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Capitulo VI Atividades geoldgicas do vento Caracteristicas do vento Entre duas regides com presstio atmosfé- rica diferente estabelece-se uma corrente de ar, 0 vento, cuja diregio é da regido de pres- sfio elevada para a regido de pressio mais baixa. A forca do vento depende primor- dialmente da diferenga das pressdes atmos- féricas. Quanto maior for esta, tanto maior serfi a forca, gragas ao aumento da veloci- dade do vento. A principal causa da varia- cdo da pressdo atmosférica ¢ o diferente grau de aquecimento solar. Sabemos que, quanto mais elevada for a temperatura, me- nor seri a presséio atmosférica. Diversos fa- tores secundarios podem influir na veloci- dade, como 0 atrito contra a superficie ter- restre, ou pela formag&o eventual de corren- tes aéreas de conveccfio. Quanto mais irre- gular e cheio de obsticulos for o terreno, tanto mais freado ¢ irregular sera 0 vento. ‘Assim, a velocidade pode aumentar consi- deravelmente 4 medida que se afasta do solo, como mostram os seguintes valores: Altura em m Velocidade em sobre 0 solo km por hora 0 3 3 30 6 31 9 32 12 1S 4 Até 500m de altura a velocidade do ven- to aumenta continuamente, sendo este au- mento muito grande até 30m. De 500m até 10.000m a velocidade diminui. Geralmente a velocidade do vento dobra entre as altu- ras de 0,5 a 10m, aumentando apenas 1,2 vezes de 10 a 100m. De acordo com a sua velocidade, 0 vento pode ser classificado em treze categorias, segundo 0 efeito que produz. So expressas por niimeros relativos, de 0 a 12, segundo a classificagiio de BEAUFORT. 0 —Calmaria: como caracteristica, a fumaga sobe verticalmente Velocidade: menos de I,Skm/h. 1 —Aragem leve: & perceptive! apenas pelo fesvio da fumaga, Velocidade: 1,3 a 6,tkmib. — Brisa leve: movimenta as folhas e & leve- mente perceptivel nas faces Velocidade: 61 a 11,lkim/h 3 = Vento suave: movimenta pequenos galhos. Velocidade: 11,1 a 17.2kra/h 4 = Vento moderado: levanta poeira ¢ movi- mente galhos maiores Velocidade: 17.2 a 24,tkm/h 5 — Vento médio: movimenta pequenas drvores; Velocidade: 24,1 a 31,6km/h 6 = Vento forte: movimenta pequenas érvores: zune nos fios de telégrafo: 0 guarda-chuva € mantide com difculdade. Velocidade: 31,6 a 38,5km/h. 7 Vento fortissimo: movimenta grandes ér- vores, toma-se dified andar contra tal tipo de vento Velocidade: 38,5 a 46,4km/b. 123 ~ Ventania forte: quebra galhos de arvores. Velocidade: 46,4 a 35,4km/h Ventania fortissima: produz leves danos fs construgdes: arranca telhas e chaminés de barro. Velocidade: 554 a 64,8km/h 10 a 12 — Furaedes: so ventos raros nos continentes. de efeito altamente eatastréfico: arrancam Arvores, derrubam edilicios frageis ou des telham por completo todas as casas atingi- das Velocidade: acima de 64,8km/h, podendo atingir mais de 150km/h. © vento pode ainda ser classificado se- gundo a pressio exercida sobre uma super- ficie, o que varia‘com o quadrado da sua velocidade multiplicado por uma cénstante, segundo a seguinte formula: P = 0,125. V2, sendo a presstio em kg/m? ¢ a velocidade em metros por segundo. O valor 0,125 é um. fator empirico. ‘A velocidade do vento nfo é constante. Esta aumenta e diminui periédica e regular- mente, constituindo as rajadas, como mos- traa fig. 6-1. A causa desta flutuacdo reside principalmente nas irregularidades do terre- no, pois ela é maior em regides acidentadas do que nos mares, ¢ maior em regides de mata do que em regides de campos com poucas drvores, Também o encontro com ventos de diregdes diferentes ou de diferen- tes intensidades ocasiona irregularidades na velocidade do vento. 8h30min 8h29min Nas regides litordneas o vento pode mu- dar diariamente de diregao, gragas a diferen- ¢a no grau de aquecimento do oceano e do continente. Por ser grande o calor especifi- co'da Agua, custa-Ihe mais aquecer-se do que as rochas que formam o continente. Isso de- termina diferencas na presso barométrica € conseqiiente movimentagdo do ar, que nes- te caso se dirige do mar para a terra. An te, com o resfriamento mais rapido do con- tinente, 0 mar tornar-se-4 mais quente, fa- zendo com que se dé a inversio do movi- mento do ar. Estes ventos so locais, de efeito geolégico restrito As areas litordneas. Explicam, contudo, 0 mecanismo dos gran- des ventos. Estes so mais intensos na épo- ca do inverno, ocasido em que se verifica maior diferenca de temperatura existente entre*a regio mais aquecida e a fria. ‘A ago energética eficaz do vento nos trabalhos construtivos ¢ destrutivos da su- perficie terrestre depende, principalmente, da sua velocidade. Sabemos que a pressio exercida em uma superficie varia com o quadrado da velocidade do vento, devendo ser levada em consideragao a constancia na dirego, ‘sendo 0 trabalho mais efetivo, quanto mais constante for o vento. Contu- do, o fator decisivo nao é o vento em si e, sim, as condigées climaticas da regido afe- tada pelo vento. Assim, os desertos, incluin- do as regides glaciais ¢ sobretudo as peri- 100 km/hora 8h28min Fig, 6-1 Registro grafico da oscilagdo da velocidade do vento durante o intervalo de 2 minutos. 