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Capitulo VIII Atividades geoldégicas do mar Generalidades Os depésitos marinhos representam a maioria dos documentos de natureza sedi- mentar do passado da crosta terrestre. As regides continentais estdo sujeitas 4 erosdo, motivo pelo qual hé maior probabilidade de ‘os documentos geoldgicos serem destruidos, a0 passo que no fundo dos mares ¢ possivel que grandes espessuras de sedimentos se conservem por varios periodos geolégicos. Tal é 0 motivo da importancia do estudo dos sedimentos marinhos e, portanto, 0 es- tudo dos fenémenos marinhos atuais. Infe- lizmente, as observacdes diretas so possi- veis unicamente nas regides litordneas, en- quanto que a vasta area dos oceanos & co- nhecida apenas pelas observages geralmen- te indiretas de raras e dispendiosas expedi- des marinhas. Muito embora a oceanogra- fia seja de grande importincia, principal- mente para a pesca e para a navegagiio, ha poucas décadas é que se iniciou o scu estu- do sistematico ¢ realmente cientifico. Sao ainda bastante numerosos os fatos a serem explicados, predominando nos oceanos 0 grande acervo dos arcanos da natureza. De poucos anos a esta parte, gracas ao auxilio de aparelhagem moderna e bastante precisa, principiou-se a conhecer melhor a topogra- fia do fundo dos oceanos. O principio fun- damental destes aparelhos é a reflexdo de vibrages sonoras ou ultra-sénicas, emiti das pelo navio, no qual existem outros apa- relhos capazes de registrar a chegada das mesmas ondas, 4 maneira do registro de um, eco. Conhecida a velocidade de propagagaio das ondas e o tempo gasto, que deve ser to- mado com grande exatiddo, pode-se conhe- cer a profundidade. A litologia do fundo dos oceanos e pouco conhecida por processos diretos, pois uma sondagem no fundo do mar é um proceso dificil ¢ dispendioso. Por este motivo, co- nhece-se melhor © material depositado re- centemente, colhido por meio de dragas € sondas especiais. Modernamente, gracas a0 auxilio da sismologia, tem-se um maior niimero de dados sobre a espessura dos sedimentos do fundo dos oceanos. A fig. 8-1 nos dé uma idéia nfio sé da topogra- fia, como também do substrato ocenico do Mar das Antilhas (ou Caraibas), area intensamente estudada, pelo interesse em petréleo, que é extraido dos sedimentos an- tigos atualmente cobertos pelo mar. Admi- te-se, em bases geofisicas indiretas, que a espessura média de sedimentos no fundo dos oceanos seja ao redor de um quilémetro. A tabela 8-1 nos da uma idéia das espes- suras médias e da constituigdo das camadas existentes no fundo dos oceanos, nas regides distantes dos blocos continentais, ‘As pesquisas oceanogrificas recentes ¢ pormenorizadas evidenciaram a existéncia de condigdes quimicas e fisico-quimicas bem 167 N s Cuba Cartagena Q ‘ (Colémbia) Sedimentos : Sis ados Sedimentos cE es a 10 ‘semiconsolidados crosta besatica a ae, 20] Manto : OO a00Km Fig 81 Perfil NS do substrato do Mar das Caraibas, baseado em dados sismicos (refragao). Trata-se de uma regio perturbada tectonicamente, sendo altamente irregular 0 contato da crosta com 0 ‘manto, notando-se também a irreguliridade na antiga topografia, sobre a qual se depositaram os sedimentos consolidados e semiconsolidados. A espessura maxima de sedimentos inconsolidados mais modernos atinge até 2km (seg. Nat. Acad. Sci., I, G. Y., Bul, 1958). Tapeta 81 Materiais, espessuras ¢ propriedades das eamadas do assoalho marinko . Densidade | Expessura Velocidade das ondas Material provével aproximada | em metros | longitudinais em kmjseg Agua do mar 10 4.500 1S Sedimentos nio-consolidados. 450 20 Sedimentos consolidados ou rochas vulea- nicas... 27 1.750 4.0 a 60 Camada basiltiea, 30 + 10.000 67 Descontinuidade de Mohorovicie T Manto. 34 - | 8 diferentes daquelas até entio conhecidas. ‘Assim, observou-se no golfo de Aden a pre- senga de depressdes onde a agua se encon- tra a 60°C, numa profundidade de 2.000 metros. Fato notivel é que estas aguas aquecidas, além do cloreto de sddio, sao ticas em 6xidos e sulfetos de ferro, manga- nés, cobre € zinco, sob a forma dissolvida. Em contato com a Agua fria verifica-se a 168 formagdo de uma lama rica nos citados dxi- dos e sulfetos, lama es que se vem acumu- lando no fundo das _pressdes. Area e topografia do fundo oceanico. — A area total dos mares e oceanos perfaz cer- ca de 70% da superficie do globo terrestre. A topografia do fundo dos oceanos & irregular, ¢ 0 seu conhecimento mais deta- Thado se deve a intmeras sondagens a ecobatimetros, que vém sendo realizadas a partir do ano de 1920. Reconhecem-se as seguintes feigdes topograficas principais, asaber: as margens continentais (onde se lo- caliza_a plataforma continental, chamada pelos ingleses de continental shelf, mais o talude continental (fig. 8-2), dos quais tra- taremos logo adiante), a elevaedo continental (continental rise dos ingleses), 0s assoalhos ocedinicos, que ocupam mais da metade de toda a area ocednica (com uma profundidade de 4 a 6.000 metros), e finalmente, os sistemas de cordilheiras ocednicas. A declividade da plataforma continental é pequena, da ordem de 1 a 4 metros por quilémetro. A profun- didade de cerca de 150 metros a declividade aumenta para 50 metros por quilémetro, em média, zona correspondente ao men- cionado talude continental. Entre 2.000 e 3.000 metros de profundidade ocorre a ele- vagdo continental, cujos gradientes variam de ! a 1,5 metros por quilémetro, até atingir 0s assoalhos ocednicos. A elevagéo conti- nental é considerada como parte integrante -200m do bloco continental silico, granitico, en- quanto que os assoalhos ocednicos encon- tram-se sobre a crosta basdltica (sima), As cordilheiras ocednicas so interpretadas como verdadeiras protuberancias do manto superior, que fazem o assoalho oceanico se afastar Jado a lado das intrusdes provindas da parte superior do manto superior. (Ver pag. 387 e seguintes), Distribuidas de modo irregular, ocorrem ainda iniimeras elevagdes esparsas, mais comumente de origem vul- cfnica, como por exemplo as ilhas dos arquipélagos de Fernando de Noronha e Trindade, ¢ algumas fossas profundas, 0 que se pode verificar em qualquer mapa- mundi com a batimetria dos oceanos. Se- gundo um critério mais antigo, as regides ocednicas eram subdivididas de acordo uni- camente com a profundidade, sem obedecer Aconfiguragio topogrifica. Segundo este cri- tério, toda a regidio abaixo de 1,000 metros recebe 0 nome de zona abissal, e entre esta cota € 0 nivel de 200 metros, da plataforma continental, existe a zona hatial ou hipoa- bissal. Hoje em dia prefere-se a subdivisio ° og 7T—~ Zona betial ou hipoabissat 2000 . ‘3000 Plataforma | 3 Continental }8 5 Zona abissal co Ee] 5000 3 continental i 1 1 1 ° 200 400 600 800 Fig. 8 Regides do mar, segundo a profundidade ¢ a distincia do continente profundidade de 2,000 metros para a zona batial. metros € a mais aceita, por ser mais freqiiente a di Hisautores que adotam a contudo, que 2 profundidade de 1.000 ferenga angular da declividade do fundo Pare Aquela profundidade 169 Seovousennouwe Je, S20) Mind 2054) . Fig. 8:3, — perfil, passando por Java, ifEverest sul das Filipinas ¢ Saipa, ‘eaco) mostra a profundeea das srandes Foss manibas ea suas des grandes elevagdes | awn - Mt Beng Ga regio. Ao lado, as maro- ox) ied tes elevagdescomtinentas, er para efeito de comparagio, Vemos que a grande fossa fos mannha & maior do que a 40800 ——— mator elevagio do continen- fe, que € 0 monte Everest Plataforma continental Fig. 84 Configuragio topografica do Oceano Atlantico, a longo da costa brasileira. Observa-se a pla- taforma ¢ talude continental e as ilhas oceanicas emergindo da zona abissal. em base da morfologia, ao invés da profun- didade apenas. No assoalho ocednico é que ocorrem as citadas fossas profundas, que atingem até 10.500m de profundidade perto das ilhas Filipinas. Deve ser lembrado que as regides abissais possuem grandes varia- bes de relevo, como podemos ver na fig, 8-3, que mostra os altos e baixos num perfil que passa por Java, sul das Filipinas, até as ilhas de Saipi, a nordeste das Fili- pinas. A direita acham-se representadas na mesmas escalas as maiores elevagées existen- tes na area continental, a fim de se poderem comparar os desniveis do fundo do mar e dos continentes. A fig. 8-4 ¢ a Prancha 12 do uma idéia da irregularidade do fundo do Atlantico (vide legendas). As areas ocupa- das pelas diferentes zonas dos oceanos dis- tribuem-se nas proporgdes mostradas pela fig. 8-5, que mostra o perfil geral dos con- tinentes. Estes ocupam 30% da area total, como podemos ver na figura, na qual tam- bém se vé o perfil dos oceanos, cuja profun- didade mais freqiiente é de 3 a 6.000 me- —~Monte Everest tros. A esquerda da figura vemos 0 histo- grama das freqiiéncias das diferentes pro- fundidades. Plataforma continental. — Trata-se, como j& vimos, de uma configuragéo morfolo- gica peculiar a todos os continentes. Sua profundidade maxima € de 200 metros, como valor médio, podendo variar desde 10 até 500 metros. Sua largura média é de 7okm, variando, contudo, desde 1 até 1.000km. A margem da plataforma conti- nental, denominada talude continental, jé citado, inclina-se com um gradiente maior, passando de 1:1.000, que € 0 gradiente mé- dio da plataforma continental, para 1:40, 0 que corresponde a um Angulo de 1° 30°. Ha regides em que o talude continental passa diretamente a fossas profundas, 0 que se verifica no Peru, nas Aleutas e em Porto Rico. O comprimento total de todas as platafor- mas somadas atinge a cem mil km® O angu- 4% 3 & a levagZo média dos continentes ‘Nivel do mar 3 --Profundidade média do mar 36. 3 °T— 3 8 — & 10) Fossa das Filipinas _ ~ oO 20 40 60 80 Porcentagem da superficie da Terra Fig 83 Distribuigio dos valores da altimetria e batimetria em fungdo da superticie terrestre representa as percentagens acumuladas das eleva histograma que representa os _mesmos valores. A curva jes ¢ das. profundidades. O pontilhado & um Neste istograma vemos que a altitude mais freqiiente é a que vai até 1.000m e a profundidade mais freqiente esté entre 4.000 e 5.000m. Tanto um como outro ocupam cerea de 25% da superficie da Terra. 171 lo de declividade inicial é de 7 minutos, isto 6, 2m por km, aumentando para 2 a 3 graus, conforme a regio, O declive & maior nas re- gides onde a margem continental é monta- nhosa e menor nas regides mais planas. Tra- ta-se de fato curioso esta relagdo da topo- grafia continental com a submarina. Na pla- taforma continental ocorrem muito freqtien- regides montanhosas, de orogenia moderna, é geralmente estreita, enquanto que nas re- gides proximas a grandes rios é extensa e regular, a menos que se dé o crescimento de um delta por sobre a plataforma continen- tal. Finalmente, nas regides sujeitas a glacia~ Ses a configuragdo é irregular, cheia de de- presses ¢ elevagdes, gragas & formacao de temente depressdes ¢ elevacdes até 20m de depésitos glaciais. Em certos casos, nas desnivel. Sua forma também varia com a regides de fortes correntes marinhas, pode configuragao topografica do continente. Nas ‘nao ocorrer a plataforma continental Ceard Forkieza a ‘Campos Rio de Janeiro || S.igaoda Barra ae Antonina Parand | | Paranagué i | 1 Rio Grande do Sul ‘Torres 2 Ores é e 5 7 10004 2 2 a Sim 0 5 1S 20.°~225~~SSC Fig. 86 Alguns perfis da costa brasileira mostram a variagio da largura da plataforma continental. Os ngulos verticais da plataforma ¢ do talude continental acham-se cxagerados pela sobrelevagio, que € igual a Note-se a depressio de quase 2.500m a 12km da costa do Rio de Janeiro, ‘assim como a irregularidade topografica desta regido (seg. Othon H. Lednardos). 