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‘Um bebé sozinho nao existe A observaciio acima capta a esséicia do fensameato do Dr. Winnicott sobre a unidade inieial mie-crianga. Para um bebé comnecer uma existéncia independente, alimentagao e cuidados “silo necessarios. Esses cuidados, que Winnicott /O\ehama:good-encugh mothering’, sfio descritos © © ctiestéilivro,com minticia e! profundidade; mas de modo agradavel. Winnicott foi o:primeiro a introduzi- na pediatria 0 estudo-do | © desenvolvimento da crianca e da teoria © P-psicanalitica; Nesta obra cle fala a um piblico nplo-sobre as questées fundamentais-d: = infancia: as necessidades minimas de todo. bebé; a amamentacao corio primeiro diélogo, os ISBN 85-326-0257-x Ii 9"788555"602571! OS BEBES SUAS MAES sICGL Martins Fontes 18 OS aEBES E suas MAES rém resolutamente; em segaida permitem que se mova e as encon- tre & medida que as Idgrimas vao desaparecendo. No final vosés Poder, com toda naturalidade, colocé-la no clio. A crianga po. de estar triste, indisposta cu cansada; seja como for, num breve espaco de tempo ela volta a ser um bebé, e voces sabem que é pre. ciso dar tempo para que possa haver um retorne natural da sens, $80 bisica de seguranca as condigdes normais E claro que eu poderia ter escolhico muitos outros exemplos da forma como 0 onhecimento de vocés se manifesta, simples. mente porque so especialistas nesta questo dar de suas. proprias ctiangas. Quero incent defender este conheciment nado. A partir dele, e 56 sas, fnsinar se forem capazes de conservar. em si mesmas, aquilo que Ihes & ratural. Poder-se-ia pensar que zstive tentando ensinar-lhes como de- vem segarar seus bebés. Isto, parece-me, est muito distante da ver. dade. Estou tentarcdo deserever 0s diversos aspectos das coisas que Voces facem naturalmente, para que possam reconhecer aquilo que fazem, ¢ para que possam ter consciéneia desta capacidade natu- ral que possuem. Isto é impcrtante, pois pessoas insensatas tenta, "30, miiias vezes, ensinar-thes como faze" as coisas que vooés rode ‘fazer muito metho: do que podem aprender a fazer. Se estiverem certas disso, podem aumentar o valor que possuem enquanto nes, aprendendo coisas que podem ser ensinauias. Afinal, a melhor parte de nossa civlizacao e cultura tem muitas coisas valiosas a ofere, relacioneiniento com as pessoas e utilizacto de ob- _jetos = uma detictencis res do fato de terem sido segura: do: € manipulados de fornia insatisfatoria, Uma vez que j& deixei bem claro que a palavra seio e a idéia de amamenteeo abrangem toda uma técniza de ser mae de um bbebé, sinto-ne livre, ent&o, para enfatizar qudo importante pode ser 0 préprio seio, ¢ & 0 que vou tentar fazer. Talvez vocés notem © cue estou tentando ev-tar. Querc me distanciar daqueles que ten- tar obrigar as maes amamentaren os seus bebés. Vi um grande -=-niimero de criangas que passaram por situagdes muito dficeis, com a mae lutando para que seu peito desempenasse suas fungdes, al- g0 que ela, por natureza, é totalmente incapaz de fazer, uma vez que escapa ao controle consciente. Tanto a mae quanto o bebe so: frem com isso, As vezes experimenta-se um grande alivio quando, finalmente, passa-se a fazer a alimentagao por mamadeira, ¢, seje como for, alguma coisa vai bem, no sentidc de que as necessida- des do bebé esto sende satisfeitas por ele estar ingerindo a quan- tidade exata do alimento adequado. Muitos destes esforcos poderiam 2 Os BEBES E SUAS MAES itados se a religido fosse excluida desta concepeao de aleita- . Creio que o pior insulto a uma mulher que gastaria de mentar seu filho, e que vem a faz3-lo naturalmente, se dé alguma autoridade (um médico ou enfermeira) chega edi deve amamentar o seu bebé.”” Seu eu fos suficiente para me descencer luito bem: entiio, nao ‘ou ainamen:é-lo." Infelizmente, as maes tém esta crenca terrivel nos médicos ¢ enfermeiras, ¢ pensam, ento, que 0 médico sabe como estabelecer um contato mito entre mae e filho, s6 porque cle sabe 0 que deve ser feito em caso de alguma cirurga de emer. géncia. Em geral, ele nao entende nada desta questao que se refere & intimidade entre a mie e o beté, ‘Trata-se de levar médicos e enjermeiras a compreenderem que, Se For um lado sdo necessérios, e muito, quando as coisas vao mal do ponto de vista fisico, por outro eles nao sao especialistas nas Questdes relativas a intimidade, que so vitais tanto para a mie quanto para c bebe. Se comecarem a dar conselhos sobre essa in- timidade, estardo pisando em solo perigoso, pois nem a mae, nem © bebe, precisam de conselhos, Em vez. de conselhos, eles preci. sam de recursos ambientais que estimulem a confianga da mae em si propria. O fato cada vez mais comum de o pai poder estar pre- sent quando um bebé esta nascendo & um dos mais importantes avangos de nossa época, dois o pai pode enriquecer a situago com lum entendimento da importancia dos primeiros momentos, quan- do « mie pode dar uma oihada em seu bebé antes de repousar, O mesmo aconteve quardo se da inicio & amamentacao. E algo ue pode se tornar muito dificil, pois a mie é incapaz de ama- men‘ar através de um esforco deliberado. Ela precisa aguardar as Suas proprias reagdes, ou, por outro lado, as suas reagées podem Ser Ho intensas que ela mal consiga esperar pelo bebé, quandg en- 186 ¢ preciso ajudé-la devido a retenco do lite, Quanto a educagio de médicas ¢ enfermeiras sobre este as- Sunto, € precise lembrar que cles t€m muitas outras coisas a apren- der, pois as exigéncias da medicina e de cirureia modernas sao de fato muito grandes, além do que médicos e enfermeiras so pes- Soas iguais a todo mundo. Cabe aos pais conhecer as suas pré- brias necessidades © preocupar-se com elas neste estégio ini cabendo-thes também insistir em suz busca de auto-realizacao. $6 A AMAMENTACAO COMO FORMA DE COMUNICACEO 23 ozasionalmente ¢ possivel que os pais encontrem