124 glaciais ¢ as praias arenosas, tepresentam os principais dominios das atividades eélicas, como conseqiiéncia da escassez de vegeta- gio. A causa da escassez de vegetagao, nos desertos, é a pequena precipitaco pluvio- métrica. A medida de precipitagio dos de- sertos é de 25em por ano, sendo que nos desertos do Chile so freqiientes os anos consecutivos com auséneia absoluta de chu- va. J4 nas praias, a causa da vegetacao escassa reside na constituigéo arenosa im- propria a vida vegetal. Havendo animais na praia que pisem a areia, o trabalho do ven- to torna-se facilitado, pois desmancha-se a aria aglutinada ¢ semiconsolidada na su- perficie, sendo, com isso, facil a remogio pelo vento. Existe atualmente o perigo gene- ralizado do aumento progressivo e constante de muitas areas desérticas, gracas a mudancas climaticas ¢, sobretudo, a degradagio do meio ambiente por parte do homem. Assim & que o Saara progride rumo ao sul numa razio aproximada de 4km por ano. Efeitos diretos do vento Os efeitos diretos do vento podem ser classificados em 1) destrutivos; 2) trans- portadores; 3) construtivos. Efeitos destrutivos. — O vento por si s6 € praticamente incapaz de produzir a ero- so. Seus efeitos destrutivos limitam-se aos danos as arvores e construgdes humanas. Mas, como o vento normalmente carrega particulas de areia, o impacto destas contra as rochas provoca um desgaste considera vel. A aparéncia que resulta de tal desgas- te é similar aos efeitos dos jatos de areia usados na indistria. As rochas expostas adquirem uma superficie com um polimen- to fosco. Quando sua constituigdo é hetero- génea, as partes fracas so mais gastas, de- terminando formas por vezes extravagantes, de cogumelos, ou determinando alvéolos irregulares de formas caprichosas, quando a rocha é irregularmente cimentada por qualquer material mais resistente. Quando © vento predomina em uma certa diregio, formam-se sulcos orientados segundo a di- regio do vento. O termo corraséio po- derd ser adotado com muita propriedade para este tipo de erosiio. Onde a corrasiio € muito ativa, os postes telegrdficos preci- sam ser protegidos na base por montdes de pedras ou chapas de ferro pois, caso con- trario, em pouco tempo estarao gastos pelo incessante jato de areia. Pelo fato de ser a mica um mineral de baixa dureza e cliva- gem muito facil, di-se o seu rapido des- gaste durante a erosiio eélica, motivo pelo qual se torna um mineral bastante raro entre os sedimentos desérticos. Os seixos, expos- tos 4 acdo erosiva do vento com diregéio preferencial, adquirem uma forma peculiar, formando-se faces e cantos nitidos. Haven- do mais de uma diregdo preferencial do ven- to, formar-se-éo mais faces de polimento bago caracteristico, recebendo a denomina- cdo de ventifacto, cuja forma lembra a da castanha-do-para ou de uma piramide. © vento, ao soprar sobre um solo desér- tico constituido de areia ou de pequenos sei- xos soltos, remove e transporta este mate- rial, designando-se este processo por defla~ ¢do. Os fragmentos maiores ndo-transpor- taveis acumulam-se como residuo de defla- ¢do, formando freqiientemente uma espécie de pavimentacdo de fragmentos maiores que recebe 0 nome arabe de reg. Este protege a parte inferior contra a erosao edlica. A deflagdo ¢ responsdvel pela formacdo de grandes depressées, muito freqiientes no Saara. Pela auséncia da drenagem rumo ao oceano, essas depressdes podem atingir mais de 130 metros abaixo do nivel do mar, como mostra a fig. 6-2. O governo egipcio vem estudando a possibilidade de abrir um canal para langar a agua do Mediterraneo na depressio de Qattara, a fim de amenizar © clima da regitio. Também nas regides de. sérticas dos Estados Unidos da América ocorrem estas depressdes, que atingem mui- tas dezenas de metros abaixo do nivel dos mares, Num dos desertos da Africa do Sul, 125 Grande *,> Mar de Areia Ney Fig, 200 300km 62 Mapa das depresses do deserto egipcio com as respectivas cotas negativas em relagdo ao nivel do mar. Os pontilhados representando as dunas de areia orientadas segundo NNW, mostram a diregao prefereacial do vento naquela regio (seg. Holmes) tais depressées acham-se escavadas em ro- chas graniticas. Evidéncias morfolégicas mostram que também as 4guas pluviais, embora escassas nas regides desérticas, au- xiliam parcialmente a agdo erosiva, princi- palmente pela dissolugdo. Quando tais de- press6es atingem o nivel hidrostatico, forma- se uma vegetagdo que impede a erosao eéli- ca, formando-se assim os oasis, cuja exten- so pode ser, as vezes, considerdvel, permi- tindo mesmo a formagao de centros popu- Josos. Desta maneira, 0 nivel hidrostatico funciona como um verdadeiro nivel de base para a erosio edlica, que ndo age nas par- 126 ticulas agregadas pela agua. A evaporacdo intensa, contudo, faz com que o nivel hi- drostatico se abaixe, ocupando niveis infe- riores como na cidade de Siwa, no oasis do mesmo nome, no Egito. A deflagdo é o tipo de etoséo edlica mais importante pelo vul- to dos seus efeitos. No vale do rio Mississi- Pi, regido sujeita a grandes ventos, por mo- tivos topograficos, a deflagdio chegou a tor- nar-se um problema de grandes proporgdes, no s6 pela remocao de solo aravel, esgota- do e desprotegido pela vegetacdo ¢ sem 0 humo aglutinante, como pela deposigao, por vezes catastréfica, em outros lugares. Efeitos transportadores. — Dependendo da velocidade do vento ¢ do tamanho das par- ticulas, 0 transporte pode ser efetuado de diversas maneiras: por