172 ‘As maiores plataformas conhecidas loca- lizam-se na regido da Indonésia, ligando Java, Sumatra, Malaca e Bornéu, medindo 2 milhdes de km?. Também no estreito de Bering e norte da Sibéria, a leste da Ar gentina ¢ entre Australia e Nova Guiné ocorrem grandes plataformas. A fig. 8-6 mostra-nos 4 perfis em diferentes Estados do Brasil, onde observamos a largura € pro- fundidade da plataforma continental, segui- da do talude continental, que é abrupto acidentado na regio do Rio de Janeiro. Nao deve ser esquecido que o Angulo esta exagerado pela sobrelevagdo, que é igual a 5x. © 4ngulo real corresponde 4 quinta parte da tangente do Angulo aparente, exa- gerado. Interessante € 0 fato de serem os sedi- mentos das plataformas formados predomi- nantemente de material arenoso, sendo fre- giiente a ocorréncia de seixos e rochas aflo- rantes nas suas bordas externas. Além da ocorréncia de seixos em Ingares muito distanciados da borda continental, séio igualmente dignos de nota os célebres canhdes submarinos, cuja origem é ainda discutida. Sua forma, contudo, sugere as vezes tratar-se de antiga drenagem, pois os canais ramificam-se de maneira dendritica muito semelhantes & dos rios. As vezes estes canhées possuem relagZo com a drenagem continental, situando-se defronte a grandes ios, como é 0 caso do rio Hudson e do rio Congo (v. fig. 8-7). Outras vezes ndo ha relagdo alguma com a drenagem continen- tal, como é 0 caso do canhao de Salvador, Bahia (v. fig. 8-7A). Tais canhdes dirigem- se para as partes profundas dos oceanos a mais de 3,000 metros de profundidade, tor- nando-se mais abruptos nas regides mais es- carpadas do fundo do mar. Adiante aborda- remos a provavel origem destes canhdes. Quanto a origem da plataforma continen- tal ha varias hipéteses. HA quem acredite que esta se tenha formado por falhamentos paralelos A diregiio da sua borda externa, pelo fato de ocorrerem fregiientemente, nas suas proximidades, rochas expostas e seixos. Outros supdem uma verdadeira fronte de deposi¢ao, 4 maneira de um delta em lento avango. A idéia mais aceita, contudo, 6 a flutuagdo do nivel do mar durante o Pleis- toceno, abaixando-se 0 nivel durante a épo- ca glacial e levantando-se no interglacial, apés a fusio das grandes massas de gelo, como mostra a fig. 8-8. Durante 0 recuo das aguas do mar ter-se-ia dado a eroséo subaérea, formando-se a plataforma, que se- ria depois submersa durante a época do degelo Os recursos minerais que ocasionalmente sejam encontrados na plataforma continen- , tal pertencem, por convengao, ao pais situa- do junto a ela. Faz pouco tempo que o Bra- sil juntamente com outros paises estabelece- ram um limite de 200 milhas para as Aguas territoriais. Como exemplo podemos citar 0 enxofre, explorado no golfo do México, bem como o petréleo e gas natural, produzidos em larga escala no Mar do Norte e no golfo do México? A Petrobras vem hd tempos se dedicando ao estudo geofisico e geolégico das nossas plataformas continentais, de nor- tea sul do Pais. Predominam os sedimentos de idade creticea, as vezes de mais de 4 mil metros de espessura. Muitas delas ja se encontram em fase de produgao de petré- leo, assunto a ser explorado no 9.” capitulo. Agua do mar Sais. — A Agua do mar contém cerca de 3,5% em peso de sais dissolvidos, sendo mais ou menos constante esta percentagem nos oceanos abertos, mas variével nos ma- res secundarios. Pelo tamanho menor ¢ pelo isolamento parcial, as flutuacdes na salini- dade tornam-se mais pronunciadas, ora pela evaporagio intensiva, ora pelo grande aflu- xo de agua doce. Como exemplo, a agua do mar Bialtico possui apenas de 1 a 1,5%, gracas & diluigo produzida pelos rios, en- quanto © mar Vermelho, situado em regidio rida e quente, sem a presenga de rios que diluiriam as Aguas, possui 4% de sais. A fig. 8-9 mostra-nos a variagdo da salinidade 173 dos oceanos com a latitude (v. a legenda). A tabela 8-2 di-nos a quantidade dos di- Trata-se de valores médios, tirados em di- _ versos sais dissolvidos na 4gua do mar e as versas partes dos diferentes oceanos. suas respectivas percentagens. | -Plataforma continental Profundidade em bracas Seg.GeolSocAm.Sp-Paper65* Fig. 8-7 © canhio do rio Hudson atravessa a plataforma continental ¢ entalha-se profundamente na zona do talude, continuando até a zona abissal. Como a eqiiidistincia das isobatas € maior do que a profundidade da plataforma, 0 canhdo no se acha representado nesta regido. A. maior velo- cidade da correnteza da lama mais densa trazida pelo rio ao atingir a maior declividade do talude determinou o nitido entalhe pela maior intensidade da crosio submarina. 174 Além destes elementos ocorrem numero- sos outros, em quantidades menores, porém de grande importancia para a vida nos ma- res, pelo fato de serem imprescindiveis aos sees vivos. ‘A quantidade de sais dissolvidos no mar abrange cifras gigantescas. Se a agua dos 38°55° ‘Canal de Itaparica Ilha ge. Itaparica. 20 Fig. 8-7A Canhio de Salvador, mares se evaporasse, deixando os sais dis- tribuidos por sobre o globo terrestre, for- mar-se-ia uma camada de 44m de espessura. A origem desta grande massa de sal ¢ ainda discutida. Antigamente, supunha-se que o mar poderia ter adquirido sua salini- dade gragas aos rios, que transportam con- 38°35" ‘30km seg. Zembruschi ¢ outros), 175° Plioceno ——— Pleistoceno Holoceno Interglacial : eee a: | 0 3 ato a ato ato — bo minares de anos 0 ae 95 10 Epocas alacisis © Giinz, Mindel Riss Worm Fig. 88 Flutuagaa do nivel do mar nas quatro épocas pleistocénicas glaciais, cujas denominagdes euro- péias S80 Giz, Mindel, Risse Wirm. Assim, na glaciagao Gilnz 0 mar baixou 20m em relagio 20 hivel atual. No primeiro interglacial subiu um total de 80m, tornando a descer ao nivel ~90m durante a glaciagdo Mindel, e assim por diante. A concordancia glacial ¢ abaixamento do nivel do mar indicam uma flutuagio de natureza eustética, ndo havendo tempo suficiente para o reajusiamento isostatico (eg. Valentin). a, Posigao relativa do nivei do mar em metros “PMitude Fig. 8.9 Curvas da salinidade e do balango entre evaporagao ¢ precipitagdo nas diferentes latitudes. O aumento da pluviosidade na regiio equatorial ¢ diminuiglo da evaporasao (pelas grandes cal- marias) resultam’ num fator negativo, abaixando a curva. Com isso, abaixa também a salinidade ‘¢ conseqiientemente a intensidade da vida plancténica (seg. Sverdrup et al.). 176 Tamia 8-2 Quantidade em gramas por litro © a respectiva percentagem dos sais dissolvidos na agua do mar TapeLa 8 Natureza ¢ proporcio dos solutos da agua dos rios © do mar (seg. SALoMON-CALYD) (erty | dos sais) Carbonatos | Sulfatos | Cloretos NaCl 27,21 Agua dos ros 80% 13%, 7, MgC. : 3.80 MgSO, cscs 163 Aguado mar | 02% 10%, Caso, 126 k,S0, O86 Caco. 0.12 Tania $4 Mabry 0.08 | Proporges dos iontes existentes na Soma 34.98 99,76 geno Hos ¢ mn Sgua do mar Jonte Agua fluvial 7 Agua do mar =e rye, | tinuamente sais para os mares, tornando-os_ | £9" alot Eco cada vez mais salinos durante o decurso do | ci" 5504 tempo geolgico, mesmo descontando-se os | 40; — sais eliminados dos oceanos pela precipita- | ¢# cdo quimica ou biolégica, da qual resulta a fa formagio de sedimentos, que mais tarde po- | i dem passar a formar parte dos continentes. | sio. 3 Muitas areas continentais foram mares em (he, Al = Sr" 1,80, Br 7 0al épocas anteriores, podendo ter sido favor’ vel aiquela epoca a precipitagao quimica ou bioquimica dos solutos contidos na agua do mar. Contudo, a composigdo quimica das dguas dos rios atuais ¢ muito diferente da do mar. nao sendo, assim, compativel com esta hi- potese. As tabelas 8-3 ¢ 8-4 mostram-nos a discrepaincia das composicdes da agua dos mares ¢ dos rios. ‘A tabela 8-4 mostra-nos com mais por: menores a diferenga da distribuigao dos so- sJutos sob a forma iénica. ‘A hipotese da existéncia original de sais no mar é mais plausivel. Os sais em con- junto seriam de origem magmatica ¢ 0 ocea- no os teria recebido desde o inicio da sua formagdio. Pequenas parcelas desta heranga foram transferidas para os continentes, prin- cipalmente sob a forma de sedimentos qui- micos. As aguas metedricas continuamente devolvem ao mar estes sais, quer na forma original, quer na forma de outros sais de composigio quimica mudada pelas novas condigdes continentais por. que passaram. Torat, 100,00 Gases. — Os gases atmosféricos dissol- vem-se em maior ou menor intensidade na agua doce ou do mar, dependendo da tem- peratura da gua e da presso parcial exer- cida pelo gas, O metabolismo dos seres vi- vos pode alterar este equilibrio. A camada superior da Agua, até a profundidade de 30m, é freqiientemente supersaturada de oxigénio gracas as atividades bioldgicas das plantas. A razao disto é a penetragdo dos raios solares, permitindo a realizagdo da fo- tossintese das algas marinhas. As mais im- portantes so as diatomaceas ¢ os dinofla- gelados, algas microscépicas (ao redor de 50 a 100 micros), que representam a base de toda a alimentacio dos mares. Indireta- mente, mesmo a vida das baleias depende destes microrganismos. Mais para baixo, a vida plancténica animal gasta este oxigénio, enriquecendo 0 meio em gas carbénico, pro- vocando desta maneira um deficit em oxigi V7 nio, como se vé na tabela 8-5. As cifras re- ferem-se a saturagio, sendo o n.° 100 corres- pondente ao ponto de saturagdo sob as con- digdes reinantes de pressio e temperatura. Taatia 8-5 Variagio da concentrasio do oxigénio e do gis carbnico no Mar do Norte (100% correspon- dente saturagio sob as condigdes reinantes & respectiva profundidade) Projimdidade de gis Carmeres, | 76 osteo | Carbine 0 lol 3 50 93 127 100 89 147 Desta maneira, os mimeros abaixo de 100 indicam que 0 gas ainda pode ser dissolvido enquanto que os mimeros superiores a 100 indicam que ha sobra do gas, finamente dis- perso, junto 4 agua ja dele saturada. Vemos que, enquanto diminui o oxigénio, aumenta 0 gas carbénico, ndo s6 por causa do meta- bolismo animal como também pela diminui- cdo da temperatura, que favorece a disso- lugdo. . O desaparecimento completo do oxigénio permite apenas a existéncia de vida bacte- riana anaerdbia, gragas 4 qual se verifica a decomposigdo de proteinas e redugdo de sulfatos. Estes processos determinam a pro- dugdo de HS. envenenando a gua para outros seres vives (v. fig. 9-6) ‘Temperatura. — A variagdo anual da tem- peratura da Agua A superficie dos grandes mares € pequena. Na zona tropical, ela varia de 20° a 28°C; nas regides de clima temperado, de cerca de 7° a 17° ¢ nas re- aides polares, de 2° a 4°C. Variagdes brus- cas da temperatura podem ser provocadas pelas correntes marinhas. Abaixo de mil metros de profundidade a variagio da tem- peratura € bem menor, e menor ainda nas grandes profundidades, por ser insignifican- 178 te a movimentagdo da agua. As vai térmicas com as profundidades so as se- guintes entre — Fe + 30° entre + 7 © + 17 entre + e+ 8 entre Oe + 2 Na superficie: a 400 metros 1,000 metros: regides abissais: Luz. — Um fator decisivo para a vida vegetal no mar e de grande importincia no tipo de sedimentagfio é a penetragao da luz na agua. Os vegetais clorofilados dependem da existéncia da luz e como a vida animal depende da vegetal, existe nitida correlagdo entre estes tipos de vida. Sio poucos os animais que conseguem viver na zona com- pletamente escura, conseguindo adaptar-se a0 aproveitamento dos restos de organismos mortos em vias de sedimentagdo. A pene- tracdio maxima dos raios solares vai até cer- ca de 350m. J4 em 30 metros de profun- didade as radiagdes vermelhas da luz séo absorvidas, enquanto que as verdes pene- tram até cerca de 350 metros. Assim, a zona da vida intensiva é limitada por uma del- gada zona de apenas 80 metros de profun- didade, pois as radiagdes vermelhas sao ati- vas no fenédmeno da fotossintese, enquanto que as radiagdes verdes nao sao ativas. Regides marinhas A subdiviso das regides dos mares ba- seia-se principalmente no critério da profun- didade, declividade e da distancia do afas- tamento da costa. Segundo as profundida- des, podemos distinguir as