médicos e enfer meiras que compreendem qual ¢ a sua funcio especifica, ¢ qual 4 fumedo des pais, e neste caso 0 trabalho conjunto tera sempre uum resultado feliz. Devido as minhas fungées, ougo, naturalmen- te, muita coisa por parte das mats a respeito da angiistia causada por médicos ¢ enfermeiras que, embora excelentes do ponto de visia da satide fisica, nao conseguem deixar de interferir ¢ se tornam perniciosos a0 relacionamento entre a mae, o pai e 9 bebé. Ha, naturalmente, mies que tém dificuldades pessoais muito grandes devido aos seus prép mos, dificuldades que talvez estejam ligadas is experiincas pelas quais passaram quan de criangas. Ha, muitas vezes, uma forma de resolver estes ‘pro- ble as. Nos casos em que a mae tem dificuldade de amamentat, "4 um erro tentar forgar uma situago que deve, até certo pom. {o, fracassar, podendo até mesmo se transformar em ur desastre, Ter uma nogio preconcebida daquilo que deve ser feito pela mas no que diz respeito & ariamentacao é, portanto, uma rética mui, {0 desaconselhvel para os profissionais que esto cuidansio do caso. E muito comum que uma mie desista rapidamente ¢ estabelera Outro tipo de alimentasio; ela pode, também, ser bem-sucedida com o segundo ou o terceio filho, e ficar muito satisfeita porque isso acontecen de forma natural. Nos casos 2m que um bebé nao ossa ser amamentado, existem muitas outras maneiras através dat uais as maes podem possiblitar algum tipo de intimidade fisica, A sta altura eti gestaria de ilustrar 0 mod6 pelo qual estas uestdes podem ser importantes num estégio ainda muito inicial, Suponhamos que uma mulher adotou um bebé de seis semanas, ¢ verificou que ele reagia bem ao contato humano, as caricias e a todos os aspestos que envolvem o ato de segurar 0 bebé e mani- Pulé-lo, Ja as seis semanas, entretanto, a mide descobriu que o beb? apresentava uma caracteristica derivada de sua experigncia anterior, Esta caracteristica s6 se manifestava nos momentos em ue ela o alimentava. Para fazer com que ele se alimentesse, tinha ue colocé-lo no assoalho ou sobre uma mesa bem firme; em se- Buca, sem qualquer espécie de cortato fisico, era preciso segurar i mezasse a mamar, Este ue entrelagou-s ixando muito cl 24 Os BEBES E SUAS MZES observasse 0 seu desenvolvimento que a sua experiéncia muito precoce de alimentacio impessoal tivera um resultado, que nes- te caso nao fora bon. Se eu continuasse trazendc exemplos, s6 tornaria a questo ainda mais confusa, pois o tema cobre um campo muito vaso, €acho melhor apelar para as experiéncias daqueles que me ou- vem ¢ lembrar-lhes que as coisas muito pequenas que, no inicio, se passam entre a mie € 0 bebé so muito significativas, nao 0 sendo menos por pa-ecerem tao naturais, sélidas e inquestio- niveis. Chego, portanto, ao recomhecimento do valor positive da amamentacio, levando em conta que esta ndo é absolutamente essencial e que nao se deve insistir nela, quando a mie tiver al- guma dificuldade pessoal. O aspecto dbvio daquilo que descjo dizer tem aver com a imensa riqueza contida na experiéncia da alimentagao; 0 bebé esta vivo e desperto, = toda a sua personal dade em formagtio esté envolvida no processo, Grande parte da vida de vigilia do bebe esta voltada para a alimentagio. De certa forma, o bebé est acumulando material para o sonho, embora ogo se manifestem todas as outras coisas que tam>ém passam a fazer parte do processo, € que podem refletir-se aa realidade interior da crianga adormecida, que naturalmente est sonhan- do. Os mécicos estic de tal forma acostumados a falar sobre satide e doenga que se esquecem de falar sobre as enormes va- riagdes da satide, a partir das quais podemos afirmar que, se por uum lado as experiéncias de uma determinada crianga sao fracas, insipidas ¢ até mesmo entediantes, hd, por outro lado, eriangas Cujas experigncias sic intensas, cheias de cor e sensagées, ¢ de um alto graa de fecundidade. Para alguns bebés as experiéncias ligadas a alimentaco so to enfadonhas que deve ser um gran- de alivio chorar de raiva e frustrac&o, o%ue, de qualquer modo, é real e necessariamerte envolve a personalidade toda. Porta. to, ao examinarmos a experiéncia de amamentacdo de um bebé, primeira coisa a fazer é pensar em termos da rigueza da expe. riéncia e do envolvimento total ¢a personalidade. Muitos dos as- ectos importantes da situacdo de amamentagao também estZo Presentes quando se utiliza a mamadeira. Por exemplo, 0 fato dea mae e sex bebé olharem-se nos othos, que é uma caracteris- A AMAMENT4CAO COMO FORMA LE COMUNICAGAO 25 tica do estdzio inicial, € algo que absolutamente nao depende do uso do verdadero seio, Esta afirmacao, 2orém, deixa margem a diividas, uma vez que o gosto, o cheiro ¢ a experiéncia sensual da amamertacao estéo ausentes quando o bebé se vé as voltas com 0 bico de borracha da mamadeira. Sem dtivida, os bebés tém outras formas de superar até mesmo esta desvantagem, e, em alguns casos, a superestima do uso seasual da borracha po- de remontar a uma ligagao muito forte com a borracha na ali- mentagao por mamaceira. A casacidade de experiércia senséria do bebe pode ser vista no uso daquilo que chamei de objetos tran- sicionais, em que, para o bebé, existe toda diferenca possivel en- tre a seda, 0 nailon, a I, 0 algodio, 6 linho, um avental ‘eagomado, borracha 9u um guardanapo molhado. Este, porém, outro tema, ao qual sé estou fazendo re‘eréncia para lembrar- Ihes que coisas imensas se passam no pequeno unive-so do bebé. Junto 4 observacao das experiéncias do bebé, que sto mais, ricas quando se usa o seio em vez da mamadeira, é preciso levar en conta tudo 0 que a propria mae sente e experimenta. Creio ser quase desnecessario fazer reveréncia aeste grande tema para tentar descrever a sensacao de realizagao que a mae pode sentir quando a fisiologia ¢ a anatomia, que talvez tenhan sido para a um grande incmodo, de repente