suspensio, rola- mento, ou saltos ao longo do percurso, por sobre o solo. A fig. 6-3, titada de uma fo- tografia, mostra o percurso dos gréos de areia no momento em que séo retirados do solo, por uma rajada de vento, Observa-se que alguns gros sobem e descem logo apés, enquanto que outros seguem em rumo as- cendente. Estes sio os menores e aqueles so os de maior massa. Por este motivo, © tamanho das particulas movimentadas pelo vento depende da sua velocidade, como mostram as ciftas seguintes: Diimetros maximos em mm dos gros movimnentados Velocidade do kmjhora | Ls 0,04 uw a Direcao do vento = 9 5 Os furacdes podem efetuar o transporte pelo rolamento de seixos de cerea de 10cm de didmetro. Apés o transporte em suspen- so as particulas continuam ainda em mo- vimento, rolando ou saltitando por sobre 0 solo. ‘A quantidade de material transportado pelo vento pode ser considerdvel. Assim, no més de marco de 1901, 0 vento prove- niente do Saara depositou 4 milhdes de to- neladas de areia e pé sobre 1,5 milhdes de km? da Europa, ou seja, quase 3 gramas por metro quadrado. Em certas ocasides a quantidade de pocira pode atingir tal con- centragdio que determine a morte de seres vivos por sufocamento. Como valor médio, a quantidade de poeira que pode existir no ar é de cerca de 1.000 toneladas por km?, ou seja, I miligrama por litro de ar. Ten- do a massa aérea de um vento forte e de grande extensdo © volume de milhares de km®, pode-se imaginar a quantidade enor- me de detritos transportados e depositados. A tabela 61 nos dé uma idéia numérica da quantidade de trabalho executada pelo imenso potencial energético representado 10 15cm Te Fig. 6- fico dos percursos de gros de diferentes tamanhos durante o processo de transporte eélico. Este desenho for obtido por fotografia em tunel de vento com grdos de 1 a 3mm (seg. Bagnold). 127 TABELA 6-1 Volume de areia (em m*) transportada pelo yento durante um ano por sobre uma linha imaginéria de um metro de largura, disposta perpendicularmente 4 diresio do vento. Estagbes n|ne{ e | se] s | sw] w [nw] cc a Adrar . 03 | 02 03 | Nar 9,1 Beni Abbes 03 | 10 03 | Ss sew 83 Colomb Béchar 4 | 38 10 | S$ 318 W 40,7 ELA. 8, Cheikh o4 | 17 N4I° W 16.9 El Goléa 4 | 08 N sis W 28,7 El Oued oo | 1.3) Sore Fort Flatters 06 | 65 s 29° W 194 Ghardaia os | 18 NW 202 In Salah os | 13 NOPE 108,2 Laghouat .. a7 | 2, N46 W 20,7 Ouargla 03 | 2, ssp W 147 Timimoun 17 | 0: S 2 E 198 Touggourt o7 | 0 NeW 18.6 pelo vento. Estas cifras, tomadas em diver- sas localidades do Saara, referem-se a0 vo- lume de areia que passa por cima de uma linha que cruza em Angulo reto uma distén- cia unitaria de um metro, O mapa apresen- tado na fig. 6-4 mostra-nos a variacio da diregéio do vento nas diversas localidades, tendo sido calculada a diregio média. O comprimento da seta indicativa do vento médio indica 0 volume de areia transporta- da pelo respectivo vento. Como valor médio, 0 volume de arcia que passa sobre uma linha de um metro va- ria de 20 a 40 metros ctbicos por ano. Em In Salah este valor atinge excepcionalmente a 108.2 metros ciibicos por ano. Este nume- ro multiplicado por centenas de milhares, conforme a superficie atingida pelo vento, numa determinada regifio, traduz bem a con- sideravel soma de trabalho, de energia gas- ta no transporte célico. As distincias percorridas pelos fragmen- tos, a partir do sitio de origem, podem atin- gir mais que 1.000km. Assim é que gréos de areia do Sara so levados pelo vento e « sedimentados até na Inglaterra, a mais de 3,000km de distancia. Também em navios a 2.000km da costa verifica-se a deposicao de areias do Saara. Por este motivo, em 128 grande frea do oceano Atlintico é ponder’ vel a contribuigdio de areias eélicas prove- nientes do Saara que se juntam aos sedimen- tos marinhos, como se vé na fig. 6-5. Apés a célebre explosio do Krakatoa, em 1883, quando 18 quilémetros ciibicos de material piroclastico foram pulverizados, o vento es- palhou por toda a Terra durante meses a cinza mais fina, que causava um pdr-do-sol com um forte brilho, gragas & refragio dos raios solares, na poeira em suspensio, em incidéncia obliqua. Fato curioso deu-se na Alemanha, apés a guerra de 1914. A fim de favorecer os ex- combatentes, grandes glebas de matas foram repartidas entre eles, para que fossem utili- zadas para fins agricolas. Tratava-se de re~ gifo sujeita a grandes ¢ continuos ventos. O solo arenoso era, contudo, protegido pe- las matas. Com a devastagiio destas o vento comecou a remover o solo com tal rapidez, que, um ano apés a derrubada, grandes du- nas formadas no vale do Reno entraram em migragdo, prejudicando enormemente diver- sas aldeias perto de Heidelberg. Na Espa- nha, grandes éreas cultivaveis situadas do lado nordeste foram transformadas em de- sertos, como conseqiiéncia da intensiva de- posigao eolica, segundo citagdo de BRANNER. Fig. 6-4 Localizaciio no deserto do Sara dos locais citados na tabela 6-1, Note-se @ nas diferentes localidades, das linhas pontilhadas € fungdo da quantidade de Efeito catastréfico do vento verificou-se por volta de 1930 nos Estados Unidos da Amé- rica, no vale do Mississipi, regiao sujeita a grandes vendavais. Nesta época intensificou- se o plantio do trigo num terreno arenoso protegido por vegetagio arbustiva. Tendo sido esta destruida e, ainda