Acertando o passo [Formação de times]

Fotos Ignácio costa

Não é fácil,
mas vale a pena
n Sandra Mara

“Q
uando se forma um time a produti-
Algumas
vidade se amplia, a qualidade atinge
empresas níveis de excelência, a criatividade se
estão multiplica e a satisfação no trabalho torna-se re-
alidade”. Essa frase do supermercadista Márcio
conseguindo Guarim resume em poucas palavras a importân-
formar times cia de se formarem times nas empresas. Ele é
um dos quatro proprietários do Supermercados
de verdade Guarim, uma pequena empresa de origem fami-
e já colhem liar, com quatro lojas de quatro check outs em
média e cerca de 150 funcionários.
excelentes
É uma empresa que, apesar de pequena,
resultados. está dando um show de bola na vizinhança
Confira em que atua e provando que não importa o
tamanho da empresa: até mesmo os pequenos
conseguem inovar e crescer quando agem com
profissionalismo e criam as estratégias corre-
tas. Márcio acredita que a base desse sucesso
tem sido o time que conseguiu formar.
Esse time afinado do Supermercado Guarim
não se fez sozinho. Márcio explica que nem
sempre foi assim. Tudo começou há cerca de
dois anos, quando os quatro irmãos percebe-
ram que havia muitos problemas com a equipe
da empresa e que eles sozinhos não dariam
conta de resolver. “Ficávamos apagando incên-
dios todos os dias e então percebemos que
deveríamos agir na raiz do problema”, conta.
Ajuda profissional
Para resolver a situação, Márcio contratou
uma psicóloga, que criou uma estratégia para