fazem sentido e Ihe permi- tem lidar com o medo de que c bebé vai comé-la, ao descobrir que ela de fato tem alzo chamado leite, com 0 que pode acalma- lotemporariamente. Prefiro que vocés usem sua imaginacdo, mas €importante chamar a atenco para 0 fato de que, qualquer que seja 0 modo de alimentar um bebé, e por mais satisfatério que possa ser, a satisfacdo da mulher capaz de usar uma parte de seu proprio corpo desta forma ¢algo totalmente diferente. A sa- tisfacdo esti ligada a suas proprias experiéncias como bebé, € experiéncia toda remonta ao inicio dos tempos, quando os se- res humanos mal haviam superado a postura dos animais ma- miferos. Chego, afinal, ao que considero a observacdo mais impcr- tante neste campo, e que diz respeito a existéncia de agressivida- de no bebé. Com o passar do tempo, o tebé comera a chutar, gritar e arranhar. Na situacdo de alimentagdo havia, no inicio, ‘uma atividade vigorosa da gengiva, um tipe de atividade que pode 26 OS BERES © SUAS MASS facilmente resultar em rachaduras no mamilo; alguns bebés recl- mente aderem ao seio com as gengivas e o machucam bastante, Nao se pode afirmar cue estejam tentando ferir, po-que o bebé ainda nao esta suficiertemente desenvolvido para que a agressi- vidade ja possa significar alguma coisa, Com o passar do tem. "0, porém, os bebés jd tém um impulso de morder, Trata-se do inisio de algo muito importante, que diz respeito & crueldade, 0s impulsos ¢ & utilizagio de objetos desprotegidos. Muito re, picamente, os bebés passam a proteger o seio, ¢ na verdade muito raro que mordam com o objetivo de ferir, mesmo quan. do ja possuem dentes, Isto ndo acontece pelo fato de eles no terem o impulso, mas sim devido a algo que corresponde a domesticagao de um obo em cio, ou de um leo em gato. Com os bebés humanos, Porém, ha um estgio muito dificil, que nio pode ser evitado, A mie pode rerceber facilmente o que se passa com o bebé, nesse estagio em que ela est sendo destruida por ele, se tiver conheci- mento da sitagao © proteger-se sem se valer de retaliagao ¢ vinganga. Em outras palavras, ela tem uma funcio a cumprir sémpre que o bebé morder, arranhar, puxar os seas cabelos e chutar, € esta funcdo € sobreviver. O bebé se encacregaré do resto. S¢ cla sobreviver, 0 beb@ encontrar um novo significado para a Palevra amor, uma nova coisa surgiré em sua vida: a fantasia. E como se o bebé agora pudesse dizer para sua mae: ‘Eu a amo Por ter sobrevivido a minha tentativa de destrui-la, Em meus so. nhos ¢ em minha fantasia eu a desiruo sempre que penso em vo. ©, pois a amo.” E isto que objetifica a mie, coloca-a num mundo Que nao € parte do bebé, e a torna titil, Voces podem perceber que estamos falando de um bebé que tem mais de seis meses, ¢ estamos falando de uma crianca de dois anos. Estamos encontrando uma linguagem importante pa. a a descricdo geral do desenvolvimento futuro da crianga, em ue ela passa a fazer parte do mundo em vez de viver num mun. do protegido, especializado ou subjetivo, criado pela erorme oa, acidade que a mie tem de adaptar-se as necessidades de seu filho, Nao vamos, perém, negar que os rudimentos destas coisas estate Presentes até mesmo no recém-nascido, ‘4 AMAMENTACAO COMO FORMA DE COMUNICAGAO 2 Nao nos cabe, aqui, examinar pormenorizacamente esta transiedo que tem tamanha importancia na vida detoda crianga e que Ihe permite tornar-se pare do mundo, usé-lo e contribuir com ele. © que importa, no momento, é 0 reconhecimento do fato de que a base deste desenvolvimento saudavel dos seres ku- manos € a sobrevivéncia do objeto que foi atacado. No caso da mde que alimenta um bebé, ndo se trata apenas de sua sobrevi- vencia como uma pessoa viva, mas também como uma pessoa cue nao se transformou, no momento eritico, em uma pessoa wativa, nem partiu para retaliagdes. Em breve outras pessoas, iclusive 0 pai, animase brinquedos, passam a representa 0 mes- mo papel. Pode-se perceber 0 quanto é complicado para a mae sstabelecer uma separacio entre 0 desmame e estz. questo da sobrevivéneia do objeto que se apresentou a destruicéo, devido ‘0s process0s evolutivos e naturais do beb®. Mesmo que nao exa- minemos as implicagées extremamente interessantes desta ques- tio, & possivel afirmar, pura e simplesmente, que 0 aspecto essencial é a sobrevivencia do objeto em face destes anteceden- tes, Agora jd é possivel perceber as diferengas que existem entre © seio ¢ a mamadeira. Em ambos os casos, a sobrevivéncia da mae ¢ fundamental. E claro, entretanto, que existe uma diferen- 2 entre a sobrevivéncia de uma parte do corpo da mae € @ so- brevivencia de uma mamadeira. A titulo de comentario, podemos citar as experiéncias extremamente traumatizantes cue a quebra da mamadcira pode rzpresentar para o bebé durante a alimenta- 40, quando, por exemplo, a mae a deixa cair. Algumas vezes €0 bebé que empurra a mamadcira e faz com que ela se quebre. A partir destas observagdes voces telvez possam chegar a as, em seu proprio ritmo, e ver comigo que a sobrevivencia de algo que é parte da mae, como o seio, tem uma importancia in- teiramente diversa dequela representada pela sobrevivéticia de uma mamadeira de vidro. Estas consideracdes levam-me a ver 1968 4 4. 