¢ s6 se a sua negacdo implicar uma contradicdo. Nao é isto que se passa com o principio da regularidade da Natureza: a ideia de a Natureza nao ser regular € perfeitamente inteligivel. Nao ha nada de errado na hipotese de os fendmenos naturais nao exemplificarem qualquer padrao. Logo, mesmo que o principio da regularidade da Natureza seja verdadeiro, sera contingentemente verdadeiro, nada mais. Vimos que as verdades contingentes dependem, para serem conhecidas, do modo como o Mundo é. F nfo ha conhecimento a priori acerca do Mundo. © argumento de Hume pode ser apresentado da seguinte forma: vat Tony (1) Se o principio da regularidade da Natureza pudesse ser conhecido a priori, a sua negagao seria logicamente imposstvel. (2) A possibilidade de a Natureza nao ser regular nada tem de | contraditorio. | O principio da regularidade da Natureza n&o pode ser conhecido a priori. Podera o principio da regularidade da Natureza ser justificado empiricamente? A experiéncia oferece-nos raz6es para pensar que este principio é verdadeiro? A resposta de Hume € de novo negativa: justi- ficar a posteriori a ideia de que a Natureza é regular incorre numa peti- cao de principio. Uma peticdo de principio consiste em assumir como premissa a verdade daquilo que se quer justificar. Tera Hume razao, nao havendo maneira de defender este principio numa base puramente racional, sem cair nesta falacia? O que torna a falacia inevitavel € 0 facto de o principio da regula- ridade da Natureza ser completamente geral. Para chegarmos a con- clusao de que, no seu conjunto, a Natureza é regular, temos de racio- cinar com base em amostras, isto €, indutivamente. Tal como concluimos que todos os corvos séo pretos com base no facto de os corvos que observamos até hoje serem pretos, sentimo-nos autoriza- dos a concluir que a Natureza € regular apos observarmos um nume- ro suficiente de vezes que causas semelhantes ocorrem em conjunto com efeitos semelhantes. O argumento seria o seguinte (1) Até hoje, a Natureza comportou-se de forma regular. A Natureza é regular. O problema, com este argumento, € que o passado serve de modelo para o futuro: no passado, a Natureza foi regular; logo, ira sé-lo no futuro. Que confianga se justifica ter nesta inferéncia? Se a Natureza nao for regular, o facto de o ter sido até ao momento nao garante que venha a sé-lo no futuro. Mas a inferéncia so é fiavel se se assumir que este principio é verdadeiro. O argumento tem, portanto, de ser inter- pretado como um entimema cuja premissa suprimida afirma o que esta em causa justificar na conclusdo. E isto que origina a peticao de principio: (1) Até hoje, a Natureza comportou-se de forma regular. (2) O passado 6 um guia para o futuro. ©. A Natureza é regular. st ) Hume pensava que todas as inferéncias que partem da experién- cia tem como fundamento a ideia de que o futuro se assemelhara ao passado; é isto que significaria dizer que 0 fogo queima. Mas, por esta razao, € impossivel que um argumento baseado na experiéncia prove que o futuro sera semelhante ao passado, dado ser neste principio que ele se baseia. Tentar justificar empiricamente a inducao faz-nos cair num circulo vicioso. A conclusao € clara: nao é possivel justificar a priori nem d posteriori a inducao. Mas, se nao se pode justificar a posteriori ou a priori o principio da regularidade da natureza, nado temos qualquer razdo para pensar que a Natureza seja regular. O problema é que, se nao ha razoes para pensar que a Natureza é regular, a maioria das nossas crencas acerca do Mundo carecem em tltima anilise, de justificacao. Em termos gerais, nado temos razao alguma para pensar que possamos ir além da experiéncia imediata ou passada. Como escreve Elliott Sober em Problemas Nucleares da Filosofia: Este tipo de cepticismo poe em causa a nossa pretenséo a racionalidade. Segundo esta forma mais radical de cepticismo, nao temos uma justificagao racional para acreditar naquilo em que acreditamos. O problema nao € nao podermos estar certos de que 0 Sol ira erguer-se amanha. Nao se trata apenas de nao sabermos que 0 Sol ira erguer-se. Para Hume, nao ha qualquer justificacao racional para esta crenga ou para quaisquer outras expectativas sobre o futuro. |

Vous aimerez peut-être aussi