O bom humor e a
cooperação são sinais
de que a empresa
possui times

32 novembro de 2009 Gôndola 33

 Acertando o passo [Formação de times]
resolver os problemas com os colaboradores do
supermercado. Entre as várias ações adotadas
estavam treinamentos, reuniões, campanhas
de valorização do funcionário e até mesmo uma
festa de confraternização do final do ano. Além
disso, ela passou a escutar as preocupações e
problemas de cada um, tanto na esfera profis-
sional, como também na pessoal. “Orientamos
a ela que respondesse rapidamente a todos os
pedidos dos funcionários, mesmo que a respos-
ta fosse negativa”, afirma.
Depois de iniciado esse trabalho, a equipe
se tornou um verdadeiro time. Márcio conta
que os resultados foram surpreendentes. Me-
lhorou o relacionamento entre os colaboradores
do escritório e das lojas, os gerentes das dife-
rentes lojas passaram a se comunicar melhor
O treinamento e ainda funcionários que tinham vontade de
permanente é uma deixar a empresa desistiram e agora pensam
das ferramentas para a
formação de times nas em fazer carreira dentro da loja.
empresas “Considero que hoje somos um time cam-
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peão”, diz Márcio. Ele conta que hoje tudo flui
muito melhor na empresa, inclusive as vendas.
Com as ações nosso time trabalha afinado e
um cobre alguma falha do outro, o trabalho
nas lojas é melhor, o cliente sai satisfeito, as
vendas aumentaram e o faturamento também.
“Os resultados compensam o investimento re-
alizado”, ensina.
Valorização do trabalho
A valorização do trabalho foi elemento-
chave na formação do time do Supermercado
SJ, que tem sede administrativa e CD, em
Contagem, e cinco lojas, sendo duas em Ma-
riana e as outras em Caeté, Barão de Cocais
e Santa Bárbara. Houve um intenso trabalho
com os profissionais para que todos estives-
sem em sintonia. Confiança, comprometimento
e transparência são elementos fundamentais
nas relações deste time, “Nossos profissionais
sabem reconhecer a diferença e valor de cada
divulgação
novembro de 2009
um, e isso é imprescindível para a formação do
time”, explica Sinthya Jácome, diretora de RH
e marketing da empresa.
Segundo ela, é preciso oferecer benefícios
para exigir dedicação do time. “Todo mundo de-
seja ter seu trabalho reconhecido e ser recom-
pensado por isso. Um dos diferenciais da nossa
empresa é que preferimos dar oportunidade de
crescimento aos que já estão na empresa. Para
todas as vagas disponíveis, é feito um recru-
tamento interno, dando ao funcionário a opor-
tunidade de participar da seleção. A maioria
dos gerentes começou na empresa, em outros
cargos, e foi formada lá dentro”, relata.
Hoje são exatamente 508 funcionários,
divididos nas cinco lojas e na central de dis-
tribuição. É indispensável o diálogo constante
entre todas essas partes da empresa, para
formar um time unido e coeso. “Como esta-
mos distribuídos em cinco cidades diferentes,
no início, a distância geográfica foi uma preo-
cupação para a formação desse time, porém
a constante transição de funcionários do de-
partamento de RH, entre todas as lojas, e um
contínuo diálogo claro e preciso com todos
os departamentos de cada loja, conseguimos
driblar esse empecilho”, conta.
Gôndola
Liberdade e responsabilidade Em algumas seções
de uma loja, como
Ela conta que não foi fácil formar um time
o açougue por
de colaboradores unidos, mas é muito im- exemplo, os times
portante que todo supermercadista comece permitem aprimorar a
a realizar esse trabalho, pois os resultados qualidade, aumentar
a produtividade
positivos são muitos. “Quando formamos um e aperfeiçoar o
time, a tendência é de que o funcionário este- atendimento
ja cada vez mais satisfeito com seu ambiente
de trabalho, assim conseguimos diminuir a
rotatividade, e o diálogo entre as partes se
torna mais fácil”, acrescenta.
O Supermercado SJ é formado por um time
de profissionais que sabem a importância de
seu papel para o funcionamento da empresa.
Todos têm liberdade de se expressar, acesso
às discussões e a colocarem seus pontos de
vista. Na verdade, liberdade é a palavra que
move nosso time, assim como em qualquer
relação, é preciso haver confiança mútua para
que funcione.
Assim como em um time de futebol, os
funcionários do Supermercado SJ recebem trei-
namento constantemente, pois a empresa obje-
tiva formar funcionários empreendedores e com
capacidade de decisão. Muitos desses colabora-
dores receberam treinamento através do curso
Gestão Nota 10, que a AMIS realiza em diversas
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 Acertando o passo [Formação de times]
cidades mineiras. “Os resultados do G10 são
imediatos. Eles voltam para as lojas cheios de
ideias para pôr em prática, e querendo realmen-
te fazer parte de um grande time”, ressalta.
Processo em construção
Para Érika Francisca, gerente de recursos
humanos do Bretas, maior empresa super-
mercadista de Minas, e sexta do País, com
cerca de 10 mil empregados, o desafio é
permanente. “A formação de times é um pro-
cesso contínuo e nunca totalmente finalizado
em uma empresa de grande porte”, explica.
“Nosso time precisa de treinamento diário,
pois, como a maioria é ainda muito jovem,
tem muita vontade de vencer, energia, inteli-
gência e capacidade, mas não sabe canalizar
todas essas qualidades”, afirma.
Boa parte do trabalho para a formação de
Os times brasileiros times no Bretas passa pela conscientização
de vôlei são bons
exemplos de como se dos líderes das equipes e da identificação das
formam campeões potencialidades de cada um dos milhares de
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colaboradores. “Os líderes precisam também
respeitar e reconhecer as qualidades de seus
colaboradores, do contrário nunca serão um
time verdadeiro”, salienta.
O líder deve ainda agir como se fosse um
grande treinador de futebol e extrair o que o
seu colaborador tem de melhor. “Não adianta
colocar um zagueiro no ataque, assim como
não será proveitoso para a empresa colocar um
pessoa com característica de ficar na retaguar-
da para trabalhar no chão de loja”, exemplifica.
Além disso, é necessário reconhecer que cada
um tem a sua função dentro da empresa, e ela
é importante para o bom andamento do todo.
Érika mais uma vez reconhece que o tra-
balho para tornar o time unido não é fácil. “É
muito grande o desafio de manter o time unido,
mas temos feito um trabalho intenso e os resul-
tados têm sido proveitosos”, reforça. Uma das
estratégias da empresa é realizar treinamentos
voltados, principalmente para as lideranças, e
reuniões quinzenais com todos os diretores,
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 Acertando o passo [Formação de times]
O colaborador
que integra times
normalmente está mais
bem preparado para
atender o consumidor
que têm a missão de desdobrar as informa-
ções, metas e diretrizes da empresa para todos
os funcionários.
Um desafio a vencer
A Cooperativa de Consumo dos Empregados
da Usiminas (Consul), com sede em Ipatinga
(MG), ainda tem um desafio a vencer. Segundo
Divaldo Pires Guerra, diretor administrativo e
financeiro da Consul, os funcionários com mais
tempo na organização já formam um time e
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Ao todo, a Cônsul tem 535 colaboradores,
distribuídos em três lojas, e para que o time
fique sempre unido existe a preocupação com
o bem-estar do empregado, com a manutenção
de um ambiente saudável para se trabalhar e
com a alimentação dos colaboradores. Além
de sorteio de prêmio aos funcionários que cum-
prem as metas de vendas.
Ele aconselha ao supermercadista que ain-
da não conseguiu transformar sua equipe num
grande time a fazer um processo de seleção
adequado, admitindo somente pessoas que
tenham vontade de trabalhar no varejo. Além
disso, deve capacitar continuamente todos os
níveis da empresa, para que se tornem mem-
bros de um verdadeiro time.
Não é fácil
De acordo com William Caldas, consultor
e palestrante de empresas, o time se compro-
mete com o objetivo comum e os resultados
da empresa. Já a equipe é um agrupamento de
pessoas que não enxerga o objetivo comum,
vê apenas o resultado individual. “Um time
tem senso de cobertura, ou seja, as pessoas
compartilham a liderança do próprio grupo e um
caminho comum”, explica.
O consultor diz ainda que os supermerca-
distas devem trabalhar para ter um time ven-
cedor. Comparando com um time de futebol,
um supermercado precisa ter as pessoas do
ataque, ou seja, aqueles que marcam gols
no atendimento, superam expectativas dos
têm o mesmo ideal, contudo os recém-admiti-
dos ainda se caracterizam como equipe.
“Os novatos ainda precisam se adaptar ao
time, mas isso é normal, e com a preparação
e o treinamento eles vão se alinhando à visão
de time”, disse. Ele explica que os funcionários
mais antigos já se comportam como um ver-
dadeiro time, pois passaram por um processo
educacional e formação profissional dentro da
empresa, por meio de reuniões, treinamentos e
acompanhamento pessoal.
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 Acertando o passo [Formação de times]