mais, tendo sido © solo revolvido pelo arado, péde o vento agit muito ativamente sobre as particulas soltas do solo determinando um duplo ma- Ieficio: removeu o solo aravel e depositou as areias em uma grande area, as vezes com espessuras tais, que diversas fazendas tive- ram de ser abandonadas. mudanga dos ventos tendo sido construido o vetor direcional resultante, © comprimento areia transportada, segundo a escala apresentada. No Brasil, felizmente, nao ocorrer: con- digdes propicias para a formacdo de ventos de consegiiéncias desastrosas. Somente na zona do litoral 0 vento age sobre as areias soltas das praias, transportando-as ¢ for mando ora pequenas dunas, ora depositan- do-as no mar, ou em rios, prejudicando com isso 0 trafego de navios, como acontece no porto de Natal, Rio Grande do Norte. BRANNER cita 0 fato de os rios da costa do Ceara desviarem-se para 0 norte, como conseqiiéncia da deposigao de areias ¢ for- magdo de dunas do lado sul da desemboca- dura dos rios, gragas aos ventos predomi- 129 —Queda rara de poeira ;— Queda freqiiente de 20 poeira — Queda muit freqiiente de poeira Trinidad Fig. 6-5 Alcance da influéncia do vento na sedimentago marinha. Sabendo-se que 10 graus medem 1MO km, tem-se uma idgia da ordem de grandeza da dis de transporte das areias do Saara Para o Atlantico. A 300km das costas, 60% dos detritos so constituides de areia quartzosa do Saara (seg. Correns). Deslocamento dos grdos de areia 3 | Fig. 66 Evolugio de uma duna em Cabo Frio, Rio de Janeito. Duna j& formada, ¢ em vias de migrar, tendo j4 englobado drvores de porte considerivel. Fato curioso € 0 da carbonizagio das partes delgadas das arvores soterradas, provavelmente devido ao calor solar intenso, proximo a superfi- cie da duna no inicio e no final do soterramento, Este fato & também observado nas dunas de Salvador, Bahia nantemente vindos de sudeste. No nosso No litoral norte do Espirito Santo, na toral nordeste de um modo geral, as areias vila de Itatina, vem-se verificando, nestas podem ser transportadas a muitos quiléme- _ ultimas décadas, uma intensa deposi¢do eéli- tros de distancia da praia. ca, responsavel pelo sepultamento de cerca 130 de 100 residéncias, da igreja local ¢ do ce- mitério. Este sepultamento verificou-se ha 20 anos, tendo se processado no decorrer de 40 anos. As dunas da regio atingem ao redor de 20 metros de altura. ‘Ao longo da costa dos Estados do Rio Grande do Norte e do Ceara, as areias das dunas tém sido levadas para o interior, onde formam lombadas de mais de trinta metros de altura e de muitos quilémetros de exten- sio (fig. 6-7). Sao geralmente fixadas pela vegetagdo psamofitica (do grego psamos, areia), comum em toda a regio, No Estado do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (vi- de Prancha 9) foi necessirio processar-se a fixagio das dunas por meio do plantio de certas gramineas e um tipo de pinheiro que se desenvolveu bem em solo arenoso. Estas dunas atingem até 30 metros de altura ¢ re- presentam uma continua ameaga a estrada de ferro que margeia o litoral. E de tal for- ma intensa a deposigao edlica nesta regitio, que a barra da Lagoa dos Patos necessita um servigo continuo de dragagem para que nao se entulhe por completo, impedindo a navegagdio, Sem esse trabalho dever-se-A dar ‘© completo preenchimento da lagoa, princi- palmente pela deposicao edlica. Quando os ventos sopram paralelamente linha da costa, as areias das dunas sao transportadas ao longo da mesma, até en- contrarem algum obstaculo 4 sua marcha. Nas regides intensamente afetadas pela deposi¢&io célica, verificam-se comumente soterramentos pela invasio das areias, No Estado do Maranhao a areia tem-se acumu- lado de tal modo na fortaleza da “Ponta da Areia” que esta vird fatalmente a desapa- recer soterrada pelas areias, caso nao se tomem providéncias contra esta permanente e ameagadora deposigao eélica. Foi desta maneira que a esfinge do Egito © muitas cidades e monumentos da Africa setentrional ficaram parcial ou completa- mente sepultados € perdidos. Efeitos construtivos. — Diminuindo a ve- locidade do vento, inicia-se a sedimenta- Go das particulas segundo o seu tamanho, Fig. 6-7 Dunas litoraneas com marcas onduladas, Ceara (foto Alba Film, Fortaleza). 131 tendo em vista a uniformidade da densidade das particulas, predominantemente quartzo- sas. Primeiro os gros maiores, passando para os menores. A diminuicdo da veloci- dade do vento é normalmente provocada por obstaculos diversos, como vegetais, blo- cos, etc. Atrds destes obstaculos o vento for- ma turbilhdes e diminui de velocidade, pro- vocando com isso a sedimentagdo, prin palmente da areia de didmetro de 0,1 a Imm, aproximadamente (vide fig. 6-6), en- quanto que as particulas menores se sedi- mentam depois pelas chuvas ou neves nas épocas de calmarias. Citam-se mesmo chu- vas de barro e neves coloridas pelas poei- ras, tal a quantidade de detritos aéreos aglu- tinados e depositados por estes agentes atmosféricos. As particulas menores que 50 microns séo levadas pelo vento, pois sua velocidade de queda livre sofre uma brusca diminuicéo em relagdo as particulas maiores. Aos depésitos formados, gragas a0 ven- to, dé-se a designagdo de depésitos edlicos. Sua natureza é varidvel, podendo provir de explosées vulednicas, de areas periglaciais (formando-se 0 /oess, que sera abordado adiante), de praias marinhas (de dimensdes maiores) ou fluviais, de regides dridas, sendo estas as de maior importincia para a geologia, ou mesmo de regides facilmente suscetiveis a deflagao. Sendo 0 vento constante numa determina- da diregao, havera uma deposic&o continua, dando origem a elevagées de forma regular e caracteristica que recebe o nome de duna. ‘Assim, uma das categorias de duna é esta citada, que se forma gracas a obstaculos existentes no percurso do vento, Uma se- gunda categoria de duna, quanto a sua origem, é formada sem a intervengdo de obsticulos. Sdo tidas como as dunas ver- dadeiras. Trata-se de grandes acumulagées em forma de monte, tendo sempre uma parte culminante unica. Apesar do movi- mento migratério das dunas, sua forma dode ser mantida. Quanto & configuracio mortolégica, distinguimos os seguintes tipos 132 de dunas: a duna longitudinal, denominada seif pelos Arabes, a barcana, em forma de lua crescente, tendo as duas pontas vol- tadas a favor da diregdo do vento (vide Prancha 10), a parabélica, que tem a forma de um U de pernas longas e a transversal, Nas dunas parabélicas 0 vento sopra contra as pernas do U, ao contrario das pernas da barcana. Outra categoria é a das elevagdes sem forma definida, como as que ocorrem na Praia Grande, sp, onde 0 vento nfo pos- sui uma direcdo constante. Desde que nilo haja diferenca alguma no material que cons- titui as diferentes dunas, interpreta-se como sendo as variagdes da velocidade do vento as determinantes da forma das dunas, assim como da quantidade de areia fornecida. Sendo esta grande, nao se forma a barcana, pelo excesso de deposic&io que vai mascarar a forma deste tipo de duna. Pelo fato de ser mais facil a remogao ¢ redeposic&o da areia dos lados de uma duna, durante o seu mo- vimento migratorio, é que se origina esta forma, que pode mudar num e noutro sen- tido, com as mudangas do regime do vento. ‘Como se vé na fig. 6-6, 0 Angulo formado a barlavento, pela encosta da duna e o pla- no horizontal, é de 5 a 15°, e a sotavento & maior, de 20 a 30°, sendo 35° o angu- lo maximo de repouso das areias secas co- muns. As barcanas possuem uma largura cerca de 12 vezes maior que a altura, que é geralmente em volta de 30 metros, As du- nas tipo seif possuem uma altura média de 20 metros, podendo excepcionalmente atin- gir 300 metros, como acontece no Sara. A velocidade média de migragdo é de poucos metros por ano, podendo em casos raros alcancar 30 metros. Caso interessante veri- ficou-se na Alemanha, onde uma grande duna se formou nas proximidades de uma igreja. Como conseqiiéncia da migracéo da duna a igreja foi completamente soterra- da, ficando somente a torre emersa das areias, no alto da imensa duna. Posterior- mente a migragdo continuou e cerca de um século depois a igreja estava completamente descoberta. Como mera curiosidade, citam-se dunas de areia olivinicas na Itélia, produto’ da atividade piroclastica de vuledes com lava rica em fenocristais de olivina, Em F. de Noronha ocorrem dunas, cujas areias se constituem principalmente de fragmentos de algas calcdrias. Em se tratando de timo ma- terial para o fabrico da cal, estas dunas, jé parcialmente consolidadas, sio aproveitadas para este fim. Nas Bermudas dé-se 0 mesmo, com fragmentos de corais. Célebres so cer- tas dunas de desertos do Novo México, E.U.A., constituidos por cristais de gipsita Nem todo depésito eélico ¢ formador de dunas, pois nem sempre ocorrem as condi- gdes necessirias A sua formag&o. Poderao ocorrer simples campos de areias, de es- pessura variada, de topografia irregular ou nao, sem contudo se formarem dunas. A fig. 6-8 nos mostra a estrutura interna de uma duna. Gragas A deposigdo em pla- nos paralelos, correspondentes ao barlaven- to e ao sotavento da duna, formam-se es- tratos consecutivos dispostos em angulos ca- racteristicos para os depésitos edlicos. Como conseqiiéncia desta regularidade na deposi- do, o interior de uma duna possui uma es- trutura caracteristica, que ¢, muitas vezes, conservadas nos sedimentos antigos, pres- tando-se para o estudo das condigdes preté- ritas dos ventos dos desertos do pasado. Em base da medida da posigéo das camadas a sotavento das dunas, J. J. BIGARELLA con- clui que a diregdo predominante do vento nos desertos cretéceos do Brasil Meridional 6 de sudoeste para nordeste, exceto na re- Estrutura de duna estacionaria gido de Sao Paulo, onde a diregdo é contra- tia. Nao somente o Angulo, como a confi- guragdo deste tipo de estratificagdo cruzada, servem para a identificagdo de antigos de- positos edlicos, Exemplos deste tipo de es- tratificagdo encontramos nos cortes do Are- nito Botucatu, na regiio da Serra Geral, no Sul do Brasil. ‘Ainda, duas outras caracteristicas impor- tantes para os depésitos edlicos sio as se- guintes: a boa selecdlo e o bom arredonda- mento dos graos. A primeira é devida ao poder seletivo do vento, que a uma certa velocidade deposita particulas de um s6 ta- manho, levando embora as particulas me- nores, Sendo geralmente pequena a flutua- gdo da velocidade do vento, sera conse- qiientemente pequena a variagdo dos did- metros dos graos. Quando ao arredondamento, deve ser lembrado que o desgaste eélico € mais efe- tivo do que 0 aquatico, pelo fato de a