seguintes zonas nos oceanos: Regio litorfnea. — A profundidade da Agua é de poucos metros, compreendendo a zona atingida pela alta e baixa maré. A ex- tenso varia, evidentemente, com a declivi- dade da costa. Esta pode ser desde vertical, sendo neste caso pequena a regido litoranea, até quase horizontal, havendo uma grande extensfio ora coberta, ora descoberta pelo mar. No contato direto do mar com o con- tinente sdo intensas as atividades construti- vas ¢ destrutivas das ondas e mares, Con- forme a configuragéio morfolégica da regiao litoranea, podem ser consideraveis as varia- salinidade € temperatura, acarre- associages faunisticas. Isso se di principalmente nos ambientes fechados, onde a circulagdo da Agua & menor. Regifo neritica. — £ delimitada pela pro- fundidade de cerca de 200m (plataforma continental), havendo intima relagao das condigdes do continente, com respeito ao clima, vida, topografia, etc., com a sedi- mentagdio_e condigdes de vida nesta zona do mar. £ de grande importancia, nas cién- cias geolégicas, o estudo da regio neritica, pois os sedimentos marinhos do passado em sua grande maioria foram formados nesta regido, inclusive sedimentos petroliferos. Regifio batial. — £ delimitada comumen- te pela profundidade de 1.000m, havendo nesta regio vida bem reduzida, nas suas partes mais profundas. Regio abissal, — Possui_ profundidades superiores a 1.000 metros. A vida é escassa © pouco conhecida; ocorrem peixes de as- pecto exético, muitas vezes fosforescentes, adaptados as condigdes de escuridao abso- luta e de grande pressio hidrostatica. O nico alimento constitui-se de restos mor- tos, provindos das regides superiores. A se~ dimentago principal constitui-se de restos de esqueletos ou de lama continental finis- sima, assunto a ser encarado na sedimenta- do. marinha. Denomina-se regido peldgica a que se acha afastada da regido neritica, 0 que se acha esclarecido na fig. 8-2. Abaixo en- contram-se as regides hemipeligica ¢ eupe- ldgica. A importéncia da regido peligica reside no fato de tratar-se do local de maior intensidade de vida, o fator de maior impor tancia na sedimentagio marinha, como po- demos ver na fig. 8-24. Atividades destrutivas do mar No litoral, no contato direto do mar com © continente, é bastante intensa a sua ativi- dade destrutiva. Em escala relativamente menor, também a eros%o fluvial ou glacial, conforme a regio, podem agir, esculpindo e desgastando as rochas. Se a configuragdo do local for um costo, o trabalho do mar seri altamente destrutivo, atacando direta € violentamente os pareddes rochosos com o impacto das ondas. O mar trabalha incessan- temente, tendendo a arrasar e nivelar os toes, transformando-os em praias extensas, onde é quase nulo o efeito erosivo das ondas. Na fig. 8-14 observamos a configuragao de uma costa conforme o grau de erosio que sofreu ¢ também conforme o tipo de rocha Na legenda acham-se as explicagdes mais por- menorizadas. Tendo a Terra uma idade tao avangada, e sendo tio ripida a erosio dos costes (ri- pida, sob 0 ponto de vista geolégico), estes ha muito deveriam ter sido arrasados. Nao © foram, contudo, gragas a instabilidade dos continentes, que, por diversas vezes, no tempo geoldgico, se ergueram e abaixaram, obedecendo a forgas provindas do manto superior, ou, ainda, ao equilibrio isostatico, assunto a ser tratado no capitulo “Epiro- génese”, que trata dos movimentos verticais dos blocos sidlicos. No ataque do mar contra a costa, pre~ domina a forca mecanica sendo de impor- tancia secundiria os fendmenos quimicos. Somente nas costas constituidas de caled- rios pode dar-se 0 ataque e dissolugiio des- tes pelas aguas ricas de CO,. Analisemos as forgas mecdnicas mais importantes, mais ativas no trabalho erosive do mar, ou seja, as ondas, as marés ¢ as correntes marinhas. Ondas. — A energia do vento ¢ transferi- da a gua do mar pelo atrito, determinando a formagio das ondas. Estas deslocam-se com cristas de altura variivel, podendo atingir até 30 metros de altura, dependendo da intensidade dos ventos e da profundidade da agua. A agitacdo provocada pelas ondas 179 alcanga pouca profundidade, raras vezes atingindo 15 a 30 metros. A eroséo produ- zida pelas ondas, no seu impacto milenar contra as costas rochosas, verifica-se gracas aos graos de areia carreados pela Agua que os revolve € os remove apés a arrebentagao. Esta depende da profundidade da agua e do comprimento de onda, ou seja, da dis- tancia entre as cristas. Quando a profun- didade passa a ser menor que o compri- mento de onda, este vai gradualmente diminuindo, a altura vai aumentando nas mesmas proporc6es, aumenta 0 atrito com © fundo, fazendo diminuir a velocidade Com isso a parte superior da onda se en- curva até cair e arrebentar-se. Nesse mo- menté é grande a turbuléncia e a remocdo da areia, levada em suspensao, arremessada contra as rochas e trazida de volta pelo refluxo da gua. A gua, desprovida de tais graos, nao destruiria rochas duras como os gnaisses ¢ granitos. Age somente sobre rochas pouco coerentes, pelo solapamento. E 0 que observamos nos nossos costes da Bahia ¢ Nordeste, onde a série Barreiras se acha em contato com o mar (Prancha 14). A grande importéncia das ondas, na sedi- mentologia marinha, consiste na remogéo das particulas sedimentares mais finas, que, gragas a0 seu pequeno peso, permanecem em suspensao pelo turbilhonar das ondas, podendo entdo verificar-se o seu transporte pelas correntezas marinhas. Marés. — Sob influéncia da atragdo da, Lua, secundariamente do Sol e da forga centrifuga da rotagdo do sistema Terra-Lua (cujo centro nao é 0 centro da Terra, mas a 1.700km abaixo da superficie terrestre), a superficie dos oceanos sofre uma oscila- gio ritmica, ora se levantando, ora baixando duas vezes por dia. A maré que se verifica no lado oposto ao da Lua se deve a citada forca centrifuga, maior que a forga de atra- cdo lunar. Quando as forgas de atragdo do Sol e da Lua agem no mesmo sentido, for- mam-se as grandes marés, ¢, quando se acham em oposigdo, as marés sio menores O nivel do mar sobe para seu nivel mais alto, que se denomina preamar, baixando 180 lentamente para seu nivel mais baixo, bai- xa-mar. Em cerca de 12 horas completa-se 0 periodo baixa-mar-preamar. Sea maré for auxiliada por um forte vento, capaz de em- purrar grandes massas de Agua contra as costas, a soma de ambos os efeitos provoca um verdadeiro represamento, Assim € que no canal da Mancha a amplitude da maré pode atingir 10 metros. Na baia de Fundi, na Nova Escécia, a amplitude da maré che- ga a 2Im, ea velocidade da agua atinge a 15km por hora, Chegaram a fazer estudos para o aproveitamento hidroelétrico desta fonte de energia, mas os custos seriam mui to elevados. A agdo erosiva nesta regiao atinge a quase 50 metros de profundidade No Brasil, as marés nfo atingem tais cifras. No Rio de Janeiro, as marés possuem amp! tudes de 0,4 a 2m: jd no cabo S40 Roque, de 2a 3 metros. Os principais fatores da am- plitude da maré numa determinada regidio stio representados pela configuragio da cos ta e pela topografia do substrato ocedinico. Se esta contiver obsticulos ao fluxo da gua, 0 efeito da maré seri diminuido. No inte- rior de uma baia ou de um golfo, gragas ao menor volume das aguas, da-se uma di- minuicdo do efeito atrativo lunar, tornando- se bem menor a maré. Ja nos costdes, onde © contato com o mar aberto é direto, as marés tém a sua maior amplitude. O efeito construtivo e destrutivo é similar ao das ondas, com a seguinte diferenga: as ondas agem em toda a sua extensio, enquanto que as aguas da maré, principalmente vazante, refluem em zonas preferenciais, dando ori- gem a sulcos ¢ canais. Nestes podem for- mar-se correntezas relativamente fortes que trabalham 4 maneira de um rio submarino, capaz de remover e transportar grande quan- tidade de material. ‘A influéncia das marés é bastante ativa nas zonas de mangue, isto é nas regides baixas de beira-mar, que séo cobertas por digua na preamar e descobertas na_baixa- mar. Nas regides profundas, 0 efeito das marés pode ir até 1,000 metros abaixo do nivel do mar. & freqiiente dar-se o desgaste de cabos telefénicos submarinos, que se atri tam contra o fundo, gracas & forca das marés propagada as partes profundas do mar. Correntes marinhas. — As causas princi- pais das correntes marinhas so agrupadas em duas categorias: as intrinsecas a agua do mar e as extrinsecas, As causas intrinsecas so representadas pela temperatura e salini- dade, fatores estes que fazem alterar a den- sidade da Agua, tornando-a mais pesada ou mais leve. Por outro lado, a flutuagao da propria salinidade ¢ conseqiiéncia de causas extrinsecas, como, por exemplo, 0 vento, a chuva e a congelagdo nos polos. Quanto ds causas extrinsicas, consideram-se 0 vento, as presses barométricas e a forga das mares. Ha ainda a considerar dois tipos de forgas que modificam a diregio das correntes. Uma @a forga de Coriolis, andloga 4 do vento, ja vista anteriormente, e outra € a exercida pelo atrito da gua contra si mesma, ou contra as partes sOlidas. Imensos volumes de 4; aicham-se em circulagdo, sendo que a conhe- —=Correntes quentes Correntes frias cida Gulfstream movimenta em certos trechos muito mais agua do que todos os rios do mundo reunidos. Sua velocidade média € de Skm por hora. A quantidade de agua é tao grande que o nivel do mar na costa ocidental da Florida se acha 18cm mais elevado em re- lagao A costa voltada para o mar aberto. ‘A capacidade transportadora das correntes € por isso consideriivel, podendo ser trans- portados troncos, plantas e detritos mine- rais a grandes distancias (fig. 8-10). Outro tipo de correnteza de importancia geolégica, embora se trate de corrente local, a chamada corrente de densidade. Quan- do a gua se acha com grande quantidade de detritos finos em suspensao, a sua den- sidade aumenta, Havendo declividade sufi- ciente, da-se 0 movimento para baixo desta massa mais densa. Outras vezes verifica-se 0 deslizamento rapido de massas de agua que se impregnam rapidamente de detritos finos. So as correntes de turbidez. Estes tipos de correntezas explicam a formagio dos ca- Fig. 8-10 As cosrentes marinas quentes, bem proxi cedem da Gulfsiream, que exerce grande influéncia no clima de toda aquela regido. was da regido polar, ao norte da Escandindvia, pro- A. diregio contriria em ambos os hemisférios dé-se gragas 4 bifurcaglo das correntes equatoriais, 181 nhdes submarinos, embora haja diversas outras teorias a respeito. As primeiras séo, contudo, as mais aceitas. A diregao das correntes submarinas inde- pende das correntes superficiais. Conforme a diregdo ¢ intensidade dos ventos numa regido qualquer, pode dar-se o caso de duas correntes superpostas terem diregdes diver gentes. As grandes correntes submarinas sio provocadas pelas diferengas na densidade da gua, que por sua vez resulta da diferenga de temperatura ¢ de salinidade. O grafico da fig. 8-9 mostra-nos a diferenga de sali- nidade segundo a latitude. A razio desta mudanga reside na maior pluviosidade na regido equatorial e nas calmarias, que fazem diminuir a evaporagdo. Como € muito gran- de a extensio dos oceanos, nao ha tempo para que seja atingido 0 equilibrio entre as massas de pesos diferentes, nunca cessando © movimento das correntes. Além disso, @ constante alteragao do regime dos ventos faz com que as correntes maritimas estejam sempre em atividade. Durante 0 percurso das correntes polares para as regides mais aquecidas, i se a mistura da Agua fria com a quente, A mistura aquecida volta as re- gides frias, estabelecendo-se o ciclo. As Aguas frias das regides antirticas podem atingir regides equatoriais. Estas figuas frias vem do fundo do mar altamente enriquecidas em elementos mine- rais indispensaveis ao desenvolvimento do microplancto, razio pela qual ¢ grande a intensidade da vida nas regides frias dos oceanos, onde