0 RECEM-NASCIDO E SUA MAE O tema que me foi proposto é t40 complexo que hesito em dar- Ihe uma nova dimens&o. Contudo, creio que se a psicologia é ‘itil no estudo do recém-nascido, é somente a prética que el torna confusa!. No ambito tedrico, qualquer contribuigao necessaria- mente ¢ errada (caso em que o problema permanece intacto), ou contém uma parcela de verdade, e neste caso ela simplifica, co- mo a verdade sempre o far. O recém-nascido e a mie constituem um tema bastance am- plo, € no entanto eu nao gostaria que me fosse atribuida a tare- fa de descrever 0 que se sabe sobre o recém-nascido considerado isoladamente: o que esta em discussao é a psicologia, e gosto de partir do principio segundo o qual, ao considerarmos um bebé, também consideremos as condigdes ambientais e, por tras delas, a mie. Seeu disser ‘a mae” muito mais vezes que “o pai que 0s pais me compreendam. E necessario reconhecer a enorme diferenca que deve haver entre a psicologia da mae e a da crianga, A mée é uma pessoa Sofisticada, o con:rario daquilo que o bebé é inisialmente. Mui- tos acham dificil atribuir a um bebé-qualquer ccisa que pedesse ser chamada de “psicoldgica”’, até que algumas semanas ou mes- mo meses tenham se passado, e é preciso dizer que sao os nnédi- cos, muito mais que as maes, que tém esta dificuldade, Seri que do poderiamos dizer que sempre se espera que as maes vejam espero 1. Aaui, Winnicot se drige acs pediatras. Ver p. 93, (N Ores.) 30 0 BEBES E SUAS M/ES mais do que existe e que os cientistas nada vejam até que haja provas? ‘J4 ouvi dizer que é no recém-nascido que a fisiologia e a psi- cologia corstituem uma unidade (John Davis). E um bom co- meco. A psicologia ¢ uma extensdo gracual da fisiologia. Nao ha necessidade de brigas quanto A data desta transformacio, pois poderia ser variavel de acordo com os azontecimentos. No en- tanto, a data de nascimento poderia ser considerada como um momento an que grandes transformagSes se operam neste cam- po, de modo que o bebé prema:uro pode estar em muito melho- res condigses psicoldgicas numa incubadeira, onde um bebé pos-maduro ndo esteria bem, pois precisaria de bragos huma- nos ¢ contato corporal. —S5Dentre as teses que defendo, hé uma especial: a de que as mies, a nao ser que :stejam psiquiatricamente doentes, se pre- param para a sua tarefa bastante especiclizada durante os tilti- mos meses de gravidez, mas que gradualmente voltam ao seu estado normal nas semanas e meses que se seguem ao processo de nascimento. 14 eserevi muito sobre este assunto, sob o titulo ““preocuparao materna primaria””. Neste estado, as maes se tor- _nam capazzs de colocar-se no lugar do bebé, por assim dizer. “Isto significa que elas desenvolvem uma capacidade surpreendente de identificacdo com o bebé, o que lies possibilita ir ao encon- to das necessidades basicas do recém-nascido, de uma forma que nenhuma maquina pode imitar, ¢ que.ndo pode ser ensina- da, Posso tomar tal fato como certo quaado vou além e afirmo “que 0 protétipo de todos os ctidados com os bebés é 0 ato de seguré-los? E 0 que quero dizer é segurados por uma pessoa. Te- ho conscitncia de estar esticando o significado do termo “se- gurar””, mas sugiro tratar-se de uma a‘irmaco econdmica suficientemente verdadeira, = ‘Um bebé a quem seguram bem é muito diferente de outro, caja experiéncia de ser segurado ndo foi muito positiva. Nenhu- ma observacio a respeito de qualquer bebé tem, para mim, qual- quer valor, a menos que se descreva expressamente de que maneira 2, Um peiatra qe foi colega deWinniott no H (8. Orgs) anti de Paddington Gren. 0 RECEM-NASCIDO E SUA MAE 31 6 seguram. Por exemplo, acabamos de ver um filme a que atri- buo um valor muito especial. Vimos o Dr. MacKeith segurando aquele be’€ que caminhava, para ilustrar a fase em que uma crian- ga comega a andar. Caso voeés tenham observado a lingua do Dr. Mackeith, terdo percebido 0 quio cuidadoso e sensivel ele estava sendo, ¢ que o bebé nio estava se comporiando da mes- ma forma que estaria se alguma outra pessoa o astivesse segu- rando, Acho que os pediatras, em geral, so pessoas capazes de se identificar com o bebé e seguré-lo, e talvez seja esta capacida- de de identificacdo que atraia as pessoas para a peciatria. Parece- me que vale a pena mencionar aqui este aspecto tio dbvio, pois fs vezes descrevem-se grandes variagdes na forma como um beb& se comporta, e acho que sempre deveriamos ter um filme de quem estd realizando a pesquisa, para que pudéssemos julgar por nds mesmos se era alguém que sabia o que o bebé estava sentindo naquele momento. A razo pela qual esta caracteristica especial dos cuidados aos bebés deve ser mencionada, mesmo resumida- mente, é que anguistias muito fortes s&¢ experimentadas nos es- tagios iniciais do desenvolvimento emocional, antes que os sentidos estejam organizados, ¢ antes que ali exista algo que passa set chamado de um ego aut6nomo. Na verdade, « palavra “an- glistia” Eimitil, pois o tipo de afligao que 0 bebé sente neste es- ‘tagio € muito parecido ao que se encontra por trés do panico, © 0 panico jd é uma defesa ccntra a agonia que faz com que as _Pessoas s¢stiicidem, em vez de reverem 0 seu passado. Usei aqui ‘uma linguagem propositalmente forte. Consideremos dois bebés: um a quem se segurou muito bem (no sentido amplo que dou ao termo “segurar”’), ndo havendo nada que impega um répido desenvolvimento emocional, de acordo com as tendéncias ina- tas. O outro nao passou pela mesma experiéncia, isto é, n&o 0 seguraram suficientemente bem, e o resultado & que o seu de- senvolvimento teve de ser deturpado e protelado, e algum grau da primitiva agonia estard sempre presente ao longo de sua vi- da. E possivel dizer que, na experiéncia comum de segurar ade- quadamente 0 bebé, a me foi capaz de atuar como um ego auniliar, de tal fornia que o bebé teve um ego desde o primeiro instante, um ego muito fragil ¢ pessoal, mas impulsionado pela adaptacio sensivel da miie, ¢ pela capacidade desta em ident 32 OS BEBES £ SUAS MAES S¢ com seu-bebé no que diz respeito as suas necessidades bési- 25. A crianga que nfo passou por esta experiéncia ou precisou desenvolver prematuramente o seu ego, ou, talvez, tenha se tor- nado extremamente confusa. Acho que devo fazer uma afirmagao crua, pois nao é ne- cessariamente verdade que as pessoas experientes quanto aos as- pectos fisicas tm um bom conhecimento tedrico de psicologia. Na psicologia do desenvolvimento emocional os processos de ma- {turagdo do individuo precisam de um ambiente de faciitagao para ue possam