velo- cidade de transporte ser maior, maiores as distncias percorridas gragas ao vaivem do vento, que muda constantemente de dire- cdo e, ainda, maior impacto, gragas a pe- quena viscosidade do ar. Por estes motivos, gragas ao desgaste edlico, torna-se possivel © arredondamento de graos de 50 micros de didmetro, que é o limite inferior para 0 arre- dondamento dos graos de quartzo nos se- dimentos edlicos. Além disso, tais graos mostram-se com um aspecto fosco, por cau- sa do impacto brusco, que produz uma superficie microscopicamente pontilhada. Estes caracteres so importantes na distin- Estrutura de duna migrante Fig. 6.8 Estrutura iniema de uma duna estacionaria e de uma duna_migrante vertical das camadas a barlavento ¢ sotavento é bem visivel na duna estacior A diferenga do angulo 133 do dos gréos de quartzo arredondados pela Agua. Nesse caso, sendo mais brando o im- pacto (gracas a maior viscosidade e densi- dade da dgua), o limite de arredondamento & ao redor de 0,15mm de didmetro e o bri- Iho € geralmente lustroso. Loess: € 0 nome alemao dado a um sedi- mento finissimo, muito homogéneo, frivel, sem estratificagdo e que cobre grandes dreas do sul da Alemanha, Riissia, China, vale do Mississipi e Argentina. Os gros possuem ao redor de 20 a 60 micros de tamanho, sendo bastante variada a sua composi¢io mine- ralégica, ocorrendo quartzo, “hornblenda, feldspato, mica, alguns carbonatos, argila fragmentos quase inalterados de rochas. Fa- to interessante no loess € a propriedade de manter-se em pareddes verticais sem haver desmoronamento. Na China estes pareddes abruptos aleangam mais de 150m de altura. Exibem freqiientemente nitida estrutura co- lunar vertical. Outra caracteristica bastante curiosa é a presenga de tubos capilares qua- se sempre preenchidos-por calcita. Prova- velmente trata-se de moldes deixados por antigas raizes. Sua origem relaciona-se, geralmente, aos depésitos glaciais pleistocénicos, que foram retrabalhados pelo vento apés a deposicio glacial. O vento levou e depositou longe as particulas finissimas apés a sedimentagdo glacial e recuo do gelo. Tal hipstese ¢ basea- da na distribuigdo geografica dos loess (v. fig. 7-16) e da quase inexisténcia de decom- posigéo quimica, inferida pela abundancia em minerais instaveis, como feldspato e hornblenda. J 0 loess da China parece deri- var-se dos detritos finos do deserto de Gobi, na Mong6lia. Produzem geralmente solos de grande fertilidade. O loess que ocorre nos pampas quaternarios da Argentina deve sua origem & deposig&o edlica de produtos de- rivados de explosdes vulednicas, pois um dos constituintes comuns é 0 vidro vuleanico finamente subdividido, A rea ocupada pelo loess € considerdvel, atingindo 20 mi Ihdes de km?, espalhados pela Europa, China, América do Norte e Argentina. 134 Regides dridas Os efeitos do vento manifestam-se em es- cala considerdvel, como jé frisamos, prin- cipalmente em regides ridas ¢ semi-adridas, e nas praias, em menor escala. As regides aridas caracterizam-se pelas pequenas pre- cipitagdes anuais, normalmente inferiores a 100mm, sendo nas regides semi-dridas de 100 a 500mm. Esta pequena quantidade anual de chuva é ainda agravada se se levar em consideragdo 0 elevado grau de evapo- ragio. Esta poderia, em condigdes ideais, atingir teoricamente até 4 metros por ano, o que nao se verifica gracas a auséncia de gua. Quanto menores forem as médias anuais de precipitago, tanto mais espagadas serao as chuvas e tanto mais violentamente estas se manifestam. Uma chuva no deserto de Namib, sudoeste da Africa, atingiu 37mm num s6 dia, sendo que a média anual é de 20mm apenas. Assim, alonga-se muito a época da estiagem, que, no deserto seten- trional do Chile (Atacama), pode atingir algumas dezenas de anos. Por este motivo no se estabelece o ciclo normal da gua. Esta, ao cair, infiltra-se apenas na regiio superior do solo, evaporando-se em pouco tempo, apés ascender capilarmente para a superficie. Somente a Agua de chuvas muito intensas consegue penetrar mais para o fun- do, alimentando a Agua subterrdnea, acumu- Jada freqiientemente nas areias das dunas, que so boas armazenadoras de Agua. Sao muitas vezes salobras e situam-se geralmen- te a mais de 100 metros de profundidade, conforme a estrutura e a litologia da regido. Interessante € 0 fato de muitos vegetais in- dicarem a presenga do precioso liquido nas regiées diridas. Tais sdo 0 flamo, certas palmeiras, o eucalipto e muitas outras. Nao sé dizem da presenca de agua, como tam- bém da sua profundidade aproximada, pois suas raizes possuem comprimentos conhe- cidos. Ja referimos que a 4gua de infiltragao re- tida temporariamente na zona de aeracdo do solo também decompée quimicamente as rochas, sendo que os sais resultantes da de- composi¢go quimica sfio levados para os rios e para os mares. Nas regides de peque- na precipitagaio nao ha quantidade suficiente de figua para que se dé a dissolucdo destes sais. Ficam assim retidos no local onde se formam. O movimento capilar ascendente da agua das poucas chuvas que caem fazem com que os sais se acumulem na superficie, formando crostas ¢ eflorescéncias que po- dem atingir 1 a 4 metros de espessura. Mais freqiientemente so constituidas de carbona- to de calcio, recebendo o nome espanhol de caliche, ou hardpan dos ingleses, sendo este