a Agua emerge e onde ha me- nor precipitagio pluviométrica, que diluiria a concentragao destes elementos, titeis a vida plancténica. Muitas vezes ocorrem flutua- gGes climéticas que determinam mudancas na diregao das correntezas, podendo cessar temporariamente a subida da agua fria, rica em sais, Isto determina grande mortandade destes organismos, formando-se verdadeira chuva de restos mortos. Este fenémeno ex- plicaria a ocorréncia dé jazigos ricamente fossiliferos, freqiientes em sedimentos mari- nhos do passado. A velocidade das corren- 182 tes marinhas é geralmente pequena, cerca de cm por segundo. Mas, mesmo assim, elas ainda sdo capazes de retrabalhar a lama fina do fundo marinho e transportar particulas finissimas. Outro fator de grande importancia é a influéncia das correntes marinhas no clima. Sabemos que a Gulfstream leva agua quen- te a altas latitudes, tornando o clima mais ameno e permitindo o desenvolvimento de animais caracteristicos dos mares quentes, como os corais, cujos recifes so encontra- dos nas Bermudas. O clima do norte da Inglaterra e de parte da Escandindvia é bas- tante influenciado pela Gulfstream, assim como a Florida, cujos coqueirais 4 beira- mar evidenciam a amenidade do clima. Muito interessante ¢ 0 regime de corren- tezas no estreito de Gibraltar. Sendo gran- de a evaporaco no Mediterrineo, a agua do Atlantic entra por cima para suprir a que foi evaporada. Por outro lado, 0 au- mento da salinidade das 4guas do Mediter- raneo determina uma maior densidade, re- sultando num movimento contratio na parte inferior do estreito. Assim, a agua entra por cima (gragas 4 evaporacao) ¢ flui para o Atlantico por baixo, numa corrente de 2 mi- Indes de metros ciibicos por segundo, gra- gas & maior densidade decorrente da evapo- ragdo, Durante a Segunda Guerra Mundial os submarinos alemaes se aproveitavam des- tas correntes para entrar ou sair do Medi- terrdneo sem serem pereebidos, com os mo- tores desligados. Outra correnteza que merece ser mencio- nada é a que se desloca no fundo do Atlin- tico, de sul para norte. Origina-se da alta densidade da agua dos mares da Antartida, pela baixa temperatura e alta salinidade. Esta é condicionada pela congelacao da Agua, pois & fato sabido que os sais dis- solvidos nio entram na composicao do gelo. Assim, esta agua mais fria ¢ mais rica em sais dissolvidos percorre desde a Antirtida até as proximidades da Nova Escécia, di- minuindo cada vez mais, durante 0 seu per- curso, o excesso de salinidade. E grande a importancia biolégica destas correntezas, gracas ao transporte dos sais minerais neces- sirios ao desenvolvimento da vida planet nica, da qual depende a vida dos animais de maior porte (peixes, cetdiceos, etc). Erosio marinha. — Os efeitos do desgas- te mecfinico localizam-se principalmente na regido costeira, onde a costa € abrupta, cha- mada de costdo, falésia, ou cliff, pelos ingle- ses. A fig. 8-11 e a Prancha 13 exemplifi- cam este tipo de costa, tratando-se de uma paisagem bastante comum nas costas das re- gides sulinas. Nas praias, o efeito erosivo minimo ou quase nulo. Nos costdes, con- tudo, verifica-se um grande e brusco impac- to, sendo transformada a energia da onda em trabalho erosivo, o que ndo se da nas praias, onde as ondas se quebram e se per- dem mansamente nas areias. A agua fre- qiientemente carregada de areia penetra nas fendas, que aos poucos se vo tornando ca da vez mais fundas, até que afrouxa e des- Joca enormes blocos de rocha. Estes, na época das ressacas, so jogados a grande distincia. Com 0 embate das ondas no cos- tao, as aguas levantam-se até quase 0 dobro da altura original, gragas 4 decomposigéo da forca horizontal da onda. A componen- te vertical, embora bastante diminuida, pode tornar-se considerdvel, A fig. 8-12 da uma idéia da violéncia destas grandes ressacas, que eventualmente se dao na baia da Gua- nabara. Muitas vezes no costio do Ar- poador (Rio de Janeiro), seixos do tama- nho de um punho sio projetados até 20 me- tros acima do nivel do mar. No fundo, os blocos sio movimentados ¢ tornam-se rapi- damente arredondados. Os fragmentos de pedra britada de granito do tamanho de um punho, jogados no costao do Forte de Co- pacabana, perderam suas arestas vivas em um ano ¢ se transformaram em seixos bem arredondados apés 3 anos apenas. Na altura do nivel médio da agua, as ondas, carregadas de areia, esculpem lenta~ mente caneluras, que em alguns lugares se alargam em verdadeiros poriées, como ve- Fig. 8-11 Costiio tomado por gnaisse na entrada da bs Guanabara, mos na fig. 8-13, A canelura formada pela rebentag&o aprofunda-se continuamente € @ rocha superior a ela, passivel do diaclasa- mento € decomposigao, cai com o tempo, gragas a falta de apoio. Forma-se, assim, uma faixa de blocos e fragmentos de rochas na frente do costo. Tais caneluras acham- se representadas na fig. 8-14, onde vemos também os blocos espalhados, que se for- maram pelo mecanismo citado. O vaivém incessante das ondas faz com que os blocos se vaio reduzindo a areias, desta maneira © mar continua dilapidando os costées ¢ avangando continente adentro. Num estadio ja mais avangado a configuracdo da costa é semelhante 4 da fig. 8-15C. Ao patamar formado por este processo di-se © nome de plataforma de abrasao. A velocidade da erosio da costa va- ria, dependendo da resisténcia oferecida pela rocha, da intensidade com que as ondas batem e do Angulo formado pelo paredio com a diregio do embate das ondas. Certos costes que ocorrem no mar Biltico, constituidos de till pouco coeren- te, recuam anualmente 20cm. A fig. 8-15 mostra as diferentes formas de costas em fungi da estrutura e do grau de coeréncia das rochas atacadas pelas ondas. Assim é que, quando a costa for clevada em relacdo 183 Fig. 8-12 Uma das grandes ressacas observadas na praia do Flamengo, Rio de Janeiro, onde s@ pode notar violéncia do impacto das ondas, que se tornam altamente destrutivas, causando, por vezes, sérios danos ao homem (seg. foto de O. H. Leonardos, tirade em 1924), 4 praia, com um talude suave rumo ao mar, as ondas terminam calmamente 0 seu per- curso. Uma larga plataforma de abrasdo amortece as ondas, atrasando o avanco do mar. ‘A costa rasa, ou praia, tomada num sen- tido amplo, representa um estidio de equi- librio entre erosio e sedimentago. Sua po- sigdo geogrifica em relago ao continente acha-se representada na fig. 8-16. Caracte- riza-se principalmente pelo fato de ser afe- tada pelas marés ¢ pelo efeito da arreben- tagdo das ondas. Sua largura vai depender da amplitude das marés ¢ da declividade 184 do terreno, A regidio intermediaria € atin- gida muito raramente pelo mar, somente nas ocasides de marés anormalmente altas. Constitui-se principalmente de seixos rola- dos ou de areia. Paralelamente & costa, no mar raso, formam-se barras sucessivas, in- terrompidas por sulcos e canais. Segundo PASSARGE (fig. 8-17) distinguem-se as seguin- tes zonas numa costa rasa: 1 — Zona onde as ondas sdo representadas, barradas em seu percurso, gragas a diminuigio gradual da profundidade da agua. 2 — Zona de reben- taco, onde é formado um canal tendo logo acima um dique. O canal é formado pelo turbilhdo que se forma pelo arrebentamento da onda, ¢ 0 dique adjacente, logo acima, forma-se pelo refluxo das aguas que carre- gam as areias, Estas acumulam-se junto a0 canal, formando uma verdadeita barragem. 3 — Zona sobre a qual as ondas, chamadas secundarias, formadas apés a tebentacao, correm rumo ao continente. Nesta zona os grdios de areia acham-se em continua mo- vimentagio, agitados pelas ondas. 4 — Zo- na de rebentagio direta das ondas secundé- rias por sobre as praias, dando-se a seguir 0 refluxo da agua para o mar. Esse refluxo pode ser violento, rapido, conforme o esta- do de agitagao do mar, constituindo um pe- rigo para os nadadores incautos. ‘Numa praia ocorrem fendmenos de cons- trucdio e destruigao. Na época das ressacas predomina a destruigio, sendo grande a quantidade de agua que avanga por sobre as praias, ampliando muito a intensidade da corrente de refluxo carregada de areia ¢ sei- xos. O continuo vaivém das ondas seleciona os grdos ou os detritos, existentes nas praias, segundo 0 peso, os mais leves sendo carre- gados, ficando os mais pesados geralmente Fig. 814 Erosio marinha em conglo- merado © arenitos calcarios recentes da Ilha Fernando de Noronha, tendo-se tor- mado profunda canelura no eonglomerado, que se situa rna base do bloco em vias de erosio, A existéncia de cal- frios marinhos elevados em telagio 20 nivel do mar in- ttos) da regio (capitulo 14). Espalhado no chido encon- tra-se um grande numero de blocos em vias de darem (foo de FM. de Almeida), Fig. 8-13 Efeito da erosio marinha em rochas vuleénicas da Tha Fernando de Noronha, tendo sido aberto um porto, ou por ter sido o embate das‘ondas mais in tensivo, ow por se tratar de uma tegido de maior fra queza das rochas (foto de F. M. de Almeida), dispostos sob a forma de corddes. Estes sio geralmente constituidos de seixos, ou restos de conchas ou de areia de minerais mais densos, como ilmenita, monazita, ete. Fig, 8:15 Diferentes tipos de costas segundo @ sua constituigdo litolégica ¢ segundo 0 grau de erosio. AE 0 tipo que encontramos nas nossas costas gndissicas ou graniticas do Espirito Santo, Rio de Janeiro e parte dos Estados mais sulinos. Trata-se de um estidio jovem de crosio, gragas a afundamentos recentes da costa. B — Costdo que encontramos nas nossas costas, quando onstituidas pela Formagio Barreiras. Acham-se representados argilas, arenitos € um leito de conglo- metados. C— £ 0 mesmo caso de A, num estidio mais maduro, mais avangado. Encontramos este tipo de costa entre Santos ¢ Cananéia, Estado de Sio Paulo, onde ocorrem extensos depdsitos quater- narios de antigas praias Atividades construtivas do mar ‘Com excegdio das pequenas areas ja cita- das, onde a rebentacio e correntes impedem ‘a sedimentagdo, a deposigao verifica-se em toda a Area ocupada pelo mar. Conforme a regido marinha, contudo, ha grandes va- riagdes na intensidade ¢ qualidade da sedi- mentagio. Os componentes dos depésitos podem ter origem clastica, organica ou qui- mica. A quantidade anual de substancias dissolvidas que entram no mar é de 3 bi- thdes de toneladas, segundo cilculos de Ctarx, Em cem mil anos apenas, tempo muito curto geologicamente falando, a con- 186 centracgdo dos iontes de calcio e de silica se- ria duplicada. Dai, conclui-se que estes com- postos sio precipitados, pois, caso contré- tio, deveriam ocorrer em concentragao mais elevada, Componentes clisticos. — Procedem nor- malmente das regides continentais, sendo levados ao mar pelas dguas fluviais, gelo, vento ou pela erosio marinha na costa. As correntes marinhas possuem sua maior for- ga transportadora nas regides superiores da gua e perto das costas. Por este motivo, com o afastamento da costa diminui 0 ta- manho do material clistico como mostra a i} Regio costeira ou litorénea ——___________» i=-Regido continental > Costa > <— Plataforma continental ! 