concretizar-se. Este ambiente de facilitagdo torna- se rapidamente muito complexo. S6 um ser humano pode co- nhecer um bebé de forma a possibilitar uma complexidade ce adaptacdo cada vez maior, ¢ graduada de acordo com as trani- formacdes das necessidades dos bebés. A maturacdo nos esti- ios iniciais e, na verdade, ao longo de toda a vida é muito mas luma questac de integraciio. Nao posso revetir pormenorizade- mente aqui tudo o que ja se esc-eveu sobre o desenvolviments emocional primitivo, mas este tema abrange trés tarefas princi- pais: a integracdo do eu, a psique que habita o corpo e a relagao objetal. Numa correspondéncia aproximada a estes tr8s itens, te- ‘mes as trés funeOes da mae: segurar, manipular e apresentar 0 objeto. Trata-se de um tema em si mesmo vastissimo, Tentei apresenté-lo 2m meu ensaio “The First Year of Life”3, mas no momento estou tentando nao me distanciar do periodo do nas- cimento, Vocés verdo que estou tentando chamar a atencao para 0 fato de que os bebés sio humanos desde o inicio, is:o é, estou Partindo do principio segundo 0 qual eles possuem um sistema életrOnico adequado. Sei que, aqui, nao é necessério que eu chame @ atenco para 0 fato de que os bebés sc humanos. Este é ¢ denominador,comum da psicologia que a pediatria assimilou, ¢ ‘com certeza considero o Dr. Gaddini como um pediatra que acre- dita particularmente que os bebés sejam humanos, E dificil encontrar uma forma de dete os primérdios das pessoas, Poder-se-ie dizer que, se alguém ali se encontra pa- ito The Famity and Individual Development, Londees, Tavistock Publi- 0 RECEM-NASCIDO SUA MAB 33 ra juntar experiéncias, confronté-las, sentir ¢ estabelecer distin Ges entre os sentimentos, ficar apreensivo no momento adequedo e comegar a organizar defesas contra 0 softimento mental, en- 1do € possivel afirmar, como fago, que o bebé E, e que o seu estudo, a partir deste ponto, precisa incluir a psicalogia. (Veja © capitulo 5.) ‘Vocés certamente esto familiarizados com as diversas ten- tativas que estdo sendo feitas para estuder o bebé através da ob- servacao direta. Quanto a isto, vou me limitar a fazer referencia 4 bibliografia contida no final de um livro recente, Determinants of Infant Behavior‘, vol. 2. Nao tratarei especificamente deste tipo de trabalho, ¢ poder-se-ia perguntar: Por que néo?, uma vez que a cbservacao direta é necesséria para fazer sentido Aqueles (dos quais ha muitos aqui) cujo campo de atividade ¢ a cigncia fisica, Mas, nestes poucos min:tos de que disponho, eu preferi- sia tentar -ransmitir-Jhes uma pequena parcela de minha expe- rigneia como psicanglista ¢ psiquiatra infantil, a que cheguei ha muito tempo, a partir de meu trabalho em pediatria. De que forma a psicanalise pode contribuir para a psicolo- sia do recém-nascido? Obviamente, muito poderia ser dito, acui, sobre’a estranheza cos comportamentos psiquidtricos da mae, ou do pai; no entanto, para manter as coisas sob controle, em. meu estudo do bebé partirei de principio que os pais sao sauda- veis, e que o bebé é também fisicamente saudavel. O aunilio prestado pela psicattélise deu-se, em primeiro lu- sar, pela criacdo de uma teoria do desenvolvimenio emocional —a tinica teoria, na verdade. No inicio da psicandlise, entretan- to, 0s assuntos relativos a infancia s6 apareciam na simbologia dos sonhos, no bojo da sintorratologia psicossomatica ¢ da ati- vidade criativa, Gradualmente, a psicandlise foi ampliada, de mo- do a abranger até mesmo as criancas muito novas, digamos de dois anos e meio de idade. Isto, entretanto, nao foi suficiente para 0 objetivo que temos em vista aqui, uma vez que as crian- cinhas de cois anos e meio estdo, surpreendentemente, muito dis- tantes de seus primeiros meses de vida, a menos que sejam doertes, ¢ imaturas. “4 Fundagio Ciba, stock Publications, 1961, (N Orgs.) 34 CS BEBES & SUAS MAES Estou sugerindo que, do nosso ponto de vista aqui, 0 avan- go mais importante da psicandlise é a ampliagao do trabalho do analista que resultou nc estudo de Pacientes psicéticcs. Tem-si constatado que, enquanto a psiconeurose leva o analista A meni- nice do pacierte, a esquizofrenia \eva-o ao inicio da infancia, a um estagio em que a dependéncia do Paciente é quase absoluta. Em resumo, nestes casos houve falhas do ambiente de facilita- co num estagio anterior & aquisicéo, por parte do ego imaturo e dependente, da capacidade de organizar defesas. Para resttingir 0 campo ainda mais, o melhor paciente pa- 1a 0 pesquisador que estuda a psicologia do bebé deste modo € 0 esquizofrénico limitrofe, isto ¢, aquele cuja personalidade fun- ciona o suficiente para cue ele possa ser anzlisado e passe pelo cansativo trabalho que se faz necessdrio quando a parte muito doentia da personalidade & Posta em relevo, Posso fazer pouco mais do que apresentar-lhes a mane pela qual um paciznte mui- to regredidé num tratamento ani °0 regular é capaz de enri- ‘Quecer nossa compreensZo do bebé. De fato, o bebé ali esta, no diva, no chao ou em qualquer outro lugar, ea dependéncia esté também ali, na plenitude de sua forga; a atuazao do psicanalista come ego auxiliar estd em aco ea observacao do bebé pode ser feita diretamente, a menos que o paciente seja um adulto que Possui, naturalmente, um certo gra de sofisticagao. Temos que evar 2m conta esta sofisticagdo que distorce 0 foco de nossa lente. Quero que saibam que estou conscieité das distorcées, e que nada do que digo tem a intengdo de provar alguma coisa, embo- Ta possa ser ilustrativo. Aqui estao dois exemplos de minha ten- tativa de mostrar que sei alguma coisa a respeito das distorgées, No primeiro, temos um garoto esquizofrénica de quatro anos, que esta sob os cuidados de seu Pai ¢ de sua mae. Foi-lhe dada uma aten¢ao muito especial, e como nao se trat“de um caso muito grave, ele esta se recuperando aos Poucos. En minha sala, ele esti brineando de