Walter Benjamin, crits Franais, Le narrateur, ed. Gallimard, pp.

209-213

Narrao e oralidade
O primeiro ndice de um processo que leva queda da narrao o desenvolvimento
do romance no incio dos Tempos modernos. Aquilo que distingue o romance da
narrao (e do gnero pico no sentido estrito), o facto deste depender essencialmente
do livro. O romance apenas se pode propagar a partir do momento em que a impresso
inventada. A tradio oral herdeira do gnero pico constitui-se de modo diferente
por relao ao romance. Aquilo que ope o romance a qualquer outra forma de prosa e
antes de tudo narrao, que ele no possui a tradio oral nem pode unir-se a ela.
O que o narrador conta, tira-o da experincia, da sua prpria ou de uma experincia
comunicada. E, por sua vez, ele faz a experincia daqueles que escutam a sua histria. O
romancista, por sua vez, est confinado ao seu isolamento. O romance elabora-se nas
profundezas do indivduo solitrio (...).

Narrao e informao
Todas as manhs somos informados das novas do globo. E no entanto estamos
pobres de histrias curiosas. A razo disto que nenhum acontecimento nos alcana sem
estar j todo impregnado de explicaes. Por outras palavras: nos acontecimentos quase
nada se presta narrao, quase tudo se presta informao. Ora, o feito do narrador
nato desembaraar uma histria, quando a conta, de toda a explicao. (...) O
extraordinrio, o maravilhoso, contamo-lo com a maior preciso, mas no impomos ao
leitor o encadeamento psicolgico dos acontecimentos. Deixamo-lo livre de interpretar
a coisa como lhe aprouver, e assim a narrativa dotada de uma amplitude que falta na
informao.
A narrao, tal como prospera h muito na esfera do artesanato artesanato campons,
martimo, depois citadino , tambm ela, uma forma de algum modo artesanal. Ela
no visa transmitir a coisa nua em si mesma, como um relato ou uma informao. Ela
assimila a prpria coisa vida daquele que a conta, para a restituir de novo a ele. Assim,
adere narrao o trao do narrador, como ao vaso de terra-cota o trao da mo do
oleiro .