1 Regio intermediéria Zona atetada pela rebentagao Regizio mais elevada ‘ocasionalmente afetada pelo mar Fig. 8:16 Partes da regiio costeira, intermediaria entre o continente © o mar. Estas partes deixam de existir nas regides onde 0 mar se acha em contato dircto com o continente, como & o caso da fig. 815A, Observemos que a largura da praia @ funcio da declividade do terreno © da altura da maré (seg. Valentim, mod.) ee praiana Fig. 8-17 Grifico das quatro zonas existentes numa costa rasa, segundo explieagdo do texto. A escala vertical esti exagerada a fim de destacar os acidentes descritos (seg. Passarge, mod.) fig. 8-18. A deposigao atual dos seixos no ximos a ios, que fornecem grande parte mar verifica-se em profundidade maxima dos detritos arenosos. Muitas vezes di-se a ‘de 10 metros, até 20km de distdncia da coalescéncia de imimeras restingas, 0 que costa, As areias sao levadas ¢ distribuidas determina 0 aspecto estriado de muitas por sobre toda a zona neritica. Nas regides _praias do litoral fluminense. Estas estrias, batiais € abissais deposita-se somente mate- _paralelas & linha da costa, séo muito bem rial mais fino. visiveis quando observadas do alto, ou em Dependendo das condigdes de transporte fotografias aéreas tiradas ao redor de mil € de deposicio, as cortentes marinas pa- metros de altura ralelas a costa podem formar depésitos alon- Ha casos de deposigdo anormalmente ra- gados, que recebem o nome de restinga. pida. Assim, a extremidade nordeste da Formam-se de preferéncia nos locais pré-. ilha Comprida, sp, cresce ao redor de 50 187 Connecticut —pz Linhas Isobaticas ‘Seixos ou sedimentos seixosos. ——— Areia Areia esilte Silte e argila Fig. 818 Distribuigdo dos diferentes tamanhos de sedimentos segundo a profundidade e distancia da costa, no lado leste dos E.U.A. Note-se a grande predominancia de areia e seixos nas pro- ximidades da costa, assim como a exclusividade do silte e argila nas partes mais distantes & mais profundas. A presenga de grande quantidade de sedimentos finos no golfo situado entre Long Island ¢ Connecticut deve-se @ auséncia de correntes fortes e provavel floculagao da argila trazida pelos rios que desembocam no golfo. Interessante & a formagio da extensa lingua de areia ¢ silte formada na desembocadura do rio Hudson (seg. Shepard et al.) metros por ano, segundo observagdes de Fernando M. de Atmempa. A causa desta deposigio rapida reside na abertura artifi- cial de um canal que ligava o Ribeira de Iguape ao mar, situado proximo a Iguape. Com a nova desembocadura o rio passou a desgastar rapidamente as suas margens abertas ha cerca de um século, alargando-a consideravelmente e ocasionando a intensa deposicdio citada. Segundo a observacaio de mapas antigos desta regido litordnea, con- clui-se que © crescimento da ilha Compri- da em condigdes normais, antes da abertu- ra do canal, foi de 20 metros por ano. 1) Se1xos. — Os fragmentos de rochas maiores que 2mm se apresentam normal- mente arredondados, com uma certa predo- mindncia de formas elipsdidicas se a rocha 188 for homogénea. Se a rocha for xistosa ou apresentar fraturamento pronunciado, a ten- déncia da forma sera para discdide, achat da, ou alongada. As formas angulosas in cam que os fragmentos foram transportados por deslizes subaquiticos, por gelo flutuan- te, raizes ou algas. Estas comumente se fi- xam em seixos, crescem muito, conforme a espécie, ¢ nas ocasides de tempestades, de grande agitagdo do mar, sto arrancadas do local, sendo transportadas a longas distn- cias, junto com os seixos, que poderao ser depositados longe da costa. Fragmentos pi- roclisticos de vuledes continentais subma- rinos apresentam também formas dsperas, sendo, contudo, rapidamente arredondados, por tratar-se de material pouco resistente a0 desgaste Quando © mar avanga sobre o continen- te, no caso de estar este em vias de afun- damento epirogendtico, o depésito de seixos migra‘ continente adentro, acompanhando a linha da praia. Os seixos depositados ante- riormente vao sendo sepultados pelos sedi- mentos mais finos, caracteristicos de regides mais profundas. Forma-se, desta maneira, © conglomerado de transgressio ou conglo- merado basal, pelo fato de constituit a base de um conjunto sedimentar marinho, for- mado pela invasio do mar quando o con- tinente se afunda. 2) ARéla. — Consiste de gros de 2 a 0.2mm de didmetro, Predomina 0 quartzo, por ser mineral mais resistente entre os minerais comuns. Os grios mostram-se ar- redondados até 0,15mm, aproximadamente, gragas ao vaivém continuo das ondas. Os grdos menores que 0,15mm nao possuem peso suficiente, quando imersos na gue para que se dé o desgaste pelo atrito com 0 outros graos. Além disso, a prdpria ten- sdo superficial da dgua protege 0 grao con- tra o impacto, impedindo 0 seu arredonda- mento, © mesmo nao acontecendo com os gros eélicos, como ja vimos. Se tomarmos a areia de uma praia e a observarmos sob uma lupa de forte aumento, de preferéncia sobre um fundo preto, veremos o brilho lus- troso dos grdos de arcia, sejam de quartzo ow de qualquer outro mineral. As carapacas de microrganismos, por serem geralmente de carbonato de calcio, substdncia de peque- na dureza, em pouco tempo sio gastas ¢ dissolvidas. © feldspato é raro, por ser um mineral de facil decomposigao quimica e facil clivagem. A redugdo do volume deter- mina o aumento da superficie relativa do contato com os agentes de ataque, acarre- tando o seu rapido desaparecimento. Nos lugares de rapido desgaste mecdnico e ri- pida deposigdo (como em lugares escarpa- dos, como préximo ao Pao de Agticar, Rio de Janeiro) nfo ha tempo suficiente para que se dé a decomposigao quimica dos felds- patos, sendo entdo possivel 0 seu acumulo. Também em climas frios ou dridos, ambien- tes improprios a alteragdo quimica, o felds- pato € acumulado entre os graos arenosos. O arenito resultante da consolidagdo destas arcias feldspatticas recebe o nome de areézio. A muscovita é um componente comum nas areias, por ser inalteravel e por ser um mi- neral bastante comum. Em certos casos da- se a concentragiio de certos minerais titeis, de maior densidade. Tal € 0 caso das con- centragdes de monazita nas praias do Espi- tito Santo e Bahia. Outras vezes, concen- tram-se a ilmenita, a zirconita granada turmalinas, dependendo da rocha em vias de desagregac3o durante a formagio da areia. A fig. 8-19 mostra os histogramas das andilises granulométricas das areias de algu- mas das praias do Rio de Janeiro. Po- demos ver que a grande maioria delas se apresenta bem selecionada quanto ao ta~ manho dos graos, fazendo excegdo a praia de Ramos e do Leblon, onde a selegdo nao €tdo boa. Vemos também que a maioria dos grdos possuem um didmetro de 0,2 a 0,8mm. O ultimo histograma da direita, embaixo, re- presenta uma areia de tio, de menor sele~ a0, maior mistura de classes de tamanhos, para efeitos de comparagao. 3) SILTE. — Os gros de 2 a 20 micros, ou de 4 a 62 micros de didmetro, depen- dendo da escala adotada, recebem a desig- nagdo de silte. Os minerais que formam o silte podem ser os mesmos que formam a areia. Diferem apenas no tamanho, o mes- mo se dando com os minerais das argilas, que passaremos a deserever. 4) ARGILA. — Sob o ponto de vista gra- nulométrico, isto é, do tamanho dos com- ponentes, as argilas so formadas de gra- nulos menores que 2 ou 4 micros, conforme a escala considerada. Como pode variar a composigio mineralégica, Granav propos © termo lutito para designar, de um modo genérico, todos os sedimentos nos quais predomine este tamanho de particula. Se predominar 0 carbonato de calcio, a desig- nagdo sera de calcilutito; se for 0 quartzo, 189 Granulometria de areias do Estado da Guanabara Praia de Copacabana Praia de Ipanema Praia do Arpoador Praia da Bica Praia de Ramos soe 50% 40% 40% 08 3% 20% 20% . Wh. . oe =o oe Vermetha Pris de Praia da Lagoa Praia do Leblon ‘Anchiota xa Sepetiba Rodrigo de Freitas (ard te) goy 40% 48 30% 308 208 20% ws I “0 os sox op, EEESSSEE EESQRLIES GeegRCTEE ggggacess e2RsR223e mm §ESSS55 NOSSSSSSS cocssdSas NaSSoSsSS uaasoesSS Fig. 819 Distribuigdo granulométrica das arcias de algumas praias do Rio de Janeiro (as classes referentes aos difimetros no seguem as es las geométricas convencionais), onde se nola a alta selegio c @ ge predominancia de grics de 0,2 2 0,8mm de didmetro (seg. S. F. Abreu). finamente subdividido, tratar-se~a de um si- licilutito, e, finalmente, se a predominancia for dos minerais argilosos, o que € mais fre~ giiente, o termo seria argililutito. J4 vimos no capitulo sobre o intemperismo, os cha- mados argilo-minerais (silicatos hidratados de aluminio, podendo ser potassicos), for- mados pela decomposigao de feldspatos ¢ outros silicatos, Pela sua ficil desagregagao laminar, estes minerais tornam-se finissimos, indo constituir as argilas, juntamente com outros minerais, inclusive 0 quartzo_fi- namente subdividido, além de minerais for- mados apés a sedimentagio das particulas argilosas, como calcita, pirita ou outros. Estes sio os minerais autigenos, forma- dos no local, ao contririo dos detriticos, que sao desagregados, quebrados, transpor- tados e depositados. As argilas que ocorrem nos mares podem conter finissimos fragmen- tos de quartzo, feldspato, mica, além dos ja citados argilo-minerais, como caulim, haloisita, montmorilonita, ilita, ete. Os mi- 190 nerais das argilas si produtos da decompo- sigdo quimica das rochas continentais, sendo depois transportados para 0 mar. Denomi- nam-se também pelitos (do grego pelos, lama). Os fragmentos de rochas ou mesmo de quartzo, finamente triturados por pro- cessos mecAnicos, sio denominados alfitos (do grego alphiton, farinha). Assim, uma argila pode ser mais rica em pelitos se pre- dominar material proveniente da decompo- sigdo continental de regides tropicais ¢ umi- das. Os alfitos predominam quando o ma- terial ¢ proveniente de desintegracao fisica, como nas regides aridas de um modo geral, incluindo as regides glaciais. 5) Turpipiros. — Sdo assim designados os sedimentos que resultam do transporte de correntes subaquiticas de lama mistura- da com grios de areia, restos de conchas, carapacas diversas, etc., fato que tanto po- de dar-se no mar como em lagos continen- tais. Em se tratando de uma corrente suba- quatica de turbidez, o sedimento resultante recebe 0 nome de turbidito, nome j4 intima- mente arraigado & nomenclatura geolégica. tal a importancia deste tipo de sedimento, tanto no passado geolégico, como no pre- sente. A principal causa destas correntes re~ side no aciimulo da lama rica em detritos argilosos e arenosos nos taludes dos conti- nentes ou dos lagos, sendo suficiente uma declividade de apenas | a 2 graus para a su- perficie onde a lama vai-se acumulando. A agio da gravidade sobre a lama acumulada numa superficie inclinada determina uma componente no sentido da inclinagaio. Seja por causa de abalos sismicos periédicos, seja pelo aumento da carga, ou ainda, por outros fatores adicionais, toda esta massa perde a estabilidade e desliza de uma vez, espalhan- do-se uniformemenie por sobre uma superfi- cie que pode ser de muitos milhares de qui- lometros quadrados. Gragas & maior densi- dade da lama que desliza, cuja velocidade pode atingir até 80km por hora, torna-se possivel o transporte de seixos maiores que um punho, que vao assim associar-se a se~ dimentos finos. A cada avalancha corres- ponder uma camada, cuja principal carac~ teristica ¢ a de apresentar uma gradagdo na granulago, com os gréos maiores na base, ¢ os finos no topo da camada. Estas so deleadas, de 10 a 30cm de espessura, mas 0 conjunto costuma atingir muitas cen- tenas de metros. Trata-se de um tipo de se- dimento muito comum nos Alpes, nos Ape~ ninos ¢ nos antigos lagos glaciais do Sul do Brasil, assunto estudado por J. E, S. FAR- JALLAT. Gragas aos estudos modernos sobre o fundo dos oceanos sabe-se que 80 milhdes de quilémetros quadrados acham-se afeta- dos pela sedimentagdo de origem glacial. Sao encontrados blocos erriticos transpor- tados por icehergs até as ilhas dos Acores Vastas areas do Atlantico norte acham-se cobertas de seixos oriundos da glaciagdo pleistocénica, muitos dos quais devem seu transporte as correntes de turbidez. Du- rante as épocas glaciais foi de grande inten- sidade a fregiléncia deste tipo de corrente, gracas ao incremento de material detritico acumulado, oriundo da erosio glacial. ‘Componentes de origem iénica. — O mar recebe continuamente sais dissolvidos tra- zidos pelos rios. Apesar da grande facilidade da homogeneizagdo dos sais na agua do mar, a sua precipitacdo limita-se a certas condi des, freqiientemente locais, Os principais jontes dissociados na agua do mar esto ci- tados