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TRABALHO: UM CONCEITO HIERÁRQUICO

Augusto de Franco (2009)

Os humanos na imagem sumeriana (gravada em placa de argila) são esses


três trabalhadores (à esquerda), sub-seres criados pelo ser superior (à
direita) para “suportar o jugo, sofrer a fadiga”.

Da perspectiva de uma sociedade em rede, trabalho será


um conceito problemático.

Não é a toa que tenha surgido, na antiga Mesopotâmia,


com a conotação de sofrimento. Aliás, na mitogonia
suméria, segundo a “Epopéia da Criação” – que contém
alguns dos relatos mais antigos que conhecemos de uma
cultura sacerdotal, hierárquica e autocrática – o homem
teria sido criado pelos deuses para “suportar o jugo, sofrer
a fadiga”. Já foi criado como trabalhador – um ser inferior,
escravo dos deuses – para propiciar a liberdade dos
deuses, que passaram então a exigir dos homens adoração.

Adoração significava, originalmente, segundo os relatos


bíblicos, trabalhar para os seres superiores (o hebraico
guarde talvez esse genos do termo: a palavra “avod” =
adoração, significava também ‘trabalho’, trabalho para uma
deidade e essa deidade era simultaneamente “senhor”,
“soberano”, “rei”, “governante” e “dono” – enfim, superior).
O homem antigo dos sistemas hierárquico-autocráticos não
propriamente adorava seu(s) deus(es) mas temia-o(s) e
trabalhava para ele(s). E, é claro, para seus intermediários
humanos: os sacerdotes. Sim, foram estes que criaram o
conceito monstruoso de trabalho e trabalhador.

Assim como temor não é amor, trabalho não é algo que


possa humanizar os seres humanos enquanto sujeitos
interagentes em relações horizontais com outros seres
humanos. Quando se trabalha para um superior que
aprisionou seu corpo e escravizou ou alugou sua força e sua
inteligência, é-se subordinado, sub-ordenado segundo um
padrão de ordem vertical, alocado em um degrau inferior
da escada do poder. Hierarquia é o nome original da ordem
(arché) imposta top down por esse poder sagrado (hieros),
separado (dos outros) e replicador de separações sociais.

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