nascer de novo de sua mae. Ele estica as per. nas dela, escorregando por sobre elas do colo até o chao; trata- se de algo que ele repete intimeras vezes. E um jogo especi- fico, cerivado do relacionamento especial que ele mantem com. a mie, e que tem sua explicacdo no fato de cla ter se tornado uma enfermeira de uma crianca mentalmente coente, ¢ nao uma (0 RECEM.NASCIDO E SUA MAE 35 mae. Agora, «ste jogo contém um simbolisno: liga-s: a todas as coisas que as pessoas comuns e normais gostam de faaer, e também & maneira que o ato de nascer surge em sonos. Mas ser uma lembranga que este garoto tem do momento em que nasceu? Na verdade, trata-se de uma hipétese impossivel, pois ele nasceu de uma cesariana. O que estou tentando dizer € que aualquertentativa de examinar 0 passado, em um paciente, tem de ser corrigida 0 tempo todo, e sei disso, mesmo que o simbo- seja corvincente. = vo eeguno exempl, temos uma mulher hire *rlem- brardo” o seu nascimento. Ela 0 1elembra com muitos detalhes ¢ tem sonhos engustiados; de fato, num dos sonhos 0 nédico se aproxima, usando um fraque e uma cartola, ¢ tem wma bal Isa, g ea xe embra do que de dise 8 sua mle. Esta, maturalmente, € uma distorcdo histéricatipica, embora ndo exclua a possibil me de de que esta mulher também esivesse&s voles com recarda- ‘ses verdadeires de seu nascimento. Este tipo de material de sonho no pode ser wilizado nesta discussio, ¢ naturalmente, como Sn pessoa adulta, ea estava informada sobre processos de nascimento, além de ter vérios irmaos que nasceram depois dela. Em contraste, posse apresentar uma descrig&o de uma crian- a ce dois anos representando o papel de sua nova irmézinha que estava nascendo. Ela estava tentando estabelecer um novo telacionamento com a irna. Havia uma coisa especifica que pre- cisdvamos fazer. Bla entrou sabendo o que queria, colocou-me no assoallio entre os brinquedos = tive que ser “ela ordpria””. Em seguda sie foi ata sala de espera onde seu pal se encon- trava, trazendo-o até a sala onde estavamos (poderia ter sido a mae, mas quem Id estava era o pai), sentou-se em seu colo e pas- sou a representar 0 naStimento do bebé. Para tanto, comecou ‘a movimentar-se para lée para ca no colo do pai, por cujas per- nas deslizou, em seguide, até 0 chao, dizendo: ‘Sou um bel Depois, passou a observar-me, € me atribuix uma furedo espe- cffica, Passei a representar o seu papel, ela me dizia mais ou me- nos 0 que fazer, e tive que ficar muito zangado, derrubar os brirquedos e dizer: “Nao quero uma irmazinha!"’, ¢ todo este tipe de coisas. A representacdio prosseguiu, repetindo-se muitas vezes. Vejam como foi facil para esta garctinha representar 0 36 0 BEBES E SUAS MAES processo de nascimento lancando-se ao chao, o que ela fez. mais ou menos dea verss, © cuando 0 >ai no agitentava mals cla comegou a nascer da parte superior de sua cabeca; natural- mente que isto nao o deixou muito incomodado, pois é um pro- fessor ¢ tem muito boa cabeca. : ua Vou, agora, tentar desenvolver uma atividade. Eu poderia ter-Ihes pedido que olhassem uma das ilustragdes do livro a que ene referi, Determinants of Infant Behavior, mas pudemos ‘ei um dos filmes que projetames: 0 Reflexo de Moro", Neste fil, mes que v:mos (de qualquer forma, vocés todos esto muito fa- miliarizados com o assunto, e n&o preciso deserevé-lo ac ui) pudemos perceber que quando a cabeca do bebé perde o apoio, ele reage de modo previsivel. Aqui esta um pormenor daquilo que chamo de maternagem insuficiente, isolada para fins ‘de es- tudo cientifico. Isto €exatamente aquilo que uma mae ndo faria a0 seu bebé. Quero dizer que a razo pela qual os médicos 240 sio esbofeteados quando o fazem aos bebés é que so médicos, © as maes tém medo dos médicos. E claro que um Reflexo de Moro nao perturba a psicologia de um bebe, mai se féssemos considerar uma mie que se interessasse muito peo Retlexo de Moro, ¢ acada vinte minutos erguesse 0 bebé ¢ deixasse sua ca- beca pender para ver o que aconteceria, este bebé com certeza nao teria uma mie suficientemente boa. Trata-se, ent4o, exata- mente daqullo que tma mae no fara a seu ihe. Se, por um ldo, mame ode ‘do ter palavras para descrever o que sente ee ', Por Outro ela o aninha em seus braces sempre que _Pretendo, agora, examinar o tratamento analitico de uma paciente. Esta mulher precisou passar por uma regressao pro- funda e prolongada até a dependéncia. Seu tratanento durou muitos € muitos anos, dando-me uma oportunidade tinica de ob- servar o periodo inic.al da vida de uma c-ianga manifestande-se «m um adulto. O bebé que esta sendo submetido a um Reflex ‘ce Moro nao tem condigdes de falar sobre o que aconteceu. cme som «ling de Moro ic ale, 164185): pot fio de ma cin (0 RECEM-NASCIDO E SUA MAE a do, por outro lado, a mulher se recupera de cada fase de pro- funda regressfio, 0 cue temos diante de nds ¢ um adulto, informado e sofisticado. Ela é capaz de falar. Temos que lever fem conta a complicacao provocada pelo fato de ela nao ser ape- nas um beb8, mas também uma pessoa sofisticada. =} No estagio muito primitivo de desenvolvimento emocional ‘aque esta mulher regrediu existe uma idéia muito simples do eu De fato, com uma maternagem suficientemente boa, basta que existam os nudimentos de uma idéia do eu, ou, eu diria, absola- temente nenhuma. O ato de segurar mal uma crianga (ou a fa- tha do meio ambiente que elicia 0 Reflexo de Moro) forga-a a ter uma consciéncia prematura para a qual ndo esté bem eqi pada. Se o bebé pudesse falar, diria: “Aqui estava eu, desfru- tando uma continuidade de ser. Nao tinha nenhuma idéia sobre amelhor forma de representacio grifica do meu eu, mas pode- ria ter sido um circulo.”” (Interrompendo 0 bebé neste ponto, trarece-me que os fabricantes das bolas que sao vendidas nos par- ‘ques, nas s2gundas-feiras de Péscoa — aoontece o mesmo na “n- glaterra —, se esquecem de que