na tabela 8-6. TameLa 86 Quantidade em gramas por tonelads dos principais iontes existentes na gua do mar Concentragaio Tontes eae 19,360 10.770 2.701 1.298 408 387 128 66 7 4 I ToraL 35.160 (Seg. S. POLDERWAART, Special Paper, 62, Geol. Soe. of Am., £.U.A., 1995.) CARBONATO DE CALCIO. ~ Sua precipi- tagdo € fendmeno muito complexo, depen- dendo do equilibrio entre iontes de HCO; e de calcio, sendo este regulado pelo teor em CO, da agua que pode diminuir, gragas as atividades biolégicas vegetais (fungio clorofiliana), limitadas a profundidade de 50m como j foi explicado anteriormente. Nas regides mais profundas do mar, o teor de CO, pode aumentar com as atividades respiratorias dos animais, principalmente quando a renovacio é dificil ¢ lenta. Au- mentando a temperatura, diminui a solubi- lidade de CO, na agua, diminuindo desta 191 maneira a solubilidade do CaCO,. Por ou- tro lado, a pressio hidrostatica aumenta a dissolugio do CO,, aumentando assim a solubilidade do CaCO, em cerca de 3% para cada 1,000 metros de profundidade. Desta maneira, as aguas das regides frias e profundas, ricas em CO, sob a forma de H,,CO, dissociado em iontes H* e HCO,~, mantém em dissolugio 0 carbonato de calcio, sob a forma soliivel de bicarbonato de calcio. O mesmo nao se da nas aguas de regides quentes ¢ superficiais. Enquanto que nas regides frias e profundas se da a disso- lugdo das carapagas caledrias, nas superfi- ciais e quentes verifica-se 0 fenémeno con- trario, ou seja, 0 da precipitagao do bicar- bonato sob a forma de carbonato, dando-se © desprendimento de gis carbénico. Este fendmeno ocorre somente nas regides fe chadas, ou de pequena circulagio da agua € pequena profundidade, para que se man- tenha a alta temperatura das zonas supe- riores, Se houver fragmentos finamente sub- divididos de caleario de origem organica, como restos de conchas, estes poderiio ser- vir de germe de cristalizagdo, verificando-se entio a precipitagio de calcarios. Também a atividade planct6nica pode provocar, pelo seu metabolismo, a subsaturagéo de CO, ¢ consegiiente precipitacao de caledrio. Nem sempre ¢ possivel distinguir-se um calcirio formado por processos inorganicos de um organico. Exemplo muito interessante de precipita- do quimica atual de carbonato de calcio, sob a forma de aragonita, ocorre na regitio das Bahamas. Uma extensa rea de 100 mil km? constitui uma plataforma rasa, de fun- dochato e bordos bastante escarpados. A profundidade é de 2m em média. A base ro- chosa deste platd submarino ¢ constituida de um calcdrio duro, formado em condigdes subaéreas, ¢ sobre ele deposita-se 0 carbo- nato de calcio sob a forma de aragonita, formando pequenas esferas que crescem em camadas concéntricas. Recebem a denomi- nagdo de odlitos (do grego von, ovo, por se parecerem a ovos de peixe). A pequena 192 | profundidade determina um maior aqueci- mento da ‘gua e a forma chata do imenso banco impede a rapida remogho da agua, resultando na precipitagdo quimica do car- bonato de calcio, gragas principalmente & perda de CO,. O bicarbonato de cilcio so- lavel é sempre renovado pelas correntes frias que, a seguir, penetram pelo banco, perdem a velocidade e se aquecem, continuando sempre a precipitagaio. Sinica. — A Agua do mar possui apenas 2mg por litro de silica que € aproveitada pela vida organica. Tanto plantas (diatomé- ceas) como animais (radiolirios e espon- jas) formam esqueletos de silica sob a for- ma de opala, que podem sedimentar-se apos a morte do animal. MINERAIS DE FERRO. — Compostos de fer- ro ocorrem em muito pequena escala na Agua do mar, cerca de 20mg por m*. Apesar de to pequena quantidade, podem provo- car mudangas na coloragio dos sedimentos marinhos. Em casos espéciais geram-se mi- nerais a partir dos compostos de ferro, For- ma-se desta maneira a pirita, FeS,, nos am- bientes pobres em oxigénio, onde as bacté- rias anaerdbias produzem o H,S. Este, forte redutor, reduz os Oxidos de ferro a pirita. Isso se dé em ambientes fechados, onde nao ha circulacdo da 4gua nos fundos, como & caso do mar Negro. Outro mineral de fer- ro de grande importancia geolégica é a glauconita, hidrossilicato complexo, prin- cipalmente de K, Fe e Al. E um mineral verde, de estrutura cristalina, similar 4 da mica, que se forma exclusivamente em re- gides marinhas, principalmente neriticas (salvo rarissimas excegdes). Dai a sua im- portancia geoldgica. Tratando-se de um mi- neral relativamente estavel, pode ser en- contrado em sedimentos do passado, permi- tindo ao estudioso classificar 0 sedimento como marinho. Os minerais que se formam no proprio ambiente de deposigao, isto é, sem ter sofrido transporte como a glauco- nita e a pirita sio, como jé vimos, chama- dos de minerais autigenos. Sendo a glauco- nita um mineral autigeno possuindo o potassio na sua composi¢ao quimica, € um dos poucos minerais que se prestam a da- tagdo geocronologica das rochas sedimenta- res, 0 que j4 foi executado por G. AMARAL, nos sedimentos perfurados na ilha de Mara- 6. datados como miocénicos, idade com- provada pelos foraminiferos estudados por S. Perri. A limonita, hidroxido de ferro e a siderita, carbonato de ferro, originam-se em condigSes especiais, dependendo das condigdes de oxidagdo ou redugdo do am- biente. Formam-se muitas vezes em grandes quantidades, como as ocorréncias da Lore- na (Franca) ¢ talvez as jazidas de Urucum (Mato Grosso) e de Minas Gerais, ja meta- morfizadas Néputos DE MANGANES. — Em 1873 a Expedic&o Challenger descobriu a existén- cia de nédulos ricos em éxidos complexos de manganés associados a ferro e outros elementos no fundo dos oceanos. Mais tarde verificou-se que estes nodulos acham-se es- palhados pela superficie dos trés grandes oceanos, Atlantico, Pacifico ¢ Indico, sendo estudados com mais pormenores no Pacifi- co. Calcula-se a existéncia de um trilhdo de toneladas somente neste oceano, 0 que cons- titui uma reserva em potencial, para o futu- ro, Ja existem estudos visando a exploracdo destes nédulos, por meio de dragas especiais de succdo. Os nédulos cobrem algumas cen- tenas de milhdes de km?, numa concentragdo que varia de | a 50kg de nédulos por metro quadrado. Variam em tamanho de 1 a 3em de didmetro, podendo atingir ocasionalmen- te 25cm. O maior até agora observado pesa 850kg. Formam-se pela precipitago dos compostos de manganés provindos das aguas continentais, podendo haver influéncia do vulcanismo suboceanico, que faria aumentar a concentragao local. A precipitagaio pode ser auxiliada por certas bactérias, enquanto que complexos himicos mantém os iontes de manganés em solugdo. Além deste cle- mento, que ocorre nos ndulos numa propor- cio média de 25%, ocorrem ainda o ferro (17% — valor médio), cobre (0,2% a 0,5%), niquel (1%), calcio (2%), silicio (10%), € outros mais, predominando os Oxides hi- dratados complexos. FOsrato DE CALCIO. — Os fosfatos, de um modo geral, possuem grande importan- cia pelo fato de serem imprescindiveis & vida, tanto animal como vegetal. Nas re- gides neriticas ¢ talvez litordneas 0 fosfato de cdlcio pode precipitar-se sob a forma de colofana, dahllita ou apatita. A precipitagao realiza-se sob a forma de pequenos globu- los milimétricos que podem variar na com- posigio, As vezes sio amorfos ¢ de dificil identificagao. Recebem a denominagao ge- nérica de fosforitos. Muitas vezes originam- se de coprélitos, que sfo excrementos de di- versos animais marinhos. Os depésitos de minerais fosfiticos de origem marinha po- dem formar em certas regides bancos ¢s- pessos, Assim se originaram as grandes jazidas da Africa do Norte no fim do Me- sozdico, como também as ocorréncias de Olinda, Estado de Pernambuco, no fim do Cretaceo. Trata-se de um excelente adubo, pois pode ser aplicado diretamente ao solo, niio necessitando tratamento quimico pré- vio, como no caso da apatita, que precisa ser solubilizada pelo acido sulfirico. SAL-GEMA. Em condigées favoraveis de evaporagio, © mar precipita também 0 clo- reto de sodio, e, raras vezes, os compostos de potassio. Este processo € similar ao ar- tificial, usado pelo homem, quando extrai sal nas salinas de Cabo Frio ou Rio Gran de do Norte (fig. 8-20). Dependendo das condigdes geogrificas, a gua do mar pode ocasionalmente invadir depresses marginais isoladas ou semi-isola- das, separadas do mar por uma barra. A evaporagiio intensiva causada pelo sol e pelo vento determina a concentragio dos sais, deixando-os cristalizar lentamente. A inva- 193 sfio periédica da gua do mar pela barra e a evaporagaio continua na laguna podem pro- duzir depésitos espessos de sal. No Permia- no da Alemanha ocorrem depésitos salinos com 300 2 500 metros de espessura (minas de Stassfurt). Possivelmente as camadas de sal encontradas em sedimentos do Cretiiceo a centenas de metros de profundidade em Cotinguiba e Carmépolis, se, como as de Nova Olinda (que ocorrem entre 2 a 3 mil metros de profundidade), no rio Madeira, Carbonifero marinho do Amazonas, se te- nham formado pelo mesmo processo. Em ambos 0s casos 0 teor em cloreto de sédio & bastante elevado. Em Sergipe, onde a es- pessura de sal atinge 150m, cogita-se de explorar o sal para a fabricagao de carbo- nato de sédio, composto de grande impor- tancia industrial. Junto as camadas de sal- gema podem ocorrer outros sais naturais, que recebem a designagao genérica de eva- porito. Computados os depésitos profun- dos de evaporitos, que ocorrem em todos os continentes, calcula-se que 25% da area continental ocupada por este tipo de ro- cha. Se todos os evaporitos fossem dissolvi- dos ¢ retornados ao mar, a sua salinidade passaria de 3,5 a 5.0%. A idade dos depé- sitos de evaporitos varia desde o pré-cam- briano superior até ao quaternario. Nao ocorrem no pré-cambriano médio ow infe- rior. Como era de se esperar, entre os eva- poritos predominam largamente os cloretos (de s6dio e potassio) ¢ os sulfatos (anidri- 194 Fig. 8-20 Salinas, rio Cocé, Ceard. As salinas necessitam de regides planas, exten- sais, bem ventiladas ¢ com pluvios dade nio muito elevada, O sal é acumulado em enormes pirtimides, onde fica por um certo tempo a fim de tornar-se seco, fato que se deve & deliqiiescéncia dos sais de magnésio. (foto de J.C. Mendes). tae gipsita), De alta importaricia econémi- ca so os cloretos de potissio (silvita, ear- nalita e outros), que representam preciosa fonte deste elemento quimico. Atualmente acha-se em vias de estudos 0 aproveitamento dos sais de potissio encontrados nas per- furagdes para petrdleo no Estado de Sergipe, junto is camadas de sal-gema. O mecanismo da formaciio de espessuras to grandes de sal-gema & explicado pelo afundamento epi- rogenético da regidio continental, 0 que per- mite o aumento continuo da espessura dos sais precipitados. Componentes de origem orginica. — Os restos organicos desempenham um impor- tante papel na sedimentagao marina. Per- mitem-nos concluir sobre a origem dos se- dimentos, sobre condigdes geogrificas, cli- maticas € biolégicas do pasado. O conjunto de seres viventes que habitam permanentemente ou preferencialmente no fundo mar € denominado bentos. Estes organismos, quando fixos, sio chamados de sésseis; quando rastejantes ou mesmo natan- tes sfio os chamados vdgeis. Um segundo grupo vive livremente na Agua, futuando passivamente, sendo chamado plancto. Os que nadam ativamente sio chamados de necto. Uma parte dos organismos sésseis pode possuir um estiidio temporario planc- ténico, como acontece com as larvas das esponjas ou dos lamelibranquios. A composigdo quimica e estrutura cris- talina das partes duras dos organismos apre- sentam variagées. O material mais comum € 0 carbonato de cdleio, quer sob a forma de calcita, quer de aragonita. Assim, os fo- raminiferos, esponjas caledrias, a maior par- te dos braquidpodes e equinodermos sio constituidos principalmente de calcita, en- quanto que os hexacorais, cefalépodes, algas