iltimo termo genérico, aplicado também s crostas de limonita, Estas crostas so mais endurecidas em cima do que em- baixo, impedindo o desenvolvimento da vegetacdio. A agua, que ocasionalmente se infiltra, também leva em dissolugdo os sais formados na superficie, dando 0 carater salobro a 4gua, Em outros casos pode ser precipitada a silica, mais soltivel em Aguas alcalinas, ou ento gipsita ou limonita, Esta iiltima € freqliente nas nossas regides semi- dridas. Recebe o nome local de canga. Mui- to freqiientemente as aguas que ascendem pela capilaridade so responsaveis pela de- posi¢éio de uma fina pelicula de dxido de ferro ou de manganés, que dao as rochas do deserto um colorido pardacento a negro, uniformemente distribuido. Da-se a este as- pecto o nome de verniz do deserto, No de- Tanta 6-2 Quantidade em gramas por litro de cloreto de sédio ce sulfatos na agua de trés fontes ¢ na agua de super Note-se a grande concentragio em superficie. gragas 4 intensidade da evaporacio Sulfato de Ca, Nae Me Agus superficial 6.7 Fonte n.° 1 Fonte n° 2 Fonte n° 3 78 397 serto do Chile formam-se por proceso semelhante os depésitos de salitre, NalVO%, e de NaCI cuja origem parece estar relacio- nada as atividades vulcdnicas da regido, ten- do ocorrido uma concentragdo destes sais formados em pequena quantidade pelas emanagdes vulcanicas. A fim de mostrar a concentragdo de sais que se processa nas aguas de superficie, citamos, na tabela 6-2, as andlises realizadas em Aguas de 3 fontes e em figua de superficie, na regido arida da Argélia, por P. VAGELER, sendo os valores em gramas por litro, Entre os sulfatos pre- domina grandemente 0 de calcio. Drenagem. — Somente por ocasido das grandes chuvas & que se forma a Agua de rolamento. Esta pode tornar-se importante fator geolégico. As chuyas sio normalmen- te de curta duragdo mas de grande intensi- dade. Estas chuvas espraiam-se rapidamente, chegando muitas vezes a causar a morte por afogamento de viajantes abrigados em oasis que se localizam nas baixadas, onde o actmulo das Aguas é mais répido. Estas verdadeiras trombas-d’digua levam consigo grande quantidade de detritos, que se acumulam quase que simultaneamente, da~ da a rapidez do transporte, que impede a selegdo dos tamanhos, ndo havendo tam- bém tempo suficiente para efetuar-se o arre~ dondamento. Com grande rapidez a agua infiltra-se solo adentro e evapora-se, dei- xando como resultado um extenso depdsito de forma plana. Nas regides semi-Aridas tais depésitos atingem por vezes grandes dimen- sdes. Se forem levemente inclinados ¢ situa~ dos nas imediagdes das partes elevadas, constituem os ja citados pedimentos. Se o depésito se efetuou ao largo de extensa planicie, recebe o nome castelhano de playa. Litologicamente, verifica-se certa semelhan- a com os depésitos glaciais, pela heteroge- neidade granulométrica, isto ¢, depositam- se cascalhos de grandes dimensées junta- mente com detritos arenosos e siltosos. A fim de exemplificar, apresentaremos a and- 135 lise granulométrica de um destes sedimentos encontrados no deserto de Atacama, no Chile (fig. 6-9). Em condigdes favordveis, podem formar- se lagos tempordrios, gragas as barragens subitamente formadas pelo ripido deslize. Geralmente estes lagos deixam, depois de secos, uma pelicula branca de brilho des- lumbrante de halita, gipsita ou outros sais, dependendo dos sais lixiviados das rochas da regio. O outro aspecto caracteristico da regides dridas ¢ seminaridas é a presenga de grandes e abruptas escarpas, muito freqiientemente verticais. So freqiientes nos desertos ainda em fase de juventude (v. fig. 6-10), onde 08 bordos das partes altas ainda no foram atingidos pelo efeito erosive das grandes chuvas e do vento. ‘A paisagem desértica, como qualquer ou- tra, também apresenta o seu ciclo de de- senvolvimento, com estadios caracterizados por feigdes que dizem respeito & idade e ao grau da evoluc&o, cujas feicdes geomorfo- logicas passaremos a citar resumidamente. estadio jovem, como se vé na fig. 6-10, caracteriza-se por uma elevagao abrupta do Fig. 6.9 Representago grifiea de dois ti- pos de sedimentos edlicos. 0 hi lograma 4 mostra a alta selecdo, cardter tipico dos arenitos de an- tigas dunas. Note-se a predomi- nancia de grios de 0125 a 0.250mm, assim como a ausén- cia de graos maiores que */, n limetro de diametro. Trata-se de um arenito da formago Botu- catu, suposto Tridssico, munici- pio de Fartura, SP,_No histogra- ma B acha-se representado um depésito torrencial recente do de- serto de Atacama, Chile, com caracteristicas completamente di- feremtes do primeiro, pois se trata de_um sedimento formado por grandes enxurradas, possuindo 12% de seixos e de quase 50%, de silte, © que indica grande he- terogencidade nos tamanhos, por: tanto, ma selegdo. 