as criancas gostam mesmo é de uma esferz simples que nfo obedeca as leis da gravidade. Flas nfo querem orelhas e narizes com coisas escritas, ¢ todo esse ti- po de coisas.) “Uma representacio grifica do meu eu poderia {er sido um cfrculo" (quem falaé 0 bebé) “De repente, duas coisas terriveis aconteceram:: a continuidade de meu ser, que € tudo que possuo atualmente em termos de integra¢o pessoal, foi inter- compida, 2 esta inte-rupedo resultou do fato de eu ter tido que axistir em duas parts, um corpo € uma cabeca. A nova repre Sentagdo gréfica de mim mesmo, que fui subitamente forcado a fazer, tinha dois c'rculos desconexos, em vez do circulo sobre ‘@-qual eu nem mesmo tinha qve saber nada, antes que essa coisa ‘errivel acontecesse.”” O bebé est tentardo descrever uma Cistio na personalidade, e também a conscigncia prematura resultante do fato de sua cabeca ter ficado pendida. (0 fato & que o bebé foi submetido a um sofrirento mertal, 6 exatamente este softimento mental que © esquizofrénico leva consigo como uma meméria ¢ uma ameaga, € que faz do suici- dio uma razoavel alternativa para a vida. ‘Ainda ndo encerrei o rela:o sobre minha paciente. Vocés po- 38 OS BEBES E SUAS MAES derdo perguntar por que motivo h, nela, um impulso de regres- S80 & depeadéncia, e devo inicialmente responder a esta ergunta, No chamado caso ha um impulsi nuidade ao desenvolvimento emocional que fo 14 ‘como recordar experiéncias muito primitivas, & nao a. cemautlando-as novamente, e como estas expetincias foram por CGimais dolorosas na época (uma vez que surgiram quando 0 ceo Eyi2 desorganizadc, e 0 ego auxiliar da mae estava imperfe. {0), 0 ato de vivencié-las de novo deve ocorrer em uma situagdo caidadosamente preparada ¢ testada, como no contexto prosi- lado pelo psicanalista. Além do mais, o analista al se enconiea Gasalmente, de tal forma que, quando tudo corre bem, 0 pa. Geis tem clguém a quem odiar pela falha original do ambiente de facilitacio que __No caso especiti , muitos pormenores dos eruneiros meses de vica afloraram e puderam ser discutidos com cla. Acontese que, neste caso, fiz uma cosa muito “ara ome nha prética. Num determinado momento da psicandtve deste cn eee comum, vi-me sentado ro diva, ao lado da paciente, ¢ Com sua cabeca em minha mao, Este contato direto é muito ra, © seu Reflexo de Moro se manifestaria, E claro que eu sabia s Sue itia acontecer. A paciente sofreu uma agonia mental mute intensa, que se deveu ao fato de ter sido cividida ew tae partir dai pudemos finalmente prosseguiretentar descobrit¢ ie "pedo psicolégico da agonia mental. Ela acabou vendo oxncg de me deixar saber o que havia acontecido ao seu ego de bebé: ensinou-me que o circulo se transformou em dois ckeulon ne quele momento, e a experiéncia foi um exemplo de uma cisaéo na personalidade, provocada Por uma falha especifica do am- biente de faciitagao, uma falha que resultou no aumento ine, vido do ego. : E muito caro que eu tenha uma oportunidade de fazer este tipo de teste, pois meu trabalho como terapeuta & nto ineai exatamente nestes erros ou falhas que provocam um sofrimento mental intolerivel. Nao 'POsso sactificar um paciente sobre o al- 0 RECEM-NASCIDO E SUA MAE » tar da cigncia. No entanto 0 terrivel é que, com o passar do tem- po, acabamas cometendo todos 05 erros simplesmente por sermas hhumanos, de tal forma que os testes so realizados, e lidamos com 0s resul:ados da melhor forma possivel. No comeco que ci- tei fiz, deliberadamente, um teste. A partir deste pormenor, ¢ possivel ver que o Reflexo de Moro pode ou ndo desender da existéncia de um arco reflexo. Estou simplesmente af rmando que nao é necesséirio, Nao prec ssa haver um substrato neurolégico, ou seja, a reacdo pode ser neurofisioldgica e psicolégica. Uma pode transformar-se na ou- tra, O que estou sugerindo é que nao é seguro ignorar a psicolo- gia quando se esta & procura de uma explicagao completa. — Estas agonias muito primit'vas so poucas. Incluem, por exemplo, a sensagao de queda no vacuo, e todos os tipos de de- sintegraco e coisas que geram uma desunido entre a psique e © corpo. E facil perceber que estas questdes dizem respeito ao avango no desenvolvimento emocional que ocorre quando esta presente uma maternagem suficientemente boa — movimento de avango do desenvolvimento emocional do bebé. E ao mesmo tem- po, em-termos de esqu.zofrenia, bd um movimento de retroces- so. O esquizofrénico tem um impulso de entrar em contato exetamente com os processos que danificam o impulso para frente da fase mais inicial, relativa ao periodo neonatal. Esta forma de ‘yer.a esquizofrenia contribu tanto para a compreensio dela pré- ria quanto para a compreensio dos bebés. Ainda hi muito ror realizar no que diz respeito ao tema das lembrangas do nascimento € o significado que tem, para o bebé, a experiéncia de nascer. Nao disponho do tempo necessé- rio para desenvolver este tema aqui. Quero, porém, relatar 0 so- nho de uma garota esquizofrénica cujo nascimento foi muito dificil. Antes, no entanto, devo fazer alumas consideragdes Sotre um pacto normal — isto é, psicologicamente normal — em que o trauma psico'égico ¢ minimo. Num parto normal, de Ponto de vista do bebé, ele prdprio possibilitou a ocorréncia de ascimento, porque estava preparado para o evento. Por mei de esforcos convulsivos, por uma necessidade de respirar ou por algam outro motivo, o bebé fez alguma coisa, de tal forma que, Sob seu ponto de vista, 0 nascimento é algo “realizado pelo be- 40 Os RERES F sUAS MAES be”, Acho que isso nao s6 é normal, como também comum. Esves fatos auspiciosos nao se manifestam em nossos tratamentos ara, Iiticos tanto quanto o fazem no simbolismo, nas invengdes cria. tivas ¢ nas brincadeiras. O que surge durante o tratamento é coisa que no deu certo, ¢ uma destas coisas é a demora, que Parece infinita, pois ndo ha nenhuma razio para que