verdes ¢ certos lamelibranguios se consti- tuem principalmente de aragonita. De fosfato de cilcio, apatita, so consti- tuidos os esqueletos dos braquiépodes qui- tinosos, crustdceos e vertebrados. Os radiolarios, esponjas silicosas e diato- miaceas, possuem esqueleto ou carapaga de silica. A matéria organica, propriamente dita, pode também tomar parte ativa no processo da sedimentaco, assunto que sera abordado no capitulo dos bidlitos. Uma vez estudados os constituintes sedi- mentares dos oceanos, passemos a ver as diferentes zonas marinhas. Nestas, os sedi- mentos apresentam caracteres especificos, de acordo, ndo somente com a zona onde se depositaram. como também com outras condigées, como temperatura, distincia da desembocadura de grandes trios, correntes, ete. Zona neritica. — Esta € geralmente cons- tituida de partes distintas sob 0 ponto de vista morfoldgico, como se vé nas figs. 8-16 e8-17. Esta zona ainda sofre as influéncias do continente. Ai a vida se apresenta de maneira diversificada ¢ intensa, sobretudo nas bordas do talude continental, por onde ascendem Aguas frias ricas em sais nutrien- tes. Seu estudo torna-se especialmente im- portante para as ciéncias geolégicas, consi derando que a grande maioria dos sedimen- tos marinhos do passado, acessiveis a obser- vagdo, sao produtos desta regido. Alm dis- so, quase 10% do fundo do mar & coberto por sedimentos neriticos. A faixa litordnea constitui-se principal- mente de sedimentos arenosos, que em mui- tos lugares podem ser mais siltosos ow argi- losos (v. fig. 818). Sua constitui¢o mine ralégica depende naturalmente da litologia da costa, Nas costas calcirias e com recifes predominard a areia calcaria. Conforme a predominiincia do componente biolégico po- dem formar-se areias coralinas, areias ricas em algas calearias, briozoarios ou lameli- branquios. Muitas vezes a deposicdio de res- tos de conchas é to grande que se formam rochas de espessuras consideriveis, que re- cebem o nome italiano de lumachella. Um destaque especial nas atividades construti- vas merecem os recifes. RECIFES DE CORAL. — So construgées or- ganicas de forma abaulada ou de pilar, de crescimento para cima a partir do fundo do mar. Representam uma associagdo bio- logica de animais ¢ plantas. Atualmente, os principais componentes animais sio os he- xacorais. O ambiente ecolégico dos corais formadores de recifes (deve ser lembrado que nem todos os corais formam recifes, sendo muito freqiientes os de vida isolada) é muito limitado, pois, para que se forme um recife de coral, sio necessirias diversas condigdes, no podendo faltar nenhuma de- las, Assim sendo, necessitam de um substra- to s6lido para a sua fixagéio; a temperatura da agua nfo deve ser inferior a 18° com variagdo anual néo excedendo de 7°, mo- tivo pelo qual os recifes se limitam a faixa equatorial de 32° para o Norte e para o Sul; a Agua deve possuir salinidade normal ; é indispensivel que seja limpida; por este motivo, ndo se formam recifes de corais na frente das embocaduras de rios; a agua deve possuir uma certa agitagéo, permitindo o acesso do alimento a estes animais sésscis; a profundidade nao deve ser superior a 50 metros, sendo o étimo em volta de 4 a 10 metros A velocidade do crescimento de um reci- fe atinge no maximo lem por ano. A dire- cdo principal deste crescimento ¢ rumo ao mar. Junto dos corais ocorrem freqiiente- mente algas calearias, conchas de lameli- branquios, foraminiferos, etc. Em muitos 195 recifes de natureza calcdria no so os co- rais os organismos mais fregiientes, e sim, algas caledrias. TIPOS DE RECIFES DE Corais. — Normal- mente sao clasificados em 3 tipos: recifes de franja, de barreira e circular, sendo este denominado aiol. O recife de franja situa- se junto a costa, crescendo paralelamente a ela, podendo as vezes separar-se desta por um canal estreito © raso. Cresce rumo ao mar. O recife de barreira forma uma barra- gem entre a costa e © mar, resultando na formagao de um canal entre ambos (v. fig. 8-21). BRANNER, que estudou os fetifes de corais do Nordeste do Brasil, verificou a Recife da Australia costeiro Queensland edimentos tercidrios Recife de barreira interior eR uee eeu fekeier ry teri) ocorréncia de ambos os tipos, tanto de bar- reira como os de franja. Segundo este ged- logo os nossos corais ocorrem (no conti- nuamente) desde os Abrolhos, sul da Bahia, até as proximidades do cabo S40 Roque, ‘ou seja, numa extenso de 1.800km. Entre 0s corais, predominam os géneros Millepora © Porites, sendo muito freqiientes tubos cal- cirios de sérpulas (anelideos comuns inclu- sive nos nossos recifes rochosos), briozo’- rios, moluscos, ete. Alguns dos maiores re~ cifes so do tipo de barreira, em forma de manchas irregulares nos mares rasos, ndo parecendo, contudo, ter relagdes definidas com as costas circunvizinhas. Assim é 0 grande recife de Lixa, nas vizinhangas de NE] A Grande Es Fig. 8.21 Recifes de barreira e recifes costeiros, também chamados de franja. gracas ao afundamento por falhas do bloco onde se E um dos maiores recifes do mundo, medindo cerca de 2.000km de extensio B ¢ C—Recifes do Brasil, segundo Branner. em B, e sobre recifes de arenito cimentado por carbonato de A estabilidade tecténica impede o crescimento vertical do recite, como se verifica do recife, também no sentido horizontal asseniam os recites, E (eg. JA. Steers). rochas sedimentares tercidrias, eilcio, em ¢ A ~ Diese 0 crescimento Acham-se assentados. sobre na Australia. Caravelas, Bahia. Na fig. 8-21 observa-se como o recife de franja passa para o de barreira. Os recifes de corais de barreira atingem grande desenvolvimento na costa nordeste da Australia, onde 0 “Great Barrier Reef” acompanha 0 litoral em uma extensdo de 2.000km, afastando-se deste de 30 a 300km. Ja o recife circular ou atol possui seu domi- nio no oceano Pacifico. Com o nome de recife de pedra encon- tram-se na costa brasileira bancos de areia consolidada desde o Ceari até a Bahia Acham-se separados da costa por um canal. BRANNER interpreta-os como antigas praias arenosas consolidadas por carbonato de c cio derivado da dissolugao de algas calei- rias, de sérpulas, moluscos, ete. O recife da cidade de Recife, Pernambuco, é de consti- tuigdo arenosa ¢ nao coralinea. O recife circwlar, ou atol, é de forma aproximadamente circular, possuindo uma depresso interna que forma uma verdadei- ra laguna, como se vé na fig. 8-22, A la- guna mantém conexio com o mar por meio de canais. Sua origem vem sendo estudada minueiosamente ha mais de um século. Além da forma curiosa, circular © escavada no meio, cariiter que chama a atengao dos es- tudiosos, 0 problema mais interessante dos atdis é 0 da sua profundidade. Ja nos refe~ rimos que os corais nao se formam em pro- fundidades superiores a 50 metros, e, no entanto, os atdis so bem mais profundos. Uma sondagem em Funafuti, situado a nor- deste da Australia, aleangou 300 metros, perfurando sempre um recife de coral. Duas sio as principais teorias que procuram ex- plicar este fato. Em primeiro lugar, antes de analisarmos as teorias, temos forgosa- mente de admitir que © inicio do recife se deu em profundidade de 50 metros no ma- ximo. Uma das diversas teorias existentes foi formulada por DARWIN hé pouco mais de um século atris. Admitiu este cientista © abatimento gradual ¢ lento do fundo do mar. A medida que este progredia os corais cresciam, compensando assim 0 colapso do fundo do mar. Ja nos referimos a transfor- magdo de um recife de franja em um de barreira; 0 atol seria entdo um caso espe- cial, onde o recife de franja em volta de uma ilha circular passa para um recife de barreira circular. A segunda teoria é a de DALY, que admite que 0 nivel do mar su- biu Ientamente gracas ao degelo das gran: des geleiras no fim do Pleistoceno. Admi- te-se que 0 degelo no Pleistoceno libertou também Agua inicialmente congelada nos A Fie. Uma das teorias para explicar a formacdo dos atéis. segundo a qual se di o abatimento gradual de uma illha vuledniea, Em A ve-se a ilha vuledmiea cercada pelos recifes de franja que, em B, passam a conshtuir reeifes de barreira, gragas wo afundamento do edilicio vuleinico, Em C, 0 colapso foi total, restando apenas 08 corais, dispostos em circulo, com a laguna ocupando a parte central (seg. Holmes). 197 continentes de modo a fazer subir 0 nivel do mar de 30 a 100 metros (v. fig. 8-8). E provavel que a teoria de DALY explique a grande maioria dos recifes ¢ atdis. Con- tudo, em casos especiais onde a espessura do recife for superior a 100 metros, deve-se ainda recorrer a teoria de Darwm. Com efeito, & de se esperar, realmente, a ocor- réncia de movimentagdes tectdnicas na érea onde esto localizados 08 atdis. Trata-se de regido tectonicamente instavel, sujeita a ter- remotos € movimentagées da crosta, assun- to que sera tratado oportunamente Fig. 8-23 Distribuigo da dolomita no edificio carbonitico do atol de Funafuti, A profundidade de 190 metros obser- vase brusco aumento no teor de dolomita. Como 46% de MgCO, corresponde a dolomita pura, vé-se que foi bastante intensive o fendmeno da dolomitiza- ho (seg. C. W. Correns). 198 Dotomiriza¢io. — Fato muito interes- sante € o da dolomitizagéo da calcita se- gregada pelo coral. A fig. 8-23 mostra-nos ‘0 aumento do teor em MgO com a profun- didade, em uma perfuragdo realizada no atol de Funafuti. Trata-se de um problema a ser esclarecido, pois no atol de Bikini nao foi observado tal fenémeno, tendo sido per- furado até 650 metros, Muitos calcarios marinhos ndo mostram a menor dolomitiza- so, enquanto que em outros tal fenémeno se deu com grande intensidade. Muitos cal carios sio dolomitizados por influéncia de emanacées vulcanicas, mas no mar perdura © problema. Ha organismos que sao cons- tituidos de carapacas dolomiticas, porém em quantidade muito inferior a existente nos dolomitos. Mesmo que se tivessem deposi- tado em grandes quantidades, nao estaria explica a concentragdo elevada do MgO. O fato & que, quanto mais antigo for o cal- cirio, mais freqiiente e mais elevado ¢ o teor em dolomita, o que sugere uma substituigao posterior, lenta, talvez sujeita a agentes ca- talisadores, pelo magnésio da agua do mar que iria penetrando no edificio cristalino da calcita, transformando-a lentamente em do- lJomita. Tratar-se-ia de uma verdadeira me- tassomatose sob condigdes normais de pres so e temperatura. Em outros casos a me- tassomatose se processa logo apés a sedi- mentagdo da lama caledria, quando as con- digdes climaticas e ambientais permitem uma concentragiio dos solutos, precipitagdo prévia dos sais de calcio menos soliveis ¢ um aumento do teor dos ions de Mg** Zona batial, abissal e peligica. — Quan- to mais nos afastamos da costa, tanto mais homogéneas so as condigdes fisicas ¢ bio- Idgicas. Essa homogeneidade reflete-se nos sedimentos formados nas regides profundas e distantes da costa. Tais sedimentos se apresentam, como conseqiiéneia, muito ho- mogéneos, a0 contririo dos formados nas proximidades das costas, que variam desde as lamas dos mangues até os conglomera- dos. Abaixo de 3.000 a 5.000m de profun- didade ocorrem vastas Areas, que ocupam uma grande parte da superficie dos mares, nas quais ocorrem muito poucos tipos de sedimentos, como se pode ver na fig. 8-24. Os detritos terrigenos, como regra geral, diminuem tanto em quantidade como em tamanho, com o afastamento da costa Em conjunto, os sedimentos peligicos ca racterizam-se pela sua constituigdo relativa- mente homogénea sobre vastas areas. No alto-mar © material tertigeno atinge no ma- ximo 0,lmm de diametro, sendo a grande massa constituida de particulas de poucos micros de didmeiro. Os principais consti- tuintes mineraldgicos sdo os minerais argi- losos, feldspato ¢ mica. Os componentes organicos provém da vida planeténica, po- dendo’ muitas vezes predominar na sedimen- tagao, como restos de globigerinas, radiola- rios, pleropodes (gastropodes) ¢ diatomé- coas. As precipitages quimicas sfo raras, podendo ocorrer as de sulfetos, de glauco- nita, de globulos de hidréxidos de manga nés, etc. Sio, contudo, de grande importan- cia 0s fendmenos de dissoluedo. As carapa- cas calcarias afundam lentamente, podendo atingir zonas subsaturadas de carbonato de calcio, onde se dissolvem. Tanto as aguas firias, como as muito fundas, so subsatura- das de carbonato de ciilcio. Assim, com a profundidade crescente, 0 teor em caleario dos sedimentos diminui gragas & dissolu- cio, diminuindo também perto das costas, como conseqiiéncia da sedimentagdo terri- Sedimentos marinhos 160180, 160.40 120 Vasa de area ide corais fs ter de radiolério 10080 6040 Vasa de diatomacea ca de pterépodo Fig. 8-24 Distribuigio dos sedimentos marinhos. Note-se a extensio consideravel da vasa de globigerina, assim como a distribuiglo das vasus silicosas (ou seja, de diatomacea e de radiolério) nos mares frios ow nas regides de grande profundidade, junto as argilas vermethas, caracteristicas de regides abis is. Por outro lado, os sedimentos terrigenos (entre 0s quais ocorre a vasa azul) localizam-se de preferéncia junto as margens dos continentes (seg. Drevermann). 