1 A 136 terreno, que se apresenta muito escarpado. As forgas tecténicas responsiveis por tal elevacdo podem ser de diversas naturezas, ndo cabendo aqui a sua discussfio. O impor- tante é que se dao mudancas climaticas, con- dicionadas pela topografia, que faz com que os ventos timidos sejam desviados, deter- minando por isso a aridez da regido. For- ma-se um deserto rochoso, com formas abruptas, havendo pequenas bacias em vias de formagao e isoladas uma das outras. Neste caso o deserto seri formado pre- dominantemente por rochas nuas, em con- tinua desintegragdo mecdnica. Numa fase seguinte a erosdo jd desgastou grande parte das rochas, amainando o relevo e aumen- tando o tamanho das bacias de sedimenta- cdo, que principiam a unir-se entre si. Esta fase € considerada como sendo de maturi- dade, Na fase final, que é de senilidade, ha- ver uma grande Area de deposico, restan- do uns poucos piniculos abruptos de rocha mais resistentes erosdo, que recebe a desig- nagdo de inselberg, que em alemio significa montanha isolada, ilhada. A area constituida de rochas nuas recebe 0 nome arabe de hamada. A cobertura constituida de calhaus B Ve Ye Ve Vie restos de um vento —>- plano A se de falha tego ge desert montanhas em vias de erosao B elevagdes remanescentes pedimentos remanescentes pedimentos ss c Fig, 6-10 Trés estadios erosivos de um deserto, Em 4 verifica-se o levantamento de um peneplano ja em vias de erosio, sendo os respectivos deiritos depositades preferencialmente a direita, por predo- minarem ventos da esquerda, Em B, aumenta a quantidade de sedimentos edlicos, desaparecendo por completo os restos do peneplano. Em C, verdadeiro estadio de senilidade crosiva, predomina © reg, sendo © mesmo representado por algumas elevagdes rochosas ilhadas em meio do deserto arenoso (seg. Gilluly et al) em vias de desagregagdo denomina-se reg (a hamada e 0 reg representam a maior parte dos desertos; para exemplificar, 0 Sara é formado por 1.800,000km? de areias ¢ de 7.300.000km? de solo rochoso) e a rea coberta por areais € chamada pelos arabes de erg. Lagos desérticos. — Nas depressOes inter- nas das bacias desérticas ocorrem freqiien- temente lagos perenes ou periddicos, pois sabemos que 0 nivel hidrostitico funciona como nivel de base para a erostio eélica. Eles acumulam o excesso temporirio da Agua, recebem detritos das correntes por ‘casio das raras chuvas ¢ so sujeitos a evaporacdo intensiva. Nos lagos da regidio semi-drida do Turquestéo depositam-se se- dimentos em camadas ritmicamente alter- nadas, sendo que as variacdes so devidas a oscilagées climaticas anuais, como é 0 caso dos varvitos glaciais, que serio abordados no capitulo referente a glaciagdo. Durante a época das chuvas as Aguas trazem detritos, de cuja deposi¢ao resultam camadas de sedi- mentos clasticos ¢ durante a estiagem da-sce a evaporagdio das dguas e conseqiiente pre- cipitagdo dos chamados evaporitos, poden- do tratar-se de sal-gema, carbonatos, bora- tos ou sulfatos. 137 Um tipo especial de lagos salinos so as + sddio, que é ento precipitado, voltando a chamadas lagunas, existentes nas costas fridas. Devem sua origem A formagio de barras que podem fechar e isolar uma baia do mar aberto, Aberturas esporidicas na barra permitem o afluxo de Agua salgada, compensando a evaporagao. Lentamente au- menta o teor em sal na 4gua,podendo final- mente dar-se a precipitago dos sais, for- mando os depésitos salinos. Sua espessura pode ser consideravel, no caso de haver um abaixamento gradual, epirogenético, do con- tinente. Um exemplo interessante ocorre no golfo de Karabugaz, situado na borda orien- tal do mar Caspio. Deve o leitor observar, num mapa, a entrada estreita e estrangulada que liga este golfo ao Caspio. O clima da Tegido toda é semi-drido, porém a area oeupada pelo golfo possui uma aridez bem mais acentuada, razio pela qual grande quantidade de agua se evapora diariamente A agua que entra no golfo para compensar a que se evapora carrega para dentro 350,000 toneladas diirias de sais. Isso de- termina a diminuigao continua da salinidade da agua da parte aberta do mar Caspio (11,948 por litro; ver tabela 6-3), que € bem menor do que a do Mediterraneo ou qualquer outro mar. Estimando-se a area do golfo em 15.000km*, aproximadamente, a quantidade média de Agua evaporada por metro quadrado por dia & de cerca de 2 litros. Ao redor do golfo precipita-se a gipsi- ta em grande quantidade, sendo que duran- te 0 inverno se da a saturagio do sulfato de 138 ser parcialmente dissolvido no verdio. A ra- zo deste fendmeno reside no fato de a cur- va de solubilidade do sulfato de sédio ser grandemente afetada pela modificagao da temperatura. Como conseqiiéncia da alta salinidade da agua de Karabugaz, 0s orga- nismos que entram impelidos pela corrente morrem de desidratagio motivada pela os- mose. TApELA 6+ Sali ide do mar Caspio ¢ de Karabugaz Caspio | Karubugaz Cloreto de sédio 83,284 Cloreto de potissio . 9.956 Cloreto de magnésio. 129,377 Sulfato de magnésio. 61.935 Salinidade em ‘gramas por litro tgas | 284.552 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ALMEIDA, F.M., Botucata, um deserto Tr. Am. do Sul, D.N.PM., Notas Preliminares e Estudos n.* 86, Rio de Janeiro, 1954. Ventifactus do deserto Botucatu no Est. de Sao Paulo, D.N.P.M., Notas Preliminares © Estudos n° 69, Rio de Janeiro, 1953. BAGNOLDo, R. A., The Physics of Blownsand and De- sert Dunes, Methuen and Co. Ltd., Londres, 1941 Bicaretta, J. 1, “Contr. petr. atenitos S, Sto Bento”, Arg, biol. tec vol. 4, pig. 41, Parand, 1949. Genie, K. W., Desert Sedimentary Environments, “De- velopments in Sedimentology”, 14, Elsevier Publ. Co. Inc., 1970. YVirira De Canvato, “Contr. estudo pet. arenito Bo- twcatu”, Soe, Bras. Geol., vol. 3, n.° 1, S80 Paulo, 1954.

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