clientes. Precisam ter camisas 10, aqueles
que observam e distribuem o jogo de forma
harmônica. “Os camisas 10 são aqueles pro-
fissionais que chamam a responsabilidade de
jogar e ao mesmo tempo liderar o grupo, sen-
do capitães dentro do time”, compara.
Ele ainda completa que o time precisa
ter uma boa defesa, no supermercado são
representados pelos estoquistas, pessoal de
serviços gerais, seguranças e todo o pessoal
que dá o suporte ao time, prestando atenção
te saber seus pontos mais fortes. “Quando o
chefe foca apenas naquilo que a equipe não
faz, com certeza a própria liderança coopera
para a destruição do time”, ressalta.
Esquema de jogo
O supermercadista deve saber ainda que o
esquema de jogo e a cara do time vão se for-
mando aos poucos. Neste momento, o papel
do técnico, ou melhor do gestor, é fundamen-
tal para tornar o time vencedor ou perdedor.
Segundo ela, para que uma empresa for-
me uma grande equipe, é fundamental que o
líder aja como um bom treinador. Cabe ao líder
formar o time, assim como cada membro se
responsabilizar por sua parte. Trabalhar o lado
emocional dos colaboradores é um dos desa-
fios do líder. As pessoas precisam de espaço
para falar de suas dificuldades, você já deve ter
ouvido: “meu chefe nunca me ouve”.
Por isso, as empresas acabam perdendo
excelentes profissionais. “Outro desafio do líder
Mas para criar um time vencedor é neces-
sário ainda ter bons colaboradores. “A forma-
ção do time precisa de pessoas dispostas a co-
laborar, que sejam competentes, que consigam
enxergar além do óbvio, que saibam questionar,
que gostem de trabalhar com outras pessoas,
que não sejam vaidosas e que saibam acima de Saiba mais
tudo compartilhar o aprendizado e as experiên- Supermercado Consul:
cias com os colegas”, ensina. (31) 3824-5219
Bárbara avisa que o supermercadista que Supermercado Bretas:
investir nos seus nos funcionários terá retorno, (31) 3399-3602