199) gena mais intensa. Onde predominar a de- posigdo de carapacas silicosas, dar-se-d 0 mesmo fato, isto ¢, diminuig&o de calcario. Assim, distinguimos os seguintes grandes grupos de sedimentos pelagicos Vasa azul, vasa de globigerina, vasa ver- melha, vasa de radiolarios, vasa de diato- maceas ¢ vasa de pterépodes, havendo ou- tras ainda, de menor importancia pela sua distribuigdo restrita. 1) Vasa azul. — Na area do talude con- tinental, até uma profundidade de 2.400m, deposita-se grande quantidade de material tetrigeno. O teor em calcdrio de origem or- ginica é pequeno, mas ha ainda grande con- tribuig&o de organismos benténicos. A de- composicéo da matéria organica freqiiente- mente ¢ incompleta. A cor do sedimento é azul-escuro pela presenca de pirita autigena finamente disseminada. A ocorréncia de pirita é explicada pela formacdo de HS por sulfobactérias, que se utilizam de compostos de enxofre contidos na dgua e de substancias organicas em de- composigao, A reagdo do acido sulfidrico com os compostos de ferro produz a pirita. Cerca de 12% dos sedimentos marinhos consistem de vasa azul. 2) Vasa de globigerina. — Forma-se em areas marinhas de clima tropical e modera- do, onde a sedimentacdo terrigena e a dis- solugdio das carapagas € pequena. Por este motivo, cobre principalmente as regides me- nos fundas das zonas abissais, entre 2.000 a 5.000 metros de profundidade. Como diz © nome, esta vasa constitui-se predomi: nantemente de carapagas inteiras e frag- mentos de foraminiferos, principalmente do género Globigerina. Estes protozoirios pos- suem vida plancténica, podendo atingir na camada superior da dgua do mar o numero de 50.000 individuos por litro de agua. A cor do sedimento é cinza, com um teor em carbonato de calcio de 40 a 90%, sendo o restante constituido de restos silicosos de ra- diolérios ou diatomaceas, ete., junto a mi- nerais terrigenos finissimos. Em latitudes mais altas, principalmente no Hemisfério 200 Sul, pode ocorrer certa quantidade de ma- terial de origem glacial, transportado por blocos de gelo flutuante. Cerca de 34% do fundo do mar sio co- bertos pela vasa de globigerina. 3) Vasa vermelha. — As areas marinhas de profundidade maior que 5.000 metros so cobertas pela vasa vermelha, Sua cor vermelha & conseqiiente da oxidagdo com- pleta dos compostos de ferro pelas aguas profundas ¢ oxigenadas. Predominam os mi- nerais finissimos, tertigenos ¢ uma certa quantidade de esqueletos silicosos. A pre- dominfneia da matéria inorginica é resul- tante apenas da dissolugdo das carapagas calcarias dissolvidas pela agua fria, rica em CO,, antes de atingir as grandes profun- didades. Se fosse dissolvida a parte calcdria da vasa de globigerina obter-se-ia a vasa vermelha como residuo. A extenséo que esta ocupada é de cerca de 28% do fundo dos mares, 4) Vasa de radiolérios. — Nas areas ma- rinhas com relativa abundancia em radiola- ios, verifica-se a deposicio de seus esque- letos silicosos. Estes, por serem insoliiveis, podem juntar-se & vasa vermelha na propor- cdo de até 20%. A vasa de radiolirios ocupa cerca de 2% da area do mar. 5) Vasa de diatomdceas. — Nas regides proximas da Antartida ocorrem condigdes favordveis para a vida das diatomaceas. Suas carapagas de opala sedimentam-se junto aos componentes continentais, principalmente de origem glacial. A area ocupada por esta vasa é de 7.5%, 6) Vasa de pterépodes. ~ Como se vé na fig. 8-24, esta vasa ocorre em pequenas manchas isoladas, que ocupam um total de um milhao de km?. Trata-se de pequenos moluscos de concha alongada e “pé” tam- bém alongado, como se fosse um par de asas, de onde vem o nome, do grego pte- ron, asa. 7) Vasa de corais. — Ainda outro tipo de sedimento muito abundante nas proximi- dades da Australia (lado norte ¢ nordeste) ¢ nas regides dos recifes de corais do Pa- cifico sao as arias de corais. Trata-se de restos desagregados de recifes de corais, material facilmente destruido pelo embate das ondas, pela sua pequena resisténcia e constituigio porosa e fridvel Outros tipos de vasas podem ocorrer, sem cobrir, contudo, dreas consideriveis do fundo dos oceanos. Assim & que ocorre a vasa verde, formada de grande quantidade de glauconita, mineral ja discutido atris. Nas proximidades do rio Amarelo é citada a vasa amarela, provinda dos detritos amare- lados de loess que deram o nome aquele rio da China. Em mares fechados sem cit- culagio, como o mar Negro, 0 sedimento é de cor negra ou esverdeada, gragas A abundancia em matéria organica que se deposita em meio desprovido de oxigénio. Este tipo de ambiente marinho de deposigao denomina-se euxinico em virtude do antigo nome do mar Negro, Pontus Euxinus. Vol- taremos a abordar este assunto ao tratar dos sedimentos de origem organica. Final- mente, outro tipo de sedimento que pode ocorrer localmente em extensdo consideravel é a lama de origem vulednica. Nas proxi midades das ilhas Molucas, Indonésia, ocor- rem grandes areas cobertas de cinzas vul- canicas. Trata-se de um sedimento escuro, rico em leucita, tendo certa quantidade de vidro e cristais de biotita, material caracte- ristico de atividades vulcanicas. As tabelas 8-7 ¢ 8-8 nos mostram a ex- tensfio das areas cobertas pelas principais vasas, assim como as proporgdes em que ocorrem, tanto para os sedimentos peldgi- cos como para os hemipeligicos. Estes, mais proximos da regio costeira, possuem maior percentagem de lama azul, essencialmente terrigena, juntamente com a lama prov niente da desagregacao de recifes de corais e de detritos vulednicos. Nas regides mais distanciadas dos continentes podemos ver que predomina a sedimentagao de organis- mos de carapacas calcdrias e silicosas A tabela 8-9 mostra-nos a composigéo quimica aproximada das vasas caledrias, das areias ¢ vasas vermelhas, onde notamos 0 decréscimo em carbonato de cilcio, que se dissolve nas éguas profundas e frias. O au: mento em alumina evidencia a influéncia continental, responsivel pela deposigiio das argilas finissimas, que so hidréxidos ¢ hi- drossilicatos de aluminio. Digno de nota ¢ © aumento considerivel em éxido de ferro nas vasas vermelhas, 0 que determina esta colorac&o. Interessante € a semelhanga da composigio quimica das vasas vermelhas ¢ das silicosas, Estas diferem apenas no contetido de silica, que € um pouco maior, gracas ao maior acimulo de carapagas si- licosas de organismos (radiolirios ou dia- tomaceas). A. yelocidade de deposigfo € muito pe- quena, Na regido sul do oceano Atlantico sio as seguintes as espessuras depositadas durante um milénio: Vasa azul — 30mm (grande influéncia terrigena). Vasa de globigerina — 12mm (grande influéncia de organismos). Vasa vermelha — Smm. No meio do Pacifico, nas regides mais profundas, a velocidade de deposigao & pe- quenissima, gragas 4 dissolugio dos com- ponentes carbonaticos, ou seja, menos de um milimetro por milénio. A velocidade mais comum, de um modo geral, ¢ de 10 a 20 milimetros por milénio. A cerca de 2.000km a leste da costa meridional do Japao, numa profundidade de 3.500. me- tros, foram amostrados sedimentos creté- ceos fossiliferos completamente inconsoli dados, Entre estes sedimentos € 0 embasa- mento ocorrem ainda mais 200 metros de rocha incoerente, com fésseis do Jurissico médio na base. Computando-se as idades destas ocorréncias € a espessura, vemos que a velocidade de sedimentagao se coaduna bem com a ordem de grandeza das cifras citadas poucas linhas atras. Mais abaixo a rocha & consolidada, sendo constituida de uma crosta de Ikm de espessura de rochas sedimentares, fato inferido indiretamente, 201 Tapeta 8-7 Distribuigio dos sedimentos eupeligicos ip Area Percentagem da | Percemtagem totul | Percentagem fee (x 10° km?) | regio peligiea | das dreas ocednicus | do volume Vasas caledias.. 9 47 354 119 Vasas vermethas 102,2 38.1 19.2 Vasas silieosas ... 38,0 14.2 89 TorAL... 2681 100,0 742 100,0 Seg. Poupervaarr, Special Paper, 62, Geological Soc. of America, 8. u.a., 1955, TABELA 8-8 Distribuigdo dos sedimentos hemipel ercentagem da ripe Area a ae Percentagem total | Percentagem (10 km?) | pemnpetagica | 4 7eR%0 ecetinica | do volume Lama terrigena. 48 76,2 13 Lama de coral R 19.0 33 Lama vuledniea, 3 48 8 Tora... 63 100,0 4 100.0 Seg. PoLDERVAART, Special Paper, 62, Geological Soe, of America, £. UA. 1955. Composigio aproximada dos sedi Tawets 8-9 fos eupeligicos Vasas vermelhas Vasas siticosas 18.8 59,5 03 06 16, 38 6. 8 14 39.0 105 05 10 07 ¥ 02 03 298 - Tora... 100,0 100,0 100.0 2 5 Seg. Porvervaarr, Special Paper 62, Geological Soe. of America, £.U. A. 1955. 1750 Pré-Cambriano hi 200 60 Iflthoes Paleozdico Mesozéico Seg. Kuenen Fig, 8-25 Representagio gritica das diferentes teorias sobre o volume de Agua dos oceanos. através de estudgs de ondas sonoras refle- tidas e captadas em aparelhos de alta sen- sibilidade, E digno de mengdo 0 fato de nao terem sido observados nos continentes atuais se- dimentos marinhos do passado, formados - certamente em ambiente abissal. Quase to- dos os sedimentos marinhos do passado fo- ram certamente depositados em mares rasos. Duas explicagdes so plausiveis: 1 — Os mares antigos foram essencialmente rasos, formando-se mares fundos somente em tem- pos geolégicos modernos. 2 — Os grandes e profundos oceanos sempre existiram (teo- ria da permanéncia dos ‘oceanos) na sua posigéo atual. A fig. 8-25 mostra-nos as diferentes concepgdes de alguns autores. Ve~ mos que alguns imaginam o aumento gra- dativo da quantidade de agua, aumento este bastante intensivo no Mesozéico, enquanto que outros autores supdem um volume mais ou menos constante desde os primérdios da existéncia dos mares. O aumento do volume da Agua seria conseqiiéncia das atividades vulednicas, diretas ou indiretas, gragas as quais a agua juvenil seria incorporada aos oceanos. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA Dagwin, G. H., eG. PL Maaint, La marea, Unione Tipografico Editrice, Turim, 1905, JOHNSON, D. W., Shore Processes and Shoreline Deve- lopment, John Wiley & Sons, Inc., Nova York, 1938. KUENEN, Ph, H., Marine Geology, John Wiley & Sons, Inc., Nova York, 1950, SnePARD, F. P., Submarine Geology, Harper & Brothers Publ., Nova York, 1963 Sverprur, H. U., M. W. Jonsson, e R. H. FLewina, The Oceans, Prentice-Hall, Inc., Nova York, 1942. ‘Torekian, K. K., Oceanos, Prentice-Hall, Ine., tra- dugdo de C. A. L. Isotta, R. Yoshida e A. Bartorelli, Ed. Edgerd Blicher Ltda., Sao Paulo, 1969. ‘TURFKIAN, 1... K. e SKINNER, B.J., O Homem € 0 Oceano, tradugdo de K, Suguio, Ed. Edgard Bliicher ¢ Edi- tora da U.S.P., Sao Paulo, 1977 203

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