o bebé es. ‘tcja na expectativa de um resutado, Volto, agora, & garota esquizofrénica a qual dediquei 2.500 horas de meu tempo. Bla tinha um QI excepcionalmente eleva- do — creio que algo em torno de 180 — e ao comecar seu trata. mento perguntou-me se eu a capacitaria a suicidar-se por um motivo justo, € no por um motivo impréprio. Quanto a isto, falhei: quando ela teve este sonho, encontrava-se no ponto em ue reexperimentava ¢ parto, com todas 2s distoredes de que é capaz uma mulher adulta ¢ muito inteligente, Tinha uma mae exiremamente neurética, e hé evidéncias de que havia sido des. Pertada para a consciéncia (se tal coisa, ccmo ereio, & possivel) oucos dias antes do nascimento, devido a um grave choque s0- frido pela mie. Além disso, 0 parto complicou-se per uma pla. centa prévia nao descoberta com suficiente antecedéncia, Esta Barota comegara a viver com “‘o 9é errado” ¢ no conseguiu ja- mais acertar 0 passo. Em meio a esta nova tentativa que fazia de dar conta dos efeitos disso tudo, ela pediu que eu Ihe emprestasse o ‘neu exer. Pla: do livro Trauma of Birth, de Rank; Como podem ver, mais uma complicago. Todas estas complicagées tém de ser aceitas no tipo de trabalho que estou relatando, e levadas em conside. racio, Uma noite apds ter lido 0 livro ela teve um sonho que considerou extremamerte significativo, e creio que voces vero Que, de fato, 0 era. Para o analista, tais sonhos so arroz com feijao. Se vocts estiverem familiarizados com os sonlOs, vero como este sonho especifico inclui uma afirmacéo da confianca due cla depostava em mim — 0 enalista — como a pessoa que @ segurava, isto é que cuidava de seu caso * a analiszva. O so. nho também oferece um quadro de seu permanente estado pa. randide, sua vulnerabilidade, sua inexperiéncia essencial, contra © que ela havia organizado todas as formas de defesa possiveis. A esta altura, um psicaaalista chamaria a ctengao para o fato al 4 0 RECEM-NASCIDO E SUs MAE deque hi inimeros determinants deste sono que posvelment no situem, em sua origem, na oeasido en que se deu onasth ment, Estos, no entanto,apresentando hes este sono aul de ilustragc. Aqui est a conce¢io que minha paciente jo de nascer: = “hn vomheo que estava sob uma pilha de cascalho. Seu cor- Bo todo, a superficie, etava extemamentssensive, num gray de sensibiidde quse inposivel de ser imaginado. Su pele aus mava, © que era asua forma de afrmar a sua extrema sensbi- dae ¢ vulnerabilidade. Ela queimava por inteiro, Sebia que, s° chegasealgiém ¢ ihe esse qualquer cote, a dor, anto fis auanto merase foraria simpesmenteimposivel de toler, e tinha contecimento do perigo que seria se alguém chegasse, relirasse 0 cascalho ¢ tentasse curé-la; a sitacdo era vel Ea enfaizava que, junto iso, hava sentiments intoleré vets, compacves aquses que azompanaram sua tenttiva de suo, Ek tentara sucidarse cas vrs, o que ma ade acs bu conseguindo fazer) Dise: “ra imposivel continuarsupor tando qualquer coisa, o horror absoluto de ter um corpo, € 8 mente, pr demalssturada. Era oconjanto da cia, 0 mor: taate da tarefa, que tornava tudo t2o impossivel. Se pelo mi aspessoas me deixassem sorinha, eno fcasem atenias aim.” No entanto, o que asonteseu no sonho fei que algrém chegod ¢ derramow Seo sobre o cascalho no interior do qual ela seen contrava;O dleo peneirou, chegou a sua pele ¢ a cokriu. Ela foi entdo deixada sem qualquer tip deinterfréncia pots sem nics, ao fim das quais 0 cascalho péde ser removido sem dor. Hava, contudo, uma éea feds entre o seus seos, ‘uma dea tsangular gue nfo hava sido aleanada plo leo — da qual su~ fi algo serethante a um pequeno pénis ou corddo, Foi precio dar atengoa isso, eraturalmette foi um pouco doloroso, ma bastante tolerdvel. Simplesmente, nao tinha importéincia, ¢ al- suém o retirou” - a pats deste socho, creo que voo!s sodens ter (entre mui ts ours coisas) uma de como podetia parece 2 uma pe sca, 0 fato de ter acabado de nascer. Este ndo foi um daqueles artos que chamo de normais, devido a consciéneia prematura Fesultante de demoras no proceso de nascimento, 2 05 nese & suas Mies Sei bem que algumas pessoas achardo esta abordagem pou- co convincente. No entanto, teatei chamar a atengéo para o tra. balho que estd sendo realizado, do qual voces poderiam nao ter ouvido faler, uma vez que faz parte de uma disciplina de natu. reza diferente da que praticam. A teoria da esquizofrenia enquan. to anulag2o dos processos de maturagio que ocorrsm nas tases iniciais da infancia tem muito a ensinar ao psiquiaira; acredito que também tenha miito a ensinar ao pediatra, 20 neurologiste © 20 psicdlogo, a respeito dos recém-nascidos ¢ suas macs 1964 5. AS ORIGENS DO INDIVIDUO Em uma carta para o Times, de 3 de dezzmbro de 1966, 0 Dr. Fsher! levantou, mais uma vez, a seguinte questo: quando 0 individuo tem inicio? Evidentemente ele estava lidando com 0 ponto de vista da Igreja Catdlica, segundo 0 qual 0 aborto é um assassinato. O principal da carta era que, com cer-eza, 0 mo- mento ébvio no qual tem inicio 0 individuo é 0 momento en que ele nasce. Trata-se de um ponto de vista que muitos pode- riam compartilhar, mas que parece pedir uma exposigao dos ci- ferentes estzgios de desenvolvimento que oderiam ser utilizados mama discussao deste tipo. ‘Aqui esta, ent, uma pericdizacao do desenvolvimento que pode ser-usada, e que certamente pode ter 0 seu alcance amplia- do. Parece ser necessério aceita um certe grau de ezonomia na s, através da referéncia a todos os fend- menos fisicas € psicoldgicos relevantes. (1) O ato de conceber mentalmente. O inicio das criangas se d4 quando elas so concebidas mentalmente. E um fato que se manifesta no brincar de muitas criangas de qualquer idade, (5 sonhos emuitas outras ocupagées. Apés 0 casamento, ha um periodo em que a idéia de filhcs comega a se formar. E desne-

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