onde o jogo não está coordenado.
Formar um time vencedor não é tarefa
Em times bem fácil, admite igualmente o consultor, mas o
preparados, um supermercadista necessita conhecer profun-
colaborador está
sempre pronto para damente cada um do time. Seus sonhos, an-
ajudar o outro gústias, medos, expectativas, e principalmen-
“Times de alto desempenho são formados
por pessoas com alto nível de conhecimen-
to”, ressalta William. Para produzir grandes
resultados é necessário que a empresa invista
pesado na identificação de pessoas talentosas
no mercado.
Além disso, deve pensar também no retor-
é aprender a tratar os problemas como time e mas não de forma imediata, pois a formação Supermercado SJ:
(31) 3911-5840
não como problemas pessoais. O que nos leva de um time não é tarefa fácil. “Com o tempo,
Supermercado Guarim:
a compreender que o convívio e o relaciona- observam-se comportamentos mais maduros, (31) 3283-4949
mento interpessoal são tão importantes quanto profissionais motivados, com auto-confiança,
William Caldas:
a realização de uma tarefa, uma vez que as mais preparados e dispostos a desenvolver as (31) 9731-8401
pessoas produzem mais quando estão satisfei- tarefas, repercutindo na satisfação do cliente e Bárbara Praxedes:
tas e acabam por atingir o resultado definido com resultados muito positivos para a empre- (31) 2122-0500

no que o time vai ter, afinal de contas todos pela organização”, completa. sa”, finaliza. n
sabem que profissionais de grandes times são
muito bem-remunerados. “Existem empresas
que perdem talentos maravilhosos, simples-
mente por querer alto desempenho com pouco
retorno a estes profissionais”, afirma.
Por isso, sugere que a empresa tenha a fa-
ma de que é a que melhor remunera, pois desta
forma ela naturalmente atrairá os melhores do
mercado. Quando a empresa é reconhecida
pelo mercado como a que pior remunera, na-
turalmente ela atrairá profissionais que outras
empresas não querem contratar, e os que não
produzem resultados expressivos.

Harmonia
Para Bárbara Praxedes, psicóloga, coorde-
nadora de Recursos Humanos da AMIS, numa
equipe, os profissionais preferem se calar para
evitar conflitos e confrontos diretos. Já num
time, os profissionais sabem separar o lado
pessoal do profissional, ao discordar de um
ponto de vista, mas fazem isso em harmonia.
“No time, as pessoas colaboram e se dispõem
a fazer o trabalho do outro, quando necessário.
Na equipe, os membros assumem uma postura
defensiva para não colocar em risco sua ima-
gem”, acrescenta.

40 novembro de 2009